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Livro Texto - Unidade II-ANTROPOLIGIA BRASILEIRA

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74
Unidade II
Unidade II
5 CULTURA
Para entender o que é cultura, é interessante começar pela sua definição. A palavra cultura adentra a língua 
inglesa derivada do latim cultura, culturae, cujo significado é “ação de tratar”, “cultivar”, ou seja, significa cultivar 
a mente e os conhecimentos. A palavra culturae teve origem a partir do termo latino colere, que significa “cultivar 
as plantas” ou, ainda, o “ato de plantar e desenvolver atividades agrícolas”. Hoje, pode ser entendida como sendo 
o desenvolvimento das capacidades intelectuais e educacionais das pessoas, pois o conceito foi estendido às 
faculdades mentais e espirituais, metaforicamente. Permaneceu até o século XVIII designando uma atividade, 
juntando‑se a essa definição a palavra civilização, que indica progresso intelectual e espiritual para pessoas e 
para a sociedade. Posteriormente, foi utilizada em contraposição à palavra civilização, abordando a cultura das 
nações e do folclore e mais tarde o domínio dos valores humanos. No decorrer do século XIX, a palavra cultura 
adquire conotação imperialista e posteriormente ganhou o sentido de desenvolvimento humano. Por volta de 
1950, começa a ganhar o sentido como sendo posse de um pequeno grupo, mudando atualmente para parte 
da fala antropológica, como modo de vida, com a necessidade de englobar, no conceito de cultura, a conexão 
entre fenômenos culturais e socioeconômicos. Entretanto, é preciso pensar num conceito capaz de trabalhar 
as atuais complexidades da vida cultural (CEVASCO, 2016).
Mas o que é cultura?
Vamos responder: não é só o ser humano que vive em sociedade, pois existem outros animais sociais, 
como lobos, abelhas, formigas e macacos. Os grandes símios também têm alguma habilidade cultural, 
entretanto, os seres humanos elaboram a cultura, por meio de suas tradições e costumes que são 
passados pela aprendizagem e linguagem, isto é, pela herança cultural.
Historicamente, o termo cultura foi sendo construído no final do século XVIII e início do século XIX, derivado 
do termo germânico Kultur, que simbolizava os aspectos espirituais de uma cultura, e do termo civilization, 
relativo às realizações materiais de um povo. Tais ideias foram sintetizadas no livro Primitive culture, por 
Edward Tylor (1832‑1917), como culture, o que inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes, enfim, 
capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (LARAIA, 2005).
 Observação
A maior contribuição de Tylor foi definir o termo cultura como sendo 
aprendida, isto é, como sendo adquirida pelo processo de endoculturação. São 
características adquiridas não por herança genética, mas por herança cultural. 
Nesse sentido, sua contribuição vai contra a forma como se pensava as questões 
culturais até sua época, que viam a cultura como sendo hereditária.
75
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Dessa forma, o conceito de cultura ainda utilizado teve sua definição feita por Tylor, que refutou a ideia 
de que a cultura é algo inato, introduzindo o fato de ser aprendida, pelo processo de endoculturação, como 
pode ser constatado na seguinte definição: “A cultura [...] é o todo complexo que inclui conhecimentos, 
crenças, artes, regras morais, leis, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo 
homem como membro de uma sociedade” (TYLOR, 1871 apud KOTTAK, 2013, p. 1).
 Observação
Endoculturação é o processo permanente de aprendizagem, dentro 
de uma determinada cultura, pelos indivíduos que a compõem, desde o 
nascimento até a morte, em cujo processo vai assimilando os valores e as 
experiências de seu grupo.
Durante o seu desenvolvimento histórico, o homem foi propondo explicações sobre as relações 
que o ser humano estabelece na vida em sociedade. O conceito de cultura foi sendo historicamente 
construído, mesmo antes da criação do termo cultura, proposto por Tylor. Para melhor compreensão, 
apresentamos a seguir definições que antecederam historicamente o conceito de cultura, segundo 
Laraia (2005):
Quadro 4 
Autor Temática
John Locke (1632‑1704)
Publicou em 1689 o Ensaio acerca do entendimento humano, procurando demonstrar 
que a mente humana seria uma caixa vazia, quando do nascimento, porém com a 
capacidade ilimitada de obter conhecimento, pelo processo de endoculturação. Foi 
contra a ideia corrente na época de que as verdades são inatas e hereditárias. Também 
forneceu as primeiras ideias sobre o relativismo cultural, afirmando que os homens têm 
princípios opostos.
Jacques Turgot 
(1727‑1781)
Produziu a obra Plano para dois discursos sobre história universal, na qual afirma que 
“Possuidor de um tesouro de signos que tem a faculdade de multiplicar infinitamente, 
o homem é capaz de assegurar a retenção de suas ideias eruditas, comunicá‑las para 
outros homens e transmiti‑las para os seus descendentes como uma herança sempre 
crescente”. Tirando a palavra erudita, segundo Laraia (2005), o conceito de cultura é 
aceitável.
Jean‑Jacques Rousseau 
(1712‑1778)
Como Locke e Turgot, atribuiu um grande papel à educação, inclusive vendo‑a como 
responsável pela transição entre os grandes macacos e o homem, o que pode ser 
verificado em sua obra Discurso sobre a origem e o estabelecimento da desigualdade 
entre os homens, de 1775.
Edward Tylor 
(1832‑1917)
Definiu cultura como sendo todo comportamento que foi aprendido ou que não 
depende da transmissão genética.
Alfred Louis Kroeber 
(1876‑1960)
Considerado um dos maiores representantes da orientação culturalista na antropologia 
norte‑americana, principalmente por ter publicado em 1917 o artigo O superorgânico, 
no qual demonstrou a cultura como um sistema que não é dependente da natureza. 
Apesar das críticas que recebeu, trouxe para debate essas ideias que já estavam 
implícitas em trabalhos da época. Estudou os sistemas de classificação de parentesco, 
categorias linguísticas, estilos de arte, mudança cultural, entre outros temas. Produziu 
ensaios importantes que reuniu em seu livro Natureza da cultura.
76
Unidade II
Vamos, agora, verificar algumas teorias modernas sobre cultura, segundo Roger Keesinf (apud LARAIA, 2005):
Quadro 5 
Autor Temática
Leslie White 
(1900‑1975)
Neoevolucionista. Procurou elaborar uma teoria moderna sobre cultura. Elaborou um 
esquema de autores que procuram dar uma definição moderna e precisão conceitual 
ao termo cultura. Classifica‑se em:
– Cultura como sistema adaptativo
– Teorias idealistas de cultura
Sahlins, Harris, Carneiro, 
Rappaport e Vayda, 
conforme Laraia (2005), 
entre outros.
Cultura como sistema adaptativo:
– Culturas são sistemas que contribuem para a adaptação das comunidades aos seus 
embasamentos biológicos
– Mudança cultural como processo de adaptação é equivalente à seleção natural
– O domínio mais adaptativo da cultura está presente na tecnologia, economia de 
subsistência e fatores da organização social vinculados à produção
– O controle de populações, subsistência e manutenção do ecossistema, entre outros 
fatores de componentes ideológicos, podem ser resultados da adaptação
W. Goodenought
Teorias idealistas sobre cultura:
 Cultura como sistema cognitivo refere‑se à análise dos modelos feitos pela própria 
comunidade acerca de si mesma. Cultura é um sistema de conhecimento
Claude Lévi‑Strauss
Cultura como sistema estrutural, na linha de Lévi‑Strauss, definindo cultura como 
sistema simbólico cumulativo na mente humana. Procura descobrir a estruturação do 
mito, arte, parentesco e linguagem, que são gerados pelo princípio da mente
Clifford Geertz
Cultura como sistemas simbólicos: Geertz refuta a ideia de homem criada no 
iluminismo, ao demonstrar que a cultura deve ser entendida como programas de 
comportamentos que a governam, sendo que todos os indivíduos estão aptos a 
recebê‑lo, conforme sua cultura. O estudo dos símbolos e seus significados é o 
estudo da própria cultura. Recebeu críticas de que os símbolos e significados são 
partilhados pelos atores entre eles mesmos, porém não estão dentrodas cabeças 
das pessoas
David Schneider
Já Schneider define cultura como sendo um sistema de símbolos e significados que 
engloba as regras inclusas nas relações e no comportamento. Os fatos culturais não 
são somente os observáveis, mas também os não observáveis, pois pessoas mortas 
também podem ser consideradas como categorias sociais
Essas formas de entender o que é cultura, pelos antropólogos, apresentam‑se divergentes, 
demonstrando que há muito ainda o que se estudar nessa ciência.
Entretanto, em função do crescimento de definição do conceito de cultura, Geertz (1973) propôs a 
diminuição da amplitude do conceito de cultura e a melhoria de sua vertente teórica. Era preciso incluir 
o conceito de cultura dentro da perspectiva da antropologia, sendo esta uma tarefa da antropologia 
moderna, isso porque o conceito de cultura foi agregando teorias representativas da época em que foi 
sendo pensado, o que de certa forma contribuiu para a atual definição, como veremos.
É importante pontuar que os outros animais também aprendem a viver e se proteger no mundo 
a partir das experiências que dele extraem, assim como outros animais sociais aprendem com os 
demais membros de sua sociedade, porém nossa capacidade de aprender está no fato de o humano 
ter desenvolvido a simbolização, por meio da qual apreende o mundo. Assim, pela aprendizagem, os 
77
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
humanos vão aprendendo e absorvendo suas tradições culturais e criando formas de se relacionar com 
seus pares e com o mundo, pois descobriram, a partir dos símbolos, como dar significado e sentido, 
interiorizar simbolicamente esse mundo e partilhar coletivamente esses significados.
Contribuindo para a reflexão, Geertz (1973) exemplificou a cultura humana como sendo elaborada 
pelo homem, sendo este um animal que está amarrado nas próprias teias por ele tecidas, que sente, 
percebe, raciocina, julga e age sob a direção desses símbolos, pois a experiência humana é feita de uma 
sensação significativa que é aprendida e interpreta.
Como vimos, de acordo com esse autor, culturas são ideias baseadas na aprendizagem e nos símbolos 
culturais. Ele explica a cultura como sendo um conjunto de “mecanismos de controle – planos, receitas, 
regras, instruções, aquilo que os engenheiros de informática chamam de programas para comandar o 
comportamento” (GEERTZ, 1973, p. 44). Assim, para ele, o processo de endoculturação é responsável pela 
assimilação dos sistemas de símbolos e seus sentidos, e por meio deles o homem percebe e atua no mundo. 
É um processo que se dá ao nível do consciente e do inconsciente, agindo como o esperado, isto é, como 
o que é considerado certo ou errado. Muitos comportamentos são aprendidos, inclusive, pela observação.
Após essas reflexões sobre o que é cultura, vamos verificar o papel dos símbolos no conceito 
de cultura.
5.1 Os símbolos
Corrêa (2010) utiliza a mesma definição de símbolo para signos, afirmando que as várias culturas 
compreendem uma variedade de símbolos ou de signos que as compõem.
No âmbito da ideia de ser uma teia de significados, a cultura é constituída no entrelaçamento dos 
símbolos que são interpenetráveis e que se relacionam mutuamente como partes de um mesmo todo. 
Dessa forma, o signo é uma representação contida no objeto, mas não é o objeto em si mesmo – um 
exemplo é a bandeira do Brasil, representada em suas cores, formatos e estrelas, sendo que estas 
simbolizam os estados brasileiros.
Como expressão mais acabada da cultura, o símbolo é a própria representação de algo por meio 
de um objeto. Por exemplo, o iglu representa a cultura dos esquimós; os palácios japoneses, a cultura 
japonesa; a oca, a moradia dos indígenas; e a palafita, a casa de ribeirinhos, no Amazonas.
Os símbolos, por evocarem, representarem ou substituírem algo que é abstrato ou está ausente, podem 
contribuir para relembrar os fatos passados. Por isso, também representam uma determinada parte da 
história humana e seu comportamento, como ocorre com a arquitetura de um determinado período; 
assim, por meio da arquitetura é possível contrastar os diferentes períodos históricos, sejam modernos ou 
contemporâneos, e também comparar a forma como se davam as relações sociais em cada época.
Para Corrêa (2010, p. 22‑23), “sem dúvida, são os símbolos que mais expressam as particularidades e 
as diferenças existentes entre os povos, em todos os sentidos, especialmente a língua, com sua simbologia 
mais marcante por meio de como ela é grafada ou falada”, pois “catedrais, bandeiras, flores, modos de 
78
Unidade II
vestir, comidas, palácios, igrejas e suas arquiteturas são formas simbólicas de representações culturais 
de países, cidades, enfim, de povos”.
Dessa forma, podemos afirmar que os símbolos são as marcas que a humanidade deixa no tempo 
como resultados da sua atuação histórica no mundo. Essas marcas detém um valor simbólico de cultura, 
portanto, não são homogêneas e retratam o comportamento de um determinado grupo cultural. Sua 
simbologia é resultado das possibilidades e necessidades de cada grupo cultural. Diferenças podem 
distanciar, subjugar e discriminar, por isso é importante entender a cultura dentro dela mesma, pois 
ela não é consenso. Por exemplo, a bandeira do Brasil foi criada por políticos e não pelo povo de forma 
democrática; entretanto, para o brasileiro, é seu símbolo maior de nacionalismo. Tal fato demonstra que 
a cultura também pode ter alguns valores consensuais.
Uma das maneiras mais democráticas de expressar a cultura em termos simbólicos está nas comidas, 
que também carregam a distinção social na escolha, na compra, na elaboração e no modo de comer 
os alimentos e de se portar à mesa, evidenciando que as trocas simbólicas possuem valores e tradição 
próprios de certos grupos sociais, mesmo que seja dentro da mesma sociedade. O modo de se vestir, como 
moda, é também carregado de valores culturais, mas ganhou certa uniformidade com a globalização, 
embora também carregue a distinção de classe, demonstrando assim a cultura como fenômeno também 
universal, sendo no sentido global também democrática (CORRÊA, 2010).
A tradição cultural pode ser abordada como práticas comportamentais que existiram na história 
e permanecem até hoje. Ela aparece nos rituais de casamento, nos quais as noivas devem se vestir de 
roupa branca, como sinal de pureza e castidade, imprescindíveis na Igreja Católica, assim como nas 
formaturas da graduação, em que cada curso tem uma cor na faixa que compõe o paramento. Esses 
fatos demonstram que a tradição não é apenas folclore, podendo ser inventada e criada para existir 
por muito tempo, mesmo nos casos em que não se sabe o seu tempo de origem. Exemplos como esses 
demonstram que a cultura tanto pode ser específica quanto geral, demarcando os diferentes grupos 
sociais, suas práticas e realizações.
A tradição também pode ser encontrada nas expressões orais na linguagem cotidiana – por exemplo, 
nas superstições –, demonstrando que os mitos e as superstições são as manifestações mais populares. 
Podem proporcionar sorte, como ao entrar com o pé direito em algum lugar, ou azar, ao se quebrar um 
espelho (CORRÊA, 2010).
Os rituais também têm visibilidade como manifestação da cultura e são reveladores da tradição de 
manifestações específicas dos acontecimentos, cujas ações são carregadas de significados e sentidos 
datados. Um exemplo, como já mencionamos, é a cerimônia de colação de grau, que é uma tradição e um 
rito, pois significa a conclusão de uma etapa de passagem para a vida profissional, sendo emocionante 
como o ritual do casamento. Nesse aspecto, podemos pontuar que os ritos simbolizam conquistas e 
realizações às vezes não tão fáceis de serem conseguidas, podendo gerar emoções. Outro exemplo são 
os rituais de passagem, como a festa dos 15 anos e seu baile de debutantes. É importante verificar 
que os rituais são determinados social e hierarquicamente, com funções e papéis diferentes, como as 
cerimônias de casamento, que podem ser realizadaspor pastores ou sacerdotes, que dão legitimidade 
ao ritual (CORRÊA, 2010).
79
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Foi trabalhado até aqui o conceito de cultura, procurando demonstrar as formas como ela ganha 
visibilidade ao se tornar concreta e expressar as possibilidades de tradução das realizações humanas na 
sociedade. A seguir, vamos verificar os diferentes sentidos de cultura.
5.2 Os diferentes conceitos de cultura
Kroeber, durante a década de 1950, conseguiu listar mais de 250 variações na definição de cultura. 
Porém, hoje possivelmente podemos encontrar milhares de definições, mesmo porque não se trata de 
um conceito de interesse só de antropólogos e filósofos, já que existem também definições dadas pelo 
senso comum que, segundo Gomes (2011), podem ser alinhadas em algumas categorias, como segue:
• Cultura como sinônimo de erudição, própria da pessoa culta, observada em seus conhecimentos 
e refinamento social expresso nos modos de comportamento, etiqueta social, enfim, atributos 
das classes mais favorecidas, como pode ser constatado nas áreas de literatura, filosofia, história, 
entre outras. Nesses casos, a palavra cultura é utilizada no sentido de cultivar, numa valorização 
do humanismo, da retórica e do comportamento refinado, denotando simbolicamente status 
social. Trata‑se de cultura como fazendo parte da formação intelectual individual e coletiva e 
contendo refinamento. Um povo tem cultura do ponto de vista da tradição respeitada e cultuada 
e ao mesmo tempo renovada e refinada. Pode‑se dizer que uma pessoa ou um povo com cultura 
é aquele que respeita as leis, os códigos e o uso de tecnologia e tem comportamento comedido. A 
antropologia tem certa reserva em relação a essa definição, pois ela pode implicar em o brasileiro 
considerar a cultura europeia melhor que a brasileira.
• Cultura como manifestação da arte, que considera que teatro e música clássica são cultura, assim 
como, no popular, as danças folclóricas, músicas caipiras e carrancas que trafegam no rio São 
Francisco. São manifestações e produções artísticas, entendidas, pela antropologia, como tradição, 
folclore, ritos ou cultura material.
• Cultura como hábito e costumes que identificam um povo, pelas suas especificidades e 
manifestações, como comer rapadura com farinha ou dormir em rede no Nordeste, ir à praia aos 
domingos no Rio de Janeiro, a elasticidade do mineiro. Nesses aspectos, cultura refere‑se ao todo 
comportamental, que inclui também as questões emocionais e intelectuais de uma determinada 
cultura ou grupo cultural.
• Cultura como identidade de um povo ou de um grupo social que compartilha elementos simbólicos 
independentemente de classe social, região ou religião, entre outras possibilidades, e que permite 
um contraste frente a outras identidades culturais – por exemplo, identificação do Brasil com o 
futebol e o carnaval. Nesse caso, considera‑se que a cultura é aquilo que fundamenta nos costumes 
e atitudes de um povo, cujo conceito ao intelectualizar‑se torna‑se abstrato, isto é, forma‑se no 
inconsciente das pessoas, indicando como devem se comportar, pensar e se posicionar no mundo. 
É uma concepção muito trabalhada na antropologia, no sentido de padrão modelo, estrutura, 
blueprint, entre outras.
80
Unidade II
• Cultura como dimensão da vida social, dando sentido aos atos e aos fatos de uma determinada 
sociedade, como no pensamento, valores e comportamento das pessoas em geral, relações sociais, 
atos políticos, fatos econômicos, produção artística, religiosidade etc.
• Cultura como sendo tudo que o homem vivencia, adquire, realiza, transmite por meio da 
linguagem. Vem da primeira definição de cultura, formulada por Edward Tylor em 1871. Tylor 
considerava cultura como um todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, 
costumes, enfim, tudo que é adquirido pelo homem por meio do aprendizado, como membro de 
uma determinada sociedade.
• Cultura, segundo Gomes (2011, p. 16), é o modo próprio de ser do homem em coletividade, que 
se realiza em parte consciente, em parte inconscientemente, constituindo um sistema mais ou 
menos coerente de pensar, agir, fazer, relacionar‑se, posicionar‑se perante o absoluto e, enfim, 
reproduzir‑se. Essa forma de definição pensa a cultura além da biologia e do homem animal. Nessa 
definição de cultura, a língua é pensada como um sistema de símbolos que são convencionados, 
cujos significados são partilhados inconscientemente por uma determinada coletividade, embora 
esses significados também possam se entrecruzar e formar novos significados. Então, pensar é um 
ato que acontece, pela língua, cujos significados são compartilhados coletivamente e ao mesmo 
tempo pelo indivíduo, que quando em contato com outras possibilidades pode propiciar nova 
criação. Para Gomes (2011), o principal fator de criatividade do homem está no pensamento, 
inclusive a produção da ciência e da tecnologia. Resumindo, para Gomes (2011, p. 37), “pensar 
representa o sistema ideológico da cultura, o conjunto de ideias, a lógica e a filosofia que são 
inerentes na cultura”.
Como podemos ver, são muitos os conceitos sobre cultura, mas também é preciso entender que as 
culturas se relacionam umas com as outras. Isso pode exemplificar o fato de que a cultura brasileira 
se relaciona com a norte‑americana, com a indígena, nos relacionamentos dos indivíduos uns com os 
outros, trocando bens e produtos e transmitindo, junto com essas trocas, valores, pensamentos, ideias 
e comportamentos emprestados que podem ser propositalmente ou inconscientemente incorporados 
pela coletividade. Um exemplo disso é o costume de tomar banho por higiene ou por refrigério mental, 
empréstimo da cultura indígena que aconteceu pelo processo de aculturação.
 Observação
Aculturação é um conceito antropológico e sociológico que indica 
um processo de modificação cultural de indivíduo, grupo ou povo que se 
adapta a outra cultura ou dela retira traços significativos.
A aculturação pode levar à integração ou assimilação de itens culturais e, assim, ao pertencimento. 
Entretanto, é um processo reversível, pois alguns povos podem voltar a ser o que eram antes dos 
contatos. O processo de aculturação pode se dar pela dominação de uma nação sobre outra, cuja 
resistência acaba levando à aceitação e ao acomodamento frente ao novo, principalmente pela força 
ideológica da cultura dominante.
81
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Entretanto, é necessário frisar que não há cultura superior e inferior. Foi assim classificada numa escala 
evolutiva, pois toda cultura tem sua singularidade e seu valor, mas é comum definir culturas superiores como 
sendo aquelas mais bem equipadas para um combate ou com maior poder econômico, conceitos esses que 
não são científicos. Há aquelas culturas que não se enquadram nessas possibilidades, tendo predominado 
sobre outras culturas dominantes, por exemplo, a cultura grega clássica absorvida pela cultura romana.
Atualmente, há uma convivência aceitável entre as diferentes culturas, possibilitada por instituições 
mundiais como a Organização das Nações Unidas e também pelo pensamento científico, apesar de 
os empréstimos culturais se realizarem mais por meio das influências econômicas que por questões 
culturais, por influência geral dos Estados Unidos e pela globalização homogeneizadora, que cria 
identificação cultural, mas também competitividade negativa entre algumas nações, embora isso não 
seja incompatibilidade cultural.
Em relação aos termos cultura e sociedade, estes normalmente são utilizados como equivalentes, 
por terem muitos sentidos em comum e operarem de forma semelhante. O termo sociedade comporta 
um conjunto de indivíduos agrupados pelo que têm em comum, para os sociólogos, como partes de um 
todo, como trabalho, educação, lazer etc., sendo que os indivíduos participam de acordo com sua categoria 
social, cuja influência coletiva se manifesta no indivíduo. O termo cultura diz respeito a atitudes e visões 
de mundo. A sociedade se rege pela cultura,isto é, pela forma de ser coletiva e partilhada pelos membros 
que a contêm, dentro de sua categoria social. Cada categoria social tem seu comportamento e modos de 
ser partilhados coletivamente dentro do todo cultural.
Embora existam sociedades mais igualitárias, nas quais os indivíduos participam nos bens materiais 
e simbólicos de maneira mais ou menos equitativa, a maioria das sociedades no mundo hoje é 
desigualitária, pois as participações das diferentes categorias se dão de forma desigual, assim como 
entre indivíduos, famílias e diferentes categorias sociais. Em síntese, o termo sociedade refere‑se a 
um todo de indivíduos que estão agrupados em diferentes categorias sociais que são constituídas por 
diferenciação, e a cultura pode ser considerada o modo de ser dessa sociedade.
Relativamente às classes sociais, cada sociedade produz sua forma de existência, culturas 
e subculturas, e seus membros são identificados dentro delas. No interior do todo social podem 
ser contrastivas as diferentes classes sociais. As variações culturais, dentro desse todo, podem ser 
identificadas como subculturas, ou parte da cultura total. Como exemplo, podemos citar que a elite 
brasileira tem uma determinada forma ou modo de se relacionar com as demais classes sociais: a 
subcultura, que é a parte do todo que dá sentido a esse todo e permite a comunicação mútua.
Sobre tradição e folclore, é preciso fazer uma distinção. A palavra tradição é em geral utilizada 
como sinônimo de cultura ou ainda como um componente da cultura em relação aos fatos do passado, 
carregando aquela identidade para o presente e mantendo uma relação de lealdade com esse passado. 
Pode ser confundida com folclore, isto é, com o conhecimento popular, mas este se refere aos ritos, mitos, 
crenças, festas etc. que no passado tiveram bastante importância, mas que hoje são manifestações de 
coletividades menores de fatos que podem não voltar a acontecer e ter a mesma importância que já 
tiveram, embora tenham sido muito importantes para a formulação de políticas voltadas a valorização 
da cultura popular.
82
Unidade II
Atualmente, os museus oferecem possibilidades de permanência leal com a cultura do passado.
 Saiba mais
Podemos citar Câmara Cascudo como um grande folclorista brasileiro, 
conforme pode ser verificado na obra a seguir:
CÂMARA CASCUDO, L. Dicionário do folclore brasileiro. 12. ed. São 
Paulo: Global, 2012.
Em relação aos termos ethos (ética) e etos (moral), ethos tem grande importância no estudo da 
cultura para as explicações de como sentir o mundo e de se comportar conforme seus valores, isto é, 
como viver o sentido de ser no mundo e de como a vivência nele expressa seus valores e normas, as 
questões subjetivas de vivência da cultura.
 Observação
Ethos, palavra de procedência grega, pode ser definida em relação aos 
hábitos adquiridos por uma comunidade. É o que distingue um grupo social 
e cultural dos outros, sendo assim uma identidade social. Para apreendermos 
de forma mais ampla, devemos entender a definição da palavra de origem 
latina mören, que tem o mesmo significado de ethos e que deu origem 
à palavra moral. Moral e ética são sinônimos. Podemos compreender a 
ética quanto à “ciência da conduta”, porque ela faz um exame dos modos 
como as pessoas se comportam em determinada comunidade, tendo como 
menção valores e padrões sobre o que é ruim e bom para determinada 
comunidade como um todo e para o entrosamento dos indivíduos que a 
compõem (SIGNIFICADO..., s.d.).
Portanto, ethos refere‑se à subjetividade presente no interior da cultura, trata‑se dos valores e normas 
presentes no comportamento e formas de ver o mundo, como utilizar a palavra ethos referindo‑se à 
cultura europeia.
Em relação ao significado de cultura e civilização, esses termos não são considerados sinônimos 
pelos antropólogos. A cultura é a forma como um povo se organiza e vive. Civilização significa parte 
de uma cultura, num determinado tempo (por exemplo, a cultura maia), como um modo de ser e de 
agir de um povo. Pode ser definida como modo de ser e de agir politicamente e ser utilizada, ainda, 
como civilização, sendo um estágio superior de evolução das culturas que têm como características 
desigualdade social, tecnologia avançada e tendência expansionista. Civilização pode se referir mais 
às questões materiais, como as territoriais e políticas; já cultura, às questões temporais e espirituais 
(GOMES, 2011).
83
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Até aqui, pudemos depreender que cultura tem muitos significados e várias formas de utilização e de 
aplicação, assim como é relacional a diversos conceitos. Entretanto, apesar dessa diversidade conceitual, 
tem imenso valor explicativo ao revelar o ser humano vivendo em coletividade e como estudá‑lo.
Vamos aplicar alguns dos significados apresentando alguns níveis da cultura:
• Cultura nacional: refere‑se a crenças e padrões de comportamento que são carregados de valores 
aprendidos e partilhados entre os cidadãos de um determinado país.
• Cultura internacional: entendida como estendida para fora do país ganhando o mundo por 
empréstimo ou difusão, por meio de migração, colonialismo e, atualmente, pela globalização. 
Por exemplo, católicos de vários países que compartilham toda a carga cultural transmitida 
pela Igreja Católica.
Mesmo compartilhando uma determinada tradição cultural nacional, dentro do próprio país existe 
uma diversidade cultural verificada no indivíduo ou na coletividade, no interior das classes sociais, 
famílias, comunidades, regiões e demais grupos sociais que vivem dentro do país. As subculturas aqui 
não são referidas como inferiores a alguma cultura dominante, e sim como existindo dentro do país 
em diversos grupos culturais. Referem‑se a tradições e padrões simbólicos de diferentes grupos que 
também são partilhados para os demais grupos culturais dentro do país, como o forró, uma tradição 
nordestina que ganhou o Brasil.
Como forma de operar a cultura, reiteramos os conceitos de etnocentrismo, relativismo cultural e 
direitos humanos, conforme Kottak (2013), como segue:
• Etnocentrismo: refere‑se a uma determinada visão de mundo de coletividades que se consideram 
socialmente mais importantes que as demais. Individualmente ou coletivamente, consideram a 
etnia à qual pertencem como sendo um eixo central a partir do qual avaliam comparativamente as 
diferentes culturas humanas. Contribui, no sentido de reforçar a solidariedade social, numa mesma 
experiência cultural, mas, se extremado, pode ser prejudicial, ao estranhar os comportamentos 
diferentes de outras culturas, podendo gerar preconceitos e estigmas, por exemplo, não aceitando 
o fato de uma cultura se alimentar de determinado animal, como os chineses em relação a terem 
como comida a carne de cachorro.
• Relativismo cultural: faz oposição ao etnocentrismo por considerar que não deve haver 
julgamento de uma cultura sobre outra como sendo melhor ou pior, pois cada uma tem seus 
próprios valores, que não devem ser comparados com os de outras. O relativismo cultural, 
se extremado, pode causar problemas, ao considerar correto o comportamento cultural da 
Alemanha na época do nazismo. Por esses motivos, o relativismo cultural está sendo questionado 
em relação aos direitos humanos sobre os países do Oriente Médio que têm o hábito tradicional 
de remover o clitóris das meninas para que não sintam prazer. Esse hábito viola o direito que elas 
têm sobre seu próprio corpo e sexualidade. Tais questionamentos seriam resolvidos por meio 
do entendimento que existe diferença entre relativismo metodológico e moral. A antropologia 
considera o relativismo cultural não como sendo uma questão moral e sim metodológica. É 
84
Unidade II
necessário perceber como os indivíduos de uma determinada cultura veem as coisas, o que de 
fato não impede de se ter algum estranhamento.
• Direitos humanos: trabalha as questões de moral e justiça internacionalmente, como a liberdade 
de expressar o que se pensa sem serperseguido, com direitos que não são alienados e não podem 
ser extintos por algum país. Tais direitos estão contidos na Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, no Pacto sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e no Pacto Internacional sobre 
Direitos Civis e Políticos da Organização das Nações Unidas, reconhecidos internacionalmente.
• Direitos culturais: surgiram na esteira dos direitos humanos e referem‑se aos direitos que os 
grupos étnicos, religiosos e indígenas têm de preservar sua cultura com seus comportamentos, 
língua e economia.
• Direitos de propriedade intelectual: também se referem ao direito que a população indígena tem 
de conservar sua base cultural – por exemplo, a etnomedicina, plantas, folclore, artes, artesanatos, 
músicas, danças, trajes e rituais. Assim, é possível que nessa noção de direito, um grupo com o 
conhecimento dos índios possa usar e distribuir seus produtos e recompensá‑los. A noção de 
direitos culturais está próxima da noção de relativismo cultural, porém isso não indica que um 
antropólogo tem que aprovar, por exemplo, o canibalismo. Cada antropólogo pode escolher com 
qual cultura quer trabalhar, mesmo respeitando a diversidade humana, e não ignorar os padrões 
internacionais de justiça e moralidade.
Como pode ser observado, estamos a todo momento trabalhando com identidades culturais, por 
isso é preciso sabermos um pouco mais sobre esse conceito. Para tanto, é preciso entender que a 
identidade cultural está vinculada a grupos sociais e culturais, cujas características estão ligadas as 
suas condições históricas e, portanto, num primeiro momento, seus membros não a escolhem, pois 
nascem num ambiente que já tem suas regras dadas. Entretanto, num determinado momento de suas 
vidas, podem romper as limitações de sua cultura e agregar ou retirar valores, pois cotidianamente 
novas experiências levam‑nos a fazer escolhas. Por esses motivos, a antropologia procura estudar 
os diálogos ininterruptos que existem entre os símbolos de diferentes sujeitos, levando à existência 
de várias identidades sociais – por exemplo, de idosos ou jovens, homens e mulheres, ricos e pobres 
–, cujos fatores vão construindo a identidade. Seus membros são reconhecidos por essa identidade, 
que pode ser nacional, profissional, grupal, de gênero, de classe social, demonstrando como cada 
um participa de sua cultura e por ela é rotulado. Segundo Kemp (2012), existem diferentes vertentes 
abordando a questão da identidade.
Podemos falar de identidade biológica, que enfatiza a herança genética, constituindo o conceito de 
raças humanas. Esse conceito, por ser pejorativo, foi substituído por etnia, uma vez que esse conceito 
biológico de raça, utilizado para classificar os seres humanos, contribuiu para a promoção da dominação 
de uns sobre os outros, da inferiorização de traços culturais alheios e da exterminação de populações 
inteiras. Nesse aspecto, a antropologia física fez grave distorção ao explicar os fatos culturais por meio 
do evolucionismo ou darwinismo social. Junto com a arqueologia, procurou explicar como se deu esse 
processo evolucionista e hierárquico, no qual os mais hábeis e capazes sobrevivem, justificando a ideia 
da superioridade de umas culturas sobre outras. Esse fato está na origem do movimento nazista, na 
85
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Alemanha, resultando no holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, na antropologia, 
entende‑se que a identidade cultural não deve ser pensada biologicamente.
O estudo da identidade, do ponto de vista antropológico, necessita de referenciais para acontecer. 
A diversidade cultural demonstra que os comportamentos não são naturais, e sim construídos por cada 
cultura, e só no contato com o diferente podemos construir uma identidade, pois só é possível saber o 
que sou a partir do que não sou. Nesse caso, temos a identidade contrastiva, que surge em oposição ao 
outro e afirma o que somos frente a esse outro diferente de nós. Entretanto, hoje há uma multiplicidade 
de identidades culturais numa mesma localidade e tempo caracterizando várias tribos urbanas, como 
tribos de rock, de funk, de uma determinada vertente religiosa etc.
Nas diferentes sociedades há construções de identidade individuais pautadas por modelos culturais 
de comportamento determinando papéis e funções a serem cumpridos. Nesse caso, enquadram‑se a 
identidade nacional e a identidade de gênero.
A identidade nacional também constrói modelo cultural de comportamento, que faz parte da 
construção histórica da ideia de nação. É uma das formas de representação de nossa identidade, mesmo 
porque a totalidade de nossa cultura vai além de seus traços nacionais, pois os grupos reproduzem ou 
abandonam determinados valores, por conta da interação social que delimita a fronteira entre “nós” e 
o “outro”.
A identidade de gênero, também como recorte cultural, está presente no sexo biológico definido e 
se refere à diferença, mas não ao papel e ao comportamento que o indivíduo pode desenvolver. Cada 
cultura tem seu modelo de comportamento vinculado à questão de gênero, com seus atributos que não 
estão ligados somente à reprodução, mas também aos papéis que cada gênero vai desempenhar no seu 
grupo, e isso faz parte do processo de socialização, ou seja, é fruto desse processo. Pode convergir ou 
divergir do que é considerado padrão de comportamento de gênero, uma vez que este é uma construção 
psicossocial que carrega papéis específicos em sua cultura.
A seguir, conforme Kemp (2012), vamos compreender os conceitos de grupos, tribos, gangues 
e minorias.
Atualmente, a tradição cultural de um grupo já não tem muita importância para os indivíduos que 
são livres e têm capacidade de efetuar escolhas subjetivas, cujos lugares são a somatória de vários 
elementos identitários, como profissão, gênero, lazer, consumo, crenças, orientação política, entre 
outros. Além de identidade contrastiva, pelo fato de a forma de agrupamento referir‑se à afirmação da 
diferença, a identidade pode ser relacional por ser complementar ou combinada, sendo expressa nos 
papéis que desempenhamos em diferentes contextos: por exemplo, somos pai, filho, professor etc.
Em função da multiplicidade de categorias sociais é possível realizar agrupamentos sociais variados, 
como a universalização da educação, os meios de comunicação de massa, que divulgam modo de vida e 
hábitos, a cultura do consumo, entre outras, demonstrando que podemos nos associar a grupos com os 
quais nos identificamos. Nem todos os grupos podem ser classificados como tribos; para tanto, é preciso 
ter traços identitários específicos que sejam reconhecidos pelos outros, como o corpo, as vestimentas, 
86
Unidade II
a língua, o dialeto, a gíria, a religião, entre outros, conforme ocorre com as tribos de roqueiros, por 
exemplo, fato conhecido como neotribalismo. As práticas comuns nas sociedades tradicionais obedeciam 
a regras e tradições de seu povo, mas nessa nova denominação os componentes do neotribalismo 
querem quebrar as regras sociais, procurando a possibilidade de serem diferentes do padrão instituído 
para serem iguais aos membros de sua tribo. O fato de ser igual aos demais membros da tribo leva ao 
conceito de minorias sociais.
Minorias sociais referem‑se a grupos cujos membros têm identidade divergente do padrão imposto. 
Houve grandes manifestações em prol de mais direitos para as minorias manifestas, a partir de 1960. 
Buscou‑se o direito à diferença, iniciada por negros, feministas e homossexuais, que lutavam pelo direito 
do cidadão independentemente de seu pertencimento étnico, político, religioso ou sexual. Atualmente, 
esse conceito de minoria refere‑se a qualquer grupo social que desenvolve estratégias de publicização 
de afirmação identitária.
Isso posto, é possível afirmar que o jogo simbólico constitui o processo de identificação. Em alguns 
momentos pode‑se respeitar uma determinada identidade; em outro momento, não, resultando em 
preconceito. Trata‑se de um processode identificação que é referencial, relacional e combinada e 
permite uma contínua construção identitária, demonstrando, conforme Hall (1998), uma identidade 
pós‑moderna aberta, contraditória, inacabada, fragmentada, capaz de expressar as contradições 
existentes na sociedade e escolher mesmo mantendo as outras opções.
 Saiba mais
O filme Baraka é um documentário não narrativo que inclui filmagens 
de várias paisagens da natureza e das culturas humanas, como igrejas, 
ruínas, cerimônias religiosas e cidades.
BARAKA. Direção: Ron Fricke. EUA: Magidson Films, 1992. 96 min.
6 A CULTURA BRASILEIRA
Conforme Geertz (1973), a cultura comporta uma teia de significados culturais, o que nos ajuda a 
entender que a cultura brasileira é composta por uma variedade de culturas, perfazendo uma multicultura 
que se entrelaça e compõe essa teia. A multicultura caracteriza‑se pela forma como sujeitos assimilam 
e se apropriam das manifestações culturais diferentes das suas tradicionais. Corrêa (2010) exemplifica 
com a pizza trazida para o Brasil no processo de imigração, típica da culinária italiana, que em Belém 
do Pará é recheada com jambu, planta comestível apreciada na região, camarão e mozarela. Aí temos 
o entrecruzamento presente na composição, estética, sabor e odor, num processo de interculturalidade 
que tem em comum um determinado alimento. Ao ser produzido e consumido, está unindo diferentes 
sujeitos, com diferentes costumes, e ao se apropriar do costume de outro país, agrega aquilo que tem 
como seu costume alimentar.
87
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Em relação à língua, esta é considerada um forte referencial da identidade e de pertencimento 
da pessoa, à medida que está sempre associada a um determinado país e carrega seus significados, 
produzindo sentido. Podemos afirmar que a língua carrega uma identidade cultural. Para Cuche 
(1999, p. 176‑177):
A questão da identidade cultural remete, em um primeiro momento, 
a questão mais abrangente da identidade social, da qual é um dos 
componentes. Para a psicologia social, a identidade é um instrumento que 
permite pensar a articulação do psicólogo e do social em um indivíduo. 
E exprime o resultante das diversas interações entre o indivíduo e seu 
ambiente social, próximo ou distante. A identidade social de um indivíduo 
se caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em um sistema social: 
vinculação a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma classe social, 
a uma nação etc. A identidade permite que o indivíduo se localize em um 
sistema social e seja localizado socialmente.
Como um dos componentes da identidade social, a identidade cultural inclui a língua, que permite 
o sentimento de pertencimento a uma dada cultura – em nosso caso, à cultura brasileira, cuja língua 
é a portuguesa –, com certas peculiaridades que a diferem da língua portuguesa falada em outros 
países, por exemplo, na pronúncia e em termos marcadamente brasileiros. A identidade cultural não 
é uma construção que diz respeito somente ao indivíduo e sim ao grupo social ao qual pertence. A 
língua, por ser social, é uma questão grupal. Carrega idiossincrasias regionais no Brasil e, embora use 
a língua portuguesa, produz uma linguagem com suas variações linguísticas. Um exemplo visto em 
Corrêa (2010) é o uso de uma determinada palavra para definir o mesmo objeto, como a palavra fio no 
norte do país e barbante no sul e sudeste.
A língua pode ser considerada o elemento‑chave de qualquer povo. Esse fato pode ser observado num 
processo migratório, pela dificuldade que as pessoas podem ter em aprender nova língua e consequentemente 
a pertencer a essa outra cultura. Esse sentimento de pertencimento é um processo, e para se efetuar não basta 
apenas saber falar a língua ou conhecer alguns dos seus significados culturais. É preciso de muito tempo de 
imersão na cultura para poder compreendê‑la e refleti‑la. A linguagem implícita no uso da língua incorpora 
suas múltiplas manifestações. As diferentes linguagens se manifestam igualmente por meio dos símbolos que 
contém, como pátrios, moda, culinária, músicas etc.
 Observação
Língua: é definida como sendo um conjunto de elementos constituintes 
da linguagem falada própria de uma coletividade. Significa também idioma 
– por exemplo, a língua portuguesa.
Linguagem: refere‑se a qualquer sistema de signos simbólicos utilizados 
para efetuar a intercomunicação social, visando expressar e comunicar 
ideias e sentimento, ou seja, conteúdos à consciência.
88
Unidade II
É preciso entender, também, que língua e linguagem são parte de uma cultura e são perpassadas 
pelo viés de classe, tendo, portanto, aspectos que são próprios da classe dominante, como a linguagem 
culta, que traduz a norma padrão da língua e apresenta as desigualdades existentes entre as classes 
sociais brasileiras, sendo usada em espaços e lugares que lhe são específicos, expressando as hierarquias 
existentes, como nas escolas. A língua e a linguagem se diferenciam pelo ponto de vista econômico, mas 
também da escolarização, que pretende desenvolver o uso correto da língua que é padrão. Entretanto, 
atualmente a linguagem virtual vem trazendo novos símbolos de comunicação e permitido acesso à 
comunicação democraticamente às diversas classes sociais. Assim, a língua portuguesa, embora expresse 
diferenciação social, é responsável também pela unificação cultural do brasileiro (CORRÊA, 2010).
As diferenciações culturais, entre outros aspectos, estão presentes na música, na culinária, na moda, 
nos artefatos e na arquitetura:
• Música: a música sertaneja é mais presente nos estados de São Paulo e Goiás. Frevo e forró, 
no Nordeste. Brega, no Norte. Entretanto, todos esses tipos de música são ouvidos por todas as 
camadas sociais.
• Culinária: pode ser regional e ao mesmo tempo nacional. São exemplos a feijoada, que contém a 
mistura do feijão com a carne‑seca, carnes de porco salgadas, linguiças, entre outros alimentos que 
provêm de diferentes regiões; a macaxeira, assim chamada no Norte e no Nordeste, mais conhecida 
como aipim no Rio de Janeiro e como mandioca em São Paulo; a maniçoba, o tacacá e o tucupi, pratos 
típicos da região Norte, cujo gosto foi desenvolvido a partir da tradição indígena, que a colonização 
portuguesa não conseguiu abarcar; o buriti, no Maranhão; o pequi, no Cerrado; e o açaí, do Pará para 
o mundo, por combater os radicais livres, o que permitiu um caráter internacional a nossa cultura, no 
mundo globalizado, que tem tendência homogeneizante, mas que tem também a necessidade de que 
os produtos se adequem à cultura alimentar de diferentes países.
• Moda: segue padrões comuns, porém assentados na moda jovem, que podem interferir nos modos 
de se vestir de diferentes culturas, embora haja algumas resistências, como o uso do quimono, no 
Japão; da bombacha gaúcha, no sul do Brasil; e da roupa caipira, representada nas festas juninas. 
Para Soares (2001, p. 166):
Então é interessante pensar a moda dentro desse aspecto, como um fenômeno 
que pertence ao âmbito da cultura e é uma expressão dela, como uma lógica que 
em algum momento foi mais associada ao vestuário, mas que na atualidade está 
presente em vários setores da cultura se não em todos eles. Simultaneamente, 
é importante pensar a moda como um produto cultural, como eu disse 
anteriormente, produto cultural esse que faz com que o produtor necessite de 
uma análise crítica, o que é fundamental. Acredito na possibilidade da realização 
de uma análise crítica daquilo que se está fazendo. Isso é um grande caminho, 
um caminho de investimento, que é o caminho da investigação, da curiosidade, 
do pensamento. Dessa forma, a moda pode também ser analisada como um 
marcador de identidade, algo que oferece um elemento diferenciador mesmo 
que paradoxalmente, já que somos globalizados.
89
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
• Artefatos: o artesanato dá grande visibilidade à cultura nacional local e a propaga pelo Brasil, 
sendo adquirido por diferentes seguimentos sociais. São exemploso artesanato nordestino, com 
suas rendas cearenses e pernambucanas, e a rede, costume que veio dos índios e que faz parte 
de diferentes segmentos sociais, sendo utilizada também com fins de lazer. O artesanato popular, 
como a rede, tem origem indígena, assim como a cerâmica marajoara imitando urnas indígenas; 
o cuiú para tomar tacacá e o feito para o chimarrão; o tambor, que tem origem africana etc. A 
posse de artefato tem valor histórico e educacional, pois a tradição tem valores fundamentais.
• Arquitetura: aquela que com seus traços apresenta a tradição da colonização, a qual pode ser vista 
principalmente nos templos católicos, nas capelas e nas igrejas grandiosas edificadas no Brasil e 
também nas fortificações cujas arquiteturas indicam defesa territorial. Na contemporaneidade, as 
obras de Oscar Niemeyer, em Brasília e outras capitais do Brasil, são marcadas por um estilo que 
expressa a cultura brasileira e que é conhecido mundialmente. São também exemplos as palafitas 
amazônicas, de Manaus e Belém, que mostram uma cultura local que simboliza a moradia de 
segmentos sociais menos favorecidos economicamente, e as moradias de barro e pau a pique, às 
margens das rodovias no Nordeste e Norte ou em terras de pequenos agricultores. Além disso, 
destaca‑se também a simbologia implícita nas construções de Brasília: política, nos prédios 
dos Três Poderes, e religiosa, no caso da catedral de Brasília, todos representando a arquitetura 
moderna (CORRÊA, 2010).
Conforme Corrêa (2010), relativamente a etnias e culturas no Brasil, nossa sociedade é caracterizada 
pela multiplicidade de cultura que a compõe, capaz de realizar infinitas possibilidades de trocas culturais, 
como as decorrentes da colonização e as dos processos migratórios, conforme veremos na sequência.
6.1 A contribuição cultural do índio
No processo de colonização, nas relações entre os índios e os portugueses, houve a imposição da 
cultura portuguesa sobre a cultura indígena, como a tupi‑guarani, em grande parte suprimida por ser 
considerada selvagem em um primeiro momento. Considerava‑se que os índios tinham maus costumes 
e precisavam deixar essas condições, pelo processo de catequização e conversão à fé católica. Isso era 
responsabilidade dos jesuítas à época, em especial do padre Manoel da Nóbrega, que escreveu, conforme 
Daher (2001, p. 50):
Contai‑me o mal de hum destes [índios] e ho mal de um philosopho romano. 
Hum destes, muito bestial, sua bem‑aventurança hé matare ter nomes, e esta 
hé sua gloria por que mais fazem. Ha lei natural nam a guardão porque se 
comem; sam muito luxuriosos, muito mentirosos, nenhuma cousa aborresem 
por má, e nenhuma louva(m) por boa; tem credito em seus feiticeiros.
Verifica‑se no texto uma crítica à forma de ser dos índios na antropofagia, nas guerras entre tribos, 
na vivência natural e na religiosidade, costumes esses enraizados nos índios pela língua tupi‑guarani, 
a qual foi apropriada pelos jesuítas para que pudessem fazer a catequização. Ainda conforme Daher 
(2001, p. 51), a forma como subjugaram a cultura indígena pode ser muito bem verificada no seguinte 
texto do padre Manoel da Nóbrega:
90
Unidade II
Primeiramente o gentio se deve sujeitar fazê‑lo viver como criaturas 
racionais, fazendo‑lhes guardar a lei natural [...]
A lei, que lhes hão de dar, é defender‑lhes comer carne humana e guerrear 
sem licença do Governador; fazer‑lhes ter uma só mulher, vestirem‑se pois 
têm muito algodão, ao menos depois de cristãos, tirar‑lhes os feiticeiros, 
mantê‑los em justiça entre si e para com os cristãos, fazê‑los viver quietos 
sem se mudarem para outra parte, se não for para entre cristãos, tendo 
terras repartidas que lhes bastem, e com estes Padres da Companhia para 
os doutrinarem.
O extermínio da cultura indígena por meio do processo de reeducação foi demorado por não se tratar 
de algo simples de ser feito. Para tanto, como pode ser verificado no relato que acabamos de apresentar, 
fez‑se necessária a supressão dos costumes indígenas, muitas vezes de forma conflituosa, para a vida 
natural assim concebida pelos colonizados e pela Igreja, que era a da fé e da cultura portuguesas. 
Com tudo isso, a cultura indígena no Brasil não foi suprimida por completo, pois ainda temos nações 
indígenas que vivem em sua naturalidade e as que absorveram as demais culturas do país.
Conforme a Fundação Nacional do Índio (FUNAI, s.d.b):
Desde 1500 até a década de 1970 a população indígena brasileira decresceu 
acentuadamente e muitos povos foram extintos. O desaparecimento dos 
povos indígenas passou a ser visto como uma contingência histórica, algo 
a ser lamentado, porém inevitável. No entanto, este quadro começou a dar 
sinais de mudança nas últimas décadas do século passado. A partir de 1991, 
o IBGE incluiu os indígenas no censo demográfico nacional. O contingente 
de brasileiros que se considerava indígena cresceu 150% na década de 90. O 
ritmo de crescimento foi quase seis vezes maior que o da população em geral. 
O percentual de indígenas em relação à população total brasileira saltou de 
0,2% em 1991, para 0,4% em 2000, totalizando 734 mil pessoas. Houve um 
aumento anual de 10,8% da população, a maior taxa de crescimento entre 
todas as categorias, quando a média total de crescimento foi de 1,6%.
Um dado importante foi o aumento da proporção de indígenas urbanizados.
A atual população indígena brasileira, segundo resultados preliminares do 
Censo Demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, é de 817.963 indígenas, 
dos quais 502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas 
brasileiras. Este Censo revelou que em todos os Estados da Federação, 
inclusive do Distrito Federal, há populações indígenas. A Funai também 
registra 69 referências de índios ainda não contatados, além de existirem 
grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena 
junto ao órgão federal indigenista.
91
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
É importante entender que parte desse crescimento se refere àqueles que assumiram a identidade indígena.
No Censo Demográfico feito pelo IBGE em 2010, a Funai identificou a existência de 274 línguas 
indígenas no Brasil. Entre elas, 17,5% da população indígena não falam a língua portuguesa. Segundo 
essa pesquisa, a população brasileira era composta por 190.755.799 habitantes, sendo 817.963 indígenas, 
de 305 diferentes etnias, distribuídas conforme o gráfico a seguir:
Norte
305,873
Nordeste
208,691
Sudeste
97,960
Sul
74,945
Centro-Oeste
130,494
Figura 4 – Distribuição da população indígena ‑ IBGE ‑ 2010
Encontramos povos indígenas vivendo nas cinco regiões brasileiras, mas concentrados na região 
Norte, com 305.873 índios, perfazendo aproximadamente 37,4% do total. Veja o gráfico:
Norte
Nordeste
Centro‑Oeste
Sudeste
Sul
Figura 5 – População indígena no Brasil
Na região Norte, o estado que mais concentra população indígena é o Amazonas, conforme o gráfico 
a seguir:
92
Unidade II
Amazonas
Roraima
Pará
Acre
Tocantins
Rondônia
Amapá
Figura 6 – Concentração indígena nos estados da região Norte
É bom destacar, conforme a Funai, que a população indígena vive tanto nas áreas rurais como nas 
urbanas. Cerca de 61% dos indígenas estão concentrados na área rural, estabelecidos em maior número 
na região Nordeste, com 106.150 indígenas, conforme o gráfico:
0
No
rde
ste
Su
de
ste
No
rte
Ce
ntr
o‑
Oe
ste Su
l
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
Urbana
Rural
Figura 7 – Concentração de índios nas zonas rurais e urbanas das regiões brasileiras
Em 2010, a região Nordeste possuía 25,5% da população, sendo o estado da Bahia o que mais 
concentrava indígenas, conforme o gráfico a seguir:
93
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Bahia
Pernambuco
Maranhão
Ceará
Paraíba
Alagoas
Sergipe
Piauí
Rio Grande do Norte
Figura 8 – Concentração indígena nos estados da região Nordeste
Ainda segundo a Funai, as regiões que menos têm populações indígenas são a Sudeste e a Sul, nessa 
ordem, sendo São Paulo no Sudestee o Rio Grande do Sul no Sul os estados com maior número de 
indígenas em suas regiões, conforme o gráfico:
São Paulo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
Espírito Santo
Rio Grande do Sul
Paraná
Santa Catarina
Figura 9 – Concentração indígena nos estados das regiões Sul e Sudeste
A figura a seguir mostra a beleza de nossos índios:
Figura 10 – Índios brasileiros
94
Unidade II
De acordo com a Funai, o povo Tikuna, residente no Amazonas, foi o que apresentou maior quantidade 
de falantes em números absolutos e, consequentemente, a maior população. Em segundo lugar, em 
número de indígenas, ficou o povo Guarani Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, e em terceiro lugar, os 
Kaingang, da região Sul do Brasil.
 Saiba mais
Em relação à língua indígena falada no Brasil, a partir dos dados do 
Censo de 2010, a Funai publicou uma tabela contendo todas as línguas 
encontradas e suas variações, o que pode ser verificado no link a seguir:
FUNAI. O Brasil indígena. Brasília: Funai, 2010. Disponível em: http://www.
funai.gov.br/arquivos/conteudo/ascom/2013/img/12‑Dez/pdf‑brasil‑ind.
pdf. Acesso em: 25 set. 2019.
Esses dados demonstram que apesar de todas as ocorrências registradas na história contra a cultura 
indígena, o Brasil ainda possui uma riqueza imensa na sua diversidade representada nas culturas 
indígenas da contemporaneidade.
 Lembrete
Segundo a Funai (2010), os resultados do Censo de 2010 apontam 
para 274 línguas indígenas faladas por indivíduos pertencentes a 
305 etnias diferentes.
Em relação ao etnodesenvolvimento, a Funai se preocupa com as particularidades regionais do país, 
desenvolvendo estratégias que visam melhorar a condição de vida da população indígena em função 
da diversidade sociocultural dos diferentes grupos étnicos. Para tanto, considera fatores que compõem 
processos de desenvolvimento em questão, tais como:
• Elaborar estratégias voltadas para as necessidades básicas, ou seja, destinadas a satisfazer 
as necessidades fundamentais de um grande número de pessoas, mais do que crescimento 
econômico por si mesmo. Isso significa que o país deve concentrar seus recursos e esforços no 
sentido de produzir os bens essenciais.
• Fortalecer visão interna, ou endógena, e não uma visão externa e orientada para as exportações 
e importações.
• Usar e aproveitar as tradições culturais existentes e não rejeitá‑las a priori como obstáculos ao 
desenvolvimento, e, ainda, basear as ações de desenvolvimento no uso dos recursos locais, quer 
sejam naturais, técnicos ou humanos.
http://www.funai.gov.br/arquivos/conteudo/ascom/2013/img/12-Dez/pdf-brasil-ind.pdf
http://www.funai.gov.br/arquivos/conteudo/ascom/2013/img/12-Dez/pdf-brasil-ind.pdf
http://www.funai.gov.br/arquivos/conteudo/ascom/2013/img/12-Dez/pdf-brasil-ind.pdf
95
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
• Respeitar, e não destruir, o meio ambiente, ou seja, é válida do ponto de vista ecológico, 
orientando‑se para a autossustentação nos níveis local, nacional e regional.
• Ser mais participativa do que tecnocrática (FUNAI, s.d.a).
Essas linhas de ação da Funai centram esforços na promoção da biodiversidade, valorizando a 
diversidade biológica presente nos sistemas agrícolas que são tradicionais, bem como o uso e manejo 
desses recursos com o conhecimento e a cultura das populações tradicionais e de agricultores familiares, 
visando ao estímulo da transmissão dos conhecimentos tradicionais, além do intercâmbio entre as 
diversas etnias, bem como implantar processos, projetos e atividades sustentáveis que gerem renda, 
por meio de plano de atuação criado pelas Coordenações Regionais da Funai, em conjunto com as 
comunidades indígenas e Coordenações Técnicas Locais (CTLs). Trabalham, também, para a colocação 
da produção indígena no mercado de consumo, principalmente para o consumidor que considera 
importantes as boas práticas ambientais, justiça social e diversidade cultural. Temos a seguir algumas 
ações importantes para a geração de renda:
• Selo indígena: indica que o produto foi cultivado ou coletado numa terra indígena, por um 
indígena participante do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.
Figura 11 
• Apoio à certificação participativa da conformidade orgânica: a Lei de Agricultura Orgânica 
prevê duas modalidades de certificação: a certificação por auditoria e os Sistemas Participativos 
de Garantia (SPG). A Funai apoia organizações indígenas que buscam o credenciamento do SPG 
no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
96
Unidade II
• Alguns produtos indígenas comercializados: artefatos de cestos, colares de sementes, 
artesanato de barro, mandioca e seus derivados, como a farinha. Entretanto, a música e a dança 
indígena não tiveram a mesma aceitação como as músicas e as danças africanas.
• Visitação para fins turísticos em terras indígenas: a visitação com finalidade turística em 
terras indígenas, no âmbito dos segmentos de etnoturismo e ecoturismo, é uma opção de geração 
de renda, desde que realizada com base comunitária e sustentável, respeitando‑se a privacidade 
e a intimidade dos indígenas, nos termos estabelecidos por eles (FUNAI, s.d.a).
Anuência da 
comunidade
Recebimento 
e análise da 
CGETNO
Solicitar ajuste do 
plano de visitação
A CR deve solicitar 
os ajustes junto ao 
proponente
Encaminhar para 
coordenação geral 
devida
Solicitar 
ajuste do 
plano de 
visitação
Emissão 
da carta 
anuência
Recebimento 
e análise da 
coordenação 
regional
Recebimento 
e análise da 
presidência
Não Não
Não
Não
Sim
Sim Sim
Sim
Fim
Fim
Elaboração 
do plano 
de visitação 
(Proponente)
D
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Figura 12 – Demonstrativo das etapas de anuência do plano de visitação às terras indígenas
É preciso ressaltar que a Funai monitora as terras indígenas por meio da fiscalização, 
prevenção e planos de proteção, cujas ações são feitas a partir das informações que são obtidas 
a partir de diagnóstico no local ou por sensoriamento remoto. Combate principalmente a invasão 
de terras indígenas, a extração ilegal de minérios e de madeira e a pesca predatória, articulando 
intersetorialmente e interinstitucionalmente parcerias com o governo e com a sociedade civil. Porém 
é preciso implementar ações de monitoramento articuladas com políticas de sustentabilidade para os 
povos indígenas e para os municípios próximos às terras indígenas.
É importante registrar que Getúlio Vargas instituiu o dia do índio em 19 de abril, pelo Decreto‑Lei 
n. 5.540, de 2 de junho de 1943, e também que os territórios e culturas indígenas são considerados 
patrimônio cultural pelos Programas Nacionais de Direitos Humanos (PNDH), visando à defesa e à 
preservação da cultura indígena, bem como dos direitos que conquistaram.
Exemplo de aplicação
Em relação aos mapas sobre populações indígenas que acabamos de apresentar, procure verificar as 
regiões com maior e com menor quantidade populacional indígena, analisando quais os fatores econômicos 
e socioculturais que podem influir na determinação dessas diferenças populacionais existentes.
97
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
6.2 A contribuição cultural do negro
O negro também foi introduzido na nova cultura, nos mesmos moldes do índio, isto é, dominado e 
subjugado, mais perversamente ainda, porque era considerado uma mercadoria.
A contribuição da cultura negra para o Brasil é muito grande, tendo sido fundamental para o 
desenvolvimento econômico do país. Foram considerados “as mãos e os pés dos senhores de engenho 
porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente” 
(ANTONIL, 1982, p. 89). Mesmo presos nos engenhos, continuaram a manter suas culturas e se misturar 
com outras culturas locais, o que propiciou desenvolverem novas formas culturais. O impacto da vinda 
do negro para o Brasil foi marcante nesse período tanto do ponto de vista cultural, expresso nos rituais 
e na religião, quanto econômico.
A buscapor ouro, pelos portugueses, era o que os motivava para a exploração da África. Nessas 
investidas houve até casamento entre portugueses e mulheres africanas, porém há registros de que 
o tráfico de escravos passou a ser a motivação dos portugueses e a ser o maior produto de comércio, 
por volta de 1470. Durante o século XV, Portugal e algumas regiões da Europa tornaram‑se os destinos 
mais importantes das mãos de obra escrava. Posteriormente, por conta da colonização do novo mundo, 
o tráfico negreiro mudou seus destinos para o novo mundo, ampliando imensamente o número de 
escravos cativos da África (GASPARETTO JR., s.d.).
Não há precisão sobre a chegada do negro ao Brasil, mas há relatos de que em 1538, Jorge Lopes 
Bixorda, comerciante do pau‑brasil, teria traficado para a Bahia, pela primeira vez, escravos africanos.
Entretanto, foi implantada, a partir do século XVII, a escravidão do negro, que se ampliou entre 
1700 e 1822. Esses escravos eram capturados na África e transportados, por navio, em condições precárias 
que provocavam a morte de muitos pelo caminho. Aqueles que aqui chegavam eram agrupados por 
grupo linguístico e misturados com tribos estranhas para não se comunicarem. Duas grandes nações 
africanas tiveram sua população capturada e trazida para o Brasil: os bantos, que viviam em Angola, 
Congo e Moçambique, e os sudaneses.
6.2.1 Os bantos
Os bantos que vieram do Congo eram conhecidos como congo, muxicongo, loango, cabina e monjolo, 
e os que vieram de Angola eram conhecidos como massangana, cassange, loanda, rebolo, cabundá, 
quissamã, embaca e benguela (VAINFAS, 2001, p. 67).
Conforme Kavinafé (2009, p. 3):
Os bantos, depois de um período de autonomia religiosa, que se conhece 
através de documentos históricos, assistiram à transformação de seus cultos. 
Por um lado, esses deram lugar à macumba; por outro, amoldaram‑se às 
regras dos candomblés nagôs, não se distinguindo deles senão por uma maior 
tolerância. Os cultos bantos em gradativo declínio acolheram os espíritos 
98
Unidade II
dos índios, o que iria levar ao surgimento de um “candomblé de caboclos”, e 
adoraram cantos em língua portuguesa, ao passo que os candomblés nagôs 
só usavam cantos em língua africana.
Conforme Melo (s.d.), a etnia banto ou bantu correspondeu a 75% dos escravos trazidos da região 
– hoje, Angola e Congo –, fixando‑se na Bahia, principalmente, durante o século XVII. Para catequizar 
os bantos foi feito um livro da gramática da língua banto, pelo padre Pedro Dias, em 1687, em Lisboa, 
Portugal. O mesmo se deu na região do Palmares.
A língua dos bantos, ao misturar‑se com a língua portuguesa, deixou topônimos como ganga 
zumba, zumbi, dandara, oseng e andalaquituxe. As palavras senzala, mucam e quilombo vinculam‑se 
à escravidão e passaram a fazer parte do sistema linguístico do português. Deram origem a várias 
palavras, entre elas esmolambado, dengoso, sambista, xingamento, mangação, molequeira e caçulinha.
Algumas palavras da língua banto são usadas com o mesmo sentido em português, como corcunda 
por giba, moringa por bilha, xingar por insultar, cochilar por dormitar, caçula por benjamim, bunda por 
nádegas, marimbondo por vespa, carimbo por sinete e cachaça por aguardente.
Em relação à religião, temos as palavras candomblé, macumba e catimbó.
São marcas lexicais portadoras de elementos culturais compartilhados por toda a sociedade brasileira 
e que comprovam a participação histórica do falante banto na construção do português brasileiro e a 
força da sua influência sobre a identidade brasileira, uma vez que a língua natural de um povo substancia 
o espaço da identidade como instrumento de circulação de ideias e de informação.
Papel importante teve a mulher banto, ao participar da vida quotidiana da casa grande como 
mucama e babá. Por apropriar‑se da língua portuguesa, fazia a ponte entre casa‑grande e senzala.
6.2.2 Os sudaneses
Trazidos da África Ocidental, especificamente do Sudão e da costa da Guiné, contribuíram muito 
com a religião, em especial com o candomblé.
Ambos os grupos foram bastante importantes para a configuração do povo brasileiro em seus 
aspectos biológicos e culturais, culminando na construção da identidade cultural brasileira, ou da 
cultura afro‑brasileira. Segundo Santana (2008), devemos considerar o legado africano como sendo um 
conjunto de saberes vindos em situações de diáspora por grupos das culturas afro‑brasileiras.
A mistura de etnias, cada uma com suas tradições, foi provocando ajustamentos, adaptações e 
sobreposição de práticas culturais. Estas foram apropriadas pela sociedade colonial, que criou hierarquia 
de valores e pessoas, marcando diferenças socioculturais num mundo cada vez mais miscigenado.
A cultura africana foi ganhando visibilidade na sociedade colonial através da culinária, da religião e 
das danças, entre outras manifestações. Conforme Freyre (2001, p. 343‑346):
99
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
Quantas “mães‑pretas”, amas de leite, negras cozinheiras e quitandeiras 
influenciaram crianças e adultos brancos (negros e mestiços também), no 
campo e nas áreas urbanas, com suas histórias, com suas memórias, com 
suas práticas religiosas, seus hábitos e seus conhecimentos técnicos? Medos, 
verdades, cuidados, forma de organização social e sentimentos, senso do que 
é certo ou errado, valores culturais, escolhas gastronômicas, indumentárias 
e linguagem, tudo isso se conformou no contato cotidiano desenvolvido 
entre brancos, negros, indígenas e mestiços na Colônia. [...] A nossa herança 
cultural africana é visível no jeito de andar e no falar do brasileiro.
Os sudaneses compunham três subgrupos, formados pelos iorubas, gegês e fanti‑ashantis. Esse 
grupo era originário da Nigéria, de Daomei e da Costa do Ouro, cujo destino geralmente era a Bahia. Os 
guineanos‑sudaneses muçulmanos dividiam‑se em quatro subgrupos: fula, mandinga, haussas e tapas. 
Esses grupos tinham a mesma origem e destino dos sudaneses, a diferença estava no fato de serem 
convertidos ao islamismo (GASPARETTO JR., s.d.).
Desde os primeiros registros de compras de escravos feitos em terras brasileiras até a extinção do tráfico 
negreiro, em 1850, calcula‑se que tenham entrado no Brasil algo em torno de quatro milhões de escravos 
africanos. Mas como o comércio no Atlântico não se restringia ao Brasil, a estimativa é que o comércio de 
escravos por essa via tenha movimentado cerca de 11,5 milhões de indivíduos vendidos como mercadorias.
Ao se adaptarem aos costumes brasileiros e alterarem alguns de seus costumes, conseguiram manter 
a essência de suas origens, conforme Freyre (2001, p. 348):
Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos 
sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, 
em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da 
influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de 
mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolegando na mão o botão 
de comida. Da negra velha que nos contou as primeiras histórias de bicho 
e de mal‑assombrado. Da mulata que nos tirou o primeiro bicho‑de‑pé de 
uma coceira tão boa. De que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, 
ao ranger da cama‑de‑vento, a primeira sensação completa de homem. Do 
moleque que foi o nosso primeiro companheiro de brinquedo.
Assim, a cultura brasileira foi se construindo e, com a contribuição do negro, formou a cultura 
afro‑brasileira, que é o efeito do processo da cultura africana no Brasil, visível em diferentes expressões, 
como na música, na religião e na culinária.
Conforme Corrêa (2010, p. 73), do ponto de vista vigente durante a escravidão, “o trabalho e a cultura 
brasileira têm na história as marcas das relações escravocratas”, o que transparece nas relações escravas 
atuais, como no trabalho infantil, trabalho em condições desumanas e demais explorações trabalhistas.
100
Unidade II
Historicamente, os escravos foram desenvolvendo formas de sobrevivência das situações terríveisque enfrentavam, principalmente nas lavouras do café. Segundo Costa (1998, p. 15):
O negro foi, em algumas regiões, a mão de obra exclusiva desde os primórdios 
da colônia. Durante todo esse período a história do trabalho é, sobretudo, 
a história do escravo. Primeiro nos canaviais, mais tarde nas minas de ouro, 
nas cidades ou nas fazendas, era ele o grande instrumento de trabalho. 
Derrubando matas, roçando plantações, nas catas de ouro, nos engenhos, 
na estiva, carregando sacos de mercadorias ou passageiros, o escravo foi 
figura familiar na paisagem colonial. Foi mais do que mão de obra, foi sinal 
de abastança. Época houve em que a importância do cidadão era avaliada 
pelo séquito de escravos que o acompanhava à rua. A legislação e os 
costumes consagravam esse significado. Concediam‑se datas e sesmarias a 
quem tivesse certo número de pretos. A posse de escravos conferia distinção 
social: ele representava o capital investido, a possibilidade de produzir.
As resistências aconteciam por meio da dança, do canto, da comida, da religião, como na festa 
de Iemanjá, orixá mais conhecido pelos brasileiros, cujos rituais de bênçãos e oferendas de flores são 
realizados juntos com as comemorações da chegada do ano novo, nas praias. Iemanjá, no catolicismo, 
é representada na região Norte por Nossa Senhora da Conceição e na Sul por Nossa Senhora dos 
Navegantes. Também são populares os orixás Oxalá, que se refere ao Divino Espírito Santo e Nosso 
Senhor do Bonfim, e Iansã, Santa Bárbara. Essa ligação da religião africana com a católica se deu 
principalmente pela necessidade que os negros tinham de esconder suas práticas religiosas e podem ser 
entendidas como formas de resistência (CORRÊA, 2010).
Conforme Santana (2008), a contribuição cultural africana evidencia‑se também nos ebós, nas 
encruzilhadas, na fonte de águas sagradas, nos mitos, como o de Iemanjá, nas pipocas em festas de São 
Lázaro e São Roque e na distribuição de doces em comemoração ao dia de São Cosme e São Damião, 
assim como na abertura de escolas de educação por irmandades religiosas como a de São Benedito, em 
Campinas – SP.
Seguindo Corrêa (2010), o maracatu nasceu na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens 
Pretos e São Benedito. Foi conhecido primeiramente como nação, tendo na sua performance o cortejo 
real, que é semelhante às homenagens feitas ao Rei do Congo. Realizam‑se principalmente em Olinda e 
Recife, no Pernambuco, nas proximidades de suas igrejas católicas.
O samba e o frevo são legados da cultura africana, assim como a capoeira, a luta e a dança ao mesmo 
tempo, representante de uma maneira de dispersão nos encontros dos negros, pois era proibida. No âmbito 
da saúde, as simpatias contra mau olhado, para sucesso no amor e nos negócios ou para atrair bons fluídos, 
assim como as rezas, benzedeiras e remédios caseiros, são legados da cultura negra (CORRÊA, 2010).
Com todas essas contribuições, o afro‑brasileiro ainda é considerado minoria, portanto, passível de 
políticas humanitárias e de cidadania visando sua inclusão, tais como a Lei n. 12.711/2012, sancionada em 
agosto desse ano, a qual garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades 
101
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do Ensino 
Médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos.
6.2.3 Os quilombolas
Conforme o art. 2º do Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003:
Consideram‑se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins 
deste Decreto, os grupos étnico‑raciais, segundo critérios de auto‑atribuição, 
com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, 
com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à 
opressão histórica sofrida (BRASIL, 2003).
O termo quilombo é originário de Angola e passou a se referir àqueles que promoviam o socorro aos escravos 
fugitivos que se refugiavam nos quilombos, que eram pequenas aldeias, também conhecidas por mocambos, que 
ficavam no interior das matas de difícil acesso, normalmente em grutas ou nos altos das montanhas. Tanto os 
mocambos quanto os quilombos existiram durante todo o período da escravidão e alguns existem até hoje, como 
o Quilombo dos Palmares, o mais famoso quilombo brasileiro, que abrigava o grande líder Zumbi, localizado, na 
então capitania de Pernambuco, região onde fica atualmente o estado de Alagoas.
Já o termo mucambo foi primeiramente empregado por populações que eram nômades, ou ainda 
por pequenos acampamentos de comerciantes, e foi incorporado pelos escravos para designar os 
lugares para onde fugiam. Os quilombolas de Palmares lutaram por mais de cem anos contra os ataques 
da polícia colonial, mesmo sem terem armamentos e pessoas suficientes para o combate, e só foram 
vencidos após ataque das tropas militares do governo colonial.
Nos quilombos, os escravos fugitivos tinham liberdade e reproduziam seus costumes trazidos da terra 
natal, mas viviam também com a insegurança de poderem ser descobertos. Desenvolviam a capoeira 
como instrumento de luta, visando à própria sobrevivência.
Atualmente, os quilombolas têm melhor qualidade de vida, embora ainda sustentem baixos 
indicadores sociais. A comunidade nas aldeias é composta por grupos de identidade ética diferenciada e 
definida pela Associação Brasileira de Antropologia como identidade étnica que os distingue do restante 
da sociedade. Nessas comunidades é característico o uso coletivo das suas terras, assentado em regras 
elaboradas com a participação de todos.
A Associação Brasileira de Antropologia define os quilombolas como grupos que desenvolveram 
formas de resistência para garantir sua existência e modos de vida próprios. Mesmo assim, ainda 
existem barreiras para a garantia de seus direitos, porém com algum avanço a partir da Constituição de 
1988, que contou com o aumento da sociedade civil nas decisões implementadas no país, como as do 
movimento negro urbano, com sua discussão no âmbito das políticas públicas, a respeito da realidade 
da população negra, no Brasil, e promoveu a realização do I Encontro Nacional de Comunidades Negras 
Rurais Quilombolas, nos dias 17, 18 e 19 de novembro de 1995, em Brasília. Esse evento teve como tema 
“Terra, Produção e Cidadania para Quilombolas”, que resultou em documento contendo as reivindicações 
102
Unidade II
que foram aprovadas nesse encontro, encaminhado à Presidência da República. Já em 20 de novembro 
de 1995 houve a Marcha Zumbi dos Palmares em comemoração aos trezentos anos de Zumbi. Tais fatos 
introduziram as questões quilombolas no cenário nacional, bem como a legalização de seus direitos 
específicos, como o título de reconhecimento de domínio. Houve o estabelecimento de quatro eixos de 
ações junto à comunidade quilombola (SANTOS, 2015):
• Regularização fundiária: por meio de resolução de problemas existentes em relação à emissão 
de título de posse da terra.
• Infraestrutura e serviços: visando à atuação na infraestrutura e na construção de equipamentos sociais.
• Desenvolvimento econômico e social: no modelo sustentável, fundado nas características dos 
territórios e na identidade coletiva.
• Controle e participação social: estimulando a participação dos representantes dos quilombolas 
nos fóruns locais e nacionais, relativos às políticas públicas, para que tenham acesso e 
acompanhamento das ações aprovadas pelo governo.
O mapa a seguir, editado pela Comissão Pró‑Índio de São Paulo, demonstra como está o processo de 
titulação das terras quilombolas na atualidade:
Terras quilombolas tituladas e 
parcialmente tituladas
Terras quilombolas em 
processo no Incra
Figura 13 – Terras quilombolas tituladas, parcialmente tituladas e em processo no Incra
103
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
A somatória indica que há 1.691 terras quilombolas em processo, sendo que 85% não têm relatório 
de identificação, e 129 terras quilombolas tituladas, sendo 52 terras

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