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Professora: MSc Morgana Vieira INTRODUÇÃO AO DIREITO NOÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO Este tópico tem por objetivo tratar dos conceitos básicos para o estudo do Direito. Para tanto, começaremos o estudo pela etimologia da palavra Direito, o seu conceito genérico e finalidade e terminaremos apresentando peculiaridades da lei jurídica. 1.1– Etimologia Para os romanos, a palavra direito, no sentido que conhecemos agora, era jus ou juris. Que dava a ideia de jugo, compreendendo assim, o vinculo jurídico criado entre as pessoas. Porém, a origem da palavra direito vem do latim directum, significando aquilo que é reto, que está de acordo com a lei. 1.2 – Conceito e Finalidade do Direito No início da civilização, imperava a lei do mais forte. O homem primitivo, para sua defesa, aprendeu a morar em árvores, em cavernas e a colocar obstáculos à porta de sua moradia. A preocupação maior aumentar, cada vez mais, os recursos para enfrentar seus inimigos naturais e, assim, aos poucos, submetê-los ao seu domínio. A descoberta do fog, a confecção do machado de sílex, de lanças com pontas de ossos ou pedras afiadas, de arcos e flechas tornaram-no superior aos animais. O homem é um ser social por natureza. Entre os pequenos grupos formados por parentes de sangue surgiram rivalidade envolvendo o patrimônio ou suas mulheres. Dessa necessidade de viver em grupos, surgem as mais variadas relações, os mais variados conflitos. E nessas lutas, os fracos acabam fugindo para outras plagas, deixando o que tinha acumulado. Era a "lei do mais forte”. Foi aí que apareceu o primeiro elemento do direito: " o respeito pela coisa alheia”. O homem começou a compreender que o direito é o respeito à propriedade, à vida e à liberdade de outrem. Surgiu, então, aos poucos, a necessidade de impor aos homens determinadas regras para dirigir a sua conduta, o seu comportamento, disciplinando, assim, a vida social. Através dessas normas, o Estado impõe um mandamento: uma proibição ou uma permissão, sem que sejam identificados seu sujeito passivo ou ativo. Assim, Poder Público regula o estado de fatos hipotéticos e ainda de fatos futuros na ordem social, prevendo uma relação entre pessoas ou entre pessoas e coisas, a fim de que haja paz e progresso na sociedade, respeito mútuo entre as pessoas e à propriedade alheia, evitando atritos entre os homens. Nessas condições, todos passam a ter direito e deveres mútuos. Desta forma, o Direito tem o escopo de dirimir os conflitos de interesses que surgem dentro de uma sociedade para que ela não pereça. Para que os mais fracos não fiquem a mercê dos mais fortes. Não poderíamos falar de Direito fora de uma sociedade. Já diziam os romanos: Ubi societas, íbis ius (Onde existe a sociedade, aí deve existir também o Direito). Se o homem vivesse isolado em uma ilha, não poderíamos falar em Direito. Para esse homem as regras seriam irrelevantes, pois estava só. Que importância teria para ele reconhecer o seu direito de propriedade sobre sua cabana, se era o único morador da ilha? Que importaria se ele, surtado, resolvesse colocar mercúrio na única água potável da ilha, se ele seria o único prejudicado? Porém, se colocarmos um grupo de pessoas nesta ilha, mesmo que venham a se organizar em pequenos grupos ou mesmo isoladamente, começa aí uma sociedade. E sendo assim, há a necessidade de haverem regras. Pois, a qualquer momento poderá haver um conflito de interesses. E para não prevalecer o interesse do mais forte é que essas regras tornam-se necessárias. O Direito vem para proteger, amparar, defender, resguardar e servir o indivíduo. Somos livres, mas nossa liberdade é limitada ao cumprimento da norma. A norma nada mais é do que o Estado nos conduzindo dentro da sociedade, para que essa sociedade seja equilibrada, para que haja paz e harmonia social, preservando a boa fé. Ele, o Estado, tenta garantir esse equilíbrio, através das normas jurídicas, com sanção institucionalizada. Corroborando com esse entendimento, NELSON GODOY assevera: “vivendo em sociedade, o homem encontra na ordem jurídica o instrumento para sua sobrevivência. A proteção coercitiva é elemento essencial para que haja paz e ordem social efetiva. São, portanto, a necessidade dos grupos sociais que levam o Estado a impor regras de conduta, através de seus órgãos legislativos. Tais normas jurídicas provêm, exclusivamente, das leis jurídicas. Este é o preceito do Direito; a obediência às regras. Caso contrário, a sociedade pereceria pela violência, ou arbítrio do mais forte sobre o mais fraco.” Desta forma, o Direito tem o objetivo de garantir o equilíbrio e a paz para a sociedade através da exigência do cumprimento das normas jurídicas, previamente estabelecidas pelo Estado. Sem o Direito haveria ruptura dos vínculos sociais, prevalecendo sempre a vontade dos mais fortes, ocorrendo insegurança e intranquilidade no seio da sociedade, o que afastaria a tão sonhada paz. A maior parte da doutrina conceitua o Direito, de forma simples e clara, como sendo “um conjunto de normas e leis que regulamentam o comportamento do homem na sociedade em que vive”. Outra definição mais completa nos é apresentada pelo eminente jurista Josaphat Marinho, que preleciona o seguinte: “Variando no tempo e no espaço, o direito é sempre forma de regular o procedimento do homem e de suas instituições. Diversifica o tipo de normas, mas a finalidade essencial delas é disciplinar condutas. Para que o fenômeno normativo tenha o caráter de abrangência da universalidade das pessoas e das relações estabelecidas, criam-se sistemas jurídicos, distintos entre os povos. As diferenças entre eles não impedem a existência de características comuns, segundo tendências dominantes em épocas históricas. Do common law (direito consuetudinário, direito que vem dos costumes), prevalecente ainda hoje na Inglaterra, ao direito escrito, adotado na generalidade dos povos organizados, está presente a ideia de regulação do proceder individual e coletivo” Concluindo 1.3 – Direito Objetivo e Direito Positivo As normas jurídicas têm por objetivo regular o comportamento do homem dentro de uma sociedade. E fazem isso, impondo regras de conduta de modo imperativo e categórico, geral e abstrato. Normas essas, ditadas e garantidas por uma autoridade, com o objetivo de trazer a harmonia ao seio da sociedade, garantindo dessa forma o bem comum. O direito objetivo é um sistema de normas de conduta que obriga o individuo a um comportamento consentâneo com a ordem ditada pela sociedade. Ou seja, é a norma de ação imposta ao homem, à qual este deve observar até mediante coação do Estado. Chama-se norma agendi ou regra de ação. Ou seja, o direito objetivo é toda e qualquer norma jurídica que pertença ao ordenamento jurídico da sociedade, o qual é composto por vários sistemas de normas relacionados entre si. O direito positivo, também tem o propósito de conduzir o homem dentro de uma sociedade com o escopo de garantir a paz e a harmonia desta. Porém, este direito, direito positivo, é composto pela norma jurídica que emana da sociedade política. É o direito que confere eficácia às outras ordenações, pois todas as outras normas jurídicas terão que ter como base, como fundamento, o direito positivo, não podendo ir contra os seus preceitos. As normas do direito positivo recebem um nome próprio, um nome técnico, são denominadas “leis”, no sentido jurídico da palavra. Desta forma, lei é a norma que emana da ordenação jurídica da sociedade política e que tem por objetivo conduzir o homem dentro da sociedade de forma que venha a garantir a ordem social. A lei é a norma do direito positivo. Para melhor elucidação dos conceitos é oportuno citar o exemplo do Prof.Goffredo da Silva Telles Júnior: “um contrato de uma sociedade é um conjunto de normas jurídicas, mas essas normas não são leis. O estatuto de uma sociedade anônima constitui um conjunto de normas jurídicas, mas essas normas não são leis. A Constituição Federal é conjunto de normas jurídicas, e essas normas são leis. O Código Civil é um conjunto Direito é um conjunto de normas, estabelecidas pelo poder público, que visam regulamentar a vida social de um dado povo em determinada época, com o objetivo de manter a paz e o equilíbrio dessa sociedade. de normas jurídicas e essas normas são leis”. Em suma: o direito objetivo é composto por todas as normas do ordenamento jurídico, ou seja, todas as normas jurídicas mais as normas do direito positivo. E o direito positivo é composto apenas pelo conjunto de normas que emana da sociedade política, a lei. Portanto, é o direito objetivo muito mais amplo que o direito positivo, podendo dizer que o direito positivo está contido no direito objetivo. 1.4 – Direito Natural O Direito Natural, como o próprio nome sugere é um direito que deriva da natureza humana, um direito espontâneo. Fala-se num direito anterior ao homem e acima dele, um ideal de perfeição e justiça. Ressalta-se que a existência desse direito não é pacifica na doutrina, havendo os que não admitem sua existência. Quem primeiro defendeu a existência do Direito Natural foram os romanos. Eles o chamavam de lex naturalis . E começaram a difundi-lo porque ao conquistarem outras terras, onde não havia a possibilidade de contato com a civilização romana, perceberam que possuíam leis em muito parecidas com as romanas. Ulpiano, Jurisconsulto romano, dizia ser esse direito, o que orienta todos os animais. Já Justiniano, Imperador romano defendia a tese de ser um direito divino: “um direito estabelecido pela Providência Divina, que é sempre bom e eqüitativo”. Na Idade Média , foi defendido por São Tomás de Aquino e Santo Agostinho. Segundo, Santo Agostinho: “acima dos tribunais terrenos, falíveis e humanos, existe um tribunal eterno, divino e infalível, cujas as sentenças são verdadeiramente supremas e inalteráveis, o tribunal da indelectível justiça de Deus, diante do qual tanto os grandes quanto os humildes um dia comparecerão”. Porém, foi Hugo Grotius, o verdadeiro defensor e divulgador do Direito Natural, cujas ideias criaram o jusnaturalismo ou a Escola do Direito Natural. Para os jusnaturalista, ou seja, os que defendem a existência do Direito natural, esse direito é eterno e universal, pois decorre do gênero humano e não de um indivíduo ou de um povo, não se aplica a um país mas a todos os homens e não se submete a relatividade do tempo e do espaço. Não é um Direito criado pela sociedade ou formado pelo Estado, mas que brota da própria natureza social do homem, revelado pela conjugação da experiência e com a razão. Constituído por um conjunto de princípios e não de regras. Para os defensores desse direito, ele é o ideal de perfeição e justiça existente na consciência de cada um, como fonte inspiradora para o Direito Positivo. 1.4 – Direito Subjetivo Vimos que o direito objetivo é o conjunto de normas jurídicas que regulamenta a relação do homem dentro da sociedade. Desta forma, o direito positivo é um conjunto de normas que impõe a pessoa a um comportamento consentâneo com a norma. Ou seja, é a norma de ação imposta ao homem, devendo este submeter-se até sob coação do Estado. O direito subjetivo [e a faculdade de alguém fazer ou deixar de fazer alguma coisa de acordo com a regra de ação, ou seja de acordo com as normas. Miguel Reale: Direito subjetivo vem a ser “a possibilidade de exigir-se, de maneira garantida, aquilo que as normas de direito atribuem a alguém como próprio”. Trata-se, portanto: 1 – de um exigir garantido, graças ao recurso a via judicial daquilo que a norma atribui a alguém como próprio . 2 – nele há aquilo que é pretendido por um sujeito e aquilo que é devido a outro. Pablo Stolze: “o direito subjetivo designa a possibilidade ou faculdade individual de agir de acordo com o direito. Está envolvido a prerrogativa de que um indivíduo é titular de um direito, obtendo certos efeitos jurídicos, em virtude da norma estabelecida” O direito subjetivo é o direito juridicamente protegido. Uma vez violado o direito objetivo, nasce para o titular desse direito, o direito do agir para assegurar o seu direito, o direito de exigir efetivamente a composição do seu direito violado, esse é o direito subjetivo. Vejamos de outro ângulo, a regra jurídica regulamenta uma relação jurídica entre dois homens, que recebem nessa relação o nome de partes. Essa regra jurídica regulamenta um direito, que terá seu titular, que será uma das pessoas que compõe as partes da relação jurídica, ficando a outra parte com a obrigação, pois ao prevê um direito a norma prevê também uma obrigação. Quando essa obrigação é descumprida surge para o titular daquele direito, um outro direito que é chamado de direito subjetivo. O titular desse direito, direito subjetivo, pode, para ter seu direito restaurado, fazer qualquer coisa desde que respeitando a lei. Simplesmente falando, podemos dizer que o direito subjetivo é a faculdade de alguém fazer ou deixar de fazer alguma coisa desde que de acordo com a lei ou com a regra de ação. O direito subjetivo, deriva do direito objetivo, pois não existe sem aquele. Porque quem diz o direito é o direito objetivo. Por exemplo, o direito objetivo regulamenta que: terá direito o proprietário de despejar seu inquilino se este não honrar seu compromisso que é pagar o aluguel (Lei do Inquilinato). A lei não obriga ao proprietário mover a ação de despejo contra seu inquilino, somente dá a este o direito subjetivo de pleitear isto em juízo. Ou seja, este direito é posto a disposição do proprietário. Podendo o proprietário propor ou não a ação, como também perdoar a dívida ou simplesmente requerer os alugueis atrasados, mas deixar o inquilino no imóvel. Porém, tudo que ele vir a fazer deve ser feito respeitando as normas jurídicas. Mas ele não pode, por exemplo, colocá-lo para fora de seu imóvel com violência. Concluindo: o direito subjetivo está no efetivo exercício de um direito ou na possibilidade do exercício desse direito. 1.5 – Direito e Moral A Moral e o Direito apesar de serem ciências completamente autônomas apresentam pontos semelhantes, uma vez que ambos têm por objeto o comportamento do homem na sociedade, traçando regras de condutas com a finalidade do bem-estar individual e coletivo. Porém, apesar da semelhança, em alguns aspectos as normas de um não se harmonizam com a do outro. A moral é muito mais ampla que o direito, mais abrangente, chegando onde o direito não alcança, vai até as regras de formação do indivíduo. O direito preocupa-se com a licitude da conduta, a moral preocupa-se com a honestidade da conduta. Ou seja, nem tudo que for lícito, necessariamente será honesto. Analisemos o exemplo, para entendermos a ideia exposta nesse compêndio: Uma senhora, chega à faixa de pedestre para atravessar uma rua e vendo ao seu lado um cidadão bem mais novo pede-lhe ajuda, a qual lhe é negada. Infringiu alguma regra este cidadão ao negar o pedido da senhora? Claro que não. Não existe lei que obrigue o cidadão a atravessá-la. Portanto, a conduta do cidadão é lícita, não transgrediu o direito Positivo. Do mesmo modo, sob a ótica do Direito Subjetivo, não tem a senhora o direito de exigir do cidadão tal conduta. Porém, a conduta do cidadão, vista pelo lado da moral, poderá sofrer algumas críticas. Pois, o cidadão tem a seu lado uma pessoa, que pela idade que apresenta, já não tem tanta segurança ao atravessar a rua. Será justo aquele homem negar-lhe o pedido? Não seria falta de amor ao próximo e respeitopor aquele ser humano, que como ela, um dia, talvez, chegue aquela idade? Desta forma, podemos concluir que nem tudo que é Direito é Moral. Mas, não poderemos jamais dizer que ele, o direito é injusto, pois sob o ponto de vista jurídico ele será sempre justo. A diferença entre o direito e a moral repousa sobre a sanção. Na moral a sanção é de foro íntimo. É a vergonha, o remorso, o arrependimento e em certos casos o constrangimento, como o desprestígio à reprovação social. O ridículo, o protesto o escândalo. No direito a sanção é externa, propicia uma coação material imposta pelo Poder Público, pelo Estado, ao indivíduo transgressor da norma. A sanção no Direito é a pena, a multa, a indenização, perda dos direitos políticos, etc. A sanção moral é precária e subjetiva porque tem como único juiz a consciência de cada indivíduo, não sendo um meio eficaz, uma vez que varia e não basta para a consecução da harmonia social, já que na sociedade se mesclam também indivíduos sem consciência e sem ética. A sanção do direito é diferente da sanção moral porque é dotada de coercibilidade – que é a força ou o poder de obrigar o indivíduo a agir em conformidade com com a norma jurídica, independente de sua vontade. Sob o aspecto psicológico, a coercibilidade tem o condão de obrigar o indivíduo ao cumprimento da norma pelo só temor de uma punição consequente do descumprimento. Sob o aspecto material, a coercibilidade se corporifica na sanção jurídica, que é imediata manifestação de coação da norma, efetivada na aplicação prática de uma punição. A força, a coercibilidade ou a sanção são inseparáveis do direito e procuram garantir a justiça nas relações humanas. A moral pretende que o homem aja corretamente, pratique o bem, seja justo, o direito exige que ele não prejudique seu semelhante. A moral é unilateral, o direito e bilateral. Desta forma, direito é um conjunto de normas que emanam de uma autoridade competente para disciplinar a conduta do homem dentro da sociedade com o objetivo de manter a paz e o equilíbrio dessa sociedade. A moral, por sua vez, é um conjunto de normas de comportamentos para o homem, no seu relacionamento com seu semelhante, como também no círculo mais amplo de sua existência. Vai mais além das relações jurídicas. Defende o correto comportamento, o bem comum, a arte de viver acertadamente. Chega onde o direito não alcança na formação do indivíduo. 1.6 - Fontes do Direito Começaremos primeiro, buscando entender o significado da expressão “fonte do direito”. Segundo o dicionário Aurélio, fonte quer dizer a nascente de água; manancial, olho d'água, chafariz, origem, causa. De forma figurativa, o termo fonte significa a origem, o princípio, causa primária de algum fato, tudo que nos dá ou pode dar verdadeiro conhecimento de alguma coisa. “Fontes do direito”, tem significado figurativo, que quer dizer os meios que servem de origem ao direito; são as formas de manifestação do direito, sua procedência do direito. Exemplificando:Um juiz, ao prolatar (proferir) uma sentença, necessitará justificar sua decisão, pois ele não pode fazer isto aleatoriamente. Obrigatoriamente ele terá que fundamentar a sua decisão, ou seja, dizer os motivos que o levaram a tomar aquela decisão. Para isto, consultará as fontes do direito que estão a sua disposição: a lei, a doutrina ou qualquer outra que examinaremos dentro deste tópico. Da mesma forma, acontece com um acadêmico de direito que necessite estudar um dos ramos do direito, que fonte irá consultar? Consultará a doutrina e a legislação pertinente aquele ramo do direito que ele quer conhecer. Ainda aqui existe controvérsia, pois são várias as classificações das fontes de direito. A própria lei de Introdução ao Código Civil, por exemplo, dá como fontes do direito a lei, os costumes a analogia e os princípios gerais do direito. “Art.4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais” Outra classificação apresenta como fontes diretas ou imediatas do direito as leis e os costumes, e como fonte indireta e mediata a doutrina e a jurisprudência. Abordaremos aqui a classificação mais adotada pela doutrina, qual seja: como fontes diretas ou imediatas têm-se as leis e os costumes; como fontes indiretas e mediatas a doutrina e a jurisprudência; como fonte de explicitação ou integração, a analogia e os princípios gerais do direito. Vejamos cada uma delas: FONTES DIRETAS 1 – Lei =É a fonte direta, imediata e primordial do direito. Entende-se por lei a norma jurídica escrita emanada de um poder competente. A lei está presente na legislação, que é um conjunto de leis vigentes no país. Em sentido técnico estrito, a lei é a norma jurídica, ordinária, elaborada pelo Poder Legislativo, nas três esferas: federal, estadual e municipal. Desta forma preleciona o mestre Pedro Lessa: “Lei é a norma jurídica solenemente formulada e promulgada pelo poder competente, sobre relações de ordem interna e de interesse geral”. 2 – Costumes = É a observância de um comportamento reiterado constante, pelos membros de uma sociedade, convencida de que este comportamento corresponde a uma necessidade jurídica, ou seja, esse comportamento é aceito pelos membros da sociedade. Há muita diferença entre costume e hábito: este é um comportamento individual, enquanto o costume é coletivo. Vê-se no conceito supra a presença de dois elementos substanciais: objetivo e subjetivo. Elemento objetivo = Prática por longo tempo e inveterada de um comportamento coletivo. É um comportamento arraigado, entranhado na sociedade. Apresenta a característica da diuturnidade (longo tempo, larga duração); não é comportamento efêmero (passageiro), mas de longa duração. Outra característica é a continuidade, a constância na repetição dos atos costumeiros; não pode haver hiato no tempo, como se fosse o costume praticado durante algum tempo, desaparecido e reaparecido tempos após. Esse comportamento deve ainda apresentar-se uniforme, isto é, os atos que constituem esse tipo de comportamento devem ser semelhantes, uniformes, com elementos idênticos. Atos variados, distintos e diferentes entre si não podem constituir costume. Elemento subjetivo = Também tido como elemento interno, é a aceitação tácita do povo, dos membros da comunidade. É a opinião geral que a prática dos atos costumeiros corresponde à necessidade jurídica. Representa, pois, o estado psicológico dos cidadãos favoráveis a adoção dos costumes. É importante deixar claro que o costume dentro do nosso ordenamento jurídico não é uma fonte primaria do direito, ou seja, direta. Apresenta-se como uma fonte mediata, indireta do direito pátrio. Uma fonte supletiva do nosso direito. Porém, nos países de direito anglo-saxônico, a exemplo da Inglaterra e dos Estados Unidos da América, é um direito de larga aplicação. Por esse motivo, está apresentado aqui como fonte direta, como forma de abranger uma classificação global da matéria. FONTES INDIRETAS 1 – Doutrina =É o pensamento de doutores expostos sobre diversas formas. É a interpretação da lei feita pelos exegetas, os pareceres dos juristas, as prelações do mestres, os livros publicados sobre determinado assunto do Direito, conclusões dos seminários. É a opinião, teorias e pareceres dos doutores, dos docentes. 2 – Jurisprudência = É o conjunto de decisões jurídicas reiteradas sobre determinadas questões. A jurisprudência é dinâmica: vai se formando a partir das soluções adotadas pelos órgãos judiciais ao julgar casos jurídicos semelhantes. Deve ser um conjunto de pronunciamento do Judiciário num determinado sentido sobre determinada questão, de preferência, de tribunais variados e localizados em varias regiões. Devendo esse pronunciamento do Judiciárioser uniforme, tornando pacífico seu ponto de vista. E ainda ser reiterado e constante, razão pela qual não existe jurisprudência de decisões de juízes singulares, ou seja, de primeira instância, por serem elas muito variadas o que prejudica a uniformidade Pode-se dizer ainda que a jurisprudência é o conjunto de decisões tomadas pela justiça superior formando opinião mais ou menos uniforme sobre determinada questão. Difere da doutrina, pois esta é a opinião dos que interpretam o direito dos estudiosos, enquanto a jurisprudência é a opinião dos altos magistrados, dos que aplicam a lei. FONTES DE EXPLICITAÇÃO OU INTEGRAÇÃO 1 – Analogia = Consiste na aplicação de uma lei para um determinado caso, não regido por ela, mas que apresenta semelhança em casos a que ela se aplica. É a extensão da lei a casos que ela não prevê, graças à semelhança existente entre certos fatos jurídicos. Esses fatos são diferentes mas apresentam pontos e circunstâncias idênticas. Ex: Carro que pega fogo em um desses estacionamentos que existem pela cidade, que medidas tomar? A lei brasileira não disciplina este negócio. Porém o juiz ao ser provocado pela parte para resolver o problema não pode deixar de prolatar sentença sob o argumento de que não existe lei para isto. Desta forma, pega emprestado determinados institutos de leis que regulamentam casos semelhantes. No caso, pode se valer da lei do depósito ou da lei de contrato de serviços. 2 – Princípios Gerais do Direito = Digamos que se devem entender como princípios gerais do direito as exigências do ideal da justiça a ser concretizado na aplicação do direito. Atende-se, para tanto, não só às condições personalíssimas do caso em exame, como a equidade deve dosar a decisão, e também a ética, a moral, a solidariedade humana, a dignidade da pessoa, aos fins sociais da norma na sua aplicação à hipótese em causa, enfim, aos atributos que sirvam de índole à consciência coletiva da sociedade em que vigore o ordenamento jurídico. 1.7 – Divisão do Direito A divisão do Direito vem desde os tempos dos romanos. Foram eles, mas precisamente, o Jurisconsulto Ulpiano e o Imperador Justiniano, que para melhor estudar o direito dividiram a gama de leis em dois ramos: Jus Publicum – Direito Público e Jus Privatum – Direito Privado. Essa é a mais ampla divisão do direito. Outras mais especificadas, dentro de cada ramo, foram surgindo. O Direito Público é o do Estado, do seu modo de ser, de seu interesse como a organização política e a administrativa. Diziam os romanos: jus publium est quod statum rei romanae spetat (O Direito Público é o que interessa as coisas do Estado romano). Quando se fala em Direito Público, cuida-se de disciplinar os interesses da coletividade. Trata-se da constituição, organização e funcionamento do Estado: suas relações com outros Estados e com os indivíduos. Em um dos pólos da relação está a figura do Estado. No dizer de Godoy (2016) o ”Direito Público é o conjunto de normas interligadas entre si, regulando a atividade do Poder Público, ou seja, a atividade da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, das autarquias e das demais entidades de caráter público, criadas por lei״. O Direito Privado é aquele que cuida das normas jurídicas que envolvem matéria dos particulares e as relações entre eles estabelecidas, sendo os interesses privados, tendo por fim a perspectiva individual. Aqui, nos dois pólos da relação existe a figura do particular discutindo interesses próprios. O Estado aparece na figura do Juiz, para dizer o direito a quem pertence. Dentro do ramo do Direito Público, temos: Direito Público Interno e Direito Público Externo. Faz parte do ramo do Direito Público Interno: Direito Constitucional, Direito Penal, Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito Processual, Direito Ambiental, Direito Eleitoral, Direito Econômico e Direito Previdenciário. Faz parte do Direito Público Externo: Direito Internacional Público. Da mesma forma, dentro do ramo do Direito Privado, temos: Direito Privado Externo e Direito Privado Interno. Faz parte do ramo do Direito Privado Interno: Direito Civil, Direito do Trabalho, Direito do Consumidor, Direito Empresarial. E do Direito Privado Externo, o Direito Internacional Privado. Passaremos a conceituar cada um desses Direitos: Direito Constitucional – esse Direito trata do estudo, elaboração e instituição das normas jurídicas constitucionais, são as normas que disciplinam toda a organização político- administrativa do Estado. Ex. normas que tratam da competência dos poderes existente no Estado: Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. Direito Penal – é o estudo das normas jurídicas que dizem respeito aos crimes e contravenções, bem como estabelecem as penas. Normas através das quais o Estado mantém a ordem jurídica. Ex. Normas que regulamentam o roubo, o furto, o homicídio. Direito Tributário – cuida das normas jurídicas voltadas para a arrecadação de tributos pelo Estado, garantindo assim, receita para a União, os Estados membros ou para o Municípios. Ex. Normas que regulamentam a criação ou o aumento de tributos Direito Administrativo – normas que disciplinam a formação e o funcionamento dos órgãos e entidades da Administração Pública, bem como a relação entre administradores e seus administrados. Ex. Normas que tratam das licitações públicas. Direito Processual - normas que disciplinam todo o processo judicial, cuidando também da organização judiciária. Ex. normas que dispõem sobre os prazos recursais. Direito Ambiental – é constituído por um conjunto de normas jurídicas que asseguram a proteção da natureza e contra a poluição. Ex. Crimes ambientas são regulamentados por esse direito. Direito Eleitoral – conjunto de normas que disciplinam todo o processo de escolha de todos os membros do Poder Legislativo e do Poder Executivo. Ex. normas que regulamentam as propagandas eleitorais. Direito Econômico – disciplina as legislações que tratam da produção, serviços, circulação de produtos e serviços, em especial, os que dizem respeito diretamente ao desenvolvimento econômico do País. Ex. normas que disciplinam políticas econômicas adotadas pelo Estado. Direito Previdenciário – estão vinculadas às normas que dizem respeito ao sistema da Previdência Social. Normas pertinentes aos benefícios relativos ao auxílio-doença, auxílio-maternidade, invalidez, aposentadorias por tempo de serviço, entre outras. Direito Internacional Público – trata da negociação, elaboração e consolidação entre os Estados, das Convenções, Tratados, Pactos, Convênios e Acordos Internacionais. Também trata do estudo dos costumes jurídicos internacionais. Direito Civil – esse ramo do direito vem tratando das relações jurídicas dos particulares, desde que não seja o empregado. Diz respeito ao interesse do cidadão, por isso está classificado como direito privado, de ordem interna. Como algumas subdivisões desse Direito teremos: Direito de Família, Direito de Sucessão, Direito de Propriedade, etc. Direito do Trabalho – conjunto de lei que trata das relações jurídicas entre empregado e empregador, sempre em um dos polos terá a figura do empregado. Ex. normas que tratam do décimo terceiro salário, férias, proteção a gestante,estabilidade no emprego. Direito do Consumidor – trata das normas que tutelam as relações jurídicas entre consumidor e fornecedor. Ex. Normas que trata do direito dos consumidores quando recebem um produto com vício. Direito Empresarial – disciplina a atividade do empresário, bem como regras para as sociedades empresárias. Ex. Dispõem sobre as sociedades limitadas, sociedades anônimas. LEI JURÍDICA 1.Conceito de lei jurídica O Direito Positivo é o conjunto de todas as normas jurídicasque se encontram em vigor no país e que agem diretamente sobre o indivíduo, permitindo, proibindo ou impondo sanções. Esse número de leis jurídicas é incontestável, pois a cada instante se promulgam novas leis. Portanto, todas as normas jurídicas existentes no país constituem ordenamento jurídico vigente, o qual varia de acordo com a época e com a política dominante. A lei jurídica é uma regra elaborada pelo legislador, para ordenar, dirigir o comportamento do homem que vive em sociedade, determinando como deve ser sua conduta. Chega até a proibir ou regular ações do homem esta é uma regra jurídica: 𝑨𝒒𝒖ele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar ״ direito ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (CC,art.186). O art. 927 do CC completa : "Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Se não existisse essa regra imposta pelo Poder Público, a reparação de um dano na condição acima ficaria a critério da consciência de cada um. Mas, existindo essa lei, aquele que causar prejuízo a outrem, agindo com culpa, fica, coercitivamente obrigado a reparar o dano; basta para tanto requerer ao juiz, provar a culpa do agente e o prejuízo causado ou o dano moral. 2.Características da lei jurídica DIREITO DIREITO PÚBLICO D,Penal; D. Tributário D.Processual;D.Ambiental; D.Econômico; D.Constitucional; D.Administrativo DIREITO PRIVADO Direito Civil Direito Empresarial Direito do Trabalho Direito do Consumidor É genérica – não é feita para um grupo de pessoas, ou seja, não é dirigida individualmente a certas pessoas para resolver situações particulares, mas se dirige a todas as pessoas da sociedade, regulando o comportamento de todos. É obrigatória – age sobre todos os indivíduos, impondo indistintamente um dever; e, para que haja respeito entre os homens, a lei jurídica se caracteriza pela coercibilidade, que é assegurada através da sanção. A lei, portanto, é um comando, uma ordem imperativa. Sanção – é o elemento constrangedor de toda lei jurídica, por obrigar o indivíduo a fazer o que ela determina. Só as leis jurídicas são dotadas de sanções para evitar que sejam violadas. A sanção é uma consequência jurídica, prevista na lei, para fazer com que os homens a respeitem pelo temor às consequências de sua infração. Exemplo: Art. 814 do CC ‟As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.” Ou seja, a sanção aqui é em não autoriza o credor exigir o seu adimplemento. Mas, se o devedor pagar a divida, voluntariamente, não poderá exigir a devolução. A sanção, na parte final da norma, está na não-obrigação de restituir a importância que pagou. Fazendo um retrocesso, a lei jurídica é uma regra geral e obrigatória emanada de autoridade do Poder Legislativo e editada no interesse do povo , mediante processo especifico de elaboração. 3. Vigência; Vacatio legis; Éficácia A norma jurídica tem “vida própria” como se fosse um organismo vivo, nasce e morre, mas entre o nascimento e a morte ela evolui e se modifica. Quando uma lei está sendo elaborada, após a sanção do projeto por parte do Presidente da República, vem a sua publicação no jornal oficial para dar conhecimento a todos do texto legislativo. A vigência é exatamente esse tempo de vida da norma, o tempo em que ela fica no ordenamento jurídico. A lei nasce no dia em que ela entra em vigor. Antes de qualquer coisa, para se pensar no começo da vigência de uma norma, LEI GENÉRICA OBRIGATÓRIA ela deve ser publicada no Diário Oficial: se for lei federal no Diário Oficial da União- DOU e se for lei estadual, no Diário Oficial do Estado-DOE. A publicação dá publicidade à norma. A partir desse momento presume-se que todos tem conhecimento da norma. É o último estágio do processo de criação de uma norma jurídica. Porém, a publicação não dá legalidade para a lei entrar em vigor, automaticamente. Então quando a norma jurídica entra em vigor? Depende. A norma jurídica pode entrar em vigor na data em que ela própria determinar, que pode ser até imediatamente após a sua publicação, ou seja, no mesmo dia em que for publicada, neste caso vem inserto no corpo da norma a expressão “esta lei entra em vigor na data de sua publicação” ou em data pré-fixada pela própria norma. De outro modo, se a norma for omissa, quanto a sua vigência, ela deve começar a viger quarenta e cinco (45) dias após a data de sua publicação, em todo o território nacional e nos Estados estrangeiros que admitem a norma brasileira como obrigatória, três meses depois da data em que for oficialmente publicada. É o que está previsto no art 1º, § 1º da LINDB – Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro , que passo a transcrevê-lo: A decisão sobre a data da entrada da norma em vigor no ordenamento jurídico é do órgão que a elaborou. E o critério para a data do inicio da vigência da norma varia de acordo com a necessidade e urgência, para as normas que entram em vigor na data de sua publicação ou o oposto, tempo mais longo, para as normas que a importância do tema e a extensão e a abrangência de seu conteúdo exijam conhecimento e estudo prévio pelos operadores do Direito (Promotores, Juízes, Advogados, Defensores Públicos etc.), bem como da própria população, por uma presunção legal como veremos em item próprio, antes de sua entrada em vigor. É oportuno transcrever o art.8º da Lei complementar n.95, 26 de fevereiro de 1998, que regulamenta a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis e preceitua sobre o tema: Art. 8º LC n. 95 “A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula 'entra em vigor na data de sua publicação' para as leis de pequena repercussão. §1ºA contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo”. (Parágrafo incluindo pela Lei complementar n. 107,de 26-4-2001.) §2º As leis que estabelecem período de vacância deverão utilizar a cláusula 'esta lei entra em vigor após decorridos (o número de)dias de sua publicação oficial'.(Parágrafo incluindo pela Lei complementar n. 107,de 26-4-2001.)” Tomaremos como exemplo o nosso Código Civil, Lei nº10.406, que foi publicado no Diário Oficial da União em 10 de janeiro de 2002, mas só entrou em vigor em 10 de janeiro de 2003, portanto um ano após sua publicação. Durante esse tempo foram feitos vários debates, seminários, cursos, palestras tudo com o objetivo de se passar as novas mudanças trazidas pelo novo Código Civil para os operadores do Direito, para que quando o Código entrasse em vigor já estivessem familiarizados com a norma. Vacatio legis é esse período que vai da data da publicação para a entrada da lei Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. § 1o § 1o Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (LINDB) em vigor. Ou seja, do dia que é publicada até o dia que antecede a sua vigência. É justamente o período que a lei aguarda, em observância, ao tempo necessário para o seu amplo conhecimento antes de começar a ser exigido o seu cumprimento. A lei existe, já foi dada publicidade a ela, mas ainda não pode ser aplicada. É o período de vacância da lei que só existe para aquelas leis, a exemplo do Código Civil que não entra em vigor na data da publicação ou nos casos em que a lei é omissa, quanto aisto, devendo ser obedecido o disposto na Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro – LINBD como supra mencionado. De uma forma simples podemos dizer que vacatio legis é o lapso temporal que vai da data da publicação para a entrada em vigor da lei. A eficácia, por sua vez, na visão geral da doutrina pode ser conceituada como sendo a aplicação concreta da norma. De outro modo, eficácia é a qualidade da norma que se refere a possibilidade de produção concreta de seus efeitos. Ressalta-se que essa aplicação efetiva da norma, tanto pode ser quanto a obediência a norma, quanto a sua violação. Atua a eficácia com a realização concreta do que foi prescrito pela norma, que pode ser tanto uma prestação como uma sanção. Resumindo, norma eficaz é a norma que produz efeito, que tem a possibilidade de ser efetivamente cumprida. Por exemplo: a norma que obrigava a todos os donos de veículos a possuírem em seus carros a caixinha de primeiro socorros era uma norma ineficaz, pois não existia o produto em quantidade suficiente no mercado e ainda assim as pessoas não teriam qualificação para manipular o produto quando fosse preciso. Ou seja, essa norma teve vigência mas não pode efetivamente ser cumprida. Vejamos um outro exemplo: a lei do ICMS, disciplina que toda vez que o comerciante vender seu produto deve emitir uma nota fiscal e recolher esse imposto. E punir com multa, aquele que não obedecer esse procedimento. Uma vez feito todo esse processo pelo comerciante a lei foi cumprida. É plenamente eficaz. Mas será da mesma forma eficaz, se o comerciante resolver descumprir o mandamento legal e não recolher o imposto, sendo desta forma punido com o pagamento da multa. 4. Princípio da obrigatoriedade da lei Quando a lei entra em vigor ela torna-se obrigatória para todos, indistintamente. Essa imposição genérica que é característica da norma, se dá em nome do Princípio da Obrigatoriedade da lei. Ou seja, não se admite a ignorância da lei. Essa presunção é uma ficção jurídica imposta pelo art.3º da LICC (Lei de Introdução ao Código Civil), in verbis: Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Essa forma é uma necessidade para a estabilidade social e jurídica, pois se fosse admitida a exceção da ignorância, haveria insegurança jurídica em todos os negócios, comprometendo-se, assim, a força imperativa da norma com prejuízo para a comunidade. Fácil e cômodo ficaria safar-se de determinada situação com a simples alegação do desconhecimento da lei. Não traz vantagem alguma a uma pessoa alegar desconhecê-la. 5. Da revogação da lei Revogação é ato pelo qual se dá a extinção da vigência e eficácia de uma lei. É ato pelo qual a lei é retirada de circulação, visto que uma lei só se revoga por outra lei. Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Tipos de revogação 1.Derrogação Sendo parcial a revogação, recebe o nome de derrogação e acontece quando a nova lei revoga somente, da lei anterior, um artigo, um capítulo, um parágrafo, uma só seção, ou mesmo parte deles. 2.Ab-rrogaação Quando a revogação é total ela recebe o nome de ab-rogação. Neste caso a lei nova revoga completamente a lei original, a lei anterior. Foi o que aconteceu com o Código Civil de 1º de janeiro1916 (código antigo), completamente revogado pelo novo Código Civil de 10 de janeiro de 2002. REVOGAÇÃO DERROGAÇÃO Revogação parcial AB-ROGAÇÃO Revogação total REVOGAÇÃO EXPRESSA TÁCITA Expressa: quando a lei nova trás em seu corpo, que está revogando uma lei. Como exemplo de revogação expressa, tomemos o nosso Código Civil de 2002, que no seu art.2045 trouxe revogação explícita de duas regras (lei). “Art.2045 do CC. Revogam-se a Lei n. 3071,de 1º de janeiro de 1916 – Código Civil e a Parte Primeira do Código comercial – Lei n.556, de 25 de 1850” Tácita: ocorre quando, mesmo sem trazer expressamente que está revogando uma norma, a nova lei disciplina completamente de forma diferente a matéria da lei original ou é com ela incompatível, tornando-se ilógica a sua manutenção. Não é admissível que no ordenamento jurídico tenham duas leis dispondo diferentemente sobre o mesmo assunto. Podemos tomar como exemplo a seguinte hipótese: digamos que exista no ordenamento jurídico uma lei que determina um percentual de cinco por cento de juros(5%) sobre determinada negociação e entre em vigor uma lei que muda, altera esse percentual de juros para seis por cento (6%). Porém essa lei não trouxe em seu conteúdo que estava revogando a lei anterior que disciplinava a matéria, mesmo assim essa lei revogou tacitamente a lei anterior por ser com ela incompatível. 6Lei jurídica no tempo. Vimos que quando a norma entra em vigor ela passa a obrigar a todos indistintamente, isto é, aplica-se de forma geral a todos os casos abrangidos por ela. Cuidaremos neste tópico do conflito de normas no tempo. Ou seja, do conflito que poderá surgir entre uma norma que acaba de entrar em vigor e a norma antiga, revogada. A questão é: uma lei que entra em vigor poderá retroagir ao passado para regular relações jurídicas, já anteriormente constituídas,consumadas quando tal regra ainda não vigia ou só poderá ser aplicada a fatos futuros? Ocorre o problema quando fatos, originados sob o regime de uma lei, procedem em trânsito até serem apanhados por uma nova lei que revoga a anterior. Pode a lei nova retroagir apanhando os efeitos daqueles fatos, ou ela só tem eficácia para o futuro? Novamente, a Lei de Introdução ao Código Civil, no art. 6º (LINDB), em prol da segurança jurídica disciplina a matéria, nos seguintes termos: “Art. 6º da LINDB – A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”. Analisando o preceito legal, podemos concluir que a lei não proíbe a retroatividade, apenas exige que ela não seja feita de forma ilimitada, devendo ser respeitados alguns institutos jurídicos: ato jurídico perfeito, direito adquirido e a coisa julgada. Aliás, no Brasil essa garantia é constitucional e está prevista no art.5º XXXVI da CF, que ratifica o disposto no art.6º da LINDB (Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro). Eis o artigo da Constituição Federal: “Art.5º XXXVI da CF – a lei não prejudicará o direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada.” O direito adquirido é o direito já consolidado, o direito que já encontra-se incorporado ao patrimônio da pessoa e/ou a sua personalidade, por ser decorrente de um fato protegido por lei ou por consequência direta e concreta da lei. O titular do direito já poderia tê-lo exercido pois a a lei lhe garantia. É o que acontece, por exemplo, quando uma pessoa completa os seus 36 anos de tempo de serviço e garante desta forma sua aposentadoria, pois a lei diz que o trabalhador tem garantido sua aposentadoriaapós 35 anos de serviço. Mesmo que lei posterior venha aumentar para 40 anos esse tempo de serviço, antes deste trabalhador se aposentar, ele não será atingido, pois já estava garantido o direito dele se aposentar com os 35 anos de serviço. Porém, situação diferente ocorre se esse trabalhador só tivesse prestado serviço por 34 anos e durante esse último ano, para completar os 35 anos, que lhe daria o direito de aposentar-se, começa a vigência da lei que aumenta para 40 anos a aquisição da aposentadoria por tempo de serviço. Neste caso, o trabalhador não pode aposentar-se, pois não adquiriu esse direito devendo só ocorrer aos 40 anos de tempo de serviço. Na verdade esse trabalhado ele só tinha expectativa de direito, que foi frustrada com a nova lei. O ato jurídico perfeito é o ato praticado em certo momento histórico e sob a égide da norma jurídica vigente naquela ocasião. Ou seja é o ato já consumado segundo a norma que está em vigor na época do ato. Importante deixar claro que é o ato já consumado e não o que ainda está em curso. É o ato jurídico plenamente constituído sob a vigência da lei que o regulamenta, gerando assim direitos e obrigações. Desta forma, se duas pessoas estão preste a assinar um contrato, que está fundamentado na lei vigente, e não assinam, vindo em seguida lei nova, alterando algumas condições que estavam prevista no contrato, o ato jurídico só será perfeito se os contratantes mudarem suas cláusulas para seguir a nova lei. Diferente seria, se eles já tivessem assinado o contrato, antes de vir a nova lei, aí sim o ato já estaria plenamente constituído, perfeito, a nova lei não poderia alcançá-lo. Já a coisa julgada consiste na decisão judicial que não cabe mais recurso, ou seja, a decisão judicial que não admite mais ser reformada, em vista de já ter o processo percorrido todas as instâncias recursais possíveis ou por não poder ser apresentado mais recursos por ter o prazo para o seu ingresso transcorrido. Vamos ao exemplo: Mário ingressa com uma ação judicial contra João pleiteando uma indenização por ter este quebrado sua vidraça. João contesta a ação, dizendo não ter sido ele o causador do dano e sim outra pessoa. Na instrução do feito (fase em que se colhe as provas no processo), Mário prova por testemunha que foi, realmente, João quem quebrou sua vidraça. O juiz julga procedente a ação movida por Mário e manda João pagar o valor correspondente da vidraça quebrada. Essa sentença, torna-se coisa julgada se João não entrar com o recurso cabível (o de apelação). Caso contrario, se ingressar com o apelo, o caso será julgado pelo Tribunal Superior, ou seja o Tribunal de Justiça, cada Estado tem o seu. Depois desse tribunal se houver recurso o processo pode chegar à Superior Instância (STJ – Superior tribunal de Justiça ou STF - Supremo Tribunal Federal). Desta forma, após esgotados todos os recursos, a decisão judicial fará coisa julgada. Desta forma, coisa julgada, ou caso julgado ou ainda decisão com trânsito em julgado, pode ocorrer de duas maneira; quando a parte perde o prazo para recorrer ou quando foram esgotados todos os recursos disponíveis para a parte. Atenção: o ato jurídico perfeito apesar de se assemelhar ao direito adquirido, com este não se confunde. O direito adquirido é um direito que se incorpora ao patrimônio do sujeito sem que ele precise, efetivamente, exercê-lo. No exemplo, retromencionado, o sujeito quando completou os 36 anos de serviços, assegurou o seu direito para aposentar-se, independente dele exerce-lo ou não. Ou seja, dele já ter requerido a sua aposentadoria, ao órgão competente, dela já estar aposentado, efetivamente. Já o ato jurídico perfeito, necessita do exercício do direito, só existe o direito se o ato estiver consumado. Pressupõe um direito adquirido que só se perfaz após ser exteriorizado por ato jurídico. É por essa razão que, no exemplo supramencionado, os contratantes só teriam um ato jurídico perfeito, um direito garantido, se eles tivessem assinado o contrato antes da vigência da nova lei. Só o contrato pronto, sem estar assinado, não lhes garantia esse direito, ou seja, de ele estar fundamentado na lei revogada. A qualidade que a lei tem de retroagir para regular fatos passados denomina-se retroatividade da lei. Retroatividade é a possibilidade de uma norma jurídica, ao entrar em vigor, atingir fatos pretéritos, ter incidência sobre situações passadas. EXERCÍCIO DE REVISÃO 1º)Dê o conceito de Direito. 2º)Qual a importância do direito para a sociedade? 3º)Demonstre os elos que vinculam homem, sociedade e direito. 4º)Diferencie Direito Objetivo de Direito Positivo. 5º)Para os que defendem a existência do Direito Natural, como ele se apresenta? 6º)A Moral distingue-se do Direito? Explique. 7º) Dê exemplo de um direito que faz parte do ramo do Direito Público e outro do ramo do Direito Privado e dê o conceito dos direito escolhidos. 8º) Qual a diferença entre costume e hábito? Exemplifique. Fale também sobre os requisitos do costume. 9º) Qual o conceito de analogia? 10º) Defina jurisprudência. 11º) Defina lei. 12º) Quais são os requisitos da norma jurídica? Explique-os! 13º) Quando uma lei começa a vigorar no ordenamento jurídico? 14º) Defina vigência e eficácia. 15º) Defina vocatio legis . 16º) Quais as consequências jurídicas para uma lei que é totalmente modificada por lei posterior? 17º) Pode o juiz deixar de prolatar uma sentença alegando que não existe lei a ser aplicada ou ser ela lacunosa? Explique e fundamente a sua resposta. 18º) Em que consiste o princípio da obrigatoriedade da lei? 19º)Defina derrogação e ab-rogação FONTES DIRETAS FONTES INDIRETAS
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