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2 | m e u c e r e b r o . c o m O CÉREBRO “O Lobo Frontal”, p. 04 psicologia cognitiva “O Surgimento da Neuroeducação”, p. 06 EVOLUÇÃO “A área 10”, p. 16 espiritualidade e religião “Conexão entre corpo e espírito”, p. 22 pessoas “O que é limitação para você?”, p. 30 notícias do mês, p. 34 neurohistória “A história de Phineas Gage”, p. 36 A Revista meucerebro é uma publicação mensal do grupo meucerebro. com e de distribuição on-line para assinantes. Editores-chefe: Leonardo Faria e Ramon Andrade. Redação: Daniela Ávila Malagoli e Leonardo Faria. Diagramação: Carlos Gabriel Ferreira. Colaboradores: Ana Lúcia Hennemann, Flávio Maneira, Matheus Guisoni Pereira e Pricilla Faria. EXPEDIENTE programa de desenvolvimento meucerebro “Turbine o seu Cérebro”, p. 08 MÚSICA “Qual é o som de uma cor?”, p. 18 neurociência do sucesso “4 pilares: você no controle da sua vida”, p. 26 especial “Inteligência emocional: por que ela é importante?”, p. 10 3 Começarei agradecendo a minha equipe. Pessoas formidáveis, sem as quais um sonho antigo não se realizaria. Ramon, meu sócio, cuja confiança sem precedentes me fez enxergar possibilidades. Carlos, cujo profissionalismo e talento em perceber ideias e transformá-las em arte proporcionou um grande salto ao grupo. Daniela, minha companheira, dedicada, paciente, e extremamente competente em seus propósitos. Sem vocês nada d isso seria possível. Os sonhos são assim mesmo. Demoram às vezes uma vida. Mas são eles que a validam. Tudo começou há aproximadamente 2 anos, quando tive um insight. Para dizer a verdade, pouco acreditava em intuição ou percepção extrassensorial. Mas de alguma forma fui sugestionado a ver que os caminhos que por algum motivo me levaram até ali não mais o fariam. Inserido no meio de uma extenuante residência médica em neurocirurgia, percebi que faltava algo essencial. Algo mais primordial que uma suposta inteligência. A vida faz a gente acreditar que a inteligência pode ser objetivamente mensurada por meio de testes, provas, vestibulares e notas. Que o sucesso é o ponto final de uma vida galgada nesses termos. Mas não. É estranho dizer que o oposto de determinada coisa é justamente o holofote que mais a ilumina. Foi de certa forma a razão que me fez enxergar a emoção. Hoje compreendo que aquela não é uma força. Esta sim. Enquanto a razão direciona, a emoção impulsiona. Por um momento, deixei a razão de lado e passei a valorizar as emoções, o prazer, o bem-estar, a dor, a contemplação, o relaxamento, o motivo. Passei a enxergar as pessoas e a diferenciá-las pelo engajamento emocional com que viviam dia após dia. Enquanto algumas pessoas se perdiam em comportamentos repetitivos para os quais suas razões construíam as mais extravagantes explicações, outras percebiam- se com um simples olhar. Muito me surpreendia como a maioria atribuía a importância do cérebro à sua capacidade de desenvolver a inteligência. Mas a emoção era o combustível. Não era prudente mais deixá-la de fora. Hoje percebo que o cérebro é tudo isso. O seu equilíbrio sempre esteve na relação de reciprocidade construída entre razão e emoção. A nossa vida se determina assim. É nesse contexto que qualquer explicação racional sobre o por que de estarmos aqui, termos nos dedicado à constituição do grupo meucerebro, dessa primeira edição, a edição de lançamento da revista digital meucerebro, torna-se insignificante. O que vier a ser explicado não conseguirá alcançar a força que nos impulsionou. Hoje somos um grupo que alia neurociências e comunicação, que busca disseminar ideias e aprender. Ser objeto, mas principalmente sujeito desse novo momento que o homem atravessa: o da verdadeira autopercepção. Você agora faz parte do meucerebro. Seja muito bem-vindo! editorial Leonardo Faria, Editor-chefe da revista meucerebro 4 | m e u c e r e b r o . c o m A matéria desta edição fará referência à anatomia de superfície de um lobo cerebral. O conhecimento dela é especialmente importante para neurologistas, neurocirurgiões, neuroradiologistas e qualquer outra pessoa que lide com a anatomia cerebral, como é o caso dos estudantes de medicina, psicologia e neurobiologia comparativa. O lobo frontal é peculiar ao homem pelo tamanho e pelas funções. Aqui nos caberá um relato específico da anatomia dos seus sulcos e giros. Na face superior mais lateral do lobo frontal de cada hemisfério identificam-se três sulcos principais: o sulco pré-central (mais ou menos paralelo ao sulco central, muitas vezes dividido em dois segmentos), o sulco frontal superior (inicia-se geralmente na porção superior do sulco pré-central e tem direção aproximadamente perpendicular a ele, para o pólo frontal) e o sulco frontal inferior (partindo da porção inferior do sulco pré-central, dirige-se para frente e para baixo). Entre o sulco central e o sulco pré-central está o giro pré-central. Acima do sulco frontal superior, continuando na face medial do cérebro, localiza-se o giro frontal superior. Entre os sulcos frontal superior e frontal inferior está o giro frontal médio, e abaixo do sulco frontal inferior, o giro frontal inferior. Este último é subdividido pelos ramos anterior e ascendente do sulco lateral em três partes: orbital, triangular e opercular. A primeira situa-se abaixo do ramo anterior, a segunda entre este ramo e o ramo ascendente, e a última entre o ramo ascendente e o sulco pré-central. O giro frontal inferior do hemisfério cerebral esquerdo é denominado giro de Broca. O Lobo Frontal A anatomia dos sulcos e giros Leonardo Faria Sulco do Corpo Caloso Sulco do Cíngulo Ramo Marginal Sulco Subparietal Sulco Paracentral Giro do Cíngulo Lóbulo Paracentral Pré-cúneos Giro Frontal Superior 5 Na face medial do cérebro, existem dois sulcos que passam do lobo frontal para o lobo parietal: o sulco do corpo caloso (começa abaixo do rostro do corpo caloso, contorna o tronco e o esplênio do corpo caloso, onde se continua já no lobo temporal, com o sulco do hipocampo) e o sulco do cíngulo (tem seu curso paralelo ao sulco do corpo caloso, do qual é separado pelo giro do cíngulo. Termina posteriormente, dividindo-se em dois ramos: o ramo marginal, que se curva em direção à margem superior do hemisfério, e o sulco subparietal, que continua posteriormente a direção do sulco do cíngulo). Nesta face também está presente o sulco paracentral, que se destaca do sulco do cíngulo em direção à margem superior do hemisfério; delimita, com o sulco do cíngulo e seu ramo marginal, o lóbulo paracentral, assim denominado em razão de suas relações com o sulco central, cuja extremidade superior termina aproximadamente no seu meio. Resumidamente, em relação aos giros delimitados por estes sulcos, acima do corpo caloso temos o giro do cíngulo; mais acima temos, de trás para diante, o pré-cúneus, o lóbulo paracentral e a face medial do giro frontal superior. A face inferior do lobo frontal apresenta um único sulco importante, o sulco olfatório, profundo e de direção ântero-posterior. Medialmente ao sulco olfatório, continuando dorsalmente como giro frontal superior, situa-se o giro reto. O restante da face inferior do lobo frontal é ocupada por sulcos e giros muito irregulares, os sulcos e giros pré-orbitários. Giro Pré-Central Giro Frontal Superior Giro Frontal Médio Giro Frontal Inferior Sulco Frontal Superior Sulco Frontal Inferior Sulco Pré-Central //////////// o c é r e b r o Sulco do Corpo Caloso Sulco do Cíngulo Ramo Marginal Sulco Subparietal Sulco Paracentral Giro Reto Giros Orbitários Sulco Olfatório Sulcos Orbitários FONTES: 1. NETTER, Frank H. Atlas de Anatomia Humana. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 2. SOBOTTA, Johannes. Atlas de Anatomia Humana. 21ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 3. MACHADO, Angelo B.M.. Neuroanatomia Funcional. 2ed. São Paulo: Atheneu, 2002. Ilustrações: Netter. 6 | m e u c e r e b r o . c o m O Surgimentoda Neuroeducação Aprender é modificar comportamentos Ana Lúcia Hennemann, Um dos primeiros relatos que temos sobre a educação com um olhar mais global se dá através das Paideias, na Grécia. As mesmas eram constituídas a partir da concepção de que a comunidade e o indivíduo são responsáveis uns pelos outros e, dessa forma, vão se transformando, integrando-se e evoluindo. O indivíduo era percebido sobre seus diversos aspectos e fazia parte de uma cadeia social. Cada um era importante. Cada um tinha contribuições para a evolução daquele contexto social. Entretanto, as concepções mudaram e a educação “abandonou” a percepção individual e integral do sujeito para outro aspecto muito diferenciado: o indivíduo valia o quanto ele produzia; em outras palavras, o melhor aluno era aquele que conseguia acumular mais conhecimento. Mas até aqui a escola ainda não era para todos. Apenas alguns privilegiados estudavam. Conforme Tracey Espinosa, mesmo tendo os direitos assegurados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, é somente na década de 1980 que a educação em massa começa a fazer parte do cenário educacional e através dessa maior diversidade que se percebe que o sistema educacional necessitava de muitas melhorias. Todo o conhecimento que se tinha em educação, aprendizagem e comportamento humano ainda era fruto de pesquisas anteriores ao escaneamento cerebral, e as grandes mudanças começam a ocorrer com o surgimento da neurociência, responsável pelo estudo metódico do sistema nervoso. A psicologia, uma das áreas que sempre auxiliou a educação, ao agregar os conhecimentos da neurociência, começou a trazer abordagens diferenciadas para o contexto educacional e, dessa forma, a pedagogia pautada na educação e aprendizagem percebeu que se fazia necessário um novo olhar educacional, voltar às origens da Paideia e perceber o ser humano como um ser global. Todas as áreas que até então eram “especializadas em” modificam-se e começam a atuar de modo interdisciplinar agregando a nomenclatura de neuroeducação. A neuroeducação não é uma nova área do conhecimento. Ela trata da junção dos conhecimentos da psicologia, educação e neurociência (Figura 1). A neuroeducação nos traz uma abordagem diferenciada do que é aprendizagem. Anteriormente, em uma visão mais direta poderia se dizer que “aprender é adquirir novos conhecimentos”. A mesma neuroeducação nos mostra agora que “aprender é modificar comportamentos”. Quando pensamos uma educação inclusiva o significado de aprender dentro destas concepções tem outro valor. Porque se o sujeito é somente avaliado pelo viés do conhecimento adquirido dentro do contexto escolar, certamente a educação não estará sendo inclusiva; mas, se ela consegue perceber o educando como alguém que modificou seu comportamento inicial, seja ele, psicomotor, cognitivo ou emocional, desse modo sim, estamos diante de uma educação inclusiva, que prima pelos direitos humanos. Percebemos indivíduos Downs atuando na sociedade como repórteres, cineastas, professores, e outras tantas profissões e temos o entendimento Especialista em Alfabetização, Educação Inclusiva, Neuropsicopedagogia e Pós-graduanda em Neuroaprendizagem. Email: ana_hennemann@hotmail.com. 7 com o surgimento da neurociência, responsável pelo estudo metódico do sistema nervoso. A psicologia, uma das áreas que sempre auxiliou a educação, ao agregar os conhecimentos da neurociência, começou a trazer abordagens diferenciadas para o contexto educacional e, dessa forma, a pedagogia pautada na educação e aprendizagem percebeu que se fazia necessário um novo olhar educacional, voltar às origens da Paideia e perceber o ser humano como um ser global. Todas as áreas que até então eram “especializadas em” modificam-se e começam a atuar de modo interdisciplinar agregando a nomenclatura de neuroeducação. A neuroeducação não é uma nova área do conhecimento. Ela trata da junção dos conhecimentos da psicologia, educação e neurociência (Figura 1). A neuroeducação nos traz uma abordagem diferenciada do que é aprendizagem. Anteriormente, em uma visão mais direta poderia se dizer que “aprender é adquirir novos conhecimentos”. A mesma neuroeducação nos mostra agora que “aprender é modificar comportamentos”. Quando pensamos uma educação inclusiva o significado de aprender dentro destas concepções tem outro valor. Porque se o sujeito é somente avaliado pelo viés do conhecimento adquirido dentro do contexto escolar, certamente a educação não estará sendo inclusiva; mas, se ela consegue perceber o educando como alguém que modificou seu comportamento inicial, seja ele, psicomotor, cognitivo ou emocional, desse modo sim, estamos diante de uma educação inclusiva, que prima pelos direitos humanos. Percebemos indivíduos Downs atuando na sociedade como repórteres, cineastas, professores, e outras tantas profissões e temos o entendimento do quão é importante a interação com o meio. Mais ainda, do quão é importante o trabalho de um profissional que tem o entendimento do funcionamento do sistema nervoso. O neuroeducador, profissional da neuroeducação, resgata a práxis das Paideias. Ele observa o indivíduo em seus aspectos que precisam ser melhorados e em suas potencialidades e, através disso, constrói um planejamento individualizado para cada educando. Porém, em última instância, todos aprendem, pois há modificação de comportamento tanto para o neuroeducador quanto para os educandos. Ambos necessitam sair de suas zonas de conforto e, dessa forma, alcançar patamares mais elevados. Através disso, resgata-se um valor primordial que os gregos já conheciam: a cooperação. A sociedade se constitui pelo entendimento da responsabilidade que temos uns com os outros e só podemos mudá-la se mudarmos nossos comportamentos. FONTES: 1. TOKUHAMA – ESPINOSA, Tracey. Why Mind, Brain, and Education Scienceis the “New” Brain- -Based Education. Disponível online em http://migre.me/lXgK3 / p s i c o l o g i a c o g n i t i v a FIGURA 1: Adaptado a partir de Tracey Tokuhama-Espinosa 8 | m e u c e r e b r o . c o m Há uma regra oculta nestas equações. Encontre o valor de B e mostre que matemática não é problema para você. Áreas cerebrais envolvidas neste teste: Inicialmente, os córtices visuais primário e secundário serão ativados. A cognição aplicada à resolução de problemas e a utilização da memória de trabalho são atribuídas ao córtex pré-frontal. Além disso, áreas parieto- temporais e parieto-occipitais, mais precisamente a área de Wernicke, que pode ou não incluir o giro angular esquerdo, serão acionadas no reconhecimento dos algarismos e letras, e também durante os cálculos. Córtex Pré-Frontal Área de Wernicke 9 Córtex Visual Giro Angular Área de Wernicke Resposta: A resolução deste exercício depende de uma boa análise das equações anteriores. A resposta é: A = 2+6-7 B = 276 + A Logo, A = 1 e B = 277. Comentários: Um teste que trabalha a flexibilidade cognitiva na resolução de problemas. Aparentemente, parece um simples exercício de adição; entretanto, a variável A requer um pouco mais de raciocínio para ser decifrada. Isso nos remete às primeiras adições do exercício. A variável B é facilmente explicável, uma vez que tenhamos definida a variável A. B é sempre a soma de A com o número inicial. Mas e A? A é representado pela soma do primeiro e terceiro algarismos do número inicial, subtraído do algarismo do meio. Logo, 537 (5+7-3=9), 106 (1+6-0=7), 989 (9+9-8=10) e assim por diante. A=1 (6+2-7=1) e B=277. // t u r b i n e s e u c é r e b r o 10 | m e u c e r e b r o . c o m Aprender a ser emocionalmente inteligente é possível Daniela Ávila Malagoli O conceito de inteligência emocional (IE) tem sido bastante discutido na atualidade. No entanto, já vem sendoestudado desde o ano de 1990, quando foi formalmente introduzido na Psicologia por meio dos pesquisadores Peter Salovey, da Universidade de Yale, e John D. Mayer, da Universidade de New Hampshire, os quais apresentaram a definição de inteligência emocional como sendo a capacidade de processar as informações emocionais e usá- las favoravelmente no processo adaptativo. Contudo, o conceito se tornou popular cinco anos depois, por meio do livro “Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente”, do psicólogo da Universidade de Havard Daniel Goleman. 11 12 | m e u c e r e b r o . c o m Goleman disse ao Huffington Post “A vida corre muito mais suavemente se você tiver boa inteligência emocional”. O psicólogo traz uma nova discussão por meio de seu livro, no qual atribui parte do sucesso pessoal e profissional a esse tipo de inteligência; isto é, ela é tão importante quanto outras habilidades cognitivas - ou até mais -. Assim, quais as habilidades podem ser encontradas dentro da inteligência emocional? Diversas, como a de superar as frustrações, motivar a si mesmo, controlar impulsos, canalizar emoções, dentre outras. Goleman também mapeia a inteligência emocional em cinco habilidades importantes de serem realçadas: autoconhecimento emocional; controle emocional, automotivação, reconhecimento das emoções em outras pessoas e habilidades em relacionamentos interpessoais. Assim, a inteligência emocional é dividida em intra e interpessoal. As emoções fazem parte da evolução do indivíduo; são inatas a ele e constituem uma importante forma de comunicação. Predominam em diversos momentos da nossa vida e, se gerenciadas com cuidado e inteligência, auxiliam de forma significativa nas decisões, na imposição de limites, enfim, no relacionamento com o outro e consigo mesmo. De acordo com o psicólogo e professor de Sociologia Leonardo Abrahão, observa-se, hoje em dia, um mau gerenciamento das emoções: “raivas e explosões de ódio no trânsito e nas organizações; comportamentos obsessivos em meio a casais, surgidos a partir da inobservância de sentimentos como ciúmes doentio e/ou carência não cuidada; violências múltiplas a partir da dificuldade em se lidar com os sentimentos alheios, como discriminação e bullying entre jovens ou adultos nas escolas ou nas empresas”, explica, são alguns exemplos dessa problemática social. Nesse contexto, os cinco componentes da IE, definidos por Goleman - autoconsciência, autorregulação, motivação, habilidades sociais e empatia – são fundamentais também no âmbito profissional. Para ele, “quem tem inteligência emocional geralmente é confiante, sabe trabalhar na direção de suas metas, é adaptável e flexível. Você se recupera rapidamente do estresse e é resistente”, disse ao Huffington Post. E como saber se sou emocionalmente inteligente, e/ou se devo progredir nesse sentido? Reportagem recente publicada pela revista Exame mostrou 14 sinais que demonstram um alto grau de inteligência emocional, como: “você é um bom líder”, “reconhece suas forças e suas fraquezas”, “confia no seu instinto”, “quando está chateado, sabe exatamente o por quê”, dentre outros. A boa notícia é que, caso você não tenha 13 ///////////////// e s p e c i a l desenvolvido essas habilidades ou mesmo não priorize elas em sua vida pessoal e profissional, pode adquirir e aprimorar a inteligência emocional por meio da prática. De acordo com o site da empresa provedora mundial de inteligência emocional TalentSmart, “embora algumas pessoas sejam naturalmente mais emocionalmente inteligentes do que outras, você pode desenvolver grande capacidade mesmo não tendo nascido com ela”. A inteligência emocional, segundo Abrahão, pressupõe autoconhecimento, que pode ser “racional” ou “intuitivo” (treinado/ pesquisado ou natural/ espontâneo). Para o psicólogo, “entender a origem dos nossos sentimentos, suas características, suas fragilidades e seus potenciais favorece o nosso caminhar em meio às pessoas, circunstâncias e possibil idades que nos rodeiam”. Essa possibilidade se deve à “plasticidade” do cérebro, isto é, ele é hábil de mudanças. O cérebro desenvolve novas conexões, à medida em que é estimulado; assim, ao aprender novas habilidades de utilizar as emoções a seu favor, você está produzindo uma mudança, que é gradual, de acordo com TalentSmart. A utilização de estratégias para desenvolver a inteligência emocional permite que os bilhões de neurônios presentes no cérebro criem novas conexões entre os centros neurais relacionados à razão e à emoção. Cada neurônio, através de sua árvore dendrítica, é capaz de formar aproximadamente 15.000 conexões com outros neurônios vizinhos. Tal conectividade habilita o indivíduo a gerenciar melhor suas emoções futuras, a compreendê-las e, até mesmo, expressá-las racionalmente. Em outras palavras, a inteligência emocional pode ser fruto de uma aprendizagem sistematizada. Ela pode se tornar um hábito na vida de quem vier a desenvolvê-la. A empresa também fez testes de inteligência emocional ao lado de outras habilidades importantes no âmbito profissional. A conclusão é de que esse tipo de inteligência é o maior prognóstico de desempenho, representando 58% do sucesso em todos os tipos de trabalho. Portanto, a inteligência emocional é importante para o aprimoramento pessoal e profissional e merece dedicação. Segundo estudo feito por Travis Bradberry e Jean Greaves, autores do livro “Emotional Intelligence 2.0” (Inteligência emocional 2.0), da TalentSmart, apenas 36% das pessoas conseguem identificar suas próprias emoções. Essa pesquisa, feita com mais de 500 mil pessoas ao longo de uma década, demonstra que 14 | m e u c e r e b r o . c o m essa competência é rara e valiosa. Portanto, gerenciar as emoções seria dar um pouco de razão a elas? E se optarmos por agir e reagir conforme alertam nossas emoções, sem controlar os impulsos, enfim, extravasar (alguns dizem que é uma boa opção em certos momentos da vida), como seriam as nossas relações? Ficariam comprometidas? Ou seriam mais espontâneas? Abrahão explica: “a espontaneidade dos sentimentos e das emoções não significa, necessariamente, uma inteligência emocional. Por exemplo, uma explosão de ciúmes pode ser a mais espontânea e sincera possível, mas nada inteligente no contexto de uma relação interpessoal. Assim como uma explosão de raiva ou de solidariedade. A inteligência está em processar, racional ou intuitivamente”. A inteligência emocional, segundo o professor, pode ser infinita, “assim como as demais formas de inteligência, bastando, para tanto, que a pessoa a treine e/ou a amadureça por meio do autoconhecimento, da autotransformação e da autorrealização existencial”. Reflexões à parte, o importante é que a razão dá direção e ordem à emoção; as duas caminham juntas - pelo menos, devem -. Conhecer, entender e, por consequência, utilizar as emoções a seu favor, é um dos caminhos de crescimento do indivíduo para com ele mesmo, para com os outros e para com o mundo em que está imbuído. Para Abrahão, “não há sucesso na vida sem sucesso nos relacionamentos – e não há relacionamentos de sucesso sem habilidades emocionais e sentimentais”. FONTES: 1. http://goo.gl/WfaH8C 2. http://goo.gl/WD0reG 3. http://goo.gl/wYdv9M 4. http://goo.gl/Gu8ug8 5. http://goo.gl/kjOCX3 6. http://goo.gl/LvN2At 7. http://goo.gl/LE0ToC 8. http://goo.gl/CD2VCI 9. http://goo.gl/WDt6wn Fotografia: Flickr Commons O cérebro desenvolve novas conexões, à medida em que é estimulado; assim, ao aprender novas habilidades de utilizar as emoções a seu favor, você está produzindo uma mudança, que é gradual, de acordo com TalentSmart o importante é que a razão dá direção e ordem à emoção;os dois caminham juntos - pelo menos, devem. 15 16 | m e u c e r e b r o . c o m A Área 10 Ela nos torna mais humanos Leonardo Faria Oque nos difere de todas as outras espécies em termos evolutivos? O que o cérebro humano esconde, se é que realmente tem algo de especial? O senso comum é que estudar o cérebro humano contemplaria a chave para tais questionamentos, as respostas para desvendar o curioso processo da inteligência. De fato, a sua organização interna, maior e mais complexa em comparação aos de outros mamíferos e primatas, parece ter sido, para alguns autores, o aspecto evolutivo fundamental para o desenvolvimento da cultura, incluindo a linguagem, a simbolização e a cognição elaborada, fatores e dimensões que diferem o Homo sapiens de todas as outras espécies. Entretanto, se pudermos apontar um dado qualitativo do estudo evolutivo neurobiológico, a conclusão é de que os pólos frontais e temporais dos cérebros dos hominídeos se expandiram precocemente na evolução, seguidos da expansão das áreas posteriores do cérebro em uma fase posterior. O trabalho de Falk e colaboradores atesta que a grande expansão do cérebro humano não se iniciou com o gênero Homo, como se pensava anteriormente, mas há pelo menos 2 a 3 milhões de anos, com os membros do gênero Australopithecus. O cérebro se expandiu muito durante a fase evolutiva do gênero Homo, mas tal expansão já havia começado bem antes. O grupo de Falk concluiu ainda que as áreas dos lobos frontais que mais se desenvolveram foram aquelas relacionadas às regiões correspondentes à área 10 de Brodmann. Semendeferi e colaboradores indicaram que a área 10 é 6 a 7 vezes maior em humanos quando comparadas aos grandes símios africanos. A neuropsicologia, por sua vez, tem mostrado que tal área está associada ao pensamento abstrato, à organização e ao planejamento de ações futuras, à iniciativa e à tomada de decisões, assim como ao controle e ao processamento das emoções e ao julgamento. Da integridade da área 10 dependem, particularmente, funções como memória de trabalho, memória espacial, memória prospectiva, processamento sintático e compreensão de metáforas, geração de verbos, cálculo numérico e atenção conjunta (fundamental para habilidades sociais). Assim, a evolução da área 10 no Homo sapiens parece ser central naquilo que se postula ser a “humanidade” dos homens. Neuroanatomia comparativa contemporânea Recentemente, pesquisadores foram além e compararam imagens de ressonância magnética do córtex ventrolateral frontal – um dos componentes da área 10 – de 25 voluntários adultos com imagens equivalentes de 25 macacos. A partir desses dados, os pesquisadores foram capazes de dividir o córtex ventrolateral humano em 12 áreas que foram consistentes entre todos os indivíduos. Após a comparação dos grupos eles descobriram que uma pequena região, ainda mais específica dentro da área 10 de Brodmann, não possuía equivalente nos macacos – o chamado córtex do pólo pré-frontal lateral. Fica a reflexão: caso não percebamos iniciativa por parte das pessoas, planejamento, julgamento dos fatos associado a um bom controle emocional e, principalmente, criatividade, de que forma poderíamos considerá-las evolutivamente diferentes dos outros animais pelo menos no que se refere ao comportamento? 17 vezes maior em humanos quando comparadas aos grandes símios africanos. A neuropsicologia, por sua vez, tem mostrado que tal área está associada ao pensamento abstrato, à organização e ao planejamento de ações futuras, à iniciativa e à tomada de decisões, assim como ao controle e ao processamento das emoções e ao julgamento. Da integridade da área 10 dependem, particularmente, funções como memória de trabalho, memória espacial, memória prospectiva, processamento sintático e compreensão de metáforas, geração de verbos, cálculo numérico e atenção conjunta (fundamental para habilidades sociais). Assim, a evolução da área 10 no Homo sapiens parece ser central naquilo que se postula ser a “humanidade” dos homens. Neuroanatomia comparativa contemporânea Recentemente, pesquisadores foram além e compararam imagens de ressonância magnética do córtex ventrolateral frontal – um dos componentes da área 10 – de 25 voluntários adultos com imagens equivalentes de 25 macacos. A partir desses dados, os pesquisadores foram capazes de dividir o córtex ventrolateral humano em 12 áreas que foram consistentes entre todos os indivíduos. Após a comparação dos grupos eles descobriram que uma pequena região, ainda mais específica dentro da área 10 de Brodmann, não possuía equivalente nos macacos – o chamado córtex do pólo pré-frontal lateral. Fica a reflexão: caso não percebamos iniciativa por parte das pessoas, planejamento, julgamento dos fatos associado a um bom controle emocional e, principalmente, criatividade, de que forma poderíamos considerá-las evolutivamente diferentes dos outros animais pelo menos no que se refere ao comportamento? FONTES: 1. http://goo.gl/rdWGlL 2. http://goo.gl/0C85FH 3. Livro Evolução do cérebro, por Paulo Dalgalarrondo. //////////////// e v o l u ç ã o 18 | m e u c e r e b r o . c o m 19 Música, cores e emoção /////////////// m ú s i c a ///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Leonardo Faria V ocê estava saboreando algo e lhe veio algum som bem peculiar aos ouvidos? Algum lugar que você visitou logo lhe trouxe um sabor à boca. Determinado cheiro lhe faz ver imagens como se fossem reais naquele momento? Alguma vez você escutou uma música e logo veio a percepção de uma cor em especial? Não, não é loucura. A sinestesia é um fenômeno neurológico caracterizado pela produção de duas sensações paralelas, de natureza distinta, por um único estímulo. 20 | m e u c e r e b r o . c o m Não há o que temer. A sinestesia não é uma doença. Na verdade, ela ilustra como o cérebro é um órgão complexo e repleto de fortes interconexões. A experiência sensorial de certas pessoas na qual sensações correspondentes a um certo sentido são associadas a outro sentido é, na verdade, o cimento da memória. Quanto mais relações as sensações puderem estabelecer entre si, mais facilmente são reestabelecidas as suas memórias correspondentes. Portanto, por conta da sinestesia, eventualmente ocorre essa espécie de cruzamento de sensações em um só estímulo. Assim, uma cor pode ter um sabor ou um som pode ter uma forma. Essa forma diferente de processar as informações obtidas através dos sentidos pode ter uma base hereditária. O que dizem os estudos Diversos estudos têm investigado possíveis relações sensoriais desse tipo, especialmente entre sons e cores. Uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, e publicada recentemente no periódico PNAS mostrou que o cérebro humano é capaz de ir mais além. Segundo o estudo, através das sensações que uma melodia provoca, o cérebro foi capaz de fazer relações entre cor e música a ponto de superar barreiras culturais, como se todas as pessoas apresentassem uma estrutura neural senso-perceptiva comum. Ainda sobre o estudo, cujo título original é Music–color associations are mediated by emotion, identificou-se que músicas mais rápidas se relacionavam a cores claras e vívidas, como o amarelo; e melodias mais lentas, a tons mais escuros, acinzentados ou azulados. Todas essas informações poderiam, segundo a pesquisa, auxiliar o desenvolvimento de estratégias para afiar a criatividade e a percepção, novos métodos de reabilitação emocional que se utilizem de terapias cognitivas, além de embasar novas ações tomadas pelos profissionais do neuromarketing e publicidade. Os programas tocadores de música, por exemplo, podem se utilizar das informações de um equalizador para produzir padrões de cores em suastelas, procurando seguir as características – o “tom emocional” – de cada música. Muitas figuras conhecidas já se lançaram no estudo das cores, como Aristóteles, Newton e Goethe. Em contrapartida, Goethe foi um dos únicos a se opor de certa forma à ideia intuitiva de que existe uma relação física direta entre sons e cores. Em uma de suas obras, A Teoria das Cores (Zur Farbenlehre), originalmente publicada em 1810, ele disse: 21 Sempre se percebeu que existe certa relação entre cor e som, como demonstram as frequentes comparações, por vezes passageiras, por vezes suficientemente pormenorizadas. O erro nelas cometido se deve ao seguinte: Cor e som de maneira alguma podem ser comparados, embora ambos remetam a uma fórmula superior, a partir da qual é possível deduzir cada um deles. Ambos são como dois rios que nascem na mesma montanha, mas devido a circunstâncias diversas correm sobre regiões opostas, de modo que em todo o percurso não há nenhum ponto em que possam ser comparados. Ambos são efeitos gerais e elementares segundo a lei universal que tende a separar e unir, oscilar, pesando ora de um lado, ora de outro lado da balança, mas conforme aspectos, maneiras, elementos intermediários e sentidos completamente distintos. Mas, apesar do alerta de Goethe, os neurocientistas insistem na correlação neural entre sons e cores. Seguindo vias neurais próprias e paralelas ou que, secundariamente, se cruzem em algum ponto do caminho perceptivo cerebral, o fato é que parece prevalecer um denominador comum entre as sensações, particularmente entre aquelas veiculadas pelos olhos e ouvidos. Assim como outro estudo de 2007 – The Color of Music: Correspondence Through Emotion – também concluiu, a música parece compartilhar com o som um substrato neural comum: o emocional. Seria essa a origem da sinestesia. FONTES: 1. http://goo.gl/D3SXpC 2. http://goo.gl/r74uRh 3. http://goo.gl/WesMx9 4. http://goo.gl/T7kvZi 5. http://goo.gl/kNvklS 6. http://goo.gl/L6m8OI Fotografia: Flickr Commons / a m ú s i c a e o c é r e b r o 22 | m e u c e r e b r o . c o m 23 A conexão entre corpo e espírito A glândula pineal e sua relação com a espiritualidade Matheus Guisoni Pereira A pinha, um dos símbolos mais presentes nas sociedades do passado, ocidentais e orientais, reserva-se cheia de mistérios e lendas. Mas uma coisa é constante: a relação com a expansão da consciência, da elevação e da iluminação do ser. No Egito a pinha se mostra na ponta do cajado de Osíris, o Deus da vida após a morte, essa que era o passaporte para o convívio com os deuses. Na Grécia antiga ela aparece na extremidade superior do Tirso, o cajado usado por Dionísio. E não é arbitrário o fato de ser Dionísio o símbolo da plenitude de consciência e unificação com o todo. Pinha em grego traduz-se por Pineu, um dos nomes utilizados para batizar nossa glândula pineal. /espiritualidade e religião 24 | m e u c e r e b r o . c o m O terceiro olho, referido como olho de Hórus ou olho de Rá, é uma referência explícita também a essa glândula, chamada também por outras culturas como o olho da razão, da alma ou da mente. O olho dentro da pirâmide, uma adaptação desse simbolismo, ficou amplamente conhecido no mundo após ser empregado como um dos símbolos da maçonaria e ser incorporado tardiamente no dólar americano. Mas, afinal de contas, o que essa glândula faz de tão especial para a maioria de nós que não estamos ainda no caminho da meditação em busca do nirvana? Bem, esse olho vestigial guarda semelhanças em sua embriologia com os olhos, emerge do diencéfalo ficando entre os dois colículos superiores sobre o mesencéfalo e funciona como um temporizador, um marcapasso circadiano e sazonal. Sobre influência simpática, a qual é predominante durante a noite, ela secreta em maiores quantidades um hormônio, a melatonina. Sabe-se que maiores concentrações desse hormônio reduzem a função das glândulas e que este é importante para o amadurecimento dessas. A melatonina também pode realocar o dispêndio energético de acordo com os ciclos sono-vigília, resultado obtido do trabalho da Drª. Fernanda Gaspar do Amaral. Recentemente, notou-se em estudo do Dr. Jimo Borjigin na Universidade de Michigan e na Universidade Estadual de Louisiana pelo Dr. Steven Barker, analisando glândulas de ratos, a presença de N,N-Dimethyltryptamine (DMT). Não se sabe ao certo qual a função desse composto nos organismos, contudo, o uso dessa substância já é apreciado por pessoas que buscam experiências de psicodelismo. Essa substância também é encontrada no chá Ayahuasca, o santo daime. Mais excitante, no entanto, está o trabalho do médico Dr. Sergio Felipe de Oliveira. Durante uma microscopia de varredura em glândulas dissecadas, ele notou a presença de cristais de apatita. Esses cristais funcionam como uma caixa de ressonância que capta campos magnéticos, sequestrando-os. Essa pode ser a chave para se desvendar como pessoas que possuem domínio de sua mediunidade mantêm um transe ou uma comunicação com entidades extrafísicas inteligentes. Pelo trabalho do Dr. Sergio Felipe, também ficou verificado a relação inversamente proporcional entre esses cristais e surtos de ansiedade e depressão do sistema nervoso central. O indivíduo, recebendo muitas informações sensoriais por campos O cérebro, como símbolo de nossa inteligência, daquilo que nos torna humanos, recebe agora, mais do que nunca, contribuições sólidas da ciência de que ele pode conter também a ponte daquilo que nos torna nós mesmos, da nossa consciência: o espírito. 25 magnéticos, gastaria uma quantidade grande de neurotransmissores para decodificá-las e, em um segundo momento, ocorreria uma queda abrupta em sua concentração, levando à sinais de depressão. A glândula também está relacionada com a liberação de energia na forma de ectoplasma, este evidenciado por Charles Richet, Nobel de medicina e fisiologia em 1913, e pelo Dr. Albert Von Schrenck- Notzing. Se esta energia é demasiadamente liberada (como ocorre com alguns médiuns), o organismo tende a responder distribuindo-a para sítios orgânicos, podendo originar estruturas ectópicas como osteofitoses, cistos ou mesmo causar um aumento de peso e sangramento. No entanto, isso não se faz uma consequência imediata e fatal, sempre restando ao médium o dever de controlar essa capacidade da maneira a melhor atender-lhe a saúde. O estudo se faz inevitável. Muito ainda resta para ser desvendado nesse campo, que se caracteriza como uma área promissora e excitante de pesquisas. O conhecimento milenar de culturas do passado se mostra mais uma vez atual à sua maneira, e cabe à ciência mostrar-se humilde às possibilidades já abertas por nossos ancestrais. O cérebro, como símbolo de nossa inteligência, daquilo que nos torna humanos, recebe agora, mais do que nunca, contribuições sólidas da ciência de que ele pode conter também a ponte daquilo que nos torna nós mesmos, da nossa consciência: o espírito. FONTES: 1. VILLELA, DARINE; ATHERINO,VICTORIA FAIRBANKS; LIMA, LARISSA DE SÁ ; MOUTINHO, ANDERSON AUGUSTO; AMARAL, FERNANDA GASPAR DO ; PERES, RAFAEL ; MARTINS DE LIMA, THAIS ; TORRÃO, ANDRÉA DA SILVA ; Cipolla-Neto, José ; SCAVONE, CRISTÓFORO ; Afeche, Solange Castro . Modulation of Pineal Melatonin Synthesis by Glutamate Involves Paracrine Interactions between Pinealocytes and Astrocytes through NF-B Activation. BioMed Research International, v. 2013, p. 1-14, 2013. 2. Barker, S.A.; Borjigin, J.; Lomnicka, L.; Strassman, R. LC/MS/MS analysis of the endogenous Dimethyltryptamine hallucinogens, their precursors, and major metabolites in rat pineal gland microdialysate.. Biomed Chromatogr, v. 2013, p. 1690-700, 2013. 3. OLIVEIRA, S. F. . Glandula Pineal - Avanços nas Pesquisas. 2007. (Apresentação de Trabalho/ Conferênciaou palestra). 4. Biomed Chromatogr. 2013 Dec;27(12):1690-700. doi: 10.1002/bmc.2981. Epub 2013 Jul 23. 5. LC/MS/MS analysis of the endogenous dimethyltryptamine hallucinogens, their precur- sors, and major metabolites in rat pineal gland microdialysate. Barker SABorjigin JLomnicka IStrassman R. Imagens: http://goo.gl/kGCnT1 e http://goo.gl/2TVl0f 26 | m e u c e r e b r o . c o m É possível termos o controle da nossa vida ou somos frutos do acaso? O que determina o sucesso? Aliás, o que é sucesso, para você? Será que existe um caminho para revolucionar a própria vida, até coisas mais práticas como começar (ou terminar) algo que não está do jeito que você gostaria? Você está feliz na sua vida pessoal? e profissional? Como andam suas atividades de lazer? E sua espiritualidade? Em anos de trabalho com foco no desenvolvimento de pessoas, percebo que ter clareza psíquica, emocional ou, como gosto de dizer, “ampliar a consciência” é o primeiro passo de um processo profundo de mudança, cujo intuito é ser mais feliz nos principais pilares que sustentam e torneiam sua vida. Quais são esses pilares? Flávio Maneira, Autor e Coordenador do método e curso 4 pilares, gestão de carreira e de vida. Executivo da indústria farmacêutica há 16 anos, atuou na área de vendas, liderança e treinamento e desenvolvimento, passando por empresas como Novartis, Schering-Plough, MSD e atualmente está na Biolab Sanus Farmacêutica responsável pela capacitação estratégica da unidade cardiovascular. Professor de MBA em disciplinas ligadas a “Pessoas” e “Negócios” e colunista do portal Zeneconomics. 4 pilares: Você no controle da sua vida Crie um mapa estratégico para ela /a neurociência do sucesso 27 Entendemos como pilar “pessoal” o que se refere a “tudo e a “todos” que giram em torno de você: sua família, amigos, filhos, cônjuge. Como anda sua relação com seus familiares e amigos? Está saudável? Outro ponto importante do pilar pessoal tem a ver com “propósito” e “valores”, talvez o mais importante. Você sabe claramente qual é o seu propósito de vida? E quanto aos seus valores? Segundo John Maxwell: “não dá para ter um sistema de valores para uso no mundo dos negócios e outro para a vida pessoal. O caráter de uma pessoa rege toda a sua vida”. Interessante, não? Em minha trajetória de vida, nas empresas nas quais trabalhei e onde trabalho, nas palestras e aulas que ministro, percebo que a maioria das pessoas não tem claro isso, simplesmente vão vivendo e não param para refletir a respeito. Além das questões de valores, nesse pilar deve-se considerar questões como saúde, nutrição, emoções, ou seja, o alimento do corpo e da mente. Dizem que “somos o que comemos”. Vou além, somos o que “pensamos”, somos o que “sabemos”. Nossa formação como pessoa é dada parte pela genética (DNA) e pelo “meio” desde o nosso nascimento “macro” (país, região, cidade, bairro, cultura, família, amigos, escola, faculdade, trabalho) para o “micro” (indivíduo, personalidade, áreas de inteligência). Flávio Maneira, Autor e Coordenador do método e curso 4 pilares, gestão de carreira e de vida. Executivo da indústria farmacêutica há 16 anos, atuou na área de vendas, liderança e treinamento e desenvolvimento, passando por empresas como Novartis, Schering-Plough, MSD e atualmente está na Biolab Sanus Farmacêutica responsável pela capacitação estratégica da unidade cardiovascular. Professor de MBA em disciplinas ligadas a “Pessoas” e “Negócios” e colunista do portal Zeneconomics. 4 pilares: Você no controle da sua vida Crie um mapa estratégico para ela pessoal 28 | m e u c e r e b r o . c o m Esse pilar é um dos grandes responsáveis por questões que vão muito além do dinheiro, por exemplo: felicidade. Você faz o que realmente ama? Você aprendeu a amar o que faz? Você se encontrou profissionalmente? Se não, por que não arriscar em recomeçar? Você está satisfeito com seu superior? Como você considera o clima (ambiente) do seu trabalho? E com seus pares? Se você é um gestor ou empreendedor e tem uma equipe, como considera sua gestão? Existem inúmeras pesquisas bem fundamentadas sobre aspectos profissionais envolvendo liderança, colaboradores, clientes, empreendedores e em todas vemos alguns aspectos em comum: são mais “pontos de melhorias do que os que dão certo”. Vou dar um exemplo: Se perguntarmos para 100 pessoas sobre seus “chefes” (ou líderes), 80 estão insatisfeitas, porém, dessas 80 insatisfeitas, quantas fazem algo para mudar isso? Não chega a 10%, acredite! No caso dos empreendedores, grande parte das empresas fecham antes de completarem três anos de vida e, quando é feita uma análise sobre o principal motivo, adivinhe? Falta de conhecimento. As pessoas simplesmente abrem um negócio sem ao menos saberem o que é um “plano de negócios”. Quando o assunto é “carreira”, os resultados são ainda piores: a maioria das pessoas não sabe gerir um plano de carreira alinhado com suas fortalezas (seus talentos dominantes, seus pontos fortes). Vivemos uma escassez de líderes e bons gestores de pessoas e, com isso, vem a falta de orientação e desenvolvimento adequado, estratégico e assertivo, de acordo com cada indivíduo. As pessoas estão, literalmente, perdidas profissionalmente. O que é preciso? Parar, estruturar um plano, procurar ajuda, ler, estudar e principalmente saber que vai exigir muita disciplina, mudança de hábitos. É um percentual muito pequeno da população que está disposto a isso. Tony Robbins (autor e palestrante especialista em reprogramação mental) diz: “por isso os pobres estão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos”. O que você faz que é extremamente prazeroso? Que lhe traz uma sensação quase indescritível? Você só consegue isso nos finais de semana, feriados ou quando sai de férias? Ou você tem pílulas de lazer que lhe dão prazer diariamente? E semanalmente? Na medida em que vamos adquirindo certas responsabilidades nos dois pilares anteriores (pessoal e profissional), fica mais difícil fazer o que gostávamos de fazer? Vem o casamento, vêm os filhos, vem o crescimento profissional e por ai vai. Acontece que, para você se tornar melhor tanto na sua vida pessoal como profissional, é necessário alimentar suas emoções, seus “sentimentos”, ou seja, é necessário “rir” com quem ou com o que lhe estimula a isso. Tem gente que encontra no esporte (atividades físicas) uma forma de grande lazer (prazer). Sim, porque “suar” e performar mais e mais a cada dia mexe de forma única com a neuroquímica, alimentando sua “estima”, fazendo com que você se sinta bem. Outros encontram na música, na meditação, na leitura, na arte, no encontro com os amigos, semanalmente, mensalmente. Amigos fazem bem para sua saúde, isso é comprovado. Animais também. Qual lazer você foi deixando para trás? O que é preciso para retomar? Possivelmente isso está ligado a uma melhor administração de sua agenda e de alguns alinhamentos com seus familiares. Dedicamos muito tempo aos outros com medo do que pensam sobre a gente e esquecemo-nos de pensar em nós mesmos. Acredite: eles vão entender. Você será percebido como uma pessoa melhor, sua “energia” vai mudar. As pessoas que conseguem desfrutar de pequenas doses de lazer todos os dias apresentam uma melhora perceptível em sua “energia”, ficam mais positivas. profissional lazer Concluo sugerindo que não perca, mas ganhe tempo investindo em seu maior bem: você. Dedique tempo para criar um “mapa estratégico da sua vida” envolvendo os 4 pilares: Pessoal, Profissional, Lazer e Espiritual. Considere o curto, médio e longo prazo, tendo como premissa o conhecimento e a potencialização das suas “competências naturais”. Dizem que aprendemos mais pela dor do que pelo amor. Eu sou a prova disso e quero compartilhar isso com você. Um grande amigo disse certa vez: “temos duas datas de nascimento: uma biológica, quando nascemos e outra quando lançamos um olhar inteligente e genuíno sobre nós mesmos”. Esse é o verdadeironascimento. Pense nisso.{ 29 O que você faz que é extremamente prazeroso? Que lhe traz uma sensação quase indescritível? Você só consegue isso nos finais de semana, feriados ou quando sai de férias? Ou você tem pílulas de lazer que lhe dão prazer diariamente? E semanalmente? Na medida em que vamos adquirindo certas responsabilidades nos dois pilares anteriores (pessoal e profissional), fica mais difícil fazer o que gostávamos de fazer? Vem o casamento, vêm os filhos, vem o crescimento profissional e por ai vai. Acontece que, para você se tornar melhor tanto na sua vida pessoal como profissional, é necessário alimentar suas emoções, seus “sentimentos”, ou seja, é necessário “rir” com quem ou com o que lhe estimula a isso. Tem gente que encontra no esporte (atividades físicas) uma forma de grande lazer (prazer). Sim, porque “suar” e performar mais e mais a cada dia mexe de forma única com a neuroquímica, alimentando sua “estima”, fazendo com que você se sinta bem. Outros encontram na música, na meditação, na leitura, na arte, no encontro com os amigos, semanalmente, mensalmente. Amigos fazem bem para sua saúde, isso é comprovado. Animais também. Qual lazer você foi deixando para trás? O que é preciso para retomar? Possivelmente isso está ligado a uma melhor administração de sua agenda e de alguns alinhamentos com seus familiares. Dedicamos muito tempo aos outros com medo do que pensam sobre a gente e esquecemo-nos de pensar em nós mesmos. Acredite: eles vão entender. Você será percebido como uma pessoa melhor, sua “energia” vai mudar. As pessoas que conseguem desfrutar de pequenas doses de lazer todos os dias apresentam uma melhora perceptível em sua “energia”, ficam mais positivas. Longe de dogmas religiosos, qual é o seu entendimento por “espiritualidade”? Se você pensou em algo como ajudar o próximo, em generosidade, você está no caminho. Se você já faz algo nesse sentido, já é uma pessoa espiritualizada. Mais que dinheiro, se você dedica parte do seu tempo para ajudar (seja compartilhando conhecimento, dando amor, ouvindo alguém) o outro, livre de pré-conceitos, discriminações, crenças, você está um degrau acima. As pessoas que menos “têm” são as que mais compartilham, seja comida, dinheiro, casa, ou um lugar para dormir. Pare por alguns minutos e pense em alguém por quem você é muito grato, por te ajudar em algum momento difícil da sua vida. Pensou? Pronto, agora pegue uma folha em branco e um lápis ou caneta e escreva-lhe uma carta dizendo o por que de você ser tão grato a ela. Por fim, faça uma ligação (ou encontre essa pessoa) e leia a carta para ela. É provado que isso aumenta significativamente o seu estado de felicidade. Ou seja, a “gratidão” explicitada a alguém vai lhe tornar uma pessoa mais feliz, uma pessoa melhor. Atuo junto à classe médica há alguns anos e conheci médicos com uma espiritualidade incrível. Mas, o que eles têm em comum? Tratam as pessoas como pessoas, são generosos e pacientes com seus pacientes. Percebo que a humanidade não caminha para problemas de doenças físicas, mas sim para doenças de fundo emocional. Vivemos um “caos” emocional. A área que mais cresce não está ligada a problemas cardiovasculares, mas a problemas psíquicos. Livros de “autoajuda” nunca venderam tanto. Medicamentos desenvolvidos para os transtornos psíquicos, especialmente os ansiolíticos, nunca venderam tanto. Sempre digo: temos que tratar a “causa” e não o “sintoma”. Por isso, agir com mais espiritualidade é uma boa maneira de amenizar essas questões psicológicas que afligem a humanidade. lazer Espiritualidade Concluo sugerindo que não perca, mas ganhe tempo investindo em seu maior bem: você. Dedique tempo para criar um “mapa estratégico da sua vida” envolvendo os 4 pilares: Pessoal, Profissional, Lazer e Espiritual. Considere o curto, médio e longo prazo, tendo como premissa o conhecimento e a potencialização das suas “competências naturais”. Dizem que aprendemos mais pela dor do que pelo amor. Eu sou a prova disso e quero compartilhar isso com você. Um grande amigo disse certa vez: “temos duas datas de nascimento: uma biológica, quando nascemos e outra quando lançamos um olhar inteligente e genuíno sobre nós mesmos”. Esse é o verdadeiro nascimento. Pense nisso. PARA MAIS INFORMAÇÕES: http://flaviomaneira.com.br 30 | m e u c e r e b r o . c o m 31 O que é para você? limitação Esther Varoto, 28 anos, graduada em música. Esclerose Múltipla. Doença inflamatória crônica degenerativa. Elas se conheceram em novembro de 2008 Daniela Ávila Malagoli Com dois anos, começou a cantar. Aos três, compôs a primeira música. Como não sabia escrever, pediu à mãe que anotasse. Com cinco anos, já lia partitura ao tocar flauta doce. Gravou o primeiro CD nessa idade. Com 15, virou professora. Cursou oito anos de violão, contrabaixo e guitarra no Conservatório Estadual Cora Pavan Capparelli, mas estudou sozinha para a prova de habilidade específica do curso de Música (licenciatura em violão erudito), ingressando no curso, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), em 7º lugar, aos 19 anos. 32 | m e u c e r e b r o . c o m Esther sentiu uma sensação estranha nos braços. No outro dia, acordou com metade do corpo dormente. Não conseguia piscar o olho direito e sentia tonturas e náuseas. Passou mal dia após dia, por três meses, quando já estava casada. Os médicos, inicialmente, desacreditavam no diagnóstico de Esclerose Múltipla. Mas ela desconfiava. E se preparou. Esther, que chora e em menos de 10 segundos enxuga as lágrimas, não cancelou um dia de aula para seus alunos. Quando os movimentos da mão esquerda, precisos para sua profissão, ficaram travados por dois meses, um dos alunos a consolou: enquanto você estiver falando, está bom, eu já aprendo. Antes de a Esclerose Múltipla manifestar-se, Esther pensava: “eu sou jovem, aguenta corpo!” Sete meses depois dos primeiros sintomas, e após passar por oito médicos, o diagnóstico foi confirmado. Uma das primeiras coisas que fez, em seguida, foi compor uma música em homenagem aos portadores da doença. “O que eu fiz os três primeiros anos depois que eu descobri a doença é o que eu teria feito na minha vida toda se eu não a tivesse descoberto”. Ela preparou a qualidade do seu futuro, mas viveu, e vive intensamente o presente. “Andei muito de patins. Se eu fosse pra cadeira de rodas amanhã, pelo menos iria lembrar a sensação. Nadar, sentir seu corpo na água, como é importante! As pessoas deviam pensar nisso”. Ela define a doença: “Esclerose Múltipla não é sinônimo de loucura. É uma doença rara e diferente que as pessoas deveriam conhecer mais”. Esther nunca perdeu o “bom humor e a vontade de viver”. Nos inúmeros exames de ressonância magnética que fez, brincava com os sons do aparelho como se fossem notas musicais. Esther, que parece uma pessoa sem o diagnóstico de uma doença degenerativa como a Esclerose Múltipla Surto Remissão (ver infográfico), reconhece: “É uma doença que pode expor o portador a muitas a muitas deficiências físicas, e muitas delas felizmente podem ser revertidas com o uso de anti-inflamatórios potentes (corticosteróides)”. Um dia, após uma aula de canto na Ufu, na semana do própriocasamento, 33 //////////////// p e s s o a s Esther adora passear no shopping, fazer compras. Sempre acompanhada do seu grande amor, do seu apoio, Elker Tonini. Ele é o seu porto seguro. E se o assunto é ela, ele não hesita. “Ninguém derruba a Esther, é guerreira.” Ele pretende curtir todos os momentos da vida junto dela. A musicista fundou a Academia de Música Varotonini, na qual Elker também é professor, em 2011, no mesmo ano de sua formatura: “é fruto de tudo que eu faço em minha vida, o que me move, me dá prazer, a música”. Para o professor do curso de Música da UFU André Campos, Esther é empreendedora e batalhadora. Esther é professora de canto, violão popular e erudito, guitarra base e solo, contrabaixo,viola caipira, bateria e percussão, musicalização infantil, composição, teoria e percepção musical, edição de partituras e preparação para habilidade específica em Violão Erudito. Tem contrato como compositora com a Editora Clube da Música, que é parceira da Sony Music. Compôs, interpretou e produziu a trilha sonora da Novela Portal do Cerrado. Hoje está cursando Direito. Objetivos futuros: maior dedicação à carreira solo. Expansão da Academia de Música Varotonini. “Esther pensa na frente”, afirma a professora do curso de Música da UFU Sandra Alfonso. Uma mulher bem sucedida? “Intimidade com Deus, prazer em viver e acreditar em mim” foi o que fez Esther uma empresária de sucesso. O que a Esclerose Múltipla te ensinou, Esther? “Maturidade e paixão pela vida”. Qual a primeira coisa que gostaria que alguém soubesse sobre você? “Que eu curto a vida”. Esther, o que é limitação para você? “Limitação é algo que a gente coloca na própria cabeça”. INFORMAÇÕES SOBRE ESTHER: http://goo.gl/5OI3sq INFOGRÁFICO: Leonardo Faria 34 | m e u c e r e b r o . c o m O cerebelo é a parte do cérebro respon- sável por movimentos motores finos, incluindo a postura, o equilíbrio, a aprendizagem motora e a fala. Localizado na base do crânio, contém cerca de metade dos neurônios do cérebro, embora represente apenas 10% do seu volu- me. A sua disfunção parcial devido a uma lesão ou doença não é incomum, contudo a ausência do cerebelo já ao nascimento é extremamente rara. Médicos na China descobriram uma mu- lher de 24 anos, apenas o nono caso conhecido de uma pessoa viva com agenesia cerebelar. Sua condição foi descrita na revista Brain. O caso veio à tona depois que a mulher procurou atendimento médico devido a náu- seas e vertigens. Uma tomografia computa- dorizada e imagens de ressonância magnética revelaram a ausência do cerebelo, que pronta- mente explica os sintomas encontrados. Além disso, sua condição explica também por que ela não foi capaz de falar até completar seis anos de idade e de andar até os sete. Devido à ausência desta importante parte do sistema nervoso, também não foi capaz de brincar e saltar como as outras crianças. Sem nenhuma surpresa, a mulher tinha sido incapaz de andar sem constante apoio ao longo de sua vida. Embora os testes revelassem que ela não apresentava dificuldades para entender o vocabulário, havia prejuízos relacionados à pronúncia, a voz era trêmula e as palavras, “ar- rastadas”. Apesar disso, os médicos considera- ram os sintomas relativamente leves. Eles es- peravam por um comprometimento maior. O espaço onde o cerebelo deveria existir foi preenchido pelo líquido cefalorraquidiano. A química do fluido parecia normal, mas a pres- são estava um pouco elevada (210 mmH2O, ao invés de 70-180 mmH20). Ela foi adequada- mente tratada com medidas pouco invasivas e, quatro anos depois, ela ainda estava muito bem. Casou-se e teve uma filha neurologica- mente normal. As estruturas e os tecidos ao redor de onde estaria o cerebelo aparentavam boa estrutura, sem danos significativos. A ponte parecia pouco desenvolvida mas, consideran- do que parte de seu trabalho é transmitir men- sagens a partir do córtex frontal ao cerebelo, isso não é totalmente surpreendente. Como a doença é rara, não é muito bem compreendida. Embora existam cerca de 30 mutações associadas com alterações cerebe- lares, a ausência completa da estrutura é um pouco mais difícil de descobrir. Essa mulher re- presenta uma oportunidade única para estudar os efeitos da doença em um adulto vivo. Não se sabe como a sua condição irá mudar à me- dida em que envelhecer, mas todas as coisas que ela foi capaz de fazer até aqui represen- tam mais uma vez uma boa prova da plastici- dade cerebral. Mulher de 24 anos vive sem o cerebelo A relação entre saúde mental e lesões na cabeça é um tema controverso. Pesquisas anteriores produziram resultados ambíguos que colocaram em dúvida a associação entre ambas. Muito frequentes em esportes de contato como artes marciais e futebol americano, pequenos traumatismos podem culminar em problemas de saúde mais sérios do que se pensa à primeira vista. Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry, o maior da área, revela que mesmo uma única dessas pancadas na cabeça pode, até mesmo, aumentar o risco de doenças mentais, em especial se a pancada ocorrer durante a adolescência. A pesquisa realizada por Sonja Orlovska e sua equipe, da Universidade de Copenhague, durou 23 anos e analisou 113.906 registros médicos dinamarqueses de pessoas que haviam sido hospitalizadas por ferimentos na cabeça. Eles descobriram que, além dos problemas cognitivos causados pelos danos estruturais no cérebro (como delírio), esses pacientes demonstraram, posteriormente, maior probabilidade de desenvolver transtornos psiquiátricos: risco de 65% para esquizofrenia e 59% para depressão. O perigo era maior nos primeiros 12 meses após o trauma, mas permaneceu significativamente elevado pelos 15 anos seguintes. Ainda segundo o estudo, o fator preditivo mais forte associado ao desenvolvimento futuro de esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar foi sofrer traumatismo craniano no início da adolescência (11 aos 15 anos de idade). Lesões na cabeça poderiam provocar inflamação cerebral, alterando a permeabilidade da barreira hematoencefálica e favorecendo a entrada de conteúdos potencialmente prejudiciais ao cérebro a partir da corrente sanguínea. Enquanto o mecanismo ainda não for totalmente esclarecido, o melhor é seguir as orientações já estabelecidas depois de sofrer lesões traumáticas. Descansar e evitar atividades que demandem esforço físico e mental, além de obviamente consultar um médico tão logo apareçam sintomas. Tudo isso é fundamental. Pancadas na cabeça podem causar doença mental FONTE: http://goo.gl/QhrvC0 FONTE: http://goo.gl/QXEdcY 35 Estudo feito por pesquisadores da Universidade Rush, de Chicago, com 294 idosos, confirma a ideia de que ler e escrever regularmente pode contribuir para preservar a memória por mais tempo, reduzindo a velocidade do processo de deterioração mental. Essas práticas saudáveis podem diminuir até 15% o ritmo de progressão da perda da memória.O declínio cerebral entre os idosos que liam ou escreviam com frequência ainda na velhice ocorreu em um ritmo 32% mais lento do que entre os que faziam isso com uma constância menor. Os idosos que quase nunca se dedicavam a essas atividades apresentaram uma velocidade de deterioração mental 48% maior do que os que liam e escreviam esporadicamente. Os pesquisadores acompanharam os participantes do estudo durante cerca de seis anos, até o momento de sua morte, em média aos 89 anos. Anualmente, submeteram os idosos a testes de memória e cognição e os entrevistaram sobre seus hábitos de leitura ao longo da vida. Memória é preservada com leituras esporádicas A relação entre saúde mental e lesões na cabeça é um tema controverso. Pesquisas anteriores produziram resultados ambíguos que colocaram em dúvida a associação entre ambas. Muito frequentes em esportes de contato como artes marciais e futebol americano, pequenos traumatismos podem culminar em problemas de saúde mais sérios do que se pensa à primeira vista. Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry, o maior da área, revela que mesmo uma única dessas pancadas na cabeça pode, até mesmo, aumentar o risco de doenças mentais, em especial se a pancada ocorrer durante a adolescência. A pesquisa realizada por Sonja Orlovska e sua equipe, da Universidade de Copenhague, durou 23 anos e analisou 113.906 registros médicos dinamarqueses de pessoas que haviam sido hospitalizadas por ferimentos na cabeça. Eles descobriram que, além dos problemas cognitivos causados pelos danos estruturais no cérebro (como delírio), esses pacientesdemonstraram, posteriormente, maior probabilidade de desenvolver transtornos psiquiátricos: risco de 65% para esquizofrenia e 59% para depressão. O perigo era maior nos primeiros 12 meses após o trauma, mas permaneceu significativamente elevado pelos 15 anos seguintes. Ainda segundo o estudo, o fator preditivo mais forte associado ao desenvolvimento futuro de esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar foi sofrer traumatismo craniano no início da adolescência (11 aos 15 anos de idade). Lesões na cabeça poderiam provocar inflamação cerebral, alterando a permeabilidade da barreira hematoencefálica e favorecendo a entrada de conteúdos potencialmente prejudiciais ao cérebro a partir da corrente sanguínea. Enquanto o mecanismo ainda não for totalmente esclarecido, o melhor é seguir as orientações já estabelecidas depois de sofrer lesões traumáticas. Descansar e evitar atividades que demandem esforço físico e mental, além de obviamente consultar um médico tão logo apareçam sintomas. Tudo isso é fundamental. /////////////// n o t í c i a s Pancadas na cabeça podem causar doença mental FONTE: http://goo.gl/QXEdcY FONTE: http://bit.ly/1pSKChX 36 | m e u c e r e b r o . c o m Em 13 de setembro de 1848 um acidente terrível fez surgir uma teoria: a de que o nosso sentido moral tem fundamento biológico. Phineas Gage, renomado trabalhador de uma companhia ferroviária de Vermont, nos Estados Unidos, sofreu um grave acidente quando estava trabalhando na construção de uma estrada de ferro. Ao tentar explodir para longe rochas que estavam no local, um atrito entre a pólvora e o buraco no qual Gage colocava a barra de ferro provocou uma explosão. A barra foi arremessada em direção ao trabalhador, entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho, atravessou a parte frontal do cérebro e saiu pelo topo do crânio, do outro lado. O interessante é que, mesmo com metade da cabeça perfurada e sem um dos olhos, Gage sobreviveu sem danos consideráveis em suas faculdades (na época, quando recuperou a consciência, foi levado para o hospital caminhando e falando). Contudo, quanto ao seu comportamento, a mudança foi drástica: Gage passou de educado a extremamente rude, desrespeitoso, perigoso e socialmente irresponsável. Os comentários eram de que “Gage já não era mais Gage”. Hoje, o nome dado ao comportamento A história de Phineas Gage O homem “desinibido” Daniela Ávila Malagoli 37 Em 13 de setembro de 1848 um acidente terrível fez surgir uma teoria: a de que o nosso sentido moral tem fundamento biológico. Phineas Gage, renomado trabalhador de uma companhia ferroviária de Vermont, nos Estados Unidos, sofreu um grave acidente quando estava trabalhando na construção de uma estrada de ferro. Ao tentar explodir para longe rochas que estavam no local, um atrito entre a pólvora e o buraco no qual Gage colocava a barra de ferro provocou uma explosão. A barra foi arremessada em direção ao trabalhador, entrou pela bochecha esquerda, destruiu o olho, atravessou a parte frontal do cérebro e saiu pelo topo do crânio, do outro lado. O interessante é que, mesmo com metade da cabeça perfurada e sem um dos olhos, Gage sobreviveu sem danos consideráveis em suas faculdades (na época, quando recuperou a consciência, foi levado para o hospital caminhando e falando). Contudo, quanto ao seu comportamento, a mudança foi drástica: Gage passou de educado a extremamente rude, desrespeitoso, perigoso e socialmente irresponsável. Os comentários eram de que “Gage já não era mais Gage”. Hoje, o nome dado ao comportamento do operário é “desinibido”; uma referência ao modo de se portar de pessoas que tiveram lesões nos lobos frontais. O crânio, a máscara mortuária e a barra de ferro estão em exibição no Museu da Faculdade de Medicina da Universidade de Havard. O acidente de Gage constituiu “o início histórico dos estudos das bases biológicas do comportamento”, como explica o neurologista António Damásio. A modificação bruta de comportamento resultante do acidente instigou os médicos a estudarem os possíveis danos cerebrais, tendo em mente a possível relação entre a personalidade e o cérebro. A conclusão: as áreas afetadas, que causaram prejuízos consideráveis de ordem moral, são as centrais para este tipo de “humanidade”, mais especificamente, os lobos frontais. Gage sofreu poucos efeitos físicos (embora tenha perdido um dos olhos). O que mudou foi o comportamento. O operário viveu por mais de 12 anos, agindo de forma extravagante e anti-social, contando muitas mentiras, enfim, sendo uma “companhia difícil”, segundo neurologistas. FONTE: 1. “O livro do cérebro – um guia ilustrado de sua estrutura, funcionamento e transtornos”, Rita Carter 2. http://goo.gl/8jBBts 3. http://goo.gl/LZS2RF 4. http://goo.gl/3BJ2o1 Fotografia: Flickr Commons /////// n e u r o h i s t ó r i a A história de Phineas Gage O homem “desinibido” Daniela Ávila Malagoli
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