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TCC GUILHERME

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS 
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO, ARTES E LETRAS 
BACHARELADO EM ARTES CÊNICAS 
 
 
 
 
GUILHERME MENDES PIMENTA 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DA DIREÇÃO TEATRAL NA PEÇA AS SETE 
MARAVILHAS BASEADA NA METODOLOGIA DE AUGUSTO 
BOAL NO TEATRO DO OPRIMIDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dourados 
2018
GUILHERME MENDES PIMENTA 
 
 
 
 
ANÁLISE DA DIREÇÃO TEATRAL NA PEÇA AS SETE 
MARAVILHAS BASEADA NA METODOLOGIA DE AUGUSTO 
BOAL NO TEATRO DO OPRIMIDO 
 
 
 
 
 
Trabalho acadêmico teórico / Trabalho de 
conclusão de curso para a obtenção do título de 
Bacharel em Artes Cênicas. 
Universidade Federal da Grande Dourados – 
UFGD 
Faculdade de comunicação, artes e letras - 
FACALE 
Orientador Teórico e Artístico: Profº.Esp.José 
Manoel de Souza Júnior 
 
 
 
 
Dourados 
2018 
 
GUILHERME MENDES PIMENTA 
 
 
 
ANÁLISE DA DIREÇÃO TEATRAL NA PEÇA AS SETE 
MARAVILHAS BASEADA NA METODOLOGIA DE AUGUSTO 
BOAL NO TEATRO DO OPRIMIDO 
 
 
 
Artigo apresentado publicamente 07/12/2018 para Banca Examinadora constituída pelos 
seguintes professores: 
 
_________________________________________________ 
Orientador: Profº.Esp.José Manoel de Souza Júnior 
 
_________________________________________________ 
Prof.ª Ma. Ariane Guerra Barros 
 
_________________________________________________ 
Prof.ª Ma. Camile Cecília dos Anjos 
 
Dourados 
2018 
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar, agradeço a Deus por tudo, pois sem minha fé tenho certeza que jamais 
teria forças para conquistar algo em minha vida. 
À minha família, em especial aos meus pais, Donizeti e Nereide, que sempre me apoiaram em 
todas as minhas decisões, principalmente quando vim para Dourados – MS realizar o meu 
sonho em estudar Artes Cênicas, e mesmo de longe, ainda acompanham os passos de minha 
trajetória. 
À Sétima Turma de Artes Cênicas da Universidade Federal da Grande Dourados, a qual 
suportou todos os meus dramas, angústias e anseios. 
A todos os professores, que de uma forma ou outra, me ensinaram muitas coisas e me 
proporcionaram momentos inesquecíveis dentro da academia ou até mesmo fora dela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente artigo busca pontuar e analisar algumas características da função de direção teatral 
baseada na metodologia desenvolvida por Augusto Pinto Boal (1931 - 2009) dentro da 
temática do teatro do oprimido, com o objetivo de despertar inquietações e sentimentos 
diversos nos atores e “espectatores” por meio de temáticas sociais, voltadas principalmente à 
hipocrisia. A pesquisa foi desenvolvida durante todo o processo de criação do espetáculo As 
sete maravilhas. Considerando as experiências do grupo, procuro buscar referências em 
diversas teorias, entre elas, faz-se presente inúmeros artigos, livros e teorias relacionadas à 
Boal e alguns métodos de direção de outros encenadores. 
Palavras-chave: Direção teatral; Augusto Boal; Temáticas sociais; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present article aims to punctuate and analyze some characteristics of the theatrical 
direction function based on the methodology developed by Augusto Pinto Boal (1931 - 2009) 
within the thematic of the theater of the oppressed, with the objective of arousing diverse 
feelings and feelings in the actors and " spectators "through social themes, focused mainly on 
hypocrisy. The research was developed throughout the process of creating the show The seven 
wonders. Considering the experiences of the group, I try to search for references in several 
theories, among them, there are numerous articles, books and theories related to Boal and 
some methods of directing other directors. 
 
Keywords: Theatrical direction; Augusto Boal; Social issues; 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 9 
CAPÍTULO 1 - AUGUSTO BOAL E O TEATRO DO OPRIMIDO..................................... 11 
CAPÍTULO 2 - OS PROCESSOS DE DIREÇÃO.................................................................. 13 
 2.1 - SOBRE “AS SETE MARAVILHAS” ....................................................... 13 
 2.2 - A SALA DE ENSAIOS.............................................................................. 14 
CAPÍTULO 3 – REVERBERAÇÕES .................................................................................... 19 
 3.1 – ATORES................................................................................................... 19 
 3.2 – PÚBLICO.................................................................................................. 20 
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 27 
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 29 
ANEXOS................................................................................................................................. 30 
 
 
LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS 
FIGURA 1 - Jogo da Fotografia ............................................................................................ .15 
FIGURA 2 - Jogo da Fotografia.............................................................................................. 15 
FIGURA 3 - Hipnose............................................................................................................... 16 
GRAFICO 1 - Opinião dos espectadores................................................................................... 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
INTRODUÇÃO 
 
As inúmeras experiências que foram vivenciadas dentro e fora do Curso de Artes 
Cênicas da Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD contribuíram para o aumento 
significante do meu capital intelectual, fazendo dessa forma com que o meu campo de 
pesquisa dentro da área das Artes Cênicas também se tornasse mais vasto. Com isso, surge 
uma vontade enorme de pesquisar as diversas áreas técnicas dentro de um espetáculo, atrelada 
a um interesse em pesquisar a direção teatral, que de certa forma, se faz presente nos diversos 
setores técnicos que um espetáculo apresenta e isso me faz acreditar que a figura do diretor 
precisa estar presente do início ao fim do processo como uma forma de unificação do 
processo de criação, no que diz respeito à utilização de recursos técnicos para a criação 
artística, desde a preparação dos atores, à dramaturgia, iluminação, cenografia, maquiagem, 
figurino entre outras técnicas modernas de encenação que foram trazidas ao Brasil em 1943 
pelo polonês Zbigniew Ziembinski (1908 - 1978)1, assim como cita o pesquisador Sábato 
Magaldi2 em seu livro Panorama do teatro brasileiro, publicado em 1962. 
 
Nestes últimos anos ocorre um fenômeno que ilustra, melhor talvez do 
que outros, a veracidade do raciocínio. As técnicas modernas de 
encenação foram introduzidas no Brasil em 1943, por Ziembinski, em 
polonês. Só nessa data conhecemos a fórmula posta em prática 
algumas décadas de subordinar-se o conjunto do espetáculo a visão 
unitária do diretor. Empregamos pela primeira vez recursos variados 
de iluminação, cenários ao gosto estético atual e a liberdade 
expressiva de numerosíssimos contemporâneos. (MAGALDI, 1962, 
pg 14.) 
 
Por meio dessa visão unitária do diretor, que o pesquisador cita, que pretendo 
empregar no meu trabalho decidindo, dessa forma, por pesquisar em meu Trabalho de 
Conclusão de Curso – TCC – a utilização do método de Direção teatral de Augusto Pinto Boal 
(1931 - 2009) no desenvolvimento do teatro do oprimido fundado por ele e utilizado 1971, 
averiguando como suas práticas e metodologias utilizadas despertam nos atores e nos 
espectadores, inúmeros sentimentose inquietações, principalmente por meio de temáticas 
 
1 Zbigniew Ziembinski diretor e ator polonês, que apesar de sua origem europeia, é considerado o primeiro 
encenador brasileiro. O espetáculo Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, encenado pelo grupo Os 
Comediantes em 1943, marca o início do que é considerado teatro brasileiro moderno, pois trata-se de uma peça 
revolucionária esteticamente. 
2 Sábato Antônio Magaldi (1927 - 2016) foi um teórico, crítico teatral e professor brasileiro. Membro da 
Academia Brasileira de Letras e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo 
(ECA-USP). Lecionou nas universidades francesas da Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle) e de 
Provence. Além de suas próprias obras, editou numerosos clássicos da dramaturgia brasileira, assim como 
participou de inúmeras e importantes publicações sobre o teatro. 
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento399276/vestido-de-noiva
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa4409/nelson-rodrigues
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo399356/os-comediantes
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo399356/os-comediantes
10 
 
sociais, políticas e educacionais, a fim de difundir ainda mais suas práticas, pensamentos e seu 
estilo de fazer teatro, especialmente porque todas as suas técnicas podem ser exploradas por 
todas as pessoas. 
 
O Teatro do Oprimido é teatro na acepção mais arcaica da palavra: 
todos os seres humanos são atores, porque agem, e espectadores, 
porque observam. Somos todos espect-atores, o Teatro do Oprimido é 
uma forma de teatro, entre todas as outras (BOAL, 2002, p. ix). 
 
 
Explorar e averiguar práticas e metodologias é um pouco quanto complicado, ainda 
mais quando se pensa em realizar algo inovador no teatro utilizando um método já 
consagrado, principalmente quando se tem um diretor inexperiente, em fase de testes, que 
ainda causa dúvidas do que pode oferecer, se terá realmente um desenvolvimento satisfatório 
em seu espetáculo, porém como gosto de desafios, me propus a mais este. Sendo assim, 
dentre meus objetivos com esta pesquisa, além de trabalhar direção teatral por meio das 
técnicas do Teatro Jornal e Teatro Imagem de Augusto Boal na relação opressor/oprimido, no 
espetáculo “As sete maravilhas”, com a finalidade de provocar inquietações tanto nos atores, 
como nos espectadores, também se encontra o de provocar alguma reflexão sobre nossa 
realidade atual, analisando se a temática abordada no espetáculo desperta e/ou modifica o 
senso crítico do público, estimular o pensamento sensível 3dos atores e dos espectadores por 
meio da utilização das técnicas do teatro do oprimido, e ainda promover reverberações no 
trabalho dos atores, tanto no presente quanto no futuro. 
Em todo o processo de pesquisa, busquei fontes primárias e secundárias de leitura para 
um melhor embasamento da pesquisa (prática e bibliográfica). A prática foi realizada nos 
ensaios do grupo de trabalho de conclusão de curso, sendo nesse caso o processo um 
importante norteador do tema proposto. O levantamento bibliográfico consistiu primeiramente 
em uma revisão de literatura da obra e vida de Augusto Boal. Todas as obras utilizadas como 
referência são escritas em língua portuguesa. Aproximadamente foram utilizadas oito obras 
literárias para o complemento de meu arcabouço intelectual. 
 
 
 
 
 
3 O Pensamento Sensível é aquele que produz arte e cultura, ele é essencial para que os oprimidos sejam 
libertados, além de ampliar e aprofundar a capacidade de se conhecer. Ele é arma de poder, dessa forma quem o 
tem em suas mãos, domina. 
11 
 
CAPÍTULO 1 – AUGUSTO BOAL E O TEATRO DO OPRIMIDO 
 
Augusto Boal é considerado um dos dramaturgos que mais contribuiu para a criação 
do teatro brasileiro. Desde os primórdios de sua carreira tinha como grande preocupação 
desenvolver uma linguagem que pudesse traduzir a realidade do seu país. Essa preocupação 
imprime ao seu trabalho uma dimensão política e social, tornando o teatro instrumento de 
transformação. Sendo assim, o teatro desenvolvido por ele vem em resposta às questões 
sociais, analisando inúmeros conflitos e propondo alternativas. 
Com isso, na década de 70, Boal desenvolve o Teatro do Oprimido, que consiste em 
um método e/ou modelo de prática cênico-pedagógica que se manifesta por meio da Estética 
do Oprimido4, sistema com a mesma base filosófica, social e política, que engloba todas as 
artes que integram o teatro. Dentre suas principais características, além da quebra entre 
artistas e não artistas, pode-se observar que o teatro do oprimido é um ensaio para a realidade, 
pois destina-se à mobilização do público, incitando os oprimidos a lutarem pela sua 
libertação, gerando ações sociais concretas continuadas. 
Sendo assim, a utilização desse método nos faz refletir sobre a realidade em que 
vivemos. Sabemos que nosso país ainda é cheio de preconceitos (social, machismo, 
homofobia entre outros) e problemas sociais (desemprego, desigualdade social, educação, 
violência entre outros), e que lutamos diariamente com e contra tudo isso. Dessa forma, além 
de nos fazer refletir e mostrar essa realidade, as práticas das técnicas do Teatro do Oprimido 
buscam promover diversas soluções para esses problemas assumindo uma estética voltada ao 
pensamento de resistência. 
 
Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos 
em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas. Vemos um 
mundo injusto e cruel. Temos obrigação de inventar outro mundo, 
porque sabemos que um outro mundo é possível. Mas cabe a nós 
construí-lo com nossas mãos, entrando em cena, no palco e na vida. 
Teatro não é apenas um evento, é uma forma de vida. Atores somos 
todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade. É aquele que 
a transforma‘ (BOAL, discurso como Embaixador para o Dia Mundial 
do Teatro, 2009). 
 
 
4 A Estética do Oprimido é um método artístico que foi constituído por meio de pesquisas em experimentações 
práticas em laboratórios teatrais e da sistematização teórica em seminários. É uma Arte Pedagógica inserida na 
realidade política e social que busca um diálogo com todas as culturas, estimulando a cultura própria dos 
segmentos oprimidos de cada povo. Ela pretende ir radicalmente ao amago do ser humano e revelá-lo por meio 
da arte. 
 
12 
 
 
Pesquisando sobre a vida do autor, percebi que ao mesmo tempo em que fazia um 
curso na área da Química Industrial, Boal estudou teatro em Nova York no início dos anos 
1950. Na década de 70, época de criação do Teatro do Oprimido, ele dirige o espetáculo 
chamado Opinião, que é considerado um marco na luta contra o regime ditatorial que estava 
instaurado no Brasil na época. Com isso, Boal começa a usar o teatro para denunciar à falta de 
liberdade do país. Assim, em 1971 nasce o Teatro do Oprimido com a técnica do Teatro 
Jornal contestando a censura à imprensa, técnica esta que pretende que se transformem 
quaisquer notícias de jornal, ou qualquer outro material, em cenas ou ações teatrais. Neste 
caso, ele se baseou em destinar-se até espaços públicos e fazer denúncia à ditadura militar 
brasileira, reformulando as versões das notícias que eram publicadas nos jornais, impedidos 
de divulgar informações contrárias ao regime. 
 
Quando em 1971, a ditadura no Brasil tornou impossível a 
apresentação de espetáculos populares sobre temas políticos, 
começamos a trabalhar com as técnicas do Teatro-Jornal: uma forma 
de teatro fácil de ser praticada por pessoas inexperientes, permitindo 
que grupos populares produzissem seu próprio teatro (BOAL, 2002, p. 
42-43). 
 
 
Com isso, Boal sofre muita repressão militar e parte em exílio para a Argentina, onde 
desenvolve a técnica do TeatroInvisível, que busca exibir uma cena para espectadores que 
não sabem que estão presenciando uma encenação. Depois, Boal se muda para o Chile, e 
começa a trabalhar com indígenas de diversas etnias, porém existia a dificuldade de 
comunicação, e como solução a isso, desenvolve a técnica do Teatro Imagem que tem o 
propósito de ensaiar uma transformação da realidade por meio do uso da imagem corporal 
(posições corporais, expressões fisionômicas, distâncias e proximidades entre outros), 
refletindo sobre as imagens opressoras do cotidiano e buscando a readmissão destas, criando 
novas imagens de um corpo liberto das opressões. 
No Peru nasce o Teatro Fórum, técnica esta que coloca o espectador como 
protagonista, preparando-o para transformar a realidade dentro e fora do espetáculo. O 
espectador, por meio do diálogo, deve buscar a solução do conflito proposto em cena. Dessa 
forma, Boal busca criar o desejo de combate às opressões que estão inseridas nas pessoas, 
criando caminhos e estratégias para esse combate. 
 
 
13 
 
CAPÍTULO 2 – OS PROCESSOS DE DIREÇÃO 
 
Minha pesquisa está voltada para o sistema de direção teatral utilizado por Augusto 
Boal, sendo assim, utilizei dos tipos de análises exploratórias e descritivas, pois acredito 
serem formas de trabalho mais completas, proporcionando elucubrações mais coerentes. Com 
isso, mais adiante, descreverei resultados alcançados por meio de provocações que projetei 
aos ensaios de forma qualitativa, traduzindo as experiências coletadas em conceitos e ideias. 
Dentre essas provocações, fiz o uso de frases, áudios, vídeos, notícias de jornal (impresso ou 
digital), filmes, imagens entre outros meios, e de forma espontânea e natural, os atores se 
deixaram tocar e assim criaram cenas de forma coletiva e individual, forma esta que faz com 
que o diretor instigue o ator a ser também pesquisador, propiciando um processo de criação 
mais satisfatório em seus resultados. A cada exercício e provocação trazida, foram registradas 
as proposições realizadas pelos atores (falas, movimentações, entre outros) por meio de 
vídeos e anotações em meu diário de bordo. Alguns jogos psicodramáticos também foram 
utilizados durante o processo, exercícios simples que foram retirados do livro 100 jogos para 
grupos, de Ronaldo Yudi K.Yozo, alguns jogos teatrais de Viola Spolin que foram retirados 
do livro Improvisação para o teatro, e ainda, jogos dos livros 200 exercícios e jogos para o 
ator e o não-ator com vontade dizer algo através do teatro e Jogos de atores e não-atores de 
Augusto Boal. 
Conhecer seus atores é, a meu ver, um tanto quanto fundamental para um diretor para 
que se obtenha um processo satisfatório, sendo assim, procurei elaborar o trabalho sempre 
junto a eles, fazendo com que a participação no processo criativo fosse completa. Dessa 
forma, a direção que acredito ser a mais convincente é aquela que instiga os atores a serem 
criadores, propositores e pesquisadores, e que uma das funções do diretor é a de usar seu olhar 
crítico/criativo para dar primor a sua montagem. 
Com a finalidade de provocar inquietações nos atores e espectadores estimulando o 
pensamento sensível, provocar também alguma reflexão sobre nossa realidade atual e 
despertar e/ou modificar o senso crítico do público, surgiu à peça As sete maravilhas. 
 
2.1 - SOBRE AS SETE MARAVILHAS 
14 
 
O espetáculo As sete maravilhas se apresenta na forma de recortes de cenas não 
lineares que mostram algumas hipocrisias5 na relação opressor x oprimido, presentes nas 
problemáticas sociais que ocorrem nos países onde se localizam as atuais sete maravilhas do 
mundo, demonstradas por meio da utilização das técnicas do Teatro Jornal e Teatro Imagem, 
pertencentes a um conjunto de técnicas do Teatro do Oprimido de Augusto Pinto Boal. 
A escolha da temática, hipocrisia, é um pouco tanto pessoal. É um tema que além de 
me incomodar muito por ser algo avesso à minha índole, é algo que está em alta na sociedade 
atual em que vivo. Além disso, a ideia central do espetáculo surgiu em uma reunião do grupo, 
onde buscávamos soluções para a temática que viria a ser abordada. Uma das hipóteses 
elencadas foi a de falar sobre as problemáticas sociais dos países onde se localizam as sete 
maravilhas do mundo atual, e assim, com a concreticidade da ideia, iniciou-se uma 
investigação incessante sobre os países nos quais as maravilhas se encontravam, com isso 
descobrimos inúmeras problemáticas sociais que ali ocorriam, elencamos as principais e as 
que mais nos chamaram atenção. Após isso, buscamos inúmeras notícias em jornais 
impressos, sites, vídeos, entre outros meios de comunicação, e utilizamos essas notícias como 
base de nossa dramaturgia inicial, que além das experimentações realizadas nos ensaios, 
contribuíram para a dramaturgia final do espetáculo. A montagem surgiu da necessidade de 
mostrar o que está por trás das maravilhas. 
No que diz respeito a recursos técnicos utilizados, nossa ideia inicial era algo 
grandiosa, com um cenário muito bem pensado e estudado, uma iluminação que interagisse 
com os climas que as cenas iriam propor além de se utilizar de um figurino muito bem 
trabalhado e específico para cada país. Porém, com o caminhar do processo de criação, além 
da falta de recursos para investimento, optamos por focar mais na atuação e na dramaturgia do 
espetáculo, contando apenas com a iluminação, que foi desenvolvida e operada por um dos 
técnicos do Núcleo de Artes Cênicas, Rodrigo Bento. No que se refere à cenografia, no início 
do processo possuíamos inúmeros elementos cênicos, porém com a dificuldade de modificar o 
cenário em cada cena principalmente pelo número de atores, apenas três, decidimos por um 
cenário mais simples e objetivo. 
 
2.2 - A SALA DE ENSAIOS 
 
5 Hipocrisia: Falsidade; Ação ou efeito de fingir; Capacidade para esconder os sentimentos mais sinceros; 
Característica daquilo (ou de quem) que não é honesto; Hábito que se baseia na demonstração de uma virtude ou 
de um sentimento inexistente. 
 
15 
 
 
Busquei desenvolver um processo que fosse agradável tanto para mim quanto para os 
atores, para que eles pudessem sentir-se à vontade, livres no processo de criação, dessa forma 
construindo algo relativamente nosso, onde após certo período, pudéssemos aprimorar as 
cenas propostas. 
Com isso, todos os nossos ensaios/encontros dispunham de certa dinâmica. Em um 
primeiro momento, iniciávamos com uma breve conversa/partilha da semana sobre o 
processo, vida, universidade, família, calendário, metas a serem atingidas, entre outros, como 
uma forma de nos conhecer melhor e criar um sentimento de confiança íntegro. Logo após, 
seguíamos para a Zumba, que se tratava de um momento de muita descontração, diversão, 
mas já se utilizando dela para aquecer o corpo. Em seguida, partíamos para o alongamento, 
algumas vezes livre, outras conduzidos por alguém, e posteriormente, exercícios que serviam 
para concentração e foco, como pular com tempo 8/4/2/1, andar pelo espaço com ritmos 
alternados (lento, rápido, com pausas), e ainda, de acordo com minha percepção, necessidade 
ou proposta de provocação, fazíamos um exercício de relaxamento no plano baixo ou 
massagens corporais. 
Após esse trabalho, partíamos para os jogos teatrais, retirados dos livros que foram 
citados acima no capítulo dois desse artigo. Dentre eles, utilizei o jogo do espelho e algumas 
de suas variantes, jogos de fotografias, onde eram ditas certas palavras e os atores 
desenvolviam uma imagem que as representassem, já trabalhando exercícios para a técnica do 
teatro imagem. 
 
 
 
Imagem 1: jogo da fotografia Imagem 2: jogo da fotografia 
16 
 
 
Além disso, executamos diversos exercícios com as provocações que eram levadas -
notícias, áudios, imagens, entre outros – onde os atores anotavam os sentimentos 
reverberados.Leitura de jornais – Leitura e discussão dos acontecimentos 
políticos e sociais mais importantes da véspera e explicação 
do seu significado por quem mais perceber do assunto. 
Desmitificação da imprensa burguesa. Informação das notícias 
que não aparecem nos jornais. (BOAL,1982, pg.92) 
 
 
Também efetuamos o jogo do hipnotizador, que consiste na ação do ator em seguir 
com seu rosto as mãos de um outro ator - líder, mantendo sempre a mesma distância. 
 
 
 Imagem 3 : hipnotizador 
 
Dentre outros exercícios que também foram realizados, se encontram: era-se dado um 
tema para a imagem, um ator propunha e os outros a complementavam; montar uma máquina 
humana; ninguém com ninguém, que é um jogo de integração. 
 
Em duplas; uma pessoa ficará sempre de fora. Essa pessoa, o 
líder, dirá, em voz alta, as partes do corpo com as quais os 
parceiros deverão se tocar; por exemplo, “cabeça com cabeça” 
(os parceiros devem se tocar com as cabeças); “pé direito com 
cotovelo esquerdo” (o pé de um parceiro tem de tocar o 
cotovelo do outro, e vice-versa, ao mesmo tempo, se isso for 
possível), “orelha esquerda no umbigo” etc. Os contatos 
corporais são cumulativos, não se desfazem. Até que se torne 
impossível obedecer às novas instruções. Os atores podem 
fazer os contatos sentados, em pé, deitados etc. Quando for 
17 
 
impossível continuar, o líder dirá “Ninguém com ninguém” e 
todos procurarão novas parcerias e um novo líder (o que 
sobrar sem parceiro) deverá dar prosseguimento ao jogo. 
(BOAL,2015,pg.115) 
 
 
Mesmo com um gama gigantesca de outros exercícios que foram utilizados, além 
desses que comentei acima que mais me chamaram a atenção, o improviso foi um fator 
importantíssimo em nosso processo, principalmente porque ele foi utilizado como base de 
criação da maioria das cenas. 
 
Improvisação - É o exercício convencional que consiste em 
improvisar uma cena a partir de alguns elementos iniciais. Os 
atores que participam devem aceitar como verdadeiros os 
dados oferecidos pelos outros durante a improvisação. Deve-
se procurar completar a improvisação com novos dados que os 
companheiros vão inventando. Em nenhum momento se pode 
rejeitar como verdade concreta a imaginação dos 
companheiros. (BOAL, 1982, pg.108) 
 
A dinâmica mais frequente era a de ler e entregar a notícia aos atores e dar um tempo 
de aproximadamente vinte minutos para se criar uma cena em cima da notícia dada. Dessa 
forma, nossa dramaturgia foi criando corpo, pois todas as cenas propostas eram filmadas, 
analisadas e aprimoradas por mim e se transformavam em texto, este era levado no próximo 
ensaio e experimentado novamente junto às novas proposições, e assim nossa dramaturgia se 
formou. Tivemos ainda a ajuda de uma grande companheira, Amanda Pessoa, que deu 
inúmeras contribuições para a dramaturgia do espetáculo, principalmente para a cena final. 
Além desse exercício de improviso, alguns outros eram utilizados para criar e refinar 
algumas cenas. Um dos exemplos que foram marcantes para o grupo, foi um exercício 
proposto para a criação da cena da Itália, chefe x funcionária. Foi proposto que uma das 
atrizes, a funcionária, saísse da sala com apenas a provocação – você precisa pedir um 
adiantamento ao seu chefe para salvar a vida do seu filho. Após cinco minutos, a atriz voltou à 
sala, na entrada já se surpreendeu, pois havia quatro chefes sentados à espera dela – com a 
provocação de humilhá-la e não deixá-la nos convencer a dar o adiantamento. O exercício foi 
muito interessante, visto que a atriz passou por um grande stress, se utilizou de inúmeros 
argumentos, chorou de ódio, gritou, partiu para uma agressão, tudo isso foi utilizado na 
dramaturgia final. 
Contudo, minha percepção enquanto diretor é que esse estilo de encenação necessita 
de atores propositores, atores que têm facilidade com o uso do improviso, posto isto encontrei 
18 
 
alguns embaraços, dado que os atores fruíam de uma dificuldade muito grande com este 
recurso e ainda, tinham uma contrariedade de se colocar no lugar dos oprimidos ou dos 
opressores por nunca terem passado pela situação que lhes eram proposta. Dessa forma, pedi 
que de forma individual, procurassem exemplos, principalmente em recursos audiovisuais, de 
pessoas que sofreram a problemática a ser retratada, para buscar neles às suas personagens – 
gestos, olhares, trejeitos, fala, entre outros. 
 
Em todos os exercícios, o importante era que o ator tomasse 
consciência dos seus músculos, da enorme variedade de 
movimentos que poderia realizar. Outros exercícios: andar 
como fulano, rir como beltrano, etc. Não se visava a exata 
imitação exterior, mas sobretudo a compreensão interior dos 
mecanismos de cada movimento. Que é que leva fulano a 
andar desta maneira? Que é que faz com que beltrano ria deste 
modo? (BOAL, 1982, pg.38) 
 
Meu objetivo era aguçar a criatividade deles para a construção das cenas e das 
personagens e não ser um diretor-ditador, mandando-os conceberem algo da forma como eu 
gostaria. 
Uma das adversidades que encontrei nos últimos ensaios foi a falta de ritmo do 
espetáculo, sendo assim utilizei de dois exercícios para resolver este problema: o velho truque 
do pandeiro6 e a quebra de ritmo. 
 
Quebra de ritmo: consiste em dizer com rapidez a primeira parte de 
uma frase e a seguir diminuir a velocidade ao proceder inversamente. 
Pode também utilizar-se a quebra de tom, mudando bruscamente o 
tom duma parte da frase, com o que se obtém mecanicamente o 
mesmo efeito. (BOAL, 1982, pg.34) 
 
Esses “truques” também trouxeram inúmeros ganhos às cenas, principalmente nas 
partes em se se utiliza um alto teor de irritação e também o choro. 
Outras dificuldades encontradas foram o olhar perdido de uma das atrizes e a 
linearidade do ator, principalmente por meio da voz, dado que todas as personagens 
mantinham a mesma nuance. 
Apesar das contrariedades, o processo foi imensamente benéfico e satisfatório. Com 
toda a certeza levarei tudo o que dividimos por toda minha vida e buscarei soluções à essas 
problemáticas que ficaram por ser resolvidas por falta de tempo. 
 
6 Exercício cênico que busca atribuir ritmo ao espetáculo; O exercício se dá pelos atores que dão seus textos, 
sem parar, no ritmo do pandeiro em que o diretor se utiliza. 
19 
 
CAPÍTULO 3 – REVERBERAÇÕES 
 
3.1 – ATORES 
 
Três atores fizeram parte desse processo: Giovanna Lavagnoli, Kaio Santos e Thalia 
Ferreira. 
Durante todo o processo, os atores descreviam suas impressões pessoais em um diário 
de bordo individual, e ao final do processo esse caderno foi utilizado por mim para notar o 
que o processo trouxe/ajudou/modificou na vida/trabalho do ator, e sobre o processo de uma 
forma geral. Eu também, como diretor, fazia um diário de bordo, onde toda a dinâmica do 
ensaio era registrada, assim como as reverberações e observações de cada ensaio. Todos os 
jogos, exercícios, ideias e informações eram ali registradas como uma forma de organização 
própria. 
Uma das atrizes relata que teve de encarar um dos papéis mais difíceis de sua vida, 
porém com o apoio do diretor principalmente com ideias para a preparação e busca da criação 
da personagem, conseguiu levar o processo com mais tranquilidade. Fez algumas descobertas 
na cena da Itália. O exercício realizado com a mesma, fez com que os sentimentos de tristeza 
e de raiva aflorassem. A atriz também descobriu que não sabe ameaçar ninguém, é um 
sentimento como se me fizesse mal fazer justiça com as próprias mãos, usar esse sentimento 
na cena foi para ela uma das coisas mais difíceis que teve que aprender a fazer. 
Exercícios de imagem (Peru - racismo), foram interessantes, para a atriz, para ver os 
estereótipos sendo apresentados por cada um, ela relata que não tem costume de trabalhar 
muito essas técnicas, principalmente com imagens de pessoasopressoras. Porém, mesmo não 
tendo familiaridade com a técnica, por meio de minha ajuda e confiança, passou a ter a 
segurança e o aporte necessário para a cena que se utiliza da técnica do teatro imagem. 
Já para a outra atriz, os jogos lúdicos fizeram com que o elenco se aproximasse cada 
vez mais, retirando um pouco da timidez existente quando se trabalha com alguém que ainda 
não havíamos trabalhado. Ela relata que possui um gigante incômodo com o improviso, uma 
imensa dificuldade para improvisar. Chama a atenção ao exercício realizado para solucionar a 
cena sobre a Itália (pressão de quatro patrões em uma funcionária). A pressão causada por 
meio do velho exercício do pandeiro contribuiu, para a atriz, em algumas ações, com a criação 
da personagem, principalmente quando era algo relacionado a ódio. Ela ainda pontua que o 
20 
 
processo foi maravilhoso, principalmente pela não pressão da direção, trabalho coletivo, e 
reitera que gosta de ter liberdade para criar e opinar. 
 Já sobre a estreia, a atriz relata que, como não estava bem pessoalmente e ainda sofreu 
uma pressão pouquíssimo antes de começar o espetáculo (mais uma vez foi realizado o velho 
exercício de pandeiro), a última passada foi horrível para ela, porém ela ficou mais aliviada 
por ter dado tudo certo, mas estava muito preocupada não sei se consegui aproveitar o 
máximo as cenas por causa do nervosismo com a pressão muito em cima da hora de estrear. 
De forma geral, a atriz reitera que avalia positivamente a direção que foi efetuada, 
principalmente pela liberdade de contribuir e poder opinar durante todo o processo, em 
conjunto. 
O ator relata que nos últimos ensaios houve um sentimento de insegurança e 
nervosismo, fato que ocorreu também um pouco antes da estreia, porém ele acredita que todos 
do grupo estavam conectados por uma confiança muito grande, que a tensão se extinguiu e fez 
com que a gente pudesse se divertir em cena. Durante a peça, a sensação dele foi a de dever 
cumprido. Assim, ele acredita que a quantidade de experiências e informações capturadas, 
serão levadas para os próximos espetáculos, principalmente as formas de construções de cena 
e dramaturgia de forma coletiva se utilizando de sentimentos e experiências particulares. 
Um dos fatos que o ator apura foi o receio no primeiro encontro do grupo pois não 
conhecia as colegas de cena, porém com as conversas iniciais pertencentes às dinâmicas de 
ensaio e os jogos de interação, a vergonha foi se extinguindo e foi dando lugar à uma ótima e 
incrível relação com as parceiras de cena. O apoio do diretor, principalmente aguçando a 
criatividade dos atores para a construção das cenas e das personagens e vivendo de forma 
intensa e próxima ao espetáculo, tornaram o processo mais gostoso e prazeroso. 
 3.2 – PÚBLICO 
O espetáculo As sete maravilhas tem como finalidade provocar também inquietações 
nos espectadores, acarretar alguma reflexão sobre nossa realidade atual, e ainda analisar se a 
temática abordada no espetáculo desperta e/ou modifica o senso crítico do público, 
estimulando o pensamento sensível do mesmo. Sendo assim, ao final do espetáculo foi 
entregue uma folha avaliação, um breve questionário onde alguns espectadores registraram 
sua reverberação do espetáculo. Dentre as questões presentes, se encontram: 1- Você acredita 
21 
 
que esse estilo de encenação promove reverberações na sociedade? Sim? Não? Talvez e 2 – 
Qual a problemática que mais lhe chamou a atenção? E o que ela reverberou em você? 
 
 Gráfico 1 – Opinião dos espectadores 
 
Ou seja, das quarenta e uma pessoas que responderam o questionário, trinta e cinco 
acreditam que sim, que o estilo de encenação proposto promove reverberações na sociedade. 
Já seis pessoas, supõem que talvez ela suscite reflexões. 
No que se refere à segunda questão, que é dissertativa, os espectadores deveriam 
realizar uma reflexão particular sobre a temática que mais lhe chamou a atenção e qual a 
reverberação da mesma. 
Os resultados foram bem interessantes. Desassociei os que votaram sim dos que 
votaram talvez na primeira questão, lembrando que ninguém votou não. Obtive os seguintes 
resultados: 
- Estiveram presentes, nos que optaram por talvez, as problemáticas do Peru, Índia, 
Brasil e Jordânia, respectivamente as temáticas do racismo, pobreza, estupro e 
homossexualidade; 
- Dentre as pessoas que votaram talvez, duas explanaram que todas as problemáticas 
lhes chamaram atenção; 
- Nos que votaram sim, as únicas temáticas não citadas foram as da China, Itália e da 
Índia, respectivamente a desigualdade social, desemprego (crise financeira) e a pobreza; 
- As duas problemáticas que mais apareceram nos que votaram sim foram o estupro e 
o homossexualidade, na devida ordem Brasil e Jordânia; 
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Pergunta
número 1
Não
Sim
Talvez
22 
 
- O Brasil, ou seja, o questão do estupro/abuso cometido pelo padre foi a problemática 
que mais chamou a atenção dos que votaram sim, doze pessoas; 
- Cinco pessoas, das que votaram sim, chamaram a atenção para a questão das piadas 
preconceituosas que foram contadas na parte final do espetáculo; 
- Dentre os que votaram sim: Brasil (estupro) – doze pessoas; Peru (racismo) – 6 
pessoas; México (xenofobia) – 3 pessoas; Jordânia (homossexualidade) – 9 pessoas; Todas as 
problemáticas – 5 pessoas; Piadas – 5 pessoas. 
Depois de toda essa análise, a pergunta que mais me inquieta é o porquê que o abuso 
cometido por um religioso e a questão relacionada à homossexualidade são as que mais 
reverberaram no público. Dessa forma, inúmeros questionamentos podem ser criados. 
 Vivemos em um país em que a maioria da população se considera cristã, será que por 
isso a problemática religiosa chamou a atenção? Será que o público que assistiu ao espetáculo 
(grande parte é estudante de Artes Cênicas da UFGD) convive de perto com a questão da 
homossexualidade? Ou até mesmo já sentiu na pele o que o jovem da Jordânia sentiu? Será 
que se As sete maravilhas fosse apresentado em outro lugar (na Praça Antônio João em 
Dourados - MS; Em Dracena - SP; Em São Paulo - SP; Em Londres - Inglaterra) as 
reverberações seriam outras? Será que se outras piadas fossem contadas na cena final do 
espetáculo, as pessoas ririam? Ou até mesmo isso reverberaria em mais pessoas? 
Bom, acredito que são questões para se pensar, analisar e buscar respostas. Quero 
levar isso adiante. 
Algumas reverberações me chamaram muita atenção pela profundidade como foram 
tratadas e também pela emoção, que me tomou conta quando lia a cada uma, sendo assim 
digitalizei algumas. Seguem. 
23 
 
 
 
 
24 
 
 
 
 
25 
 
 
 
26 
 
27 
 
CONCLUSÃO 
 
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise da direção teatral na 
peça “As sete maravilhas” baseada na metodologia de Augusto Pinto Boal no teatro do 
oprimido com o objetivo de despertar inquietações, reflexões e reverberações nos atores e 
“espectatores. 
No decorrer de toda a minha pesquisa, pude fazer uma trajetória que me proporcionou 
a compreensão do Teatro do Oprimido de uma forma mais acentuada. Compreendi alguns 
pontos, agora essenciais, sobre esse conjunto de técnicas. No TO se faz fundamental por a 
mostra o que se pensa, o que se sente, o que carrega consigo, dessa forma colocando o diálogo 
como figura central dessa metodologia. Fazer o uso desse estilo de encenação é refletir prática 
e teoricamente, com o objetivo de superar as opressões e humanizar a sociedade. Saio desse 
processo mais preocupado em lutar mais ativamente pelas minorias e com certeza, bem mais 
humano do que entrei. Na verdade esse processo jamais sairá de mim. 
Além disso, relatos dos atores que participaram do processo também enaltecem essa 
liberdade de voz, de criação, de opinião que foram dadas a eles. E ainda, acreditam que a 
quantidade de experiências e informações capturadas, serão levadaspara os próximos 
espetáculos que vieram, principalmente as formas de construções de cena e dramaturgia de 
forma coletiva se utilizando de sentimentos e experiências particulares. 
Outro fator muito interessante dessa pesquisa foi perceber a reação do público, que por 
meio de uma “folha avaliação” deu seu parecer ao espetáculo e aos envolvidos no processo. 
Das quarenta e uma pessoas que quiseram responder o questionário, trinta e cinco acreditam 
que sim, que o estilo de encenação proposto promove reverberações na sociedade. Já seis 
pessoas, supõem que talvez ela suscite reflexões. Ou seja, a proposta apresentada fez com que 
o público analisasse suas ações e pensamentos sobre determinadas problemáticas. E ainda, foi 
muito interessante descobrir que as problemáticas do homossexualismo (Jordânia) e do 
estupro cometido por um religioso (Brasil) foram às temáticas que mais chamaram a atenção 
dos espectadores. 
Pude perceber que as dificuldades surgem quando menos se espera, e que o diretor 
precisa estar pronto para passar por cima desse tipo de barreira, não deixando com que os 
outros envolvidos se deixem levar pelos problemas. Enquanto diretor passo por essa fase da 
vida extremamente realizado e me sinto modificado, pois a reação do público e dos atores me 
28 
 
mostraram que meus objetivos foram alcançados. Estou feliz em ver que minha arte de 
alguma forma provocou reverberações nas pessoas. 
Trabalhar a metodologia de Augusto Boal, principalmente utilizar-se de suas técnicas, 
é um apelo para que nos tornemos agentes reformadores do corpo social que vivemos, 
principalmente porque elas nos guiam a uma plenitude de consciência, despertam e/ou 
modificam nosso senso crítico e ainda, estimulam também nosso pensamento sensível, e que 
por meio da arte sejamos parte de uma enérgica transformação social. 
 
29 
 
REFERÊNCIAS 
BOAL, Augusto. 200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer 
algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. 
BOAL, Augusto. A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. 
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. São Paulo: Cosac Naify, 2015. 
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 1975. 
BOGARD, Anne. A preparação do diretor: Sete ensaios sobre arte e teatro. 1ª ed. São 
Paulo: WMF Martins Fontes Ltda., 2011. 
CHAVES, Marcos Machado. A trilha sonora teatral em pauta: Experiências de criadores 
de trilha sonora em Porto Alegre. 2011. 103. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal 
do Rio Grande do Sul, Instituto de Artes, Programa de Pós- graduação em Artes Cênicas, 
Porto Alegre- RS, 2011. 
JÚNIOR, José Manoel de Souza. Análises sobre a união das funções de direção teatral e 
criação de trilha sonora na montagem da peça sobre aquele velho recinto chamado fim. 
2014. 23. Trabalho de conclusão de curso - Universidade Federal da Grande Dourados, 
Dourados–MS, 2014. 
MAGALDI, Sábato. Panorama do teatro brasileiro. Brasil: Editora Global, 2004. 
SPOLIN,Viola. Improvisação para o Teatro. Tradução e revisão Ingrid Dormien Koudela e 
Eduardo José de Almeida Amos. São Paulo: Perspectiva, 2005. 
 
TORRES NETO, Walter Lima. O que é direção teatral?. In.: Urdimento - Revista de 
Estudos em Artes Cênicas / Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-
Graduação em Teatro. – Vol. 1, n.09 (Dez 2007) - Florianópolis: UDESC/CEART Anual, p. 
111-121. 
 
YOZO, Ronaldo Yudi K. 100 jogos para grupos: Uma abordagem psicodramática para 
empresas, escolas e clínicas. São Paulo: Ágora, 1996. 
 
30 
 
 ANEXOS 
ANEXO I - Dramaturgia do espetáculo 
 
As 
sete 
maravilhas 
 
 
Sinopse 
“As sete maravilhas” trata-se de recortes de cenas não lineares que mostram algumas 
hipocrisias na relação opressor x oprimido presentes nas problemáticas sociais que ocorrem 
nos países onde se localizam as atuais sete maravilhas do mundo, demonstradas por meio da 
utilização das técnicas do Teatro Jornal e Teatro Imagem, pertencentes a um conjunto de 
técnicas do Teatro do Oprimido de Augusto Pinto Boal. 
 
31 
 
Ficha Técnica 
Direção: Guilherme Pimenta 
Elenco: Giovanna Lavagnoli, Kaio Santos e Thalia Ferreira 
Orientação e Sonoplastia: Júnior Souza 
Dramaturgia: Coletiva 
Iluminação: Rodrigo Bento 
Colaborações e Agradecimentos: Amanda Pessoa, Ariane Guerra, Bruno Augusto, Camile dos 
Anjos, Gabriella Rios, João Paulo Oliveira, Lucas Pimenta, Luci Ana, Núcleo de Artes 
Cênicas e Vinnie Oliveira. 
 
ENTREGAR JORNAIS IMPRESSOS PARA O PÚBLICO COM AS 7 
NOTÍCIAS QUE SERÃO RETRATAS; 
CENA INICIAL – MENDIGO QUEIMADO E MORTO CERCADO DE FOGO 
(NO CORREDOR, LIXOS, JORNAL-ARTE E FRASES); MONITORES GUIAM O 
PÚBLICO (CHINA) 
OS OUTROS DOIS ATORES BRINCANDO DE DANÇA DAS CADEIRAS 
(MÚSICA – PINGUILIM, SANDY E JÚNIOR); QUANDO SENTAM NA CADEIRA SE 
DÁ UM RELATO – 2 VEZES CADA UMA; AO FINAL DISSO, OS 3 ATORES 
PARAM COM OS BRAÇOS ABERTOS (CRISTO REDENTOR) ENQUANTO, AO 
FUNDO, SE PASSA UM VÍDEO INTRODUTÓRIO GERAL (SOBRE OS PAÍSES E 
AS MARAVILHAS/ RÁPIDO E OBJETIVO). 
CENA 1 (BRASIL) 
Padre, Coroinha e Fiel 
Padre - Em nome do pai, do filho e do Espírito Santo 
Coroinha e Fiel - Amém 
Padre – Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo 
Coroinha e Fiel - Para sempre seja louvado 
*Música Gregoriana 
Fiel – Leitura da 1ªcarta de São Paulo aos Coríntios 
12 Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as 
coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.13 Os alimentos 
são para o estômago e o estômago para os alimentos; Deus, porém, aniquilará tanto 
um como os outros. Mas o corpo não é para a fornicação, senão para o Senhor, e o 
Senhor para o corpo.14 Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos 
ressuscitará a nós pelo seu poder.15 Não sabeis vós que os vossos corpos são 
membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo, e os farei membros de 
https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/6/12-20+
32 
 
uma meretriz? Não, por certo.16 Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, 
faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne.17 Mas o que se 
ajunta com o Senhor é um mesmo espírito.18 Fugi da fornicação. Todo o pecado que 
o homem comete é fora do corpo; mas o que fornica peca contra o seu próprio 
corpo.19 Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita 
em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?20 Porque fostes 
comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso 
espírito, os quais pertencem a Deus. Palavra do senhor. 
Padre – Amados irmãos e irmãs, venho falar sobre algo bem difícil nos tempos de 
hoje, a santidade, pois para alcança-la devemos nos livrar totalmente do pecado, 
pois todo aquele que peca é do diabo. E algo que está muito presente em nossos 
dias é o pecado mortal da fornicação, o pecado do corpo, da carne, principalmente 
em festas, nos namoros, em casa, na rua...Portanto amados, não forniqueis, não 
fareis orgias, não fareis sexo antes do casamento, não cometerás adultério, não 
cometerás esse pecado mortal que nos leva para o inferno. Que Deus nos ajude a 
conseguir essa graça. Amém? 
Coroinha e Fiel – Amém! 
Padre - Que Deus abençoe vocês, uma boa noite e ide em paz e que o senhor vos 
acompanhe. 
Coroinha e Fiel – Graças a Deus 
(A fiel vai até o padre) 
Fiel - A benção senhor! Preciso confessar, estou muito arrependida 
(a fiel e o padre se dirigem até o lugar da confissão) 
Padre - Me diga filha, o que houve, porque estais aflita? 
Fiel (meio tensa/chorando) – Ontem meu namorado foi em casa, e ele estava meio 
estranho, um pouco agressivo e pervertido comigo. Ele começou com umas atitudes 
esquisitas, que ele nunca fez. Começou a passar a mão nas minhas pernas de uma 
forma maliciosa... depois ele se aproximou mais de mim e começou a passar as 
mãos em meusseios...( fiel começa meio que a querer chorar e padre se excita) 
eu estava sem reação, mas pedi pra ele parar... e ele continuou... começou a apertar 
meus braços e a tentar tirar a minha roupa... eu disse para ele parar imediatamente, 
porém ele não me ouvia... parecia que ele estava tomado por uma fúria... foi aí que 
ele foi pra cima de mim com muita força, me prendeu contra parede e começou a 
beijar... eu tantava escapar, gritava pedindo ajuda, mas tudo o que eu fazia era em 
vão e não havia ninguém por perto que pudesse me ouvir. Ele conseguiu fazer tudo 
o que queria comigo, e eu só conseguia chorar. 
Padre – Minha filha, eu sei que é difícil, mas você precisa rezar muito por ele e o 
perdoar. Tudo o que ele fez é errado, é condenável aos olhos de Deus, vai contra os 
33 
 
princípios da igreja, mas o senhor nos pede para amar e perdoar o próximo. Por isso 
eu, pelo poder de Deus a mim investido, absolvo todos os seus pecados. Em nome 
do pai, do filho e do espirito santo, amém! Vá em paz minha filha. 
(Padre vai até a sacristia, onde se encontra a coroinha que esta trocando de 
roupa) 
Padre chega na sala e fica olhando/admirando a coroinha, e depois puxa 
assunto; padre de uma forma maliciosa 
Padre depois de admirar a coroinha solta um _ AAAH, que dia... 
Padre – Oi (com muita malicia). Você aqui ainda? Está tudo bem em casa? Com 
seus pais...na escola... 
Coroinha – Está sim padre! Está tudo muito bem, graças a Deus. 
Padre – E você, como está? 
Coroinha - Estou ótima! 
Padre - Que bom minha filha! (começa a abraçar, dizer que gosta dela... melação... 
aperta a bunda; coroinha se assusta.) 
 (Padre começa a passar a mao com calma e a coroinha sempre tentando fugir; 
Padre começa ficar mais agressivo (falas soltas – para, calma, vem cá, sai 
daqui...) Padre a agarra com força) 
Padre - Bota a linguinha vai (congela a imagem) 
Cena 2 (ITÁLIA) 
*Música Italiana 
Funcionária vai até o escritório do chefe e pede um adiantamento de salário para uma cirurgia de seu 
filho. 
Sônia – Bom dia! 
Chefe – Bom dia! 
Sônia – O senhor sabe que sou uma funcionária muito leal a nossa empresa, nunca faltei mesmo 
estando doente, e espero que senhor leve em conta todas as minhas conquistas para a empresa, 
principalmente a de coloca-la no mercado mundial, nos tornando líderes de venda no ramo... 
Chefe – Tá ok! (Interrompendo) Em primeiro lugar, qualquer um faria o que você fez, em segundo 
lugar, onde está querendo chegar com essa conversa? 
Sônia – Bom, eu tenho um filho de 8 anos, ele e tudo pra mim, e ele precisa urgentemente de um 
transplante de coração para viver, uma cirurgia muito arriscada, que necessita de médicos e 
equipamentos especializados, e isso só nos Estados Unidos. Então, gostaria de pedir um 
adiantamento pro senhor para eu pode salvar a vida do meu filho. 
34 
 
Chefe – Olha... como é seu nome mesmo? 
Sônia – Sônia, senhor. 
Chefe – Ok. Bom Sílvia, eu... 
Sônia – Sônia! 
Chefe – Tanto faz! Mas assim, quanto seria essa quantia mais ou menos? Me preocupo com a forma 
de pagamento, pois mesmo com a ótima situação da empresa não posso simplesmente perder 
dinheiro. 
Sônia – Olha, eu já fiz todas as contas e o valor é algo em torno de 30.000,00. Pode ter certeza que 
pagarei o senhor o mais rápido possível. 
Chefe – Essa é a certeza que eu não tenho, eu duvido você me pagar. Primeiro que você não é toda 
essa funcionária que acredita ser, senão você nem estaria me pedindo dinheiro, ganharia o suficiente 
pra isso. Outra coisa, como posso ter certeza que esse dinheiro realmente será usado para a cirurgia 
do seu filho? Será que você não gostaria de comprar um carro, uma casa, fugir do país... sei lá 
Sônia – O senhor está duvidando da minha palavra? Da índole de uma mãe? 
Chefe – Eu não te conheço, não sei de onde vem e do que é capaz. O dinheiro é meu e eu gosto de 
saber para onde ele vai. 30.000,00 não é uma alta quantia, até porque é o valor que gasto no mês 
para comer gente em Londres, mas pelo menos ele tem uma finalidade. Quem sabe se esse teu filho 
aí não morrer, você começa a crescer na vida, a ser uma funcionária de respeito, a ser alguém. 
Sônia – O que? Então é assim que o senhor se importa com a saúde e o bem estar dos seus 
funcionários. 
Chefe – Eu me importo em ganhar dinheiro, só isso! 
Sônia – Bom, eu sei de uma pessoa que o senhor realmente se importa, seu filho! 
Chefe – O que meu filho tem a ver com isso ? 
Sônia – Nada não, até porque garanto que daqui um tempo não vai precisar se importar tanto assim 
com ele. 
Chefe – O que está querendo dizer com isso? É uma ameaça? 
Sônia – Interprete como quiser. 
Chefe – Você sabe que eu amo meu filho, que ele é tudo pra mim. Não tente fazer nada com ele 
senão você vai se arrepender. 
Sônia- Será??? 
Chefe- Sai daqui a agora, some!!! 
Sônia – Com todo o prazer! 
35 
 
 
 CENA 3 (ÍNDIA) 
*Música Indiana – dança Thalia 
AT (ao telefone/ educada) – Concessionária Lakshimi, boa tarde! Certo senhor, 
temos a linha completa de carros da Suzuki. Aconselho o senhor comparecer em 
nossa garagem, assim posso mostrar nossos melhores produtos. Amanhã? As 9:00? 
Ok senhor, ficaremos no aguardo. Tenha uma ótima tarde. 
Entra a mendiga pedindo esmola. 
AT (grossa) – Fora daqui sua nojenta, lixeira. Você está fedendo. Não tem esmola 
aqui não. Você está espantando os clientes. 
Mendiga sai. Entra o cliente (vestimenta “pobre”) 
CL - Boa tarde! 
AT (desconfiada) – Boa tarde! 
CL – Gostaria de estar vendo algum carro. 
AT – Há sim, pois não. Vou mostrar nossa linha popular. O senhor já tem algo em 
mente? 
CL - Sim, sim. Quero ver um Maruti completo. Ele é da Suzuki. 
AT (assustada/sarcástica) – Um Maruti? Tem certeza? Vou começar te mostrando 
nossa linha de Tata nano, é um carro ótimo, popular, e o básico dele tem saído 
muito. O valor é de 141.000 rúpias, aproximadamente R$ 6.000,00. 
CL – Não senhora, eu quero ver um Maruti mesmo, não me importo com o valor. 
AT – Senhor, é melhor você repensar. Hoje os empréstimos estão difíceis. A loja 
pode te ajudar com esse mais barato. 
CL – Empréstimo? Quem aqui falou em empréstimo? 
Atendente ri olhando para a roupa dele. 
CL (nervoso) – A senhora está achando que eu não tenho dinheiro, é isso? Mas eu 
tenho, e muito! 
AT – Não senhor, não é isso... 
CL – É isso mesmo! Vou embora daqui, nunca fui tão humilhado. Você sabe quem 
eu sou? Tenho dinheiro para comprar essa loja. 
36 
 
AT – Calma senhor. 
CL - Passar bem! 
O cliente sai e da de cara com a mendiga que pede esmola à ele. 
CL – Sai daqui sua fedorenta, comedora de ratos. Tá achando que eu tenho dinheiro 
para gastar com você? 
Mendiga come um rato. 
 
CENA 4 (PERU) 
*Música Peruana – Thalia coloca os acessórios nos atores 
Começar com imagens até chegarem ao centro ( 5 imagens; a 6 são os dois um de 
frente pro outro; a 7 é onde ocorre o diálogo – segurança apontando a arma e menino 
na repulsa, medo). 
Texto das 6 imagens. 
Janaína – Janaína, 30 anos, militar/segurança do supermercado La Molina, Lima-Peru. 
Wesley – Wesley, 16 anos, negro, morador da Villa El Salvador, Lima-Peru. 
Janaína – 15 de outubro, como de praxe estava fazendo minha vistoria nos corredores do 
mercado. 
Wesley – 15 de outubro, ganhei um pouco de grana e vim comprar o básico para a casa. 
Janaína - Ao adentrar no corredor dos embutidos, me deparo com um trombadinha 
encardido pegando alguns produtos. 
Wesley – Assim como em vários locais do mundo, o preconceito racial é muito forte no 
Peru, e ao chegar à seção de salsichas, fui taxado de bandido. 
Imagem 7 – congelada 
Janaína – Ei preto fedido, pode devolver tudo o que você está roubando aí! 
Wesley – Mas eu não estou roubando nada senhora, vou pagar por tudo. 
Janaína – Cala a boca seu macaco! Onde já se viu um escravo ter dinheiro pra comprar 
alguma coisa. Você deve ter roubado esse dinheiro também. 
Wesley – Senhora,eu juro, minha mãe me deu essa grana pra eu comprar essas coisas. 
Não roubei nada. 
Janaína – Não acredito em você, seu sujo, carvão. Vamos resolver isso logo! 
Imagens 8 a 13. 
37 
 
CENA 5 (MÉXICO) 
(Logo após a imagem final da cena do peru entre Americana) 
Americana : Is it a mexicano? (Gi sai de cena) Yeah! It's a Mexican 
(Pega o mexicano e sai arrastando xingando ele enquanto a jornalista entra) 
Americana: Your intruder.... your invader 
Jornalista: Boa noite! A xenofobia é um sério e recorrente problema dos Estados unidos. 
Nossas câmeras captaram neste momento imagens de uma americana espancando homem 
mexicano na rua Washington. Acompanhe ao vivo. 
Americana: Get out of my country (2x). Go back to México your invader. Go back. Get out of 
here... 
Jornalista: Atenção! Nossa equipe acaba de descobrir que a jovem é filha de pais mexicanos. 
Mexicano: Como és? Usted no es americana? 
Americana: Hold on...Yeah, I'm... I'm 
(Americana sai arrastada) 
Jornalista: Boa noite 
CENA 6 (JORDÂNIA) 
(Mãe cortando cebola; entra o filho) 
Mãe: Nossa meu filho, chegou cedo! 
Filho: Sim mãe! Não tem tantas coisas legais pra se fazer aqui na Jordânia, não ser ver a 
beleza de Petra. 
Mãe: Aaaí meu filho! Nosso país é lindo! Maravilhoso! 
Filho: Mãe faz uns dias que tô querendo conversar com senhora e eu decidi conversar hoje. ... 
é um assunto sério... já faz tempo que eu notei que eu não estava encaixado no grupinho de 
amigos, nas rodinhas de conversa... 
Mãe: Para de enrolar menino e fala logo. 
Filho (lentamente, enrolando, medo): Eu não escolhi isso para mim, eu te juro! ... É que de 
uns dias para cá eu conheci um amigo meu, que ficou mais próximo até que eu descobri que 
estava apaixonada por ele. 
Mãe (incrédula;nervosa): O que? Não, você só pode estar brincando... não... não pode ser... 
Como isso aconteceu? 
38 
 
Filho: Eu não sei mãe, não sei explicar, aconteceu, eu não consegui evitar. 
Mãe: Onde você aprendeu isso? Aqui dentro de casa que não foi. 
Filho: Mãe, eu não aprendi, isso não é uma coisa que se ensina, já nasce, eu nasci assim! 
Mãe: Não, não... não mesmo... isso são influências, e daqui de casa não foi... você não nasceu 
assim... eu te eduquei para ser gente, não criei filho meu para ser florzinha não, para desonrar 
a família... que vergonha 
Filho: Mãe (tenta pegar a mão)! Mãe 
Mãe: Não encosta em mim. 
Filho: Mãe por favor se acalma. 
Mãe: Não tem que ter calma, você é uma vergonha... aqui dentro da minha casa você não fica 
nem mais um segundo. Faça suas coisas e suma da minha frente! 
Filho (indo em direção à mãe; suplicante): Mãe não fala assim, por favor me perdoa... mãe 
por favor.. 
Mãe: Pega suas coisas agora e rua.... pode esquecer que eu existo, eu não tenho filho viado 
Filho: Mãe... 
Mãe: Sai! 
A mãe pega o telefone; desolada; sem chão. 
Mae: Você pode vir até aqui? Acabou de acontecer algo que eu não esperava 
Amiga: O que foi que aconteceu? 
Mãe: O Rawan acabou de dizer que é gay... gay... porque ele foi virar isso? Aqui na família 
não tem... que vergonha! 
Amiga (seduzindo; massagem): Calma isso é normal sim... lembra que na nossa época tinha 
isso também?.... Então fica calma e tenta entender... relaxa um pouco... pensa melhor, com 
mais calma... confia em mim 
PIADAS 
1 - Por que cigana não lê mão de preto? R: porque preto não tem futuro. 
2 - Porque negros são fedidos? R: porque assim as pessoas cegas também podem odiar 
eles. 
3 - Qual a melhor forma de transportar mais judeus em menos espaço? R: leva tudo em um 
cinzeiro. 
4 - Uma bicha morre e vai para o céu. Chegando lá, São Pedro pergunta? O que houve? A 
bicha diz – eu morri- São Pedro pergunta - O que você era na terra? O gay diz- Ah, eu era 
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gay. São Pedro manda a bicha tomar um remédio. Foi a pior caganeira de sua vida. Ela voltou 
suando e falou: — Pronto... Posso entrar agora? 
São Pedro olhou... e falou: Se era gay né?.... tome esse comprimido e volte mais tarde. 
A bicha tomou e a cena se repetiu... essa foi muito pior que a outra... cagou até o que não 
tinha. Voltou novamente e falou: — E agora? Posso entrar? São Pedro olhou... e falou: Se era 
viado né? Tome mais esse comprimido e volte mais tarde. E assim foi, a bicha tomou o 
comprimido, cagou sangue, água, as tripas, coração, pulmão, tudo!.. voltou chorando para São 
Pedro: — E agora? Posso entrar? São Pedro olhou... e falou: — Bom, pode sim. Mas 
entendeu agora, para que serve o cu? 
5 - Qual a diferença entre Jesus e o quadro dele? R: é que o quadro você pendura com um 
prego só. 
6 – Se um horóscopo fosse bom, ele não teria câncer. 
7 – Porque cego não pode virar gay? R: porque vai estragar o único olho que funciona. 
8 – Hoje eu vi uma gordinha caindo da escada, eu não ri, mas a escada rachou. 
 
GIOVANNA - Ora, está rindo? Hipócrita! Piadas desagradáveis, como essas, continuam a 
serem ouvidas por aí. Pior, circulam porque pessoas de bem, honestas, muitas vezes 
comprometidas com as lutas das minorias as repassam, acham graça... isso tudo é você 
mesmo, nos seus momentos de maldade e de fraqueza. 
KAIO - Quando vira a cara e passa longe de um mendigo. Quando ri com prazer dos 
deficientes. Quando conta piadas de preto e de bicha. Quando escolhe os amigos ricos e 
despreza os pobres. Quando saímos à caça de defeitos para justificar uma antipatia gratuita 
que sentimos. 
GIOVANNA - Relações frágeis? Relações por conveniência? Ausência de sinceridade? Por 
trás da aparência de belo, existe uma quantidade imensa de lixo que é produzido. 
KAIO - Olha-se pela aparência, elegem aquilo que é digno de apreciar, mas por trás disso: 
que cor você tem? Você é mulher? De onde você vem? A gente pode resolver isso ali no 
cantinho... 
THALIA - Existem machos que se acham alfas ao invés de homens que respeitam mulheres e 
reconhecem seus espaços, aproveitam-se de relações de poder. Afinal o problema são os 
outros. Eu não sou culpado. Vivemos no tempo das justificativas. Enquanto isso morrem de 
fome. Não é minha culpa. De guerra. Não é minha culpa. De estupro. Não é minha culpa. De 
escrúpulos, de corrupção, de homofobia, xenofobia, de ausência de solidariedade, de racismos 
que fingem ter varrido para debaixo do tapete... Mas qual é o caminho? Quem nunca foi 
hipócrita pelo menos uma vez na vida que atire a primeira pedra. Sim, as pessoas tendem a 
esconder suas reais intenções e sentimentos para melhor se encaixar na vida social. Sim, a 
hipocrisia, muitas vezes, nos coloca numa zona de conforto. Em alguns casos, omitimos 
atitudes e opiniões simplesmente para não sermos demitidos, criticados, ironizados, isolados 
socialmente, assim nos escondendo e abaixando a cabeça. 
 
TODOS – Sigamos. 
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ANEXO II – Arte do jornal 
 
	Prof.ª Ma. Camile Cecília dos Anjos

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