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AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE SOB A LUZ DO ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE: A PRESERVAÇÃO DO DIREITO DA CRIANÇA MEDIANTE A RECUSA PATERNA EM REALIZAR O EXAME PERICIAL 
Ronaldo Diniz Pereira [footnoteRef:1] [1: Graduado no Curso Superior de Direito pelo Centro Universitário Luterano de Manaus – CEULM/ULBRA] 
RESUMO
O presente trabalho traça reflexões sobre os artigos 231 e 232 do Código Civil, que tratam da perícia médica e consequente a recusa injustificada da parte do possível genitor em submeter-se à realização do exame médico. Fruto de sérias discussões doutrinárias e jurisprudenciais, a Ação de Investigação de Paternidade tem como escopo principal, o reconhecimento da paternidade muitas vezes duvidosa e questionada pelo pretenso pai. Até bem pouco tempo atrás, as ações dessa natureza tramitavam pelos nossos tribunais, e eram apresentadas com provas ineficientes. Com base nos novos parâmetros constitucionais, foram recepcionados os princípios da proteção integral da criança, da paternidade responsável, da afetividade e principalmente a dignidade da pessoa humana, que é fator preponderante no ordenamento jurídico. Para a composição do estudo, faz-se no primeiro momento uma análise no artigo 227 do ECA e a importância da revelação da paternidade. Posteriormente, aborda-se a investigação de paternidade e necessidade do exame pericial. Por fim, descreve-se os meios de prova vinculados a investigação de paternidade. Para o desenvolvimento do estudo foi aplicado o método dedutivo, utilizado a pesquisa bibliográfica a partir do estudo de artigos acadêmicos, artigos eletrônicos e capítulos de livros, na abordagem do tema.
Palavras chaves: Estatuto da criança e adolescente. Reconhecimento de paternidade. Investigação de paternidade. Meios de prova.
ABSTRACT
This paper presents reflections on articles 231 and 232 of the Civil Code, which deal with medical expertise and consequent unjustified refusal on the part of the possible parent to undergo the medical examination. Arising from serious doctrinal and jurisprudential discussions, the Paternity Investigation Action has as its main scope, the recognition of paternity often dubious and questioned by the alleged father. Until very recently, actions of this nature were being handled by our Courts, and were always without more precise and accurate proofs. Hodiernamente, based on the new constitutional parameters, the principles of integral protection of the child, responsible parenthood, affectivity and, above all, the dignity of the human person, which is a preponderant factor in the legal system, were accepted. For the Federal Constitution, the notion of responsible paternity is not only the material supply provided by the father, it is necessary that the father give affection, love, affection and attention to the child. Family coexistence is not only a right of the child, but a duty and its noncompliance can generate the need for reparation.
Keywords: Statute of the child and adolescent. Recognition of paternity. Paternity investigation. Means of proof. 
 
INTRODUÇÃO
Ultimamente nas relações atuais entre as famílias vêm sofrendo várias transformações, sendo o ordenamento jurídico um agente de orientação de uma sociedade pacífica, deve tornar concreto as possibilidades probatórias que permitam alcançar a verdade em juízo, que no caso é a determinação da paternidade, visto que são os meios de prova utilizados que implicarão diretamente nas vidas do investigado e investigando.
Todo indivíduo tem o direito de procurar e investigar judicialmente sua origem paterna, principalmente quando o indivíduo possuir menor idade civil, e precisa ter suas necessidades básicas supridas. No Brasil perambulam nas ruas, nos abrigos, e em seus domicílios centenas de crianças e adolescente que não possuem em seu registro de nascimento o nome do pai. Diversos casos denotam essa realidade, há casos que o pai se nega a assumir o filho, outros casos onde a genitora não sabe claramente qual o pai do seu filho. O importante é ressaltar, que no meio desses constantes conflitos, a criança ou adolescente tem o seu direito básico negado, o direito de saber que é o seu genitor, e a possibilidade de desenvolver com ele uma relação afetiva para seu pleno desenvolvimento.
A ação investigatória de paternidade é uma das ações onde se tem constantes conflitos quanto ao ciclo probatório, em particular pelo tipo de prova que lhe é específico. Entretanto, serão neste tipo de ação, todas as provas em direito, ressalvado o artigo 332 do CPC. “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”. 
Faz-se necessário a utilização da teoria da presunção, para que possa ser verificada a existência de um indício de prova e presumido um determinado relacionamento entre o casal. Contudo, tal presunção somente será objeto de utilização processual diante da recusa do possível genitor em dirimir quaisquer dúvidas sobre a questão através da realização voluntária do exame de DNA.
O exame de DNA, embora passível de problemas, é dotado de idoneidade técnica, sendo hoje o exame científico mais confiável capaz de firmar a convicção do juiz. Todavia, apenas o resultado do exame de DNA não é satisfatório para o completo convencimento do julgador. Outras provas e elementos deverão ser produzidos no processo como forma de comprovar que demandado e genitora do demandante tiveram um vínculo afetivo/sexual no período da concepção, o que comprovaria a paternidade alegada, conforme estabelece o art. 2° da Lei n° 12.004/09: “A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético – DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório”.
Diante dos esclarecimentos iniciais, ressalta-se que para a realização do presente estudo foram efetuadas pesquisas bibliográficas, inclusive por meio eletrônico, sendo adotado o método de abordagem dedutivo, que permitiu uma abordagem lógica de argumentos visto no panorama geral para o particular, seguindo uma linha sistemática e lógica do estudo.
1. Artigo 227 do ECA e a importância da revelação da identidade paterna. 
	Quando não existe a figura do pai como representação de proteção e cuidados em relação aos filhos, existe na realidade um retrocesso no próprio bem-estar desses filhos, e cooperando para uma crise atual da instituição familiar. A ausência paterna leva consequências devastadoras sobre a figura dos filhos, na estruturação psíquica dos indivíduos, nas fases de infância e de juventude, e, indiretamente, sobre a sociedade.
	A figura da mãe na instituição familiar é importante sem dúvida alguma, contudo, somente sua presença não é suficiente para estabilização social e psíquica da criança a relação entre mãe e filho necessita da complementação decorrente da função paterna. O pai estabelece no seio familiar limites importantes para a formação de valores (VIANA, 2014, p.123).
	A discussão da investigação da paternidade no âmbito do direito é importante, pois perpassa pelo viés do direito da criança e do adolescente. Sobre este prisma, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi considerado uma das leis mais avançadas do Brasil, e atualmente foi considerado referência mundial, pois incorporou todos os avanços da normativa internacional de proteção aos direitos da infância e da adolescência
	Entretanto, apesar da instituição do ECA, no Brasil configura-se no contexto social realidades envolvendo a infância que vão desde negligência, maus tratos, abandono, como também a violação do direito básico como o reconhecimento de paternidade, que faz com que muitas crianças não tenham o nome do pai em seu registro de nascimento, violando assim um dos princípios fundamentais do estatuto que prioriza o princípio do melhor interesse da criança, garantindo assim a cidadania plena
No mesmo estatuto, no art. 7°, prevendo os princípios constitucionais reguladores das relações familiares, especialmenteentre pais e filhos, estabelece com relação aos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes, o de possuírem um desenvolvimento sadio e harmonioso, e de serem criados e educados no seio de sua família.
Conforme o disposto no art. 226, § 7º, a Constituição passou a tutelar o Princípio da Paternidade responsável, cuja a convivência entre pais e filhos, além de ser um direito, é um dever, não devendo ser visto, apenas, como dever de sustentar materialmente os filhos por meio dos alimentos, porém deve ser visto como uma obrigação de proporcionar diariamente todo o afeto necessário para um desenvolvimento psicológico saudável.
Todavia, o Reconhecimento também poderá ser feito de forma coativa (ou judicial): é dado após o procedimento do pedido na ação de investigação de paternidade, a qual tem natureza declaratória e imprescritível. Trata-se de direito personalíssimo e indisponível (ECA, art. 27). 
Os efeitos da sentença retroagem desde a data do nascimento. A prescrição para pleitear a herança do pai reconhecido judicialmente será de dez anos, a partir desse reconhecimento, se o menor tiver completado 16 anos. A legitimidade ativa é do filho. O menor será representado pela mãe ou tutor (DINIZ, 2015, p.286).
No entanto, a mãe não pode ajuizar ação em seu próprio nome. Esta deverá ser proposta pelo menor que o representar. A ação poderá ser ajuizada sem qualquer restrição (ECA, art. 27), isto é, por filhos adulterinos e incestuosos, mesmo durante o casamento dos pais. O Ministério Público é parte legítima para propor ação, na qualidade de substituto processual. A ação será em face do pai, se vivo, ou em face dos herdeiros, se morto. Deste modo, a seguir, descreve-se de forma sucinta como está configurada a investigação de paternidade no ordenamento jurídico brasileiro.
2. A INSTITUIÇAO DA INVESTIGACAO DE PATERNIDADE NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO: a importância do exame pericial
Nesta parte do estudo faz-se uma análise sobre os fundamentos jurídicos da investigação de paternidade. Deste modo, ressalta-se os estudos de Viana (2014) que afirma que a investigação de paternidade é, antes de tudo, uma ação de estado, a palavra “estado” vem do Latim status, e designa os vários predicados da personalidade. Na Roma antiga, para ser cidadão, o homem necessitava possuir três status; o status libertatis, civitatis e familiae. Aquele que tivesse os três status,detinha a personalidade natural em sua plenitude e era sujeito de direitos na vida (caput civile). A perda de um dos atributos, configurava uma capitis deminutionis (VIANA, 2014, p.73).
Todavia, não é raro presenciar situações onde o constrangimento toma conta de muitas pessoas quando são questionadas “pelo nome do pai” e só podem responder: “não tenho!”. Além de ser absolutamente impossível, é inadmissível. Toda pessoa tem como resultado de sua vida a conjunção carnal entre o homem, seu pai, e a mulher, sua mãe. Nesse sentido, em que pese desconhecido, todas as pessoas têm um pai, e esse direito lhe é “assistido” e “assegurado”.
Na concepção de Laurenta o Estado é um “conjunto de relações que a natureza e a lei civil estabelecem, independentemente da vontade das partes, entre um indivíduo e aqueles de quem recebe o nascimento”. Clóvis Bevilácqua define o Estado como “posição jurídica da pessoa, no seio da coletividade”. O estado pode ser: - individual e político (VIANA, 2014, p.73).
Estado Individual – também chamado físico, é o modo de ser da pessoa, sob o aspecto de sua constituição orgânica. Idade, sexo e saúde.
Estado Familiar – é a posição ocupada pela pessoa no seio da família. Todos os indivíduos enquadram-se na família através de três ordens de relações: - o vínculo conjugal; o parentesco por consanguinidade e a afinidade. Assim, o estado das pessoas pode ser: o de casadas, solteiras, viúvas, separadas, divorciadas, parentes (consanguíneos e afins) ou não. O art. 1525, IV do Código Civil se ocupa desse estado. A pessoa pode, ainda, deter o estado de filiação adotiva; reclamar o de filiação natural (VIANA, 2014, p.74).
Estado Político – é a qualidade jurídica que advém do indivíduo integrante de uma sociedade politicamente organizada, chamada “nação”. É a nacionalidade, a naturalidade e a cidadania. 
A investigação de paternidade é, por outro lado, uma ação declaratória, ela tem por escopo a declaração judicial de que o autor é filho do réu. Proferida a sentença em favor do filho, a sua posição fica definida. É filho natural reconhecido, tem direito ao uso do patronímico do pai, de ser alimentado e educado por ele e de suceder-lhe. Esse é talvez, o maior atributo da filiação: ser o herdeiro de seu pai (VARGAS, 2015, p.257).
Investigação de paternidade. Ação de alimentos. Declaração incidental.”A ação de alimentos só é ação de estado, quando traz, em cumulação originária ou sucessiva, o pedido de declaração incidental de paternidade. Se não o trouxer, o recurso estará sujeito à restrição do art. 325, VIII, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal”. (STF – Ac.unânime da 1ª Turma – publ. Do DJ de 24.06.1988 – Ag. 118.007-2/SP-Rel.Min.Sydney Sanches) 
Igualmente “de estado” é a ação negatória de paternidade, cuja sentença – declaratória – afirma não ser o réu, filho do autor...!
Filiação ilegítima. Investigação de paternidade.”Embora registradas como filhas legítimas do marido de sua mãe, era lícito às autoras promoverem ação visando ao reconhecimento de outra paternidade (ilegítima), desde que cumulada a investigatória com ação declaratória incidental de nulidade dos registros de nascimento. As duas ações, outorgadas pelos arts. 348 e 363 do CCB, são imprescritíveis porque dizem com o status familiae das pessoas.” (STJ – Rec. Esp. 2.353/SP – Rel. Min. Antônio Torreão Braz – DJ de 21.11.1994)
	Pelo novo Código Civil, as referidas ações são outorgadas pelo art. 1.604 e art. 27 do ECA e 2º, § 5º da Lei de Investigação de Paternidade.
2.2 Fundamento jurídico e legitimidade 
Quanto à questão da Ação personalíssima o fundamento da ação encontra-se no art. 27 da Lei 8.069/90, combinado com as disposições do § 5º do art. 2º da Lei 8.560/92; esses dispositivos estabelecem a legitimação ativa para promover a ação de investigação. A legitimação é do filho que, nesse momento, detém o poder de agir, e encontra-se respaldada pelo art. 1.606 do Código Civil.
Se o filho não exercer seu direito e falecer, parecer igualmente o direito! Seus herdeiros, se os tiver, não poderão acionar, fato que não sucede, se a ação já tiver sido iniciada pelo de cujus.Por essa razão é que se diz ser esta ação personalíssima (VARGAS, 2015, p.257).
Investigação de paternidade. Morte do investigante. Substituição processual. ”Não obstante o caráter personalíssimo da investigação de paternidade, se morto o investigante na pendência da lide, é perfeitamente possível ocorrer a substituição processual, prosseguindo os herdeiros na ação”. (TJMG – Ac. Da 3ª Câm. Civ. – publ. DJ de 02.09.1988 – Ap. 75.605/3 – São João Del Rey – Rel. Desig. Des. Ayrton Maia)
em analogia ao aspecto abordado, deve ficar bem entendido que somente os herdeiros do investigante é que podem substituí-lo em caso do seu falecimento, estando vedada a substituição processual de herdeiros.
Quanto se tratar de filhos com menor idade, o filho pode adentrar com a ação, representado por sua mãe, tutor ou curador.
Mandato. Filiação. Investigação de paterrnidade.”Procuração outorgada pela representante legal do menor, mediante instrumento particular. Admissibilidade. Posicionamento da doutrina e jurisprudência. Recurso provido”. (TJSP – Ag. De Inst. 246.189 – Conchas – Rel. Des. Donaldo Armelin – j. em 04.04.1995) – n. 4.052.
Nenhuma outra pessoa pode propor a ação investigatória, senão o suposto filho.
“A ação de investigação de paternidade é personalíssima, somente podendo ser proposta pelo investigante contra o investigado. Promovida pela mãe do primeiro, em nome próprio, é de ser extinto o processo por carência de direito, conforme disposição do art. 267, inc. VI do CPC, pois falta-lhe legitimidadead causam”. (Ap. Cív. 8.831 – Curiúva – 4ª Câm. Cív. TJPR – Rel. Juiz Cordeiro Cléve – j. em 14.12.1993)
A legitimação passiva é do suposto pai e, se o mesmo for falecido, pode a ação ser intentada contra seus herdeiros.
“Os filhos são partes processuais passivas legítimas para responder à ação de investigação de paternidade, quando o indigitado pai é falecido”. (Ap.Cív.Ac. 8.355 – Curitiba – 1ª Câm. Cív. TJPR – Rel. Des. Oto Sponholz – unânime – j. em 25.02.1992).
Não pode, entretanto, a ação ser dirigida contra o espólio, sendo a viúva do investigado, parte ilegítima para receber a citação.
“Falecido o pai, a ação de investigação de paternidade deve ser ajuizada contra os herdeiros e não contra o espólio do de cujus, simplesmente representado pelo inventariante”. (Ap. Cív. 38.735-1 – 5ª Câm. Cív. TJSP – Rel. Des. Martiniano de Azevedo).
	Em relação à investigatória promovida contra os herdeiros do suposto pai, há que se considerarem os aspectos peculiares da ação.
Por essa razão é que os herdeiros ou outros parentes próximos do Investigado não têm “qualquer obrigatoriedade de comparecimento ao exame”. Suponhamos, entretanto, que o suposto pai seja falecido, e, também, o sejam os seus herdeiros, existindo, no entanto, herdeiros desses herdeiros (VARGAS, 2015, p.257).
O Supremo Tribunal Federal decidiu que herdeiros de herdeiros não representam o de cujus, faltando-lhe a legitimação passiva para serem demandados, decidiu ainda o Pretório Excelso, que a viúva tem legítimo interesse moral para contestar a ação.
Há apenas um caso em que a Investigatória pode ser movida contra o espólio. Na seguinte situação: investigado falecido, sem herdeiros.
O novo Código, em sentido exatamente diverso ao adotado na anterior codificação, afasta por inteiro qualquer restrição à negatória de Paternidade pelo marido, assim:
“Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher, sendo tal ação imprescritível.
Parágrafo único. Contestado a filiação, os herdeiros do impugnante têm direito de prosseguir na ação.
Após a Cártula Constitucional de 1988, com a igualdade jurídica dos conjugues e dos filhos, o marido deixou de ser o “todo poderoso” chefe do casamento. No que se refere aos filhos, “o favor legitimitatis foi substituído pelo favor filii, em razão de que se reconhece a eles, tutela privilegiada dos seus interesses”.
Ação negatória de filiação. Prosositura pela mãe e filhos. Legitimidade ativa ad causam, reconhecida. Exegese do art. 344 do CCB. Amplas considerações sobre o tema. “Deve-se entender que o art. 344 do Código Civil brasileiro teve por objeto manter a incolumidade da estrutura do casamento, atribuindo exclusiva legitimidade ao marido para negar a paternidade, durante a constância do matrimônio. Dissolvida a sociedade conjugal, e principalmente ante o advento das Leis 883/49, 6.515/77, 8.069/90 e da nova ordem constitucional, inexiste fundamento para persistir em uma leitura restritiva do art. 344 do CCB, de molde a manter de forma parente e absoluta, uma presunção legal suscetível de ser destruída, em tese, por uma realidade fática contrária e que venha a ser demonstrada, eventualmente, no curso uma instrução processual, com as garantias do contraditório. Destarte, mister reconhecer a legitimidade ativa da autora, representando os filhos menores, para ação negatória de filiação, incorrendo, de outra parte qualquer dúvida quanto à legitimidade ativa dos menores”. (TJSP – Ap. Cív. 211.760 – São Paulo – Rel. Des. Luís Carlos de Barros – j. em 25.08.1994) – Resenha Legislativa Juruá 56 – 21 a 31.10.1994.
Após essas considerações e de acordo com o novo Código Civil, ficou o referido art. 344 suprimido e, em vista da magnitude da “prova genética” (exame do DNA) não há mais o prazo prescricional, já que é injusta a manutenção de um estado de filiação inexistente (VARGAS, 2015, p.258). 
“Os tribunais pátrios, reiteradamente vêm reconhecendo a força probante do exame do DNA, o qual apresenta índice de confiabilidade de 99,999%.” (TJMG – Ap. Cív. 27.769 – Governador Valadares – Voto Vencido – Des. Orlando Carvalho – j. em 30.08.1994) – Resenha Legislativa Juruá – 20 a 31.01. 1995.
	O prazo para a ação negatória de paternidade, nos casos em que havia coabitação, deve ser contado a partir do momento em que o marido toma conhecimento de que a suspeita de ilegitimidade do filho tem fundamento, ou seja, após o exame de DNA.
“Hoje, com o progresso da ciência e a notável do exame de DNA, seria absurdo ficar restrito às hipóteses do art. 340 do Código Civil”. (STJ – 3ª Turma – Rel. Min. Eduardo Ribeiro – 1999).
Filiação. Paternidade. Contestação. CCB, art. 340. Exegese. “Nos termos atuais, não se justifica que a contestação de paternidade, pelo marido, dos filhos nascidos de uma mulher, se restrinja à hipóteses do art. 340 do Código Civil brasileiro, quando a ciência fornece métodos notavelmente seguros para verificar a existência do vínculo de filiação”. (STJ – RE 194.866 – RE 194.866 – RS – Rel. Min. Eduardo Ribeiro – DJ de 14.06.1999 – corpo do acórdão)
Filiação. Prazo prescricional. Decadência. CCB, art. 178, § 3º. “Admitindo-se a contestação de paternidade, ainda quando o marido coabite com a mulher, o prazo de decadência haverá de ter, como termo inicial, a data em que, disponha ele, de elementos seguros para supor não ser pai de filho de sua esposa”. (STJ – RE 194.866 – RS – Re. Min. Eduardo Ribeiro – DJ de 14.06.1999).
No Código Civil atual, foram suprimidos os arts. 340 e 178, § 3º. Entretanto, muitos juízes não vêm entendendo assim, nesses casos, as alternativas para o “pai” que desconfia da paternidade, são, em nosso entender, duas: ação declaratória de nulidade de ato jurídico, tendo por escopo o assento de nascimento; e ação declaratória de inexistência de relação jurídica de paternidade! Ambas devem tramitar perante o juízo de Família (VARGAS, 2015, p.258).
3. DOS MEIOS DE PROVA 
Quanto ao meio das provas, é a demonstração de que algo se verificou, no campo processualista está consagrado o princípio do livre convencimento do juiz através da apreciação da prova. No entanto, para garantia das partes e da sociedade terá que motivar a sua sentença com fundamento no que foi alegado e provado (CIRIGLIANO, 2015, p.48).
Moacyr Amaral Santos entende que prova judiciária "é a verdade resultante das manifestações dos elementos probatórios, decorrente do exame, da estimação e ponderação desses elementos; é a verdade que nasce da avaliação, pelo juiz, dos elementos probatórios".
No mesmo sentido de Humberto Theodoro Júnior provar, "é conduzir o destinatário do ato (o juiz, no caso dos litígios sobre negócios jurídicos) a se convencer da verdade acerca de um fato. Provar é conduzir a inteligência a descobrir a verdade” (SIMAS FILHO, 2015, p.321).
Na ação de investigação de paternidade, são permitidos todos os tipos de provas existentes, podendo valer-se as partes de todos os seus recursos para persuadir, provar a verdade e convencer o magistrado.
As provas podem ser de todas as formas, desde que lícitas, como bem esclarece e determina o art. 332 do CPC (CIRIGLIANO, 2015, p.49).
“Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa”. 
Investigação de paternidade. Produção de provas. Faculdade do Juiz.”Em ação de investigação de paternidade, a lei confere ao juiz o poder de determinar as provas necessárias à instrução do processo (CPC, art. 130). Alude a lei, todos os meios hábeis para provar a verdade dos fatos: os legais, e mais, os moralmente legítimos, ainda que não especificados na lei, consoante disposição expressa, nesse sentido, no art. 332 da Cártula Processual Pátria. A disposição consagrada o primado das razões de justiça, às quais têm de ceder, também, direitos pessoais supremos como são os de personalidade”. (Ac. Unâmine – 2ª Câm. Cív. –TJSP – Ag. 87.5501 – Capital – Rel. Des. Walter Moraes – publ. Em 01.09.1987).
Prova,no seu sentido jurídico, é a demonstração da veracidade dos fatos alegados pelas partes, na busca de seus pretensos direitos subjetivos.
Ovídeo Baptista ensina que prova, na acepção jurídica, pode ser interpretada não somente pela atividade das partes trazerem ao processo elementos que comprovem suas alegações, mas também o instrumento pelo qual o fizeram (CIRIGLIANO, 2015, p.49).
É instrumento destinado ao convencimento do juiz, que precisa e quer saber a verdade dos fatos.
Há, portanto, dois sentidos em que se pode conceituar a prova no processo: Objetivo, no sentido de instrumento hábil a demonstrar a existência de um fato; Subjetivo, ou seja, a certeza originada quanto ao fato de modo a convencer o julgador. 
O encargo de decidir se uma prova é lícita ou não, repousa no poder de decisão e livre convencimento do magistrado (CIRIGLIANO, 2015, p.49).
O art. 130 do CPC, diz que: “Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias”.
	E, o art. 131 do mesmo diploma determina que: 
“O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes, mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento”.
PATERNIDADE – DIREITO INERENTE À PERSONALIDADE CIVIL – INVESTIGAÇÃO – FRAGILIDADE PROBATÓRIA – EXCEPTIUM PLURIUM CONCUBENTIUM – INDEMONSTRADA – MULHER DE CONDUTA INABALADA – SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA – PEDIDO DE EXAME DE DNA NA FASE RECURSAL – ADMISSIBILIDADE, IN CASU – SENTENÇA ANULADA – a paternidade, como um direito indisponível que é inerente à personalidade civil, deve ser investigada da forma mais abrangente possível. Diante da fragilidade da prova oral, não restando excluída a paternidade pelo exame hematológico e não demonstrada a exceptium plurium concubentium, se afigura imprescindível a realização do exame de DNA para o esclarecimento da verdade. O mister do juiz não é simplesmente o decidir bem, dando a correta solução da causa em face dos fatos e do direito, para tanto incursionando diligências até extraordinárias, subsidiárias, se necessário. (TJSC –AC. Nº 45.096 – 1ª C. Cível – Rel. Carlos Prudêncio – DJSC. 17/04/95.)
Segundo Santos 2015, p.256), 
“Prova, no sentido objetivo, são os meios destinados a fornecer ao juiz conhecimento da verdade dos fatos deduzidos em juízo. Mas a prova, no sentido subjetivo, é aquela que se forma no espírito do juiz, seu principal destinatário, quanto à verdade desses fatos”.
Prova, portanto, é a pedra mestra do processo de investigação de paternidade, e dada à natureza da concepção do autor, que não adveio de um casamento segundo os ditames dos bons costumes (salvo exceções), é preciso muito mais do que prudência por parte do magistrado ao julgar uma ação investigatória (CIRIGLIANO, 2015, p.50).
Na sistemática processual, somente os fatos relevantes para a solução do litígio devem ser provados, cabendo ao juiz fixá-los em audiência. Entretanto, segundo o artigo 334 da lei adjetiva, há fatos dentre os relevantes que dispensam prova, ou seja, fatos notórios, aqueles afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária, os admitidos como incontroversos e os que gozam de presunção legal de existência ou veracidade.
Já o ônus da prova, deriva do latim, onus probandi e significa dever de provar. Esse dever, todavia, é entendido no sentido de interesse, necessidade de fornecer a prova destinada à formação da convicção do juiz a respeito dos fatos aduzidos pelas partes (PEREIRA, 2015, p.321).
O artigo 333 do CPC, diz que:
“O ônus da prova incumbe:
I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor”.
Provar, portanto, é fornecer elementos de convicção ao juiz a respeito da veracidade dos fatos alegados.
“Não é possível proclamar a procedência de uma investigatória, quando o processo peca por ausência de elementos seguros na exigência de insofismável e absoluta prova de paternidade. E não havendo certeza, não se pode dar uma sentença da gravidade de uma ação de investigatória de paternidade” (TJPR – Ap. Cív. 17.833-0 – Curitiba – Ac. Unânime 7.897 – 4ª Câm. Cív. – Rel. Des. Ronald Accioly – Pub. DJPR 3.718 de 12.08.1992).
A lição de Arnoldo Medeiros da Fonseca, de que: “o essencial é que a prova produzida, convença da paternidade alegada, apresentando-se estreme de dúvidas. Se tal convicção não se produz, a consequência só pode ser a improcedência da ação”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O “filho sem pai” busca o reconhecimento de seu status família pelo juiz, apresentando as provas de que dispõe, pois para aquele que nasceu de pais unidos pelo matrimônio ou união estável, não há empecilhos para identificar a paternidade do seu genitor, basta exibir a certidão de seu registro de nascimento que comprove o fato. Contudo, há os que nasceram de uniões extraconjugais, cujo registro consta somente o nome da mãe, para esses principalmente por questão de validação da cidadania, investigar a paternidade é fundamental. 
O Estatuto da criança e do Adolescente da Lei n. 8069/90, dispõe sobre o artigo 27, que: O reconhecimento de estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observando o segredo de justiça.
Assim, para que o “filho sem pai” logre pelo seu objetivo, o direito colocou-lhe um meio a sua disposição: A Ação de Investigação de Paternidade à Lei 8.560/92, para propositura da ação investigatória há necessidade da existência de provas robustas e concretas, que comprovem o relacionamento amoroso de sua mãe com seu pretenso pai, no qual resulte num convencimento razoável para o magistrado, a investigação de paternidade tem início quando surge a negativa do pai em reconhecer a paternidade.
Conclui-se que a convicção das disposições referidas nos artigos 231 e 232 do Código Civil, sintetizam conforme orientações jurisprudenciais, posto que baseadas nas mudanças tecnológicas e morais de nossa sociedade, já não se podia admitir a recusa da parte em se submeter ao exame de DNA, com base em argumentos pré-forjados e vazios,com isso, desprotegido o direito do individuo ao conhecimento da verdade real sobre sua suposta paternidade.
Entende-se que indiscutivelmente as mudanças no novo CPC acarretarão grandes mudanças sociais e jurídicas. Sabemos que certamente teremos que solucionar o aparente conflito de leis no tempo questões do direito intertemporal. Conforme a vida e o andamento social irá mostrar o melhor caminho a ser tomado.
Segundo a aplicação desse novo instituto no âmbito jurídico e social será possível averiguar mudanças positivas e aquelas que carecerão ser reestruturada. Espera-se que, com a nova legislação incorporada a uma mudança cultural e educacional da sociedade brasileira, num futuro, será possível alcançar os “alicerces” que justificam a criação do novo Código.
REFERÊNCIAS 
	
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