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P ág in a1 P ág in a2 Aula revisada e atualizada em 14/03/2020. AULA 07 SUSPENSÃO, EXTINÇÃO E EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO (PARTE 01) SUSPENSÃO, EXTINÇÃO E EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ................................................................... 2 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 4 SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO .................................................................................................. 5 Moratória ......................................................................................................................................... 9 Parcelamento ................................................................................................................................. 16 Reclamações e recursos no âmbito do processo administrativo fiscal ........................................... 23 Liminar em Mandado de Segurança ou tutela antecipada em outras ações judiciais.................... 25 Depósito do montante integral ...................................................................................................... 29 EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO .................................................................................................. 37 Pagamento ..................................................................................................................................... 40 Efeitos da mora no pagamento ...................................................................................................... 44 Imputação em pagamento ............................................................................................................. 45 Pagamento indevido e restituição ................................................................................................. 47 Compensação ................................................................................................................................. 66 P ág in a3 AVISO DE DIREITOS AUTORAIS Prezado aluno, antes de iniciarmos nossos estudos de hoje, precisamos ter uma conversa séria. Trata-se do respeito aos nossos esforços na produção deste curso, a que temos dedicado todas nossas energias nos últimos meses. Saiba que nosso objetivo é sempre oferecer o melhor produto possível e que realmente faça a diferença na sua caminhada rumo à aprovação. Mas, para que nós consigamos atingir essa meta, sua ajuda é imprescindível. Então, sempre que algum amigo ou conhecido falar “será que você passa para mim aquele material do RevisãoPGE que você tem?”, lembre desta nossa conversa. Mais: lembre que o Preparação Total (assim como todos os nossos produtos) são tutelados pela legislação civil (como a Lei 9.610/98 e o Código Civil) e pela legislação penal (especialmente pelo art. 184 do Código Penal). Para que não reste dúvida: este curso se destina ao uso exclusivo do aluno que o adquirir em nosso site, e sua aquisição não autoriza sua reprodução. Ok? Sabemos que falar isso parece pouco amigável, mas só estamos tendo este “papo reto” porque queremos de você justamente um ato de amizade: não participar, de forma alguma, da pirataria deste curso. Se isso acontecer, o fornecimento das aulas a você será interrompido e nenhum valor pago será restituído, sem prejuízo, evidentemente, de toda a responsabilização cabível nos âmbitos civil e penal. Bem, o recado era esse. Agora podemos voltar às boas e meter a cara nos livros! Ops... nos PDFs! Bons estudos! P ág in a4 Olá, meus amigos do RevisãoPGE. Tudo certo? A aula é longa, cansativa e com bastante conteúdo. O tema é recheado de dispositivos legais, jurisprudência e súmulas! Você vai precisar de bastante atenção e de boas revisões para absorver bem. E você precisar absorver, pois os temas são muito importantes para conversão mesmo de questões. Não estou falando mais de montar base para entender outros assuntos não. Aqui é para acerto de questões. Então, por favor, siga minha sugestão: antes de seguir na leitura da aula, leia o CTN do art. 139 a 182. Quero uma leitura rápida, com alguns grifos, mas sem muito apego. Não podes demorar mais que 30 min nessa primeira leitura. Foi pro CTN? Não? Vá! Nos vemos já já... INTRODUÇÃO Estudamos o crédito tributário e vimos que eles são constituídos pelo lançamento. Então, recapitulando, temos a hipótese de incidência a qual se subsume o fato gerador, fazendo nascer a obrigação tributária, que, por meio do lançamento, passar a materializar o crédito tributário. Esse crédito tributário é a dívida exigível, em que já se definiu o quantum devido, já se descreve o enquadramento legal, já se inclui eventual penalidade tributária. O plano normal das coisas, como é de se presumir, seria esse crédito tributário ser extinto pelo pagamento e, assim, seria encerrado o ciclo da vida da tributação. Mas, nem tudo na vida são flores. Surgem diversos problemas no meio disso tudo, que tem relevância para o Direito. Todos esses “problemas” (que, muitas vezes, P ág in a5 são soluções, como veremos) foram classificados em 3 grandes grupos: suspensão, extinção e exclusão do crédito tributário. É o que veremos agora! SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Como visto na aula anterior, a constituição do crédito tributário tem como principal consequência exigível a obrigação tributária já existente. Entretanto, essa exigibilidade pode ficar suspensa em algumas situações, as quais são denominadas de causas de suspensão do crédito tributário. Vejamos as hipóteses previstas no art. 151 do CTN: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I – moratória; II – o depósito do seu montante integral; III – as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança; V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes. P ág in a6 ODEIO MNEMÔNICOS (RESPEITO E ADMIRO QUEM OS USA, AFINAL, SE FOR PARA APRENDER, TUDO É VÁLIDO), MAS SEMPRE USEI UM PARA ESSE ROLE VOU PASSAR PARA VOCÊS: MO DE RE CO PA MORATÓRIA DEPÓSITO RECURSO ADMINISTRATIVO CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA PARCELAMENTO As hipóteses supracitadas formam um rol exaustivo, tanto porque está expresso no art. 141 do CTN (o texto legal fala “nos casos previstos nesta Lei”), como pela determinação do art. 111, I, do CTN, que obriga a interpretação literal da legislação acerca da suspensão de crédito: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção; III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. Art. 141. O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias. P ág in a7 As causas de suspensão não apenas incidem nos casos em que o lançamento já foi efetuado, podendo incidir antes dele, a exemplo do caso de concessão de medida liminar em mandado de segurança antes da constituição do crédito. Nesse caso, entende-se que a autoridade continua autorizada a lançar o crédito, ficando suspensa apenas de o exigir, ou seja, o crédito tributário estará constituído, contudo, sem haverestipulação de prazo para pagamento, bem como sem possibilidade de imposição de penalidade decorrente do não pagamento (afina, o débito não é exigível). O que importa é que o advento de causa suspensiva, seja anterior ou posterior ao lançamento, impede a propositura de execução fiscal. JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIO. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO LANÇAR. EXISTÊNCIA DE ÓBICE JUDICIAL À CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO. INÉRCIA DO FISCO. NÃO CONFIGURAÇÃO. OCORRÊNCIA DO LANÇAMENTO ANTES DO DECURSO DO LUSTRO DECADENCIAL. 1. As causas supervenientes suspensivas do crédito tributário não inibem a Fazenda Pública de providenciar a sua constituição, posto atividade administrativa vinculada e obrigatória. É que a Administração Ativa deve lançar o crédito tributário a fim de evitar a ocorrência da decadência, possibilitando sua cobrança após encerrada a causa suspensiva de exigibilidade (Precedente da Primeira Seção: EREsp 572.603/PR, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, julgado em 08.06.2005, DJ 05.09.2005). (...) (REsp 849.273/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/03/2008, DJe 07/05/2008) Isso confunde muita gente! Fique ligado(a). É possível que haja uma causa suspensiva da exigibilidade anterior à própria constituição do crédito tributário. A Fazenda Pública, nesses casos, pode (e deve) lançar o crédito mesmo assim, sob pena se configurar a decadência (veremos detalhadamente na próxima aula), a ela sendo vedada apenas a cobrança desse débito, afinal, a sua exigibilidade está suspensa. P ág in a8 Destaque-se que as reclamações e os recursos administrativos bem como o parcelamento somente podem ocorrer após o lançamento, por questão lógica, pois não há como impugnar lançamento que ainda não ocorreu nem parcelar crédito tributário não constituído. Enquanto vigente qualquer das hipóteses de suspensão do crédito tributário do art. 151 do CTN, não poderá haver negativação do sujeito passivo (CADIN, protesto ou negativação em banco de dados privado). Eventual negativação, por consequência, deve ser baixada. Outra consequência prática: o devedor, diante da suspensão da exigibilidade do crédito tributário, terá direito à expedição de certidão positiva de débito tributário com efeitos de negativa (é a certidão que, embora exista tributo em aberto, vale como negativa, isto é, tem o mesmo efeito de uma certidão negativa): CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o pedido. Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na repartição. Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que P ág in a9 tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa. A certidão positiva com efeitos de negativa, portanto, será expedida nas 3 situações previstas no art. 206 do CTN: créditos não vencidos, créditos cobrados em processo judicial em que tenha havido penhora e quando presente uma das causas de suspensão do crédito tributário do art. 151 do CTN. Antes de adentrarmos em cada hipótese específica de suspensão da exigibilidade, tenha bastante atenção para o parágrafo único, do art. 151, do CTN: o disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes. Já falamos desse dispositivo quando tratamos das imunidades. Lembra? Mesmo que a obrigação principal esteja com exigibilidade suspensa, por qualquer razão que seja, deve o contribuinte manter-se cumprindo suas obrigações acessórias, senão a Administração Tributária não terá subsídios para realizar a correta fiscalização, inclusive quanto ao enquadramento (ou quanto à manutenção do enquadramento) do contribuinte naquela causa suspensiva da exigibilidade. Moratória Moratória é causa de suspensão do crédito tributário por meio da qual há dilação de prazo para pagamento do tributo: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL P ág in a1 0 Art. 152. A moratória somente pode ser concedida: I - em caráter geral: a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a que se refira; b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência federal e às obrigações de direito privado; II - em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde que autorizada por lei nas condições do inciso anterior. Parágrafo único. A lei concessiva de moratória pode circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território da pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos. A moratória sempre depende de lei. A moratória é uma dilação LEGAL. Apenas LEI pode instituir moratória. A moratória, portanto, subordina-se à legalidade tributária. Qual é o tipo de lei? Depende do tributo. Se se tratar de tributo federal, será lei federal; se for tributo estadual, será lei estadual; se for tributo municipal, será lei municipal. Por exemplo, uma lei municipal pode dilatar o prazo para o pagamento do IPTU, do dia 01/04 para o dia 01/11, caso em que restará caracterizada uma moratória tributária, o que significa que, enquanto não expirado o prazo concedido pela moratória, não se poderá falar em inadimplemento tributário e, por conseguinte, não poderá ser exigido o crédito tributário. P ág in a1 1 Conforme parágrafo único, do art. 152, do CTN, a moratória pode ser concedida a apenas parte do território da pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos. Isso pode ocorrer, por exemplo, no caso de uma enchente em parte do território de um Estado, o que permitiria aos prejudicados ter maior lapso de tempo para se organizar e pagar o tributo devido. Um exemplo de moratória interessante, calcada nesse dispositivo, seria a União conceder moratória para os habitantes de Brumadinho, em relação aos tributos federais, em decorrência do trágico acidente recentemente lá ocorrido. ATENÇÃO! Essa discriminação pela região ou pelo aspecto subjetivo é possível desde que a distinção esteja a serviço de uma finalidade lícita, isto é, não odiosa, não discriminatória. Não pode a distinção, portanto, ofender a CF/88 no que tange aos princípios da isonomia e da igualdade tributária. A moratória, como visto no art. 152, pode ser concedida em caráter geral (moratória objetiva) ou individual (moratória subjetiva), sendo a primeira conferida a uma coletividade e a segunda individualmente para quem atender a determinadas condições. O próprio nome já nos induz a essa conclusão. Primeiramente, no inciso I, há a previsão das hipóteses de moratória em caráter geral, a qual se subdivide em: a) moratória autônoma – concedida pela própria pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a que se refira, sendo denominada autônoma justamente por ser conferida pelo ente competente para a instituição do tributo; e b) moratória heterônoma – concedida pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, Distrito Federal e Municípios, sendo denominada heterônoma por ser conferida por ente diverso do competente para a instituição do tributo.P ág in a1 2 A moratória heterônoma apenas pode ser concedida quando a União simultaneamente conceda moratória quanto: a) aos tributos de competência federal; b) às suas obrigações de direito privado. Nunca houve a moratória heterônoma, justamente porque a União teria também de conceder moratória para os tributos federais e às suas obrigações de direito privado. Assim, por exemplo, se a União quisesse conceder moratória em relação ao ICMS (tributo estadual), teria de também conceder a todos os tributos federais. ATENÇÃO! Essa hipótese é apontada, por muitos doutrinadores, como não recepcionada pela CF/88, por ofender a forma federativa de Estado (a qual consagra a autonomia dos entes federados, não se autorizando que um ente interfira nas questões dos demais entes). Por outro lado, há doutrinadores que entendem que essa hipótese foi plenamente recepcionada, pois ela daria substância aos princípios da solidariedade e da igualdade. Não há notícias de precedente do STF relativo a esse dispositivo. Assim, em provas objetivas, quando estiver claro que o examinador está cobrando a literalidade do dispositivo, deve-se considerá-la como correta. Por outro lado, no inciso II, do art. 152, do CTN, prevê-se a moratória em caráter individual, que é concedida por despacho da autoridade administrativa, desde que autorizada por lei. Uma leitura rápida do art. 152, II, do CTN, pode levar a uma errônea interpretação de que a moratória individual não depende de lei. Entretanto, a parte final do dispositivo deixa claro que se exige autorização prévia de lei para possibilitar a sua concessão por mero despacho da autoridade administrativa: [...] em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde que autorizada por lei nas condições do inciso anterior. O despacho administrativo terá apenas caráter declaratório de direito preexistente. Importante diferença entre as moratórias geral e individual é que a individual não gera direito adquirido e pode depender do oferecimento de garantias pelo beneficiário; ao contrário da geral, que gera direito adquirido e dispensa garantias. MORATÓRIA GERAL – GERA DIREITO ADQUIRIDO P ág in a1 3 Como afirmado, a moratória individual não gera direito adquirido, devendo, portanto, ser revogada de ofício sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora, bem como: a) com penalidade, nos casos de simulação ou dolo → nesse caso, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e a revogação não se computa para prescrição da ação de cobrança; e b) sem penalidade, nos demais casos → nesse caso, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito o direito. Portanto, se o sujeito passivo contribuiu para a ilegalidade, ele pagará o tributo acrescido de multa. Se o sujeito passivo não teve culpa na situação, a moratória será cassada, mas o pagamento do tributo não será acrescido de multa, mas apenas de juros e de correção. Se o sujeito passivo contribuiu para a ilegalidade, o período entre a concessão da moratória e sua revogação não será computado para fins de contagem do prazo prescricional. Porém, se o benefício da moratória tiver sido concedido por equívoco da Administração, sem contribuição do devedor, o período entre a concessão e a revogação da moratória será computado para fins de contagem do prazo prescricional (podendo o devedor ser beneficiado com o pronunciamento da prescrição do crédito tributário). Vejamos os dispositivos que disciplinam a moratória em caráter individual: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não gera direito adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor, P ág in a1 4 cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora: I – com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele; II – sem imposição de penalidade, nos demais casos. Parágrafo único. No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito o referido direito. Tenha atenção, pois, embora o CTN use o termo “revogação”, há uma atecnia legislativa, pois o certo seria anulação, tendo em vista que a concessão de moratória em caráter individual é um ato administrativo vinculado, não podendo ser revogado por força de oportunidade e conveniência. Destaca-se, ainda, que o art. 155 do CTN também se aplica aos outros benefícios fiscais que possam ser individualmente concedidos (remissão, isenção e anistia), bem como possui aplicação subsidiária ao parcelamento. Ainda, deve você saber que o art. 154 do CTN afirma que, salvo previsão legal em sentido contrário, a moratória apenas poderá ser concedida para crédito constituído ou em constituição, ou seja, com lançamento em curso. Além disso, o seu parágrafo único veda a concessão de moratória em casos de casos de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício daquele: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 154. Salvo disposição de lei em contrário, a moratória somente abrange os créditos definitivamente constituídos à data da lei ou do despacho que a conceder, ou cujo P ág in a1 5 lançamento já tenha sido iniciado àquela data por ato regularmente notificado ao sujeito passivo. Parágrafo único. A moratória não aproveita aos casos de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício daquele. Por fim, vamos entender o que é a moratória parcelada e diferenciá-la do parcelamento. O art. 153 do CTN especifica quais requisitos deve obedecer a lei concessiva ou autorizativa da moratória: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize sua concessão em caráter individual especificará, sem prejuízo de outros requisitos: I - o prazo de duração do favor; II - as condições da concessão do favor em caráter individual; III - sendo caso: a) os tributos a que se aplica; b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade administrativa, para cada caso de concessão em caráter individual; c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual. A alínea “b” do inciso III se refere à moratória parcelada. Durante muito tempo, o parcelamento era tido como a moratória parcelada, porém se trata de institutos P ág in a1 6 diversos. A moratória é medida excepcional, adotada apenas em situações específicas, enquanto o parcelamento é corriqueira medida de política fiscal, que visa a recuperar créditos e permitir a regularização da situação dos contribuintes. Na moratória parcelada, é possível o livramento de qualquer penalidade pecuniária e até mesmo os juros; no parcelamento, no entanto, salvo disposição de lei em contrário, não se exclui a incidência de juros e multas. MORATÓRIA PARCELAMENTO EXCEPCIONAL E PARA FATORES ECONÔMICOS E SOCIAIS COMUM E PARA INADIMPLENTES NÃO INCIDEM JUROS E MULTAS INCIDEM JUROS E MULTAS – SALVO DISPOSIÇÃO LEGAL EM CONTRÁRIO .................................................................................................................. Terminamos a moratória. É relativamente grande, mas pode ficar tranquilo(a), porque se trata do maior tópico da parte de suspensão da exigibilidade do crédito tributário e talvez o mais importante, pois tem dispositivos desta parte quese aplicam a outros institutos que estudaremos na aula de hoje, a exemplo do parcelamento. .................................................................................................................. Parcelamento O parcelamento é medida que possibilita a devedores inadimplentes terem condições de cumprir com as suas obrigações tributárias. Como o próprio nome já diz, poderá o devedor parcelar o seu débito, entretanto haverá a incidência de juros e multas, sendo esta uma das diferenças para a moratória. Todavia, serão aplicadas subsidiariamente ao parcelamento as disposições do CTN referentes à moratória. P ág in a1 7 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 155-A. (...) § 1º Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas. § 2º Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei, relativas à moratória. Conforme redação do art. 155-A do CTN, o “parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica”. Esta lei específica será do ente da federação com competência para instituir o tributo, o qual igualmente terá competência para conceder o parcelamento. Além disso, para os casos de parcelamento de créditos tributários de devedor em recuperação judicial, deverá existir lei específica sobre as suas condições de parcelamento. Inexistindo esta lei específica, serão aplicadas as leis gerais de parcelamento do ente da Federação do devedor em recuperação judicial, não podendo, contudo, neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica. Isso está expresso nos §§ 3º e 4º do art. 155-A: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 155-A. (...) § 3º Lei específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial. § 4º A inexistência da lei específica a que se refere o § 3º deste artigo importa na aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor em P ág in a1 8 recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica. Observa-se, pois, que cada ente terá duas leis específicas acerca do parcelamento: uma que trate genericamente e outra que trate especificamente sobre o parcelamento da empresa em recuperação judicial. Caso não seja editada a segunda lei por determinado ente, o devedor terá direito ao parcelamento segundo a lei geral, não podendo ser o prazo de parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica. O Superior Tribunal de Justiça recentemente reafirmou que os requisitos para o parcelamento devem ser fixados em lei específica e atos infralegais não poderão impor condições não previstas nesta lei: JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIO. PARCELAMENTO. LIMITE FINANCEIRO MÁXIMO. PORTARIA CONJUNTA PGFN/RFB N. 15/2009. ILEGALIDADE. 1. O art. 155-A do CTN dispõe que o parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica, enquanto o art. 153 do CTN, aplicado subsidiariamente ao parcelamento, estabelece que "a lei" especificará i) o prazo do benefício, ii) as condições da concessão do favor em caráter individual e iii) sendo o caso: a) os tributos a que se aplica; b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade administrativa, para cada caso de concessão em caráter individual e c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual. 2. A concessão do parcelamento deve estrita observância ao princípio da legalidade, não havendo autorização para que atos infralegais, como portarias, tratem de requisitos não previstos na lei de regência do benefício. (...) (REsp 1739641/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/06/2018, DJe 29/06/2018). P ág in a1 9 Também é entendimento do STJ o de que o parcelamento, ainda que acompanhado de confissão de dívida, não equivale ao pagamento do tributo, o que impediria o gozo dos benefícios da denúncia espontânea com base naquele (AgRg no Ag 1157062/SP AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 2009/0028328- 7). A denúncia espontânea exige o pagamento do tributo e dos juros de mora devidos ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa (neste caso, quando montante do tributo dependa de apuração). CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Fica gelo que veremos a respeito da denúncia espontânea em breve no nosso curso... Além disso, o mesmo STJ afirma que o parcelamento constitui reconhecimento inequívoco do débito e consequentemente interrompe o prazo prescricional para cobrança do crédito tributário, nos termos do art. 174, parágrafo único, IV, do CTN, ainda que o parcelamento não tenha sido efetivado. Todavia, não haverá a interrupção da prescrição em casos de parcelamento efetivado de ofício, conforme julgado a seguir ementado: JURISPRUDÊNCIA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. IPTU. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. DIA SEGUINTE AO VENCIMENTO DA EXAÇÃO. PARCELAMENTO DE OFÍCIO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA. NÃO CONFIGURAÇÃO DE CAUSA SUSPENSIVA DA CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO. P ág in a2 0 MORATÓRIA OU PARCELAMENTO APTO A SUSPENDER A EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NECESSÁRIA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DO CONTRIBUINTE. PARCELAMENTO DE OFÍCIO. MERO FAVOR FISCAL. APLICAÇÃO DO RITO DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015. ART. 256-I DO RISTJ. RECURSO ESPECIAL DO MUNICÍPIO DE BELÉM/PA A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (...) 2. O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o contribuinte não anuiu. 3. A liberalidade do Fisco em conceder ao contribuinte a opção de pagamento à vista (cota única) ou parcelado (10 cotas), independente de sua anuência prévia, não configura as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário previstas no art. 151, I e VI do CTN (moratória ou parcelamento), tampouco causa de interrupção da prescrição, a qual exige o reconhecimento da dívida por parte do contribuinte (art. 174, parág. único, IV do CTN). 4. O contribuinte não pode ser despido da autonomia de sua vontade, em decorrência de uma opção unilateral do Estado, que resolve lhe conceder a possibilidade de efetuar o pagamento em cotas parceladas. Se a Fazenda Pública Municipal entende que é mais conveniente oferecer opções parceladas para pagamento do IPTU, o faz dentro de sua política fiscal, por mera liberalidade, o que não induz a conclusão de que houve moratória ou parcelamento do crédito tributário, nos termos do art. 151, I e VI do CTN, apto a suspender o prazo prescricional para a cobrança de referido crédito. Necessária manifestação de vontade do contribuinte a fim de configurar moratória ou parcelamento apto a suspender a exigibilidade do crédito tributário. 5. Acórdão submetido ao regime do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015 (art. 256-I do RISTJ, incluído pela Emenda Regimental 24 de 28.9.2016), cadastrados sob o Tema 980/STJ, fixando-se a seguinte tese: (i) o termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU inicia-se no dia seguinte à data estipulada para o vencimento da exação; (ii) o parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da contagem da prescrição, uma vez que o contribuinte não anuiu. (REsp 1658517/PA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRASEÇÃO, julgado em 14/11/2018, DJe 21/11/2018) P ág in a2 1 O STJ também tem jurisprudência no sentido de que a confissão e o parcelamento de crédito tributário prescrito não vão reavivar sua exigibilidade. Isso porque a prescrição tributária é diferente da prescrição civil. A prescrição tributária é, segundo o CTN, hipótese de extinção do crédito tributário. (AgRg no ARESP 743252/MG, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe 17/03/2016). Discorreremos sobre prescrição em breve, ocasião em que trataremos novamente disso tudo, e de maneira mais aprofundada. Esses julgados, de todo modo, já adianto para você, serão cobrados nas próximas provas de procuradoria, especialmente da banca CESPE. Vocês lembrarão de mim no dia da prova! Vamos a mais um precedente do STJ. Lembre-se que as bancas estão cada vez mais exigentes e saber os principais precedentes dos Tribunais Superiores e seus fundamentos é essencial para uma preparação completa do candidato a cargos de grandes carreiras, como é o caso das Procuradorias! O STJ decidiu que o contribuinte pode optar pelo parcelamento de débitos considerados isoladamente, nos termos do art. 1º, § 2º, da Lei nº 11.941/2009 – ainda que relativos a uma mesma CDA – não sendo possível o parcelamento de uma fração de competência ou período de apuração. Este precedente é importante para quem almeja as carreiras da AGU, pois trata de lei referente a parcelamento de débitos tributários federais! JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. PARCELAMENTO DA LEI Nº 11.941/2009. ART. 1º, §2º. INCLUSÃO DE PERCENTUAL DE DÉBITO ISOLADO. IMPOSSIBILIDADE. RESPEITO AO PERÍODO DE APURAÇÃO OU COMPETÊNCIA DO TRIBUTO. 1. O parcelamento é instituto de interpretação literal, a impedir que o Fisco se exceda nas exigências a serem feitas aos contribuintes e, de outro lado, que estes não logrem êxito em deduzir pretensão não albergada pelos termos legais que abrem a possibilidade do acordo. Interpretação dos artigos 111, I, e 151, VI, do CTN. 2. P ág in a2 2 Referindo-se o art. 1º, §2º, da Lei 11.941/2009 às dívidas consideradas isoladamente deve-se compreender o termo como a expressão monetária referente a um tributo, de modo que a palavra dívida se refere à quantia em dinheiro devida em virtude da subsunção de um fato da vida (fato gerador) a uma previsão normativa abstrata (hipótese de incidência). 3. Dentro da concepção de tributo e de crédito tributário, bem como do respectivo aspecto temporal, a interpretação que deve ser dada à expressão dívidas consideradas isoladamente deve respeitar, no mínimo, uma competência ou período de apuração. 4. Pode o contribuinte escolher débitos isolados e os parcelar, ainda que digam respeito a uma mesma Certidão de Dívida Ativa, desde que respeitado o período de apuração do tributo. 5. No caso dos autos, o recorrente não pretende incluir em parcelamento débito isolado, mas 'percentual' ou 'fração' de um débito, o que não está previsto em lei. 6. Recurso especial não provido. (REsp 1382317/PR, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/11/2017, DJe 14/12/2017) Vamos entender bem esse julgado? O STJ, interpretando a lei de parcelamento da União, definiu que, havendo vários débitos agrupados numa certidão de Dívida Ativa só (veremos, mais à frente, que a CDA é um título executivo extrajudicial que materializa os créditos tributários a serem cobrados numa execução fiscal), o contribuinte não precisa parcelar todos os débitos para aderir a um parcelamento. Ele pode escolher apenas alguns deles para aderir ao parcelamento. Não pode, contudo, fracionar cada competência dentro daquele débito interior. Um exemplo vai te ajudar a entender. Imagine uma CDA com os seguintes débitos: DÉBITO VALOR COMPETÊNCIA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA R$ 1,257,58 01/2018 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA R$ 1,458,58 02/2018 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA R$ 1,701,58 03/2018 IMPOSTO DE RENDA R$ 5.421,52 06/2016 IMPOSTO DE RENDA R$ 4.589,21 06/2018 P ág in a2 3 Pode o contribuinte parcelar apenas parte desses débitos ou somente pode parcelar o débito total inteiro? O STJ disse que o contribuinte pode parcelar partes do débito, então, ele poderia somente parcelar, por exemplo, os débitos de contribuição previdenciária de 01/2018 e 03/2018 e de imposto de renda de 06/2016. Os demais, suponhamos, o contribuinte não reconhece como devidos e pretende discutir na justiça a legalidade da exação. Tudo parece bastante justo. O entendimento do STJ é perfeito. O que se disse no julgado acima foi além do exemplo dado, no entanto. O STJ disse que não pode o contribuinte, por exemplo, relativamente à contribuição previdência da competência 02/2018, parcelar apenas metade daquele valor e deixar a outra metade não parcelada. Ou ele parcela a competência inteira ou não poderá aderir ao parcelamento. A mim, isso também parece justo. Mas, e se o contribuinte entende que deve menos? Nesse caso, deve ele questionar a cobrança inteira, podendo fazer o depósito da parte que não se discute. Poderia ser diferente? Sim, poderia, sem problemas, mas essa não foi a opção do legislador federal. Captou? Massa, não é? Isso tem cheirinho de primeira fase! Reclamações e recursos no âmbito do processo administrativo fiscal A primeira manifestação de inconformismo do sujeito passivo contra lançamento efetuado pela administração tributária é denominada reclamação. Após a decisão de primeira instância, havendo previsão na lei do processo administrativo fiscal (federal, estadual ou municipal), poderá haver recurso contra a decisão. Em ambos os casos (reclamação ou recurso), haverá a suspensão da exigibilidade do crédito até o encerramento do processo administrativo. É importante destacar que o STJ entende que, mesmo nos casos em que os recursos forem intempestivos ou não forem cabíveis, a exigibilidade do crédito será suspensa. P ág in a2 4 JURISPRUDÊNCIA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 3/STJ. MARCO INICIAL DO CURSO DA PRESCRIÇÃO.MPUGNAÇÃO DE DÉBITO TRIBUTÁRIO NA VIA ADMINISTRATIVA. SUSPENSÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 151, III, E 174, DO CTN. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. "Nos termos da jurisprudência do STJ, a reclamação ou recurso administrativo, mesmo intempestivo, suspende a exigibilidade do crédito tributário e, por conseqüência o curso do prazo prescricional, enquanto perdurar o contencioso administrativo, nos termos do art. 151, III, do CTN". (EDcl no AgRg no REsp 1.401.122/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 17/12/2013, DJe 03/02/2014) 2. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 1082641/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe 13/06/2018) Contudo, não será suspensa a exigibilidade do crédito quando a reclamação ou o recurso não discutir o lançamento, mas sim o ato que excluiu o beneficiado do parcelamento, tal qual ocorreu no seguinte julgado do STJ: JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. PARCELAMENTO. ATO DE EXCLUSÃO. RECLAMAÇÃO ADMINISTRATIVA. AUSÊNCIA DE EFEITO SUSPENSIVO. INAPLICABILIDADE DO ART. 151, INCISO III, DO CTN. 1. A reclamação administrativa interposta contra ato de exclusão do contribuinte do parcelamento não é capaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário, sendo inaplicável o disposto no art. 151, inciso III, do CTN, pois as reclamações e recursos previstos no referido artigo são aqueles que discutem o próprio lançamento, ou seja, a exigibilidade do crédito tributário. 2. Hipótese em que a impugnação apresentada apenas questiona a legalidade do ato de exclusão do parcelamento. Logo, não é capaz de suspender a exigibilidade do crédito. (...) (REsp 1372368/PR, Rel. MinistroHUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/05/2015, DJe 11/05/2015) P ág in a2 5 Após a decisão final do processo administrativo, extinguir-se-á o crédito tributário, se decisão da impugnação for favorável ao sujeito passivo, ou voltará ele a ser exigível, se desfavorável for a decisão. CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR Impugnação/recurso em processo administrativo → suspende exigibilidade do crédito tributário. Ajuizamento de ação judicial ou impetração de mandado de segurança → proposição isoladamente não basta para a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, sendo necessária uma decisão judicial. Liminar em Mandado de Segurança ou tutela antecipada em outras ações judiciais Em decorrência das semelhanças, vamos tratar dessas duas hipóteses de suspensão da exigibilidade num mesmo tópico. A verdade é que o CTN poderia ter previsto apenas um dispositivo no sentido de que se suspende a exigibilidade do crédito tributário em razão de decisão judicia. Aliás, o CTN poderia até ter sido omisso quanto a isso, afinal, se o Judiciário determinar a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, a decisão teria de ser cumprida, com ou sem previsão na lei. Salutar, de todo modo, a previsão, para evitar qualquer tipo de questionamento. Para seus estudos, somente leve consigo: suspende a exigibilidade do crédito tributário qualquer decisão judicial em tutela de urgência e/ou que produza efeitos desde que proferida. Como se sabe, a medida liminar no mandado de segurança (MS) tem como requisitos essenciais: o perigo da demora (periculum in mora) e a fumaça do bom direito (fumus boni juris). Em matéria de direito tributário, muitos sujeitos passivos decidem entrar com MS alegando que a demora do provimento jurisdicional lhe seria muito prejudicial, na medida em que, por exemplo, estaria impossibilitado de participar de procedimentos licitatórios, negativa de crédito oficial etc. Ademais, P ág in a2 6 utiliza-se como fundamento jurídico a ilegalidade/irregularidade/inconstitucionalidade na cobrança que se tenta evitar. Desse modo, caso o juiz entenda estarem presentes os mencionados requisitos, deve ser concedida a liminar, por se tratar de direito do impetrante. Como afirma Ricardo Alexandre, não é necessário que haja crédito tributário constituído, nem mesmo se exige a presença de fato gerador, pois não se pode excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito (art. 5ª, XXXV, da CF)1. Ressalta-se que a concessão da liminar em MS, assim como a tutela antecipada nas demais ações, não pode proibir a autoridade fiscal de promover o lançamento, haja vista que se inverteria o perigo da demora. Isto porque poderia ser que no final do processo, mesmo que a sentença fosse favorável ao Fisco, o prazo decadencial já tivesse decorrido. O que é permitido é a proibição da promoção de atos de cobrança administrativa ou judicial. A tutela antecipada em ações judiciais não apresenta grande distinção em relação à liminar em mandado de segurança, tendo como requisitos para sua concessão: a probabilidade do direito (fumus boni juris) e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (periculum in mora) (art. 300 do CPC). Após a decisão final do processo judicial, seja ação ordinária ou mandado de segurança, extinguir-se-á o crédito tributário (se decisão judicial for favorável ao sujeito passivo) ou voltará a ser exigível (se desfavorável for a decisão), semelhantemente ao que ocorre ao fim do processo administrativo fiscal que decidiu sobre lançamento impugnado. O STJ analisou um caso interessante. Imagine que foi concedida liminar em mandado de segurança no Tribunal de Justiça. Entretanto, ao analisar o mérito em cognição exauriente, o Tribunal proferiu acórdão pela denegação da segurança e revogação da liminar concedida. Diante disso, o impetrante ingressou com recurso 1 ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário. 11.ed. Salvador: JusPodivm, 2017. P. 475. P ág in a2 7 especial, o qual não tem efeito suspensivo ope legis (automático), ou seja, a liminar perdeu os seus efeitos e houve um retorno à situação jurídica anterior ao processo judicial (status quo ante). Estará suspensa a exigibilidade do crédito tributário? O STJ decidiu que não! Ora, se a liminar que suspendia a exigibilidade do crédito tributário foi revogada e não houve recurso com efeito suspensivo que fizesse a liminar voltar a ter efeitos, o crédito tributário voltará a ser exigível, voltando, inclusive, a correr o prazo prescricional. JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO. LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA. DENEGAÇÃO DA ORDEM. RETOMADA DO PRAZO PRESCRICIONAL. DESNECESSIDADE DE AGUARDAR O TRÂNSITO EM JULGADO. 1. A divergência traçada nestes autos envolve a identificação do início da prescrição tributária para o Fisco após a revogação de liminar que anteriormente suspendeu a exigibilidade do crédito tributário, mesmo havendo a parte sucumbente interposto recurso especial e extraordinário desprovidos de eficácia suspensiva. 2. Para o acórdão embargado, "constituído o crédito tributário, mas suspensa a exigibilidade da exação por decisão liminar, não há falar em curso do prazo de prescrição, uma vez que o efeito desse provimento é justamente o de inibir a adoção de qualquer medida de cobrança por parte da Fazenda, de sorte que somente com o trânsito em julgado da decisão contrária ao contribuinte é que se retoma o curso do lapso prescricional". Os acórdãos paradigmáticos, por sua vez, firmaram compreensão de que, "revogada a liminar pela Corte de apelação e considerando o efeito meramente devolutivo dos recursos especial e extraordinário, nada impede que a Fazenda promova, desde a revogação da liminar, as medidas necessárias tendentes à cobrança dos créditos tributários cuja exigibilidade não mais se encontra suspensa, se não verificada outra causa de suspensão prevista no art. 151 do CTN" (AgRg no REsp 1.375.895/RN, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 20/8/2013). 3. A divergência, portanto, é evidente e deve ser resolvida adotando-se o entendimento firmado nos acórdãos paradigmas, tendo em vista que, afastados os P ág in a2 8 motivos que deram ensejo à suspensão da exigibilidade - no caso, o provimento de natureza liminar, que posteriormente foi revogado em julgamento pelo Tribunal de origem - e inexistente qualquer outra medida entre aquelas constantes do art. 151 do CTN ou a interposição de recurso extraordinário ou especial com efeito suspensivo, o prazo prescricional do Fisco para proceder à cobrança começa a correr novamente, sendo desnecessário aguardar o trânsito em julgado. 4. A concessão de liminar em mandado de segurança é causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, IV, do CTN). Conforme destacado em um dos acórdãos paradigmas, "diversamente do recurso administrativo que suspende a exigibilidade do crédito tributário enquanto persiste o contencioso administrativo (inciso III do artigo 151 do CTN), não é a mera existência de discussão judicial sobre o crédito tributário que suspende a sua exigibilidade, mas a existência de medida liminar, durante o tempo de sua duração, ou a concessão da ordem, a inibir a adoção de qualquer medida visando à satisfação do crédito por parte da Fazenda Nacional" (EREsp 449.679/RS, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Seção, DJe 1º/2/2011). 5. Na hipótese dos autos, considerando que a liminar que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário foi revogada definitivamente em 26/11/1998 e que os recursos especiais e extraordinários interpostos pela ora recorrente foram desprovidos de eficácia suspensiva, o reconhecimento do transcurso do prazo prescricional a que se refere o art. 174, caput, doCTN, é medida que se impõe, já que a execução fiscal foi ajuizada somente em 4/11/2009, ou seja, após o transcurso do prazo de 5 anos. (...) (EAREsp 407.940/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/05/2017, DJe 29/05/2017). Recentemente o Superior Tribunal de Justiça decidiu que, quando há decisão judicial suspendendo a exigibilidade do crédito tributário, o retorno da exigibilidade pode ocorrer depois de anulado ou reformado o aludido decisum/acórdão. O Fisco, então, estará autorizado a proceder à cobrança do crédito tributário referente ao direito então controvertido, iniciando-se a contagem da prescrição para o ajuizamento da execução fiscal do trânsito em julgado desse novo provimento judicial. A exigibilidade, para o STJ, reinicia do trânsito em julgado da decisão que anula o julgado P ág in a2 9 que suspendeu a exigibilidade. E, a partir desta data, retoma-se o prazo prescricional. (AREsp 1280342/RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/10/2019, DJe 11/11/2019). Depósito do montante integral O depósito do montante integral vai ocorrer geralmente em casos nos quais haja um litígio ou sua iminência. Nas hipóteses em que o sujeito passivo não concorda com a cobrança do tributo, ele poderá impugnar administrativa ou judicialmente. Caso escolha a opção da impugnação judicial, um meio pelo qual o contribuinte poderá suspender a exigibilidade do crédito tributário é através do depósito do montante integral – além da tutela antecipada, já abordada mais acima. Mesmo nos casos em que a exigibilidade já esteja suspensa, seja por tutela antecipada em ação judicial, seja por impugnação administrativa, pode o sujeito passivo depositar o montante, a fim de evitar eventual cobrança de juros de mora em caso de decisão favorável à Fazenda Pública. Porém, como se infere da própria interpretação literal do art. 151, II, do CTN, apenas o depósito integral irá suspender a exigibilidade. A fim de dirimir quaisquer dúvidas, o STJ sumulou tal entendimento e ainda acrescentou a necessidade de depósito ser em dinheiro: SÚMULA Nº 112 DO STJ O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro. Ressalta-se que a fiança, o seguro garantia e a penhora de bens diversos do dinheiro não configuram hipóteses de suspensão, pois não são depósitos em dinheiro. Além disso, o valor a ser depositado será aquele exigido pela Fazenda Pública, P ág in a3 0 incluídos juros e multas devidos, ainda que o sujeito passivo discorde do valor cobrado. Sobre isso, tem-se uma ressalva importantíssima e que muda bastante as regras do jogo na cobrança da dívida não tributária. Preste atenção! Agora, não falo mais em Direito Tributário. Falo em Execução Fiscal. Adiantando rapidamente um pouco do que veremos mais à frente: a execução fiscal é um processo de execução de título executivo extrajudicial (certidão de Dívida Ativa), que se submete à Lei nº 6.830/80, por meio do qual se pode cobrar tanto dívidas tributárias quanto não tributárias inscritas em Dívida Ativa. A ressalva que vem a seguir, portanto, refere-se apenas a dívidas não tributárias. O Superior Tribunal de Justiça decidiu que o entendimento contemplado no Enunciado Sumular 112 do STJ, segundo o qual o depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro, que se reproduziu no julgamento do Recurso Representativo da Controvérsia, nos autos do REsp. 1.156.668/DF, não se estende aos créditos não tributários originários de multa administrativa imposta no exercício do Poder de Polícia. Por isso, é cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária e do seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento, nos moldes previstos no art. 151, inciso II, do CTN, c/c o art. 835, § 2º, do Código Fux, e o art. 9º, § 3º, da Lei 6.830/1980, uma vez que não há dúvida quanto à liquidez de tais modalidades de garantia, permitindo, desse modo, a produção dos mesmos efeitos jurídicos do dinheiro (REsp 1.381.254/PR, Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 28/6/2019). O entendimento já foi reiterado pelo STJ em 2020: JURISPRUDÊNCIA ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. MULTA ADMINISTRATIVA. AÇÃO ANULATÓRIA. APRESENTAÇÃO DE SEGURO- P ág in a3 1 GARANTIA. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA CONCEDIDA PELO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU PARA SUSPENDER OS EFEITOS DA NOTIFICAÇÃO DE APLICAÇÃO DE PENALIDADE. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO NÃO TRIBUTÁRIO. POSSIBILIDADE. 1. De acordo com recente julgado desta Primeira Turma, "o entendimento contemplado no Enunciado Sumular 112 do STJ, segundo o qual o depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro, que se reproduziu no julgamento do Recurso Representativo da Controvérsia, nos autos do REsp. 1.156.668/DF, não se estende aos créditos não tributários originários de multa administrativa imposta no exercício do Poder de Polícia" (REsp 1.381.254/PR, Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 28/6/2019). 2. Na mesma ocasião, o Colegiado asseverou ser "cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária e do seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento, nos moldes previstos no art. 151, inciso II, do CTN, c/c o art. 835, § 2º, do Código Fux, e o art. 9º, § 3º, da Lei 6.830/1980, uma vez que não há dúvida quanto à liquidez de tais modalidades de garantia, permitindo, desse modo, a produção dos mesmos efeitos jurídicos do dinheiro". 3. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp 1612784/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/02/2020, DJe 18/02/2020) Voltemos ao Direito Tributário. O STJ entende que o depósito integral, a fim de suspender a exigibilidade do crédito tributário, é direito subjetivo do contribuinte (STJ, RESP 24927/RN e RESP 324012/RS). Desse modo, nem mesmo o juiz pode obstar o depósito do montante integral. Esse depósito ficará lá para sempre? É claro que não! Ao final do processo judicial ou administrativo, caso o depositante seja vitorioso, impõe-se o levantamento do que foi depositado, mesmo que o vencedor possua outros créditos tributários em aberto perante o mesmo sujeito ativo, conforme entendimento do STJ (STJ, 1.ª T., REsp 297.115/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 03.04.2001, DJ P ág in a3 2 04.06.2001, p. 72). Por outro lado, caso haja razão ao sujeito ativo, o crédito será extinto pela conversão do depósito em renda, hipótese esta de extinção do crédito tributário, que será vista mais adiante. E quando se extinguir o processo sem resolução de mérito? Nesses casos, o STJ entende que o depósito deve ser convertido em renda também, haja vista que a única hipótese capaz de ensejar o levantamento do depósito seria a decisão transitada em julgado em favor do sujeito passivo (EREsp 215.589-RJ, Rel. Min. José Delgado, julgado em 12.09.2007). Como já dito no início da aula de hoje, as hipóteses de suspensão da exigibilidade não ocorrem apenas após o lançamento ter ocorrido. Nos casos de lançamento por homologação, em que houver sido realizado o depósito do montante integral pelo contribuinte, incumbe à Fazenda Pública manifestar-se acerca da sua concordância ou discordância com o valor depositado. Concordando (expressa ou tacitamente), reputa-se efetuado tacitamente o lançamento, evitando-se, em tal caso, portanto, a decadência do direito (EREsp 767.328-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 11.04.2007). JURISPRUDÊNCIA PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. COFINS. MANDADO DE SEGURANÇA. LEI9.718/98. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO PELO STF. TRÂNSITO EM JULGADO. DEPÓSITO EFETUADO NOS TERMOS DO ART. 151, II, DO CTN. LEVANTAMENTO. ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, CPC. SÚMULA 98/STJ. EXCLUSÃO DE MULTA. 1. Os depósitos efetuados pelo contribuinte por ocasião do questionamento judicial do tributo suspendem a exigibilidade do mesmo, enquanto perdurar a contenda, ex vi do art. 151, II, do CTN e, por força do seu desígnio, implica lançamento tácito do montante exato do quantum depositado, conjurando eventual alegação de decadência do direito de constituir o crédito tributário. Precedentes: AgRg no Ag 1163962/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 06/10/2009, DJe 15/10/2009; AgRg nos EREsp 1037202/PR, Rel. Ministro Herman P ág in a3 3 Benjamin, Primeira Seção, julgado em 27/05/2009, DJe 21/08/2009; REsp 1037202/PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 09/09/2008, DJe 24/09/2008; REsp 757.311/SC, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 13/05/2008, DJe 18/06/2008. 2. "O depósito do montante integral do crédito tributário, na forma do art. 151, II, do CTN, é faculdade de que dispõe o contribuinte para suspender sua exigibilidade. Uma vez realizado, porém, o depósito passa a cumprir também a função de garantia do pagamento do tributo questionado, permanecendo indisponível até o trânsito em julgado da sentença e tendo seu destino estritamente vinculado ao resultado daquela demanda em cujos autos se efetivou" (REsp nº 252.432/SP, Rel. para o acórdão Min. Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, j. 02.06.2005, DJ 28.11.2005). Outros precedentes: AgRg no REsp 921.123/RJ, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 23/4/2009, DJe de 3/6/2009; EDcl no REsp 225.357/RJ, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 16/3/2006, DJ de 28/4/2006. 3. O destino do depósito efetuado nos moldes do art. 151, II, do CTN, para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, sempre dependerá do resultado da demanda a que estiver vinculado, dada a sua natureza de garantia da dívida em discussão, conforme estabelece o art. 1º, § 3º, II, da Lei nº 9.703/98. Permitir o levantamento do depósito judicial sem a anuência do Fisco significa esvaziar o conteúdo da garantia prestada pelo contribuinte em detrimento da Fazenda Pública. Precedentes: REsp 476.567/DF, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 06/12/2004; AgRg no REsp 921.123/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 03/06/2009; REsp 252.432/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 28/11/2005). (...) (REsp 1157786/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe 28/10/2010) Na mesma toada, destaca-se, ainda, precedente do STJ, no qual se afirmou não ser o depósito do montante integral suficiente para se beneficiar da utilização do instituto da denúncia espontânea. Como o assunto “denúncia espontânea” é um dos queridinhos das bancas examinadoras, é bom ter atenção com o precedente: P ág in a3 4 JURISPRUDÊNCIA TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. DEPÓSITO JUDICIAL. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. ART. 138 DO CTN. NÃO OCORRÊNCIA. ATUAL ENTENDIMENTO DE AMBAS AS TURMAS DE DIREITO PÚBLICO DO STJ. ENFOQUE ECONÔMICO DO INSTITUTO. NECESSIDADE DE EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE TROCA ENTRE CUSTO DE OPORTUNIDADE E CUSTO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA CONHECIDOS E NÃO PROVIDOS. 1. Discute-se nos autos a ocorrência ou não de denúncia espontânea em caso de depósito judicial dos valores do tributo devido antes da instauração de procedimento fiscal pelo Fisco. O Embargante alega dissídio interpretativo com julgado proferido pela Segunda Turma desta Corte nos autos do REsp nº 196.037/PE de relatoria do Min. Francisco Peçanha Martins, caso em que se reconheceu a ocorrência de denúncia espontânea, nos termos do art. 138 do CTN, na hipótese do depósito judicial do tributo e seus consectários antes de procedimento de fiscalização realizado pelo Fisco. 2. O acórdão embargado entendeu que a ocorrência da denúncia espontânea pressupõe a consolidação definitiva da relação jurídica tributária mediante confissão do contribuinte e imediato pagamento de sua dívida fiscal, o que não ocorre por depósito judicial, pois, por meio dele subsiste a controvérsia sobre a obrigação tributária, retirando, dessa forma, o efeito desejado pela norma de mitigar as discussões administrativas ou judiciais a esse respeito. 3. Em recente julgado da Segunda Turma desta Corte, nos autos do REsp nº 1.340.174/PR, de minha relatoria, DJe 28.9.2015, foi negado provimento recurso especial onde se pretendia o reconhecimento de denúncia espontânea em caso de depósito judicial dos valores do tributo e respectivos juros, ocasião em que foi explicitado, nas razões de decidir, o precedente da Primeira Turma desta Corte nos autos do REsp nº 1.131.090/RJ, DJe 19.9.2013, objeto dos presentes embargos de divergência. 4. O instituto da denúncia espontânea, mais que um benefício direcionado ao contribuinte que dele se favorece ao ter excluída a responsabilidade pela multa, está direcionado à Administração Tributária que deve ser preservada de incorrer nos P ág in a3 5 custos administrativos relativos à fiscalização, constituição, administração e cobrança do crédito. Para sua ocorrência deve haver uma relação de troca entre o custo de conformidade (custo suportado pelo contribuinte para se adequar ao comportamento exigido pelo Fisco) e o custo administrativo (custo no qual incorre a máquina estatal para as atividades acima elencadas) balanceado pela regra prevista no art. 138 do CTN. 5. O depósito judicial integral do tributo devido e respectivos juros de mora, a despeito de suspender a exigibilidade do crédito, na forma do art. 151, II, do CTN, não implicou relação de troca entre custo de conformidade e custo administrativo a atrair caracterização da denúncia espontânea prevista no art. 138 do CTN, sobretudo porque, constituído o crédito pelo depósito, nos termos da jurisprudência desta Corte (EREsp 464.343/DF, Rel. Min. José Delgado, DJ de 29.10.2007; EREsp 898.992/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 27.8.2007; EREsp. n. 671.773-RJ, Primeira Seção, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23.6.2010), pressupõe-se a inexistência de custo administrativo para o Fisco já eliminado de antemão, a exemplo da entrega da declaração constitutiva de crédito tributário. 6. Por outro lado, além de não haver relação de troca entre custo de conformidade e custo administrativo a atrair caracterização da denúncia espontânea na hipótese, houve a criação de um novo custo administrativo para a Administração Tributária em razão da necessidade de ir a juízo para discutir, nos autos do mandado de segurança impetrado pelo contribuinte, o crédito tributário cuja exigibilidade se encontra suspensa pelo depósito, ao contrário do que ocorre, v. g., em casos ordinários de constituição de crédito realizado pelo contribuinte pela entrega da declaração acompanhada do pagamento integral do tributo. 7. Embargos de divergência conhecidos e não providos. (EREsp 1131090/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe 10/02/2016) P ág in a3 6 ATENÇÃO! É correto dizer que, em toda ação tributária na qual o contribuinte queira discutir o débito tributário, será necessário realizar o depósito integral e em dinheiro? Veja o que dispõe o art. 38 da Lei nº 6.830/80: LEI Nº 6.830/80 Art. 38. A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta lei, salvo as hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida do depósito preparatóriodo valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos. Para ajuizar uma ação declaratória, será sempre necessário efetuar o depósito preparatório? É esse depósito uma condição da ação? Ou isso contraria o art. 5º, XXXV, da CF/88, que prevê o direito fundamental de amplo acesso à justiça? Ou a exigência desse depósito restringe esse direito fundamental de amplo acesso à justiça? Durante muito tempo isso foi discutido, mas essa questão, hoje, já está pacificada: o art. 38 da LEF merece uma nova interpretação à luz da CF/88. A ação tributária pode ser ajuizada independentemente do depósito do montante devido. Porém, sem o depósito, a exigibilidade do crédito tributário não será suspensa, sendo possível que a Fazenda proponha a respectiva ação de execução fiscal. Já com o depósito, o crédito tributário restará suspenso, não sendo possível o ajuizamento da execução fiscal antes da solução da ação tributária em que houve o depósito. Mais: se a ação de execução fiscal já tiver sido proposta e o executado tiver perdido o prazo para embargar, ele poderá ajuizar a ação anulatória e, se efetuar o depósito do montante integral, o crédito tributário e o feito executivo ficarão suspensos. P ág in a3 7 Nesse sentido, a Súmula Vinculante nº 28: SÚMULA VINCULANTE Nº 28 É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário. Nessa mesma linha, mas se relacionando também aos recursos administrativos, veja outra súmula vinculante do STF: SÚMULA VINCULANTE Nº 21 É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. O recurso administrativo, portanto, é incondicionado, inclusive como forma de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do art. 151, III, do CTN. EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência; VI - a conversão de depósito em renda; P ág in a3 8 VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Esse rol de hipóteses é taxativo ou exemplificativo? O mesmo fundamento utilizado para se defender a taxatividade da lista de causas de suspensão também serve para se afirmar a exaustividade das causas de extinção do crédito tributário do art. 156 do CTN. E qual é esse argumento mesmo? O art. 141 do CTN expressamente afirma que: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 141. O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias. Pela leitura de tal artigo, observa-se a opção legal pelo caráter taxativo do rol disposto no art. 156 do CTN. P ág in a3 9 Todavia, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, é possível lei local instituir novas formas de extinção do crédito tributário, o que iria de encontro ao entendimento de ser o rol do art. 156 taxativo (STF, Tribunal Pleno, ADI 2405- MC/RS, Rel. Min. Carlos Britto, j. 06.11.2002, DJ 17.02.2006, p. 54). Os fundamentos adotados pelo Supremo foram os seguintes: 1) pacto federativo: o ente federado tem o direito de receber algo do seu interesse para quitar um crédito de que é titular; 2) “quem pode o mais, pode o menos”: se o ente pode até perdoar o que lhe é devido (o mais), não é razoável que não possa autorizar a extinção do crédito tributário por uma forma não prevista no CTN (o menos). Destaco, antes de adentrar na análise das modalidades de extinção do crédito tributário, que o STF, em julgamento posterior ao de cima, declarou inconstitucional lei local que permita a dação em pagamento por bens móveis como causa de extinção. Entretanto, os fundamentos adotados pelo STF em tal julgado foram: a) violação ao princípio constitucional da obrigatoriedade de licitação, o qual apenas pode ser excepcionado por lei federal; b) apenas lei complementar nacional pode definir hipóteses de extinção do crédito tributário (ADI 1.917, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 26-4-2007, P, DJ de 24-8-2007). Finalmente, há mais um precedente digno de nota, que é o da ADI 124 do STF. Nesse caso, o problema foi o seguinte: o Estado de Santa Catarina instituiu uma forma de extinção do crédito tributário referente à demora no procedimento administrativo tributário. Se o sujeito passivo se defendesse na via administrativa, e esse processo administrativo fiscal demorasse para ser concluído, ocorreria a extinção do crédito tributário. O STF julgou inconstitucional essa lei do Estado de SC: JURISPRUDÊNCIA Extinção do crédito tributário por lei estadual ante decurso do prazo para P ág in a4 0 apreciação de defesa administrativa: nova forma de tratamento da decadência – inconstitucionalidade da norma regional: “Norma do Estado de Santa Catarina que estabelece hipótese de extinção do crédito tributário por transcurso de prazo para apreciação de recurso administrativo fiscal. (...) A determinação do arquivamento de processo administrativo tributário por decurso de prazo, sem a possibilidade de revisão do lançamento equivale à extinção do crédito tributário cuja validade está em discussão no campo administrativo. Em matéria tributária, a extinção do crédito tributário ou do direito de constituir o crédito tributário por decurso de prazo, combinado a qualquer outro critério, corresponde à decadência. Nos termos do Código Tributário Nacional (Lei 5.172/1966), a decadência do direito do Fisco ao crédito tributário, contudo, está vinculada ao lançamento extemporâneo (constituição), e não, propriamente, ao decurso de prazo e à inércia da autoridade fiscal na revisão do lançamento originário. Extingue-se um crédito que resultou de lançamento indevido, por ter sido realizado fora do prazo, e que goza de presunção de validade até a aplicação dessa regra específica de decadência. O lançamento tributário não pode durar indefinidamente, sob risco de violação da segurança jurídica, mas a Constituição de 1988 reserva à lei complementar federal aptidão para dispor sobre decadência em matéria tributária. Viola o art. 146, III, b, da CF, norma que estabelece hipótese de decadência do crédito tributário não prevista em lei.” (STF, ADI 124, Rel. Min. complementar federal Joaquim Barbosa, julgamento em 1º-8-2008, Plenário, DJE de 17-4-2009) Nesse caso, o STF entendeu que se trataria de uma nova forma de tratamento da decadência tributária, matéria reservada a lei complementar federal nacional. Vamos, então, analisar as hipóteses de extinção do crédito tributário? Pagamento P ág in a4 1 O pagamento é a forma ordinária de extinção do crédito tributário. Em regra, será realizado por moeda corrente, cheque ou vale postal; e, nos casos estabelecidos em lei, por estampilha, papel selado ou processo mecânico, conforme art. 162 do CTN: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 162. O pagamento é efetuado: I - em moeda corrente, cheque ou vale postal; II - nos casos previstos em lei, em estampilha, em papel selado, ou por processo mecânico. Noteque o cheque e o vale postal apresentam a mesma possibilidade de serem utilizados como forma de pagamento que a moeda corrente. Contudo, nos casos de pagamento por meio de cheque, a extinção do crédito tributário não ocorrerá com entrega deste, mas apenas com seu resgate pelo sacado (compensação bancária), enquanto o crédito pagável em estampilha será considerado extinto com sua inutilização regular, consoante §§ do art. 162 do CTN: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 162. (...) § 2º O crédito pago por cheque somente se considera extinto com o resgate deste pelo sacado. § 3º O crédito pagável em estampilha considera-se extinto com a inutilização regular daquela, ressalvado o disposto no artigo 150. São formas tão arcaicas de pagamento que, se o examinador cobrar isso, ele é o cara mais chato do mundo. Não vamos dar sorte ao azar, no entanto, então a leitura dos dispositivos é obrigatória. P ág in a4 2 A imposição de penalidade não elide o pagamento integral do crédito tributário, ou seja, não é porque o contribuinte incorreu em penalidade que seu pagamento será desconsiderado, conforme art. 157 do CTN. CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 157. A imposição de penalidade não ilide o pagamento integral do crédito tributário. Outro ponto importante é que, diferentemente do Direito Civil (ramo do Direito Privado), não existe presunção de pagamento no Direito Tributário (ramo do Direito Público), haja vista disposição do art. 158 do CTN: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 158. O pagamento de um crédito não importa em presunção de pagamento: I - quando parcial, das prestações em que se decomponha; II - quando total, de outros créditos referentes ao mesmo ou a outros tributos. Em decorrência dessa ausência de presunção, haverá obrigação do contribuinte de guardar os comprovantes de pagamento de todas as prestações ou quotas até a prescrição dos respectivos créditos. Por exemplo, quando o sujeito passivo quita o IPVA e paga o licenciamento, ele recebe o CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo). Ao receber o CRLV, poder-se-ia sustentar que se presumiriam pagos os débitos relativos ao automóvel. No entanto, com espeque no art. 158 do CTN, o STJ já decidiu que o CRLV não serve para comprovar/fazer presumir o pagamento, por exemplo, do IPVA de anos anteriores. P ág in a4 3 Superado isto, o local para o pagamento do tributo, se a lei nada dispuser, será a repartição competente do domicílio do sujeito passivo. Desse modo, caso seja a legislação omissa, a obrigação tributária é portável, isto é, o devedor é quem deve procurar o credor para pagar. Quanto ao prazo para pagamento dos tributos, em regra, será fixado pelo ente instituidor do tributo. E quando este não fixar? Neste caso, o CTN já traz a solução: será de 30 dias, a contar da notificação do lançamento ao sujeito passivo, nos termos do art. 160 do CTN: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 160. Quando a legislação tributária não fixar o tempo do pagamento, o vencimento do crédito ocorre trinta dias depois da data em que se considera o sujeito passivo notificado do lançamento. Parágrafo único. A legislação tributária pode conceder desconto pela antecipação do pagamento, nas condições que estabeleça. Todavia, esse prazo de 30 dias não se aplica aos casos do lançamento por homologação, pois neste o contribuinte deve antecipar pagamento e, portanto, não há notificação de lançamento. Assim, para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, a legislação vai definir prazo para seu pagamento. O parágrafo único, do art. 160, do CTN, deixa claro que os descontos no âmbito tributário não se submetem ao princípio da legalidade tributária, podendo ser tratados pela legislação tributária (a qual, nos termos do art. 96 do CTN, abrange lei, tratados e convenções internacionais, decretos e normas complementares de direito tributário). Portanto, não há necessidade de um desconto estar disciplinado em lei, podendo estar disciplinado, por exemplo, em um decreto. P ág in a4 4 Efeitos da mora no pagamento E se passa o prazo do vencimento do crédito tributário sem haver pagamento? Incorrerá o sujeito passivo inadimplente em mora, a qual corre automaticamente a partir da data do vencimento. Assim dispõe o art. 161 do CTN: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. Desse modo, a mora vai trazer como consequências negativas para o inadimplente os juros de mora e a multa moratória. E como serão calculados os juros de mora? O CTN responde logo no § 1º do art. 161: CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 161. (...) § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. Atualmente, no âmbito federal, a correção monetária e os juros de mora estão reunidos em único índice: a SELIC. Tal previsão é justa porque, até mesmo na restituição de valor pago a maior ou inteiramente indevido, a correção monetária e os juros estão reunidos na SELIC. Nesse contexto, há ampla liberdade para que os entes P ág in a4 5 estaduais e municipais escolham a taxa SELIC ou não, conforme previsão da Súmula 523 do STJ: SÚMULA Nº 523 DO STJ A taxa de juros de mora incidente na repetição de indébito de tributos estaduais deve corresponder à utilizada para cobrança do tributo pago em atraso, sendo legítima a incidência da taxa Selic, em ambas as hipóteses, quando prevista na legislação local, vedada sua cumulação com quaisquer outros índices. Ainda, é importante você saber que a consulta tributária impede o contribuinte de incorrer em mora. E o que é a consulta tributária? Ela consiste em processo administrativo instaurado a partir de iniciativa do contribuinte, com a finalidade de sanar dúvidas relativas à legislação tributária, a exemplo da interpretação de determinado dispositivo legal. Caso o contribuinte formule a consulta dentro do prazo legal para pagamento do tributo, enquanto pendente a consulta, não haverá a fluência de juros nem aplicação da penalidade. Contudo, apesar de não correr juros de mora, não se trata de caso de suspensão do crédito tributário, pois a exigibilidade não fica suspensa. Imputação em pagamento A imputação em pagamento ocorre quando o mesmo sujeito passivo possui perante o mesmo sujeito ativo mais de um débito e oferece montante insuficiente para a quitação de tudo. Nesse caso, o CTN optou por atribuir à autoridade administrativa estabelecer quais débitos seriam quitados em primeiro lugar, conforme rígida disciplina legal: P ág in a4 6 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Art. 163 CTN. Existindo simultaneamente 2 ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito passivo para com a mesma PJ de direito público, relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes de penalidade pecuniária ou juros de mora, a autoridade administrativa competente para receber o pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas as seguintes regras, na ordem em que enumeradas: I – em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade tributária; II – primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e por fim aos impostos; III – na ordem crescente dos prazos de prescrição; IV – na ordem decrescente dos montantes. Sempre se dá preferência à proximidade do débito em relação ao sujeito passivo e também ao resguardo dos prazos de extinção dos débitos, além da preservação dos débitos de maiores valores. Por isso é que o primeiro critério dá prevalência aos débitos de obrigação própria,
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