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Literatura Portuguesa: Poesia Conteúdos da Aula 1- Introdução Literária: A. Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões; B. Natureza e Hierarquização dos Principais Fatores da Atmosfera Épica n’Os Lusíadas; C. Estilo Épico; D. Matéria Épica; E. Noções Literárias relacionadas com a Estrutura d’Os Lusíadas; 2- Análise da obra; 2 Bom dia! “ Os Lusíadas, prenhes desta mensagem severíssima e alta, não puderam, pois, ser tocados, no âmago, pelo imperativo seu contemporâneo de Arte pela Arte; mas acusam, de maneira notável, uma consciência agudíssima das grandes diretrizes culturais da época – que, em geral, se apresentam como reverso das que haviam orientado o homem medievo.” (RAMOS, 2015, p. 40) 3 1. Introdução Literária Data: 05/03/2020 Profa. Ma. Graciane Cristina M. Celestino ““ [...] não só um prodígio de arte narrativa, como um prodígio de arquitetura significativa.” Jorge de Sena 5 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões ➢ Luís Vaz de Camões tem sua vida situada dentro do século XVI; ➢ Um dos grandes períodos da História da Civilização – o Renascimento; ➢ Esse movimento cultural reúne as experiências provenientes da revelação de dois mundos; ➢ Mundo descoberto pelos humanistas; 6 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões ➢ Mundo terrestre; ➢ O mundo descoberto pelos humanistas é aquele onde são desenterrados pergaminhos dos tempos clássicos; ➢ Interpretação das condições de cultura e arte das civilizações grandiosas que foram extintas; 7 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões ➢ Mundo terrestre diz respeito às novas raças, costumes, religiões, que antes estavam aquém dos conhecimentos humanos; ➢ Alguns dos acontecimentos do período são: I. Cruzadas – invenções dos tempos medievais; II. Utilização da bússola; III. Chegada de papel barato, no lugar dos caros pergaminhos; 8 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões ➢ A arte do Renascimento como uma “poesia perfeita = perfeita imitação dos modelos clássicos, antigos ou modernos que sejam.” ➢ Culto aos modelos clássicos, onde se observa um gradativo desinteresse pelo conteúdo; ➢ Crescente entusiasmo pela forma; ➢ Célebre fórmula do Renascimento: Arte pela Arte; 9 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões ➢ Camões, apesar de sua filiação com o movimento, era um cristão católico, que via perigo pairando sobre a Europa e a Civilização; ➢ Para ele, fatores como: a) Avanço dos inimigos da cristandade; b) Obrigação de lutar tanto com a pena quanto com a espada; 10 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões ➢ Eram a base para sua missão de criticar aquilo que a seus olhos era mal, como: 1. Vícios universais, como o apego ao ouro; 2. Hipocrisia daqueles que frequentavam a corte, pois tinham um viver indigno, inútil ou perverso; 3. O desinteresse pelos artistas; 4. O modo de proceder dos reis; 11 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões ➢ Em Os Lusíadas se condensam o orgulho no pensamento e na ação individual, que irá culminar na deificação¹ dos heróis; ➢ O desenvolvimento de uma sensualidade pagã; Exemplos no poema: A. Retrato de Vênus – Canto II, 37 B. Atitudes de Vênus – Canto II, 38 - 41 12 Tendências Artísticas e Literárias na Europa Contemporânea de Camões C. Atitudes de Júpiter – Canto II, 42 D. Manifestações da paixão amoroso de Adamastor (o gigante) por Thetis – Canto V, 52, 53 e 55 E. Retrato de Tristão – Canto VI, 16 – 19 F. Intervenção das nereidas, tendo por objetivo domar os ventos – Canto VI, 87 – 101; G. Atitudes das ninfas da ilha de Vênus – Canto IX, 24, 41, 65, 70, 72, 75 - 82 13 ¹Deificação Identificação do homem com Deus como termo e realização da ascensão mística. Grego – θέωσιҫ Latim – Deificatio Inglês – Deification Francês – Déification Alemão – Vergoettung Italiano - Deificazione 14 Poema épico ou epopeia Narração de um fato heróico e de interesse nacional e social. Ex.: Os Lusíadas Natureza e Hierarquização dos Principais Fatores da Atmosfera Épica n’Os Lusíadas Poema heróico Narração de um fato menos importante e de interesse nacional. Ex.: O Viriato Trágico 15 Natureza e Hierarquização dos Principais Fatores da Atmosfera Épica n’Os Lusíadas O elemento que irá distinguir as duas noções é a natureza do objeto do canto; Se constitui um poema épico ou epopeia, ao invés de um poema heróico, por se tratar de “cantar os feitos dum povo que haja contribuído para a realização de acontecimentos que interessem à vida da humanidade.”; 16 Natureza e Hierarquização dos Principais Fatores da Atmosfera Épica n’Os Lusíadas O poema heroico é a limitação do poeta ao narrar fato histórico ou lendário que tenha impressionado a imaginação popular; “ Camões – embora com inspiração clássica, ao sabor da época – criou a epopeia da Verdade.” 17 Estilo Épico O estilo corresponde a um certo conteúdo; Esse estilo engloba vários processos: 1. Sons – fechados ou abertos, graves ou agudos; 2. Adjetivos escolhidos em função do objetivo enaltecedor; 3. Perífrases empoladas; 4. Emprego da comparação e da hipérbole 5. Latinismos e oitava rima; 18 Estilo Épico Obs.: somente o estilo não poderia criar a matéria épica que circunda Os Lusíadas, existem três outros fatores que constituem a matéria épica, que é objeto do canto camoniano. 19 Matéria Épica O primeiro fator que aqui será estudado é o Real Grandioso; Em um sentido etimológico teremos: A. Real – adjetivo substantivado, de “res, rei” (lat.) = fato, realidade (em oposição a verbum, vox, opinio, rumor,tc); B. Grandioso – adjetivo qualificativo, de grandis (lat.) = alto, elevado, pomposo, nobre, sublime (em oposição a baixo, mesquinho, medíocre, comum); C. 20 Matéria Épica Poema de feitos extraordinários; Se materializa em torno de fatos acontecidos – contato entre Ocidente e Oriente; Dois homens resolvem deixar sua pátria natal para empreender uma ação que irá imortaliza-los; Eles são: Gago Coutinho e Sacadura Cabral; O Real Grandioso que se ocupa Camões irá defrontar dois mundos a saber: 21 Matéria Épica 1. Mundo Material – que corresponde às batalhas, cercos, embaixadas, tempestade e tromba marítima; 2. Mundo Moral – reúne os estados psicológicos das personagens que participam ou são recortadas da ação pressentidas em profecia: a) PERSONAGENS ATIVAS, MÁSCULAS, IMPETUOSAS, ÉPICAS – D. Afonso Henriques, D. Nuno Alvares Pereira; 22 Matéria Épica b) PERSONAGENS CUJA AÇÃO É PRUDENTE, REFLETIDA – Egas Moniz, Martim de Freitas; c) PERSONAGENS INDIRETAMENTE ATIVAS – Maria, filha de D. Afonso IV; d) PERSONAGENS PASSIVAS, DOMINADAS POR SENTIMENTOS ELEVADOS – Inês de Castro Neste sentido, o mundo material é representado pela hipérbole, enquanto que o mundo moral pela comparação; 23 Matéria Épica O segundo fator estudado aqui será o Irreal Mítico; Deuses e ninfas, na concepção humanista de Camões serão a explicação racional e bela da natureza; O que irá entrar em confronto com sua concepção cristã, levando a uma autodestruição das personagens pagãs no canto IX (oitavas 89 – 92); Essa crença cristã é a compreensão do sentido profundo das velhas crenças extintas; 24 Matéria Épica Os seres do universo místico camoniano se agrupam da seguinte maneira; a) OS QUE DECIDEM, SUPERIORMENTE, DOS ACONTECIMENTOS – Júpiter e Netuno; Os dois concílios – o do Olimpo e o do Oceano – os dois deuses atuam nas assembleias que reúnem, os deuses interessados na façanha humana. Netuno se coloca contrário a Júpiter. Vênus e Baco se tornam rivais. 25 Matéria Épica Júpiter e Netuno são juízes, um no Olimpo, o outro no Oceano. Vênus, Marte e Baco atuam em planos inferiores. Vênus e Baco se encontram com uma autonomia bem guardada. Marte já não goza de tal autonomia, ele é um mero conselheiro de Júpiter. 26 Matéria Épica b) OS QUE SUAVIZAMA ABUNDÂNCIA DE TANTOS FEITOS RUDES – nereidas e ninfas; Tem função de glorificadoras dos Lusitanos. É graças a elas que há equilíbrio na trama mitológica. Suavizam, temperam, no plano do irreal, as investidas de Baco e as fúrias de Noto e Éolo. As nereidas e as ninfas, no plano irreal, podem ser comparadas às jovens Maria e Inês, no plano real. 27 Matéria Épica c) OS QUE VALORIZAM AS FAÇANHAS LUSAS – estão divididos em duas espécies: - aqueles que atuam contra os Portugueses, se tornando elementos glorificados da ousadia lusa. Ex.: Baco e o gigante Adamastor - aqueles que contribuem com os portugueses, unindo-se aos heróis. Ex.: Tethys e as ninfas da ilha de Vênus. 28 Matéria Épica O terceiro fator que se demonstra é o Milagre; Camões não o despreza, apesar de toda a atmosfera épica; A mitologia tem larga importância em Os Lusíadas, portanto o poeta achou prudente legar ao texto milagres cristãos; Essa obra teria que sair com a licença da “Santa Inquisição”; 29 Matéria Épica A concepção cristã do Universo condiciona o conjunto desta criação estética, são exemplos de sua aparição no texto camoniano: Canto II, 74 Canto IV, 3 Canto VIII, 18, 23, 24 Canto X, 115 A tromba marítima como Milagre aparecerá no Canto V, 18 30 Noções Literárias relacionadas com a Estrutura d’Os Lusíadas; 31 Ação 32 33 Série de acontecimentos ligados por relações de causa e efeito, criando uma intriga que tem início, desenvolvimento e desenlace Intriga – encadeamento de fatos e ações que irão conduzir ao desenlace. Camões concentra a ação da epopeia em volta do fato típico da história da pátria portuguesa – a viagem de Vasco da Gama 34 Cantos Principais divisões materiais ou partes de um poema. Episódio Ação acessória ligada à principal, são um ornato essencial da Epopeia. Maravilhoso Tudo que provoca admiração por meio da surpresa. São duas espécies: Maravilhoso Pagão e Maravilhoso Cristão. Camões concentra a ação da epopeia em volta do fato típico da história da pátria portuguesa – a viagem de Vasco da Gama 35 Profecia Predição de um acontecimento futuro. Ação de interpretar a vontade dos deuses; dom de profecia; explicação da Sagrada Escritura. 2. Análise da obra 36 Observações sobre Os Lusíadas 37 O poema divide-se em dois ciclos: A. O primeiro ciclo inclui os cinco primeiros cantos, constituindo três partes: cantos I e II; cantos III e IV; e o canto V. B. O segundo ciclo inclui os cinco últimos cantos, constituindo três partes: cantos VI e VII; cantos VIII e IX; e o canto X. Observações sobre Os Lusíadas 38 A média de estâncias por canto é de 110; Obs.: estância é uma estrofe formada por mais de seis versos decassílabos e hexassílabos, tendo rima consoante. Os deuses tem função de intercessores, intermediários e agentes das forças da natureza e caráter humano; No canto VI a profecia de Proteu não se produz, pois as criaturas e deuses marinhos não se fazem ouvir; Observações sobre Os Lusíadas 39 A insula divina é o restabelecimento da harmonia, são Tomé é inserido no canto VI; Esse é o ponto de intersecção simbólica entre a Cosmologia transcendente; Haverá identificação entre a ação histórica e a missão apostólica; O canto X é o elo entre todas as linhas condutoras da obra; 40 Obrigada! faculdadegraciane7@gmail.com Referências MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2006. ABDALA JÚNIOR, Benjamim. Literaturas de Língua Portuguesa: Marcos e Marcas: PORTUGAL. São Paulo: Arte e Ciência. 2007. SARAIVA, Antonio José e Lopes, Óscar. História da Literatura Portuguesa. 6. ed. Porto, Porto Ed., s.d. BUENO, Aparecida de Fátima et al. Literatura Portuguesa: História, memória e perspectivas. São Paulo: Alameda, 2007. 41 Referências CAMÕES, Luís Vaz. Sonetos de Camões. 4 ed. Edição comentada por Izeti F Torralvo e Carlos C Minchillo. São Paulo: Ateliê editorial, 2007. GUINSBURG, J. O Classicismo. São Paulo: Perspectiva, 2007. SILVEIRA, Francisco Maciel et.al. A Literatura Portuguesa: Visões e Revisões. São Paulo. Ateliê editorial, 2009. 42
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