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MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Coordenação Geral de Áreas Técnicas Núcleo de Práticas Integrativas e Complementares Secretaria de Gestão de Trabalho e da Educação na Saúde Departamento de Gestão da Educação na Saúde FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Presidência Paulo Ernani Gadelha Vieira Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde Valcler Rangel Fernandes Assessoria de Promoção da Saúde Annibal Coelho de Amorim Coordenação Geral Joseane Carvalho Costa UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Reitoria Emmanuel Zagury Tourinho Vice-Reitoria Gilmar Pereira da Silva Pró-Reitoria de Extensão Nelson José de Souza Júnior Assessoria de Educação a Distância José Miguel Martins Veloso Coordenação Administrativa Ivanete Guedes Pampolha Este texto-base integra os recursos didáticos elaborados para o Curso de Qualificação em Plantas Medicinais e Fitote- rápicos na Atenção Básica, concebido, desenvolvido e ofertado pela parceria entre o Ministério da Saúde, a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade Federal do Pará. O curso completo pode ser acessado em: www.avasus.ufrn.br Coordenação Pedagógica Marianne Kogut Eliasquevici Coordenação de Meios e Ambientes de Aprendizagem Dionne Cavalcante Monteiro Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Multimídia Maria Ataide Malcher Editora Presidência José Miguel Martins Veloso Diretoria Cristina Lúcia Dias Vaz Conselho Editorial Ana Lygia Almeida Cunha Dionne Cavalcante Monteiro Maria Ataide Malcher CRÉDITOS DO CURSO Coordenação Geral Daniel Miele Amado - DAB | MS Joseane Carvalho Costa - VPAAPS | Fiocruz José Miguel Martins Veloso - AEDi | UFPA Coordenação Administrativa Lairton Bueno Martins Paulo Roberto Sousa Rocha Coordenação de Conteúdo Silvana Cappelleti Nagai Coordenação Pedagógica Andrea Cristina Lovato Ribeiro Nilva Lúcia Rech Stedile Coordenação Pedagógica em EaD Maria Ataide Malcher Marianne Kogut Eliasquevici Sônia Nazaré Fernandes Resque Concepção e Avaliação de Recursos Multimídia em EaD Fernanda Chocron Miranda Suzana Cunha Lopes Concepção e Comunicação Visual Rose Pepe Roberto Eliasquevici 2016 Ministério da Saúde | Fundação Oswaldo Cruz | Universidade Federal do Pará Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhamen- to pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra em qualquer suporte ou formato, desde que citada a fonte. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministé- rio da Saúde [www.bvsms.saude.gov.br]. Todo o material do curso também está disponível na RetisFito [www.retisfito. org.br] e no repositório institucional UFPA Multimídia [www.multimidia.ufpa.br]. DISTRIBUIÇÃO DIGITAL MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica Coordenação Geral de Áreas Técnicas Núcleo de Práticas Integrativas e Com- plementares em Saúde Edifício Premium, SAF Sul, Quadra 2 Lotes 5/6, Bloco II, Subsolo CEP: 70070-600 – Brasília/DF Fone: (61) 3315-9034/3315-9030 Site: http://dab.saude.gov.br E-mail: pics@saude.gov.br Este conteúdo está disponível em: www. bvsms.saude.gov.br FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde Av. Brasil 4365, Castelo Mourisco, sala 18, Manguinhos CEP: 21040-900 – Rio de Janeiro/RJ Fone: (21) 3885-1838 Site: http://portal.fiocruz.br/pt-br/vpaaps E-mail: vpaaps@fiocruz.br Este conteúdo está disponível em: www. retisfito.org.br UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Assessoria de Educação a Distância Av. Augusto Corrêa, 01, Guamá CEP: 66075-110 – Belém/PA Fone: (91) 3201-8699/3201-8700 Site: www.aedi.ufpa.br E-mail: labmultimidia.aedi@gmail.com Este conteúdo está disponível em: www. multimidia.ufpa.br CRÉDITOS DESTE RECURSO DIDÁTICO Consultoria e Produção de Conteúdo Daniel Miele Amado Eliana Rodrigues Lairton Bueno Martins Ludmila L. de Melo Neves Márlia Coelho-Ferreira Paulo Roberto Sousa Rocha Silvana Cappelleti Nagai Revisão de Conteúdo Andrea Cristina Lovato Ribeiro Daniel Miele Amado Joseane Carvalho Costa Lairton Bueno Martins Paulo Roberto Sousa Rocha Silvana Cappelleti Nagai Consultoria e Revisão em EaD Felipe Jailson Souza Oliveira Florêncio Maria Ataide Malcher Marianne Kogut Eliasquevici Sônia Nazaré Fernandes Resque Suzana Cunha Lopes Direção de Arte Acquerello Design Ilustração e Grafismos Andreza Jackson de Vasconcelos Weverton Raiol Gomes de Souza Diagramação e Editoração Eletrônica Andreza Jackson de Vasconcelos Weverton Raiol Gomes de Souza Ficha Catalográfica __________________________________________________________________________________________ Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo de Práti- cas Integrativas e Complementares em Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Pro- moção da Saúde. Universidade Federal do Pará. Assessoria de Educação a Distância. Curso de Qualificação em Plantas Medicinais e Fitoterápicos na Atenção Básica – Etapa 2: Botânica das plantas medicinais / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Fundação Oswaldo Cruz. Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde. Universidade Federal do Pará. Assessoria de Edu- cação a Distância – 1. ed. – Belém: [EditAEDi], 2016. 42 p. : il. ISBN 978-85-65054-39-3 1. Fitoterapia. 2. Plantas Medicinais. 3. Atenção à Saúde. I. Título. CDU 633.88 __________________________________________________________________________________________ 07 14 20 25 37 ETAPA 2 - BOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS | 06 1.1 Os sistemas de identificação | 10 1 A IDENTIDADE DAS PLANTAS: NOME POPULAR E NOME CIENTÍFICO 2 OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DAS PLANTAS NO REINO VEGETAL 2.1 O sistema de classificação tradicional | 14 2.2 O sistema de classificação das plantas pela academia | 15 3 O CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS 3.1 Exigências climáticas e edáficas das plantas medicinais | 21 3.2 Boas Práticas Agrícolas de plantas medicinais | 22 4 BIOMAS BRASILEIROS 4.1 Amazônia | 26 4.2 Caatinga | 27 4.3 Cerrado | 29 4.4 Mata Atlântica | 31 4.5 Pantanal | 32 4.6 Pampa | 34 REFERÊNCIAS DE IMAGENS S U M Á R I O 38 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 06 ETAPA 2 BOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS Caro(a) cursista, A variabilidade de princípios ativos da matéria prima faz parte das preocupações dos profis- sionais e da indústria farmacêutica que lidam com plantas medicinais e fitoterápicos. Nesse sentido, o conhecimento, mesmo que básico, sobre os aspectos botânicos e agronômicos das plantas medicinais é importante para que você, que atua na Atenção Básica à Saúde, possa, com segurança, prescrever fitoterápicos e plantas medicinais. Com vistas a auxiliá-lo(a) na aquisição desse conhecimento, esta etapa do curso introduz con- ceitos referentes à botânica aplicada às plantas medicinais e aos biomas, assim como caracte- riza as principais plantas medicinais cultivadas no Brasil, a partir de sua classificação taxonô- mica e do estudo de seus aspectos morfológicos e toxicológicos. Este texto, por conseguinte, destaca aspectos fundamentais para o conhecimento, cultivo e prescrição relacionados aos nomes populares das plantas e sua nomenclatura científica, bem como procedimentos a serem seguidos na busca pela sua correta identificação taxonômica e incorporação de material botânico testemunho em herbários. O texto aborda, também, a importância dos aspectos agronômicos para se ter um produto final de qualidade, tendo asse- guradas suas propriedades terapêuticas e aromáticas. Ressaltamos que a pretensão não é formar botânicos, mas informar e esclarecer a respeito dessas questões, bem como orientar você sobre indicações de literatura e sítios da Internet que tratem do tema. Isso porque existem fatores que comprometem a produção de determi- nado princípio ativoencontrado nas plantas medicinais. O acesso e a consulta a essas fontes é, portanto, altamente recomendável, especialmente por serem ferramentas teóricas e práticas complementares entre si. Além dessas fontes, você também tem informações para aprofun- damento destacadas tanto neste texto, quanto nos diversos materiais disponíveis nesta e em outras etapas do Curso. Deixe a sua curiosidade falar mais alto e, de posse dos materiais disponíveis, ao se deparar com uma planta em uma Farmácia Viva ou até mesmo no quintal de casa, procure não apenas contemplá-la, mas também identificá-la a partir dos conteúdos estudados. Bons estudos! 07 Ao avaliar um paciente com bronquite crônica, você prescreveria como coadjuvante no tratamento cápsulas com óleo de Allium sativum L. ou simplesmente cápsulas com óleo de alho? Considera que seu paciente entenderia melhor a prescrição usando o nome científico ou popular? A identificação botânica ou, simplesmente, a identificação das plantas, consiste em saber re- conhecê-las pelo seu nome, melhor dizendo, pelos seus nomes. O uso do plural aqui é perti- nente, uma vez que existem pelo menos dois nomes para cada planta: um (ou mais) popular e outro científico. Embora pareça simples, trata-se de uma atividade que requer grande conhe- cimento e poder de observação. O nome popular, como o próprio nome diz, é aquele reconhecido pelas pessoas de um determinado local e que pode variar de um lugar para outro e até mesmo de pessoa para pessoa de um mesmo lugar. Em geral, os nomes populares devem ser iniciados com letra mi- núscula - exceto quando for um nome próprio - e aqueles que forem compostos devem ser separados por hífen. 1 A IDENTIDADE DAS PLANTAS: NOME POPULAR E NOME CIENTÍFICO A tradição oral, característica entre populações tradicionais que ocupam locais com grande isolamento geográfico em relação a atendimento médico oficial e/ou centros urbanos, contri- bui para a diversificação das denominações populares de algumas plantas. A erva óleo elétri- Atenção! A diversidade de nomes populares para uma mesma espécie botânica pode gerar “confu- sões”, que colocam em risco o consumo das plantas, podendo resultar em intoxicações, por exemplo. Tais riscos tendem a ser ainda mais graves se essas plantas forem, sobretudo, uti- lizadas fora do contexto da medicina tradicional e/ou utilizadas com base apenas no nome popular, sem nenhum tipo de orientação de um entendido em plantas medicinais (raizeiro, parteira, curador, médium, etc.). Veja alguns exemplos de espécies bem conhecidas em nosso país em que uma planta ou espécie botânica medicinal pode ter diversos nomes populares e vice-versa: - Plectranthus barbatus Andr: boldo, sete-dores, folha-de-Oxalá, tapete-de-Oxalá, malva- santa, falso boldo, hortelã-do-Juazeiro. - Plectranthus amboinicus (Lour.) Spr: hortelã da folha grossa, hortelã-da-Bahia, malva-do -reino, malvarisco, malvariço. - Vernonia condensata Baker: alumã, boldo baiano, boldo-da-Bahia, árvore-do-pinguço, boldo goiano, sacaca. - Cymbopogon citratus DC. Stapf.: capim-santo, capim-marinho, capim-limão, capim-cidrei- ra, capim-de-cheiro, cidreira-em-capim. - Petiveria alliacea L.: mucura-caá, guiné, erva-de-guiné, tipi, tipi verdadeiro, amansa- senhor. 08 O nome científico de uma planta, por sua vez, é quase sempre composto por uma combinação de dois nomes em latim que devem ser escritos em itálico (ou sublinhados, quando manus- critos), seguidos pelo nome do autor que descreveu aquela planta. O primeiro nome, conhe- cido como gênero (grupo ao qual pertence a planta), deve ser iniciado com letra maiúscula e o segundo, conhecido como epíteto específico, com minúscula. O nome específico funciona como uma identidade da planta e é conhecido por “espécie”. Assim, a planta “óleo elétrico” corresponde à espécie Piper callosum Ruiz &Pav. Sendo Piper, o gênero; callosum, o epíteto específico; e Ruiz & Pav., os autores que a identificaram, isto é, deram o nome científico a ela. Você já deve ter percebido que uma única espécie pode ser conhecida por diferentes no- mes populares ao longo do território brasileiro. Agora imagine o quanto esta situação (ou problema?) se amplia se considerarmos os nomes populares pelos quais são conhecidas em outros países. O contrário também ocorre, ou seja, várias espécies diferentes podem ter um mesmo nome popular. É o caso da erva-cidreira! Dependendo do local, podemos encontrar as seguintes espécies com este nome popular: Lippia alba (Mill.) N.E.Br., Melissa officinalis L. e Cymbopogon citratus DC. Stapf. Veremos mais adiante como isso pode causar problemas de saúde pública. Por isso, o nome científico facilita a comunicação entre botânicos. Quando precisam se referir ou obter informações sobre uma planta, botânicos de diferentes países, mesmo que não fa- lem a mesma língua, podem se comunicar utilizando seu nome específico. Você também encontra material sobre esse assunto na apresentação de slides sobre aspec- tos botânicos das plantas medicinais disponível nesta Etapa. co, por exemplo, vendida nos mercados e feiras de Manaus e Belém, é também conhecida por diferentes moradores de áreas rurais do Amazonas, Pará e de outros estados da região como aulelétrico, lelétrico, leleto e, ainda, elixir paregórico. Amplie seus estudos Para ampliar seu conhecimento sobre a identificação das plantas é recomendável que você consulte livros especializados, tais como: Dicionário de Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas Autor: Pio Corrêa Editora: Ministério da Agricultura, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal Ano: 1984 Trata-se de uma obra clássica bastante consultada por curiosos e estudiosos de plantas medicinais, que a ela recorrem para checar os diferentes nomes populares pelos quais uma planta é conhecida nas diferentes regiões e estados brasileiros e seus usos. Mas, fique aten- to(a), pois por ser uma obra mais antiga, a nomenclatura científica de muitas espécies en- contra-se desatualizada. Plantas Medicinais no Brasil Autores: Harri Lorenzi e Francisco J. de Abreu Matos Editora: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ano: 2002 Obra mais recente, bastante abrangente e atualizada, apresenta descrição da planta, nome científico atualizado e sinonímias (nomes científicos antigos), áreas de ocorrência, usos po- pulares, composição química e atividades terapêuticas. 09 Figura 01 Rosmarinus officinalis L. (alecrim) Figura 02 Salvia officinalis L. (sálvia) Foto: H. Zell. Foto: Gabi Pastro. Figura 03 Melissa officinalis L. (melissa) Figura 04 Calendula officinalis L. (calêndula) Foto: Forest e Kim Starr. Foto: Programa Cultivando Água Boa [1] Em latim, officinalis significa “o que está relacionado com a Medicina, medicamentos”. Assim, todas as plantas que tiverem officinalis como epíteto específico são medicinais. Suas proprie- dades são reconhecidas provavelmente desde o século XVIII, quando foram descritas pelo botânico sueco Linnaeus (1707 - 78), Lineu em português, cuja inicial aparece após o epíteto específico. Essas plantas têm ainda grande chance de serem europeias, uma vez que Lineu era europeu e dedicou grande parte de seus estudos à flora daquele continente. Voltando aos significados dos nomes científicos, se observarmos a espécie do alecrim, vere- mos que Ros significa orvalho e marinus significa mar, dando sentido de “orvalho que vem do mar”; a salvia vem do termo salvus que significa “sadio”. Conhecer o latim, portanto, é sem dúvida de grande valia para os botânicos e demais interessados em plantas, pois muitas vezes a tradução de um nome científico pode revelar características inerentes à planta em questão, sejam elas visíveis ou não. Um aspecto interessante do nome científico atribuído a quaisquer plantas é que ele pode nos trazer informações curiosas sobre particularidades destas. Se você observar as espécies ilustradas a seguir (Figuras 01, 02, 03 e 04), perceberá que todas têm em comum o epíteto específico officinalis: 10 Vocêpode conhe- cer mais sobre os usos medicinais de plantas por popu- lações tradicionais nos materiais da Etapa 1. Figura 05 Deianira nervosa Cham. & Schltdl (Gentianaceae) Figura 06 Heteropterys aphrodisiaca O. Mach. (Malpighiaceae) Foto: Eliana Rodrigues. Foto: Eliana Rodrigues. A identificação de uma amostra inclui o fornecimento do nome científico e a procedência da espécie. Agora que você sabe como um nome científico é composto e que características ele pode informar, a seguir você conhecerá o processo de identificação da planta, que lhe permi- tirá avançar nos estudos de botânica das plantas medicinais. 1.1 Os sistemas de identificação Basicamente existem duas maneiras de se nomear uma planta: uma, utilizada pelas pessoas comuns e outra, desenvolvida e utilizada pelos botânicos ou taxonomistas. Ambas constituem os sistemas de identificação tradicional e de identificação científica ou acadêmica, respectiva- mente. As informações tratadas no item 1 justificam a importância destes sistemas. 1.1.1 O sistema de identificação tradicional O sistema de identificação tradicional ou popular é empírico e bastante complexo. Para reco- nhecer uma planta na mata, a população local (caboclos, índios, ribeirinhos, caiçaras, caipiras) geralmente se utiliza dos recursos de que dispõe, ou seja, um conjunto de sensações (odor, paladar, tato e intuição) somadas à observação das características externas das plantas, como formas, texturas e cores das suas partes. Seguindo o raciocínio dos significados, você saberia dizer qual o possível uso medicinal das duas espécies abaixo (Figuras 05 e 06)? Lendo com atenção, verá que o segundo nome das plantas em questão segue como uma identificação da planta, ou seja Deianira nervosa Cham. &Schltdl. seria indicada para problemas do sistema nervoso e Heteropterys afrodisiaca O. Mach. teria efeitos afrodisíacos. 11 Muitas vezes, sobretudo na floresta Amazônica, não resta mais do que um tronco largo, cuja altura da copa (30 - 50 m) impossibilita a observação de suas folhas, flores e frutos, dificultan- do muito o diagnóstico ou reconhecimento de determinada árvore. Nesse caso, os moradores locais retiram um pedaço da casca, cortada com um facão, para analisá-la cuidadosa e crite- riosamente, testando seu sabor, odor, verificando sua cor e textura. Observam, ainda, restos de fezes e/ou pegadas de certos animais que se alimentam dos frutos da árvore em questão. Todos esses estímulos são levados em consideração no diagnóstico final da árvore por parte do nativo. A identificação de árvores nessas condições, ou mesmo de outras plantas de menor porte, requer uma sensibilidade aguçada, resultante de sucessivas observações anteriores de indivíduos dessa espécie, que possibilitaram a formação de um tipo de “memória sensível”, capaz de reconhecer naquela planta a essência comum àqueles indivíduos. 1.1.2 O sistema de identificação da ciência acadêmica Você já viu que recursos as populações locais se utilizam para a identificação das plantas na mata. Agora veja como a ciência acadêmica o faz e qual a importância na padronização de um único nome científico, específico para cada planta. Da mesma forma que os povos da mata, o(a) taxonomista botânico(a), especialista na identi- ficação de determinado grupo de plantas, lança mão da observação meticulosa das estruturas externas das plantas, isto é, das características morfológicas para chegar à sua identificação. Esse profissional observa também, e principalmente, as características internas de certas par- tes, tais como flores e frutos. Muitas dessas características não podem ser vistas a olho nu; para tanto, deve-se fazer uso de lupas e microscópios. Com a evolução das ciências e dos sistemas de classificação vegetal em particular, essas ca- racterísticas estão se tornando, a cada dia que passa, insuficientes para a classificação e iden- tificação das plantas. Sabe-se que, embora haja uma aparente semelhança morfológica entre duas plantas, elas podem diferenciar-se em nível químico ou ainda, genético. Existe, portanto, uma tendência em se incorporar estudos genéticos a esses procedimentos. Amplie seus estudos Consulte os livros a seguir para complementar e aprofundar os seus estudos: Noções Morfológicas e Taxonômicas para Identificação Botânica (livro digital) Autores: Regina Célia Viana Martins-da-Silva; Antônio Sérgio Lima da Silva; Marília Morei- ra Fernandes; Luciano Ferreira Margalho Editora: Embrapa Ano: 2014 Acesse em: www.embrapa.br/amazonia-oriental/publicacoes Esse livro oferece informações básicas sobre botânica, dando ênfase às características morfológicas das plantas e descrevendo todo o processo envolvido na sua identificação. Apresenta ainda a caracterização das principais famílias botânicas de ocorrência na Ama- 12 É importante que você conheça sobre esses avanços científicos, bem como tenha em mente que há procedimentos básicos que não mudam para identificar uma planta e torná-la testemu- nha da flora local. Esses procedimentos compreendem a coleta, a herborização, a identifica- ção e a incorporação de suas respectivas exsicatas em herbários. Recomendamos que você consulte os manuais a seguir como ampliação de estudos, por estarem disponíveis na Internet, serem fartamente ilustrados e trazerem situações e detalhes relevantes sobre esses temas. Sobre as exsicatas e herbários, veja também uma apresentação de slides e uma série de vídeos desta Etapa. zônia brasileira, região em que atuam os pesquisadores, autores desse manual. Além de ter uma linguagem didática e agradável, o livro é ricamente ilustrado, com destaque para as fotografias de espécies nativas de importância econômica, inclusive medicinais. Chave de identificação para as principais famílias de angiospermas nativas e cultivadas do Brasil Autores: Vinícius Castro Souza e Harri Lorenzi Editora: Instituto Plantarum de Estudos da Flora Ano: 2007 Manual prático para ser utilizado em campo, contém as chaves de identificação para as principais famílias de angiospermas e gimnospermas nativas e cultivadas do Brasil. A iden- tificação botânica segue o sistema de classificação mais moderno, o APG III (Angiosperm- PhylogenyGroup, 2009), que se baseia na biologia molecular e não apenas nas caracte- rísticas morfológicas. É importante salientar ainda que os principais termos morfológicos são explicados e ilustrados, e apresenta apenas 31 páginas, o que o torna bastante prático e facilmente transportável. Exsicata: é a planta herborizada, devidamente coletada, processada e depositada em um herbário. Herbário: termo derivado do latim herbarium, que designa uma coleção de plantas ou de fun- gos, ou de parte desses, técnica e cientificamente preservados, destinada a servir como docu- mentação da diversidade vegetal e fúngica. Os herbários são prioritariamente utilizados para estudos da flora (plantas) ou micota (fungos) de uma determinada região, país ou continente, enfocando Morfologia, Taxonomia, Biogeografia, Etnobotânica, História e outros campos do conhecimento. Amplie seus estudos Consulte as referências a seguir para ampliar os seus estudos: Guia Prático de Métodos de Campo para Estudos de Flora/Bocaina Biologia da Conser- vação (livro digital) Autores: Nara Furtado de Oliveira Mota; Luíza Fonseca de Paula; Pedro Lage Viana Editora: Bocaina Biologia da Conservação Ano: 2014 Acesse em: https://biowit.files.wordpress.com/2010/11/bocaina_guia-de-metodos-de-campo-em-botanica.pdf O guia, embora reúna abordagens metodológicas que podem ultrapassar seu interesse como profissional de saúde, expõe de maneira clara e simples o processo de coleta de ma- terial botânico para identificação, preparo de amostras para herbário, caracterização dos ambientes onde ocorrem as plantas e formas de vida. Ao final, sugere uma vasta bibliogra- 13 Além de identificar as plantas, o ser humano necessita classificá-las. Segundo Lévi-Strauss (1989), todo grupo humano dentro de sua visãode mundo (cultura e crenças) classifica as plantas, agrupando-as por parentesco. Por meio desse agrupamento de coisas e de seres, é introduzido um princípio de ordem do universo. A seguir, você conhecerá os diferentes siste- mas de classificação de plantas. fia e sítios de interesse a serem consultados. Manual de Procedimentos para Herbários Autores: Ariane Luna Peixoto e Leonor Costa Maia (Organizadoras) Editora: Editora Universitária da UFPE Ano: 2013 Acesse em: http://inct.florabrasil.net/wp-content/uploads/2013/11/Manual_Herbario.pdf Esse manual abrange instruções básicas a respeito de coletas, herborização, registro e in- clusão de exemplares em coleções, além da organização e manutenção de um herbário. As organizadoras revelam que o intuito é contribuir para divulgação de normas e proce- dimentos que auxiliem pesquisadores, técnicos e alunos e motivem estudiosos de outros campos da ciência e o público leigo a compreender a importância estratégica dos herbá- rios para a ciência e para a conservação ambiental. 14 Entre as plantas conhecidas, note que existem aquelas que parecem mais entre si do que ou- tras. Essas semelhanças ou diferenças observadas são utilizadas para agrupar ou separar as plantas por parentesco, para classificá-las. Tal como nos sistemas de identificação, existem dois sistemas de classificação: o tradicional e o da academia. 2.1 O sistema de classificação tradicional Segundo Lévi-Strauss (1989), a classificação dos seres vegetais e animais é uma necessidade universal, pertencendo às culturas de todos os continentes. Embora seja universal, cada cul- tura lança mão de suas próprias percepções e visões de mundo para ordenar os seres. Ainda segundo esse autor, no caso dos pigmeus, por exemplo, quase todos os homens enumeram com a maior facilidade os nomes específicos e descritivos de pelo menos 450 plantas, 75 aves, de quase todas as serpentes, peixes, insetos, mamíferos e ainda de 20 espécies de formigas. O povo indígena Krahô classifica as plantas do cerrado em duas metades: a metade wakmenye (pertence à estação seca) e a katamye (estação chuvosa). As plantas que perten- cem à metade wakmenye são consideradas “remédios fortes”, enquanto as da metade ka- tamye são “remédios fracos”. A partir desta classificação, fazem o uso medicinal das plantas, priorizando aquelas pertencentes à metade wakmenye, uma vez que, segundo eles, essas plantas estão privadas da água de chuva e, portanto, a “substância” responsável pela cura está concentrada na planta, enquanto que, nas plantas da outra metade, essas “substâncias” estão diluídas pelas águas das chuvas! Alguns ribeirinhos amazônicos classificam as plantas em “machos” e “fêmeas” dependendo da forma da raiz. Raízes pivotantes remetem a plantas machos e devem ser consumidas como medicamentos por mulheres, caso contrário não irão promover a cura. E as plantas com raízes fasciculadas são consideradas fêmeas, tendo que ser consumidas por homens, pelos mesmos motivos. A planta conhecida popularmente na Amazônia por mucura-caá (Petiveria alliacea L.), que em outras regiões do país é conhecida por guiné, tipi verdadeiro ou amansa-senhor, apresenta variações na forma da folha. Em alguns indivíduos, as folhas são arredondadas (fêmeas), enquanto em outros, pontiagudos (machos). Seu uso é preferencialmente ligado ao sexo do paciente, assim, as plantas “fêmeas” são indicadas para homens e vice-versa. Além dessas, existem muitas outras formas e exemplos de classificação tradicional. 2 OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DAS PLANTAS NO REINO VEGETAL 15 2.2 O sistema de classificação das plantas pela academia Inicialmente, as plantas são reunidas em grandes grupos, separados entre si pelas suas carac- terísticas morfológicas mais contrastantes. Esses grupos são conhecidos como: algas, briófi- tas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas. Neste texto, iremos nos concentrar ape- nas nas angiospermas, uma vez que é nesse grupo que se encontra a maior parte das plantas medicinais conhecidas pela riqueza de seus compostos secundários. Imagine que entre as angiospermas estejam contidas espécies que se aproximam pelas suas semelhanças e, por este motivo, foram agrupadas em sub-universos, as classes. Entre as plan- tas pertencentes a uma mesma classe, por sua vez, existem aquelas que se aproximam pelas semelhanças e que, por isso, foram agrupadas em ordens e assim sucessivamente. Dessa maneira, cada agrupamento é conhecido por categoria ou táxon, são eles: divisão, clas- se, ordem, família, gênero e espécie. O termo táxon é originário da Taxonomia, que é a parte da botânica que se ocupa da identificação ou denominação correta das plantas e também é empregado para fazer referência aos organismos de um determinado grupo. Alguns estu- diosos consideram que a Taxonomia é sinônimo de Sistemática enquanto para outros, ela é menos abrangente que essa última. Algas: são organismos fotossintéticos com capacidade de liberar oxigênio, que vivem na água doce e salgada ou em locais úmidos. Se diferem das plantas por não possuírem teci- dos e órgãos. Podem ser unicelulares ou pluricelulares; não possuem raízes, caules ou folhas verdadeiras. Angiospermas: plantas que apresentam sementes verdadeiras, encerradas em frutos. É o grupo de plantas mais numeroso, geralmente terrestre, e abrange desde as herbáceas até as arbóreas mais frondosas. A principal característica das angiospermas é a presença de flores e frutos, o que as tornam importantíssimas tanto para os seres humanos quanto para os animais. Estão divididas em duas classes: dicotiledôneas (espécies de Mentha, Piper, Aristo- lochia, Rhamnus, Uncaria, Copaifera, Coleus, etc.) e monocotiledôneas (orquídeas, palmeiras, gramíneas, bromélias, etc.). Briófitas: primeiras plantas a ocuparem o ambiente terrestre, as briófitas são plantas crip- tógamas, isto é, não apresentam sementes, flores ou frutos, se reproduzindo por meio de esporos. As briófitas são avasculares, pequenas e vivem sobre rochas, solo, tronco e ramos de árvores, preferindo locais úmidos. O grupo está constituído por hepáticas, antóceros e musgos. Pteridófitas: segundo grupo na escala evolutiva das plantas. São criptógamas vasculares, que vivem em ambientes úmidos, pois assim como as briófitas necessitam da água do meio para realizarem a fecundação. Estão divididas em duas classes: licófitas e samambaias (Ex.: samambaias, avencas, cavalinhas, etc.). Gimnospermas: São plantas vasculares que produzem flores e sementes nuas, ou seja, não são envolvidas pelo ovário desenvolvido, que são os frutos. As sementes são inseridas em escamas, que formam uma estrutura cônica (Ex.: espécies de Pinus - pinheiros Araucária, Thuya - ciprestes, Taxus - do qual se obtém o taxol, substância anticancerígena, Ephedra - fonte da droga efedrina e Gingko biloba L.). 16 Adolf Engler (1884 - 1930) e Arthur John Cronquist (1919 - 1992) foram dois botânicos que se destacaram pelos estudos com o grupo das angiospermas. Cada um deles propôs um sistema para a classificação das plantas pertencentes a esse grupo, a partir da sua morfologia: sistema Engler e sistema Cronquist. As diferenças básicas entre esses dois sistemas são de ordem classificatória, ou seja, diferenças entre agrupamentos. Além disso, oito famílias de plantas são reconhecidas por dois nomes diferentes. Enquanto Engler utilizou, por exemplo, a denominação Compositae para referir-se à família das margaridas, Cronquist adotou o termo Asteraceae para representar esse mesmo grupo de plantas. Os nomes apresentados por Engler são considerados alternativos, enquanto aque- les propostos por Cronquist são atualmente aceitos. Segundo o Sistema de Cronquist (1981), existem cerca de 367 famílias taxonômicas diferentes reunidas em 74 ordens; cada uma dessas famílias pode ter um número variável de gêneros e espécies. Em 1998, outro sistema de classificação foi proposto - o sistema APG, seguindo uma aborda- gem filogenética ou molecular, procurando usartodas as informações disponíveis no momen- to a respeito dos táxons, relacionando-os segundo uma afinidade baseada na ancestralidade e descendência. Em virtude da riqueza do Brasil quanto ao número de plantas existentes em nosso terri- tório, um taxonomista brasileiro geralmente especializa-se na identificação de plantas pertencentes a determinado gênero ou, no máximo, a uma família, quando ela for composta por poucas espécies. A partir das informações deste texto, veja o exemplo ilustrativo do processo de identificação botânica: Imagine uma pessoa que sofra de úlcera e que tenha ouvido falar sobre os efeitos antiúlcera da espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek. - família Celastraceae). Esses efeitos foram comprovados durante estudos de Farmacologia pré-clínica realizados na Universidade Federal de São Paulo, na década de 1980 pelo pesquisador Elisaldo L. de A. Carlini. Tendo acesso a essas informações, essa pessoa busca pela planta. Imagine que, pelo fato de morar no ambiente rural, busque a espécie junto a um conhecedor de plantas medicinais. Po- rém, nessa nossa história, o conhecedor indica duas possíveis plantas (Figuras 07 e 08), uma vez que ambas são conhecidas pelo mesmo nome popular. Você também encontra material sobre esse assunto na apresentação de slides sobre aspec- tos botânicos das plantas medicinais disponível nesta Etapa. O Prof. Elisaldo Carlini dá as boas vindas ao nosso Curso. Assista o vídeo inaugural para conhecê-lo. Sistemática: é a ciência que se ocupa da diversidade biológica que existe hoje na Terra e de sua história evolutiva. Envolve a descoberta, a descrição e a interpretação da diversidade biológica, bem como a síntese dessas informações na forma de “sistemas de classificação”. Táxon: refere-se a qualquer grupo taxonômico (divisão, classe, ordem, família, gênero e es- pécie), sendo também empregado para fazer referência aos organismos de um determinado grupo. O termo táxon é originário da Taxonomia, que é a parte da botânica que se ocupa da identificação ou denominação correta das plantas. 17 Figura 07 [2] Figura 08 [3] Fica a dúvida: qual das duas é a espinheira-santa estudada pelo Prof. Carlini? Será que uma dessas duas plantas é a “verdadeira”, isto é, a que foi estudada? Em caso positivo, qual? Ao observar as duas espinheiras-santa, note que entre elas existem diferenças morfológicas gritantes, tal como a cor de seus frutos. Esse caso é similar àquele comentado no início do texto, em que mais de uma espécie é conhecida por erva-cidreira. A primeira atitude que a pessoa deveria tomar, nesse caso, seria coletar ambas as plantas conhecidas por espinheira- santa, enumerá-las como material (a) e (b) e, em seguida, procurar o taxonomista (botânico) responsável pela identificação das plantas daquela família ou daquele gênero. Caso não saiba a qual gênero ou família pertence a planta, recomenda-se procurar o curador do herbário mais próximo à sua casa. Geralmente as universidades com cursos de graduação em Biologia possuem herbários que podem ser consultados como uma opção. Uma vez contatado o taxonomista, os materiais serão por ele analisados, por meio de chaves de identificação que o guiarão até as respectivas espécies. A chave tem esse nome, pois, tal como uma chave, é muito específica e, se seguida com rigor quando da análise de uma planta, chega-se sempre a uma única espécie. Agora pense, ainda que o taxonomista tenha identificado o material (a) como Maytenus robusta Reissek e o (b) como a Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek., ambas são pertencentes ao gênero Maytenus e à família Celastraceae. Dessa história pode-se concluir que, dentre as duas plantas indicadas pelo conhecedor, ape- nas a planta (b) poderia ter sido consumida como remédio com segurança, uma vez que já foi submetida a estudos que comprovam sua eficácia e toxicologia (segurança). Apesar de a plan- ta (a) pertencer ao mesmo gênero que a planta (b) (a “verdadeira espinheira-santa”), ela pode Curador do herbário: representante legal do herbário perante a instituição à qual pertence e às demais instituições parceiras. Algumas das atribuições do curador são autorizar emprés- timos de exsicatas, visitas de estudiosos ao herbário, fazer cumprir as normas de funciona- mento deste, etc. 18 Figura 09 Exemplos de outras espécies conhecidas como “espinheira-santa” apresentar substâncias muito diferentes daquelas encontradas na planta estudada. Ou seja, o fato de terem um grau relativo de parentesco não significa que sejam iguais, principalmente do ponto de vista químico. Ainda sobre a “espinheira-santa”, durante um levantamento realizado entre extratores de plantas medicinais do Vale do Ribeira, em um projeto conduzido pela ONG Vitae Civilis, obser- vou-se que eles indicam duas outras plantas com o mesmo nome popular “espinheira-santa”: uma pertence à família Leguminosa e a outra, à Moraceae (Figura 09). Ou seja, nenhuma delas é a “verdadeira espinheira-santa”. Atenção! Partindo do princípio de que espécies de um mesmo gênero podem apresentar princípios ativos diferentes, imagine a variação química entre indivíduos de famílias diferentes! Amplie seus estudos Existem diversos sítios especializados na Internet que oferecem dados taxonômicos (classi- ficação, nomes científicos aceitos e sinonímias), distribuição geográfica das plantas, nomes populares e até usos. Veja os mais consultados: Lista de Espécies da Flora do Brasil: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ Flora Brasiliensis: http://florabrasiliensis.cria.org.br/index MPNS - Medicinal Plant Names Services: http://mpns.kew.org/mpns-portal/ GRIN - Germplasm Resources Information Network - Taxonomy for Plants: http://www.ars-grin.gov/cgi-bin/npgs/html/taxgenform.pl The Plant List: http://www.theplantlist.org/ The International Plant Names Index: http://www.ipni.org The New York Botanical Garden: www.nybg.org Tropicos: www.tropicos.org The Linnaean Plant Name Typification: http://www.nhm.ac.uk/jdsml/research-curation/research/projects/linnaean-typification/index.dsml Centro Nordestino de Informações sobre Plantas: www.cnip.org.br Rede Brasileira de Herbários: http://www.botanica.org.br/rbh 19 Não se pretende com esses exemplos desestimular o uso das plantas que não tenham com- provação farmacológica, pois está claro que a cura promovida por uma planta deve sempre ser considerada dentro de um contexto cultural e de crenças particulares a uma população, que transcende a comprovação científica. O que deve ser alertado, no entanto, é o cuidado necessário com o uso de plantas medicinais adquiridas em mercados, principalmente em relação àquelas que não tenham sido estudadas do ponto de vista fitoquímico e farmacológico. Talvez no futuro, a ciência utilize o conheci- mento tradicional dos extratores para realizar testes, por exemplo, com as espinheiras-santa por eles citadas e comercializadas. Enquanto isso não acontece, seu comércio não é acon- selhável, pois não se conhecem seus efeitos quando consumidas por pessoas de diferentes culturas. Saber identificar uma planta medicinal é, sem dúvida, uma etapa importante, mas você não pode esquecer de que a forma como as plantas são cultivadas, colhidas, armazenadas e trans- formadas até que possam ser beneficiadas é que vai garantir que elas não percam suas pro- priedades terapêuticas. Um conjunto de boas práticas agrícolas deve fazer parte da rotina dos que lidam com essa questão, principalmente se o cultivo visa à comercialização. 20 Atualmente, há consenso entre cientistas, indústrias e organizações ambientalistas de que uma das iniciativas para reduzir a pressão sobre o ambiente e preservar os recursos genéticos é, por um lado, o desenvolvimento de sistemas que permitam o uso sustentável das espécies nativas exploradas e, por outro, o cultivo com base em pesquisas agronômicas, matéria-pri- ma com qualidade e em quantidade. O cultivo de plantas medicinais auxilia na conservação da biodiversidade,ao mesmo tempo em que resgata o conhecimento popular com vistas ao cuidado da saúde humana. 3 O CULTIVO DE PLANTAS MEDICINAIS Você pode conhe- cer mais sobre a legislação vigente em relação às plantas medicinais e fitoterápicos na Etapa 5. A maioria das plantas medicinais comercializadas no Brasil – seja in natura ou beneficiada – apresenta-se fora do padrão; portanto, o produto utilizado pela população, principalmen- te urbana, não tem asseguradas suas propriedades terapêuticas e aromáticas preconizadas e/ou está contaminado por impurezas (terra, areia, dejetos animais, outras espécies vege- tais, coliformes fecais, etc.). Para atender às exigências atuais em termos de qualidade das plantas, reforçadas pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos no SUS, faz-se necessário empregar práticas agrícolas adequadas no cultivo, no beneficiamen- to e na armazenagem da produção, além de atentar para as exigências climáticas e edáficas das plantas medicinais. Atenção! É imprescindível àqueles que pretendem trabalhar com plantas medicinais que conheçam e cumpram a legislação pertinente. A organização e sistematização da legislação relativa à co- leta, produção e comercialização tem sido objeto de constantes levantamentos e debates, pois as plantas medicinais são pouco contempladas diretamente e a legislação específica é parcial, pouco divulgada e sujeita a interpretações variáveis conforme a região. Devem ser observadas a legislação ambiental, que trata da coleta, acesso, comércio e indus- trialização de espécies nativas e do manejo sustentável de espécies em seu ambiente natu- ral; e a legislação sanitária, que regulamenta a comercialização das plantas no varejo e na forma de alimento ou medicamento. Essas leis são disponibilizadas para consultas nos sítios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nos órgãos ambientais de cada estado e nas Secretarias de Saúde nos Serviços de Vigilância Sanitária. Para importação e exportação, é necessário consultar ainda o Banco do Brasil e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 21 3.1 Exigências climáticas e edáficas das plantas medicinais Para a produção de plantas medicinais, a não observação das exigências relacionadas ao clima e ao solo (edáficas) pode resultar na produção de plantas bem desenvolvidas, mas sem o teor de princípio ativo desejado. Entre os fatores que influenciam a produção de plantas medicinais estão os ambientais, tais como a temperatura, luz, água, solo, altitude, latitude. Com isso, caso você tenha interesse em produções maiores, certifique-se com especialistas de que sua planta estará no local adequado. Muitas plantas como, por exemplo, hortelã-pimen- ta, camomila, alecrim e sálvia, dificilmente terão a mesma qualidade no Brasil quanto àquela alcançada na região de origem. Altitude é a altura de uma região em relação ao nível do mar. Ela refletirá diretamente na tem- peratura, pois locais de altitudes menores são mais quentes do que locais mais altos. À medida que aumenta a altitude, diminui a temperatura, interferindo no desenvolvimento das plantas e na produção de princípios ativos. Segundo estudos já concluídos, as plantas produtoras de alcaloides produzirão um melhor teor dessas substâncias em baixas altitudes. A latitude se refere à distância de determinada região em relação à linha do Equador, para o Sul ou para o Norte. Em uma latitude equivalente Norte e Sul, o comportamento das plantas é diferente. Por exemplo, no caso da trombeteira (Datura stramonium L. e Hyosciamus sp.), as plantas cultivadas em latitude Sul são mais ricas em alcaloides do que as cultivadas em latitu- de Norte equivalente. As diferenças estão relacionadas, entre outros, à inclinação da terra e à influência das correntes marítimas sobre o clima. É devido a esses fatores que, também, algu- mas espécies originárias do Hemisfério Norte não florescem ou não frutificam no Hemisfério Sul. Exemplos dessas espécies são o alecrim (Rosmarinus officinalis L.), o tomilho (Thymus vul- garis L.) e a erva-doce (Pimpinella anisum L.). É importante que você perceba que a influência da latitude também impacta na quantidade de horas de luz. A maioria das plantas aromáticas de interesse econômico (alecrim, tomilho, capim limão, manjerona, melissa, camomila e sálvia, por exemplo) são originadas de latitudes entre 40º e 60º, em que os dias no verão são mais longos do que em localidades de latitudes menores, condição que as plantas citadas preferem para florescer. Maiores teores, principal- mente de óleos essenciais, são produzidos nestas latitudes. No Brasil, não há regiões com essas latitudes e, por conta disso, muitas das plantas aromáticas produzidas possuem qualidade inferior em termos de teor de óleos essenciais, se comparadas com as plantas cultivadas nas referidas latitudes. As plantas de origem tropical ou subtropical recebem pouca ou nenhuma influência da latitude. A temperatura, por sua vez, afetará principalmente a produção da biomassa ou a produção de flores, como ocorre com plantas originárias de regiões mais frias. Para cada espécie exis- te uma temperatura mínima, uma temperatura máxima e uma faixa de temperatura ideal para o seu desenvolvimento. Deve-se saber qual é a temperatura ideal de cultivo para Veja mais sobre esse conteúdo na apresentação de slides sobre aspec- tos do cultivo de plantas medicinais nesta Etapa. 22 cada espécie. Por exemplo, no Brasil, a camomila é cultivada no inverno; o capim-limão se desenvolve melhor em climas quentes. As plantas ainda respondem às modificações, na proporção de luz e escuridão, dentro de um ciclo de 24 horas. Esse comportamento é chamado fotoperiodismo. Em muitas espécies, o fotoperíodo é o responsável pela germinação das sementes, desenvolvimento da planta e for- mação de bulbos ou flores. A hortelã-pimenta (Mentha piperita Ehrh.) é uma planta de dias longos com fotoperíodo crítico entre 12 e 14 horas, encontrando tais condições no Sul do Bra- sil, onde ela floresce. A capacidade de germinação das sementes também pode estar associada à iluminação. Há espécies cujas sementes necessitam de luz para germinar, como a camomila [Chamomilla re- cutita (L.) Rauschert.], a erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides L.) e a tanchagem (Plantago spp.). Esse comportamento determina o modo adequado de plantio dessas espé- cies (não devem ser cobertas com terra). A água é um elemento essencial para a vida e o metabolismo das plantas; o excesso ou a falta dela pode impactar a produção de certos metabólitos secundários. O excesso de umidade leva à redução do teor de alcaloides em espécies da família Solanaceae (Datura sp., Atropa sp., etc.), por exemplo. Com relação à produção de óleos essenciais, observou-se um aumento de sua concentração quando não são irrigadas, como, por exemplo, o capim-limão (Cymbopogon citratus DC. Stapf.). Um outro exemplo é o alecrim (Rosmarinus officinalis L.), que, em solo muito argiloso e rico em matéria orgânica, não produz tanto óleo essencial quanto se cultiva- do em solos arenosos, seu habitat natural. O tipo de solo pode influenciar, portanto, a produção de substâncias medicinais e de biomas- sa. Geralmente a origem da planta medicinal pode servir como indício sobre o tipo de solo ao qual ela está mais adaptada, de modo que possa servir de subsídios para indicação de locais mais propícios. Outros fatores técnicos, como a época e a forma de colheita e transporte, a secagem e o armazenamento, complementam o quadro. Esses aspectos técnicos devem ser adequados às características de cada espécie e aos princípios ativos que produz. 3.2 Boas Práticas Agrícolas de plantas medicinais As plantas medicinais podem representar um componente importante no sistema produtivo de pequenas propriedades (agricultores familiares), constituindo-se como alternativa de ren- da paraunidades de agricultura familiar. Isso porque essa prática de cultivo demanda baixo custo, além de ser uma atividade pouco mecanizada, geradora de oportunidades de trabalho que podem ser planejadas e distribuídas ao longo do ano, e os rendimentos por área são rela- tivamente elevados. 23 Nesse contexto, é incontestável seguir as Boas Práticas Agrícolas - BPA -, que têm por obje- tivo realizar uma agricultura sustentável do ponto de vista técnico, ambiental, social e econô- mico. As diretrizes das BPA específicas para o cultivo de plantas medicinais são orientações gerais que visam limitar os efeitos negativos nas plantas durante o cultivo, processamento e armazenamento, bem como aspectos relacionados à higiene, especialmente na produção para reduzir, ao mínimo, a carga microbiana. 3.2.1 Sementes e material de propagação A importância da certificação da identidade botânica da espécie a ser cultivada já foi enfatiza- da. As sementes utilizadas devem indicar, quando for o caso, a variedade da planta, o cultivar, o quimiotipo e a origem. O material usado deve ser 100% rastreável, ou seja, deve-se ter, inclusive, o nome/local da empresa fornecedora. O mesmo se aplica ao material para propa- gação vegetativa (Ex.: estacas). 3.2.2 Cultivo Os produtores devem seguir as recomendações técnicas previstas para cada espécie, encon- tradas em publicações técnicas de diversos órgãos de pesquisa e extensão, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e as instituições de ensino que oferecem o curso de Agronomia. O cultivo de plantas medicinais deve ser feito em áreas isentas de contaminação por metais pesados, resíduos de agrotóxicos ou qualquer outra substância química não-natural. Além disso, essas áreas devem estar situadas longe de rodovias de movimento intenso (pelo menos 2km) e de áreas industriais, pois os poluentes lançados no ar nessas regiões também podem Cultivar: variedade cultivada; grupo de indivíduos de uma espécie que se relaciona por as- cendência e se apresenta uniforme quanto às características morfológicas, de desenvolvi- mento, propriedades bioquímicas ou fisiológicas. Quimiotipos: são variações químicas naturais que acontecem com os óleos e que surgem devido a diferenças climáticas, tipo de solo, altitude, exposição ao sol e chuva, época de colheita, etc., além de diferenças causadas pelo método de extração empregado e fração da destilação. Amplie seus estudos O material de propagação (sementes, mudas, estacas, etc.) deve atender às exigências e/ ou padrões estabelecidos relativos à pureza e germinação se estiverem estabelecidos nas Normas de Produção de Sementes e Mudas do Ministério da Agricultura. Essas normas podem ser acessadas no sítio do próprio Ministério por meio do link: http:// www.agricultura.gov.br/legislacao. 24 3.2.3 Colheita Todo esforço despendido no cultivo das plantas pode ser posto a perder quando não se dá atenção às etapas de colheita, beneficiamento e armazenagem. O valor comercial das plan- tas medicinais é determinado por sua qualidade. A qualidade das drogas vegetais depende, entre outros, da colheita no estágio de maior teor de princípios ativos; do correto manuseio durante e após a colheita; do beneficiamento adequado; e da armazenagem apropriada. Aspectos como clima, tipo de solo, entre outros influenciam diretamente no processo de cultivo de plantas medicinais. Por isso, é possível encontrar uma diversidade de espécies de acordo com sua localização nos diferentes biomas brasileiros, que você conhecerá a seguir. depositar-se sobre as plantas e contaminá-las. Produtos químicos eventualmente utilizados devem ter o menor efeito negativo possível. A aplicação de adubos deve ser feita com moderação, conforme a análise de solo e as neces- sidades particulares de cada espécie. O uso de adubos e fertilizantes deve estar associado a medidas para minimizar a lixiviação de substâncias que possam contaminar o lençol freático e os rios. Droga vegetal: é o nome dado à planta medicinal ou suas partes, após processos de coleta, estabilização e secagem, podendo ser íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada, de acordo com a Farmacopeia Brasileira e a Resolução Anvisa RDC nº 48, de 16 de março de 2004. Atenção! É fundamental que as plantas estejam livres de agroquímicos, que podem alterar a com- posição das mesmas, fazendo com que percam seu valor medicinal, podendo até provocar efeitos colaterais ou tóxicos. Recomenda-se, portanto, que o sistema de agricultura a ser praticado seja o orgânico. Veja também informações sobre manejo e proteção da cultura de plan- tas medicinais em apresentação de slides sobre aspec- tos do cultivo de plantas medicinais na Etapa 2. 25 O Brasil é reconhecido mundialmente por sua biodiversidade, figurando entre os 17 países megadiversos no mundo, que ao todo reúnem 70% da biodiversidade do planeta (SCARANO, 2009). Estima-se a existência de 103.780 - 136.990 espécies animais e 43.020 - 49.520 vegetais, o que equivale a cerca de 10% (1.279.300 - 1.359.400) e 18% (263.800 - 279.400) da flora e fau- na mundiais, respectivamente (LEWINSOHN; PRADO, 2005). Essa diversidade encontra-se distribuída em seis principais biomas, nos quais é possível iden- tificar várias espécies medicinais, conhecidas e manipuladas por diversos povos e comunida- des locais. Entre os biomas, ainda ocorrem áreas de transição denominadas ecótonos, com alta diversidade vegetal, também contribuindo para as potencialidades biológicas do territó- rio brasileiro. Conheça agora as principais características de cada bioma brasileiro. 4 BIOMAS BRASILEIROS Assista também ao vídeo sobre os bio- mas brasileiros e as plantas medicinais, nesta Etapa. Figura 10 Localização geográfica dos biomas brasileiros Bioma: um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas si- milares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2015). Biodiversidade: “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, den- tre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte” (CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA, 1992). Ecótono: áreas de transição ambiental, onde comunidades ecológicas diferentes entram em contato. 26 4.1 Amazônia (AB'SABER, 2006; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2010) 4.1.1 Área e distribuição geográfica Esse bioma é compartilhado por nove países – Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Equa- dor, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Representa o maior bloco contínuo de florestas do mundo, abrigando praticamente metade da biodiversidade do planeta. A Amazônia brasileira é o maior entre os seis biomas encontrados no país, ocupando mais de 50% do território na- cional, isto é, uma área de 4.196.943 km2, abrigando os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte dos estados do Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. 4.1.2 Elemento humano Diversos povos indígenas e comunidades tradicionais (caboclos, quilombolas, etc.) ocupam este bioma. 4.1.3 Principais produtos vegetais Importantes representantes da flora brasileira estão aqui representados, entre os quais pode- mos destacar: mogno (Swietenia macrophylla King), borracha ou seringa [Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Muell-Arg.], castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa Humb. & Bonpl.), açaí (Euterpe oleracea Mart.), pau-rosa (Aniba rosaeodora Ducke.), guaraná (Paullinia cupana Kunth.), andiroba (Carapa guianensis Aubl.), muirapuama (Ptychopetalum olcaoides Benth.), unha-de-gato (Uncaria spp.), etc. 4.1.4 Clima Predomina na região o clima equatorial, com pluviosidade variando de 1400 a 3500 mm por ano, ou seja, uma média anual de 2.500 mm. As temperaturas anuais oscilam entre 22e 28ºC, sendo a temperatura média anual de 24ºC. A combinação desses dois fatores ao longo do ano caracteriza duas épocas distintas: a seca, também chamada verão amazônico, e a chuvosa ou inverno amazônico. 4.1.5 Vegetação A aparente homogeneidade florestal desse bioma abriga de fato uma ampla diversidade de ti- pos vegetacionais: florestas de terra firme, florestas inundáveis (igapós e várzeas), campinas, campinaranas, savanas ou cerrados, entre outros. 27 4.1.7 Fauna A fauna amazônica abriga inúmeras espécies-bandeira, isto é, espécies muito populares e ca- rismáticas, entre as quais podemos mencionar os macacos, a ariranha, o peixe-boi, o pirarucu, além de diversas aves como araras e papagaios. Botos, lontras, répteis como os jacarés, tar- tarugas e jiboia, além de insetos e muitos outros animais terrestres contribuem para a riqueza biológica da região. 4.2 Caatinga (AB'SABER, 2006; ALBUQUERQUE et al., 2010; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a) 4.2.1 Área e distribuição geográfica Este bioma é predominante no nordeste do Brasil. Ocupa 9,92% do território brasileiro, numa área de 844.453 km2, nos estados: Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Maranhão e a porção norte de Minas Gerais. 4.2.2 Elemento humano A geografia humana predominante neste bioma é das mais sofridas do Brasil, representada sobretudo pelos sertanejos, mas existem também etnias indígenas e quilombolas. 4.1.6 Espécies de plantas medicinais (exemplos) Hymenaea parvifolia Huber. (jatobá) Siparuna guianensis Aubl. (capitiú) Spilanthes oleracea L. (jambu) Crescentia cujete L. (cuia-jamarú) Indigofera suffruticosa Mill. (anis) Croton cajucara Benth. (sacaca) Himatanthus sp. (sucuuba) Cassia leiandra Benth. (mari-mari) Curiosidade O Brasil abriga cerca de ¾ da Amazônia total (contendo cerca de 22 mil espécies vegetais). Burdachia duckei Steyer. Mark. (pau-vidro) Bonamia ferruginea (Choisy) H. (cipó-tuíra) Vismia guianensis (Aubl.) Pers (lacre) Gossypium barbadense L. (algodoeiro) Pothomorphe peltata L. Miq. (caapeba) Aspidosperma excelsum (Wod.) (carapanaúba) Lophanthera longifolia H.B.K. Griseb. (cuiarana) Couma macrocarpa Barb. Rodr. (sorva) 28 4.2.3 Principais produtos vegetais Os principais produtos vegetais desse bioma são a carnaúba (principalmente na produção de cera), o babaçu (óleo com diversos usos: medicinal, sabonetes, alimentação) e o juazeiro (me- dicinal). 4.2.4 Clima A caatinga se caracteriza por clima semiárido, com temperaturas médias anuais compreendi- das entre 27ºC e 29ºC e com médias pluviométricas inferiores aos 800 mm. 4.2.5 Vegetação Com base na vegetação e no solo, a caatinga pode ser dividida nas seguintes zonas: Domínio da vegetação hiperxerófila; Domínio da vegetação hipoxerófila; Ilhas úmidas; Agreste e área de transição. Sua vegetação típica é seca e espinhosa, por causa da falta de chuvas durante grande parte do ano. Porém, quando chega o período de chuvas, as folhagens voltam a brotar e a paisa- gem fica mais verde. Algumas das principias plantas do bioma são: xiquexiques [Pilosocereus gounellei A. Weber ex K. Schum. (Bly. ex Rowl.)], mandacarus (Cereus jamacaru DC.), caragua- tás [Bromelia plumieri (E. Morren) L.B. Sm.], coroas-de-frade [Melocactus bahiensis (Britton & Rose) Luetzelb.]. Este bioma abriga 1102 espécies de plantas lenhosas, sendo 318 espécies de angiospermas endêmicas. 4.2.6 Espécies de plantas medicinais Myracrodruon urundeuva Allemão. (aroeira) Ziziphus joazeiro Mart. (juá) Cereus jamacaru DC. (mandacaru) Amburana cearenses (Allemão) A.C.Sm. (cumaru ou imburana-açu) Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (angico ou angico-de-caroço) Caesalpinia pyramidalis Tul. (catingueira ou catinga-de-porco) Bauhinia cheilantha (Bong.) Stend. (mororó, pata-de-vaca ou unha-de-vaca) (Fonte: ALBUQUERQUE et al., 2010) 29 4.3 Cerrado (AB'SABER, 2006; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a) 4.3.1 Área e distribuição geográfica Sua área é de 2.036.448 km2, representando 23,9% do território nacional. O Cerrado se esten- de pelo Centro-Oeste e penetra em partes do Sudeste, Nordeste e Norte do país, ocupando os estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Tocantins, além de porções de outros seis estados. 4.3.2 Elemento humano Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, quilom- bolas, raizeiros, ribeirinhos, babaçueiras e vazanteiros que, juntos, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade. 4.3.3 Principais produtos vegetais Polpas dos frutos do pequi (Caryocar brasiliense Camb.), buriti (Mauritia flexuosa L.), mangaba (Hancornia speciosa Gomes), bacupari (Salacia crassifolia Mart.& Schult), cajuzinho do cerrado (Anacardium humile A. St.Hil.) e araticum (Annona crassifolia Mart.). 4.2.7 Fauna O conhecimento atual da fauna da Caatinga é reduzido e, para diversos grupos animais, não há informação ou coletas realizadas. Alguns animais bem registrados neste bioma são: la- gartos (tal como o teiú), serpentes (cascavel e jararaca) e aves (siriema, pomba-de-bando, quenquém e juriti). Curiosidades O nome caatinga tem origem Tupi-Guarani e significa “floresta branca” (aspecto da vegetação durante a seca [8 a 9 meses no ano], quando caem as folhas e permanecem apenas os tron- cos brancos e brilhantes); Único bioma exclusivo do território brasileiro; Bioma que tem a biodiversidade mais desconhecida da América do Sul; A Caatinga vem sofrendo diversas agressões ambientais: substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens, desmatamento e queimadas. A falta de preservação preju- dica a sobrevivência da fauna silvestre, a qualidade da água e o equilíbrio do clima e do solo. 30 4.3.4 Clima É tropical sazonal, de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22 - 23ºC, chove de 1500 a 1800 milímetros ao ano (outubro - março). Possui duas estações bem defini- das: inverno seco e verão chuvoso. 4.3.5 Vegetação Esse bioma é composto por diversas fisionomias, entre elas destacam-se três: Cerrado (strictu sensu): é a vegetação característica do cerrado, composta por exemplares arbustivo-arbóreos, de caules e galhos grossos e retorcidos, distribuídos de forma ligeiramen- te esparsa, intercalados por uma cobertura de ervas, gramíneas e espécies semi-arbustivas. Cerradão: este tipo de vegetação cresce sob solos bem drenados e relativamente ricos em nutrientes, as copas das árvores, que medem em média de 8 - 10 metros de altura, tocam-se, o que denota um aspecto fechado a esta vegetação. Campo rupestre: encontrado em áreas de contato do cerrado com a Caatinga e a Floresta Atlântica, os solos desse tipo fisionômico são quase sempre rasos e sofrem bruscas variações em relação à profundidade, drenagem e conteúdo nutricional. É, caracteristicamente, com- posto por uma vegetação arbustiva de distribuição aberta ou fechada. Sua flora é composta por no mínimo 10 mil espécies (6500 nativas e 4400 endêmicas) e só recentemente começa a ser conhecida. 4.3.6 Espécies de plantas medicinais Psidium myrsinites DC. (araçá) Pterodon emarginatus Vogel. (sucupira) Platonia insignis Mart. (bacuri) Mauritia flexuosa L. (buriti) 4.3.7 Fauna Abriga aproximadamente 200 espécies de mamíferos, 800 espécies de ave, 180 de répteis, 150 de anfíbios e 1200 espécies de peixes, uma notável diversidade de espécies animais endêmi- cas. Entre eles, destacam-se: anta, ariranha, bugio-preto, cachorro-do-mato, capivara, cervo, gambá, tamanduá-bandeira, lobo-guará, onça-pintada, queixada, tatu-canastra. Tabebuia ochracea A.H. Gentry (ipê-amarelo) Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (barbatimão) Ipomoea purga Wender. Hayne. (batata-de-purga) 31 4.4 Mata Atlântica (AB'SABER, 2006;PEREIRA et al., 2012; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015b) 4.4.1 Área e distribuição geográfica A Mata Atlântica compreende a região costeira do Brasil e ocupa uma área de 1.110.182 km2 percorrendo 17 estados brasileiros e representando 13,04% do território. 4.4.2 Elemento humano Indígenas, afro-brasileiras, caiçaras, jangadeiros, entre outras populações tradicionais fazem parte deste bioma. 4.4.3 Principais produtos vegetais Orquídeas, bromélias, palmito juçara. Atualmente, a atividade de extração do palmito desta árvore tem sido substituída pela extração dos frutos, numa atividade ainda mais rentável e que tem proporcionado a conservação da planta, que já estava em vias de extinção. 4.4.4 Clima Com clima equatorial ao norte e quente temperado, sempre úmido, ao sul, tem temperaturas médias elevadas durante o ano todo e não apenas no verão. 4.4.5 Vegetação A Mata Atlântica é formada por um conjunto de formações florestais (Florestas: Ombrófila Densa, Ombrófila Mista, Estacional Semidecidual, Estacional Decidual e Ombrófila Aberta) e Curiosidades O cerrado é a savana de maior diversidade do mundo, responsável pela manutenção de um terço da diversidade brasileira; É considerado um hotspot - região com grande biodiversidade e endemismo, porém, alta- mente ameaçada de extinção; Segundo maior bioma brasileiro, depois da Amazônia; Bioma muito ameaçado por monoculturas de soja, cana, entre outras. 32 ecossistemas associados, como as restingas, manguezais e campos de altitude. Nesse Bioma existem cerca de 20 mil espécies de plantas, das quais cerca de oito mil são endêmicas dessa floresta, incluindo diversas espécies ameaçadas de extinção. 4.4.6 Espécies de plantas medicinais Erytrina mulungu Mart.ex Benth (mulungu) Piper umbelatum L. (caapeba, pariparoba) Pyrostegia venusta (KerGawl.) Myers. Baccharis crispa Spreng. (carqueja) 4.4.7 Fauna Os levantamentos já realizados indicam que a Mata Atlântica abriga 849 espécies de aves, 370 espécies de anfíbios, 200 espécies de répteis, 270 de mamíferos e cerca de 350 espécies de peixes. Os mais representantes e ameaçados de extinção são mico-leão-dourado, bugio, tamanduá-bandeira, tatu-canastra, arara-azul-pequena, muriqui e onça-pintada. 4.5 Pantanal (AB'SABER, 2006; SILVA; ABDON, 1998; ICMBIO, 2015b; IBGE, 2015; BRASIL, 2015a) 4.5.1 Área e distribuição geográfica Localizado na região centro-oeste do país, ocupa uma área de 150.355 km2, representando 1,76% do território brasileiro, abrangendo os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esse bioma faz ligação entre o Cerrado (no Brasil Central), o Chaco (na Bolívia) e a região ama- zônica (ao Norte do país). Por ter influências de diversos biomas, às vezes é denominado Ma- cro-bioma ou Complexo do Pantanal. Curiosidades A Mata Atlântica é considerada uma das áreas mais ricas em espécies da fauna e da flora mundial; Restam apenas cerca de 7% de sua cobertura florestal original, fator agravado pelo fato de nessa região se localizarem os recursos hídricos (rios) que abastecem cerca de 70% da po- pulação brasileira; A exploração da Mata Atlântica começou com a chegada dos portugueses ao Brasil, cujo interesse principal era a extração da preciosa madeira do pau-brasil; Parte da Mata Atlântica foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educa- ção, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Reserva da Biosfera no começo da década de 1990. Eugenia uniflora L. (pitanga) Cestrum axillare Vell. (canema) Varronia curassavica Jacq. (erva-baleeira) 33 4.5.2 Elemento humano O bioma se destaca pela forte presença de comunidades tradicionais, como os povos indíge- nas e quilombolas que, no decorrer dos anos, ajudaram a difundir a cultura pantaneira. 4.5.3 Clima O regime pluviométrico no Pantanal apresenta duas estações bem definidas: uma chuvosa, que ocorre entre os meses de outubro e março, e outra seca, entre abril e setembro. Segundo a classificação de Köppen, o bioma Pantanal está inserido no grupo de clima tropical com es- tação seca ou clima de savana (Aw) e exibe temperaturas médias mensais superiores a 18ºC com um dos meses com precipitação média inferior a 60 mm. 4.5.4 Vegetação A vegetação do Pantanal é heterogênea e influenciada principalmente pelo Cerrado, mas apresenta também elementos de Floresta Amazônica, Chaco e Floresta Atlântica. Essa ca- racterística, aliada aos diferentes tipos de solo e regimes de inundação, é responsável pela grande variedade de formações vegetais e pela heterogeneidade da paisagem, que abriga rica biota aquática e terrestre. O Complexo do Pantanal é constituído por savana estépica alagada em sua maior parte (250 mil km de extensão). Como é uma área de transição, a região é formada por uma variedade de ecossistemas que são periodicamente inundados, apresentando, por isso, uma fauna bastan- te diversificada. Segundo Silva e Abdon (1998), existem 11 sub-regiões da área fisiográfica desse complexo bioma: P. de Poconé; P. de Nhecolândia; P. Aquidauana; P. Barão de Melgaço; P. Cáceres; P. Nabileque; P. Paiaguás; P. Paraguai; P. Abobral; P. Miranda; P. Porto Murtinho. 34 4.6 Pampa (AB'SABER, 2006; CORADIN et al., 2011; PILAR et al., 2009; ICMBIO, 2015a; IBGE, 2015; BRASIL, 2015c) 4.6.1 Área e distribuição geográfica Também conhecido como Campos do Sul ou Campos Sulinos, ocupa apenas 2,07% do sul do território brasileiro, o que corresponde a uma área de 176.496 km2, no estado do Rio Grande do Sul. Abrange ainda territórios da Argentina e Uruguai. Esse bioma abriga cerca de 3,5 mil espécies de plantas. Segundo a Conservation International (2002), não há registros de plantas endêmicas para o Pantanal, o que estaria associado ao fato de compartilhar a maior parte de suas espécies com as regiões vizinhas, como o Cerrado e a Amazônia. 4.5.5 Espécies de plantas medicinais Ayenia sp. (raiz-de-bugre-da-várzea) Lafoensia pacari A.St. Hil. (mangava-brava) Dorstenia asaroides Gardner. (caia-piá) Palicourea rigida Kunth. (erva-molar-fêmea) Helicteres sacarolha A St.-Hil. (piteira) 4.5.6 Fauna São descritas para este bioma aproximadamente 124 espécies de mamíferos, 463 espécies de aves e 325 espécies de peixes; sendo os característicos: peixes (dourado, pintado, curimbatá, pacu), jacarés, capivaras, ariranhas, onça-pintada, macaco-prego, veado-campeiro, lobo-gua- rá, cervo-do-pantanal, tatu, bicho-preguiça, tamanduá, lagartos, cágados, jabutis, cobras (ji- bóia e sucuri) e pássaros (tucanos, jaburus, garças, papagaios, araras, emas e gaviões). Curiosidades O Pantanal é uma das maiores planícies sujeitas a inundações periódicas do globo; Habitat de uma das mais espetaculares concentrações de vida silvestre da Terra, o que o tor- na uma das melhores áreas do mundo para a observação de animais selvagens, comparável às savanas africanas. Camarea ericoides A St.-Hil. (erva-doce-do-campo) Cordia insignis Cham. (iodo-do-campo) Solanum lycocarpum A St.-Hil. (lobeira) Guazuma ulmifolia Lam. (chico-magro) Macrosiphonia longiflora (Desf.) Muell. Arg. (velame) 35 4.6.2 Elemento humano Diversas etnias indígenas, quilombolas, além do elemento humano predominante, o gaúcho. 4.6.3 Clima O clima da região é o subtropical, que se caracteriza por temperaturas amenas e chuvas com pouca variação ao longo do ano. O solo, em geral, é fértil, sendo bastante utilizado para a agropecuária. 4.6.4 Vegetação Bioma caracterizado pela vegetação campestre (gramíneas, herbáceas e algumas árvores), predominando os campos nativos, matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, for- mações arbustivas, butiazais, banhados e afloramentos rochosos. Estimativas indicam valores em torno de 3.000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, representadas por mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos de-porco). Nas áreas de campo natural, também sedestacam as espécies de compostas e de leguminosas (150 espécies), como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nati- vo. Nas áreas de afloramentos rochosos, podem ser encontradas muitas espécies de cactá- ceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa, vale destacar o algarrobo (Prosopis algorobilla Griseb.) e o nhandavaí [Acacia farnesiana (L) Willd]. Não se tem informação sobre espécies endêmicas desse bioma. 4.6.5 Espécies de plantas medicinais Achyrocline satureioides (Lam.) DC. (marcela) Equisetum giganteum L. (cavalinha) (Fonte: CORADIN et al., 2011). Cuphea carthagenensis (Jacq.) J. Macbr C. calophylla Cham. & Schltdl. (sete-sangrias ou guanxuma vermelha) 4.6.6 Fauna A fauna é expressiva, com mais de 500 aves, entre elas a ema, o perdigão, a perdiz, o quero- quero, o caminheiro-de-espora, o joão-de-barro, o sabiá-do-campo e o pica-pau do campo. Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o graxaim, o zorri- lho, o furão, o tatu-mulita e o preá. O Pampa abriga um ecossistema muito rico, com muitas espécies endêmicas, tais como: tuco-tuco, o beija-flor-de-barba-azul, o sapinho-de-barriga- vermelha e algumas ameaçadas de extinção, como o veado-campeiro, o cervo-do-pantanal, o caboclinho-de-barriga-verde e o picapauzinho-chorão. 36 Como visto neste texto-base, os biomas brasileiros são ricos em diversidade cultural e bioló- gica. É considerável o número de plantas com efeitos medicinais já comprovados que podem ser utilizadas como parte do tratamento em diversas racionalidades médicas. Entretanto, há muito ainda a ser explorado. Ao final da leitura, você deve ter percebido que a identificação botânica e as boas práticas de cultivo, juntamente com a comprovação das atividades farmacológicas e determinação da composição química, são procedimentos complementares nas pesquisas de plantas medici- nais. Somente uma associação do conhecimento tradicional e popular com o conhecimento botânico e as inovações tecnológicas poderá garantir um equilíbrio dos ecossistemas dos bio- mas, de maneira a permitir a produção de fitoterápicos com segurança e eficácia. Curiosidades Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna pró- prias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência; Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global; Também é no Pampa que fica a maior parte do aquífero Guarani. 37 REFERÊNCIAS DAS IMAGENS [1] Fonte: Imagem cedida pelo Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional e parcei- ros, em Foz do Iguaçu. [2] Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/83/Flickr_-_João_de_Deus_ Medeiros_Maytenus_robusta [3] Fonte: http://www.guayubira.org.uy/monte/Congorosa.pdf 38 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 1 A identidade das plantas: nome popular e nome científico CORRÊA, P. Dicionário de Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas. Brasília: Minis- tério da Agricultura, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, 1984. FERRI, M. G. Botânica: Morfologia externa das plantas (Organografia). 15. ed. São Paulo: Nobel, 1983. LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. Campinas: Editora Papirus, 1989. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: Nativas e exóticas. 1. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: Nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008. MARTINS-DA-SILVA, R. C. V. da et al. Noções Morfológicas e Taxonômicas para Identifica- ção Botânica. 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Botânica sistemática: Guia ilustrado para identificação das fa- mílias de Fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG III. 3. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2012. 39 2 Os sistemas de classificação das plantas no reino vegetal ANGIOSPERMUM PHYLOGENETIC GROUP. An Ordinal classification for the families of flowering plants. Annals of the Missouri Botanical Garden. v. 85, p. 531-553. St. Louis, Mis- souri, Botanical Garden, 1998. ANGIOSPERMUM PHYLOGENETIC GROUP. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society, v. 161, p. 105–121, Oct. 2009. CRONQUIST, A. An integrated system of classification of flowering plants. New York: Columbia University Press, 1981. LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. Campinas: Editora Papirus, 1989. 3 O cultivo de plantas medicinais BALADRIN, M. F.; KLCKE, E. S. W.; BOLINFER, W. H. 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