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2012 Leitura de imagem Prof.ª Mara Lúcia Adriano Bueno Copyright © UNIASSELVI 2012 Elaboração: Prof.ª Mara Lúcia Adriano Bueno Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 741 B928l Bueno, Mara Lúcia Adriano. Leitura de imagem / Mara Lúcia Adriano Bueno. Indaial : UNIASSELVI, 2012. 181 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-382-2 1. Imagem. 2. Desenho I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Ensino a Distância. II. Título. Impresso por: III apresentação Prezado acadêmico, prezada acadêmica! Estamos diariamente expostos a um universo complexo de imagens, muitas passam despercebidas em nosso dia a dia, outras nem tanto, como é o caso das imagens publicitárias, que por meio da linguagem visual, têm a missão de chamar a atenção e persuadir o público em geral, para a questão do produto anunciado. Este é apenas um exemplo de como o universo da imagem é amplo, visto que tudo o que vemos é uma imagem. O ser humano sempre buscou conhecer o significado das coisas, na esperança de conhecer a si mesmo. A leitura da imagem possibilita caminhar por áreas de conhecimento, que auxiliam no entendimento de muitas questões. Ora, se a imagem é composta por figuras, elementos estruturais ou signos visuais, é importante conhecer o significado destes signos para melhor compreensão da mensagem. No filme “Sorriso de Monalisa”, precisamos ver além do que está diante de nossos olhos. Esta apresentação bem como todo o Caderno de Estudos não tem a pretensão de ter esgotado os assuntos relacionados ao tema de leitura da imagem, muito pelo contrário, espero que este Caderno seja um despertar, para aquisição de novas pesquisas às inquietações que apareceram relacionadas ao tema. Espero que as lições que constituem o Caderno venham contribuir na sua formação enquanto docente e que você seja um multiplicador destes conhecimentos, auxiliando, dessa maneira, na construção de um mundo mais sensível, ético e crítico. Bons estudos! Professora Mara Lúcia Adriano Bueno IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS ............................................................ 1 TÓPICO 1 – DESMISTIFICANDO A SEMIÓTICA .................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 3 2 O QUE É SEMIÓTICA? .................................................................................................................. 3 2.1 TIPOS DE SEMIÓTICA .............................................................................................................. 5 3 SEMIÓTICA NA PRODUÇÃO SIMBÓLICA ............................................................................ 6 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 7 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................................... 9 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 10 TÓPICO 2 – O PERCURSO DO SIGNO ........................................................................................ 11 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 11 2 O QUE SERIA EXATAMENTE UM SIGNO? ............................................................................. 11 2.1 SIGNO-OBJETO .......................................................................................................................... 11 2.2 SIGNO-OBJETO INTERPRETANTE ........................................................................................ 13 2.3 SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE ........................................................................................... 14 2.4 O SIGNO SEGUNDO A ESCOLA PEIRCEANA ................................................................... 17 3 PEIRCE E TIPOS DE SIGNO ........................................................................................................ 18 4 O PROCESSO DA SEMIOSE ........................................................................................................ 28 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 29 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 32 TÓPICO 3 – A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS ........................ 33 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 33 2 COMUNICAÇÃO VISUAL ........................................................................................................... 33 2.1 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO ...................................................................................... 33 2.2 CARACTERÍSTICAS DA COMUNICAÇÃO VISUAL ......................................................... 36 3 SIGNOS ARTÍSTICOS ................................................................................................................... 39 3.1 METÁFORA ................................................................................................................................ 43 3.2 O CÓDIGO DA ARTE ................................................................................................................ 45 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................... 47 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 48 UNIDADE 2 – LINGUAGEM VERBALE NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 49 TÓPICO 1 – A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO ................................................ 51 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 51 2 LINGUAGEM ................................................................................................................................... 51 2.1 LINGUAGENS VERBAIS E NÃO VERBAIS .......................................................................... 54 2.2 LINGUAGEM VISUAL .............................................................................................................. 56 2.3 ELEMENTOS DA ESTRUTURA DA LINGUAGEM VISUAL ............................................. 57 sumário VIII 2.3.1 Linhas .................................................................................................................................. 57 2.3.2 Formas ................................................................................................................................. 58 3 CORES ................................................................................................................................................ 60 3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS CORES ............................................................................................... 65 3.2 SENSAÇÕES VISUAIS ACROMÁTICAS E CROMÁTICA .................................................. 68 3.2.1 Sensações acromáticas ....................................................................................................... 68 3.2.2 Sensações cromáticas ......................................................................................................... 69 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 72 TÓPICO 2 – PERCEPÇÃO DO OBJETO SIMBÓLICO ............................................................... 73 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 73 2 PERCEPÇÃO ..................................................................................................................................... 73 2.1 TIPOS DE PERCEPÇÃO ............................................................................................................ 73 3 PERCEPÇÃO ESTÉTICA ................................................................................................................ 78 4 PERCEPÇÃO DAS IMAGENS ...................................................................................................... 79 5 O OBJETO SIMBÓLICO ................................................................................................................ 82 6 IMAGEM SIMBÓLICA .................................................................................................................. 83 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 85 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................................... 90 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 92 TÓPICO 3 – A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA ................................................................ 93 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 93 2 MODOS DE VER A IMAGEM ...................................................................................................... 93 2.1 RELAÇÃO DA IMAGEM COM O REAL ............................................................................... 94 2.2 AS FUNÇÕES DA IMAGEM .................................................................................................... 94 2.3 RECONHECIMENTO E REMEMORAÇÃO .......................................................................... 95 2.4 A IMAGEM E O ESPECTADOR ............................................................................................... 99 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 107 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................... 110 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 111 UNIDADE 3 – LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA ...................................................................................................................... 113 TÓPICO 1 – LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT .................................... 115 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 115 2 O MOVIMENTO GESTALTISTA ................................................................................................ 116 3 LEIS DA GESTALT .......................................................................................................................... 117 4 CATEGORIAS CONCEITUAIS: FUNDAMENTAIS ............................................................... 126 5 CATEGORIAS CONCEITUAIS: TÉCNICAS VISUAIS APLICADAS ................................. 127 6 METODOLOGIA DA LEITURA VISUAL PELA GESTALT .................................................. 128 6.1 LEITURA DE IMAGENS ........................................................................................................... 128 6.2 A LEITURA VISUAL DO OBJETO SEGUNDO A GESTALT ............................................... 129 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 132 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................................... 135 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 136 IX TÓPICO 2 – LEITURA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA ............................................................. 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 A IMAGEM PUBLICITÁRIA ........................................................................................................ 137 3 METODOLOGIA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA ................................................................... 137 3.1 A MENSAGEM PLÁSTICA ....................................................................................................... 138 3.2 A MENSAGEM ICÔNICA ........................................................................................................ 140 3.3 A MENSAGEM LINGUÍSTICA ................................................................................................ 140 4 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM PUBLICITÁRIA .......................................... 140 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................................... 146 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 147 TÓPICO 3 – LEITURA: QUANDOSENTIMOS A OBRA .......................................................... 149 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 149 2 A OBRA É ABERTA ......................................................................................................................... 149 2.1 LER É PRODUZIR SENTIDO ................................................................................................... 152 2.2 O ACESSO À PRODUÇÃO ARTÍSTICA ................................................................................. 154 3 METODOLOGIAS DE LEITURAS .............................................................................................. 155 3.1 MÉTODO DE EDMUND BURKE FELDMAN ....................................................................... 156 3.2 MÉTODO DE ROBERT WILLIAN OTT .................................................................................. 157 3.3 MÉTODO DE MARJORIE E ROBERT WILSON E ALL HURWITZ ................................... 158 3.4 MÉTODO DE ANA AMÉLIA BUENO BUORO .................................................................... 158 3.5 METODOLOGIA TRIANGULAR ............................................................................................ 159 4 SUGESTÕES EM SALA DE AULA .............................................................................................. 160 4.1 LEITURA COMPARADA PELO MÉTODO DE FELDMAN ...............................................160 4.2 LEITURA DE IMAGEM USANDO O MÉTODO DE ROSALIND RAGANS – DISCIPLINED BASED ART EDUCATION (COM ÊNFASE NA CRÍTICA) ......................163 4.3 LEITURA DE IMAGEM PELO MÉTODO DE BUORO ........................................................165 4.4 LEITURA DA OBRA DE ANDRÉ NEVES ..............................................................................166 4.5 LEITURA DE OBRAS DE ARTE RELACIONADA POR TEMA .........................................169 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 171 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................................... 175 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 176 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 177 X 1 UNIDADE 1 ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Esta unidade tem por objetivos: A partir desta unidade, você será capaz de: • entender o objetivo da semiótica; • compreender o percurso do signo; • identificar o significante e o significado; • estabelecer a correspondência entre a forma do objeto e seu significado. Esta unidade está organizada em três tópicos. Em cada um deles você encontrará diversas atividades que o(a) ajudarão na compreensão das informações apresentadas. TÓPICO 1 – DESMISTIFICANDO A SEMIÓTICA TÓPICO 2 – O PERCURSO DO SIGNO TÓPICO 3 – A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DESMISTIFICANDO A SEMIÓTICA 1 INTRODUÇÃO O mundo que nos cerca é composto de imagens que estamos produzindo diariamente, lendo e sempre que possível decodificando. O homem, no sentido geral, sempre esteve em busca de entender o significado de tudo o que o cerca. Estas significações por ele reveladas configuram a multiculturalidade humana. São os signos artísticos que permitem ao homem, este ser sensível, construir sua poética pessoal, seu modo singular de ver e tornar visível seu universo imaginário. Este tópico apresentará conceitos de semiótica, seus principais pensadores, a natureza dos signos e o fenômeno da semiose. Estes são os pontos importantes para se entender um pouco de semiótica e aprender a olhar este mundo que nos cerca de maneira poética. 2 O QUE É SEMIÓTICA? De acordo com Santaella (1992, p. 13), “A semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido”. Conforme a autora, podemos verificar que a semiótica estuda todas as linguagens de signos e que o signo está relacionado a qualquer coisa. Teremos na representação de um signo, um objeto que de acordo com seu interpretante terá relacionado a si, um significado direto. O signo também está ligado diretamente aos sentidos em função da nossa percepção. Daí o fato de também estudarmos a semiótica em outros campos perceptivos. Um recurso sonoro, uma imagem ou um cheiro podem lembrar um objeto e ser determinante na sua significação. Enfim, como a semiótica estuda este fenômeno da significação, é importante que saibamos perceber e interpretar. Este momento entre o indivíduo perceber o signo e sua interpretação identificamos como um processo chamado semiose, que veremos no Tópico 2. UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 4 O nome semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência que estuda signos. IMPORTANT E No estudo da semiótica existe uma certa convenção simbólica a que estamos acostumados e onde encontramos diversos signos visuais que possuem a mesma relação de significado e interpretação. Dois exemplos citados por Martins (1998) são muito práticos para este entendimento: • convencionou-se que a figura da pomba branca está mundialmente relacionada ao símbolo da paz; • a cor vermelha no semáforo, também por convenção é reconhecida como um signo visual, que simboliza o ato de parar. De acordo com a semiótica de Santaella (1992), podemos resumir simbolo como alguma coisa que representa algo para alguém e que portanto possui um significado. IMPORTANT E De acordo com Nörth (1995, p. 55), no séc XIX, “símbolos e imagens são as noções centrais da semiótica”, portanto, mesmo assim ainda é considerada uma ciência nova e há muito para ser estudado. Grandes nomes estão atrelados aos estudos semióticos no século XX, como: Edmund Hussert, com a teoria da fenomenologia dos signos e significados e Charles Sanders Peirce, conhecido como um dos maiores nomes da história da semiótica moderna e fundador da teoria moderna dos signos. Como já foi dito anteriormente, a Semiótica é a ciência geral dos signos e portanto atrelada a ela também estudamos a semiose. O entendimento é que ao estudarmos este sistema de signos, estamos estudando todos os fenômenos culturais capazes de relacionar os significantes aos seus significados ligados à ideia ou conceito de alguma coisa abrangendo áreas como música, dança, fotografia, culinária, religião, moda, arquitetura, artes visuais etc. Encontramos em oposição aos estudos semióticos a linguística, que se atém a estudar os sígnos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal. TÓPICO 1 | DESMISTIFICANDO A SEMIÓTICA 5 Agora que você já viu os conceitos de semiótica segundo grandes autores do estudo em questão, podemos entender que a semiótica é uma ciência que tem por objeto qualquer sistema sígnico e que fazem parte deste sistema as artes visuais, música, fotografia, cinema, culinária, vestuário, gestos, religião, ciência etc. IMPORTANT E 2.1 TIPOS DE SEMIÓTICA É importante conhecer e distinguir os tipos de semiótica e qual é o mais apropriado para um determinado estudo de acordo com o seu foco. Veja o texto a seguir: São muitas as origens da semiótica moderna. Em função dessa multiplicidade, existem várias correntes semióticas. Portanto, quando se fala em semiótica, a primeira questão que se deve colocaré de qual semiótica estamos falando”. [...] dependendo da corrente semiótica de que estamos tratando, difere a própria definição da semiótica, assim como diferem os conceitos e o modo como eles são aplicados a outros campos do saber das produções e criações humanas. FONTE: Disponível em: <http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=11&id=81>. Acesso em: 10 jan. 2011. Sabemos que são várias as correntes da semiótica moderna, porém para entender um pouco mais dos tipos de semiótica, relacionamos as três correntes mais estudadas: a semiótica peirceana, semiótica greimasiana e semiótica da cultura também conhecida como a de tradição russa. Segundo Perez, 2004: a) Semiótica peirceana (Peirce) - Como o próprio nome diz, teve suas origens e estudos com Charles Sanders Peirce (1839-1914) que conferiu um legado ao desenvolver uma lógica universal com aplicação em vários campos do saber, desde a Filosofia ao Marketing. Embasou sua teoria na noção de signo, entendido como qualquer elemento/coisa que representa algo para alguém. Para ele, três coisas são fundamentais na relação que o signo tem com o objeto em si com o interpretante e a ação que ele representa. A este conjunto de ações, Peirce chamou de tríade semiótica. Portanto, a semiótica de Peirce foca os signos e suas formas de ação, como também proporciona um vasto repertório de signos. UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 6 b) Semiótica greimasiana - Estabelecida na França tem como foco os signos verbais. Greimas procurou aplicar os métodos de pesquisa da linguística estrutural à análise de textos, definida por ele como discurso. Ele aborda a questão da semiótica como um discurso mais profundo de organização dos processos de emissão e recepção das mensagens. Acredita que a semiótica como era vista, baseada na análise de significado, figuras e retórica, leva a manifestações superficiais de sentido. Ele destaca a importância de compreender o discurso por inteiro, de modo a visualizar a significação em sua totalidade. Logo o método greimasiano fundamenta-se na relação significante/significado, em busca de níveis maiores de significação produzidos pela mensagem. c) Semiótica russa ou conhecida como semiótica da cultura - Os países soviéticos sempre tiveram sua visão semiótica focada na globalização da cultura. Mas em função do sistema político e econômico socialista de Stalin, os trabalhos de semiótica começaram tarde, porém quando desenvolvidos foram intensos. Seus precursores foram Bakhtin (1895-1975), Jakobson (1896-1982) e Iúri Lotman (1981) que se revela como um dos nomes renomados na semiótica russa. 3 SEMIÓTICA NA PRODUÇÃO SIMBÓLICA A semiótica tem se destacado muito no campo da imagem e nesse sentido a imagem pode ser concebida como uma representação plástica, material ou aquela que evoca uma determinada coisa, por ter ela semelhança ou relação simbólica. O conceito de representação e de signo aparece muitas vezes na literatura semiótica como sinônimos, sendo possível a intercambialidade deles em diversas situações. A representação é um conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, pela imaginação, pela memória ou pelo pensamento. De maneira que podemos dizer que, a forma de uma imagem é feita por semelhança com o objeto representado, porém em inúmeras situações percebemos que a semelhança não garante a representatividade. É importante lembrar que a semiótica é teórica e quando a usamos como método para a leitura de imagens, estamos lidando com signos e semiose. Ao se trabalhar com o método semiótico na produção simbólica é importante que se tenha “atitude fenomenológica, que segundo Santaella, (1992), baseado em Peirce, envolve a capacidade contemplativa, a capacidade de distinção e de generalização das observações” (apud PEREZ, 2004). • Capacidade contemplativa – Como o próprio nome diz é a capacidade de vermos o que está diante dos nossos olhos. Está ligada à sensação que o signo pode gerar em nossas mentes. A capacidade contemplativa é, portanto, uma habilidade que pode ser treinada e desenvolvida à medida que mudamos nossa maneira de ver, perceber e sentir o mundo. TÓPICO 1 | DESMISTIFICANDO A SEMIÓTICA 7 • Capacidade de distinção – é quando começamos a distinguir as diferenças existentes nos signos, saímos da contemplação e apuramos mais o olhar, buscando o que é diferente. Logo, também é uma habilidade que se desenvolve por meios de exercícios de observação e separação dos signos visuais que se está observando. • Generalização das observações – está ligada à aptidão de separar as observações feitas nos signos e ampliá-las em categorias gerais. Neste caso, o signo em questão passa a pertencer a uma série de classificações, que dependem de convenções, padrões e códigos. Ex.: Uma determinada observação que nos leva a concluir que diz respeito a um tipo específico de (classe) moradia: um apartamento. Portanto, a leitura dos processos simbólicos pressupõe o desenvolvimento dessas três habilidades. Pois se espera que ao se realizar este procedimento ocorra a desmistificação do conteúdo simbólico do signo e tenhamos o entendimento dos significados em questão. LEITURA COMPLEMENTAR QUANDO SE INICIARAM OS PRIMEIROS ESTUDOS DE SEMIÓTICA PEIRCEANA NO BRASIL? Primeiramente, no Brasil, foram desenvolvidos estudos linguísticos, cujo maior representante seria Joaquim Mattoso Câmara Jr. Assim, por essa via, as ideias saussurianas foram divulgadas antes das peirceanas. "Desde o início da década de 1970, há quase trinta anos, a obra do norte- americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), cientista, lógico, filósofo e criador da moderna ciência semiótica, vem sendo estudada na PUC de São Paulo. O pensamento de Peirce não entrou nessa universidade pela via da lógica, nem pela via da filosofia, mas pela via da semiótica. Naquela época, o atual programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica se chamava Teoria Literária, fundado e coordenado por Lucrécia Ferrara, pioneira junto com Joel Martins e Antonieta Alba Celani na criação dos programas de estudos pós-graduados na PUC-SP, esses mesmos que cresceram, multiplicaram-se, trazendo hoje tanto prestígio acadêmico a essa universidade. Foi nas magníficas aulas de Haroldo de Campos e Décio Pignatari, primeiros professores do programa de Teoria Literária, que a teoria dos signos de Peirce começou a ser interpretada no Brasil. Em 1970, Haroldo de Campos organizou a edição para a Perspectiva da Pequena Estética de Max Bense, filósofo alemão e divulgador primeiro da obra peirceana em seu país. Em 1972, a Cultrix editou, com tradução de Octanny S. da Mota e Leonidas Hegenberg, mais coletânea de escritos escolhidos de Charles Sanders Peirce. UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 8 Essa coletânea antecederia em muitos anos, as primeiras coletâneas de textos traduzidos de Peirce em vários países da Europa. Enfim, foi com salutar precocidade que se deu o plantio das primeiras sementes dos estudos peirceanos no Brasil, cuja dianteira foi tomada pela pós-graduação em Teoria Literária da PUC-SP. Em 1978, esse antigo programa ampliou-se interdisciplinarmente numa proposta de estudos pós-graduados em Comunicação e Semiótica (COS). Sob essa nova sigla, que dura até hoje, e com novas perspectivas comunicacionais, a semiótica encontrou solo fértil para se desenvolver e se diversificar. A semiótica peirceana entrou em convivência com outras correntes da semiótica - saussuriana, hjelmsleviana, soviética, greimasiana, barthesiana etc. - formando um conjunto teórico aberto e crítico que, desde então, espraiou-se numa variada gama e campos de aplicações: literatura, artes, som, música, oralidade, dança, performance, jornal, rádio, imagenstécnicas da era eletromecânica - fotografia e cinema -, da era eletrônica - televisão, vídeo - e da era teleinformática - infografia, infovias etc. A vocação interdisciplinar da semiótica, como uma ciência da comunicação, também se dilatou na multi e transdisciplinaridade, propiciando o diálogo e intercâmbio conceitual com a epistemologia, a história das ciências, as ciências sociais, a psicologia, a psicanálise etc. Nesse contexto, desde 1992, um fenômeno importante e original começou espontaneamente a brotar no programa de COS. Começaram a surgir, pouco a pouco, Centros de Pesquisa ligados às linhas de pesquisa que estão definidas como extensões diretas das áreas de concentração do programa. (p. 3 e 4). O Centro de Estudos Peirceanos é um desses centros de pesquisa, fundado em 1996, por Lúcia Santaella. FONTE: SANTAELLA, L. (1997). Estudos de Peirce no COS/PUCSP. In: Laurentiz, S. (Org.). JORNADA DO CENTRO DE ESTUDOS PEIRCEANOS, 1., São Paulo. Anais... São Paulo: CENEP COS/PUC. Disponível em: <www.pucsp.br/pos/cos/cepe/peirce/peirce.htm>. Acesso em: 6 jan. 2011. 9 • O nome semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência que estuda signos. • De acordo com a semiótica, podemos resumir símbolo como alguma coisa que representa algo para alguém. • A Semiótica é a ciência geral dos signos e da semiose, que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. • Podemos então entender que a semiótica é uma ciência que tem por objeto qualquer sistema sígnico e que fazem parte deste sistema as artes visuais, música, fotografia, cinema, culinária, vestuário, gestos, religião, ciência etc. • A semiótica pode ser estudada de acordo com os tipos: semiótica peirceana, semiótica estruturalista/semiologia e a semiótica russa ou semiótica da cultura. • Ao se trabalhar com a semiótica na produção simbólica, devemos utilizar a atitude fenomenológica, que utiliza a capacidade contemplativa, a capacidade de distinção e a generalização das observações. RESUMO DO TÓPICO 1 10 1 De acordo com os conteúdos abordados no Tópico 1, procure formular um conceito para semiótica. 2 Como você explica o processo da semiose? 3 Qual a importância da semiótica para Peirce? 4 E para você, por que estudamos semiótica? 5 Qual o foco de atenção da semiótica de Peirce? AUTOATIVIDADE 11 TÓPICO 2 O PERCURSO DO SIGNO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Para entender o signo na leitura de imagem, é fundamental conhecer a relação signo-objeto por meio de seu significante e significado, bem como identificar os índices, ícones e símbolos presentes na comunicação visual e que nos auxiliam na leitura e produção de linguagem. Seguiremos o pensamento de Martins (1998), que nos fala que o encontro com o nosso mundo se dá pela leitura e produção de linguagens, o que é ao mesmo tempo leitura e produção de sistema de signos. 2 O QUE SERIA EXATAMENTE UM SIGNO? É com o filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), que procuraremos compreender melhor o que é um signo. “Como criador de uma teoria geral dos signos – a semiótica, Peirce investigou o que são e como operam os signos e, por meio deles, o próprio pensamento do homem. É a trilha de seu pensamento que seguiremos”. (MARTINS, 1998, p. 38). Para isto vamos explicar três partes consideradas importantes no processo de leitura do signo, o signo-objeto, signo-objeto interpretante e significado e significante. Creio que ao apreendermos qual função que cabe a cada uma dessas partes, com certeza, faremos a interpretação da leitura de imagem com muito mais segurança. 2.1 SIGNO-OBJETO Vamos tomar como exemplo a palavra carro, o desenho de um carro, o esquema de um carro, a fotografia de um carro, a escultura de um carro. São todos signos do objeto carro, ou representações dele. UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 12 FIGURA 1 – SIGNO DO OBJETO CARRO FONTE: Disponível em: <http://artnolapis.blogspot.com>. Acesso em: 14 mar. 2011. FONTE: Disponível em: <http://www.mangacom.com.br/site/ atualidades/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 2 – SIGNO DO OBJETO CARRO Martins (1998, p. 38) usa uma linguagem clara para explicar signo segundo a noção de Peirce. “Um signo é alguma coisa que representa outra coisa: seu objeto (ideia ou coisa) para alguém sob algum aspecto de qualidade. Então, tanto a palavra quanto o desenho, o esquema, a fotografia ou a escultura de um carro não são o próprio carro. São signos dele, um representante. Cada um deles, de certo modo representa a realidade do carro”. Por esta razão também, podemos entender quando um artista toma a liberdade de interferir na sua criação com cores ou traços que no mundo real não fazem parte. Pois na verdade o que ele tem é uma representação de algo, ou alguma coisa que lhe permite assim aplicar cores e ou traços que na realidade não condizem com o produto real. Para que o signo seja utilizado por nós como signo de algo, ele tem que ter esse poder de representar, ou seja, estar no lugar do objeto, para torná-lo presente a nós por meio de uma presença, sem com isso perder sua característica. Como o signo representa seu objeto para alguém, logo representa para um intérprete que fará sua leitura de acordo com os códigos visuais ali encontrados. (MARTINS, 1998). TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 13 2.2 SIGNO-OBJETO INTERPRETANTE Ainda seguindo o conceito de Martins (1998, p. 39), para signo-objeto interpretante, ela define que: “[...] ao ser comunicado a alguém, o signo produz na mente desse intérprete um segundo signo que traduz o significado do primeiro. Chama-se o signo assim criado de interpretante do primeiro signo. Assim, o significado de um signo é sempre outro signo. Isto ocorre porque há uma relação entre o próprio signo (um representante), o objeto (aquilo a que o signo se refere e é por ele representado) e o interpretante (conceito, imagem mental construída na mente do receptor do signo)”. Dessa maneira, nós teremos para um mesmo signo muitos significados ou também conhecidos como significados de primeiro nível e posterior a este as conotações de segundo nível. Caro(a) acadêmico(a), voltamos ao exemplo do carro. UNI 1 Quando você olha o desenho de um carro, olha um signo (a representação) do objeto do carro. Ex.: carro. 2 Sua mente processará esse signo fazendo vir ao seu pensamento um segundo signo (a representação que sua mente faz a partir do objeto carro representado). Este é o interpretante, que traduz para você o significado do primeiro. Ex.: Veículo de quatro rodas. 3 Como intérprete, você olhou o desenho de um carro (signo) e sua mente o interpretou criando outro signo (interpretante) que mostra a você o que é um carro. CARO(A) ACADÊMICO(A), PRESTE ATENÇÃO! “Um signo só é a representação de algo para nós se conhecermos o objeto do signo, isto é, aquilo que é representado pelo signo. Se um signo-objeto não faz parte das referências pessoais e culturais do intérprete, não há possibilidade de o signo ser aplicado, de denotar o objeto para o intérprete” (Martins, 1998, p. 39). NOTA UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 14 Logo, para fazer a leitura visual das imagens é importante que se tenha conhecimento do assunto em questão e uma boa bagagem cultural e condições e habilidades perceptivas. 2.3 SIGNIFICADO E SIGNIFICANTE Para entender o signo na leitura de imagem, é fundamental conhecer a relação signo-objeto por meio de seu significante e significado, bem como identificar os índices, ícones e símbolos presentes na comunicação visual e que nos auxiliam na leitura e produção de linguagem. Caro(a) acadêmico(a)! A leitura dos signos visuais depende do seu significado próprio, mas também depende do conhecimento, da experiênciaprática e do hábito daqueles que o interpretam. Interessa por isso que todas as pessoas aprendam a ler e interpretar criticamente os signos visuais. IMPORTANT E Todas as mensagens, qualquer que seja a linguagem utilizada, integram sempre dois aspectos: o conteúdo (significado = relaciona a ideia ou conceito) da mensagem e uma forma (significante = elemento material perceptível). Podemos, assim, dizer que todas as mensagens visuais integram uma função cognitiva e uma função emotiva. SIGNO = SIGNIFICANTE + SIGNIFICADO Significante - Elemento material e perceptível (desenho, foto etc.). Está relacionado à forma, cor, textura e dimensão. Pode também ter mais aspectos além desses elementos identificados. Significado - Ideia ou conceito. Código - Combinação de signos utilizados para a transmissão de mensagens. TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 15 Veja as imagens a seguir e identifique o significante e o significado para interpretar o signo. UNI Exemplo 1 FONTE: Disponível em: <http://www.lojasambura.com.br/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 3 – SIGNO SIGNO = SIGNIFICANTE + SIGNIFICADO UNI SIGNIFICANTE SIGNIFICADO Forma circular Movimento Cor vermelha Atenção Cor branca Destaque Textura visual Lisa Dimensão Não existe outro elemento para servir de parâmetro FONTE: A autora QUADRO 1 – SIGNIFICANTE/SIGNIFICADO SIGNO = SIGNIFICANTE (BOIA) + SIGNIFICADO (SALVAR VIDAS). UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 16 Exemplo 2 FIGURA 4 – AS BOTAS NEGRAS DE VINCENT VAN GOGH (1886) FONTE: Disponível em: <http://choquemiope.blogspot.com>. Acesso em: 14 mar. 2011. LEMBRANDO: SIGNO = SIGNIFICANTE + SIGNIFICADO SIGNIFICANTE SIGNIFICADO Forma irregular Usada Cor marrom-escuro desgastado Desgaste, Velho Textura visual Enrugada Dimensão Não existe outro elemento para servir de parâmetro FONTE: A autora QUADRO 2 – SIGNIFICANTE/SIGNIFICADO Caro(a) acadêmico(a)! Para facilitar o aprendizado tenha sempre em mente que: Signo - Significante + significado. Significante - É o elemento material e perceptível. Está relacionado à forma, cor, textura e dimensão. Significado - É a ideia ou conceito. IMPORTANT E SIGNO = SIGNIFICANTE (Um par de botas) + SIGNIFICADO (muito usadas, velhas). TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 17 No campo da matéria no mundo real, tudo pode ser considerado signo e no campo imaginário, no mundo irreal tudo também pode ser considerado signo. Portanto, é possível afirmar que signo é tudo que pode representar, substituir ou significar alguma coisa. IMPORTANT E Para Peirce, o ser humano não pode pensar sem signos. Os signos funcionam como veículos de comunicação, capazes de transportar mensagens ou significados. Por isso, o signo é o elemento fundamental no estudo da Semiótica. 2.4 O SIGNO SEGUNDO A ESCOLA PEIRCEANA Peirce afirmava que o universo está cheio de signos e o próprio homem é um signo. Suas ideias são signos e que enfim vivemos em um contexto de signos que tanto podem pertencer à esfera material (pintura, escultura, música, gesto, qualquer coisa que corporifique uma ideia), como também pertencer à esfera imaterial (memória, sonho, sentimentos), mas que sempre estarão representando alguma coisa ou elemento em si, ou para alguém. Pois para Peirce representar é “estar para” indicando uma relação com o outro, que está relacionado a um conteúdo concreto apreendido quer seja pelos sentidos, pela imaginação ou pelo pensamento. A ideia peirceana, então, é que não há lugar no mundo vazio de signos. “Vivemos em um mundo composto de sistemas sígnicos que se traduzem em linguagens e que estas nos auxiliam a compreender o mundo simbólico mesmo que deste mundo simbólico façam parte as fantasias ou o que é real”. (MARTINS, 1998, p. 40). Podemos verificar então que para Peirce, o processo de significação é questão de comunicação, porque para ele o importante não era o signo em si, mas sim o processo de formação do signo, que é identificado como semiose e que nada mais é do que um processo que relaciona o signo, o objeto e um interpretante. Dessa forma, podemos entender “que todo signo se estabelece a partir de relações que envolvem seu fundamento, suas relações com aquilo a que representa, seu objeto (ou referente) e com os efeitos que gera, chamados interpretantes”. (PEREZ, 2004, p. 141). Para esclarecer melhor, vamos ao texto a seguir! UNI UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 18 O intérprete está diante do signo em uma dada circunstância de ocorrência e, ao mesmo tempo, dispõe de um continuum (universo) de significados possíveis. Uma mensagem qualquer, visão ou ruído que despertou a atenção do sujeito. Nesse momento, a mente é acionada pela percepção desse estímulo: o signo ou, em geral, vários deles combinados. Operações do raciocínio processam informações e alcançam um significado. Entre o signo e o significado, existem inúmeras possibilidades de interpretação: são os significantes. Ou seja, o significado depende; sempre de um contexto, de circunstâncias, que o determinam, caso a caso. Há significados óbvios e outros, nem tanto. É fácil ler um bilhete em chinês se você é chinês. Mas nem sempre é tão fácil entender obras de arte. O fenômeno é sempre o mesmo: semiose. Mas o resultado final, o significado, é um mutante que varia conforme intérprete e ocorrências reais. Por causa desses diferentes modos de ocorrência da semiose, existe mais de um mecanismo que nos leva ao entendimento de uma proposição ou mensagem. FONTE: SEMIÓTICA FÁCIL. Disponível em: <http://ligiacabus.sites.uol.com.br/semiotica/ semiose.htm>. Acesso em: 7 jan. 2011. 3 PEIRCE E TIPOS DE SIGNO Para melhor utilizar os signos, diante de tanta diversidade, Peirce classificou-os em três espécies, que estão relacionados ao modo como ocorre semiose, são eles: os índices, os ícones e os símbolos. a) Índice – É um signo incompleto porque sugere sem afirmar ou representar completamente. O índice é um signo que representa o seu objeto por relação de causa e efeito, casualidade ou consequência. Isto equivale a dizer que existe uma relação direta entre o índice e o seu objeto, ou que o índice foi causado pelo seu objeto. Também podemos entender que o índice não oferece ambiguidades. Todas as sugestões são índices. Logo o índice são signos indicativos. Representam algo que não está presente e esta representação decorre de uma relação de causalidade. Exemplos: • Fumaça (indica a presença de fogo, pois foi o fogo que a causou). • Rastro de pneus (indica que algum automóvel passou por ali). • Som de chamada do celular no momento em que estiver tocando (indica que há uma chamada sendo feita). • Céu com nuvens escuras (indica que poderá chover). • Ruas molhadas (indica que choveu ou alguém molhou a rua). TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 19 FONTE: Disponível em: <http://celardacaridade.blogspot.com/>. Acesso em: 7 jan. 2011. FIGURA 5 – EXEMPLOS GRÁFICOS DE ÍNDICES FONTE: Disponível em: < http://tripasetragos.blogspot.com/>. Acesso em: 7 jan. 2011. FIGURA 6 – EXEMPLOS GRÁFICOS DE ÍNDICES b) Ícones – Um signo que representa o seu objeto por relação de similaridade, ou traços de semelhança. O ícone possui algumas qualidades que se assemelham às qualidades daquilo que representa, sendo que as relações de semelhança podem ser de diferentes níveis. É um signo elementar que tem como significado direto a imagem que representa. Possui leitura imediata. Portanto, não existe distinção entre o representante e o objeto - o representado. O ícone representa o que representa, seja como for, pelo fato de ser como é. Representa por característica própria que possui, mesmo que seu objeto não exista. As imagens, em geral, são ícones. Exemplos gráficos: UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS20 Exemplos: • Placas de banheiro masculino com desenho (representa uma pessoa porque tem alguns traços de semelhança visual com ela). • A imagem da lixeira, na área de trabalho do seu computador, representa a lixeira porque é de fato, a figura de uma lixeira tal como nos é possível reconhecê-la. • Placas com desenho de garfo, faca e prato (pode representar iconicamente um restaurante, uma lanchonete ou algo similar, porque têm alguns traços de semelhança visual com estes ambientes). • Sorvete de morango (representa iconicamente o morango, porque tem alguns traços de semelhança gustativa com o morango). • Placa com desenho de cesto de lixo (representa iconicamente um local para o lixo, porque possui alguns traços de semelhança com a cesta de lixo). Exemplos gráficos: FONTE: Disponível em: <http://naoeval.blogspot.com/2008/03/galeria-de- cones-para-incremetar-seu.html>. Acesso em: 7 jan. 2011. FIGURA 7 – EXEMPLO DE ÍCONES c) Símbolo – É um signo que representa o seu objeto por convenção, arbitrariedade ou pacto coletivo. Logo um símbolo depende de um acordo prévio entre as pessoas (consciente ou não) para ser reconhecido. O símbolo não depende de semelhanças ou vinculações diretas com o objeto que representa, pode surgir naturalmente. Exemplos: Seu exemplo clássico: letras, palavras. Também são símbolos figuras, objetos, gestos, quando remetem a uma ideia ou a uma significação que não tem, necessariamente, qualquer semelhança objetiva com o aquilo que simbolizam. TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 21 • a cruz simbolizando o Cristo; • os dedos em V para dizer "paz e amor"; • bandeira branca, indicando paz; • logotipo (representa simbolicamente uma empresa, uma pessoa, um serviço, um conceito, porque foi divulgado assim); • gosto azedo do sorvete de chocolate (representa simbolicamente algo estragado, pois todos sabem que o gosto deveria ser outro; • pessoa atravessando a rua na faixa de segurança, (representa simbolicamente o correto, caso contrário, pode acontecer um acidente); • placa de sinalização para dobrar (representa simbolicamente o correto, caso contrário poderá acontecer um acidente). Estamos acostumados com esses significados, mas não podemos negar que são meras convenções consagradas pelo uso em determinadas culturas. Exemplos gráficos: FONTE: Disponível em: <http://tufalamadeira.blogspot.com/>. Acesso em: 7 jan. 2011. FIGURA 8 – SÍMBOLOS DE TRÂNSITO Caro(a) acadêmico(a)! Dependendo da situação, um mesmo signo pode ser símbolo, ícone e índice. Ex.: BALANÇA. Dependendo das circunstâncias, balança pode assumir diferentes significados. É símbolo da justiça, é ícone balança representando a si mesma, indício de local de pesagem de alimentos num supermercado. FONTE: Disponível em: <http://ligiacabus.sites.uol.com.br/semiotica/signos.htm>. Acesso em: 14 mar. 2011. IMPORTANT E UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 22 SÍMBOLOGIA EGÍCIA FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 SÍMBOLO SIGNIFICADO TOURO Fertilidade e fecundidade FLOR DE LÓTUS Símbolo do sol, da criação e renascimento NEBU Imortalidade OLHO DE HÓRUS Integridade PIRÂMIDES Escadaria p/ o céu LEÃO Força, majestade, coragem ESCARAVELHO Vida nova, ressurreição QUADRO 3 – SIMBOLOGIA EGÍPCIA FONTE: Disponível em: <http://mundonanet.sites.uol.com.br/egipcia2.jpg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 9 – SIMBOLOGIA EGÍPCIA SIMBOLOGIA GREGA E ROMANA SÍMBOLO SIGNIFICADO ÁGUIA Poder e autoridade ABELHA Alma CORNUCÓPIA Abundância inesgotável MEDUSA Medo, em particular o medo dos homens da mudança de humor das mulheres FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 4 – SIMBOLOGIA GREGA E ROMANA TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 23 FONTE: Disponível em: <http://spc.fotolog.com photo/28/18/73/gaanja/1237344918589_f.jpg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 10 – SIMBOLOGIA GREGA E ROMANA SIMBOLOGIA ASTECA SÍMBOLO SIGNIFICADO MÃE-TERRA Deusa da fertilidade ligada ao plantio e às colheitas. ÁGUA A água simboliza o caos de onde o mundo surgiu e a fonte da vida. CORAÇÃO Simboliza o centro do homem, religião e amor, a unificação do princípio da vida. JAGUAR É um dos símbolos mais poderosos das Américas. Representa o poder, conhecimento físico, magia, majestade, terra, fertilidade, realeza e valentia. COIOTE Força, sexualidade e perspicácia. FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 5 – SIMBOLOGIA ASTECA FONTE: Disponível em: <http://suine.files.wordpress.com/2009/07/ aztec-4.jpg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 11 – SIMBOLOGIA ASTECA UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 24 SIMBOLOGIA MAIA SÍMBOLO SIGNIFICADO SOL Autoridade real ARBUTRE Morte VITÓRIA-RÉGIA Renascimento e regeneração JAGUAR Força, coragem FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 6 – SIMBOLOGIA MAIA FONTE: Disponível em: <http://www.leidaatracao.com.br/imagens/ maia.jpg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 12 – SIMBOLOGIA MAIA SIMBOLOGIA INCA SÍMBOLO SIGNIFICADO PUMA Coragem, força interior e o presente. CONDOR Poder, regeneração, nobreza e conexão entre o céu e a terra. COBRA Intelecto, conhecimento e passado. FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 7 – SIMBOLOGIA INCA TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 25 FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/_ hYzAhs6cklo/TAxYjnepazI/AAAAAAAAAGc/4HGvr0uXgIE/s1600/ arte+inca.jpeg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 13 – SIMBOLOGIA INCA SÍMBOLOS RELIGIOSOS SÍMBOLO SIGNIFICADO CRUZ LATINA C/ JESUS Representa o sacrifício de Jesus. CRUZ LATINA VAZIA - no Protestantismo Ressurreição. CRUZ INVERTIDA Humildade. CRUZ CELTA Conexão entre o céu e a terra. O GRAAL Doação da graça divina. POMBA Pureza, fidelidade e paz. FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 8 – SÍMBOLOS RELIGIOSOS FONTE: Disponível em: <http://vinatelha.blogspot.com/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 14 – SÍMBOLOS RELIGIOSOS UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 26 SÍMBOLOS DE PODER - REALEZA E IGREJA SÍMBOLO SIGNIFICADO COROA Soberania e vitória. DIADEMA Autoridade e marca de um líder. SINO Poder da Igreja. ANEL Usado pelo Bispo simboliza a união com a Igreja, usado pela freira representa seu casamento com Deus. MITRA Autoridade religiosa. FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 9 – SÍMBOLOS DE PODER – REALEZA E IGREJA FONTE: Disponível em: <http://symbolom.com.br/wp/wp-content/ uploads/2010/06/coroa-de-rainha.jpg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 15 – SÍMBOLOS DE PODER – REALEZA E IGREJA SÍMBOLOS DE TEMPO SÍMBOLO SIGNIFICADO FOICE Sacrifício e renovação. AMPULHETA Mundos superiores e inferiores e sua inversão. Nos tempos modernos, simboliza a passagem do tempo. FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 10 – SÍMBOLOS DE TEMPO FONTE: Disponível em: <http://caminhantes2.blog.uol. com.br/images/ampulheta.jpg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 16 – SÍMBOLOS DE TEMPO TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 27 SÍMBOLOS DE FORMA SÍMBOLO SIGNIFICADO QUADRADO Solidez, firmeza. CÍRCULO Eternidade, perfeição, divindade, infinidade e igualdade. CUBO Estabilidade CRUZ Conjunção de dois mundos. Relaciona-se com a união do físico espiritual, a síntese do passivo e do ativo. FONTE: Adaptado de: Mallon, 2009 QUADRO 11 – SÍMBOLOS DE FORMA FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_ jrqaMj2Q5cs/TVMgudGkDKI/AAAAAAAAAJc/v-x64eUdQm0/ s1600/figuras_geometricas2.jpg>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 17 – SÍMBOLOS DE FORMA Estes símbolos de formas serão estudados na Unidade 2. UNI UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 28 Semiose é um fenômeno ancestral. Atividade catalisadora, viabilizadora de todas as demais faculdades da mente humana. É o ponto de partida para uma ontologia da consciência - estado de ser e estar consciente de si mesmo, dascoisas à sua volta e das relações entre tudo isso. Pretender entender a semiose é pretender entender o entendimento. É querer flagrar a si mesmo a sofrer um fenômeno intermitente, pois, que estar consciente depende de "se entender" como vivo, existente. Pensar sobre semiose é pensar sobre o pensamento porque operar com signos precede a própria reflexão sobre o fato de que somente pensamos por meio de signos. Disse Descartes: "penso, logo existo". Porém, nem tudo que existe, pensa. Mas, se existo e digo "eu existo", e represento para mim que existo, então com certeza, isso é pensar. Digamos então: se sei que existo é sinal de que penso! FONTE: SEMIÓTICA FÁCIL. Disponível em: <http://ligiacabus.sites.uol.com.br/semiotica/ semiose.htm>. Acesso em: 7 jan. 2011. a) Fenomenologia da Semiose Para ocorrer a semiose ou o fenômeno da significação, é necessário que exista o signo e que haja um interpretante, o sujeito que irá interpretar a mensagem. Ela ocorre no momento da ação em que o pensamente procura desvendar o significado oculto do signo e buscar interpretantes. A semiose ou o fenômeno da significação ocorre com a participação de três elementos, são eles: SIGNO, SIGNIFICANTE e SIGNIFICADO. (SEMIÓTICA FÁCIL, 2011). b) Mecanismos do Entendimento Para entender os mecanismos da semiose, a semiótica aponta três diferentes maneiras que o mecanismo da semiose pode trilhar para acontecer. Estes caminhos levam ao entendimento de alguma coisa e têm um significado a partir das discussões e relações de diferentes ideias. Então os rumos que estes caminhos podem tomar para o entendimento do significado poderão ocorrer por meio da relação de equivalência, das interferências e das associações. Todos os três caminhos levam a descobertas dos significados e, portanto, o entendimento do signo ao seu interpretante. O que varia entre eles é o nível de raciocínio exigido, para deixar claro o processo de significação. (SEMIÓTICA FÁCIL, 2011). Logo, o entendimento irá variar de pessoa para pessoa, de acordo com o grau de necessidade e conhecimento. Para modos diferentes de entendimento ocorrerão diferentes mecanismos de entendimento, diferentes combinações de significados. 4 O PROCESSO DA SEMIOSE Como foi exposto, a semiótica é uma ciência que estuda signos e processo de significação, abrangendo toda e qualquer linguagem. Veja o texto a seguir. TÓPICO 2 | O PERCURSO DO SIGNO 29 Um exemplo de semiose Se você levanta pela manhã e encontra sobre a mesa singelo bilhete dizendo: "Querido, fui à padaria e volto já...", você entende logo que sua mulher foi à padaria e ainda subentende que ela foi comprar pão, ou leite ou qualquer produto para o desjejum! Considerando ainda que a padaria é na esquina, ela deverá voltar em cerca de 15 minutos. Esse seu entendimento brilhante e imediato é o ocorrência flagrante da semiose. NOTA LEITURA COMPLEMENTAR INDÍCIOS, SÍMBOLOS E ÍCONES A todo fenômeno percebido atribuímos ou tentamos atribuir um determinado significado. A relação, no entanto, que estabelecemos nesse processo varia conforme as circunstâncias. Observando as diferenças é que indicamos alguns princípios para a compreensão das relações sígnicas que têm o som como suporte. Nesse sentido, os conceitos de indício, símbolo e ícone são instrumentos de nossa análise. Um disco de efeitos especiais nos é muito útil para a demonstração que pretendemos. Por exemplo, se temos a gravação do som de água corrente, com certas peculiaridades, inevitavelmente pensamos em um riacho, em um ambiente bucólico etc. Em termos objetivos, não nos detemos no som em si, a imagem produzida nos remete a outro referente (o riacho), mesmo que a gravação, por hipótese, tenha sido produzida em condições outras: num tanque, talvez. O importante é que atribuímos ao evento sonoro um significado, ou seja, nos remetemos a referências memoriais anteriores, servindo a gravação como um indicador, como um índice do principal referente. Um signo indicial é aquele que estabelece uma contiguidade com o objeto ao qual se refere, não se confundindo com ele e, principalmente, fazendo com que o intérprete não se detenha no fenômeno e passe, de imediato, ao referido. É o caso do som de passos numa rua, do silvar do vento nas árvores e janelas, do silêncio inesperado do motor de um carro quando giro a chave de ignição, indicando haver algum defeito (não fora isso ouviríamos o ruído próprio da partida), ou, no caso de percepção visual, a visão de fumaça fazendo-nos pensar em fogo, a imagem de uma pegada de animal na terra etc. De tudo isso podemos inferir muitas coisas, como o fato de nos exemplos expostos não haver necessariamente, intencionalidade por parte do emissor do signo, quer dizer, o esforço de conferir aos fenômenos algum atributo de significado caberia mais a quem percebe. UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 30 Em outra hipótese o mesmo não ocorreria. Se ouço o apito de um juiz de futebol, ou de um guarda de trânsito, se escuto a sirene das fábricas ou a campainha de um telefone, nesses casos não poderia dizer que se trata de meros indícios ou, muito menos, que não haja alguma intencionalidade. Todos esses eventos supõem algum tipo de pacto ou de código, todos eles significam algo previamente combinado, e em todos é fundamental determos alguma informação prévia a respeito para que possamos, de fato, atribuir significado ao que ouvimos. Alguém que jamais viu um telefone, por exemplo, não entenderia o soar da campainha como chamado de outrem e não saberia distinguir os sinais de linha, ocupado, etc. que nós cotidianamente utilizamos. Em outras palavras, todos esses sons citados (apitos, sirenes e campainhas) envolvem uma relação de referências e referentes, implicam códigos ou pactos, supõem intenções específicas, o que os distingue dos primeiros exemplos, dos signos indiciais. Da mesma forma, ao ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro, ou o Hino da Seleção, ou a marchinha Cidade Maravilhosa, fazemos uma série de associações que ultrapassam a simples audição de peças musicais. Nesses casos, as melodias têm um atributo simbólico, uma função específica, e nos remetem a diferentes instâncias de significação. Por isso, para efeito de nossa análise, observamos que hinos, campainhas, sirenes e apitos apresentam algo em comum: são casos de signos internacionais, signos que supõem uma vinculação entre o sinal e o referente, signos cuja referência depende de um contexto cultural bastante determinado. A esses signos nos referimos como símbolos. O terceiro caso, além dos signos indiciais e simbólicos, diz respeito aos ícones, ou seja, aqueles signos que apresentam similitude em relação aos seus objetos referentes. [...] são ícones sonoros alguns efeitos especiais, ou trechos de obras musicais que imitam fatos ou fenômenos (o caso, digamos, da flauta em Pedro e o lobo, de S. Prokofiev, representando o passarinho). Os sonoplastas criam constantemente ícones sonoros para os programas radiofônicos ou de tevê, ou seja, ao ouvirmos o produto de seus trabalhos, remetemo-nos diretamente a significados específicos, diferentemente de quando nos deparamos com signos de tipo simbólico ou indicial. O fato é que essas categorias sígnicas sempre ocorrem conjugadas e de maneira complementar. No processo comunicativo é a partir de suas relações que o imaginário vai sendo construído. FONTE: SÁ, Leonardo. O sentido do som. In: NOVAES, Adauto (Org.). Rede imaginária: televisão e democracia. São Paulo: Cia. das Letras, 1991. p. 124-6. 31 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu que: • No campo da matéria no mundo real, tudo pode ser considerado signo e no campo imaginário, no mundo irreal, tudo também pode ser considerado signo. Portanto, é possível afirmar que signo é tudo que pode representar, substituirou significar alguma coisa. • Para Peirce, o ser humano não pode pensar sem signos. Os signos funcionam como veículos de comunicação, capazes de transportar mensagens ou significados. • Todas as mensagens, qualquer que seja a linguagem utilizada, integram sempre dois aspectos: o conteúdo (significado = ideia ou conceito) da mensagem e uma forma (significante = elemento material perceptível). • Todas as mensagens visuais integram uma função cognitiva e uma função emotiva. • Entre o signo e o significado, existem inúmeras possibilidades de interpretação: são os significantes. O significado depende sempre de um contexto, de circunstâncias que o determinam. • O significado é um mutante que varia conforme intérprete e ocorrências reais. Por causa desses diferentes modos de ocorrência da semiose, existe mais de um mecanismo que nos leva ao entendimento de uma proposição ou mensagem. • Índice é um signo incompleto porque sugere sem afirmar ou representar completamente. • Ícone é um signo elementar que tem como significado direto a imagem que representa. • Símbolo é um signo que representa o seu objeto por convenção, arbitrariedade, pacto coletivo. • A semiose - ou o fenômeno da significação - constitui-se numa relação de 3 elementos. São eles: SIGNO, SIGNIFICANTE e SIGNIFICADO. 32 AUTOATIVIDADE 1 De acordo com os conteúdos abordados no Tópico 2, descreva os signos a seguir com seus significantes e significados. FONTE: Disponível em: <http://maisondestaque.blogspot.com/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 18 – SIGNO 2 Por que é importante compreendermos os significados dos elementos que estruturam as imagens? 3 Faça um divertido passeio pela sua cidade e observe os signos visuais encontrados. Identifique a forma que eles apresentam, se são índices, ícones ou símbolos. 4 Construa com palavras o percurso do signo. 5 O que você entendeu por semiose? 6 Exemplifique um processo de semiose. 33 TÓPICO 3 A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A comunicação visual é importante na leitura de imagens. Ela utiliza-se da linguagem de signos visuais que auxiliam o entendimento das mensagens, desde que apresentem um sistema de comunicação. 2 COMUNICAÇÃO VISUAL A comunicação visual usa a linguagem dos signos e apresenta igualmente um sistema de linguagem organizado que devemos conhecer, para que haja a comunicação. Segundo Rabaça e Barbosa, (1987, p. 23) comunicação visual é: “Conjunto de técnicas, conhecimentos e procedimentos que buscam maior eficácia na transmissão visual de mensagens verbais ou não verbais através dos diversos meios de comunicação”. 2.1 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO Para que possa de algum modo haver comunicação, é importante que se tenha conhecimento e clareza dos elementos que compõem uma mensagem, segundo Amaral (2011): Emissor: aquele que emite a mensagem. O emissor pode ser considerado uma pessoa, um grupo, uma empresa, uma instituição. Receptor: aquele que recebe a mensagem. Código: é o conjunto de signos organizados com regras determinadas, para passar uma mensagem. Um código pode ser gestos, sons, a língua oral e escrita etc. O importante é que o código seja conhecido pelo emissor e receptor para que a comunicação aconteça. Canal de comunicação: está relacionado ao meio físico ou virtual em que a mensagem é passada. O canal deve garantir o contato entre emissor e receptor. (Ex.: TV, rádio, jornal, revista, cordas vocais etc.). Mensagem: é constituída pelo conteúdo das informações transmitidas ao receptor. 34 UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS Referente ou contexto: está ligado à situação a que a mensagem se refere. O contexto pode se constituir na situação, nas circunstâncias de espaço e tempo em que se encontra o destinador da mensagem. Pode também dizer respeito aos aspectos do mundo textual da mensagem. Ruído – qualquer perturbação que incomode na comunicação. Em um esquema, os elementos da comunicação podem ser representados assim: FONTE: A autora FIGURA 19 – ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO EMISSOR MENSAGEM RECEPTOR CÓDIGO CANAL DE COMUNICAÇÃO Deve-se ter o cuidado para que a mensagem alcance seu objeto, pois, às vezes, a troca de informações não é bem sucedida, podendo ter como causa os ruídos que são elementos que perturbam, dificultam a compreensão pelo receptor, como por exemplo, o barulho ou mesmo uma voz muito baixa. O ruído pode ser também de ordem visual, como borrões, rabiscos etc. (AMARAL, 2011). TÓPICO 3 | A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS 35 AUTOATIVIDADE Caro(a) acadêmico(a)! Na comunicação visual também encontramos estes elementos. Você é capaz de identificá-los na imagem a seguir? FONTE: Disponíveis em: <http://www.feiradeciencias.com.br/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 20 – SIGNO Emissor........................................................................... Receptor.......................................................................... Código.............................................................................. Mensagem....................................................................... Canal de comunicação.................................................... Contexto........................................................................... PORTANTO: • A leitura e interpretação derivam fundamentalmente da experiência do receptor. • Nesse sentido, podemos dizer que a forma como é organizada a comunicação de um conteúdo pode alterar ou, pelo menos, produzir muitos sentidos diferentes. Veja o exemplo a seguir: 36 UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS FONTE: Disponível em: <http://renanleandro.zip.net/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 21 – TIRINHA DE HUMOR (MAURÍCIO DE SOUZA) • Para entender esta tirinha de humor, é necessário conhecer quais os contextos que Maurício de Souza (o autor), trabalha seus personagens. 2.2 CARACTERÍSTICAS DA COMUNICAÇÃO VISUAL De uma maneira sucinta, vamos destacar algumas das características da imagem que podem ser mais significativas para nosso estudo. a) Recriação da realidade A imagem é a representação visual dos seres. É um objeto físico, material de que nos servimos para representar os seres de uma maneira concreta, particular e sensível. Gutierrez (1978) contribui com o estudo em questão ao apontar de uma forma muito clara que a imagem não é cópia, mas sim uma recriação da realidade. O pintor, o fotógrafo ou o cineasta se valem da natureza para nos oferecerem uma imagem do objetivo ou do subjetivo que vai depender do foco em questão. Este novo produto resultante, embora esteja relacionado com o objeto que representa, se distingue enquanto forma uma realidade diferente da imagem primeira. Caro(a) acadêmico(a)! Verifique como o processo de recriação da realidade acontece. A seguir temos duas imagens que recriam uma realidade que serviu como fonte de inspiração para uma pintura e uma fotografia. NOTA TÓPICO 3 | A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS 37 FONTE: Disponível em: <http://espaco-da-criatividade.blogspot.com/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 22 – PINTURA DOS JARDINS DE MONET FONTE: Disponível em: <http://japostei.com/jardins-de-monet-em- paris-fotos>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 23 – FOTOGRAFIA DOS JARDINS DE MONET Caro(a) acadêmico(a)! “A representação das imagens não se relaciona unicamente com objetos reais, com existências concretas, porque as imagens também fazem referências a seres abstratos, genéricos e inclusive a produto da fantasia ou imaginação de um criador”. (GUTIERREZ, 1978, p. 17). NOTA UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 38 b) Imediatismo Para que uma imagem nos sensibilize, ela deve, de alguma maneira, despertar os sentimentos. Poderíamosdizer que ela provoca um choque que desperta nossas capacidades perceptivas, afetivas e sensíveis, tornando-nos consumidores de imagens. A esta causa denominamos de imediatismo que pode de certa forma contribuir nas informações geradas pelas imagens, pois “as imagens nos oferecem informações concretas, polimorfas e vivenciais” que são usadas como instrumentos de aprendizagem para o homem contemporâneo. (GUTIÉRREZ, 1978, p. 17). c) A imagem como forma de expressão Desde os tempos mais remotos, a imagem tem sido usada como fonte de transmissão de conhecimento entre as diversas culturas. Assim como tantos outros modos de expressão, a imagem é um deles e que pode ser apreendida de várias maneiras. Ela fala por si, é uma linguagem universal e eterna, compreendida independente de época, credo, raça ou língua. (GUTIÉRREZ, 1978). Observe os exemplos a seguir: a) Ícone feminino e masculino FONTE: Disponível em: <http://fathum.blogspot.com>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 24 – ÍCONE FEMININO E MASCULINO b) ícone de perfume FONTE: Disponível em: <http://fathum.blogspot.com>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 25 – ÍCONE PERFUME TÓPICO 3 | A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS 39 c) A imagem é significativa Ao estudar a imagem sabemos que ela vem acompanhada de significados que podem ser reconhecidos num primeiro momento ou ter um estudo mais aprofundado para significações mais complexas. Então concluímos que toda imagem por mais simples que seja vem carregada de sentido que já lhe é próprio. No entanto, podemos desvelar os conteúdos ocultos das imagens e assim consegui-las interpretar melhor. (GUTIÉRREZ, 1978). 3 SIGNOS ARTÍSTICOS Ao longo da história da humanidade, verifica-se a importância das produções humanas. Estas produções, nas suas diferentes linguagens, têm servido como meio de comunicação e representação entre as diversas culturas. É por meio delas que identificamos um período artístico ou entre tantas coisas, um traço de uma civilização. Podemos então refletir que o homem sempre utilizou a arte para produzir objetos com intenções de facilitar o seu dia a dia e essa atitude de criar instrumentos e aperfeiçoá-los constantemente, de acordo com suas necessidades é que torna possível a compreensão e entendimento do processo civilizatório pelo qual o homem vem passando. Já vimos que a arte é uma forma de criação e acontece por meio de diversos modos de linguagem: a arte pode acontecer pela linguagem visual, musical, cênica ou entre tantas outras formas de expressão. O importante é destacar que a arte propicia tanto a quem a produz como a quem a consome uma reflexão do seu papel de estar no mundo como indivíduo e que busca a melhor forma de expressar seus sentimentos e emoções. (MARTINS, 1998). Quando Martins (1998, p. 41) afirma que, “Na feitura da linguagem da arte, do seu sistema signo, o homem leva ao extremo sua capacidade de inventar e ler signos com fins artístico-estéticos”. Ele quer dizer que podemos ler e interpretar os sistemas visuais que compõem uma obra de arte, mediante as formas que são expressas pela obra, visto que estas formas apresentam caráter de signo e, portanto, representam algo para alguém. Ele cita o exemplo da obra de Rodin, O pensador, para entendermos o quanto uma obra de arte pode ser lida e interpretada. Caro(a) acadêmico(a)! Agora observe O Pensador – 1881, famosa estátua do escultor francês René François Auguste Rodin (1840-1917). UNI UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS 40 FONTE: Disponível em: <http://pensamentosifragmentos.blogspot>. Acesso em: 24 fev. 2011. FIGURA 26 – O PENSADOR – 1881 – RODIN Ao observar estas imagens, você já é capaz de entender que elas fazem parte de uma representação da imagem pensada pelo artista e. portanto, também já é capaz de identificar que o artista utilizou a comunicação não verbal para comunicar suas ideias. UNI Para auxiliar na leitura e compreensão da obra O pensador, de August Rodin, Martins elaborou uma série de perguntas que nos levam a refletir sobre a obra como um todo. As perguntas de Martins (1998, p. 42) são as seguintes: • Haverá diferença entre a imagem dessa obra e a imagem que vemos de alguém pensando? • Queria Rodin reproduzir em sua obra alguém pensando? • O que queria representar? • Observando os detalhes da obra, o que podem querer expressar esses pés tensos? • O que nos comunicam nessa imagem o ritmo e o movimento das suas formas? • O que essa imagem representa? O que ela traz presente a nossa consciência? Martins (1998) quer que consigamos olhar para a obra e entender o que exatamente quis o artista. Depois de algum tempo observando a obra, tomamos ciência que Rodin não reproduziu um homem pensando, mas usou de metáforas visuais para justificar sua ideia. Muito bem posto pelo poeta tcheco Rainer Maria Rilke (apud MARTINS, 1998, p. 43) que fez uma observação riquíssima sobre essa TÓPICO 3 | A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS 41 obra: “Ele está sentado, perdido e mudo, pesado de imagens e de pensamentos, e toda a sua força-que é a força de alguém que se move-pensa. Seu corpo inteiro se torna um crânio, e todo o sangue das sua veias, cérebro”. As metáforas visuais que Rodin lançou mão estão relacionadas aos signos corporais encontrados em toda a extensão da obra, estão nos gestos na postura, no ritmo, no movimento, volume e material usado. Todo este conjunto expressa como forma simbólica o ato de pensar, por isto a grandeza da obra. Quanto maiores os conhecimentos semióticos e mais estimulada e aguçada for a percepção, maiores serão as chances de desvendar os significados ocultos existentes nas imagens de obras de arte. (MARTINS, 1998). autoativida de Reflita sobre as obras a seguir e explique como as metáforas se encontram nas obras. FONTE: Disponível em: <http://observarte.zip.net>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 27 – O ABAPORU, 1928 – TARSILA DO AMARAL 3.1 METÁFORA Toda obra de arte é uma forma sensível, construída por formas simbólicas do sentimento humano, a linguagem da arte propõe um diálogo de sensibilidades entre nós espectadores as formas da imaginação e as formas de sentimento que a obra nos propõe. Neste diálogo, os signos artísticos aparecem como metáforas aos nossos sentidos, auxiliando na leitura da imagem da obra conforme Martins (1998, p. 43), “[...] o termo metáfora significa transposição, translação. Consiste no uso de alguma coisa no lugar de outra, por causa de certo contato entre as duas, permitindo estabelecer uma comparação”. 42 UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS FONTE: Disponível em: <http://www.angolaxyami.com>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 28 – MONALISA DE FERNANDO BOTERO Um pouco sobre TARSILA DO AMARAL INFÂNCIA E APRENDIZADO Tarsila do Amaral nasceu em 1 de setembro de 1886, no Município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Filha do fazendeiro José Estanislau do Amaral e de Lydia Dias de Aguiar do Amaral, passou a infância nas fazendas de seu pai. Estudou em São Paulo, no Colégio Sion e depois em Barcelona, na Espanha, onde fez seu primeiro quadro, 'Sagrado Coração de Jesus', 1904. Quando voltou, casou-se com André Teixeira Pinto, com quem teve a única filha, Dulce. Separaram-se alguns anos depois e então iniciou seus estudos em arte. Começou com escultura, com Zadig, passando a ter aulas de desenho e pintura no ateliê de Pedro Alexandrino em 1918, onde conheceu Anita Malfatti. Em 1920, foi estudar em Paris, na Académie Julien e com Émile Renard. Ficou lá até junho de 1922 e soube da Semana de Arte Moderna (que aconteceu em fevereiro) através das cartas da amiga Anita Malfatti. Quando voltou ao Brasil, Anita a introduziu no grupo modernista e Tarsilacomeçou a namorar o escritor Oswald de Andrade. Formaram o grupo dos cinco: Tarsila, Anita, Oswald, o também escritor Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Agitaram culturalmente São Paulo com reuniões, festas, conferências. Tarsila disse que entrou em contato com a arte moderna em São Paulo, pois antes ela só havia feito estudos acadêmicos. Em dezembro de 22, ela voltou a Paris e Oswald foi encontrá-la. 1923 Neste ano, Tarsila encontrava-se em Paris acompanhada do seu namorado Oswald. Conheceram o poeta franco suíço Blaise Cendrars, que apresentou toda a intelectualidade parisiense para eles. Foi então que ela estudou com o mestre cubista Fernand Léger e pintou em seu ateliê, a tela 'A Negra'. Léger ficou entusiasmado e até chamou os outros alunos para ver o quadro. A figura da Negra tinha muita ligação com sua infância, pois essas negras eram filhas de escravos que tomavam conta das crianças e, algumas TÓPICO 3 | A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS 43 vezes, serviam até de amas de leite. Com esta tela, Tarsila entrou para a história da arte moderna brasileira. A artista estudou também com Lhote e Gleizes, outros mestres cubistas. Cendrars também apresentou a Tarsila pintores como Picasso, escultores como Brancusi, músicos como Stravinsky e Eric Satie. E ficou amiga dos brasileiros que estavam lá, como o compositor Villa Lobos, o pintor Di Cavalcanti, e os mecenas Paulo Prado e Olívia Guedes Penteado. Tarsila oferecia almoços bem brasileiros em seu ateliê, servindo feijoada e caipirinha. E era convidada para jantares na casa de personalidades da época, como o milionário Rolf de Maré. Além de linda, vestia-se com os melhores costureiros da época, como Poiret e Patou. Em uma homenagem a Santos Dumont, usou uma capa vermelha que foi eternizada por ela no autorretrato 'Manteau Rouge', de 1923. PAU BRASIL Em 1924, Blaise Cendrars veio ao Brasil e um grupo de modernistas passou com ele o Carnaval no Rio de Janeiro e a Semana Santa nas cidades históricas de Minas Gerais. No grupo estavam além de Tarsila, Oswald, Dona Olívia Guedes Penteado, Mário de Andrade, dentre outros. Tarsila disse que foi em Minas que ela viu as cores que gostava desde sua infância, mas que seus mestres diziam que eram caipiras e ela não devia usar em seus quadros. 'Encontei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Mas depois vinguei-me da opressão, passando-as para as minhas telas: o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, ...' E essas cores tornaram- se a marca da sua obra, assim como a temática brasileira, com as paisagens rurais e urbanas do nosso país, além da nossa fauna, flora e folclore. Ela dizia que queria ser a pintora do Brasil. E esta fase da sua obra é chamada de Pau Brasil, e temos quadros maravilhosos como 'Carnaval em Madureira', 'Morro da Favela', 'EFCB', 'O Mamoeiro', 'São Paulo', 'O Pescador', dentre outros. Em 1926, Tarsila fez sua primeira Exposição individual em Paris, com uma crítica bem favorável. Neste mesmo ano, ela casou-se com Oswald (o pai de Tarsila conseguiu anular em 1925 o primeiro casamento da filha para que ela pudesse se casar com Oswald). Washington Luís, o Presidente do Brasil na época e Júlio Prestes, o Governador de São Paulo na época, foram os padrinhos deles. ANTROPOFAGIA Em janeiro de 1928, Tarsila queria dar um presente de aniversário especial ao seu marido, Oswald de Andrade. Pintou o 'Abaporu'. Quando Oswald viu, ficou impressionado e disse que era o melhor quadro que Tarsila já havia feito. Chamou o amigo e escritor Raul Bopp, que também achou o quadro maravilhoso. Eles acharam que parecia uma figura indígena, antropófaga, e Tarsila lembrou- se do dicionário Tupi Guarani de seu pai. Batizou-se o quadro de Abaporu, que significa homem que come carne humana, o antropófago. E Oswald escreveu o Manifesto Antropófago e fundaram o Movimento Antropofágico. A figura do 44 UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS Abaporu simbolizou o Movimento que queria deglutir, engolir, a cultura europeia, que era a cultura vigente na época, e transformá-la em algo bem brasileiro. Outros quadros desta fase Antropofágica são: 'Sol Poente', 'A Lua', 'Cartão Postal', 'O Lago', 'Antropofagia', etc. Nesta fase ela usou bichos e paisagens imaginárias, além das cores fortes. A artista contou que o Abaporu era uma imagem do seu inconsciente, e tinha a ver com as histórias de monstros que comiam gente que as negras contavam para ela em sua infância. Em 1929 Tarsila fez sua primeira Exposição Individual no Brasil, e a crítica dividiu-se, pois ainda muitas pessoas ainda não entendiam sua arte. Ainda neste ano de 1929, teve a crise da bolsa de Nova Iorque e a crise do café no Brasil, e assim a realidade de Tarsila mudou. Seu pai perdeu muito dinheiro, teve as fazendas hipotecadas e ela teve que trabalhar. Separou-se de Oswald. SOCIAL E NEO PAU BRASIL Em 1931, já com um novo namorado, o médico comunista Osório Cesar, Tarsila expôs em Moscou. Ela sensibilizou-se com a causa operária e foi presa por participar de reuniões no Partido Comunista Brasileiro com o namorado. Depois deste episódio, nunca mais se envolveu com política. Em 1933 pintou a tela 'Operários'. Desta fase Social, temos também a tela 'Segunda Classe'. A temática triste da fase social não fazia parte de sua personalidade e durou pouco em sua obra. Ela acabou com o namoro com Osório, e em meados dos anos 30, Tarsila uniu-se com o escritor Luís Martins, mais de vinte anos mais novo que ela. Ela trabalhou como colunista nos Diários Associados por muitos anos, do seu amigo Assis Chateaubriand. Em 1950, ela voltou com a temática do Pau Brasil e pintou quadros como 'Fazenda', 'Paisagem ou Aldeia' e 'Batizado de Macunaíma'. Em 1949, sua única neta Beatriz morreu afogada, tentando salvar uma amiga em um lago em Petrópolis. Tarsila participou da I Bienal de São Paulo em 1951, teve sala especial na VII Bienal de São Paulo, e participou da Bienal de Veneza em 1964. Em 1969, a mestra em história da arte e curadora Aracy Amaral realizou a Exposição, 'Tarsila 50 anos de pintura'. Sua filha faleceu antes dela, em 1966. Tarsila faleceu em janeiro de 1973. 3.2 O CÓDIGO DA ARTE FONTE: Disponível em: <http://www.tarsiladoamaral.com.br/biografia_resumida.html>. Acesso em: 17 mar. 2011. TÓPICO 3 | A COMUNICAÇÃO VISUAL DOS SIGNOS NAS IMAGENS 45 3.2 O CÓDIGO DA ARTE Todo artista, ao produzir suas obras, encontra-se envolto num emaranhado de signos visuais que são expressos pela linguagem estruturada das cores, formas, sons, cheiros. À medida que organiza, constrói e faz diferentes combinações de linguagens, também articula suas experiências em busca de novos descobertas. Compreende-se então que esta linguagem que proporciona novas descobertas da arte é infinita, novos códigos surgem por meio de um jogo e encontro de formas, volumes e texturas. Estes códigos de arte se estruturam possibilitando deslumbrar descobertas simbólicas, que as pessoas mais sensíveis e de conhecimento artístico conseguem desvelar. Eles também auxiliam na compreensão e entendimento de estudos relacionados à obra, ao artista, ao contexto social, político e cultural que a ela foi concebida. Logo entender como essa linguagem é expressa, como os códigos de arte são estruturados e o que eles significam, é como abrir portas infinitas para o conhecimento dos significados dos signos. Algumas pessoas nada veem nestes códigos, são céticas a este entendimento. Por outro lado, há aquelas que percebem, sentem, usam suas emoções de forma a construir um universo maior e melhor. Esta é uma das contribuições que a arte pode oferecer, tornar o homem um ser mais sensível, portanto, melhor. Para exemplificar os códigos da arte, tomamos duas situações como exemplos: as pinturasrupestres deixadas pelos homens primitivos onde estão desenhados e impressos seus códigos visuais e que são importantes para estudos e compreensão de hábitos e costumes e a obra do artista urbano Basquiat (1960-1986) que assim como outros, também deixou em suas obras, seus códigos impressos em muros da cidade de Nova York. (MARTINS, 1998). NOTA FONTE: Disponível em: <http://artetropia.blogspot.com>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 29 – PINTURA RUPESTRE – CAVERNA DE ALTAMIRA, 5.000 a. C. 46 UNIDADE 1 | ESTUDO DOS SISTEMAS DE SIGNOS FONTE: Disponível em: <http://bitsmag.com.br/200811131414/artes/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 30 – JEAN BASQUIAT Podemos perceber com a relação das imagens acima, que cada artista e sua obra são modelos de linguagem revelando experiências em várias direções. Cada um no seu tempo/espaço e materiais. O artista a faz, porque é sensível aos signos da arte. Por isso é que ele, na maioria das vezes, torna visíveis suas reações às coisas do mundo, no contexto do seu tempo e lugar por meio da criação. (MARTINS, 1998) É com a sua criatividade a partir do pensamento que ele expressa suas emoções, intuições e verdades ocultas. Assim, ele elabora sua obra do modo que vê e interpreta as coisas do mundo, produzindo verdadeiros complexos de imagens únicas e insubstituíveis e nestas imagens estão os códigos de arte com seus significados, como dito anteriormente, para muitos esclarecedores para outras pessoas nem tanto, enfim eles estão presentes em todos os tipos de linguagens e estão ali prontos para serem decodificados. (MARTINS, 1998) ATENCAO Quanto mais exercitarmos nossa sensibilidade, estaremos nutrindo nossos canais perceptivos e consequentemente ampliando nossa maneira de ver e encarar o mundo. ENTÃO É PRECISO MANTER ABERTOS OS CANAIS. 47 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você viu que: • A comunicação visual usa a linguagem dos signos e apresenta igualmente um sistema de linguagem organizado. • Para que aconteça a comunicação é importante que ocorram os elementos da comunicação: emissor – receptor – mensagem – código – canal de Comunicação – contexto – a situação a que a mensagem se refere, também chamado de referente; ruído – qualquer perturbação na comunicação. • A imagem é uma linguagem que tem existido desde as mais remotas épocas. Hoje, com a tecnicidade das imagens, nos damos conta de que a linguagem das imagens é universal e eterna. • Na feitura da linguagem da arte, do seu sistema signo, o homem leva ao extremo sua capacidade de inventar e ler signos com fins artístico-estéticos. • As imagens, como representação de formas se impõem fortemente ao homem com a atração do imediatismo perceptivo. • Na construção da linguagem da arte, do seu sistema signo, o homem leva ao extremo sua capacidade de inventar e ler signos com fins artístico-estéticos. • Metáfora é a criação representacional do signo artístico. • Se arte é linguagem, ela tem um código que está velado nos signos artísticos. • O que faz o modo de produzir do artista e que caracteriza a criação de signos artísticos é a sua exploração e originalidade da organização em relação ao uso do código da linguagem com o qual trabalha. • Como toda e qualquer linguagem, a arte tem seu código, isto é, um sistema estruturado de signos que acompanhamos ao longo do tempo pelas várias obras de arte produzidas. • O modo de produzir do artista caracteriza a criação de signos artísticos por meio de sua exploração e originalidade da organização, em relação ao uso do código da linguagem com o qual trabalha. 48 AUTOATIVIDADE 1 Em uma sala de aula de Ensino Fundamental, em uma rede particular, o professor fala e utiliza as imagens de um filme para explicar os movimentos artísticos do século XX, aos alunos. Ao lado da escola há um bate-estaca, que está sendo usado em uma construção, com barulho muito alto. Identifique os elementos de comunicação que ocorrem. 2 O “imediatismo” é uma das características da comunicação visual. De que maneira ele acontece? 3 A imagem vem carregada de uma intenção, com possibilidades de comunicar uma mensagem. Esta significação conotativa é a relação da imagem com seu sujeito criador, pois toda imagem é uma recriação significativa. Diante disso, qual a mensagem da imagem da figura a seguir de Romero Brito? FONTE: Disponível em: <http://coisasdikarol.blogspot.com/2011/01/ romero-britto-uma-historia-de-sucesso.html>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 31 – ROMERO BRITO 4 Observe a escultura da Pietá de Michelangelo, olhe por alguns momentos e escreva sobre os signos visuais encontrados, suas metáforas e a força expressiva dessa obra. FONTE: Disponível em: <http://blog.emanuelmattos.com.br/>. Acesso em: 14 mar. 2011. FIGURA 32 – PIETÁ, 1499 – MICHELANGELO 49 UNIDADE 2 LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • conhecer as formas de comunicação verbal e não verbal; • usar a percepção para compreender o que as imagens artísticas e literárias comunicam; • conhecer os elementos que estruturam a linguagem visual e seus significados. Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontra- rá atividades que o(a) auxiliarão a fixar os conhecimentos adquiridos. TÓPICO 1 – A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO TÓPICO 2 – PERCEPÇÃO DO OBJETO SIMBÓLICO TÓPICO 3 – A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 50 51 TÓPICO 1 A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, vamos abordar a importância da linguagem como meio de expressão e comunicação. Percebemos e entendemos a necessidade de utilizarmos as expressões como canal de manifestação de sentido, uma vez que a linguagem nos oferece modos de materialização das ideias por meio das expressões artísticas. Dessa forma, qualquer atividade de arte, desde a mais simples até a mais complexa, serve como canal de comunicação entre as pessoas, os povos e as culturas. 2 LINGUAGEM Estamos condicionados a pensar que linguagem é somente a linguagem verbal, oral ou escrita. Também pensamos que ela é a única forma que usamos para compreender, interpretar e produzir conhecimento no mundo. Esquecemos os outros tipos de linguagens que, de modo não verbal, também comunicam, expressam e produzem conhecimento. Para o homem contemporâneo, falar de linguagem é falar de vários modos de comunicação e expressão que parecem acontecer ao mesmo tempo, pois muitas vezes, utilizamos mais de um tipo de linguagem simultaneamente, para um processo de comunicação e significação das ideias. A este processo Gutiérrez (1978) chama de linguagem total, que seriam todas as formas diferentes ou técnicas de expressão utilizadas pelo homem. O que é então a linguagem? Pode-se dizer que linguagem é um sistema simbólico. Toda linguagem é um sistema de signos. NOTA UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 52 Nossa inserção na realidade é sempre mediada por linguagens, por sistemas simbólicos. Cada vez mais estamos em busca de novas formas de comunicação, talvez porque sentimos que as linguagens que a sociedade atual utiliza estão proporcionando mudanças nas relações entre as pessoas. Segundo Gutiérrez (1978), estas mudanças acabam criando novas formas antropológicas e culturais. Conforme Gutiérrez (1978, p. 47), “[...] o homem atual, acostumado a uma civilização racional e intelectualista, necessita capacitar-se, com toda urgência, para poder compreender uma cultura eminentemente sensorial, na qual vive e é transmitida através da linguagem visual, e sonora dos meios de comunicação demassa”. Mediante esta forma de pensar é importante abrir e fortalecer ainda mais os canais perceptivos para que possamos usar e dar crédito a sensorialidade. Olhar mais, tocar mais, se permitir conhecer mais as coisas que estão a nossa volta, ajudam a estimular e desenvolver a percepção. Conforme o pensamento de Gutiérrez, é este homem sensível, perceptivo e consequentemente sensorial que está às portas de uma comunicação total da cultura contemporânea. Caro(a) acadêmico(a)! Observe as imagens com diferentes tipos de linguagens que expressam um conteúdo e realizam comunicação. NOTA FONTE: Disponível em: <http://odisseiaantropofagica.blogspot. com>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 33 – PINTURA RUPESTRE TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 53 FONTE: Disponível em: <http://mesquita.blog.br/arte-ceramica- grecia>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 34 – VASO CRATERA – PERÍODO CLÁSSICO, GRÉCIA – SÉ0 CULO IV a.C. – MUSEU DE BERLIM FONTE: Disponível em: <http://www.kcectv.com/noticia/>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 35 – MULHER COM ESPELHO, FERNANDO BOTERO ENTÃO, O QUE É A LINGUAGEM? • Pode-se dizer que linguagem é um sistema simbólico. Toda linguagem é um sistema de signos. • É o uso da língua como forma de expressão e comunicação entre as pessoas. NOTA UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 54 FONTE: Disponível em: <http://averomundo-jcm.blogspot. com>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 36 – HIERÓGLIFOS FONTE: Disponível em: <http://naoeval.blogspot.com>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 37 – PICTOGRAMAS P-016 P-023 2.1 LINGUAGENS VERBAIS E NÃO VERBAIS A linguagem verbal é que se utiliza de palavras quando se fala ou quando se escreve, que se vale de uma série de signos convencionais. No entanto, quando consideramos a linguagem verbal escrita, esta também não conheceu apenas o modo de codificação alfabético criado e estabelecido no Ocidente a partir dos gregos. Há outras formas de codificação escrita, diferentes da linguagem alfabeticamente articulada, tais como os hieróglifos, pictogramas, ideogramas, formas que se limitam com o desenho. FONTE: Disponível em: <http://equipemanera.blogspot.com>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 38 – IDEOGRAMAS TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 55 Então, os tipos de linguagens são: • Linguagens verbais: que utilizam as palavras. • Linguagens não verbais: que não usam palavras. • Linguagens mistas: que utilizam simultaneamente a linguagem verbal e a não verbal. DICAS Caro(a) acadêmico(a)! Discuta com seus colegas os tipos de linguagens apresentadas e exemplifique cada uma delas. Reflita também sobre o texto de Santaella. “Considerando-se que todo fenômeno de cultura só funciona culturalmente porque é também um fenômeno de comunicação, e considerando- se que estes fenômenos só comunicam porque se estruturam como linguagem. Pode-se concluir que todo e qualquer fato cultural, toda e qualquer atividade ou prática social constituem-se como práticas significantes, isto é, práticas de produção de linguagem e de sentido. É importante então tomar conhecimento dos aspectos culturais, históricos e sociais que envolvem a questão da comunicação e interpretação da imagem”. (SANTAELLA, 1992, p. 12). Em síntese: existe uma linguagem verbal, linguagem de sons que no Ocidente, recebeu uma tradução visual alfabética (linguagem escrita). Todavia também existe simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens que também se constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo. IMPORTANT E O século XX viu nascer o crescimento de duas ciências da linguagem. • Linguística - ciência da linguagem verbal. • Semiótica - ciência de toda e qualquer linguagem, que foi estudada na Unidade 1. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 56 2.2 LINGUAGEM VISUAL Entre tantas linguagens que possuímos é a visual que nos oferece o ato de ver por um sistema de percepção associado ao órgão de visão. É claro que podemos por meio de outros sentidos conhecer também o mundo, porém é o sentido da visão que permite o reconhecimento e interpretação das imagens de uma forma mais ampla. A linguagem visual é um conceito teórico de organização espacial que define uma estética final. Também é a estrutura da comunicação visual entre dois indivíduos ou mais, podendo assim ser estabelecida uma comunicação entre culturas diferentes, de classes sociais também diferentes. Na linguagem visual usamos elementos como: perspectiva, volume dos objetos, rotação, anatomia humana, teoria das cores, teoria da composição, campo visual, textura, tipologia. A combinação desses elementos básicos, estudados mais profundamente, nos darão as condições para serem criadas formas de comunicação visual. Os signos estarão atuando com muita força neste momento, porque sem o texto, as formas que chamamos de desenhos estão fazendo a comunicação com as mensagens embutidas em suas estruturas. Tudo até aqui é teoria, chamada também de estética e semiótica. O QUE É A LINGUAGEM VISUAL? A linguagem visual é a estrutura da comunicação visual entre dois ou mais indivíduos. É um sistema (conjunto articulável) de SIGNOS que combinados entre si, podem produzir uma multiplicidade infinita de significados. IMPORTANT E PARA QUE SERVE A LINGUAGEM VISUAL? • Serve para expressar sensações ou ideias. • Apura o senso crítico e estético. • Auxilia no desenvolvimento de produtos e serviços na área da comunicação. • Conhecer as imagens que nos circundam significa também alargar as possibilidades de contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais. IMPORTANT E TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 57 POR QUE ESTUDAR LINGUAGEM VISUAL? O estudo da linguagem visual possibilita saber quais imagens, quais formas e quais cores usar para comunicar determinadas mensagens. Conhecer as imagens que fazem parte do nosso contexto significa também alargar as possibilidades de contato com a realidade, significa ver mais e perceber mais. Se a linguagem visual usada para comunicar uma mensagem tiver uma boa estrutura, com certeza todos os elementos presentes estarão desenvolvendo corretamente a sua função. IMPORTANT E 2.3 ELEMENTOS DA ESTRUTURA DA LINGUAGEM VISUAL É muito importante ver as estruturas das coisas. Pois esta visualização ajuda na organização das formas para se obter uma leitura visual harmônica. A partir dela podemos fazer uma leitura visual, explorando elementos construtores, que contribuem para a identificação de uma cultura, identificação de um artista e suas obras, um estilo, um período artístico, identifica até mesmo aspectos da personalidade dos indivíduos. São vários os elementos que compõem a estrutura da linguagem visual. Podem parecer básicos, no entanto, fundamentam toda uma leitura em função dos aspectos semióticos que trazem consigo. Toda imagem é composta por uma estrutura que habilita ver e sentir o que ali está exposto. Algumas estruturas permitem um reconhecimento imediato da imagem, outras não. É na estrutura que encontramos os elementos de desenho que abrangem a seguinte divisão: a) elementos conceituais: ponto, linha, plano e volume; b) elementos visuais: formato, tamanho, cor e textura; c) elementos relacionais: direção, posição, espaço, gravidade; d) elementos práticos: representação, significado, função. Na linguagem visual usamos elementos de desenho, que de certa forma serão responsáveis pela construção do plano de imagem. Estes elementos também contribuirão na leitura da imagem. 2.3.1 Linhas O estudo dará ênfase aos elementos estruturais como linhas, formas, cores etexturas, por entender que estes elementos são o foco principal de uma imagem. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 58 De uma maneira simples, vamos colocar aqui que a linha como todos os elementos conceituais não são visíveis. Pois eles acabam se tornando uma forma para que possam ser identificados. No caso da linha para que seja reconhecida como tal existem duas razões: a) sua largura é extremamente fina; b) seu comprimento é bem visível para que não seja confundido com o ponto. Segundo Wong (1998), a maneira como estes elementos aparecerem na estrutura ou também no plano de imagem, eles apresentaram determinados significados. • Linha horizontal – tranquilidade; • Linha vertical – espiritualidade, superioridade; • Linha inclinada – instabilidade; • Linha sinuosa – linha da beleza, movimento; • Linha curva – movimento, agilidade; • Linha côncava – denota alegria; • Linha convexa – tristeza. 2.3.2 Formas Os elementos visuais que são responsáveis pela linguagem visual constituem aquilo que denominamos de forma. Ela não está presa apenas à imagem de uma figura, mas a todo o contexto em que é vista. Neste sentido, ela está relacionada a um formato, a um tamanho, à cor e à textura. A maneira como ela é criada, disposta, organizada junto a outras formas, independente do plano de ação em que será executada, será governada por um elemento que denominamos estrutura. (WONG, 1998). Como já foi dito anteriormente, vivemos num mundo composto por formas que por sua vez estão carregadas de significados. Estudaremos apenas as formas consideradas básicas, por entender que elas fazem parte da estrutura das coisas. Os traçados geométricos simples ou também chamados de formas básicas, desde os tempos mais antigos, sugerem do mesmo modo certas expressões tornando- se símbolos de determinada vontade, ou seja, são figuras que foram encontradas em várias regiões do mundo com significados semelhantes por diversas civilizações. São consideradas formas básicas o quadrado, o círculo e o triângulo como figuras fechadas e a cruz e flecha para as abertas. (FRUTIGER, 2001). TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 59 a) Quadrado Para o matemático Pitágoras, o quadrado representa a perfeição. Por ser uma forma de linhas e ângulos retos induz a solidez e a firmeza. Ele é o arquétipo e o padrão da ordem no universo e o modelo de proporção. (MALLON, 2009). b) Círculo É um símbolo profundo encontrado em todas as culturas e por todas as eras. Ele representa o sol, sem o qual não existiria vida na Terra. Representa o todo, o ser completo, a integridade, o ciclo da vida e renascimento, a roda da vida. O círculo é o símbolo mais comum e tem significado universal. Ele não tem começo ou fim. Está ligado então à eternidade, perfeição, divindade, infinidade, condução e da ordem cósmica final. O círculo possui associações celestiais com o arco-íris e representa a união do divino e do terreno. Representa a unidade e é a forma preferida para significar igualdade. Na forma da roda, o círculo simboliza movimento. Carl Jung acreditava que o círculo simbolizava o processo da natureza, o Cosmos e os ciclos do universo, enquanto o quadrado representava o universo como o homem o concebe e projeta. As formas circulares evocam harmonia, suavidade e feminilidade. O anel do casamento é um símbolo de amor interminável e é colocado no dedo associado ao coração. (MALLON, 2009). c) Triângulo Símbolo com várias interpretações, mas conciliáveis: luz, trevas e tempo; passado, presente e futuro; sabedoria, força e beleza; nascimento, vida e morte; liberdade, igualdade e fraternidade. Ele define o temário número três: causa, ação e reação. É também a força do etéreo quando o vértice está para cima. (MALLON, 2009). Segundo Perez (2004), a angularidade é associada a conflito, dureza e masculinidade. d) Cruz Há centenas de variedades. A cruz significa a conjunção de dois mundos. É encontrada nas tumbas de pedras e bandeiras espalhadas pelo mundo e se relaciona com a união do físico e espiritual, a síntese do ativo e do passivo. A cruz indica a natureza dual das preocupações terrenas ou temporais e nossa natureza espiritual. (MALLON, 2009). As formas retas geralmente são captadas como masculinas, cortantes, abruptas e instáveis, ao passo que as formas curvas são captadas como femininas, suaves e contínuas, evocando retorno. (PEREZ, 2004). UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 60 Símbolo Significado Quadrado induz a firmeza, força, dureza e sem mobilidade. Círculo movimento, ação, atitude rápida, velocidade. Triângulo impressiona como símbolo de equilíbrio. Cruz induz a sensação de serenidade. FONTE: Mallon, 2009 QUADRO 12 – RESUMO 3 CORES A cor tem sido ao longo do tempo um elemento fascinante de descobertas para o homem, principalmente para aqueles que a utilizam como elemento de construção nas artes. Ela sempre esteve presente desde os tempos mais remotos das civilizações, “[...] o homem das cavernas só via em preto, branco e cinza e a evolução para a percepção de cores foi lenta e gradual”, (PEREZ, 2004, p. 74), em função até de habitarem espaços sem iluminação. No processo de desenvolvimento humano, em função de novos hábitos, houve também uma evolução nos mecanismos de visão proporcionando novas cores e justificando assim nas pinturas rupestres. Algumas cores extraídas da natureza e que eram responsáveis por definir a forma dos desenhos nas paredes das cavernas, Perez (2004) exemplifica o caso da cor vermelha alaranjada usada como estratégia para delimitar a forma do bizão. Vincent Van Gogh conferiu às suas pinturas sensações cromáticas deslumbrantes, que traduzem intensas cargas emotivas e psicológicas. FONTE: Disponível em: <http://requiemparaumsonho.zip.net/>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 39 – THE MULBERRY TREE, DE VINCENT VAN GOGH - 1889 TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 61 O estudo científico da cor teve um avanço maior no século XX por meio dos filósofos e escritores. Muitos estudiosos já perceberam a importância da cor em nossas vidas. Elas propiciam no universo do homem um vasto campo ligado à imaginação e criatividade, oportunizando trabalhos intensos onde a cor é quem determina a obra. Portanto, ela é importante para quem produz a obra, bem como para quem a observa e a contempla. As cores possuem uma linguagem própria por meio de significados e sensações percebidas. Os povos espiritualizados atribuem maior importância à cor e os mais intelectualizados conferem valor à forma. A cor reflete, em realidade, o sentir de uma época. Não há limites para o uso das cores, todas são belas desde que ocupem o lugar certo, a quantidade certa e sirvam para satisfação das pessoas que vão usufruí-las. Muitos autores abordam o estudo da cor de uma forma científica, explicando o seu processo físico. Farina aplica ao estudo da cor três características importantíssimas de como ela atua no indivíduo, que recebe a comunicação visual “[...] a cor exerce uma ação tríplice, a de IMPRESSIONAR, a de EXPRESSAR e a de CONSTRUIR. A cor é vista, impressiona a retina. É sentida, provoca emoção. E é construtiva, pois, tendo um significado próprio, tem valor de símbolo e capacidade, portanto, de construir uma linguagem que comunica uma ideia”. (FARINA, 1990, p. 27). O que percebemos com suas observações é como a cor exerce estas funções de maneira sequencial e quase imediata, que não paramos para pensar sobre cada uma dessas ações. Para Guimarães (2000), a simbologia das cores é extraída das várias aplicações da cor, nos diversos tipos de objetos, principalmente no tocante à cor comoinformação, isto é, quando ela é aplicada com determinada intenção, provocando determinadas funções ligadas ao objeto ou muitas vezes ao contexto em que o objeto se encontra. Caro(a) acadêmico(a)! Observe como esta citação é fundamental para muitos artistas. Citarei o exemplo do artista Johannes Vermeer, que utiliza a cor para conseguir situações próximas da realidade, no século XVII. IMPORTANT E UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 62 FONTE: Disponível em: <http://www.evimagens.com/ blog/2009/06/>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 40 – JOHANNES VERMEER, "A LEITEIRA", 1656 FONTE: Disponível em: <http://www.evimagens.com/>. Acesso em: 15 mar. 2011. FIGURA 41 – MOÇA COM O BRINCO DE PÉROLAS – JOHANNES VERMEER – 1665 DICAS Sugestão de vídeo: Moça com o brinco de pérolas do diretor Peter Webber, lançado em 2003. Observe atentamente a questão do uso da cor pelo artista e perceba as excelentes tomadas de ângulos, pelo diretor de fotografia. A cor fazendo parte dos elementos que compõem a estrutura da linguagem visual, assim como a forma, a textura, o cheiro, também, trazem características e informações culturais relevantes no processo de comunicação humana. Portanto, ela passa a ser um código cultural que traz informações e significados variantes de cultura para cultura. TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 63 Tiski-Franckowia (1997, p. 108. apud PEREZ, 2004) nos traz o conceito de cor explicando tecnicamente sua formação: A luz é constituída por ondas eletromagnéticas, ou fluxo de partículas energéticas desprovidas de massa: os fótons, que se propagam no vácuo à velocidade de 300.00km/s, aproximadamente. Mas quando encontram o oxigênio, nitrogênio e outras partículas que fazem da atmosfera um meio denso e transparente, sua velocidade é menor. Quando a direção é desviada de seu eixo central, a luz é refratada em comprimentos de ondas menores, os raios são também refletidos em direção ao espaço em uma variação de frequência. Essas modificações dos raios de luz são vistas como cores se os centros de espelhamento forem maiores que os comprimentos de luz. Por exemplo, o espectro colorido do vermelho ao violeta é totalmente visível no fenômeno do arco-íris porque as gotículas de água servem como prisma de refração, sendo maiores que os comprimentos de onda. Portanto, a cor é um fenômeno físico e necessita de três elementos: a fonte de luz, o órgão da visão e um elemento físico. FONTE: Disponível em: <http://filhodebarbeiro.blogspot.com>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 42 – FONTE DE LUZ Neste sentido, entender como se processam esses códigos e sua aplicação na leitura da imagem, facilita o entendimento da cor como informação, bem como a relação dos aspectos psicológicos provocados por ela. autoativida de Adquirimos um bom conteúdo sobre a cor, mas sei que deve perguntar: o que é a cor? UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 64 FONTE: Disponível em: <http://www.floresderaff.org.ar/br>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 44 – ELEMENTO FÍSICO O FENÔMENO: uma luz branca pode ser decomposta em todas as cores (o espectro) por meio de um prisma. Na natureza, esta decomposição origina um arco-íris. FONTE: Disponível em: <http://s3.amazonaws.com/>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 45 – ARCO-ÍRIS FONTE: Disponível em: <http://cronicasdeummundomeu. blogspot.com>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 43 – ÓRGÃO DE VISÃO TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 65 3.1 CLASSIFICAÇÃO DAS CORES A cor pode ser representada utilizando um círculo cromático. Um círculo de cor é uma maneira de representar o espectro visível de forma circular. As cores são arrumadas em seqüência em uma circunferência na ordem da frequência espectral. FONTE: Disponível em: <http://www.amopintar.com/wp-content/uploads/cores-triadica. jpg>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 46 – CÍRCULO CROMÁTICO As cores podem ser classificadas em: a) Cores primárias – As cores primárias/cores puras são pigmentos naturais: vegetal e mineral (cromo, cobalto etc.). Não se formam pela mistura de outras cores e fazem parte das cores primárias o azul, o vermelho e o amarelo. b) Cores secundárias – São cores resultantes da mistura de duas cores primárias na mesma proporção. • Primária + Primária = Secundária • Azul + Vermelho = Roxo • Azul + Amarelo = Verde • Vermelho + Amarelo = Laranja UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 66 c) Cores terciárias – Resultam da mistura de uma cor primária com uma cor secundária. • Primária + Secundária = Terciária • Amarelo + Laranja = Amarelo-alaranjado • Amarelo + Verde = Amarelo-esverdeado • Azul + Verde = Azul-esverdeado • Azul + Roxo = Azul-arroxeado • Vermelho + Laranja = Vermelho-alaranjado • Vermelho + Roxo = Vermelho-arroxeado d) Cores neutras – São aquelas onde não há predomínio de tonalidades quentes ou frias: os tons de preto, branco, cinza, marrom e bege. e) Cores quentes e cores frias – Podemos classificar as cores em quentes e frias, usando o disco das cores. Toda cor que derivar do vermelho e amarelo é considerada quente. Toda cor que derivar do azul e verde é considerada fria. No entanto, as cores limão e púrpura podem ser consideradas tanto cores frias como cores quentes, vai depender do contexto onde estiverem inseridas. Cores Associação Predominância das cores Caracterizam-se Quentes Verão Tons de vermelho, amarelo e laranja. Como cores vibrantes, alegres, agressivas, sensuais, dando, a sensação de calor. Frias Inverno Tons de azul, verde e roxo. Como cores melancólicas, tristes, que proporcionam a sensação de calma e recolhimento/aconchego, logo não são vibrantes. FONTE: A autora QUADRO 13 – CLASSIFICAÇÃO DAS CORES QUENTES E FRIAS CONFORME ASSOCIAÇÃO autoativida de Faça uma pesquisa sobre o círculo das cores e construa o seu. TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 67 FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_t690XXw-0Wc/TKNL4454JsI/ AAAAAAAAA OY/DBi8kCDSvik/s1600/32-Cores+Complementares+e+An%C3% A1logas. jpg>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 47 – CORES ANÁLOGAS Azul Verde Amarelo Laranja Vermelho Roxo Azul - esverdeado Amarelo - esverdeado Amarelo - alaranjadoVermelho - alaranjado Vermelho - arroxeado Azul - arroxeado Complementares Análogas Análogas Cores Complementares As cores complementares são aquelas que se encontram opostas no Círculo de Cores e são contrastantes entre si. • O Azul é complementar ao Laranja. • O Amarelo é complementar ao Roxo. • O Vermelho é complementar ao Verde. Cores Análogas "Analogia" é o mesmo que "semelhante". As cores análogas são "vizinhas" no Círculo de Cores, portanto próximas entre si. São chamadas de análogas, pois há nelas uma mesma cor básica. Por exemplo, o amarelo-escuro e o vermelho- vivo tem em comum a cor laranja. As cores análogas, ou da mesma "família" de tons, são usadas para dar a sensação de uniformidade. Uma composição em cores análogas em geral é muito elegante, porém deve-se tomar o cuidado para não deixá-la monótona. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 68 3.2 SENSAÇÕES VISUAIS ACROMÁTICAS E CROMÁTICAS Mesmo que a reação à cor seja algo instintivo, não podemos negar as experiências que o homem vai acumulando em sua memória no decorrer de sua vida que o define e o faz agir de determinadas maneiras. As sensações cromáticas auxiliam na leitura e interpretação da imagem artísticae literária. 3.2.1 Sensações acromáticas São as sensações visuais que têm apenas a dimensão da luminosidade. • BRANCO Associação material – batismo, casamento, cisne, lírio, primeira comunhão, neve, nuvens, areia clara, leite. Associação afetiva – ordem, simplicidade, limpeza, bem, pensamento, juventude, otimismo, piedade, paz, pureza, inocência, dignidade, afirmação, modéstia, deleite, despertar. • PRETO Associação material – sujeira, sombra, enterro, noite, carvão, fumaça, condolência, morto. Associação afetiva – tédio, tristeza, decadência, velhice, desânimo, seriedade, sabedoria, passado, pena. • CINZA Associação material – pó, chuva, ratos, neblina, máquinas. Associação afetiva – mal, miséria, pessimismo, sordidez, tristeza, frigidez, desgraça, dor, temor, negação, melancolia, opressão, angústia. Caro(a) acadêmico(a). Não se esqueça de consultar as imagens coloridas no Ambiente Virtual de Aprendizagem. IMPORTANT E TÓPICO 1 | A LINGUAGEM COMO MEIO DE EXPRESSÃO 69 3.2.2 Sensações cromáticas São as sensações visuais compostas por todas as cores do espectro solar. • VERMELHO Associação material – sangue, rubi, cereja, guerra, luta, sinal de parada, perigo, vida, sol, fogo, chama, sangue, combate, lábios, mulher, feridas, rochas vermelhas. Associação afetiva – dinamismo, força, baixeza, energia, revolta, movimento, barbarismo, coragem, furor, esplendor, intensidade, paixão, vulgaridade, poderio, vigor, glória, calor, violência, dureza, excitação, ira, interdição. • LARANJA Associação material – outono, laranja, fogo, pôr do sol, luz, chama, calor, festa, perigo. Associação afetiva – força, luminosidade, dureza, euforia, energia, advertência, tentação. • AMARELO Associação material – flores grandes, terra argilosa, palha, luz, topázio, verão, limão, chinês. Associação afetiva – iluminação, conforto, alerta, gozo, ciúme, orgulho, esperança. • VERDE Associação material – umidade, frescor, primavera, bosque, águas claras, folhagem, tapete de jogos, mar, verão, planície. Associação afetiva – adolescência, bem-estar, paz, saúde, ideal, abundância, tranquilidade, segurança, natureza, equilíbrio, esperança, serenidade, juventude, suavidade, crença. • AZUL Associação material – montanhas longínquas, frio, mar, céu, gelo. Associação afetiva – espaço, viagem, verdade, sentido, intelectualidade, paz, advertência, precaução, serenidade, infinito, meditação. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 70 • ROXO Associação material – noite, janela, igreja, aurora, sonho, mar profundo. Associação afetiva – fantasia, mistério, profundidade, eletricidade, dignidade, justiça, egoísmo, grandeza, misticismo, espiritualidade, delicadeza, calma. 71 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você viu que: • Linguagem é o uso da língua como forma de expressão e comunicação entre as pessoas. • Linguagem é um conjunto de palavras faladas ou escritas e também de gestos e imagens. • Se bem empregada, a linguagem visual pode gerar a sedução e, principalmente, o convencimento. • Linguagem visual é um sistema (conjunto articulável) de signos que combinados entre si, podem produzir uma multiplicidade infinita de significados. • Na linguagem visual, usamos elementos como: perspectiva, volume dos objetos, rotação, anatomia humana, teoria das cores, teoria da composição termal e tonal, campo visual, textura, tipologia. • Na linguagem visual, usamos elementos de desenho, que de certa forma serão responsáveis pela construção do plano de imagem. Estes elementos também contribuirão na leitura da imagem. Estudamos as linhas, formas e cores. • A forma é um dos elementos da linguagem visual em que a relação permanece constante, mesmo que mudem os elementos aos quais ela se aplica. • Além das formas significativas encontradas na natureza, os traçados geométricos simples ou também chamadas de formas básicas, sugerem do mesmo modo, certas expressões tornando-se símbolos de determinada vontade, destacando-se o quadrado, o círculo, o triângulo e a forma de cruz. • As experiências do homem com as cores foram significativas durante o processo civilizatório, dando origem a simbologias e significados psicológicos que funcionam como arquétipos. • As cores possuem uma linguagem própria por meio de significados e sensações percebidas. 72 AUTOATIVIDADE 1 Quais os tipos de linguagem que estudamos nesta unidade? Cite exemplos. 2 Crie um conceito de linguagem visual. E para que serve a linguagem visual? 3 Quais os elementos que estruturam uma imagem? 4 Identifique na obra de Vik Muniz os elementos estruturais. Depois faça uma leitura de acordo com seus significados. FONTE: Disponível em: <http://www.laestampa.com.br/blog/tag>. Acesso em: 29 jan. 2011. FIGURA 48 – VIK MUNIZ 73 TÓPICO 2 PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO É importante que tenhamos uma percepção estética apurada e bom repertório cultural, para que possamos por meio da leitura dos signos visuais apresentados em uma imagem, compreender a obra e desse modo a mensagem visual. Nesta unidade, veremos a importância da percepção do elemento simbólico e como ele pode variar seu significado em função das culturas e sociedades. 2 PERCEPÇÃO Creio ser importante entender o modo como podemos lidar com a percepção, não apenas como um mero estímulo que ficamos esperando ocorrer, mas entender a percepção como algo dinâmico. Participamos ativamente aos estímulos que recebemos no nosso dia a dia, no entanto, selecionamos o que mais interessa e isto acaba sendo feito pela percepção. “Assim o processo da seletividade permite-nos interpretar melhor os estímulos e reagir a eles de modo mais coerente e dentro de nossos interesses”. (OSTROWER, 1999, p. 25). Também nos comunicamos através dos sentidos, utilizando os tipos de percepções: visual, auditivo, olfativo, gustativa, tátil, temporal e espacial. Como vamos trabalhar a questão da leitura da imagem, nos deteremos na percepção visual. É importante que toda pessoa adquira uma educação visual que a ajude a compreender melhor e de maneira consciente, o mundo material à sua volta, independentemente de preconceitos ou de problemas relativos a fatores e modismos de ordem cultural, condicionantes da nossa postura e sensibilidade de ver as coisas. 2.1 TIPOS DE PERCEPÇÃO Para que possamos ver e sentir melhor tudo a nossa volta, devemos prestar atenção aos tipos de percepção existentes e que de acordo com as situações devem ser exploradas. • Percepção Visual – É a percepção na qual o estímulo vem do órgão de visão, nos possibilita a ver as formas, as relações espaciais, as cores, texturas e movimentos. • Percepção Auditiva – Quando os sons são percebidos pelos ouvidos. Este estudo está voltado para a percepção dos timbres, frequências, alturas, intensidade sonora e volume. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 74 • Percepção Olfativa – Sentido dos cheiros pelo nariz. Acaba influenciando o nosso paladar. • Percepção Gustativa – percepção de sabores pela língua, geralmente associada ao prazer. • Percepção Táctil – Este tipo de percepção permite reconhecer a textura, a forma, o tamanho e a temperatura dos objetos em contato com o corpo. • Percepção Temporal – percepção das durações de tempo relacionadas à produção de ritmos. É uma combinação por parte dos órgãos dos sentidos e das potencialidades do cérebro. • Percepção Espacial – É percepção dos espaços, da relação dos objetos em si. De um objeto em relação a um determinado espaço, em relação a um espaço e pode estar associada a outros tipos de percepção.autoativida de Percebendo as imagens: Caro(a) acadêmico(a), olhando as imagens a seguir, vamos relacionar o que a nossa percepção visual é capaz de captar em relação a: formas, relações espaciais, cores, intensidade luminosa e movimentos. FONTE: Disponível em: <http://eccears.blogspot.com/.com>. Acesso em: 14 abr. 2008. FIGURA 49 – DETALHE DA PIETÁ, 1499 – MICHELANGELO – BASÍLICA DE SÃO PEDRO – VATICANO TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 75 FONTE: Disponível em: <http://www.evimagens.com/blog>. Acesso em: 14 abr. 2008. FIGURA 50 – MOÇA COM O BRINCO DE PÉROLAS – JOHANNES VERMEER – 1665 Percepções apreendidas visualmente Percepção de formas - semelhança • as imagens são de mulheres; • ambas possuem cobertura de cabeça (turbante, manto); • não estão na posição frontal; • possuem semblantes serenos; • delicadeza de traços; • a figura estrutural da imagem é um triângulo; • o eixo central é uma linha reta e perpendicular; • Figura 49 olhos fechados e boca fechada / Figura 50 olhos abertos e boca aberta. Percepção de cores • Figura 49: escultura monocromática – Figura 50: pintura policromática. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 76 Percepção de relações espaciais • Figura 49: cabeça mais baixa – Figura 50: cabeça levemente inclinada para cima. Percepção de movimento • A linha que predomina na Figura 49 é a curva e sinuosa e a que predomina na Figura 50 é a reta e a curva. Percepção de material e técnica utilizada • A primeira é uma escultura em mármore, a segunda uma pintura a óleo. Percepção Temporal • Pode-se identificar por traços da indumentária que as imagens correspondem a épocas diferentes. Caro(a) acadêmico(a)! Na estética, entende-se por percepção visual um conhecimento teórico, descritivo, relacionado à forma e suas expressões sensoriais. É um tipo de talento, uma característica desenvolvida como uma habilidade de um escultor ou pintor que diferencia os pontos relevantes e não relevantes de sua obra. Para que depois de pronta – em uma análise mais detalhada – possa explicar os atributos ali contidos. IMPORTANT E ATENCAO Atividades complementares – Nas imagens a seguir, as percepções captadas por você acadêmico(a), passam a sensação de algo ou alguma coisa? O que você sente? Como descreveria cada obra? TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 77 FONTE: Disponível em: <http://requiemparaumsonho.zip.net/>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA – 51 QUATRO GIRASSÓIS COLHIDOS, DE VAN GOGH – 1887 FONTE: Disponível em: <http://www.masterarte.com/us/artista.php?artist_ id=36>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 52 – MANABU MABE – 1987 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 78 ATENCAO Percepção tem a ver com os sentidos, o que não é sentido, não é percebido e, às vezes, os sentidos enganam. Veja a imagem a seguir, o que você percebe? FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/_c_TEwP9gfBI/ Shb2ERn6N5I/AAAAAAAAKuo/pefdx TU7WJw/s400/escher-drawinghands.jpg>. Acesso em: 17 mar. 2011. FIGURA 53 – IMAGEM PARA PERCEPÇÃO Toda imagem incorpora uma forma de ver. Contudo, embora toda imagem incorpore uma maneira de ver, nossa percepção ou apreciação de uma imagem depende também do nosso próprio modo de ver (BERGER, 1999). Assim podemos fazer várias leituras, várias interpretações, uma vez que a percepção é dinâmica e vai depender de cada um de nós para ver, sentir, ouvir, e tocar. 3 PERCEPÇÃO ESTÉTICA A percepção não se restringe apenas à coleta de dados sensoriais, porque o corpo perceptivo une-se com o sensível do mundo, em significações do seu ser-mundo. Para isso utiliza-se de referências anteriores, construídas em tantas outras percepções. TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 79 Estudos mostram que o ser humano é constituído de razão, mas também emoção, pois o meio em que vive desperta emoções que agradam ou desagradam, de prazer ou de tristeza, de beleza ou fealdade. Portanto este homem é capaz de sentir e julgar suas produções estéticas pelos sentidos que a percepção possibilita. A percepção estética nos orienta de certa maneira, na utilização de regras e padrões fixos estabelecidos para nortear a produção da obra de arte, bem como sua apreciação. O sentimento que o homem tem para criar, produzir, avaliar e julgar seus objetos e situações, nós chamamos atitude estética. Para que possamos ter uma atitude estética é importante que consigamos contemplar as coisas de forma desinteressada e sem preconceitos, para que realmente se possa ver a essência das coisas. 4 PERCEPÇÃO DAS IMAGENS Trataremos da percepção das imagens visuais planas, como a pintura, gravura, desenho, fotografia, cinema, TV etc., e não sua interpretação, o que será vista na Unidade 3. As percepções estão sujeitas a certas ilusões. a) A dupla realidade das imagens. Neste caso, a imagem reproduz uma cena real, (no exemplo, temos uma fotografia) percebermos esta imagem visual plana, como um fragmento da superfície plana e como fragmento de espaço tridimensional, (pois a imagem da fotografia é um fragmento do momento do mundo real): é esse fenômeno psicológico fundamental que se chama dupla realidade perceptiva das imagens. Podemos tocar a imagem que estamos vendo, pois ela pode ser um quadro, uma fotografia, enquanto a imagem como porção do mundo em três dimensões existe unicamente pela vista. (AUMONT, 2006). UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 80 FIGURA 54 – “NIÑOS” FOTO DE CARTIER-BRESSON FONTE: Disponível em: <http://rferrari.wordpress.com>. Acesso em: 18 mar. 2011. b) O princípio da maior probabilidade Segundo Aumont (1993, p. 66), “as imagens são, portanto, objetos visuais com duas dimensões, mas que permitem que nelas se veja objetos em três dimensões. Isto está ligado ao fato de que as imagens mostram objetos ausentes, dos quais elas são uma espécie de símbolos: a capacidade de reagir às imagens é um passo em direção ao simbólico”. Os objetos ausentes estão relacionados aos significados. Caro(a) acadêmico(a)! Como estas imagens são obtidas por uma projeção da realidade tridimensional em apenas duas dimensões, implicam perda de informação por compressão. Neste caso, teremos as imagens ambíguas, incertas, paradoxais, como as figuras a seguir. NOTA TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 81 FONTE: Disponível em: <http://observador21.blogspot.com/>. Acesso em: 18 mar. 2011. FIGURA 55 – IMAGEM AMBÍGUA FONTE: Disponível em: <http://observador21.blogspot.com/>. Acesso em: 18 mar. 2011. FIGURA 56 – FIGURA – FUNDO c) As ilusões elementares Diz-se que a imagem produz uma ilusão quando seu espectador descreve uma percepção que não concilia com determinado atributo físico do estímulo. É o caso das ilusões relativas a dimensões e distâncias. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 82 FONTE: Disponível em: <http://filotestes.no.sapo.pt>. Acesso em: 18 mar. 2011. FIGURA 57 – ILUSÃO DE FORMA d) A percepção da forma Trata da percepção da forma como unidade, como configuração que implica a existência de um todo que estrutura suas partes de maneira racional. Por exemplo, a imagem de um corpo humano é composto por partes, mas não vemos esta partes isoladas. Primeiro percebemos o todo, depois as partes. (GOMES FILHO, 2000). Como percebemos, a forma pode ser abstrata ou não e para compreendê- la melhor é importante que seja analisada segundo a Teoria da Gestalt que incluialgumas leis que serão apresentadas na Unidade 3. 5 O OBJETO SIMBÓLICO Ao observarmos pinturas, esculturas, obras arquitetônicas e até mesmo ornamentos em objetos de uso diário como acessórios, seja qual for a época, é comum nos depararmos com as seguintes questões: o que esses objetos significam? O que se esconde por trás deles? Nem sempre as figuras e os adornos são claros ou perfeitamente “legíveis” em sua expressão. Um objeto simbólico guarda algo mais do que seu significado imediato. O significado potencial de um símbolo é muito maior do que ele aparenta ser à primeira vista. Os objetos simbólicos possuem um poder além das palavras porque carregam uma variedade de significados que falam à alma, à mente e às emoções. Geralmente, o observador tem de supor um sentido oculto e procurar uma interpretação. Essa capacidade de representação é designada muitas vezes pela expressão de “conteúdo simbólico”. TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 83 O elemento simbólico na imagem é um valor implícito, um intermediário entre a realidade reconhecível e o reino místico e invisível da religião, da filosofia, da magia, estendendo-se, portanto, desde o que é conscientemente compreensível até o campo do inconsciente. IMPORTANT E Reforçando a questão do significado e do conteúdo oculto e sua interpretação, reflita sobre o pensamento: “A linguagem do inconsciente é a linguagem dos símbolos. Símbolos é a linguagem do oculto em seu mais puro sentido; eles revelam aquilo que está oculto, expressando uma realidade interior da qual raramente temos consciência, apesar de a humanidade estar em contato com ela desde os tempos mais remotos”. (MALLON, 2009, p. 5). autoativida de Atividade de fixação do conhecimento – Na tradição cristã, a pomba aparece na história de Noé e do dilúvio e simboliza pureza, fidelidade e paz. Logo, a imagem da pomba está associada à imagem da paz, este é seu conteúdo simbólico. ATENCAO Como sugestão do assunto objetos simbólicos, assista aos filmes Código da Vinci, do diretor Ron Howard, lançado em 2006 e Alice no País das Maravilhas, do diretor Tim Burton. Observe os elementos simbólicos e identifique seus conteúdos ou significados. 6 IMAGEM SIMBÓLICA O mundo do simbolismo é dinâmico. Este mundo se expande enquanto o conhecimento e os costumes mudam, mas símbolos são o centro da sabedoria universal. Eles aparecem em mitos, lendas, tradições místicas, arte e literatura. Onde quer que estejamos, estamos cercados de símbolos, alguns conhecidos, outros não. (MALLON, 2009). UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 84 Na representação da imagem simbólica, buscamos detectar e compreender os sinais existentes na imagem e por meio deles fazer a leitura simbólica. O homem, um ser simbólico, imerso em processos de intelectualização e racionalização das formas, na concretização das imagens, reverberá suas experiências diretas com os fenômenos vividos, por meio de acentuações, exageros, distorções, reduções etc. Portanto, essas imagens traduzem ideias, valores, conceitos e seu próprio cotidiano repensados e ressignificados. Quando Martins (1998) afirma que somos seres simbólicos, seres de linguagem, é porque ela discute a ideia de que as reproduções dos animais selvagens, pintados nas cavernas do período pré-histórico falam da sensibilidade visual e da capacidade de abstração deste homem, tornando-o um ser de linguagem que formam imagens, que para alguns autores ultrapassam a realidade. Segundo Martins (1998, p. 35), “As imagens retidas nas paredes das cavernas revelam um conhecimento que o homem construiu daquele mundo. Para isso, o artista teve que criar além da realidade imediata outro mundo de imagens de animais selvagens. Nesse ato criador, apropriou-se simbolicamente daquele mundo, capturando na representação visual algo que era dos animais selvagens, dando-lhes novos significados em formas simbólicas”. Dessa maneira na criação, o artista se é que podemos chamá-lo assim, tornou-se conhecido e compreensível não só para ele criador da imagem, mas para todos os participantes do grupo. Ficava registrado o mistério dos animais que caçava e aos quais sua vida estava ligada. Esse conhecimento, que é estético, veio muito antes da palavra. As imagens pintadas não se referiam somente ao que era visível naquele mundo, mas também ao invisível como instrumento de magia. Eles acreditavam que prendendo o animal pelo gesto da pintura das paredes das cavernas, estariam prendendo a alma deste animal, possibilitando então tornar-se uma presa fácil. Caro(a) acadêmico(a)! Na leitura semiótica das imagens, vamos encontrar vários conteúdos simbólicos identificados pelos signos que para Peirce, segundo Santaella (1992), estão contidos nos ícones, índices e símbolos. Com eles, os significantes e seus significados podem ocorrer de acordo com o grau de denotação. NOTA TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 85 Portanto, de acordo com Perez (2004, p. 147), “um dos campos da atuação da semiótica é o da imagem e, nesse sentido, a imagem pode ser concebida como uma representação plástica, material ou aquilo que evoca uma determinada coisa por ter ela semelhança ou relação simbólica. A imagem pode ser produto da imaginação, consciente ou inconsciente. Pode ainda ser uma simples visão”. Não importa como a imagem apareça, ela sempre virá carregada de significados que podem ou não ser revelados. Mas na leitura de imagem é importante que se entendam os elementos da estrutura da imagem para facilitar o processo de leitura e interpretação. Santaella e Nöth (apud PEREZ, 2004) apresentam o universo da imagem dividido em dois campos de domínios. O primeiro diz respeito às imagens como representações visuais: desenhos, pinturas, gravuras, fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas e as demais dessas áreas pertencem a este domínio. Estas imagens são objetos materiais, signos que representam o meio ambiente visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente. Neste domínio, as imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos ou em geral como representações mentais. Ainda para estes autores, os dois domínios não existem separadamente e que a unificação se dá no conceito de representação de signo ou semiótica. LEITURA COMPLEMENTAR ARGOLAS DOURADAS Toda imagem pode ser considerada um texto e essa é uma reflexão sobre a significação de textos não verbais. Trata-se de verificar, nesse caso específico, “o que” diz uma imagem visual e, ainda, de tentar mostrar “como” ela fala. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 86 O objeto desta análise é um acessório de moda: um par de brincos dourados. Se observarmos imagens femininas na história, vamos encontrar, em diversos momentos, argolas douradas. E, se olharmos em mais direções, vamos encontrá-las, do mesmo modo, em distintos contextos culturais, eventualmente também como ornamento masculino, na forma de adornos análogos, como os braceletes e os cintos, que não deixam de ser espécies de argolas. E, em nossa volta, nos dias atuais, vamos vê-las aos montes, nos lábios, nos umbigos e em lugares ainda mais inusitados do corpo humano, seja ele de mulher ou de homem. Não vamos aqui examinar um par de argolas específico, com uma textura especial ou com uma forma exclusiva que quebre o paradigma de argola (quero dizer, sendo aberta, oval ou sextavada, por exemplo). Vamos tratar de argolas mais convencionais: nem enormes nem pequeninas; mas redondas, lisas, douradas. Inicialmente, vejamos os elementos constitutivos dessas argolas: linhas curvas que se repetem compondo um par, apenas. E a “cor”, o dourado, ou seja, o amarelometalizado. Como se percebe, é um objeto conciso, sintético, de certo modo, minimalista. O que um objeto (ou um par deles) tão corriqueiro poderia significar? Argolas, além de brincos, são aros e elos. Têm semelhança com anéis, fivelas, cacho de cabelos, alças, laços, círculos, curvas, voltas. E absorvem toda a carga semântica, ou os efeitos de sentido, desses outros objetos ou formas, que são análogos. Argolas fechadas remetem ao sentido de proteção; abertas, ao de liberdade. E as argolas formadas por anéis de cabelo já foram muito usadas como identificação. Em francês, chamamos os brincos de “boucles d´oreilles”, literalmente, arcos ou fivelas de orelhas, o que alude à proteção das orelhas, também no sentido de afugentar o significado do que por elas passaria rumo aos ouvidos em forma de sons. Há, ainda, analogias com a fertilidade, pois a palavra “boucle” tem também o sentido de pequena boca ou de órgão genital feminino. TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 87 Anéis e brincos são conceitos que se confundem, portanto. Anéis são alguma coisa a mais do que simples adornos. Anéis também serviram, há tempos, para identificação, quando traziam o brasão da família ou as iniciais da pessoa, geralmente em relevo. Neste caso, serviam como sinete, isto é, matriz para impressão, sobre o papel ou lacre, dos dados de identificação, muito usados para selar compromissos. Anel encerra o sentido de poder. O sucesso de público dos filmes da série “O Senhor dos Anéis” (The Lord of the Rings, no original em inglês) mostra a atualidade deste efeito de sentido, que atravessa o tempo e permanece nos mais distintos espaços. Possuir um anel pode encerrar a noção de ter poderes mágicos, de abrir portas secretas, de argola, de círculos, ringue, arena. Também tem os sentidos de toque ou ressonância de sinos, campainha ou carrilhão. São mais conteúdos que podem se somar aos efeitos de sentido de argolas douradas. Nas Escrituras, várias passagens atribuem a sabedoria de Salomão a um anel que ele usava. E o anel papal, chamado anel do Pescador, é quebrado quando da morte do Papa, mostrando a quebra do vínculo entre Deus e os homens por meio do desaparecimento daquele ente. Argolas ainda podem ser alianças, o que acrescenta uma nova bagagem de efeitos de significação a estes objetos. Entre noivos, são um acordo de fidelidade, mas podem ser interpretadas como a escravidão de um em relação ao outro. Em religiosos, é a submissão a Deus; as freiras são as noivas de Deus. Na prática da domesticação de falcões, a partir da colocação de uma argola na perna da ave, ela passa a caçar apenas para aquele respectivo dono. Algemas também são argolas. Assim, se diz que as argolas unem e isolam amo e escravo. A aliança, o anel ritual do noivado ou casamento, também remete à noção de compromisso. Aliança ainda pode ser um acordo, um pacto, em que grupos ou sociedades de posições diferentes se reúnem para ações conjuntas, geralmente tendo um objetivo comum. Daí veio o verbo aliar que segue o mesmo campo semântico. UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 88 Argolas também são elos – que indicam ligação. A palavra “elo” tem a mesma origem da palavra “anel”, pois ambas derivam do latim “annelu”. Já a palavra aliança vem sendo usada desde as Escrituras, pois Deus fez diversos pactos com os homens: as alianças. Em síntese, além dos efeitos de sentido já mencionados, as argolas em forma circular aludem às ideias de ciclo fechado, ciclo solar, encerramento ou continuidade de circuito, eterno retorno, homogeneidade, sucessão contínua, totalidade indivisível, unidade, tempo, destino, sol, roda e movimento. Por fim, também remetem à ideia de perfeição, pois têm como base a figura geométrica que é considerada perfeita e, por isso, leva à noção de divino. Com relação à cor, as nossas argolas imaginárias, relembrando, são douradas. Não sendo de ouro, mas de qualquer outro metal menos nobre, o dourado traz a “presença” do ouro e rouba dele a carga semântica. Como metal perfeito, por ser o mais precioso, o ouro guarda relações com o conceito de imortalidade. Do mesmo modo, a partir de conexões estabelecidas através do tempo, o dourado remete à nobreza, ao fogo, à luz, ao divino. E ao sol. E, consequentemente, ao se relacionar ao conceito de sol, o dourado alude às noções de calor, brilho, luz, conhecimento, riqueza, fecundidade, amor, dominação. Circulares são os planetas e também o sol, além do trajeto dos planetas em torno do sol. Contornar uma pessoa ou coisa é um modo de aprisioná-la. Elos unem. Adereços identificam, além de adornar. Metais são preciosos e a arte de formatar metal com vistas à produção de pequenos objetos exige maestria. É o fazer do ourives que agrega valor ao metal. Isto tem um custo e quem pode possuir esses objetos tem poder. Laços, alças, voltas, enfim, quaisquer linhas curvas sempre causam, ao olhar, a sensação de movimento, ao contrário das retas, que surtem o efeito de rigidez. Com esses exemplos, podemos observar que não são gratuitos os efeitos de sentido que as argolas são capazes de gerar. TÓPICO 2 | PERCEPÇÃO DO OBJETO ASIMBÓLICO 89 Quando as argolas são douradas, essas linhas curvas perfeitas, as formas circulares, inter-relacionam seus significados com os do ouro. Dessas relações surgem novos efeitos de significação, como aconteceria com as relações entre formas e cores em qualquer outro objeto ou imagem. Mas nesse caso, como pode ser observado, alguns efeitos de sentido que emanam do ouro, ou do dourado, são coincidentes com certos significados das argolas, ou do círculo, embora outros sejam complementares. Os significados da forma, reiterados pela cor – ou pelo material – potencializam esses efeitos de sentido. Talvez aí esteja a força da carga semântica das argolas douradas, especialmente no que diz respeito ao poder, à perfeição, ao divino e ao destino, tanto nas formas circulares como no ouro, que geram certo mistério em torno delas e justificam sua presença nas mais distintas culturas através dos tempos. Aos designers, vale lembrar que argolas douradas não são só joias ou bijuterias, como anéis, brincos e alianças. Aldravas – as antigas argolas de metal usadas para bater nas portas antes do advento das campainhas –, puxadores do mobiliário, aros de contornos de luminárias, acessórios de cortinas, detalhes da moda e óculos, entre outros, são objetos que podem consistir em argolas douradas. Ficam aqui disponíveis essas referências de significação para tais produtos e marcas que, pela sua forma e pela sua “cor”, assumem os mesmos efeitos de sentido que possuem os brincos e os anéis dourados. FONTE: RAMALHO, Sandra. Argolas douradas. Disponível em: <http://abcdesign.com.br/teoria/ argolas-douradas/>. Acesso em: 22 mar. 2011. 90 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você viu que: • A percepção é um processo psicofisiológico por meio do qual o sujeito transforma as diversas impressões sensoriais (os estímulos), previamente transportados aos centros nervosos, em objetos sensíveis conhecidos. • A percepção estética nos orienta de certa maneira, na utilização de regras e padrões fixos estabelecidos para nortear a produção da obra de arte, bem como sua apreciação. • O homem é um animal simbólico, sempre estará usando símbolos como meio de conhecimento e comunicação. • O significado potencial de um símbolo é muito maior do que ele aparenta à primeira vista. • O elemento simbólico na imagem é um valor implícito, um intermediário entre a realidade reconhecível e o reino místico e invisível da religião, da filosofia, da magia. • Símbolos são a linguagem do oculto em seu mais puro sentido. • O símbolo é apresentado como algo que carrega um conceito anterior a si, dentro de seucontexto; e este fator permite ao símbolo assumir diferentes possibilidades de leitura. • Na representação da imagem simbólica, buscamos detectar e compreender os sinais existentes na imagem e por meio deles fazer a leitura simbólica. • As imagens simbólicas traduzem ideias, valores, conceitos e seu próprio cotidiano repensados e ressignificados. • O universo da imagem está dividido em dois campos de domínios, segundo Santella e Noth. a) O primeiro diz respeito às imagens como representações visuais. Estas imagens são objetos materiais, signos que representam o meio ambiente visual. 91 b) O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente. Neste domínio, as imagens aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos ou em geral como representações mentais. • Podemos perceber as imagens de modo diferente: elas podem ser percebidas de acordo com alguns padrões e serem classificadas como: a - pela dupla realidade das imagens; b - como princípio da maior probabilidade; c - como ilusões elementares e como a percepção da forma. 92 AUTOATIVIDADE 1 Pesquise o conteúdo simbólico das palavras ligadas à arquitetura gótica. a) Rosáceas. b) Vitrais. 2 Pesquise o conteúdo simbólico da palavra ligada à arquitetura islâmica. a) Minarete. 3 O círculo é um elemento simbólico profundo encontrado em todas as culturas e por todas as eras. Seu significado é universal. Pesquise sobre a távola redonda do Rei Arthur e de seus cavaleiros. O que simboliza o círculo? Qual seu significado oculto? 4 O labirinto é uma complicada série de caminhos em que é difícil encontrar o centro ou a saída. Na mitologia grega, Dédalo construiu um labirinto para aprisionar o Minotauro. Qual seria o significado desde elemento simbólico? 5 Na imagem a seguir do artista gráfico Escher, podemos encontrar qual princípio de percepção? a) ( ) Dupla realidade das imagens. b) ( ) O princípio da probabilidade. c) ( ) As ilusões elementares. FONTE: Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 58 – OBRA DO ARTISTA HOLANDÊS MAURITS CORNELIS ESCHER 93 TÓPICO 3 A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Uma imagem é uma cena que foi recriada ou reproduzida. É a aparência, ou o conjunto de aparências, destacada do lugar e do tempo em que primeiro fez sua aparição e a preservou. (BERGER, 1999). As imagens, assim como as histórias, nos informam. As imagens que formam nosso mundo são símbolos, sinais, mensagens e alegorias, ou talvez, segundo Manguel (2001), apenas presenças vazias que completamos com nosso desejo, experiência, questionamento e remorso. Um atributo importante para a produção das imagens está no fato da vinculação da imagem em geral com o domínio do simbólico, o que faz com que ela esteja em situação de mediação entre o espectador e a realidade. 2 MODOS DE VER A IMAGEM Para responder a estas questões será feita uma abordagem segundo Arnheim,1969 (apud AUMONT, 1993), tratando da relação da imagem com o real, das funções da imagem, do reconhecimento e rememoração e da imagem e o espectador. Caro(a) acadêmico(a)! Cabe neste momento discutir algumas questões consideradas básicas em relação à imagem. O que nos trazem as imagens? Por que é que existiram em quase todas as sociedades humanas? Como são olhadas? NOTA 94 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 2.1 RELAÇÃO DA IMAGEM COM O REAL Seguiremos a reflexão de Arnheim (1969), que propõe uma tricotomia sugestiva entre valores da imagem em sua relação com o real: a) Um valor de representação: a imagem representativa é a que representa coisas concretas. b) Um valor símbolo: a imagem simbólica é a que representa coisas abstratas e que o valor simbólico de uma imagem é mais que qualquer outro definido pragmaticamente pela aceitabilidade social dos símbolos representados. c) Um valor de signo: uma imagem serve de signo guando representa um conteúdo cujos caracteres não são visualmente refletidos por ela. 2.2 AS FUNÇÕES DA IMAGEM Ainda de acordo com Arnheim, 1969 (apud AUMONT, 1993), as funções da imagem são as mesmas que conhecemos ao longo da história, a de estabelecer uma relação com o mundo, podendo estabelecer três modos principais: • O modo simbólico – Desde os tempos mais remotos, as imagens serviram de símbolos, mais exatamente de símbolos religiosos, vistos como capazes de dar acesso à esfera do sagrado pela manifestação mais ou menos direta de uma presença divina. São inúmeros os exemplos em que a iconografia religiosa, figurativa ou não, apresenta algumas imagens que representam divindades relacionadas à religiosidade (Buda, Cristo, santos), outras são figuras puramente simbólicas (cruz, setas, círculos). • O modo epistêmico – É quando a imagem traz informações (visuais) sobre o mundo, que pode assim ser conhecido, inclusive em alguns de seus aspectos não visuais. Este modo traz informações de conhecimento das imagens. Ex.: Uma carta de baralho, um mapa rodoviário. • O modo estético – A imagem é destinada a agradar seu espectador, oferecer-lhe sensações específicas. Essa função da imagem é hoje indissociável, ou quase, da noção de arte, a ponto de se confundirem as duas, e a ponto de uma imagem que visa obter um efeito estético poder se fazer passar por uma imagem artística. A função primeira da imagem é garantir, reforçar, reafirmar e explicar nossa relação com o mundo visual. IMPORTANT E TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 95 2.3 RECONHECIMENTO E REMEMORAÇÃO Reconhecer faz parte do sistema de visão, é tornar conhecido algo ou alguma coisa que já vimos ou que tem semelhança com o todo ou partes de um todo real. É, pois, um processo, um trabalho, que emprega as propriedades do sistema visual. Exemplo: O rosto é um exemplo típico de reconhecimento, se reconhecemos com facilidade o modelo de um retrato fotográfico ou de um retrato pintado, é porque usamos nossa memória perceptiva, mas se reconhecemos também o modelo de uma caricatura, está atuando em outros critérios da nossa percepção chamados de invariantes. São os elementos que não observamos num primeiro momento, mas que ficam guardados em nossa memória. FONTE: Disponível em: <http://br.oleole.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 59 – THE BEATLES FONTE: Disponível em: <http://dicasdodi.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 60 – CARICATURA THE BEATLES 96 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA FONTE: Disponível em: <http://www.nordesteweb.com/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 61 – MARIA BETHÂNIA FONTE: Disponível em: <http://baptistao.zip.net/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 62 – MARIA BETHÂNIA É claro que para as caricaturas acima, perceber as invariantes torna-se um processo fácil, uma vez que são personalidades do mundo da música e suas imagens estão com frequência na mídia. “De modo geral o trabalho do reconhecimento aciona não só as propriedades elementares do sistema visual, mas também capacidades de codificação já bastante abstratas: reconhecer não é constatar uma similitude ponto a ponto, é achar invariantes de visão”. (AUMONT, 1993, p. 83). TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 97 Para algumas pessoas esta percepção das invariantes é um processo rápido do sistema visual e para outras nem tanto, muitos fatores externos podem estar ligados para o reconhecimento das invariantes. Conforme Aumont, (1993, p. 83), “o reconhecimento proporcionado pela imagem artística faz parte, pois, do conhecimento; mas encontra também expectativas do espectador, podendo transformá-las ou suscitar outras: oreconhecimento está ligado à rememoração”. Vamos explicar estes dois termos, observando primeiro que a dicotomia coincide com a distinção entre função representativa e função simbólica, de que é uma espécie de tradução em termos psicológicos; a rememoração puxando para a memória, logo para o intelecto, para as funções do raciocínio e o reconhecimento para a apreensão do visível, para as funções mais diretamente sensoriais. A rememoração está ligada às questões estruturais da imagem. Ela está associada à codificação, ou seja, veicula, sob forma codificada, o saber sobre o real. Ela pode muito bem definir um estilo, uma época. autoativida de De acordo com a imagem a seguir, vamos identificar os elementos de reconhecimento e de rememoração, mas antes vamos situar a imagem no tempo. A Idade Média compreende o período entre os séculos V e XV, aproximadamente desde a queda de Roma até o Renascimento. A Arte Medieval se compõe de três estilos diferentes: Bizantino, Romano e o Gótico. No período bizantino, que foi o primeiro, a pintura mostrava claramente a autoridade absoluta do imperador, considerado sagrado, representante de Deus, sendo assim o objetivo primordial deste período. A imagem do imperador era tratada artisticamente como se representasse uma divindade, estava sempre com uma aura na cabeça. A figura dos santos toma características de pessoas normais. Nesta imagem artística do período bizantino, reconhecemos os aspectos visuais, ou seja, identificamos seus elementos básicos: figura masculina, cores, formas, linhas. Mas na questão da rememoração temos formas que nos lembram algo, como o círculo que lembra a aura significando santidade, a postura rígida proveniente de uma linha reta e perpendicular ao plano da imagem, significando austeridade, a frontalidade da figura levando o observador a uma atitude de respeito e veneração pelo personagem representado, a cor dourada, significando o caráter majestoso. 98 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA FONTE: Disponível em: <http://www.beatrix.pro.br/index.php/ arte-bizantina-icones-e-pintura/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 63 – ARTE BIZANTINA – SÉCULO V A seguir, apresenta-se o quadro resumo de reconhecimento e rememoração, elaborado pela autora. Figura masculina Cores Formas Linhas FONTE: A autora QUADRO 14 – ELEMENTOS DE RECONHECIMENTO Postura rígida, significando austeridade. O círculo que lembra a aura significando santidade. Frontalidade levando o observador a uma atitude de respeito e veneração. Cor dourada, significando o caráter majestoso. FONTE: A autora QUADRO 15 – ELEMENTOS DE REMEMORAÇÃO TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 99 2.4 A IMAGEM E O ESPECTADOR Ao olhar uma imagem, o espectador pode até de certa maneira criar de forma total ou parcial o quadro. Alguns pintores usaram esta faculdade projetiva para criar imagens, ao buscá-las nas formas aleatórias, conseguida por meio de tintas jogadas em uma superfície. “A imagem é tanto do ponto de vista de seu autor quanto do espectador, um fenômeno ligado também a imaginação”. Pois é permitido tanto para um quanto para o outro a livre expressão na criação e na interpretação. (AUMONT, 1993, p. 81). “Essa faculdade de projeção do espectador baseia-se na existência de esquemas perceptivos. Exatamente como na percepção corrente, a atividade do espectador diante da imagem consiste em utilizar todas as capacidades do sistema visual (em especial suas capacidades de organização da realidade) e em confrontá-las com os dados icônicos precedentemente encontrados e armazenados na memória sob forma esquemática”. (AUMONT, 1993, p. 90) IMPORTANT E Diante dessa abordagem de Aumont (1993), a parte do espectador é uma combinação constante de reconhecimento e de rememoração. O papel do espectador segundo Gombrich (apud AUMONT, 1993), é um papel extremamente ativo: a construção visual do reconhecimento, emprego dos esquemas da rememoração, junção de um com o outro para a construção de uma visão coerente do conjunto de imagem. Para Gombrich (apud AUMONT, 1993), é o espectador que faz a imagem. Caro(a) acadêmico(a)! Ver precede as palavras. A criança olha e reconhece, antes mesmo de poder falar. Mas existe ainda outro sentido em que ver precede as palavras: o ato de ver que estabelece nosso lugar no mundo circundante. Explicamos este mundo com palavras, mas as palavras nunca poderão desfazer o fato de estarmos por ele circundados. A relação entre o que vemos e o que sabemos nunca fica estabelecida. IMPORTANT E Tome como exemplo o que o artista Magritte, o pintor surrealista do século XX pensa a respeito das imagens. No conceito dele, há por parte das imagens artísticas uma ideia de traição. E isto fica evidente quando em uma obra ele insere a legenda – “Ceci n’est pas une pipe” – “isto não é um cachimbo”. 100 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA FONTE: Disponível em: <http://xucurus.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 64 – A TRAIÇÃO DAS IMAGENS, RENE MAGRITTE – 1928 O que ele nos mostra com esta imagem é que as imagens não são tangíveis. Elas brincam com a nossa percepção, como ele mesmo afirma, elas nos traem. Se Magritte tivesse escrito sob sua pintura, isto é um cachimbo como ele mesmo afirma, estaria mentindo, pois é apenas a representação de um cachimbo. O artista Magritte, por interferências visuais, cria em seu quadro a ambiguidade entre a imagem e a palavra, ele quebra as regras daquilo que vemos e pensamos ser. Com esta obra ele provoca o espectador para que não pense de maneira mecânica, e sim para que o espectador promova outras maneiras de pensar e ver os objetos do mundo, induzindo-o ao seu universo poético. Esta abordagem complexa de variáveis que caminham entre a poética, a plástica, a linguística e o campo da filosofia, consideram que a imagem e a palavra têm as mesmas funções, tornam-se cúmplices, pois juntas buscam o universo da poético onde para Berger a escrita torna-se uma descrição invisível do pensamento e a pintura uma descrição visível. (BERGER, 1999). autoativida de Caro(a) acadêmico(a)! Esta é uma imagem de um campo de trigo, com pássaros levantando voo. Olhe-a por um momento, o que você vê? TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 101 FONTE: Disponível em: <http://charcofrio.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 65 – CAMPOS DE TRIGO COM CORVOS – VAN GOGH (1890) autoativida de Caro(a) acadêmico(a)! Agora olhe novamente a imagem. “A pintura Campo de Trigo com Corvos foi concluída nas últimas semanas de vida de Van Gogh, Boatos apontam esta obra como sendo sua última, ou até mesmo que ele tenha se matado durante a criação”. autoativida de E então? O que você vê agora? 102 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA • É difícil definir exatamente como as palavras modificam a imagem, mas é nítido que elas o fizeram. Agora é a imagem que ilustra o texto. Por meio do exemplo da obra de Van Gogh acima, a imagem reproduzida tornou- se parte de um argumento que tem pouco ou nada a ver com o significado independente da pintura original. As palavras citaram as pinturas a fim de dar uma confirmação à sua própria autoria verbal. IMPORTANT E Veja a obra “Guernica”, de Paplo Picasso e delicie-se com o texto de Augusto Fischer. IMPORTANT E FONTE: Disponível em: <http://codigodacultura.wordpress.com/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 66 – GUERNICA” 1937 – PAPLO PICASSO TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 103 O OLHAR TAMBÉM PRECISA APRENDER A ENXERGAR Há uma historinha adorável,contada por Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que diz que um pai, morador lá do interior do país, levou seu filho até a beira do mar. O menino nunca tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois pararam sobre um morro. O menino, segurando a mão do pai, disse a ele: "Pai, me ajuda a olhar". Pode parecer uma espécie de fantasia, mas deve ser a exata verdade representando a sensação de faltarem não só palavras, mas também capacidade para entender o que é que estava passando ali. Agora imagine o que se passa quando qualquer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual: como olhar para aquilo e construir seu sentido na nossa percepção? Só com auxílio mesmo. Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um clássico absoluto, um Picasso ou um Niemeyer ou um Caravaggio. Quer dizer apenas que a gente pode ver melhor se entender a lógica da criação. Augusto Fischer FONTE: Disponível em: <http://mandicotrim.blogspot.com/2008/09/>. Acesso em: 5 fev. 2011. a) A pintura como imagem e sua autoridade As imagens, a princípio, foram feitas para lembrar as aparências de algo ausente. Aos poucos se percebeu que uma imagem podia ultrapassar em duração aquilo que ela representava: mostrava, então como algo ou alguém havia antes se parecido e assim também como o assunto tinha sido visto por outras pessoas. Mais tarde, a visão do fazedor de imagens era reconhecida como parte do registro. Quanto mais criativa ou expressiva a obra, mais profundamente ela nos permite compartilhar da experiência que o artista tem do visível. No entanto, apresentada uma imagem como obra de arte, o modo pelo qual as pessoas a olham é afetada por uma série de informações básicas aprendidas sobre arte, que compreende questões como beleza, verdade, civilização, forma, estilo, gosto etc. De acordo com Berger (p. 30, 1999), “Como qualquer informação, pinturas reproduzidas têm de manter a própria informação, a despeito de qualquer outra que esteja sendo continuamente transmitida”. Em uma obra de arte todos os elementos estão ali para serem vistos, a estrutura visual da obra pode ser vista simultaneamente. Pode variar o tempo que um espectador necessita para examinar cada elemento da pintura, cada parte da estrutura, mas a simultaneidade da pintura encontra-se toda ali, para reverter ou qualificar sua conclusão. Neste sentido é que Berger afirma sobre a autoridade da pintura, ela é própria e única. (BERGER, 1999). 104 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA Na questão do significado de uma imagem, quando ela vem acompanhada de textos, Berger faz uma observação no mínimo interessante que faz a diferença na leitura da imagem. “Uma reprodução ao mesmo tempo que faz suas próprias referências à imagem do original, torna-se ela própria o ponto de referência para outras imagens”. Sendo assim, podemos entender que o significado de uma imagem irá mudar, assim que vermos o que vem em seguida a imagem de acordo com o que é imediatamente visto a seu lado. Esta autoridade que ela detém é distribuída por todo contexto em que aparece tanto em obras de arte ou no universo da propaganda. (BERGER, 1999, p. 30). Observe a pintura a seguir. UNI FONTE: Disponível em: <http://www.masp.art.br/servicoeducativo/ assessoriaaoprofessor>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 67 – OFICIAL SENTADO – 1631 – FRANS HALS Esta imagem lhe sugere conhecer o oficial retratado por Hals? Pois esta é uma característica deste artista, como em tantos outros retratos de Hals, as penetrantes caracterizações quase nos seduzem a acreditar que conhecemos os traços de personalidade e até mesmo os hábitos dos homens e mulheres retratados. TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 105 Esta sedução é a pintura nos influenciando. Ela nos influencia porque aceitamos a maneira pela qual Hals viu seus modelos. Na medida em que isso corresponde a nossa própria observação das pessoas, gestos, rostos e instituições passamos a aceitá-la também. E isto é possível porque vivemos numa sociedade de relações sociais e valores morais comparáveis. Precisamente é isto que dá à pintura sua urgência psicológica e social. É isso e não a habilidade do artista como um sedutor que nos convence de que podemos conhecer as pessoas retratadas (BERGER, 1999). a) Imagem literária – a imagem literária é composta por figuras de linguagens que auxiliam na decodificação das mensagens. Estão presentes em letras de músicas, poemas, descrições em narrativas e, assim como a imagem artística, possuem uma autoridade própria. Conforme Teles (2011), a preocupação é saber como e onde se forma a linguagem literária, qual a sua função na poesia e também na prosa e, afinal, por que se transforma e perde o seu poder de estranhamento, passando da linguagem literária para o armazém da linguagem comum, em forma de figuras desautomatizadas - as catacreses do tipo: • “silêncio profundo” • “precioso líquido” • “barriga da perna”. Expressões que, com o uso, perderam a sua força poética e entraram na frequência da linguagem comum. FONTE: TELES, Gilberto Mendonça. As duas estruturas da imagem literária. Disponível em: <http: //web2.cesjf.br/sites/cesjf/revistas/verbo_de_minas/edicoes/2006/01_as%20duas%20estruturas. pdf>. Acesso em: 8 jan. 2011. Para esclarecer esta etapa de imagens literárias, vamos utilizar a semântica que é responsável por propor o entendimento dos significados de todo e qualquer signo relacionado às palavras escritas ou faladas. É preciso ver como ela pode nos auxiliar por meio das figuras de linguagem. NOTA 106 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA • METÁFORA: é transferência de significado. É referir-se a uma coisa utilizando-se da imagem ou ideia de outra coisa. Essa transferência somente é possível por causa das afinidades, ainda que remotas, entre diferentes coisas. • METONÍMIA: aqui o significado deriva de uma relação de 13 tipos de relações diferentes entre "coisas" que são de fato relacionadas e assim, uma representa a outra. O efeito representa a causa, o autor, a obra, a parte, o todo e assim por diante. • PERÍFRASE: é uma designação indireta. Refere-se a um atributo da "coisa" ou fato que torna a "coisa" célebre e inconfundível. • ALEGORIA: Imagem literária que possui sentido oculto e onde as abstrações ou coisas inanimadas são representadas por meio de personagens, enredos e situações. • IRONIA: está relacionada entre as figuras de pensamento: figuras de pensamento são processos (construções) estilísticas que se realizam na esfera do pensamento, âmbito da frase (proposição). Nelas intervêm fortemente a emoção, o sentimento e a paixão. FONTE: Disponível em: <http://ligiacabus.sites.uol.com.br/semiotica/alegoria.htm>. Acesso em: 12 fev. 2011. autoativida de Estas são algumas das figuras de linguagem que as imagens literárias podem usar. Pesquise as demais. TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 107 LEITURA COMPLEMENTAR IMAGEM Representação mental de uma realidade sensível que funciona como um recurso linguístico em textos literários, quando se faz a associação inconsciente ou indirecta de dois mundos ou realidades separadas no tempo e no espaço. Nesta definição estão contidos os dois usos mais comuns da imagem no espaço literário: a possibilidade de reconstrução mental de uma realidade de que se pretende criar um efeito de verosimilhança e a possibilidade de construção de um discurso feito de analogias e similitudes com padrões conhecidos. O termo imagem significava em latim (imago) mais uma cópia da realidade do que uma representação artística, portanto, convencional e trabalhada esteticamente. Os sábios gregos antigosfalavam antes da ideia ou forma sensível, que dizia mais respeito ao aspecto que um dado objecto se nos representava mentalmente, o que envolvia domínios de abstração. Modernamente associa-se ao conceito de imagem uma visualidade, logo uma percepção objetiva e concreta, de que necessita para ser reconhecida como tal e não se confundir com impressão ou simples vestígio. É importante acrescentar que a modernidade do conceito de imagem diz apenas respeito ao pensamento dos finais do século XIX e posterior, pois entre o Renascimento e o Romantismo, o conceito de imagem exige um processo racional de identificação simbólica entre dois objetos, do tipo “a água é como um cristal” ou “a água cristalina”. De notar ainda que as poéticas românticas entendiam a imagem como simples representação não mental, mas refinada e sublimada na sua forma. Para esta concepção, contribuíram teorias como a de Coleridge que distinguia entre símbolo e alegoria e imaginação e fantasia, partindo do pressuposto de que no primeiro caso se trata de imagens “superiores”, intelectualizadas e sublimadas, e no segundo caso, tido por “inferior”, falamos apenas de imagens exteriores ao intelecto e presas à sensibilidade imediata das coisas. A poesia do século XX em particular, evoluiu para representações metafóricas com imagens dissimuladas ou simplesmente sugeridas, sem obedecer a um padrão comparativo que qualquer leitor menos informado literariamente pode reconhecer de imediato. Veja-se a construção metafórica conseguida por Eugénio de Andrade no poema seguinte, onde predominam imagens de identificação simbólica entre o sujeito e as amoras: “O meu país sabe as amoras bravas / no verão. / Ninguém ignora que não é grande, / nem inteligente, nem elegante o meu país, / mas tem esta voz doce / de quem acorda cedo para cantar nas silvas. / Raramente falei do meu país, talvez / nem goste dele, mas quando um amigo / me traz amoras bravas / os seus muros parecem-me brancos, / reparo que também no meu país o céu é azul” (“As amoras”, in O Outro Nome da Terra, 1988). O efeito imagista não se dá por correspondências analógicas directas (amoras = sabedoria, lentidão e maturidade no crescimento, ou outras simbologias tradicionais), mas por subtilezas de significado que obrigam o leitor a um complexo processo de interpretação: um País imagina-se “azul” porque a sugestão do trabalho de colheita das amoras bravas é um ritual de comunhão com entre o apanhador e aquilo que a natureza lhe oferece. 108 UNIDADE 2 | LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL E SUA APLICAÇÃO NA LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA A imagem construída por Eugénio de Andrade também pode ser interpretada em termos exclusivamente políticos (as amoras bravas são, por exemplo, a imagem de um país que não se domina a si próprio). Uma imagem pode ser, portanto, algo mais do que uma simples representação mental, visual ou fantástica; uma imagem construir-se-á também de acordo com uma visão cultural e política do mundo. De um ponto de vista estritamente literário, a imagem participa nos conceitos de metáfora, símile, comparação, alegoria e símbolo e em muitas figuras de pensamento que baseiam a sua capacidade figurativa na criação de imagens. Uma imagem, a rigor, é ao mesmo tempo sempre uma metáfora (aproximação entre duas coisas diferentes) e uma descrição (uma relação linguística entre palavras para revelar uma visão do mundo, real ou não real, representável ou irrepresentável pela racionalidade). Neste sentido, são válidas expressões como imagem metafórica ou imagem simbólica. Distinguir entre uma imagem e uma metáfora pode ser difícil, quando aceitamos que entre ambas apenas existe uma diferença de intensidade estética (uma imagem simples como “o João é um homem forte” não transporta a mesma intensidade de uma metáfora como “o João é um touro”). Se a imagem for “consciência de alguma coisa”, como propõe Jean-Paul Sartre num dos mais completos estudos sobre a imagem (Imagination, 1936), então torna-se ainda mais difícil decidir qual a diferença entre uma imagem e aquelas figuras que se servem dela. Se o processo psicológico é idêntico na construção de uma metáfora, de um símbolo e de uma imagem, por exemplo, então o texto que abriga estas representações deve ser capaz de as diferenciar pela capacidade que o escritor tem de registar por escrito, de uma forma original, uma visão do mundo. É esta visão que o leitor vai partilhar e reconhecer. Uma das mais antigas funções retóricas reconhecidas à figura da imagem é o retrato exemplar ou imago, de que Jesus Cristo pode ser ilustração em qualquer literatura ocidental, onde aparece como modelo de comportamento, com características intelectuais que transcendem o homem comum. Uma imago forte como a de Cristo transforma-se sempre em mito, porque tem uma função ritual e mágica própria de um ser superior, cuja magnitude heroica é reconhecida por várias gerações e durante vários séculos. Este tipo de imagem exemplar, que podemos encontrar em inúmeras personagens literárias de todos os tempos como Aquiles, Ulisses, Eneias, Hércules, Tristão, Isolda, Beatriz, Dom Quixote etc., é apenas uma representação particular e humana de uma realidade maior que a imago também pode figurar: o mundo. As imagens cosmológicas, como a cruz, a montanha, o rio, o templo etc., são denominadas na tradição latina como imago mundi. O lugar representado numa imago mundi é sempre uma projeção do mundo, e muitas vezes de um mundo idealizado, aperfeiçoado ou engrandecido até aos limites da imaginação criativa. Não se trata de um topos clássico de uso limitado à literatura latina, pois é a poesia de todos os tempos, por exemplo, conheceu visões inspiradas de mundos idealizados a partir TÓPICO 3 | A IMAGEM ARTÍSTICA E LITERÁRIA 109 de uma matriz simples, como é o caso deste poema de José Blanc de Portugal : “Eu te louvo, ó mundo, no teu espaço / Que atinge o céu e o contém, / Por quem o tempo é / Por quem nós somos / Não por quem Deus é / Mas no seu mistério renovado a cada instante / Dele é a imagem maior.” (“Ode Primária”, in Cadernos de Poesia, nº 6, 1950). Quando a imagem que se pretende construir é apenas do domínio do simbólico, é possível aproveitar a significação universal da expressão imago mundi para conceder a toda uma obra a ideia de obra ecuménica. Neste caso, relembrando a enciclopédia de Honorius Inclusus, com o título Imago mundi (c. 1122), é a própria obra de arte que se apresenta como representação universal do conhecimento, provavelmente a mais ampla das imagens que podemos construir imaginariamente. FONTE: CEIA, Carlos. Pós-Modernismo. In:______ (Coord.). E-Dicionário de Termos Literários. Disponível em: <http://www.edtl.com.pt>. Acesso em: 12 fev. 2011. 110 RESUMO DO TÓPICO 3 Caro(a) acadêmico! Neste tópico foram apresentados modos de ver a imagem, portanto, cabe a você, a partir de agora, treinar seu olhar. • A imagem possui a função de estabelecer uma relação com o mundo, por meio de três modos principais: o modo simbólico, o modo epistêmico e o modo estético. • O reconhecimento de uma imagem aciona não só as propriedades elementares do sistema visual, como também capacidades de codificação já bastante abstratas: reconhecer não é constatar uma similitude ponto a ponto, é achar invariantes de visão. • O processo da rememoração conta com a apreensão do visível, utiliza funções mais diretamente sensoriais. • Na rememoração, a imagem está associada à codificação ou seja, ela veicula sob forma codificada, o saber sobre o real. • O modo pelo qual as pessoas a olham para uma imagem de uma obra de arte é afetado por uma série de informações básicas aprendidas sobre arte, que compreende questões como beleza, verdade, civilização, forma, estilo, gosto etc. • As imagens literáriassão sugeridas ao leitor, geralmente, pelas descrições, comuns em narrativas, e/ou outros recursos linguísticos como metáforas, aliterações, assonâncias e sinestesias, muito comuns em textos poéticos e em letras de músicas. 111 1 Por que se olha uma imagem? 2 O que significa reconhecer uma imagem? 3 O que significa a rememoração de uma imagem? 4 Procure imagens que possuam texto e verifique se este texto vem reforçar a imagem ou é a imagem que reforça o texto. 5 Leve para sala de aula sua pesquisa de imagem e discuta com os colegas o que você percebeu entre a questão da imagem e a questão do texto. 6 Defina imagem literária. 7 Cite duas figuras que estruturam a imagem literária. AUTOATIVIDADE 112 113 UNIDADE 3 LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • conhecer a Teoria da Escola Gestalt e suas aplicações em leitura de imagens; • compreender a importância da percepção visual na aplicação de leituras de imagens; • conhecer o método de leitura da imagem publicitária, segundo Joly (1996); • contribuir na reflexão de leitura de imagem e sua importância como fonte de conhecimento; • relacionar métodos de leitura de imagem e sua aplicação no contexto escolar. Esta unidade está dividida em dois tópicos e em cada um deles você encon- trará atividades que o(a) ajudarão a aplicar os conhecimentos apresentados. TÓPICO 1 – LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT TÓPICO 2 – LEITURA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA TÓPICO 3 – LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 114 115 TÓPICO 1 LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Uma boa leitura de imagens vai depender, principalmente, da sua maior ou menor sensibilidade, obviamente, de seu repertório cultural, técnico e profissional como já discutimos anteriormente. A teoria da Gestalt muito contribuirá para o entendimento e interpretação na leitura da imagem, uma vez que aborda aspectos significativos da forma. Neste tópico, o aluno entenderá porque algumas formas agradam mais do que outras e verá que isto é possível graças ao conhecimento da teoria da Gestalt. É claro que é necessário um aprofundamento das leis que regem esta teoria, bem como vários exercícios para observar quando estas leis estão presentes numa imagem, podendo ser uma imagem artística, uma imagem publicitária ou uma fotografia. Nestes casos, teremos um resultado no mínimo interessante no que tange ao aspecto visual. Prezado(a) acadêmico(a)! Com o decorrer do tempo, você poderá desenvolver seu próprio modo de leitura, uma vez que este é um processo que permite outras opções, dependendo apenas do talento e criatividade de cada um. NOTA As imagens, assim como as palavras, têm sentidos múltiplos. A linguagem visual também produz sentidos e, para entendê-los é preciso conhecer sua estrutura, seus elementos constitutivos que também já vimos nas unidades anteriores. A leitura e a interpretação de imagens visam: • À apreciação estética e crítica da produção do homem. • Ao despertar do senso crítico e desenvolvimento da percepção e da imaginação enquanto analisa a realidade percebida e desenvolve a criatividade. • Não à simples decodificação de sinais, mas a um processo de adentrar-se no texto, em um mundo de sentimentos, ideias e valores. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 116 Estas são algumas das contribuições que o processo de leitura de imagens provoca no indivíduo. Existem vários tipos de leitura de imagens e funcionará de acordo com a necessidade de cada um. Nesta unidade abordaremos algumas. Podemos ter leituras de imagem ligadas à área: • Sociológica – comunicação entre o objeto artístico e o grupo (sociedade). • Semiológica – onde a ênfase está nos símbolos, signos e os sinais presentes na imagem. • lconográfica – nesta leitura são consideras as características do estilo. Estuda-se o conteúdo e o significado da obra, observando sua forma. • lconológica – aqui se procura entender a obra dentro de um contexto, em uma cultura ou filosofia. • Gestáltica – nesta leitura, os elementos visuais são valorizados, analisa- se a estrutura formal dos objetos, sendo que esses elementos considerados separadamente formam o todo da forma. No entanto, adotaremos neste primeiro momento a leitura de imagem, sob a ótica da Gestalt, que foi uma escola de Psicologia Experimental, que aborda o método do sistema de leitura visual do objeto, as Leis da Gestalt, suas categorias conceituais fundamentais e suas técnicas visuais aplicadas. Auxilia assim a percepção das formas e contribui na leitura visual das imagens. 2 O MOVIMENTO GESTALTISTA A Gestalt surgiu no campo da psicologia no final do século XIX, pelo filósofo Von Ehrenfels. Depois em 1910, três nomes juntaram-se a ele: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941). Surgiu então o movimento gestaltista que trouxe contribuições relevantes no conhecimento da teoria da forma, por meio de estudos na área da percepção. Depois de muitos estudos, observações e experimentações, a Gestalt desenvolveu uma teoria que nos habilita a compreender porque algumas formas nos atraem mais que outras. (GOMES FILHO, 2000). Nesta teoria, vemos (percebemos) primeiro com o cérebro. Vemos o todo, depois vemos com a retina, quando identificamos as partes desse todo. Para esta teoria, a percepção é fundamental. Ex.: Ao entrarmos em uma sala de aula, no primeiro momento o que percebemos é um conjunto de pessoas, cadeiras, formas etc. Depois num segundo momento, percebemos o aluno próximo à janela, o professor e assim por diante. Não existe uma tradução literal para o termo Gestalt, se generalizou significando “boa forma”. (GOMES FILHO, 2000). TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 117 Para que serve a Gestalt? • A Gestalt estuda o motivo pelo qual algumas formas agradam mais que outras. Onde pode ser usada? • Obra de arte. • Produto industrial. • Peça gráfica. • Peça do vestuário. • Leituras de imagens. • Qualquer outro tipo de manifestação visual. Caro(a) acadêmico(a)! A captação rápida do sistema de leitura visual e a maior facilidade para proceder à leitura visual da forma do objeto, por parte de qualquer leitor, vão depender, principalmente, da sua maior ou menor percepção, sensibilidade e de seu repertório cultural, técnico e profissional. NOTA 3 LEIS DA GESTALT A Teoria da Gestalt descoberta pelos psicólogos desta escola, embasada nas questões do uso da percepção, descobriu certas leis que orientam o modo de vermos as formas, facilitando a compreensão das imagens. A partir da observação e uso adequado destas leis, foi criado o suporte sensível e racional, que visa favorecer a compreensão de análise interpretativa da forma do objeto, auxiliada pelas demais categorias conceituais explanadas mais adiante. As leis da Gestalt embasam e dão sustentação para as leituras visuais mais completas da organização formal dos objetos, facilitando como já foi dito a leitura e interpretação da forma do objeto. (GOMES FILHO, 2000). A teoria da Gestalt apresenta leis que auxiliam na boa interpretação da forma, são elas: Unidade, Segregação, Unificação, Fechamento, Continuidade, Proximidade, Semelhança, Pregnância da Forma. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 118 a) Unidades – uma unidade numa conceituação mais ampla pode ser entendida como o conjunto de mais de um elemento, configurando o todo, propriamente dito, ou seja, o próprio objeto. As unidades formais que configuram o todo podem ser percebidas geralmente pelas subunidades que a constituem e estaspodem ser segregadas por diversos modos: por cores, pontos, linhas, planos, volumes, sombras, brilhos etc. FONTE: Disponível em: <http://farm1.static.flickr. com/27/95228428_0b442e4fc0.jpg/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 68 – MULTIDÃO Esta multidão, dentro da conceituação mais ampla, constitui uma unidade como um todo. Por outro lado, cada pessoa também pode ser considerada como uma unidade ou como uma subunidade, dentro do todo. b) Segregação – é a capacidade perceptiva de separar, identificar, evidenciar unidades formais em um todo compositivo ou em partes deste todo. Naturalmente, pode-se segregar uma ou mais unidades, dependendo da desigualdade dos estímulos produzidos pelo campo visual. Para efeito de leitura visual, pode-se também estabelecer níveis de segregação. Por exemplo, identificando apenas as unidades principais de um todo mais complexo, desde que seja suficiente para o objetivo desejado de análise e/ou interpretação da forma do objeto. NOTA TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 119 FONTE: Disponível em: <http://coisasdemulher.tv/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 69 – IMAGEM MULHER c) Unificação – acontece quando os elementos visuais que compõem a forma apresentam semelhança ou igualdade visual. Logo, os elementos visuais da forma promovem fatores de harmonia, equilíbrio e ordenação visual. FONTE: Disponível em: <http://lazer.hsw.uol.com.br>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 70 – TORRE A unificação da imagem observada pelos fatores de proximidade e semelhança, predominante em muitas das unidades que compõem a imagem. Também pelo seu equilíbrio perfeito, em função de pesos visuais contrabalançados e distribuídos de maneira homogênea. A harmonia da figura apresenta alto grau de ordenação. O contraste de verticalidade presente confere leveza e sentido de elevação à torre. d) Fechamento – é quando elementos que compõem a imagem nos passam a sensação de fechamento da forma. A forma não se apresenta encerrada, fechada, mas da maneira como é composta, nós a percebemos no seu todo. Esta lei nos possibilita ver o objeto sem ele estar contornado por linhas fechando sua forma. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 120 FONTE: Disponível em: <http://ifmadesign.blogspot.com/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 71 – IMAGEM DESIGN Caro(a) acadêmico(a)! Simplificando obtém-se o fechamento visual da forma pela continuidade, numa ordem estrutural definida. NOTA e) Continuidade – esta lei acontece quando percebemos que as unidades estão próximas e têm semelhança de forma, proporcionando um todo harmonioso. Possibilita assim fluidez e coerência visual. FONTE: Disponível em: <http://www.flickr.com/phot>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 72 – IMAGEM TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 121 f) Proximidade – esta lei tem uma variante interessante, pois ela nos dá a percepção de vermos outras unidades, à medida que elementos visuais que formam o objeto estão próximos. A tendência é serem vistos juntos ou unidades dentro de outras unidades. FONTE: Disponível em: <http://www.acemprol.com/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 73 – LÁPIS DE COR FONTE: Disponível em: <http://desenhoseriscos.blogspot.com/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 74 – IMAGEM g) Semelhança – esta lei diz respeito a uma forma quando possui em sua constituição elementos iguais ou de proximidade visual. A semelhança pode ocorrer em função tanto das formas quanto das cores. Ela também possibilita constituir grupos, estabelecendo assim outras unidades. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 122 Semelhança e proximidade são dois fatores que, além de concorrerem para a formação de unidades, concorrem também para promoverem a unificação do todo, daquilo que é visto no sentido da harmonia, ordem e equilíbrio visual. NOTA Pregnância da Forma – toda imagem possui esta lei, ela está diretamente ligada ao modo como entendemos a forma ou a mensagem. É chamada de lei básica da Percepção Visual da Gestalt. Segundo esta lei, o elemento que apresentar um entendimento rápido de sua forma ou mensagem, possui alta pregnância. Já se demorarmos em fazer o reconhecimento da forma ou da mensagem ocorre a baixa pregnância de forma. Então, se o objeto possui clareza visual, ele possui alta pregnância e aquele que não possui a clareza visual tem baixa pregnância de forma. FIGURA 75 – ALTO GRAU DE PREGNÂNCIA FONTE: Disponível em: <http://www.fontcraft.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FONTE: Disponível em: <http://woodtyper.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 76 – BAIXO GRAU DE PREGNÂNCIA DE FORMA TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 123 autoativida de Caro(a) acadêmico(a)! Você percebe as diferenças entre as figuras? Qual possui pregnância de forma alta? Quais as razões de sua resposta? Pois muito bem, já comparou as figuras! A razão é simples, a Figura 75 apresenta melhor organização formal pela própria disposição dos elementos de composição, mais soltos, ordenados e equilibrados visualmente. Já a Figura 76 apresenta um número maior de elementos, é preciso uma maior concentração para entender, prejudicando sensivelmente sua harmonia. Vamos ver mais dois exemplos para tirar qualquer dúvida, uma vez que esta lei da pregnância de forma é considerada a lei básica da percepção visual. A seguir, apresentamos duas obras abstratas do artista russo Wassily Kandinsky. Qual delas possui maior pregnância de forma? FONTE: Disponível em: <http://arquiteorizando.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 77 – COMPOSITION VII – KANDINSKY – 1913 UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 124 FONTE: Disponível em: <http://arquiteorizando.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 78 – CONCENTRIC RINGS, KANDINSKY Então para concluir uma boa pregnância de forma pressupõe que a organização formal do objeto, no sentido psicológico, tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista estrutural. No caso das obras anteriores, a Figura 78 possui maior pregnância de forma, pois conseguimos perceber com maior clareza os elementos estruturais da obra. Assim para efeito de uma boa pregnância, pode-se afirmar e estabelecer o seguinte critério de qualificação ou julgamento organizacional da forma: 1. Quanto melhor for a organização visual da forma do objeto, em termos de facilidade de compreensão e rapidez no entendimento e leitura ou interpretação, maior será o grau de pregnância. 2. Quanto mais confusa for a organização visual da forma do objeto, menor será o seu grau de pregnância. Podemos estabelecer um grau ou índice de pontuação; baixo, médio, alto ou dar uma nota de 1 a 10. Respectivamente, no sentido da melhor para a pior qualificação. Vejamos agora as leis que encontraremos nas figuras a seguir! UNI TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 125 FONTE: Disponível em: <http://soulsocietyradio.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 79 – IMAGEM • Esta imagem possui a lei da: unidade, segregação, proximidade, continuidade, semelhança, continuidade e boa pregnância de forma. FONTE: Disponível em: <http://www.flores-online.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 80 – IMAGEM FLOR • Esta imagem possui a lei da: unidade, segregação, proximidade, continuidade, semelhança, fechamento, continuidade e boa pregnância de forma. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 126 4 CATEGORIAS CONCEITUAIS: FUNDAMENTAIS Assim como as Leis da Gestalt auxiliam na boa percepção da forma e do objeto, serão abordadas também duas classes de categorias chamadas conceituais para complementar o sistema de leituravisual. Estas categorias têm como objetivo maior sustentar e embasar as leis da Gestalt, sobretudo em relação à sua lei básica de pregnância de forma. São elas: harmonia, desarmonia, equilíbrio, desequilíbrio e contraste. a) Harmonia – Está relacionada à maneira como as partes da forma estão distribuídas, buscando um todo organizado e com clareza visual. Está relacionada ao equilíbrio da forma e no fácil entendimento visual. A harmonia possui coerência visual das partes, proporcionando a integração destas com os elementos que a compõem proporcionando um todo organizado. b) Desarmonia – Quando ocorre o inverso da harmonia. A composição encontra- se de tal maneira desorganizada que causa um incômodo visual, existindo uma discordância das partes. c) Equilíbrio – O equilíbrio está presente quando as forças visuais que agem sobre um objeto estão distribuídas de maneira uniforme provocando uma harmonia visual: O equilíbrio pode ser simétrico, quando os elementos em questão possuem forças iguais. O equilíbrio pode ser medido em função de eixos de simetria, podemos ter um eixo axial, ou em posição na horizontal, vertical e inclinada. O equilíbrio assimétrico ocorre quando as forças são diferentes. d) Desequilíbrio – É quando as forças visuais que agem sobre os corpos não conseguem equilibrar-se. Este estado pode trazer certa atenção ao observador, chamando a atenção ou até o inquietando. e) Contraste – O contraste pode acontecer de várias maneiras, contraste de luz e sombra, contraste de cores complementares, contraste de linhas, contraste de formas de ritmo, de passividade, de proporção e escala. Dependendo como for utilizado pode trazer à composição um efeito muito positivo de movimento. TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 127 5 CATEGORIAS CONCEITUAIS: TÉCNICAS VISUAIS APLICADAS Você verá agora as técnicas visuais aplicadas no sistema de leitura visual do objeto e perceberá como elas são importantes, pois têm a finalidade de, além de funcionar para a leitura visual da forma, fornecer subsídios valiosos para procedimentos criativos de projetos de qualquer natureza. NOTA a) Clareza – São impressões visuais da forma bem organizada, vem acompanhada de equilíbrio, harmonia e ordem dos elementos compositivos da forma. Proporciona fácil entendimento visual. b) Simplicidade – Apresenta poucas informações, sem prejudicar na leitura. Possui organização espacial simples e objetiva. c) Complexidade – Apresenta muitas informações visuais, dificultando o processo de reconhecimento das informações. Está relacionada à baixa pregnância da forma. d) Profusão – Está relacionada à quantidade de elementos formais que constituem a forma. É associada a estilos como o Barroco, a art decó e outros. Por apresentar muitos elementos é associado ao fator de complexidade. e) Minimidade – Quase lembra a simplicidade, porém apresenta uma quantidade inferior de elementos na composição. f) Coerência – É uma técnica onde os elementos compositivos estão muito bem organizados proporcionando um todo compositivo e, portanto, apresentando uma coerência visual agradável. g) Incoerência – Trabalho o sentido contrário da coerência. Onde a organização visual é claramente desorganizada, desarmoniosa. h) Arredondamento – É uma característica obtida pelas formas proporcionando suavidade e delicadeza e continuidade visual. i) Exageração – Quando são utilizados elementos formais exagerados, proporcionando até uma maneira rica e diferente de chamar a atenção. j) Transparência Física – Possibilita ver objetos que estão sobrepostos. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 128 k) Transparência Sensorial – Técnica ligada à percepção. Fornece às imagens uma sensação de realidade. l) Opacidade – É o bloqueio visual das partes da forma. m) Redundância – É a repetição de elementos, sem necessidade. n) Ambiguidade – Esta técnica produz efeitos interessantes, pois mostra um único objeto com interpretações diferentes daquilo que é visto. o) Sutileza – É uma técnica elegante e confere à composição ou ao objeto um grande refinamento visual. p) Ruído Visual – Diz respeito a interferências ou distorções que perturbam a harmonia num objeto ou composição. O ruído visual pode ser utilizado de maneira criativa, a fim de criar centros de interesses numa determinada manifestação visual. Após o aprendizado de todas essas técnicas, o que fará do observador um bom leitor da forma visual, será sua sensibilidade e seu repertório cultural, técnico e profissional. As dificuldades vão desaparecendo à medida que o observador faça exercícios práticos de acordo com a metodologia de leitura. 6 METODOLOGIA DA LEITURA VISUAL PELA GESTALT 6.1 LEITURA DE IMAGENS Estamos num mundo onde as imagens prevalecem, portanto, é importante que saibamos ler estas imagens até por uma necessidade de compreensão. Sabemos que as imagens apresentam-se por meio de uma linguagem visual, o que nos torna muito mais claro o seu entendimento, caso fosse transformada em palavras. Por isso, creio ser importante saber do que a imagem fala. E para isso, a compreensão e sua interpretação são escolhas que considero importante nos dias de hoje. Sabemos que toda imagem possui duas funções distintas, mas que uma não fica sem a outra. Estou falando de conteúdo e forma da imagem, qualquer que seja a imagem. A partir do momento que se entender a relação de forma e conteúdo da imagem, passamos a desvendar questões de construção de sentidos, impressos na imagem tanto do autor com sua intencionalidade como a interpretação do leitor. (MARTINS, 1998) TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 129 Grande parte das pessoas precisa de um tempo maior para a observação e significação das imagens para posterior compreensão. Imagens com muitos detalhes, onde as várias informações remetem a uma necessidade de pausa por parte do espectador para pensar e analisar as possibilidades descritivas, exigem muito mais do que uma simples olhada. Talvez porque para estas pessoas, as questões não fazem parte do seu cotidiano. Podemos fazer a leitura da imagem segundo a teoria da Gestalt, que entre outras regras, nos diz que o cérebro humano tende automaticamente a separar a imagem em diferentes partes, ou seja, olhamos primeiro com o cérebro. Depois vamos organizá-las de acordo com alguns critérios que nem precisamos entender, mas apenas sentir, como por exemplo: semelhanças de forma, tamanho, cor, textura etc., que, por sua vez, serão novamente agrupados facilitando sua compreensão. A Gestalt, por meio dos seus estudos, estabelece sete relações através das quais as partes da imagem são agrupadas na percepção visual e que vimos anteriormente: unidade, proximidade, semelhança, segregação, pregnância, boa continuidade, fechamento. Essa questão natural de organizar as informações passadas no cérebro possibilita ao homem assimilar esses dados com maior facilidade e rapidez. (GOMES FILHO, 2000) 6.2 A LEITURA VISUAL DO OBJETO SEGUNDO A GESTALT a) A leitura visual do objeto possui, conforme Gomes Filho (2000, p. 104), as seguintes etapas básicas: 1. Examinar o objeto e segregá-lo em suas partes ou unidades principais. 2. Decompor estas unidades principais segregadas em suas outras unidades compositivas, e assim sucessivamente, até um nível considerado satisfatório. 3. Identificar, analisar e interpretar cada uma das leis da Gestalt em cada unidade, originadas por segregação de natureza variada no objeto, e descrevê- las caracterizando-as, por exemplo, como segregações físicas por meio de suas massas ou volumes e também por outros tipos de segregações como um ou mais de um dos seguintes elementos: pontos, linhas, planos, cores etc. e, ainda, por características deacabamento como, brilho, texturas, relevos positivos ou negativos, e assim por diante. 4. Concluir a leitura visual, interpretando a organização formal do objeto como um todo, atribuindo um índice de qualidade para sua pregnância formal como, por exemplo, baixo, médio ou alto ou, se quiser ser mais preciso, atribuir um índice de avaliação de 1 a 10. b) Existe, também, a segunda análise de leitura visual do objeto que acontece por intermédio das categorias conceituais, em que, mais uma vez, deixamos claro, entram a sensibilidade e o repertório do leitor. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 130 c) A última análise, segundo Gomes Filho (2000, p. 105) e relatado a seguir, consiste na análise da estrutura perceptiva do objeto e interpretação conclusiva; seguem duas etapas básicas: 1. “Analisar a estrutura perceptiva do objeto em função do seu nível qualitativo, ou seja, em função da boa organização visual do todo e da articulação visual das partes que o compõe, nas suas relações resultantes dentro do contexto, em função da extensa gama de categorias conceituais já estudadas”. 2. Interpretação Conclusiva/Pregnância da Forma: “nesta etapa final, por exemplo, o leitor deverá julgar se a imagem do objeto reflete padrões de harmonia e equilíbrio no seu todo e/ou nas suas partes constitutivas”. Também o leitor será capaz de julgar outros quesitos relacionados a boa construção da forma. O fenômeno da percepção visual é difícil de explicar, se resume num momento intermediário entre o mundo físico tridimensional, onde vivemos e, portanto, conhecemos e o mundo mental, o sensível e inteligível aquele que sentimos. A Gestalt pode nos auxiliar nessa trajetória de percepção através de uma leitura visual que podemos fazer dos objetos e/ou signos. (GOMES FILHO, 2000). Caro(a) acadêmico(a)! Utilizaremos a metodologia da Gestalt para fazer a leitura e interpretação imagem a seguir, em dois momentos, o primeiro será o da Análise da Estrutura Perceptiva do Objeto, usando as categorias conceituais e o segundo, da Interpretação Conclusiva – Pregnância de Forma. NOTA FONTE: Disponível em: <http://www.janainaramos.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 81 – EROS E PSIQUÊ, DE ANTÔNIO CANOVA (1757-1822) TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 131 • Análise da Estrutura Perceptiva do Objeto Na leitura visual desta imagem, alguns aspectos sobressaem de imediato: apresenta três unidades, Eros, Psiquê e a pedra como base, apresenta uma continuidade visual forte, pois nosso olhar caminha pelas linhas que compõem a escultura, definindo seu contorno e volume. Apresenta simplicidade, clareza visual, sutileza, delicadeza e refinamento. Sua formação triangular mostra todo o equilíbrio visual da forma, que apesar de ser assimétrico não compromete a composição, muito pelo contrário, vem valorizar esta obra pela irreverência de ângulos formados. Uma linha perpendicular surge com a base da escultura, que centraliza e chama a atenção para o momento máximo da forma, “o beijo”. Todo o conjunto possui muito movimento, apresentado pelas linhas de construção e reforçado pelo movimento que sugere o tecido. A cor escura de fundo promove o conjunto para frente, valorizando o jogo de sombras e contorno, definindo muito bem as formas. • Interpretação Conclusiva – Pregnância de Forma A pregnância formal da composição é alta. Sua interpretação é rápida, pois não precisamos de muito tempo para sua apreensão. Isto acontece por que existe a clareza visual das formas, ou seja, identificamos os elementos estruturais da composição. A obra apresenta um equilíbrio de elementos favorecendo a pregnância de formas. O fundo escuro com a escultura clara proporciona um contraste de forma que auxilia na busca visual e entendimento da obra. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 132 LEITURA COMPLEMENTAR O BEHAVIORISMO E A PSICOLOGIA DA FORMA GESTALT O estudo do comportamento ou Behaviorismo é a designação das observações das reações visíveis do organismo, sem nenhuma consideração por fatores anímicos, ou seja, que pertence à alma ou psicológico. Esta orientação psicológica foi encabeçada nos Estados Unidos por Mc Dougall, John B. Watson e Kantor, entre outros, e convencionou o estudo como psicologia objetiva. Nesta teoria, os pesquisadores chegaram à conclusão que as únicas reações admissíveis como originais na criança recém-nascida, seriam o medo, a cólera e o amor, sendo as demais, frutos de condicionamento. Segundo J. B. Watson, que lançou a corrente behaviorista entre 1910 e 1920, “é cientificamente observável a ação de um estímulo e a reação encontra seu protótipo no reflexo incondicionado e condicionado”. Esta afirmação está direcionada ao que o estudioso acreditava que certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas devido ao ajuste ao meio do indivíduo, assim como a hereditariedade e a formação de hábitos deste mesmo sujeito. Sendo assim, aqueles que sucederam Watson nessas análises, como B. F. Skinner, influenciaram muitos psicólogos americanos e de outros países com o Behaviorismo radical. Essa corrente pretende ter como base a formulação do comportamento operante confrontado ao comportamento respondente, onde uma trabalha com a aprendizagem tendo uma relação entre ação e seu efeito e a outra, equivale a interações estímulo-resposta (ambiente-sujeito) incondicionadas, nas quais certos eventos ambientais eliciam certas respostas do organismo que independem de aprendizagem. TÓPICO 1 | LEITURA DE IMAGENS PELA TEORIA DA GESTALT 133 A corrente Behaviorista, foi muito utilizada na educação nas décadas de 60 e 70 no Brasil (ápices do controle militar sobre a sociedade), e até hoje, prevalece em muitas instituições de ensino como forma de padronizar os elementos envolvidos no processo educativo. Encontra-se também na postura do professor em trabalhar a favor de certos estímulos considerados saudáveis para o aluno, e a anulação de outros (reforçamento), prejudiciais à aquisição dos conhecimentos reproduzidos dentro do ambiente escolar. Devido ao desvio comportamental e os reflexos deste tipo de irregularidades para os demais, inclui-se no processo, a extinção, procedimento no qual uma resposta deixa de ser reforçada de forma abrupta e a punição, onde é reduzida a frequência de certas respostas. A validade deste recurso é bastante debatida por behavioristas. A Gestalt ou a psicologia da forma é um termo alemão da escola que enfatiza o conjunto, a organização, a estrutura e as propriedades do campo psicológico. Para Von Ehrenfels (1859-1932), seu criador, as qualidades formais não resultariam da soma ou reações dos elementos, mas sim da atividade do espírito que combinaria esses elementos. A partir de Ehrenfels seguiram Wertheimer, Koffka, Kohler e Lewin, que não adotaram a linha idealista do criador, embora eles tenham continuado a admitir o método dedutivo, a predominância do conjunto sobre as partes e uma forma de introspecção conhecida como fenomenologia. O grande objetivo dos estudos pelos gestaltistas era a compreensão de quais eram os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica. Quando o estimulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade. Destacou-se como tema central desta teoria, a percepção, em que os experimentos realizados levaram os teóricos a questionar o princípio implícito na teoria behaviorista, onde se afirma que há relação de causa e efeito entre o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo, em que se encontra o processo de percepção. Concluiu-se que, o que o indivíduo percebe e a forma com que ele percebe, são dados importantes para a compreensão do comportamento humano. Na visão dos gestaltistas,o comportamento deve ser estudado nos seus aspectos mais globais, nas quais seriam levadas em consideração as condições que alterariam a percepção do estímulo. É por isso que a critica da Gestalt está principalmente, na abordagem do Behaviorismo em considerar o comportamento de forma isolada, pois deste modo, perderia o significado e o seu entendimento para o psicólogo. Justificavam esta postura baseando-se no isomorfismo, onde se conjeturava uma unidade no universo, onde a parte está sempre relacionada ao todo. Para exemplificar esta teoria, cita-se que, ao visualizar a parte de um objeto, a tendência que ocorre é de restauração do equilíbrio da forma (um fechamento dos espaços vazios). Isso garante a visualização do objeto inteiro e o entendimento do que se está percebendo, fenômeno que é guiado pela busca de fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõem o objeto em questão. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 134 A partir destas percepções, a Gestalt encontra condições para o estudo do comportamento humano, pois a maneira pela qual o indivíduo percebe determinado estímulo. Desencadeia, a partir da teoria da boa-forma, o comportamento humano. Deste modo, o campo psicológico é entendido como um campo de força que nos instiga a procurar a boa-forma, garantindo a busca da melhor forma possível de resolução de situações, que não estão muito bem estruturadas. Na aprendizagem, a Gestalt vê este mecanismo como reação entre o todo e a parte, onde o primeiro tem papel fundamental na compreensão do objeto percebido. A designação da compreensão imediata, enquanto entendimento interno é insight. FONTE: OLIVEIRA, Jaqueline C. De. O behaviorismo e a psicologia da forma Gestalt. Disponível em: <http://www.pedagogiaaopedaletra.com/o-behaviorismo-e-a-psicologia-da-forma-gestalt/>. Acesso em: 17 fev. 2011. 135 Neste tópico, você viu que: • De acordo com a Gestalt, a arte se funda no princípio da pregnância da forma. • O cérebro percebe as partes de um todo, mas as organiza de maneira original que pode mudar o sentido. • Precursor: Von Ehrenfels, filósofo vienense (fins do século XIX). Início efetivo: 1910, em Frankfurt, com Wertheimer, Köhler e Koffka. • Palavra alemã, sem tradução significa: “boa forma”. • A Gestalt é dividida em 8 leis: Unidade, Segregação, Unificação, Fechamento, Continuidade, Proximidade, Semelhança, Pregnância da Forma. • Além das Leis da Gestalt, foram acrescentadas duas classes de categorias conceituais para complementar o sistema de leitura visual e torná-lo mais eficaz. • A categoria conceitual fundamental tem como finalidade, dar embasamento e consistência às leis da Gestalt, sobretudo em relação à sua lei básica de pregnância de forma. • A categoria conceitual das técnicas visuais aplicadas tem a finalidade de, além de funcionar para a leitura visual da forma, fornecer também subsídios valiosos para procedimentos criativos de projetos de qualquer natureza. • Quanto melhor for a organização visual da forma do objeto, em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura ou interpretação, maior será o seu grau de pregnância. • Uma boa pregnância de forma pressupõe que a organização formal do objeto, no sentido psicológico, tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista estrutural. RESUMO DO TÓPICO 1 136 1 No que a Gestalt se fundamenta? 2 Quais as leis da Gestalt? 3 Quais as categorias conceituais que auxiliam na leitura de imagem? 4 O que é pregnância de forma? 5 Faça a leitura da imagem a seguir, usando a metodologia da Gestalt. AUTOATIVIDADE FONTE: Disponível em: <http://marciliomedeiros.zip.net/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 82 – JARDIM DOS PRAZERES TERRENOS – DETALHE (C.1504), DE HIERONYMUS BOSCH (EL BOSCO) 137 TÓPICO 2 LEITURA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, veremos uma metodologia que auxilia na leitura da imagem publicitária, utilizada por Joly (1996), como referência de conteúdos, visto que, seus estudos basearam-se em Roland Barthes que usou a análise semiótica em revistas e propagandas, destacando seu conteúdo político. Joly (1996) procura mostrar pelo seu método como os veículos de comunicação acabam usando a persuasão no poder do convencimento pela imagem em campanhas de publicidade. 2 A IMAGEM PUBLICITÁRIA Entre as imagens mais propícias à análise da leitura e interpretação, encontram-se as imagens de publicidade. Foram elas as primeiras imagens responsáveis para servirem como estudos no que se refere à semiologia da imagem. Após a década de 60 do século XX, o estudo semiológico da imagem publicitária veio contribuir para a publicidade com uma visão na área da retórica. O campo da publicidade é bastante vasto no que diz respeito aos estudos teóricos que permitem analisar e compreender o ser humano nas relações com seus desejos de consumidores, com a sociedade e com a mídia. Roland Barthes foi um dos primeiros a escolher a utilização da imagem publicitária como terreno de estudo para a semiologia da imagem, que então dava os primeiros passos. As razões que apresenta para esta escolha são operacionais: “Se a imagem contém signos, estamos certos de que em publicidade esses signos são totais, formados tendo em vista a melhor leitura: a imagem publicitária é franca ou pelo menos enfática. A imagem publicitária, seguramente intencional e, portanto, essencialmente comunicativa e destinada a uma leitura pública, oferece-se então como o terreno privilegiado para a observação dos mecanismos de produção de sentido através da imagem”. (JOLY, 1996, p. 70-71). 3 METODOLOGIA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA Na leitura da imagem publicitária, como imagem formal, Joly 1996 trabalha com a proposta de análise que é dividida em: descrição da imagem e análise da mensagem plástica, mensagem icônica e mensagem linguística. A análise detalhada de cada fase permitirá detectar a mensagem implícita global do anúncio. (JOLY, 1996). 138 UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 3.1 A MENSAGEM PLÁSTICA A mensagem plástica é formada pelo conjunto de elementos visuais que compõem a imagem: suporte, dimensão do suporte, quadro, enquadramento, ângulo de tomada, escolha da objetiva, composição, formas, cores, iluminação e textura. Esta distinção fundamental permite revelar que uma grande parte da significação da mensagem visual é determinada pelas escolhas plásticas e não apenas unicamente pelos signos icônicos. (JOLY, 1996). 1 - O Suporte – é qualquer elemento que venha servir de suporte para a mensagem visual. Na mensagem publicitária pode ser o papel de uma revista que tem uma gramatura, brilho, papel jornal, semibrilhante, formato de revista, página dupla, ou um papel que está em um outdoor ou outro material qualquer. Este suporte vai auxiliar a descrever a periodicidade da mensagem e o público que vai atingir. 2 - A Moldura – É o limite daquilo que se vê dentro de um determinado espaço. Podemos ter uma moldura utilizando vários recursos, desde uma janela, um espaço entre árvores, uma fenda etc. Desde que sirva para delimitar a imagem. 3 - O Enquadramento – Não deve ser confundido com a moldura, o enquadramento corresponde à dimensão da imagem, resultado suposto da distância entre o tema fotografado e a objetiva. 4 - Ângulo do Ponto de Vista e Escolha da Objetiva – Este deve ser escolhido de acordo com a necessidade da natureza da imagem. O mais usado é o ângulo normal, o que fica à altura do homem e de frente, oferecendo maior impressão de realidade à cena, uma vez que este ângulo imita a visão natural do homem. 5 - Composição - A composição, ou geografia interior da mensagem visual é um dos seus utensílios plásticos fundamentais.Tem um papel essencial na hierarquização da visão e, portanto, na orientação da leitura da imagem. Em qualquer imagem (pintura, plano cinematográfico, desenho, imagem de síntese etc.), a construção é essencial – respeita ou rejeita certo número de convenções elaboradas ao longo das épocas e varia de acordo com os períodos e os estilos. Caro(a) acadêmico(a)! No que diz respeito à imagem publicitária, a composição é estudada de tal maneira que o olhar seleciona no anúncio as superfícies portadoras de informações-chave, as configurações privilegiadas que encontramos na imagem publicitária. São quatro: a construção focalizada, a construção axial, a construção em profundidade e a construção sequencial. NOTA TÓPICO 2 | LEITURA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA 139 Segundo Joly (1996), explicamos cada uma delas: • A construção focalizada: os elementos da composição estão direcionando o olhar para onde se deseja destacar. • A construção axial: ocorre de modo a destacar o produto quando se encontra exatamente no centro do anúncio. • A construção em profundidade: acontece, neste caso, o uso de perspectiva. Temos alguns planos de imagem e o que se deseja destacar encontra-se no 1º plano. • A construção sequencial: consiste num tipo de construção em que o olhar percorre o anúncio de modo como lemos alguma coisa. Começamos do canto superior esquerdo e assim sucessivamente, até nosso olhar cair no que se deseja, que estará no canto inferior direito do anúncio. Também conhecida como leitura em “Z”. 6 - As Formas - a interpretação das formas, tal como a dos outros utensílios plásticos, é essencialmente antropológica e cultural. Conforme Joly (1996), sentimo-nos impedidos de transmitir a interpretação (inevitável) que fazemos mentalmente de uma imagem, verbalizando-a, porque nos consideramos ignorantes no campo das artes plásticas. Esta autocensura, que pode também tomar a forma do não reconhecimento puro e simples (as coisas são como são, não há nada a dizer), não nos proporciona por isso mais independência de espírito, nem mais liberdade intelectual. Antes pelo contrário, já que (e muito em particular na publicidade) o anunciante joga com os saberes mais ou menos interiorizados do leitor-alvo, que é garantido por toda a espécie de estudos, tal como já referimos anteriormente. Outro obstáculo à interpretação das formas, assim como das cores é, em menor grau, a figuratividade das imagens, sobretudo das de caráter fotográfico: as formas surgem como dados da natureza (nenhum comentário a fazer acerca da silhueta de um homem ou de uma árvore: elas são assim) e deste modo nos esquecemos do fato de terem sido escolhidas. (JOLY, 1996). 7 - As Cores e a Iluminação - a maneira como serão utilizadas dependerá do criador da imagem publicitária. No entanto, deve-se aqui lembrar que elas possuem interpretações variadas de acordo com questões culturais. Para relembrar o assunto de interpretação das cores, veja novamente a Unidade 1. 8 - A Textura - é o tratamento que damos a determinada superfície, assim como a cor. Elas podem passar a sensação de algo frio ou quente, macio ou duro, São qualidades visuais apreendidas pela percepção visual, ou podem ser aprendidas pelo tato, quando usamos a percepção tátil. Após estes estudos, passamos a compreender alguns modos de ver (ler) a imagem publicitária. É importante que saibamos identificar os elementos que fazem parte da mensagem plástica, para depois junto dos signos fazer as interpretações. Só então será possível entender a mensagem. 140 UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA Caro(a) acadêmico(a)! Observamos que muitas vezes é difícil separar radicalmente significação plástica e significação icônica, no entanto, o dispositivo plástico da mensagem visual é portador de significações bem perceptíveis. NOTA 3.2 A MENSAGEM ICÔNICA Os signos icônicos foram já estudados nas unidades 1 e 2. Portanto, a análise da mensagem icônica torna bem evidente que a interpretação dos motivos acontece por intermédio do processo da conotação, ele próprio sustentado por conotadores de diversas ordens: usos socioculturais dos objetos, dos lugares ou das posturas. Vemos que esta interpretação depende do saber do espectador e que pode variar e orientar-se para significações mais ou menos diferentes. Distingue-se do reconhecimento puro e simples dos motivos que correspondem à descrição verbal da imagem. Este reconhecimento simples não é suficiente para compreender a mensagem que com ele se constrói, mas que também o ultrapassa. (JOLY, 1996). 3.3 A MENSAGEM LINGUÍSTICA Muitas pessoas parecem estar de acordo com a ideia de que a mensagem linguística é determinante na interpretação de uma imagem no seu conjunto, uma vez que esta seria particularmente polissêmica, isto é, poderia produzir muitas significações diferentes que a mensagem linguística deverá canalizar. Pois a mensagem linguística poderá manter com a imagem duas situações: a função de ancoragem que consiste em reforçar a mensagem e a função de revezamento, que se manifestaria quando a mensagem linguística viesse suprir carências expressivas da imagem, substituí-la. (JOLY, 1996). 4 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM PUBLICITÁRIA Leitura e interpretação da imagem publicitária, utilizando a metodologia da Gestalt e a metodologia de Joly (1996). TÓPICO 2 | LEITURA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA 141 Caro(a) acadêmico(a)! Ao olhar para este quadro aqui postado, não se limite a ver o óbvio, tente ver algo mais, tente ir além da imagem, tente atingir o conteúdo. Enfim, reflita! IMPORTANT E Na leitura da imagem a seguir, existem vários elementos simbólicos que retratam o conteúdo simbólico. A importância de compreender os signos, os significantes e os significados presentes numa imagem deve estar acompanhada de um processo para melhor esclarecimento e entendimento. O processo da leitura está embasado em Gomes Filho (2000) e Joly (1996), que discutem a questão da semiótica e a leitura da imagem. FONTE: Revista Filosofia, São Paulo, ano 2, n. 8, 2008. Especial. FIGURA 83 – IMAGEM Na leitura da obra em análise, encontra-se na categoria do próprio corpo que também se refere ao significante. Retrata como significado a solidão do ser da grande metrópole, pois a figura apresenta-se solitária, única e imóvel. Ao mesmo tempo, a necessidade de obter uma rede de relacionamentos fica perceptível na estruturação e diversidade da colocação das cores em espaços que se interagem. 142 UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA Para melhor compreensão e completar a leitura da imagem, será utilizado o sistema de leitura visual da forma segundo as leis da Gestalt, as Categorias Conceituais Fundamentais conforme Gomes Filho (2000) e Joly (1996), no que se refere aos tipos de mensagem que constituem a mensagem visual que são: mensagem plástica e mensagem icônica e mensagem linguística que no caso não existe. A análise da mensagem plástica e icônica auxilia na interpretação dos significados. Vamos relembrar: a Gestalt auxiliará no estudo da composição da forma e para melhor compreender esta teoria sobre o fenômeno da percepção, seguem algumas considerações. NOTA As leis da Gestalt encontradas na imagem: • Unidades – Apresenta-se num único elemento, constituído na figura humana. Não existe agrupamento nem relações entre outra figura. • Segregação – Neste caso existem dois tipos de segregação: o da figura com o fundo e a própria figura que sofre o processo de segregação. • Unificação – A unificação se destaca pelo estilo da imagem gráfica, usando o recurso de harmonia monocromática e linguagem formal de fácil entendimento, pois utiliza padrões reconhecíveis. Sua harmonia é ordenada. • Fechamento – Neste caso, asforças de organização da forma dirigem-se para uma ordem espacial lógica, confirmando o significado formal desejado, que é prender a atenção na imagem. • Proximidade – Nesta imagem, percebe-se claramente com a proximidade dos braços e mãos uma unidade forte que reforçam o equilíbrio e a harmonia formal da figura como um todo. • Semelhança – A semelhança de forma se dá até pelo reforço da proximidade das mãos, braços e olhos. Como também ocorre a semelhança de formas no contorno formado pela harmonia de cores, valorizando a imagem. Provoca interesse imediato, fruto de uma grande atração e instigação visual. • Pregnância de forma – Apresenta um índice de pregnância de forma alta. A razão é simples, pois a imagem possui uma boa organização formal pela clareza visual dos elementos que compõem a unidade e um contraste entre figura e fundo que facilita a apreensão e compreensão da imagem. TÓPICO 2 | LEITURA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA 143 Categorias Conceituais Fundamentais são: harmonia, desarmonia, equilíbrio, desequilíbrio e contraste. A imagem apresenta uma harmonia nos seus elementos, provando a figura ter uma forte atração formal, no entanto, seu equilíbrio é assimétrico em todos os eixos que forem analisados, e mesmo assim continua sendo uma imagem interessante e instigante visualmente. Como estratégia visual é utilizado o contraste de luz e tom, com variação de tons do preto ao bege de uma escala monocromática. Este contraste vem aguçar o significado que a imagem transmite, atraindo a atenção do observador de maneira que a torne mais instigante e importante. Também apresenta um contraste de passividade, onde as forças visuais se encontram em repouso, imóveis sem causar a sensação de movimento. Na imagem apresentada, a posição dos braços sobre a parte frontal da cabeça, indica uma passividade e submissão, mostrando um estado natural de um ser que sofre uma ação, sem reagir. Caro(a) acadêmico(a)! Neste momento, a abordagem será feita segundo Joly (1996), classificando as mensagens plásticas, icônicas e linguísticas. NOTA Mensagem plástica Moldura – A imagem não possui uma moldura que a fecha num determinado espaço. Ela ocupa a folha toda, portanto, a ausência de moldura ou quadro que é o limite da representação visual instaura uma imagem chamada centrífuga, ou seja, direciona nosso olhar para fora do campo do quadro. Porém, em virtude da figura apresentar as mãos sobre a parte frontal da cabeça, o observador tem o olhar que caminha constantemente para fora e para o centro da figura. Também, em virtude dessa situação da ausência do quadro, o nosso imaginário busca completar o restante da cena. Enquadramento – O enquadramento corresponde ao tamanho da imagem, que neste caso é fechado. Pois a figura mostra uma imagem muito próxima do observador resultando num significado para chamar a atenção. Quanto ao ângulo de tomada é um ângulo que situa o observador na altura da figura da imagem o que confere força ao personagem. Escolha da objetiva – Na imagem não reconhecemos e não vemos uma profundidade de campo, indicando que na escolha da objetiva aproximou-se bastante, focalizando o máximo a figura e reforçando a expressão de angústia. 144 UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA Composição – A figura masculina é representada como sendo um índice. Encontra-se levemente inclinada da esquerda para a direita com equilíbrio assimétrico. Tem como conotação a ideia de algo que está para se movimentar a qualquer momento, e como denotação algo inquieto, em busca de um eixo ou um centro de equilíbrio, para buscar a razão de existir. Formas – Segundo Joly (1996), “A interpretação das formas, assim como das ferramentas plásticas, é essencialmente antropológica e cultural”. Nesta imagem, a forma que sobressai é de uma grande massa contornada com linhas curvas e constituída de sombras que vêm reforçar a obscuridade e inquietação em que deve estar a figura. Também, nesta forma, vemos a figura de um homem (significante) em posição de encolhimento (agachado). Para Rousseau, (1980), esta posição, exprime um significado psicológico de medo e de espera. No semblante assustado, estas atitudes também estão ligadas à defesa. Dimensões – A dimensão da imagem é grande, com o sentido de chamar nossa atenção de maneira que nossa mente apreenda e compreenda a imagem com facilidade e a torne instigante. Cores – De acordo com Vaz (2004, p. 169), “[...] o psíquico é a captação do mundo exterior e é a tradução ou reconstrução desse mundo exterior num mundo interior que se edifica sobre dois grandes eixos: o imaginário e o afetivo”. Na esfera psíquica a representação desse universo é a solidão, pois toda a imagem se encontra numa harmonia monocromática que deriva da cor marrom, que simbolicamente se assemelha mais ou menos ao preto. “O marrom cor das cascas das árvores, da terra, dos excrementos, comporta uma gama muito extensa de cores escuras, misturadas ao preto, carrega ideias de morte e degradação é signo do luto” (VAZ, 2004, p. 169). Esta imagem é monótona e negativa, expressando um valor simbólico muito forte de angústia, procura; medo etc. Iluminação – A iluminação ocorre de forma focal centralizada, dando uma ideia de dramatização à cena. Textura – A textura visual se dá pelas diferentes tonalidades da cor marrom e riscos aplicadas na superfície sugerindo significados de atração e repulsa. TÓPICO 2 | LEITURA DA IMAGEM PUBLICITÁRIA 145 Significantes Plásticos Significados Quadro – fora do campo de visão. Está ligado ao nosso imaginário. Enquadramento – fechado. Proximidade. Ângulo de tomada – altura da figura da imagem. Confere força ao personagem. Escolha da objetiva – sem profundidade de campo Focalização. Composição – levemente oblíqua da esquerda para a direita. Movimento, inquietação. Formas – massa volumétrica assimétrica com sombras, homem agachado, mãos. Obscuridade, medo, espera, defesa. Dimensões – grande. Para apreensão e compreensão da imagem. Cores – harmonia monocromática – (marrom). Luto, degradação, morte. Iluminação – foco, centralizada. Dramatização. Textura visual – lisa. Escorregadio. FONTE: A autora QUADRO 16 – SIGNIFICANTES PLÁSTICOS E SIGNIFICADOS Mensagem Icônica Os signos icônicos ou figurativos já foram parcialmente enumerados e descritos. A análise da mensagem icônica de acordo com Joly (1996), “[...] sublinha que a interpretação dos motivos ocorre por meio de processo de conotação e que essa interpretação, depende do saber do espectador e que, portanto, pode variar”. Nesta imagem, temos uma figura masculina descrita pelas características da barba e pelos nos braços. Este homem quase que central e em posição de encolhimento, demonstrando que ele é o centro da matéria em questão e numa atitude, que pode caminhar do medo à busca de proteção, atitude em função da postura dos braços e mãos. Síntese No caso da imagem em questão fica visível a busca do homem pós- moderno, muitas vezes perdido entre a relação do ser e ter. Percebemos, então, esta angústia que para muitos chegou e para outros está por vir, observação feita através dos elementos estruturais da obra, como: cores, linhas e traços que são captadas de forma rápida em função da estrutura ser simples. No entanto, interpretar esta imagem significa encontrar o que ela provoca em nós, no momento que a humanidade atravessa. Uma imagem repleta de significações que estão aqui e agora. Portanto, fazer esta análise não é querer descobrir o que o artista queria dizer, mas sim o que ela despertou em nós. Logo a função de leitura de imagem é ampla e não devemos nos ater somente à mensagem que é passada num primeiro momento. 146 Neste tópico, você viu que: • A imagem publicitária possui duas característicasbásicas: a intencionalidade e a facilidade de leitura. • A imagem publicitária é seguramente intencional e, portanto, essencialmente comunicativa e destinada a uma leitura pública. Oferece-se então como terreno privilegiado para a observação dos mecanismos de produção de sentido através da imagem. • A mensagem plástica é composta pelos elementos plásticos das imagens como: cores, formas, composição e textura que são signos plenos de significados e podem ser analisados da seguinte forma: quadro, enquadramento, ângulo de tomada, composição, formas, cores, iluminação e textura. • A mensagem ícônica leva a reconhecer um motivo que, depois de definido seu significado, nos remete a algo mais, ou seja, uma conotação de segundo nível. • A mensagem linguística é formada pelo conjunto de textos, frases, marcas que fazem parte da imagem publicitária. Deve ser visto a tipografia usada, a cor, a textura e sua função, se é de ancoragem ou revezamento. RESUMO DO TÓPICO 2 147 AUTOATIVIDADE 1 Por que na mensagem icônica os significados podem abranger mais de um nível? 2 O que pode fazer parte da mensagem linguística? 3 Quais os elementos que compreendem a mensagem plástica? 4 Em quem a autora Martine Joly se fundamenta para construir seu método de leitura de imagem publicitária? 5 Faça a leitura e interpretação da imagem da campanha das sandálias havaianas/2008, pela agência AlmapBBDO, segundo a autora Martine Joly. FONTE: Disponível em: <http://www.portaldapropaganda>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 84 – PUBLICIDADE DAS SANDÁLIAS HAVAIANAS Utilize os quadros para as mensagens: plástica e mensagem icônica. 148 149 TÓPICO 3 LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Para que tenhamos uma obra de arte, é necessário que alguém a crie. Todo produto artístico é resultado de experiências e de uma elaboração com significação única. A produção ou a leitura dessa criação vem cheia de referências pessoais e culturais presentes nos seus autores e leitores. Logo a leitura que se faz do mundo vem por meio dos nossos sentidos, da percepção, da imaginação, da intuição e do intelecto. Portanto, não somos passivos às informações que nos chegam, apenas selecionamos o que nos sensibiliza e então é feito um recorte da realidade, através do modo como olhamos e encaramos o mundo. Somos capazes de nos emocionar ou não perante os fatos, de pensar sobre eles; de rir, chorar, interpretar, expressar. Dessa maneira, o resultado de qualquer produção artística, terá a marca do artista, a de sua história, da sua ótica, em função até de suas experiências. A atividade de leitura de imagem como um processo educacional não deve se ater à aplicação dos modelos prontos. Ao contrário, devemos ter nesse processo educacional o princípio articulatório da proposta metodológica e buscarmos a fundamentação de cada uma. Escolher, criar e oportunizar os caminhos que melhor desenvolvam no aluno relações de conhecimento de arte e de vida é, sem dúvida, a proposta maior da leitura de imagem. 2 A OBRA É ABERTA Toda obra de arte é dirigida para alguém, pois o fruidor é quem completa a sua existência. Um rolo de filme que nunca foi projetado é apenas potencialmente arte, um livro que ninguém leu, mas que está ali é mais fácil de entender como uma obra. Mas como ler sons, gestos, cores, formas? Da mesma maneira que necessitamos decodificar as letras, as sílabas, a gramática, para a alfabetização nessa língua, o mesmo acontece com a arte. Como fazer com que imagens se tornem leituras agradáveis? Creio ser importante que a escola ao trabalhar com leitura de imagens estimule o aluno a enxergar além da obra. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 150 É a alfabetização visual, que vai contribuir no entendimento da obra de arte por parte do espectador. Quanto mais ele for alfabetizado na linguagem da arte, maior será sua compreensão e interpretação da leitura da obra. Esta linguagem da arte está relacionada com seus conhecimentos àquilo que se tem aprendido, com seu repertório, com suas vivências e experiências artísticas culturais. Se criarmos oportunidade para que a absorção da produção artística, pelos mais variados canais aconteça, teremos criado também um hábito de consumo, e certamente ao nos depararmos com obras de arte, saberemos reconhecer nela seu valor. E aí deixamos de reagir como muitas vezes vemos “indignados frente a uma obra, defendendo-nos da dificuldade em atribuir sentido, com a célebre interrogação: “Isto é arte?”. (MARTINS, 1998, p. 74). Caro(a) acadêmico(a)! Você já se deparou com situações desse tipo? O que fazer para fruir as obras a seguir? Faça um pouco de reflexão, depois discuta com os colegas. NOTA FONTE: Disponível em: <http://almadeumaborboleta.blogs.sapo>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 85 – OLHANDO A OBRA ABSTRATA TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 151 FONTE: Disponível em: <http://almadeumaborboleta.blogs.sapo>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 86 – O QUE VEJO NA TELA? Preste atenção no texto a seguir: “Qualidade de luz, cor, profundidade, Que estão aí diante de nós, Aí só estão porque despertam eco em nosso corpo, Porque este lhe dá acolhida”. FONTE: Disponível em: <http://douglasdickel.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 87 – O QUE SINTO NESTE ESPAÇO DE ARTE? UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 152 Maurice Merleau-Ponty Acredita Martins que se esta for a percepção sobre a obra vista e sentida, então a obra de alguma forma está aberta para nossos sentidos e somos capazes de fruí-la, sentindo-a no todo, na sua essência. Toda a obra está ali, pronta para ser entendida em todos os níveis de conhecimento e explorada em todos os sentidos da percepção. O importante é que estejamos preparados para esta semiose acontecer. (MARTINS, 1998). ATENCAO No filme “O Sorriso de Monalisa”, dirigido por Mike Newell, lançado em 2003, tendo Julia Roberts no papel de atriz principal, que fato aconteceu quando a professora de artes, interpretada por Júlia, mostrou a obra do artista Pollock? 2.1 LER É PRODUZIR SENTIDO Quando estamos lendo uma obra, estamos vendo sua forma, suas cores e seus espaços e tudo isto é relacionando ao significado correspondente, portanto, ao vermos cuidadosamente cada parte de uma estrutura da obra, é provocada em nós uma reação, que pode ser uma reação boa ou não agradável e talvez a reação não aconteça da forma esperada. Pois, também, somos tocados quando a obra nos causa estranheza. O significado de cada elemento que estrutura uma obra está relacionado a um significado específico, logo, aí está a importância de se conhecer o contexto da obra, para que a interpretação esteja aberta às várias e inesgotáveis possibilidades. Eis um exemplo que Martins (1998, p. 74) descreve muito bem, ou seja, situações de interpretações. “No trânsito, frente às cores do semáforo, a nossa leitura se prende a uma única possibilidade de interpretação. Nesse momento, lidamos com códigos fechados, que são signos utilitários, porque o homem lhes atribui um único significado para melhor organizar sua vida”. Mas quando estamos “diante do elemento cor na obra de arte, abre-se a possibilidade de múltiplas leituras. Nesse momento, você, enquanto espectador e fruidor, aprecia uma composição denominada estruturada por códigos abertos, cuja decodificação permite várias interpretações”. Portanto, cada espectador “vê a obra de acordo com a sua ótica” ou “de acordo com suas referências pessoais e culturais” (MARTINS, p. 75, 1998). E como já dissemos, quanto maior o conhecimento do espectador maior será as possibilidades de interpretações. TÓPICO 3 |LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 153 ATENCAO Quando apreciamos obras de arte, estamos fazendo a sua ressignificação. Nós a atualizamos produzindo interpretantes, de acordo com nossa sensibilidade atual. Então, conforme o que foi exposto acima, e seguindo a linha de pensamento de Martins (1998), “se as significações de produções mudam de pessoa para pessoa e até para a mesma pessoa, fica evidente que as obras produzidas no passado provavelmente não tinham, na época, a mesma significação que a elas atribuímos hoje”. No entanto, é fato que existem certas formas arquetípicas que continuam através dos tempos, e outras cujo sentido (não o racional, mas o metafórico, o simbólico), ainda conseguimos intuir. (MARTINS, 1998). Neste jogo de formas sígnicas, a interpretação pessoal vai depender muito de quem olha a obra e como a olha. Vejamos o que diz Pareyson sobre interpretação: ”A interpretação da obra ocorre quando se instaura uma simpatia, uma congenialidade, uma sintonia, um encontro entre um dos infinitos aspectos da forma e um dos infinitos pontos de vista da pessoa: interpretar significa conseguir sintonizar toda realidade de uma forma através da feliz adequação entre um dos seus aspectos e a perspectiva pessoal de quem a olha”. (PAREYSON, 1989, p. 176 apud MARTINS, 1998). Quando estamos lendo e sentindo a obra, estamos na verdade também fruindo esta obra. Você sabe por quê? NOTA Porque a fruição provoca reações intensas. A emoção, a sensação e o pensar que ela provoca em nós são ressonâncias internas provocadas pelas sutilezas da própria linguagem. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 154 Quando Martins (1998, p. 75) cita que, “a contemplação de uma produção artística nunca é passiva, algo de nós penetra na obra no mesmo tempo que somos por ela invadidos e despertados para novas sensibilidades”. Neste momento de apreciação da obra artística como apreciador é um momento de catarse diferente de quem criou a obra, uma catarse que provoca descargas de sentidos e emoções conduzindo o apreciador à fruição. Não podemos deixar de lembrar que a forma com que nos relacionamos com a obra de arte é diferente do relacionamento que temos com objetos do nosso cotidiano. Na obra de arte, nossa percepção é diferente, uma cadeira serve para sentar, a verdade na arte é outra, “o ser” do objeto artístico é outro, pois a arte inaugura outro campo de sentidos e significações. Onde a metáfora é a que fala. Portanto, essa comunicação feita por meio dos signos artísticos e a quantidade de pessoas que apreciam uma mesma obra de arte é que fazem surgir um vasto campo de interpretações (MARTINS, 1998). Creio ser importante e salutar esta diversidade de interpretações que a obra de arte é capaz de proporcionar. Vamos enfim lembrar que embora a obra de arte seja aberta e permita uma infinidade de leituras, é ela que dirige essa leitura. “Na experiência da fruição estética, é necessário deixar a obra ser, presença única sensível carregada de significado espiritual e de valor artístico”. (MARTINS, 1998, p. 76). 2.2 O ACESSO À PRODUÇÃO ARTÍSTICA Hoje o acesso ao mundo da arte, em função da tecnologia atual, é facilitado pela área da comunicação. Deixa de ser privilégio acessível apenas para alguns segmentos sociais de determinados países ou regiões e passa a ser acessível a qualquer pessoa. Em função da tecnologia e novos meios de comunicação a arte pode ser contemplada em nível mundial e a baixo custo pelo consumidor, pelos meios de comunicação e de exposições itinerantes de grandes coleções particulares e de museus. Temos ciência de que hoje a arte é de todos, portanto, é universal e que os bens culturais como museus, galerias, cinemas, teatros, patrimônios históricos são direitos de todos e não privilégio de alguns. O acesso à obra de arte também é promovido pelos museus, livros, catálogos, matérias especializados, ou pelo professor. Conforme Martins (1998, p. 76), neste contexto de acesso à obra de arte, “a mediação entre arte e público é uma tarefa que quando criadora, pode ampliar a potencialidade de atribuição de sentido à obra, por um fruidor tornado mais sensível”. As escolas podem e devem desenvolver este papel de mediadora também, para que desde cedo seja trabalhado na criança o olhar, a sensibilidade, as emoções que a arte proporciona. TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 155 Oportunizar o acesso à arte é “promover um contato que deixe canais abertos para os sentidos, emoções e percepções, pois a linguagem da arte fala e é lida por sua própria língua. Talvez seja esse o espaço do silêncio externo, com falas internas nem sempre traduzíveis”. Mas é pela arte que muitos falam e protestam, temos grandes mestres da pintura que se utilizaram da arte para protestar, como Picasso com Guernica ou Botero com suas figuras rotundas. As pessoas precisam aprender a ler as imagens da arte e dessa forma tornarem-se mais sensíveis, pois a arte caminha por este universo. (MARTINS, 1998). Há um aspecto que a tecnologia trouxe, que foi a questão da reprodução da obra de arte. Com esta questão, a obra passou a ser democratizada como abordamos acima. Porém, se por um lado a reprodução da obra de certa forma a democratiza, por outro, retira dela a sua “aura”, seu caráter irrepetível, de ser única no tempo e no espaço. (MARTINS, 1998). • Caro(a) acadêmico(a)! Quantas exposições você visitou nos últimos meses? • A quantos filmes, shows musicais e peças de teatro assistiu? • O que você, enquanto professor, oportunizou aos seus alunos de conhecimento e interpretação de obras de arte? • Todas estas situações estão próximas e são democratizadas e socializadas com o uso da internet. NOTA 3 METODOLOGIAS DE LEITURAS Propor a leitura de uma obra de arte é mediar, dar acesso, ver além, instigar a sensibilidade, promover o conhecimento, ampliar a possibilidade de produzir sentido. É um processo de recriação interna que segundo Martins (1998), não pode se restringir a um jogo de perguntas e respostas. Vários estudiosos do ensino de artes e arte-educação refletiram sobre suas práticas de leitura da obra de arte e chegaram a algumas metodologias específicas. (MARTINS, 1998). Existem várias metodologias para se fazer a leitura da obra de arte, algumas mais contidas outras nem tanto, aquelas que se fundamentam na semiótica, na Gestalt, na iconografia etc. O mais importante é que tornemos este processo significativo para o aprendiz. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 156 3.1 MÉTODO DE EDMUND BURKE FELDMAN É também conhecido como método comparativo da análise de obras de arte. Para Feldman aprender a linguagem da arte implica desenvolver técnica, crítica e criação, portanto, temos aí as dimensões sociais, culturais, criativas, psicológicas, antropológicas e históricas do homem. Ele destaca em sua teoria o desenvolvimento crítico da arte, para ele a capacidade crítica se desenvolve por meio do ato de ver, associado a princípios estéticos, éticos e históricos. (MARTINS, 1998). Feldman propôs um método comparativo de análise em que apresenta: algumas coisas para ver (com a seleção de algumas obras por algum critério), alguns problemas (em que coloca questões instigantes), algumas possibilidades (provocando a leitura) e o que você pode fazer (propondo ações expressivas). Seu processo de leitura envolve a descrição, a análise, a interpretação e o julgamento. (MARTINS, 1998). O conhecido método de Feldman é de comparação entre obras de arte de diferentes períodos e está pautado no apreciar, no conhecer e no fazer. Caro(a) acadêmico(a)! Feldman nunca propôs a leitura de uma única obra de arte. Sempre utiliza duas ou mais obras para que o estudante tire as suas conclusõesda leitura comparada. (BARBOSA, 2005). NOTA Seu processo de leitura envolve a: 1) Descrição (prestar atenção ao que se vê); 2) Análise (observar o comportamento do que se vê); 3) Interpretação (dar significado a obra de arte); 4) Julgamento (decidir acerca do valor de um objeto de arte. Neste método, ele demonstra o quanto se pode entender o mundo a partir de princípios simples dos elementos que estruturam a obra como linha, forma, textura, claro/escuro, cor, equilíbrio, unidade, repetição, proporção e do ponto de vista das características de construção com predominâncias diversas como agudeza, ordem, fantasia, emoção, e tendo em vista comportamentos apreciativos como empatia, distanciamento ou fusão com a obra de arte. (BARBOSA, 2005). TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 157 3.2 MÉTODO DE ROBERT WILLIAN OTT Para melhor esclarecer este método veja o que escreveu Christine Rizzi em sua tese de doutorado. A proposta de leitura de Robert Ott também conhecido como sistema de crítica artística Image Watching, constitui-se num sistema de seis momentos que estão integrados e articulados em categorias. Este método visa propor uma abordagem que estruturasse o contato dos indivíduos com as obras de arte, ao mesmo tempo em que garantisse a qualidade do processo de leitura das mesmas. O método de Ott se refere ao ensino de arte em museus e contribui para que o conhecimento seja construído a partir das obras de arte. O Image Watching, de Ott (1997), vem fornecer conceitos para a crítica voltada à produção artística relacionando o modo crítico e o criativo de aprender em arte-educação. Para ele, quando os alunos têm contato com as obras originais são desafiados à observação, adquirem mais conhecimento que serão úteis na hora da produção e, ainda, os que estão acostumados a observar arte em museus e galerias estão mais propensos à pesquisa artística que exerce um papel essencial em arte-educação. O Image Watching acontece através de cinco categorias, são elas: descrevendo, analisando, interpretando, fundamentando e revelando. Todo conhecimento gerado a partir do desenvolvimento dessas categorias pode ser expresso durante o trabalho de ateliê, uma vez que proporciona um sistema de crítica de arte tanto conceitual, perceptivo quanto interpretativo. As categorias são: 1 - Descrevendo – É o momento em que a percepção é priorizada e a enumeração do que está sendo visto é efetuada. 2 - Analisando – Enfoca e desenvolve os aspectos conceituais da leitura da obra de arte, utilizando para a análise formal da obra percebida conceitos da Crítica e da Estética. 3 - Interpretando – É o momento das respostas pessoais à obra de arte, objeto da apreciação, quando as pessoas expressam suas sensações, emoções e ideias a partir do contato com a materialidade da obra, seu vocabulário, gramática e sintaxe. 4 - Fundamentando – É o momento de trazer o conhecimento adicional disponível no campo da História da Arte, a respeito da obra e do artista que estão sendo objeto de conhecimento. A intenção é de ampliação do conhecimento e não de convencimento do aluno a respeito do valor da obra de arte. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 158 5 - Revelando – É o momento de culminância do processo de ensino da arte através da crítica de arte. Neste momento, o aluno tem a oportunidade de revelar, através do fazer artístico, o processo de construção de conhecimento por ele vivenciado, é quando o leitor é convidado a também se expressar. Podemos perceber que a proposta do professor Ott, embora seja sequencial e possa resultar em certa rigidez articulatória das cincos categorias, responde com propriedade a algumas propostas contemporâneas do ensino da arte como por exemplo. ao D.B.A.E.(Disciplined Based Art Education) americano ao contemplar as disciplinas Estética, História da Arte, Crítica e Fazer Artístico e à Abordagem Triangular do Ensino da Arte, ao incluir a categoria Fundamentando, que apresenta as características da atividade de Contextualização tal como nos propõe a Profa. Ana Mae Barbosa: A contextualização pode ser a mediação entre percepção, história, política, identidade, experiência e tecnologia, que transformará a tecnologia de mero princípio operativo em um modo de participação, tornando visíveis os mundos participatórios do consumo imediato. FONTE: RIZZI, Christine. Recorte da Tese de Doutoramento ECA/USP: “Olho Vivo: Arte Educação na exposição Labirinto da Moda – Uma Aventura Infantil”. Fevereiro de 2000. Disponível em: <www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php>. Acesso em: 26 fev. 2011. 3.3 MÉTODO DE MARJORIE E ROBERT WILSON E ALL HURWITZ Estes estudiosos interessam-se mais pela aprendizagem da arte através de sua leitura, com ênfase no desenho. Destacam cinco fatores que influenciam e que podem ser priorizados na leitura, conforme os objetivos do projeto: 1. Tema (assunto, símbolos); 2. Forma (composição, design); 3. Estilo (qualidade expressiva); 4. Meio (técnica); 5. Movimento (emoção, época). 3.4 MÉTODO DE ANA AMÉLIA BUENO BUORO Em seu percurso metodológico Buoro (2003) destaca a necessidade em mostrar ao aluno que arte é necessidade humana e que esta necessidade vem caminhando pelo campo da Arte e Cultura. Apresenta a produção artística de diferentes períodos artísticos propondo seis momentos para uma leitura de imagem: TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 159 3.5 METODOLOGIA TRIANGULAR No Brasil, a encarnação mais difundida dessas recentes tendências do ensino artístico é, sem dúvida, a chamada Metodologia ou Proposta Triangular, sistematizada pela arte-educadora Ana Mae Barbosa na década de 1980, e que envolve, como o próprio nome sugere, o trabalho em três vertentes mentais e sensoriais distintas: o fazer artístico, a leitura da obra de arte e contextualização da arte. (BARBOSA, 2005). O fazer artístico tem ligações na prática dos arte-educadores com o que chamamos de releitura: o sujeito (criança, adolescente, adulto) toma como estímulo para a sua criação artística não qualquer objeto natural ou imaginário, mas uma obra de arte (uma pintura, um desenho, uma escultura etc.), que não é encarada como um modelo a ser fielmente copiado mas, como um elemento capaz de proporcionar novas interpretações. (BARBOSA, 2005). O professor deve ser mediador neste processo de percepção e apropriação dos conhecimentos sobre questões voltadas ao universo artístico, para que o aluno possa de maneira concreta interpretar as obras, ver além das imagens e apreender, pela arte, aspectos sociais, morais, religiosos, políticos que fazem parte do seu contexto. Portanto, o objetivo principal desta proposta é reconhecer as manifestações e expressões de cada cultura, valorizando-as e tornando-as fonte de conhecimento.v 1. Descrição. 2. Descoberta de percursos visuais sobre a imagem, percebendo toda estruturação da composição e possibilitando o afloramento de questões e significações pertinentes e imanentes ao texto visual. 3. Percepção das relações entre a obra focalizada e a produção anterior realizada pelo artista produtor. 4. Momento de pesquisar: onde o aluno tenta aproximar-se mais do significado visual, eles sentem-se convidados a sair em busca das respostas que surgirão nesse processo de pesquisa. 5. Comparação ou diálogos entre obras da mesma época e produção atual. 6. Construção de texto verbal com registro do percurso empreendido, que abarque a significação do texto visual lido. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 160 Caro(a) acadêmico(a)! Cada pessoa vê e vive os fatos a sua maneira, a leitura não é única. É importante que se tenha clareza da necessidade da contextualização histórica e culturalda produção artístico-estética da Humanidade no processo de ensinar/aprender arte, assim como a necessidade da percepção e construção de conceitos artísticos que fundamentem esse contexto. Ocorrendo estes fatos teremos uma alfabetização visual que irá sem sombra de dúvida auxiliar no processo de crescimento educacional, social, político dos indivíduos tanto para quem faz como para quem aprecia a obra de arte. NOTA 4 SUGESTÕES EM SALA DE AULA 4.1 LEITURA COMPARADA PELO MÉTODO DE FELDMAN a) Nesta atividade pode ser sugerido aos alunos o estudo de comparação de linhas. Vamos utilizar um exemplo que Feldman propôs para o estudo da linha, em que a análise das diferenças e semelhanças entre as linhas onduladas de uma cadeira de balanço Thonet e da escultura de Calder The Hostess foram o foco do trabalho. (BARBOSA, 2005). Preste atenção nas etapas do método usado: 1. Descrição (prestar atenção ao que se vê). 2. Análise (observar o comportamento do que se vê). 3. Interpretação (dar significado a obra de arte). 4. Julgamento (decidir acerca do valor de um objeto de arte). Observando todo o percurso das linhas, tanto na cadeira como na escultura, preste atenção aos movimentos que estas linhas sugerem e nas suas semelhanças e diferenças. Onde encontramos este tipo de linha curva? Ela existe na natureza? Vários questionamentos devem surgir de acordo com cada etapa. No final, o aluno terá absorvido o conhecimento relacionado ao conteúdo, bem como ampliado seu referencial teórico e visual. TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 161 FONTE: Disponível em: <http://priscillacoelho.wordpress.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 88 – CADEIRA DE GEBRUDER THONET FONTE: Disponível em: <http://nordic-lotus.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 89 – THE HOSTESS - ALEXANDER CALDER b) Outra atividade pode ser proposta quando o objetivo for trabalhar pessoas e as relações existentes entre elas. As obras expostas para os alunos são: UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 162 FONTE: Disponível em: <http://www.apfel-saft.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 90 – MADONA DE RAFAEL FONTE: Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 91 – MENINAS – PABLO PICASSO • Trabalhe com os alunos questionando alguns problemas sobre as pessoas nas obras, por exemplo: são adultos, crianças, idosos, adolescentes, homens, mulheres? • Quantos anos as pessoas das obras têm? TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 163 • Depois discuta algumas possibilidades: existe alguma relação de afeto? Se existe, qual é esta relação? • Ao final dessas etapas, o professor poderá fazer com os alunos uma atividade em que a relação entre pessoas seja o foco principal. 4.2 LEITURA DE IMAGEM USANDO O MÉTODO DE ROSALIND RAGANS – DISCIPLINED BASED ART EDUCATION (COM ÊNFASE NA CRÍTICA) Rosalind foi aluna de Feldman, portanto, seu método é igual ao dele, apenas não usa outra imagem para comparar. A obra escolhida para ser analisada sobre ritmo e movimento é “A Noite Estrelada” de Vicente Van Gogh. FONTE: Disponível em: <http://euseieuvietal.blogspot.com/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 92 – NOITE ESTRELADA, 1888 – VINCENT VAN GOGH A atividade será trabalhar a apreciação artística no aperfeiçoamento da habilidade crítico-reflexivo. Sabemos que estas atividades são longas, portanto, serão desenvolvidas em mais de um encontro. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 164 Etapa 1 – Descrição: o que você vê? Aqui devem ser feitas muitas perguntas para que o aluno tenha realmente absorvidos todos os elementos da obra. Seguem algumas sugestões de perguntas conforme Barbosa (2005, p. 75): • Observe os créditos de A Noite Estrelada por Vincent Van Gogh (Óleo s/tela 73,7 x 92,1 cm. Coleção do Museu de Arte Moderna de Nova York adquirida através da doação de Lillie P. Bliss). • Que mistura foi usada para criar esta pintura? • Qual o tamanho da pintura? • Observe como a tinta foi aplicada à tela. • O que você vê? Peça aos alunos escreverem tudo o que reconhecem no primeiro plano. Depois liste o que reconheceram no plano do meio, ao fundo e no céu. Feito esta etapa, passe para a segunda etapa. Etapa 2 – Análise: como a obra é organizada? Deve ser pensado aqui em questões que demonstrem como o artista trabalhou em sua obra em relação ao ritmo, cores, espaços, efeitos etc. Sugestões, conforme Barbosa (2005, p. 75). • Antes de verificar como Van Gogh usou o ritmo, observe os diferentes elementos artísticos que ele emprega em sua obra. • Olhe a maneira como o artista arranjou as sombras, formas e espaço. • Existe algum espaço negativo totalmente vazio? • Qual o efeito expressivo das sombras maiores? • As cores neste trabalho são importantes, onde você encontra as cores mais brilhantes? • Estude as texturas, Van Gogh está tentando imitar as texturas reais dos objetos? • A textura das pinceladas é mostrada? Depois destas análises, segundo Barbosa (2005), o aluno está pronto para observar os ritmos visuais encontrados em A noite Estrelada. Etapa 3 – Interpretação: o aluno descreve o que está acontecendo, o que o artista está transmitindo. Sugestões de perguntas, Barbosa (2005, p. 75). TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 165 • O tema desta pintura não é o mais importante. A maneira como Van Gogh incluiu os elementos de arte e organizou-os utilizando o princípio do ritmo nos diz bastante a respeito de seus sentimentos. Que parte da pintura está mais viva, com ritmos dançantes? • Qual é a parte mais calma? • O que ela diz a você? Ao final dessas observações, peça para os alunos escreverem explicando sua interpretação. Em seguida, peça para criarem um novo título que expresse seus sentimentos sobre a obra. Etapa 4 – Julgamento: nesta etapa será feita uma espécie de reflexão sobre como o aluno pensa acerca da pintura, se gostou ou não, se a pintura mexeu com seus sentimentos e outras questões do gênero. Também é trabalhada com os alunos a biografia do artista para que possam conhecê-lo mais. 4.3 LEITURA DE IMAGEM PELO MÉTODO DE BUORO FONTE: Disponível em: <http://caranguejoantenado.blogspot.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 93 – CARNAVAL DE ARLEQUIM (1924-1925) – MIRÓ UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 166 Etapa 1 – Descrição: Propor a observação da reprodução da obra Carnaval de Arlequim (1924-1925) de Miró, em seguida conduzir as observações por meio de questões como: • O que vê? • O que mais vê? • O que mais ainda vê? O processo descritivo começa, então a ser trabalhado. Etapa 2 – Depois de realizada a leitura visual dessa obra, propõe-se aos alunos que, a partir do que viram e da imaginação criadora, façam a construção de um trabalho prático em que apareçam fragmentos da obra observada. Conforme Buoro (2003), é reforçada a questão que o trabalho é do aluno, não é o Carnaval de Arlequim como também eles não são Miró. Etapa 3 – É mostrado outro quadro chamado Interior holandês, demonstrando como Miró foi capaz de reinventar outro quadro a partir de um já existente. Etapa 4 – Momento de pesquisar: neste momento é solicitada para a aula a seguinte pesquisa sobre o artista. Muitos materiais são disponibilizados como livros e revistas mostrando a produção do artista e seu percurso histórico. Nesta etapa, o aluno é capaz de estabelecer as mais variadas relações entre obras observadas e rapidamente, consegue reconhecer o estilo do artista. (BUORO, 2003). Etapa 5 – Feitas as observações das imagens trazidas, a autora Buoro apresenta o livro Miró: Blue II, com diferentes possibilidades de brincadeiras visuais com a obra deMiró, fragmentando as pinturas em partes e reorganizando-as novamente. A proposta da leitura aos alunos é relacionar cada fragmento apresentado a ritmos e sons, formando um jogo sonoro que estabelece relações com formas contidas no quadro. (BUORO, 2003). Etapa 6 – Neste momento é pedido aos alunos que escrevam cartas, bilhetes ou pareceres sobre Miró e sua obra. Esse material acompanha a exposição. 4.4 LEITURA DA OBRA DE ANDRÉ NEVES O trabalho propõe leituras que caminham pelo aspecto da conotação e denotação da imagem, apreciação estética, considerações da História da Arte, podendo trabalhar a interdisciplinaridade. Vários tópicos serão apresentados aos alunos para discussão, que poderão mais tarde ser aprofundados com leituras. TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 167 FONTE: Disponível em: <http://www.jonasescritor.com.br/>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 94 – ILUSTRAÇÃO: ÁRVORE LEITURA, 2009 – ANDRÉ NEVES Se a sala tiver espaço, é bom que os alunos se posicionem em círculo. O professor irá mostrar a obra a ser lida e comenta sobre o artista. Poderá também ilustrar este momento com outras obras do mesmo artista, para que os alunos identifiquem aspectos estruturais semelhantes nas obras. • Para cada grupo deverá ser dado um tópico. • Após discussão em grupo são colocadas para toda a sala as conclusões de cada grupo. • Depois vem o momento de criação em grupo, cada grupo desenvolve sua produção de acordo com o tópico abordado. • Exposição dos trabalhos. Tópico para discussão A • O que se vê? • Quais as cores, as formas, os elementos mais marcantes? • Os elementos, cores e formas usadas causam alguma sensação? Qual? • Como esta obra foi feita? • O que a obra representa? UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 168 • É possível perceber a intenção do artista? • Como outros artistas fariam uma obra sobre o mesmo assunto? • É possível imaginar em que lugar essa árvore existia? • Existem elementos na obra que fazem lembrar outras coisas além da própria imagem? • A imagem pode ser considerada um símbolo? • O que é símbolo? • O que é imagem? • A imagem da Árvore da Vida é interessante, agradável, equilibrada, perfeita e bela? Tópico de discussão B • Sabendo-se do título da obra, o que se pode dizer? • Que outro título poderia ser dado à obra? • Como seria a sua leitura da árvore? • Esta obra poderia ter uma história? Qual? • Que perguntas podem surgir sobre o que a imagem faz pensar? Plano de discussão C • Onde se encontra a leitura? • Por que existe a leitura? • O que é leitura? • Como se pode expressar a compreensão da leitura? • Qual parte da imagem pode representar como é a leitura? TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 169 4.5 LEITURA DE OBRAS DE ARTE RELACIONADA POR TEMA Nesta atividade, os objetivos são: • Conhecer os artistas que exploram o tema. • Reconhecer pontos de semelhança. • Os estilos, técnicas. • Movimentos artísticos. • A crítica e o julgamento. Desenvolva o método que achar mais adequado! FONTE: Disponível em: <http://casadetolos.nireblog.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 95 – O BEIJO – PABLO PICASSO UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 170 FONTE: Disponível em: <http://casadetolos.nireblog.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 95 – O BEIJO – PABLO PICASSO FONTE: Disponível em: <http://casadetolos.nireblog.com>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 97 – ROY LIECHTENSTEIN TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 171 LEITURA COMPLEMENTAR LEITURA E RELEITURA: ESTABELECENDO RELAÇÕES Maria Helena Wagner Rossi e Isadora Demoliner Assim como há diferentes interpretações de um texto visual, há diferentes possibilidades de releituras desse texto. A releitura será sempre coerente com a compreensão que o aluno constrói na leitura de uma imagem/obra. Cada leitura revela o nível de complexidade cognitiva e o aprimoramento das ideias estéticas do aluno (ROSSI, 2003). A esses dois aspectos devem-se as diferenças entre as leituras e as releituras produzidas na escola. Para exemplificar, abordaremos alguns trabalhos recentemente realizados por alunos de uma escola particular em Caxias do Sul. O trabalho foi orientado pela professora Laura Rasia, membro do Grupo de Estudos/ Arte na Escola, Polo UCS, professora de Arte nos ensinos fundamental e médio. Para a realização desse trabalho, foi selecionada a imagem de Guernica (Figura 1), pintada por Pablo Picasso em 1937, que é considerada a mais poderosa denúncia contra os horrores da guerra. Nessa obra, Picasso refere-se ao bombardeio que destruiu a cidade espanhola de Guernica. Para a História da Arte, essa obra denota destruição, caos, dor, horror. Provavelmente todo adulto pode ver isso. No entanto, não podemos deduzir que todos os alunos leiam dessa maneira. Essa imagem enseja múltiplas leituras, conforme o desenvolvimento cognitivo e o nível de familiaridade do aluno com arte. E, conforme estamos defendendo, suas releituras revelam suas leituras. É importante que o professor conheça as possíveis leituras de seus alunos para que possa compreender as suas releituras e avaliar as suas propostas de trabalhos em arte. Guernica, de Pablo Picasso (1937) FONTE: Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/planos-aula/fundamental/ artes-o-cubismo-e-guernica.jhtm>. Acesso em: 31 mar. 2011. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 172 Figura 1: As séries iniciais A leitura da criança das séries iniciais enfoca o real, o concreto, o fisicamente representado na imagem. Para ela, a arte é literalmente a representação do mundo, das coisas que existem ou acontecem. O papel do artista é apenas transferir as características e as qualidades do mundo para a obra. Sendo o artista um copiador do mundo, deve submeter-se a ele tal como é. Em outras palavras, o artista não tem autonomia para 'manipular', para 'maquiar' o mundo que quer mostrar, visando à adequação às suas necessidades de expressão. Isto pode ser visto nas seguintes falas sobre Guernica: 'Tem um fantasma espiando. Estes estão fugindo!' (1ª série) 'Tem um prego na boca do dragão?' (1ª série) 'O homem caiu do cavalo. A porta estava aberta, aí as vacas entraram e começaram uma briga dentro do galpão. É um quadro engraçado porque está tudo quebrado'. (1ª série) 'Sobre o que é esta imagem?' 'Sobre umas pessoas e uns animais que estão dentro de um quarto'. (2ª série) 'Será que o artista queria mostrar alguma coisa com isso?' Ele queria mostrar que estava todo mundo brigando. Não é uma boa imagem porque mostra briga'. (3ª série) As crianças não demonstram consciência de que aquilo que descrevem não é a realidade, mas a interpretação dela, impregnada de conceitos e valores apreendidos em suas interações sociais. Elas interpretam e julgam as imagens com as mesmas considerações e os mesmos critérios que utilizam para se referirem às coisas representadas. Como seria a criação de uma releitura a partir dessa leitura? Se o aluno vê na imagem nada mais do que aquilo que está fisicamente nela representado, a releitura também estará relacionada às coisas concretas: o homem que caiu do cavalo, a briga das vacas no galpão, pessoas e animais dentro de um quarto, dragões, fantasmas, etc. Seriam releituras possíveis para as crianças pequenas, pois emergem de suas compreensões da imagem, à luz de suas experiências e de seus referenciais visuais. Se os alunos têm familiaridade com a leitura estética ainda nas séries iniciais, começam a enfatizar significados mais amplos, que por isso podem ser percebidos pelos outros. É o caso de interpretações que mencionam, por exemplo, guerra, batalha, luta entre homens e animais,destruição. O julgamento é sempre algo como: 'Não é um bom quadro, porque guerra é uma coisa ruim'. Tal leitura, encontrada até o ensino médio, mostra que os alunos ainda creem que a arte serve para mostrar os acontecimentos. Por esse motivo, ainda fundem o julgamento estético com o moral: são ruins as imagens que mostram coisas ruins. No entanto, são leituras que revelam maior complexidade, já que enfocam algo mais geral do que vacas brigando no galpão ou pessoas dentro de um quarto. TÓPICO 3 | LEITURA: QUANDO SENTIMOS A OBRA 173 Nesse nível de leitura, surgem as releituras que generalizam o significado atribuído à imagem, na maioria das vezes trazendo o tema para o cenário contemporâneo, como fez um aluno da 6ª série. Ele representou uma cena de guerra referindo-se claramente à Guerra no Iraque, generalizando, assim, o significado que atribuiu a Guernica: 'a guerra' (Figura 2). Figura 2: A guerra, releitura de Guernica feita por um aluno da 6ª série A leitura/releitura do adolescente Na adolescência, o pensamento formal permite maior abrangência de significados. Em contextos familiarizados com a leitura estética, a partir da 5ª ou 6ª séries, o aluno pode pensar em possibilidades, em contextos hipotéticos. Consciente de sua capacidade reflexiva, ele sabe que está atribuindo um significado entre outros possíveis, ponderando argumentos, lidando com hipóteses. O adolescente vive em um mundo de ideias, conceitos e proposições, e não mais de objetos concretos. Nesse mundo de abstrações, a leitura prioriza a expressividade da obra, revelando sentidos subjetivos. O importante agora é uma mensagem, uma ideia que permita a reflexão sobre questões relevantes. Alguns significados atribuídos a Guernica por alunos de ensino médio foram: o caos, o horror, a ditadura, o autoritarismo, o poder, a dor, a agonia dos inocentes, o protesto contra a guerra, o poder (de) destruir (Figura 3), a perda (ou a história se repete) (Figura 4), a mutilação da humanidade, em que as pessoas, dilaceradas, não têm faces, apenas lágrimas (Figura 5). Figura 3: Poder (de) destruir, releitura de Guernica feita por uma aluna do ensino médio. Esses alunos afastaram-se do que está fisicamente representado na imagem, revelando suas subjetividades na interpretação. Isto se deu tanto na leitura quanto na releitura. Eles foram capazes de eleger apenas um dos aspectos abordados na leitura e, a partir daí, estruturar um novo texto. Na Figura 3, com exceção da flor e da luz à direita, não aparecem referências explícitas a Guernica. A aluna enfatizou o que lhe foi mais significativo em sua leitura: o poder que destrói. Na Figura 4, a aluna remete claramente à mãe que segura o filho morto, mas atualiza o tema da perda, representando um soldado que segura sua companheira de luta. Na Figura 5, a referência à obra lida reside apenas na cor, ou melhor, na 'não cor', que representa a ausência da vida nos seres mutilados. Essas releituras diferenciam-se das anteriores por apresentarem um deslocamento maior em relação à obra lida. Esses alunos foram capazes de ressignificar os elementos de Guernica a partir de suas visões de mundo, desconstruindo-a para construírem as suas obras. UNIDADE 3 | LEITURA DE IMAGEM FORMAL, INFORMAL, INTERPRETATIVA E CONTEXTUALIZADA 174 Figura 4: A perda (ou A história se repete), releitura de Guernica feita por uma aluna do ensino médio. Figura 5: A mutilação, releitura de Guernica feita por um aluno da 8ª série. Considerações finais As possibilidades de leitura e releitura não param aqui. Há ainda a leitura que é impregnada da apreciação crítica que o mundo da arte faz sobre a obra, situando-a em um contexto histórico-cultural. Com essa leitura sofisticada, o aluno não tem interesse em dar continuidade ao que já foi dito sobre a obra. Sua releitura acontece no nível da transgressão, da paródia. Nesse nível, a releitura é 'um processo de liberação do discurso. É uma tomada de consciência crítica' (Sant’Anna, 1995, p. 31). Contudo, transgredir não é aniquilar. Ao contrário, é um meio de homenagear a arte. Quando Lichtenstein fazia releituras de obras dos expressionistas abstratos, não tinha a intenção de apagá-las da História da Arte. Sua intenção era homenagear os artistas que admirava. Talvez não seja fácil, nem possível, para a maioria dos alunos de hoje realizar esse tipo de releitura, porque, como já dissemos, a releitura é concebida a partir de cada leitura. E, como a educação estética nunca foi prioridade na escola, não surpreende que encontremos alunos, até mesmo no ensino médio, com leituras e releituras que enfocam o tema no sentido estritamente físico, ficando, assim, muito próximas do texto lido. Nessa caminhada, até chegar ao nível das paródias de Lichtenstein e de muitos outros artistas, há um crescente grau de criatividade, de deslocamento e de reconstrução. Entretanto, isso não significa que uma releitura seja melhor do que outra, o que mal comparando, seria como dizer que o adolescente é melhor do que a criança. A releitura da criança é de outro nível, de uma natureza diferente daquela produzida pelo adolescente, pois a sua cognição e o seu desenvolvimento estético também são diferentes. Na criança, o afastamento da imagem original pode ser mínimo, devido à sua constante busca pelo concreto. Já o adolescente, cuja leitura considera a sua subjetividade e a do artista, pode reler transcendendo o concreto. E, quanto maior é a familiaridade com a leitura estética, mais precocemente aparecem interpretações abrangentes e subjetivas. Em vista disso, cabe ao educador em arte saber quais são as possibilidades de releitura de seus alunos. Quais são os seus referenciais? Quais são os seus pontos de partida para a releitura? Para conhecê-los, basta prestar atenção à sua leitura. Certamente eles estão lá, já que existe uma imprescindível relação entre releitura e leitura. Referências Bibliográficas ROSSI, M.H.W. Imagens que falam: leitura da arte na escola. Porto Alegre: Mediação, 2003. SANT’ANNA, A.R. Paródia, paráfrase & Cia. São Paulo: Ática, 1995. FONTE: Disponível em: <http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=7>. Acesso em: 31 mar. 2011. 175 Neste tópico, você viu que: • Toda a leitura que se faz do mundo vem por meio dos nossos sentidos, da percepção, da imaginação, da intuição e do intelecto. • É a alfabetização visual, que vai contribuir no entendimento da obra de arte por parte do espectador. Quanto mais ele for alfabetizado na linguagem da arte, maior será sua compreensão e interpretação da leitura da obra. • O significado de cada elemento que estrutura uma obra está relacionado a um significado específico. Logo aí está a importância de se conhecer o contexto da obra, para que a interpretação esteja aberta às várias e inesgotáveis possibilidades. • Em função da tecnologia e novos meios de comunicação, a arte pode ser contemplada em nível mundial e a baixo custo pelo consumidor. • Existem várias metodologias para se fazer a leitura da obra de arte, algumas mais contidas outras nem tanto, aquelas que se fundamentam na semiótica, na Gestalt, na iconografia, etc. O mais importante é que tornemos este processo significativo para o aprendiz. • Aprendemos sobre os seguintes métodos: Método de Edmund Burke Feldman, Método de Robert Willian Ott, Método de Marjorie e Robert Wilson e All Hurwitz, Método de Ana Amélia Bueno Buoro e a Metodologia Triangular. • Percebemos que na Metodologia Triangular, o fazer artístico tem ligações na prática dos arte-educadores que chamamos de releitura. RESUMO DO TÓPICO 3 176 AUTOATIVIDADE 1 O que é ler imagens? 2 Porque dizemos que a obra é aberta? Qual o significado disto? 3 Quais as maneiras de acesso à arte? 4 Quais as etapas do métodode Feldman para a leitura de imagem da obra de arte? 5 Na Metodologia Triangular, qual o objetivo principal? 6 Utilize uma metodologia estudada para a leitura da obra de Salvador Dali. FONTE: Disponível em: <http://www.ufjf.br/dircom>. Acesso em: 22 mar. 2011. FIGURA 98 – PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA (1931) – SALVADOR DALI 177 REFERÊNCIAS AMARAL, Suely. Teoria da comunicação: Emissor, mensagem e receptor. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1706u16.jhtm>. Acesso em: 14 mar. 2011. AUMONT, Jacques. A imagem. Tradução de: Estela dos Santos; Abreu Santoro; Cláudio C. Santoro. São Paulo: Papirus, 1993. BARBOSA, Ana Mae Tavares. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. 6. ed. São Paulo: Pespectiva, 2005. BERGER, John. Modos de ver. Tradução de: Lúcia Olinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. BUORO, Anamélia Bueno. O olhar em construção. São Paulo: Cortez, 2003. 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