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RESENHA Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.

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TEXTO RESENHADO
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 2004. 13 ed. – (Educação e Conhecimento)
Este livro é parte de um projeto, Coleção Educação e Conhecimento, que destaca as linhas fundamentais do pensamento de alguns teóricos modernos e contemporâneos associados à educação. Izabel Galvão, tem o mérito de realizar um encontro enriquecedor com a teoria de Henri Wallon, na medida em que sistematiza as infindáveis idéias e termos extraídos da sua psicologia genética. Articulando-as, disponibiliza algumas chaves para o acesso às obras wallonianas a partir dos aspectos que elenca como os mais importantes.
A autora mostra como a teoria walloniana pode subsidiar a análise e a compreensão de situações de conflito no cotidiano escolar, bem como oferecer argumentos para a defesa de uma educação da pessoa completa. O texto é, pois, o ponto de partida para um estudo mais aprofundado e bastante fecundo.
Composto de introdução, onze capítulos, um texto selecionado do próprio Wallon, o livro também apresenta a bibliografia comentada do autor. A primeira parte trata basicamente de justificar a relevância da reflexão pedagógica que se faz acerca da sua psicologia através da apresentação dos traços característicos da sua complexa teoria, como por exemplo, a preocupação em se debruçar sobre os processos psíquicos em sua origem, privilegiando, dessa forma, a análise da criança.
O primeiro capítulo, propriamente dito, refere-se à influência da conjuntura européia na formação de seu perfil de humanista engajado através de breve apresentação biográfica. Fica patente a influência do Marxismo não só no quesito procedimental de suas investigações como também numa postura militante em face da realidade social e política da época conturbada em que viveu. Testemunhara os dois grandes conflitos mundiais e é inegável a sua tomada de posição. 
O segundo capítulo nos remete para a questão dos fundamentos filosóficos e metodológicos de seus estudos de psicologia através de diálogo com diferentes correntes filosóficas. Considera que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o desenvolvimento nos vários campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil: afetivo, motor e cognitivo. 
Faz uso do materialismo dialético como atitude teórica adotada no campo epistemológico e como método de análise, uma vez que o trata como “a única abordagem que permite a superação das antinomias que entravam a objetiva compreensão da realidade” (p.30). 
Ao enfocar a dinâmica do desenvolvimento infantil no terceiro capítulo, a autora destaca que se deve analisar a criança contextualizada, nas relações com o meio, pois, para Wallon, não é possível dissociar o biológico do social no homem. 
Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano, apresentados por Izabel Galvão, alternam-se em fases com predominância afetiva e cognitiva: Predominância funcional; Impulsivo-emocional; Sensório-motor e projetivo; Personalismo e Categorial. “O ritmo no qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores” (p.41). 
Os domínios entre os quais se distribui a atividade da criança são tratados no capítulo quatro. A sua teoria do desenvolvimento cognitivo é centrada na psicogênese da pessoa completa, ou seja, propõe o estudo integrado do ser humano. Os campos funcionais: as emoções, o movimento e a inteligência experimentam diferenciações endógenas e entre si no decorrer do desenvolvimento. Nesse ínterim, as manifestações dos conflitos representam grande contribuição para essas diferenciações e para definição do “eu corporal” e do “eu psíquico”. 
Ao definir a construção do eu - “individuação” – como resultado do processo de socialização e de conflitos, Henri Wallon, segundo a autora, afirma que “o outro é um parceiro perpétuo do eu na vida psíquica” (p.56).
Na seção seguinte, promove-se um olhar um pouco mais aprofundado sobre o universo afetivo-emocional da criança, lançando mão da análise genética para a compreensão de sua função e de seus significados, além de promover interessantes relações entre essas e as manifestações orgânicas (corpóreas), bem como com o campo de cognição do indivíduo, como afirma a pesquisadora no capítulo quinto. Destaca-se, ainda, o aspecto social das emoções através de situações que podem contribuir para o melhor entendimento das interações grupais.
 O sexto capítulo direciona-se para a “motricidade expressiva, isto é, á dimensão afetiva do movimento, como mostra o estudo sobre as emoções.” (p.69), e estabelece relação do movimento com os aspectos emocionais. A autora engloba em sua análise a questão postural, as “origens motoras da atividade cognitiva” (p.71), a influência motora sobre o meio e a educação do movimento a partir da maturação da disciplina mental. O movimento pode, inclusive, ser considerado como uma espécie de “válvula de escape” para as emoções.
No capítulo intitulado “Pensamento, Linguagem e Conhecimento” a autora afirma que, para Wallon, “a linguagem é o instrumento e o suporte indispensável aos progressos do pensamento.” (p.77). A linguagem comporta outras dimensões temporais e espaciais além da vivenciada concretamente, nela são construídas e exercitadas as representações simbólicas apoiadas nas manifestações verbais do pensamento. Sendo esse, predominantemente sincrético na fase da infância, mas que progressivamente permitirá as diferenciações que culminarão na separação do eu-outro no âmbito cognitivo.
A partir do oitavo capítulo ver-se-á as implicações educacionais dessa teoria psicogenética. Galvão, na página oitenta e nove, afirma que o pensamento walloniano subsidia a reflexão pedagógica na medida em que trata de aspectos como “emoção, movimento, formação da personalidade, linguagem, pensamento...” disponibilizando recursos para a “adequação da prática pedagógica ao desenvolvimento da criança.”
 
Abandonando a pretensa neutralidade diante da educação, o pedagogo francês, criticava as bases do movimento escolanovista que, segundo o mesmo, preconizaria o individualismo. Destarte, propôs a interpenetração de significações que dão sentido à educação quando pensada na dinâmica indivíduo-sociedade, valorizando as dimensões sociais da educação. Não ficando sujeito apenas ao plano das críticas desestabilizadoras, materializou suas inquietações e propostas transformadoras do processo histórico-político no Projeto Langevin-Wallon encomendado pelo Governo francês em fins da década de 1940.
Neste momento da leitura, no capítulo nove, a visão de uma prática voltada para as necessidades da criança completa permite-nos compreender que a sua teoria opõe-se a “uma pedagogia meramente conteudista, limitada a propiciar a passiva incorporação de elementos da cultura pelo sujeito...” (p.99), mas destaca a expressividade do educando, elemento fundamental para a construção processual da sua personalidade. 
O ambiente da escola, nesta perspectiva, assume papel relevante para propiciar e estimular o desenvolvimento infantil, devendo-se considerar o espaço, os materiais e o tempo relacionados à consecução das atividades educacionais propostas. 
Ao enfatizar os conflitos, tratando-os como situações “dinamogênicas”, Wallon colabora para uma releitura do mundo das interações interpessoais em sala de aula. A leitura deste capítulo nos conduz à reflexão acerca dos elementos temporais e posturais que tanto influenciam a qualidade do trabalho pedagógico.
No décimo primeiro capítulo, Izabel Galvão elege algumas idéias de Henri Wallon, já apresentadas anteriormente, como contribuições significativas para a escola engajada e inserida no seu espaço-tempo para que promova mudanças.
Em “Texto Selecionado” a autora visa reafirmar o caráter integral do desenvolvimento infantil, através de trechos do artigo “As etapas da evolução psicológica da criança”. O conceito de “unidade solidária”, que permeia a realidade de cada fase do desenvolvimentoe a interação entre elas, poderia ser aplicado a humanidade, tanto no sentido do indivíduo (completo), como no plano do todo, os quais interagem rumo a uma melhor compreensão de si e da sociedade.
Pelo seu caráter introdutório e demasiadamente sintético, em se tratando de apresentar os principais aspectos do pensamento walloniano, alguns conceitos e definições podem soar como incompletos, ou um pouco vagos, numa primeira leitura. Todavia, por tratar-se de um trabalho preocupado em delimitar “uma visão de conjunto”, como afirma a autora na página treze, esse contato satisfaz provisoriamente ao leitor e estimula a sua curiosidade para lançar-se ao desafio de conhecer Henri Wallon mais de perto e conseqüentemente reavaliar sua postura pedagógica e humana.
Deve-se encarar “Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil” como uma sistematização de grande contribuição aos educadores das séries iniciais, e para todos aqueles que buscam compreender o processo de desenvolvimento do sujeito, do outro e de si mesmo, de uma maneira mais plena.

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