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CAP: LOUCURA SILENCIOSA ● a retratação de uma pessoa louca é sempre muito extremista: gênios ou brutamontes. ● instâncias da loucura que são compatíveis com a vida normal. ● loucura silenciosa pode irromper em atos de violência. ○ esperamos que a loucura, na verdade seja uma explosão dramática. ● os sintomas mais óbvios, socialmente disruptivos, não podem ser usados de forma exclusiva para definir a forma que a loucura pode assumir. ● perceberam que com o tempo os sintomas poderiam se estabilizar. ● a mais comum esquizofrenia é a que não se torna visível como loucura. ○ psicose privada. ○ não há sinais clínicos que excluam o diagnóstico de esquizofrenia. ● ideia fixa, baseada numa premissa falsa, mas com o resto do raciocínio impecável. ○ uma crença que não causa conflito. ● “contabilidade dupla”: ele sabe que a ideia dele pode soar delirante e por isso esconde cuidadosamente. ● quando há um movimento progressivo do transtorno, como a demência, criam-se concepções populares de loucura, pelo caráter desesperador de um transtorno incurável. ● a preconcepção diagnóstica tornou-se um veículo de preconceito: para ser esquizofrênica, a pessoa teria que estar em visível desintegração e ser incapaz de atrair um parceiro. ● discordância entre as faculdades que resulta no problema. ● o prognóstico carregados com desfechos sombrios podem surtir efeitos significativos no paciente. ● psiquiatras do século vinte falavam sobre uma loucura que mantinha todas as faculdades intactas. ● delírios e alucinações são sintomas secundários e não primários. ○ loucura e razão não são opostas, mas idênticas. muitas vezes os “sintomas” são respostas da razão à insanidade - o cérebro cria uma lógica/razão com poder explicativo para uma situação que nos incomoda. ○ a medida que esse raciocínio lógico continua, um sistema delirante pode ser construído. ■ o pensamento não está realmente desordenado, mas mais ordenado que o raciocínio cotidiano, quando normalmente descartamos vários das coisas que passam por nós por cansaço, por exemplo. ● a pessoa psicótico leva as coisas a sério, tem uma dedução racional, ouve vozes e lhes dá sentido usando poderes de raciocínio que estão absolutamente intactos. ● Assim, o delírio pode ser um modo de tentar compreender as próprias experiências, recorrendo a todas as faculdades de inferência e dedução à disposição do sujeito para encontrar uma resposta. ○ o louco perdeu tudo, exceto sua razão. ■ casos contidos que se atinham discretamente a sistemas de crença místico, sexuais, religiosos, ou persecutórios, mas que não ganharam destaque porque se opunha a visão de loucura como decomposição orgânica e psicológica da época. ○ três motivos para a mudança de interesse nas formas da psicose: destino da categoria diagnóstica da paranoia, que é a vista da psicose cotidiana, o efeito da farmacologia no cenário da saúde mental, e a revisão dos processos diagnósticos que caracterizou a psiquiatria biológica dos anos 80. ○ paranoia coexistindo com a normalidade. ○ diferença entre psicose paranoide e psicose paranóica. ■ estados paranóides podem ocorrer em qualquer tipo de perturbação mental. ■ mas a paranoia precisa de um sistema estável de crenças, com um perseguidor nominalmente identificado. ○ a paranoia pode desenvolver-se ao longo de um período de muitos anos, respondendo a eventos da vida do paciente, em vez de seguir um curso predeterminado, e pode operar de forma aparentemente independente do comportamento superficial/público. ■ racismo…. (nota pessoal) ○ depois da segunda guerra mundial, a paranoia passa a ser considerada uma categoria obsoleta e é mais uma característica de outros distúrbios. ■ Terá sido porque a nova ênfase no comportamento superficial levou, precisamente, a uma cegueira para o que era invisível, para a forma silenciosa de loucura que Gaupp documentou com tanto cuidado? ● aparecimento da clorpromazina, nos anos 50, droga que permitiu uma nova calma e distanciamento do mundo - “terapia de hibernação”. ○ Pacientes agitados e problemáticos tornavam-se mudos e imóveis. A ênfase, nesse caso, recaiu em modificar o comportamento superficial, e não em identificar problemas subjacentes de raízes profundas, embora, a princípio, muitos desses remédios fossem vistos como instrumentos para permitir que se iniciasse a psicoterapia, e não como alternativas concretas. ● medicamentos trazem muitos efeitos colaterais e não funcionam em dois terços dos pacientes. também tem um índice mais alto de recaídas e reinternações hospitalares do que quando não são tomados. ● atualmente, os efeitos colaterais que consideramos o “preço a ser pago” eram na verdade o resultado que os psiquiatras queriam ter nos pacientes do passado, mesmo que houvesse dor, com eletrochoques, por exemplo, ou com medicamentos como o metrazol, que produzia a falta de profundidade afetiva, tendência ao retraimento ● dos contatos pessoais e decréscimo da capacidade de auto-observação – qualidades tornam o paciente um indivíduo mais aceito no plano social - pacatas e obedientes. ● os tratamentos eram quase um castigo pelo fato dos pacientes não melhorarem. ● a maneira como o paciente enxergava seu tratamento fazia diferença no resultado, muitas das vezes, ele poderia levar ele como uma punição pela culpa que ele carrega em sua paranóia. ● a descoberta dos medicamentos “antipsicóticos” - analogia feita a maneira social como são tratados os tratamentos para psicóticos- sedativos foram ao acaso, e não derivadas de pesquisa. essa qualidade entorpecente, seria vendida como “cura”/ “tratamento”. ● os médicos não questionavam a qualidade do tratamento, até o aparecimento posterior de algo “melhor”, vendido sempre maquiadamente pela indústria farmacêutica. ● com o fechamento dos manicômios tem a marginalização dos psicóticos. ● a indústria farmacêutica criou novas categorias diagnósticos, a partir do criamento de cada novo medicamento. ○ o diagnóstico passa a ser dependente da reação do paciente ao medicamento. ○ Os medicamentos passaram a definir a doença: tratava-se menos de encontrar uma droga que se adequasse a uma doença do que uma doença que se adequasse à droga. ○ negligenciava as loucuras silenciosas. ● ao enfraquecer as faculdades mentais a fim de acabar com a psicose, você enfraquece também os processos de estabilização autênticos e duradouros. ○ tendem a considerar sintomas da medicação na verdade sintomas da psicose - salivação excessiva etc.. ● predomínio de uma visão medicalizada da psicose, que inviabiliza a relação paciente-terapeuta. ● marginalização do diagnóstico: pessoas ricas com pensamentos e ideias bizarras eram consideradas excêntricas, e pessoas mal-vestidas e com pouca fluência verbal consideradas esquizofrênicas. ● cultura e tradições influenciavam em diagnósticos de maneiras diferentes. ○ enquanto nos eua haviam muitos diagnósticos de esquizofrenia, na inglaterra havia grande número de diagnósticos de psicóticos maníacos-depressivos. ○ com isso houve a necessidade de uma globalização do diagnóstico. ■ A concentração nos sintomas externos significou, efetivamente, que a experiência pessoal do indivíduo foi desvalorizada: o importante eram os sintomas que ele exibia, e não seu modo de processar essessintomas, ou de compreendê-los, ou sua maneira de conferir ou não sentido a sua experiência. ● aparecimento do DSM, com ênfase na superfície e visibilidade. ○ sintomas visíveis que caracterizam o diagnóstico. ○ apenas existem as causas biológicas e as relacionadas com stress, sem levar em conta uma causalidade psíquica complexa. ○ o sentido e experiência íntima do sujeito psicótico vieram a ter cada vez menos importância no novo paradigma baseado nos sintomas. ● o diagnóstico deve se basear na articulação da linguagem, e não no comportamento externo e traços superficiais. ○ O diagnóstico não pode ser feito a partir de uma classificação externa do comportamento, mas apenas mediante a escuta do que a pessoa tem a dizer sobre o que aconteceu em sua vida, levando a sério a posição que ela assume em sua própria fala, a lógica que ela mesma desenvolveu. ○ Aliás, nesse caso, o que é loucura? De que conceitos necessitamos para defini-la? E se a loucura não pode ser oposta à normalidade, qual pode ser o seu contraponto?
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