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1 FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR SANTA BÁRBARA CURSO DE DIREITO LUKAS RAFAEL MARTINS DA SILVA RENATA DUARTE DOS SANTOS O DIREITO SOCIETÁRIO NA ATUALIDADE: sociedades não personificadas e seus impactos sociais. TATUÍ – SP 2020 2 LUKAS RAFAEL MARTINS DA SILVA RENATA DUARTE DOS SANTOS O DIREITO SOCIETÁRIO NA ATUALIDADE: sociedades não personificadas e seus impactos sociais. Trabalho Acadêmico apresentado à disciplina Direito Empresarial II, do Curso de Direito, da Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara – FAESB. Professora Especialista Mirella Franchini. TATUÍ – SP 2020 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4 2 SOCIEDADES ..................................................................................................... 5 2.1 Conceito ........................................................................................................ 5 2.2 Classificação das sociedades ..................................................................... 6 2.3 Personalidade jurídica das sociedades ..................................................... 6 2.4 Sociedades despersonalizadas .................................................................. 7 3 SOCIEDADES EM COMUM (DE FATO OU IRREGULAR) ................................. 9 3.1 Prova de existência .................................................................................... 10 3.2 Responsabilidade dos sócios ................................................................... 10 4 SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO ................................................ 12 5 CONCLUSÃO .................................................................................................... 16 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18 4 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho primazia abordar os diversos aspectos que envolvem o direito societário na atualidade, em especial as sociedades não personificadas e seus impactos sociais. O objetivo é demonstrar o funcionamento, aplicação e elementos destas sociedades, permitindo a reflexão de seus impactos sociais na atualidade. O Código Civil define “empresário” como o profissional que exerce atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços (art. 966), sujeitando-o às disposições de lei referentes à matéria mercantil (art. 2.037). Waldemar Ferreira1, em seu livro “Sociedades Irregulares”, definia as sociedades comerciais: “como do casulo sai à borboleta, do registro do contrato social emerge a pessoa jurídica de direito privado, cuja existência, desde então, começa legalmente, distinta da de cada um e da de todos os seus membros”. Com as aulas de Direito Empresarial I e II, é foi possível identificar que as sociedades registram-se para desfrutar dos benefícios garantidos a elas e escapar das penalidades impostas pelo Estado, como veremos no deslinde deste artigo. A Sociedade em Comum e a Sociedade em Conta de Participação são sociedades apartadas da personalidade jurídica, sendo, portanto não personificadas. Como resultado, dão início ao seu funcionamento, desenvolvem suas atividades e extinguem-se sem uma personalidade jurídica própria, fazendo com que os sócios arquem com seu patrimônio pessoal para com suas custas de todo esse percurso. Neste liame, em busca de expandir nossos conhecimentos sobre o comportamento destas sociedades, é importante observar o impacto da ausência da personalidade jurídica, responsabilidade dos sócios e seus riscos. Para tanto, usa-se como metodologia de pesquisa o Código Civil, doutrinas especificados do Direito Empresarial/Comercial. 1 Waldemar Martins Ferreira (1885-1964), reconhecido pela Ordem dos Advogados do Brasil do estado de São Paulo como o mais inspirado e produtivo teórico do Direito Comercial brasileiro. (OABSP, 2020). 5 2 SOCIEDADES 2.1 Conceito É possível encontrar a conceituação de sociedade no Código Civil de 2002, Art. 981 que diz: “Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Entretanto, esse conceito já era abordado no antigo Código Civil de 1916. Contudo, tanto em 1916, quanto em 2002, o legislador pátrio definia a sociedade, em síntese, como uma organização de pessoas em busca determinado interesse mutuo, que para tanto unem forças, bens e serviços para chegar a tal resultado. Sabemos que para a constituição de uma sociedade é necessário atender aos requisitos do Art. 972, CC, ou seja, estar em pleno gozo da capacidade civil e não estar legalmente impedidos, além de necessariamente ter o animus de constituir tal sociedade, baseado no princípio do livre arbítrio ou livre intenção. Ricardo Negrão2 aborda o tema, relatando que “embora o art. 44 do CC inclua as sociedades como pessoas jurídicas, nem toda sociedade possui personalidade jurídica”, em seguida usa o artigo 981 do CC para conceituar “sociedade” e observa elementos neste artigo, são eles: a) contrato: por instrumento público ou particular, registrado (todas as sociedades personificadas) ou não levado a registro (sociedade em comum e em conta de participação); b) pessoas: a expressão genérica serve para abranger todas as possibilidades legais, isto porque a sociedade em nome coletivo somente pode ser constituída por pessoas naturais (CC, art. 1.039); a sociedade subsidiária integral somente pode ser constituída por pessoa jurídica (LSA, art. 251); a sociedade em comandita simples deve ser necessariamente formada por pessoas naturais na qualidade de sócios comanditados (CC, art. 1.045) e por pessoas naturais ou jurídicas como sócios comanditários; 2 Ricardo José Negrão Nogueira, Desembargador em São Paulo (Tribunal de Justiça de São Paulo). Como escritor e professor, atua principalmente nos seguintes temas: Direito Falimentar, Direito Empresarial, Falência, Direito Comercial e Recuperação Judicial. Assina Ricardo Negrão em suas obras e acórdãos proferidos no Poder Judiciário Paulista. Mestre e Doutor em Direito Comercial pela PUC-SP. (CNPQ, 2020). 6 c) contribuição com bens e/ou serviços e partilha dos resultados: a contribuição pessoal é essencial à constituição da sociedade, bem como a partilha dos resultados, sob pena de configurar-se sociedade leonina. A definição do objeto social – atividade empresarial ou atividade intelectual, científica, literária ou artística – distinguirá as sociedades em empresárias e não empresárias. [negrito nosso]. (NEGRÃO, 2014, p. 24). Através destes elementos destaca a sociedade em comum e em conta de participação (item “a”), bem como distingue as sociedades subsidiárias integrais e as sociedades em comanditas (item “b”), além de citar a necessidade da contribuição pessoal dos sócios, bem como a partilha dos resultados. 2.2 Classificação das sociedades Para melhor aproveitamento deste estudo, providenciamos a classificação de como a legislação divide as sociedades: Sociedade em comum – arts. 986 a 940, do CC; Sociedade em conta de participação – arts. 991 a 996, do CC; Sociedade simples – arts 997 a 1.000, do CC; Sociedade em nome coletivo – arts. 1.039 a 1.044, do CC; Sociedade em comandita simples – arts. 1.045 a 1.051, do CC; Sociedade limitada – arts. 1.052 a 1.087, do CC; Sociedade anônima – arts. 1.088 a 1.089, do CC; Sociedade em comandita por ações – arts. 1.090 a 1.092, do CC; Sociedade cooperativa – arts. 1.093 a 1.096, do CC. (BRASIL, 2020).Ulteriormente estabelecida esta divisão, com a ajuda do CC, faz-se ainda mais duas divisões necessárias: sociedades personificadas e sociedades não personificadas (que é o objeto de nosso estudo). Conforme a divisão feita, como exposto acima, desmembramos a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação que são as desprovidas de personalidade jurídica, ao tempo que as restantes são providas da mesma. Veremos a seguir as consequências da presença e principalmente a ausência desta personalidade. 2.3 Personalidade jurídica das sociedades 7 Para compreendermos sobre o tema, utilizaremos os ensinamentos de Tarcísio Teixeira3: A sociedade, enquanto um acordo entre sócios surge com o contrato (verbal ou escrito); no entanto, para que essa sociedade tenha existência própria e personalidade jurídica é indispensável atender ao que determina a lei. (...) Personalidade jurídica é o fato pelo qual um ente, no caso a sociedade, torna-se capaz de adquirir direitos e contrair obrigações, ou seja, de realizar negócios jurídicos. Com isso, a personalidade jurídica confere à sociedade uma existência diversa em relação aos sócios, sendo então uma entidade jurídica individualizada e autônoma. Adquire-se a personalidade jurídica pelo registro do ato constitutivo (contrato social) da sociedade no registro próprio. (...) Em outros termos, a personalidade jurídica da “sociedade empresária” é adquirida com seu registro no Registro Público das Empresas Mercantis (Junta Comercial), e a “sociedade simples”, ao se registrar no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (CC, art. 985 c/c arts. 45 e 1.150). (TEIXEIRA, 2018, p. 153). Salienta-se que se convizinha ao termo ‘personalidade civil’ fundamentado no artigo 2º do CC, que prevê: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”. Isso acontece, porque ambos os termos tem o mesmo berço. O intento deste é testemunhar ao passo em que a sociedade é formalizada legalmente, eclode uma nova personalidade, como alusão ao artigo 2º do CC, e através desta recém- nascida personalidade, pode adquirir direitos e contrair obrigações, assim como na personalidade civil. 2.4 Sociedades despersonalizadas Como visto na asserção antecedente, a personalidade jurídica é automaticamente adquirida através formalização de uma sociedade; sem embargo, há sociedades que não gozam desta. Tais sociedades são rotineiramente chamadas de sociedade em comum, como apresenta o código civil, ainda assim, também chamada de sociedade de fato ou sociedade irregular. Estas são sempre aquelas que têm um contrato social (escrito ou não) que não teve seu registro efetivado junto ao órgão responsável (Junta Comercial), porém, estão em funcionamento de fato. 3 Tarcísio Teixeira, Estudioso, Doutrinador, Autor, Doutor e Mestre em Direito Empresarial (Comercial) pela Faculdade de Direito da USP - Largo São Francisco. Pós-graduado/Especialista em Direito Empresarial pela Escola Paulista da Magistratura - EPM. Palestrante. Professor Universitário de Graduação, Especialização e "Stricto Sensu". Jurista especializado em Direito Eletrônico (Novas Tecnologias), Empresarial e Contratual. (CNPQ, 2020). 8 O objetivo jurídico é fazer com que a sociedade vivida na informalidade não seja atrativa aos sócios, pois, ao criar estas duas modalidades de sociedades (em comum e em conta de participação), não tira a responsabilidade jurídica de tal sociedade, mas estipula que as sociedades que arquem os sócios solidaria e ilimitadamente com as obrigações, como forma de sanção pela ausência de registro, enquanto as sociedades que têm personalidade jurídica têm patrimônio próprio e este patrimônio que arca com as obrigações e responsabilidades em seu lugar, como prevê o artigo 990 do Código Civil, no capítulo Da Sociedade em Comum. Segundo Luciana Pimenta4, “nas sociedades com personalidade jurídica, primeiro se busca o adimplemento das obrigações sociais pelo patrimônio da sociedade. Somente depois de exaurido este, e em casos determinados, pode-se alcançar o patrimônio dos sócios”. (PIMENTA, 2015, p. 69). 4 Luciana R. Pimenta, autora de três livros publicados pela editora saraiva, sendo eles: “Tributário para quem Odeia Tributário”, “Empresarial para quem Odeia Empresarial”, ‘Manual de Dicas – Analista de Tribunais – Questões comentadas. “Coleção Passe em Concurso Público – parte de Direito Tributário”. Além de autora, advogada e coordenadora pedagógica de cursos online. (PIMENTA, 2015, p. 2). 9 3 SOCIEDADES EM COMUM (DE FATO OU IRREGULAR) Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. (BRASIL, 2020). Segundo André Santa Cruz:5 Sociedade em comum, portanto, é aquela que ainda não inscreveu seus atos constitutivos no órgão competente (...) como é o registro que confere personalidade jurídica ás sociedades (art. 985 do CC), a sociedade em comum não possui personalidade jurídica, obviamente. (...) Trata-se, na verdade, de uma sociedade em processo de constituição: como uma sociedade não é constituída de imediato existe um lapso temporal entre o momento em que os sócios se decidem pela constituição e o momento em que ela é efetivamente constituída. (CRUZ, 2020). O consenso doutrinário é que essa sociedade funciona, podendo ter seu nome social, localização ajustada, ter empregados, circulação de bens ou execução de prestações de serviços, porém, não personificadas por falta do registro devido. Waldo Fazzio Júnior simplifica o conceito da irregularidade das sociedades em comum sustentando que: A sociedade em comum (irregular ou de fato) é um fantasma jurídico cuja existência é presumida para o fim de que seus membros respondam pelos atos praticados como se ela existisse. Para o desfrute de direitos é diferente; precisa ser uma pessoa jurídica. O único efeito juridicamente relevante da sociedade em comum é a possibilidade de responder. (FAZZIO JUNIOR, 2016, p. 122). Alguns doutrinadores destoam sobre a junção da categoria sociedade em comum a sociedade de fato e irregulares, neste pensamento, André Santa Cruz nos traz seu parecer: Portanto, sociedade em comum, sociedade de fato e sociedade irregular são categorias distintas: (i) sociedade de fato é a sociedade sem contrato escrito, que já está exercendo suas atividades sem nenhum indício de que seus sócios estejam tomando as providências necessárias à sua regularização; (ii) sociedade em comum é a sociedade contratual em formação, isto é, aquela que tem contrato escrito e que está realizando os atos preparatórios para o seu registro perante o órgão competente, antes de iniciar a exploração do seu objeto social; e (iii) sociedade irregular é a sociedade com contrato escrito e registrado, que já iniciou suas atividades normais, mas que apresenta irregularidade superveniente ao registro (por exemplo: não averbou alterações do contrato social). (negrito do original. CRUZ, 2018, p. 320, 321). 5 André Santa Cruz, Procurador Federal. Bacharel e Mestre em Direito Processual Civil pela UFPE. Pós-graduado em Direito da Economia e da Empresa pela FGV-RJ. Pós-graduado em Direito da Concorrência pela FGV-SP. Doutor em Direito Empresarial pela PUC-SP. Professor de Direito Empresarial do Centro Universitário IESB-DF. (CNPQ, 2020). 10 Porém, o próprio André Santa Cruz, observa que o desmembramento desta categoria de sociedade na prática não funciona, vejamos: Nada impede, todavia, que eventualmente se apliquem as normas da sociedade em comum (arts. 986 a 990 do Código Civil) às sociedades de fato e às sociedades irregulares, por analogia. Nesse sentido,confira-se o Enunciado 383 do CJF: “A falta de registro do contrato social (irregularidade originária – art. 998) ou de alteração contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade superveniente – art. 999, parágrafo único) conduzem à aplicação das regras da sociedade em comum (art. 986)”. (CRUZ, 2018, p. 321). Portanto, mesmo que doutrinadores discutam sobre a classificação da sociedade em comum, irregular e de fato, as mesmas utilizam-se dos mesmos dispositivos legais, aplicando-se as mesmas consequências, previstas nos mesmos artigos, fazendo-se que na prática a separação não exista de fato. 3.1 Prova de existência O art. 987 do CC estabelece que “os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo”. Este artigo preocupa-se em regular a prova da sua existência, pois não possuem registro formal e consequentemente, não possuem personalidade jurídica. Portanto, no que se refere à prova da existência da sociedade em comum, dispôs o Código Civil que os terceiros, nas demandas judiciais que eventualmente necessitarem propor contra essa sociedade, podem prová-la por qualquer meio de prova. Em contrapartida, se quem necessita provar a existência da sociedade são os seus próprios sócios – com a finalidade, por exemplo, de discutir a partilha dos investimentos –, só se admite a prova por escrito, ou seja, a apresentação do instrumento contratual ou, pelo menos, um documento que comprove que o terceiro sabia estar negociando com a “sociedade”, e não com o sócio. (CRUZ, 2018, p. 321). 3.2 Responsabilidade dos sócios Como visto anteriormente, esta sociedade não é dotada de personalidade jurídica, consequentemente, não é possível que as obrigações e responsabilidades 11 sem suportadas pela sociedade, porém deverá ser suportada pelos sócios, como previsto no artigo 990 do CC. Portanto, André Santa Cruz enfatiza que: Preferiu o legislador estabelecer a responsabilidade ilimitada, porém subsidiária, dos sócios em geral, e a responsabilidade ilimitada e direta somente do sócio que contratou pela sociedade. (CRUZ, 2018, p.323). Porém, André Santa Cruz comunga que deve ser aplicado a estas sociedades primeiramente o previsto no artigo 988 do CC “os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum”, alegando que mesmo a sociedade em comum não tendo personalidade jurídica, há patrimônio comum à sociedade para ser executado em caso de inadimplemento de obrigações e responsabilidades. Comunga André Santa Cruz que: É contra esses bens que os credores sociais devem se voltar. Os bens não afetados ao exercício da empresa são bens pessoais dos sócios, portanto só podem ser executados depois de exaurido o “patrimônio social” a que se refere o artigo em referência. (CRUZ, 2018, p. 323). Diante destas condições, uma vez caracterizada tal sociedade, poderão os credores primeiramente verificar os bens da sociedade em comum e após penhorar os bens particulares de qualquer um dos sócios, especialmente aquele que contratou pela sociedade, segundo o artigo 990, 1.024 e 988 do CC. Nas aulas de Direito Empresarial I, ministradas pelo Professor Especialista Cesar Mazzoni6, foi explanado que, por tais sociedades não estarem adequadamente registradas, por dedução lógica não gozam de uma matrícula junto ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS); acabam por sonegar impostos ou declarar indevidamente, por não ter uma inscrição correta no Cadastro Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ); não podem ser contratadas pelo Poder Público (pois este tem exigências claras quanto a isso); não tem legitimidade para pedir falência e impetrar concordata e ainda sofrer processos trabalhistas. 6 Cesar Augustus Mazzoni, possui graduação em Direito pela Universidade Paulista (2002) e Pós- graduação em Direito Empresarial (2012) e em Direito Administrativo (2019). Atualmente é professor da FAESB - Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara de Tatuí nas matérias de Direito Administrativo, Direito Processual Civil - Procedimentos Especiais e Hermenêutica Jurídica. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Administrativo, Aeronáutico, Civil e Empresarial. Auditor do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da FBVV (Federação Brasileira de Voo a Vela) indicado pelo Conselho Federal da OAB e OAB Seção São Paulo. (CNPQ, 2020). 12 4 SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO A Sociedade em Conta de Participação, tal como a Sociedade em Comum, não é personificada, ou seja, nenhuma das duas tem seus atos registrados no órgão competente. Segundo Maria Gonçalves, “o fato de serem secretas ou ocultas não significa que sejam ilícitas, nem irregulares” (GONÇALVES, 2012, p. 122). Esta, é diferente da Sociedade em Comum, pois, a Sociedade em Comum é uma sociedade que age de modo irregular, porém, a Sociedade em Conta de Participação não é obrigada a registrar seus atos constitutivos, sendo facultativo fazê-lo, pois de qualquer modo, não lhe será garantida personalidade jurídica. A sociedade em conta de participação, segundo Luciana Pimenta “é a única sociedade que não adota nome empresarial. lsso porque ninguém pode saber que essa sociedade existe. É top secret”. (PIMENTA, 2015, p. 56). Segundo André Santa Cruz, a doutrina a chama de sociedade secreta. Pois, na verdade, não se trata, propriamente, de uma sociedade, mas de um contrato especial de investimento. Porém, a doutrina ainda comunga que tecnicamente, portanto, não deveria nem mesmo ser considerada uma espécie de sociedade. O art. 991 do CC dispõe que “na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes”. Porém, a doutrina nos mostra a presença de mais um sócio, o chamado sócio oculto. O que chama atenção nesse tipo de sociedade é que um dos sócios é “oculto” exatamente por não aparecer na dita sociedade, ou seja, uma sociedade que só existe internamente entre eles, pois diante das outras pessoas só existe o sócio ostensivo, que é responsável por todas as obrigações e responsabilidades da sociedade, a qual arca sozinho. Entretanto, dividem os resultados. Como esta sociedade não tem personalidade jurídica, não pode assumir qualquer obrigação em seu nome, sendo o sócio ostensivo quem responde direta e ilimitadamente pelas obrigações sociais. 13 Falindo o sócio ostensivo (que é um empresário), ocorrerá a dissolução da sociedade em conta de participação e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário (art. 994, § 2º). A liquidação dessa sociedade seguirá as normas relativas à prestação de contas, previstas nos arts. 914 a 919 do Código de Processo Civil. Se houver mais de um sócio ostensivo, as contas serão prestadas e julgadas no mesmo processo (art. 996, parágrafo único). Se quem falir for o sócio participativo, o contrato social ficará sujeito às regras que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido (art. 994, § 3º). Interessante notar que, como as sociedades em conta de participação possuem natureza secreta, não dispõem de nome empresarial. (GONÇALVES, 2012, p. 123). Como exposto acima, está sociedade poderá falir, dissolvendo a sociedade, mesmo não tendo uma personalidade jurídica como sociedade, nem mesmo tendo um nome empresarial ou formalização, como disposto a seguir: Essa sociedade pode ser formada independentemente de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito (art. 992). O contrato social somente produz efeitos entre seus sócios, e pode ser registrado no Ofício de Registro de Títulose Documentos apenas para melhor resguardar os interesses dos contratantes. Veja-se que, ainda que o contrato social seja levado a registro, não lhe será conferida personalidade jurídica (art. 993). Às sociedades em conta de participação aplicam-se, subsidiariamente, no que couber, as regras das sociedades simples (art. 966, 1ª parte). (GONÇALVES, 2012, p. 123). O sócio ostensivo é o que aprece para terceiros, realiza o objeto social e responde ilimitadamente. Somente a ele podem ser cobradas as dívidas e ser alvo de falência. O sócio participante/oculto não aparece perante terceiros, consequentemente não responde perante terceiros. Segundo Ricardo Negrão, são características da sociedade em conta de participação: a) Exercício da atividade: a atividade é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu próprio nome, sem a adoção de nome social. O sócio participante não pode tomar parte nas relações com terceiros, sob pena de responder solidariamente com o sócio ostensivo. b) Responsabilidade perante terceiros: somente o sócio ostensivo se obriga perante terceiros. c) Prova da sociedade: independe de qualquer formalidade, provando-se por todos os meios de direito. d) Efeitos do contrato: somente entre os sócios. A inscrição no Registro Público não confere personalidade jurídica. e) Direitos do sócio participante (oculto): fiscalizar a gestão dos negócios sociais. f) Patrimônio: os fundos admitidos são considerados patrimônio especial. g) Efeitos da falência do sócio ostensivo: dissolução da sociedade e liquidação da conta. O crédito do participante é quirografário. h) Efeitos da falência do sócio participante (oculto): o contrato é tratado segundo as regras do contrato bilateral na falência (LRF, art. 117). O administrador judicial poderá cumpri-lo, se convier à massa. i) Ingresso de novo sócio: somente com o consentimento do sócio participante. j) Modo de liquidação: seguem-se as regras do procedimento de prestação de contas previsto nos arts. 914-919 do CPC. (NEGRÃO, 2014, p. 50). 14 Por fim, a parte inicial do art. 996 do Código Civil determina que “aplica-se á sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com ela for compatível, o dispositivo para a sociedade simples”. Sobre isso, André Santa Cruz comunga que: Porém, como a conta e participação não se trata de uma sociedade propriamente dita, sua liquidação não segue o mesmo rito da liquidação das demais sociedades, mas sim o rito da ação de prestação de contas, nos termos da parte final do dispositivo legal em questão: “sua liquidação [da conta de participação] rege-se pelas normas relativas á prestação de contas, na forma da lei processual”. (CRUZ, 2020). Segundo as aulas de Direito Empresarial II, ministradas pela Professora Especialista Mirella Franchini7, isso se dá pelo fato desta casta de sociedade ser definida como um grande contrato de investimento, não tem inscrição no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas (CNPJ) ou denominação social. Os envolvidos concentram esforços para atingir um objetivo comum; não tem personalidade jurídica, nem matrícula junto ao INSS. Luciana Pimenta nos ajuda a entender está sociedade de modo prático, vejamos: Funciona assim: eu, Luciana Pimenta, quero abrir uma loja, mas não tenho capital para isso. Chamo meu vizinho, que é cheio da grana (pelo menos uma característica boa), mas não quer que seu nome apareça no empreendimento. Lembre-se de que, além de feio, ele é caloteiro. As pessoas não vão querer comprar nada de mim se souberem que estou em sociedade com ele. Então, ele fica escondido. lsso mesmo. Não aparece em lugar nenhum. Perante todo mundo, é como se não existisse. Ele apenas financia o negócio, e recebe os lucros proporcionais. Quem vai à minha loja nem sabe que existe o meu vizinho e contrata diretamente comigo, pessoa física mesmo. Assim, aparentemente, não existe sociedade nenhuma, e eu respondo direta e ilimitadamente. Dando nome aos bois, eu sou a sócia ostensiva e meu vizinho é o sócio participante. Ele só tem responsabilidade com relação a mim, da forma como estipulado no contrato (limitada ou ilimitadamente), e não tem qualquer tipo de relação com meus credores. Somente eu quem exerço o objeto social, por minha conta e risco. Se por acaso o vizinho resolver dar uma de intrometido e começar a participar dos negócios que eu celebro, ele passa a responder ilimitadamente também. Observe-se então que existe um contrato firmado entre meu vizinho e eu, mas esse contrato nunca poderá ser registrado na junta Comercial. Por isso se diz que a sociedade em conta de participação é secreta. Na verdade, mesmo que haja tal registro, ele nunca irá conferir personalidade jurídica à 7 Mirella Franchini de Almeida Prado Salum, advogada, graduada pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (2010), Especialista em Direito Tributário pela Universidade UNIDERP (2012), Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus (2014), Aluna Especial do Mestrado em Direito da Universidade Metodista de Piracicaba (2016). Mestranda em Direito pela Escola Paulista de Direito (2019). Ótima Professora de Direito Empresarial, Direito do Trabalho e Conciliação, Mediação e Arbitragem. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Empresarial, Direito e Processo do Trabalho e Mediação, Conciliação e Arbitragem. (CNPQ, 2020). 15 sociedade. Os bens da sociedade compõem o chamado patrimônio especial, mas os efeitos dessa especialidade só existem entre os sócios. Falindo o sócio ostensivo, a sociedade será liquidada, mas, se falir o sócio participante, os direitos decorrentes do contrato da sociedade podem integrar a massa falida. (PIMENTA, 2015, p. 84, 85). Desta forma, com excelente exemplo dado por Luciana Pimenta, podemos analisar tal sociedade pelos seus aspectos práticos, vedando assim as lacunas sobre o assunto. 16 5 CONCLUSÃO Este trabalho teve como escopo abordar os diversos aspectos que envolvem o direito societário na atualidade, bem como sua definição legal e sua aplicação, em especial as sociedades não personificadas e seus impactos sociais. O objetivo foi demonstrar o funcionamento, aplicação e elementos destas sociedades, permitindo melhor compreensão do tema e seus impactos. Para tanto, colacionamos os entendimentos apresentados nas aulas de Direito Empresarial I e II, ministradas pelos excelentíssimos doutores Cesar Mazzoni e Mirella Franchini, além de uma vasta coleção de doutrinadores, os quais procuramos selecionar os clássicos e da mesma forma, os contemporâneos, para assim, reunir um entendimento sólido entre eles. Neste liame, fora abordado que a Sociedade em Comum e a Sociedade em Conta de Participação são sociedades destituídas de personalidade jurídica, sendo, portanto não personificadas. Como resultado, dão início ao seu funcionamento, desenvolvem suas atividades e extinguem-se sem uma personalidade jurídica própria, fazendo com que os sócios arquem com seu patrimônio pessoal para com suas custas de todo esse percurso. O parecer que se sobressai é que tais sociedades, por não adquirirem personalidade jurídica, transparecem insegurança tanto aos sócios quanto aos credores. Pois, por um lado, os sócios não tem a segurança jurídica que a personalidade poderia trazer a sociedade, fazendo que seu patrimônio pessoal fique indefeso; e, por outro, os credores não poderão analisar tal sociedade pelo seu capital social, facilitando um fundo mergulho em uma frade contra o credor, podendo os sócios comprar bens com valores acima do valor de seu patrimônio pessoal. Detalhe importante é que a Sociedade em Comum, não tem personalidade jurídica posto que não completou os atos constitutivos, ou seja, não registrou-se junto ao órgão competente, portanto, isso tem solução. Tal sociedade só precisa registrar-sena Junta Comercial e será uma sociedade personificada. Entretanto, a Sociedade em Conta de Participação não goza dos mesmos termos. Sociedade em Conta de Participação, mesmo que registrada em órgão competente não gozará de 17 personalidade jurídica, porém, é aconselhável que se registre para resguardar seus interesses, pois do contrário poderá ser confundida com a Sociedade em Comum e executar ambos os sócios em uma possível inadimplência obrigacional – mesmo a sociedade em conta de participação sendo em nome apenas do sócio ostensivo. Salienta ainda, que a Sociedade em Comum não tem legitimidade para entrar em processo de falência, porém, a Sociedade em Conta de Participação tem, através do sócio ostensivo. Portanto, através de todos os argumentos apresentados, não vemos as vantagens da Sociedade em Comum - mesmo sendo ela utilizada por vários setores empresariais -, pois esta priva os sócios de seus direitos; por outro lado, a Sociedade em Conta de Participação apresenta diversas vantagens, pois esta não é uma sociedade irregular, desde que o sócio ostensivo esteja devidamente regulamentado assumindo todos os seus deveres e direitos. Concluindo, a Sociedade em Conta de Participação, como apontado anteriormente, no exemplo dado por Luciana Pimenta, parece ser uma ótima alternativa para o empreendedor que está no inicio de suas atividades e não tem capacidade de investir sozinho, podendo aproveitar dos recursos do sócio oculto e dividir seus lucros, sendo isso um ato legal diante do Código Civil e as doutrinas apresentadas. Sabendo ainda que, o sócio oculto não sofre nenhuma penalidade caso o sócio ostensivo não cumpra com suas obrigações com terceiros, pois o único que responde diante destes é o sócio ostensivo. 18 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Institui o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1 jan. 1916. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3071.htm>. Acesso em: 01 abr. 2020. BRASIL. Lei n. 10.406, 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 01 abr. 2020. CRUZ, André Santa. Direito empresarial / André Santa Cruz. – 8. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. CRUZ, André Santa. Sinopses para Concursos - v.25 - Direito Empresarial / André Santa Cruz – 3 ed. revista, atualizada e ampliada – Juspodium, 2020. CNPQ. 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