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EDUCAÇÃO: COGNIÇÃO, APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO DE PROFESSORES REVISTA FINANCIADA COM RECURSOS DA PETROBRAS S.A. Reitor: José Bites de Carvalho; Vice-Reitora: Carla Liane Nascimento dos Santos DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS I Diretor: Valdélio Santos Silva Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade – PPGEduC – Coordenador: Eduardo José Fernandes Nunes GRUPO GESTOR Editora Geral: Tânia Regina Dantas Editora Executiva: Liége Maria Sitja Fornari Coordenadora Administrativa: Noélia Teixeira de Matos Carla Liane N. dos Santos (DEDC I), Eduardo José Fernandes Nunes (PPGEduC), Adailton Ferreira dos Santos, Walter Von Czekus Garrido, Maria Nadija Nunes Bittencourt, Ricardo Baroud (Suplente), Igor Rodrigues de Sant’Ana (discente) Conselheiros nacionais Antônio Amorim Universidade do Estado da Bahia-UNEB Ana Chrystina Venâncio Mignot Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ Betânia Leite Ramalho Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN Cipriano Carlos Luckesi Universidade Federal da Bahia-UFBA Dalila Oliveira Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG Edivaldo Machado Boaventura Universidade Federal da Bahia-UFBA Edla Eggert Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS Elizeu Clementino de Souza Universidade do Estado da Bahia-UNEB Jaci Maria Ferraz de Menezes Universidade do Estado da Bahia-UNEB João Wanderley Geraldi Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP José Carlos Sebe Bom Meihy Universidade de São Paulo-USP Liége Maria Sitja Fornari Universidade do Estado da Bahia-UNEB Maria Elly Hertz Genro Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS Maria Teresa Santos Cunha Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC Nádia Hage Fialho Universidade do Estado da Bahia-UNEB Paula Perin Vicentini Universidade de São Paulo-USP Conselheiros internacionais Adeline Becker Brown University, Providence, USA Antônio Gomes Ferreira Universidade de Coimbra, Portugal António Nóvoa Universidade de Lisboa- Portugal Cristine Delory-Momberger Universidade de Paris 13 – França Daniel Suarez Universidade Buenos Aires- UBA- Argentina Ellen Bigler Rhode Island College, USA Edmundo Anibal Heredia Universidade Nacional de Córdoba- Argentina Francisco Antonio Loiola Université Laval, Québec, Canada Giuseppe Milan Universitá di Padova – Itália Julio César Díaz Argueta Universidad de San Carlos de Guatemala Mercedes Villanova Universidade de Barcelona, España Paolo Orefice Universitá di Firenze - Itália Robert Evan Verhine Universidade Federal da Bahia - UFBA Tânia Regina Dantas Universidade do Estado da Bahia-UNEB Walter Esteves Garcia Associação Brasileira de Tecnologia Educacional / Instituto Paulo Freire Coordenadores do n. 41: Profa. Dra. Kátia Maria Santos Mota e Profa. Dra. Valquíria Claudete Machado Borba Revisão: Luiz Fernando Sarno; Tradução/revisão: Profa. Dra. Valquíria C. M. Borba; Capa e Editoração: Linivaldo Cardoso Greenhalgh (“A Luz”, de Carybé – Escola Parque, Salvador/BA); Secretária: Dinamar Ferreira. Bibliotecária: Maura Icléia C. de Castro. Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 01-260, jan./jun. 2014 ISSN 2358-0194 (eletrônico) ISSN 0104-7043 (impresso) Qualis A2-Educação Tiragem: 1.000 exemplares Revista da FAEEBA: educação e contemporaneidade / Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação I – v. 1, n. 1 (jan./jun., 1992) - Salvador: UNEB, 1992- Periodicidade semestral ISSN 0104-7043 (impresso) ISSN 2358-0194 (eletrônico) 1. Educação. I. Universidade do Estado da Bahia. II. Título. CDD: 370.5 CDU: 37(05) Revista do Departamento de Educação – Campus I (Ex-Faculdade de Educação do Estado da Bahia – FAEEBA) Publicação semestral temática que analisa e discute assuntos de interesse educacional, científico e cul- tural. Os pontos de vista apresentados são da exclusiva responsabilidade de seus autores. ADMINISTRAÇÃO: A correspondência relativa a informações, pedidos de permuta, assinaturas, etc. deve ser dirigida à: Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Departamento de Educação I - DEDC Rua Silveira Martins, 2555 - Cabula 41150-000 SALVADOR – BAHIA - BRASIL Tel. (071)3117.2316 E-mail: refaeeba.dedc1@listas.uneb.br Normas para publicação: vide últimas páginas. E-mail para o envio dos artigos: refaeeba.dedc1@listas.uneb.br / liegefornari@gmail.com Site da Revista da FAEEBA: http://www.revistadafaeeba.uneb.br Indexada em / Indexed in: - REDUC/FCC – Fundação Carlos Chagas - www.fcc.gov.br - Biblioteca Ana Maria Poppovic - BBE – Biblioteca Brasileira de Educação (Brasília/INEP) - Centro de Informação Documental em Educação - CIBEC/INEP - Biblioteca de Educação - EDUBASE e Sumários Correntes de Periódicos Online - Faculdade de Educação - Biblioteca UNICAMP - Sumários de Periódicos em Educação e Boletim Bibliográfico do Serviço de Biblioteca e Documentação - Universidade de São Paulo - Faculdade de Educação/Serviço de Biblioteca e Documentação. www.fe.usp.br/biblioteca/publicações/sumario/index.html - CLASE - Base de Dados Bibliográficos en Ciencias Sociales y Humanidades da Hemeroteca Latinoameri- cana - Universidade Nacional Autônoma do México: E-mails: hela@dgb.unam.mx e rluna@selene.cichcu.unam.mx / Site: http://www.dgbiblio.unam.mx - DOAJ - Directory of Open Access Journals - INIST - Institut de l’Information Scientifique et Technique / CNRS - Centre Nacional de la Recherche Scientifique de Nancy/France - Francis 27.562. Site: http://www.inist.fr - IRESIE - Índice de Revistas de Educación Superior e Investigación Educativa (Instituto de Inves- tigaciones sobre la Universidad y la Educación - México) - Latindex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal) - SEER - Sistema Eletrônico de Editoração de Periódicos - ULRICH’S - Internacional Periodicals Directory. Pede-se permuta / We ask for exchange. Este número teve o apoio da Editora da Universidade do Estado da Bahia para impressão. Editora da Universidade do Estado da Bahia - EDUNEB Rua Silveira Martins, 2555 - Cabula - 41150-000 - Salvador - Bahia - Brasil - Fone: +55 71 3117-5342 eduneb.editora@gmail.com - editora@listas.uneb.br - www.eduneb.uneb.br Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 1-260, jan./jun. 2014 S U M Á R I O 9 Editorial 10 Temas e prazos dos próximos números da Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade EDUCAÇÃO: COGNIÇÃO, APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO DE PROFESSORES 15 Apresentação Kátia Maria Santos Mota e Valquíria C. M Borba 19 Leitura e escritura: processos cognitivos, aprendizagem e formação de professores Valquíria C. M. Borba; Monalisa dos Reis Aguiar Pereira; Adelino Pereira do Santos 27 A Neurociência na formação de professores: um estudo da realidade brasileira Márcia Gorett Ribeiro Grossi; Aline Moraes Lopes; Pablo Alves Couto 41 Vivência e afetação na sala de aula: um diálogo entre Vigotski e Espinosa Eliana de Sousa Alencar Marques; Maria Vilani Cosme de Carvalho 51 Repercussões de descobertas neurocientíficas ao ensino da escrita Ronei Guaresi 63 Cognoteca: uma alternativa para o exercício de habilidades cognitivas, emocionais e sociais no contexto escolar Daniela Karine Ramos 77 O impacto do bi/multilinguismo sobre o potencial criativo em sala de aula - uma abordagem via teoria dos sistemas dinâmicos Márcia Cristina Zimmer; Ubiratã Kickhöfel Alves 91 A compreensão leitora e o processo inferencial em turmas do nono ano do Ensino Fundamental Francisco Jailson Dantas de Oliveira; Maria Inez Matoso Silveira 105 Leituras compartilhadas, memória e envelhecimento Kátia Maria Santos Mota; Aurea da Silva Pereira; Maria Emília Oliveira de Santana Rodrigues 117 Literatura na Formação deProfessoras: Presente! Lícia Maria Freire Beltrão; Mary de Andrade Arapiraca 129 Modelos de formação para o ensino da escrita em Portugal e no Brasil. Luísa Álvares Pereira; Luciana Graça; Anderson Carnin 139 Aprendizagem profissional e políticas para formação continuada de professores: um estudo de caso Rosimar Serena Siqueira Esquinsani; Valdocir Antonio Esquinsani 149 Aprendizagens de professoras que ensinam matemática em uma comunidade de prática Marcia Cristina Nagy; Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 1-260, jan./jun. 2014 253 Normas para publicação ESTUDOS RESUMOS DE TESES E DISSERTAÇÕES 165 Aprendizagem, ensino e desenvolvimento profissional docente na universidade: desafios, perspectivas e trajetórias de mudança Sandra Regina Soares; Flávia Vieira 179 Profissão professor: modos de gerenciar a docência em tempos de inclusão Gisele Ruiz Silva 191 Las concepciones implícitas de los profesores universitarios sobre los requisitos para el aprendizaje Iron Pedreira Alves; Juan Ignacio Pozo 205 Desenvolvimento Profissional Docente e Narrativas em diferentes momentos da formação e atuação Rosa Maria Moraes Anunciato de Oliveira; Renata Prenstteter Gama 223 Pierre Bourdieu: da “ilusão” à “conversão” autobiográfica Maria da Conceição Passeggi 237 Educação e Direitos Humanos numa Perspectiva Intercultural Maria Elly Herz Genro; Jaime José Zitikoski 249 Narrando o exame Celpe-Bras e o convênio PEC-G: a construção de territorialidades em tempos de internacionalização Ana Cecília Cossi Bizon 250 Fluências lexicais africanas e afro-brasileiras no processo de construção identitária dos estudantes da Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos Lise Mary Arruda Dourado 251 A leitura-estar-no-mundo e a constituição do sujeito-leitor Rosemary Lapa Oliveira 252 De volta ao inferno – um caso de tradução intersemiótica entre literatura e videogame Marcos Paulo Lopes Pessoa Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 1-260, jan./jun. 2014 C O N T E N T S 11 Editorial 12 Themes and Submission Terms for the Upcoming Issues of Journal of FAEEBA – Education and Contemporaneity 15 Presentation Kátia Maria Santos Mota e Valquíria C. M. Borba 19 Reading and writing: cognitive processes, learning and teacher training Valquíria C. M. Borba; Monalisa dos Reis Aguiar Pereira; Adelino Pereira do Santos 27 Neuroscience findings and teacher training: a study of Brazilian reality Márcia Gorett Ribeiro Grossi; Aline Moraes Lopes; Pablo Alves Couto 41 Experience and affectation in the classsroom: a dialogue between Vygotsky and Espinosa Eliana de Sousa Alencar Marques; Maria Vilani Cosme de Carvalho 51 Repercussions of neuroscientific findings for teaching writing Ronei Guaresi 63 Cognoteca: an alternative to exercise cognitive, emotional and social skills at school Daniela Karine Ramos 77 The role played by bi/multilingualism in creativity in the classroom – a dynamic approach Márcia Cristina Zimmer; Ubiratã Kickhöfel Alves 91 Reading comprehension and the inferential process in the elementary school´s ninth grade Francisco Jailson Dantas de Oliveira; Maria Inez Matoso Silveira 105 Shared readings, memory and aging Kátia Maria Santos Mota; Aurea da Silva Pereira; Maria Emília Oliveira de Santana Rodrigues 117 Literature and teacher training: present!!! Lícia Maria Freire Beltrão; Mary de Andrade Arapiraca 129 Training models for teaching writing in Portugal and in Brazil Luísa Álvares Pereira; Luciana Graça; Anderson Carnin 139 Apprenticeship and policies for continuous training of teachers: a case study Rosimar Serena Siqueira Esquinsani; Valdocir Antonio Esquinsani 149 Mathematics teachers in a community of practice and learning Marcia Cristina Nagy; Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino 165 Learning, education and teaching professional development in the university: challenges, perspectives and changing trajectories Sandra Regina Soares; Flávia Vieira EDUCATION: COGNITION, lEARNING AND TEAChER FORMATION Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 1-260, jan./jun. 2014 257 Instructions for publication 179 The teaching profession: some ways of managing teaching in times of inclusion Gisele Ruiz Silva 191 The implicit conceptions of university professors about the requirements for learning Iron Pedreira Alves; Juan Ignacio Pozo 205 Professional development of teachers and narratives at different times at teacher education Rosa Maria Moraes Anunciato de Oliveira; Renata Prenstteter Gama 223 Pierre bourdieu: from “illusion” to autobiographical “conversion” Maria da Conceição Passeggi 237 Human rights education from an intercultural perspective Maria Elly Herz Genro; Jaime Zitikoski ThESIS AND DISSERTATION ABSTRACTS 249 Celpe-Bras and PEG-G: the building of territorialities in times of internationalization Ana Cecília Cossi Bizon 250 African and Afro-Brazilian lexicon in the process of students’ identity construction at “Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos” Lise Mary Arruda Dourado 251 The being-in-the-world Reading and the constitution of the reading subject Rosemary Lapa Oliveira 252 Back to the inferno – a case of intersemiotic translation between literature and videogame Marcos Paulo Lopes Pessoa 9Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, jan./jun. 2014 EDITORIAl O número temático 41 da Revista da FAEEBA-Educação e Contemporaneidade explo- ra um tema complexo e atual que se impõe ao debate acadêmico na contemporaneidade, abarcando o campo da neurociência cognitiva na área educacional. Oportunamente, esta publicação põe em destaque a relevância desse tema para a área de formação inicial e continuada de professores e, ainda, evidencia a necessidade de se incrementar a pesquisa nesse campo de conhecimento que possa contribuir decisivamente, dentre outros aspectos, para incluir esta discussão nas matrizes curriculares e fortalecer a prática pedagógica. O tema da cognição e da natureza da aprendizagem humana não é recente, tendo desafiado diversos pensadores desde a Grécia antiga. Entretanto, foi o surgimento da ciência cognitiva que proporcionou o aprofundamento dos principais temas desse novo campo, como a natureza da relação mente-cérebro, da linguagem e da mente, as pes- quisas em inteligência artificial e as contribuições desse conhecimento para as novas formas de cognição. A Filosofia, nesse novo cenário de ampliação das ciências cognitivas, propôs uma linha de pesquisa designada como “Filosofia da Mente”. No âmbito da Filosofia da mente os temas da neuroética e da neuromoral, têem contribuído para investigar a relação e os limites entre a neurofisiologia do cérebro e as escolhas que fazemos. No campo do Direito, organizou-se uma linha de pesquisa designada como Neurodireito, que se preocupa com a relação entre neurobiologia e a estrutura psíquica da norma. Se para esses campos não é mais possível desconsiderar a importância da relação cérebro-conhecimento-atitudes, a afirmação torna-se mais verdadeira para a Educação. Os estudos atuais advindos da psicologia cognitiva e do avanço da neurociência levam ao reconhecimento da complexidade do ser humano, levando a uma nova visão sobre a relação cérebro-linguagem-conhecimento, diferente daquela linear e mecanicista, pois os estudos e pesquisas nessas áreas mostram a importância de considerar a interação entre os aspectos biológicos, ambientais e interacionais. Os artigos reunidos neste número chegam ao público logo depois da Revista da FAEEBA ter coordenado com êxito, no período de 22 a 23 de abril do corrente, o VI Encontro dos Editores de Periódicos da Área de Educação dasRegiões Norte e Nordeste, objetivando discutir a política editorial e o acesso aberto, com a participação de edito- res de dez estados, no intuito de intercambiar experiências contextualizadas e atualizar conhecimentos de editoração na área educacional. Neste número entregamos aos leitores um conjunto de textos que, de forma original e consistente, enfrentaram o desafio da pesquisa sobre a relação entre cognição e apren- dizagem. Boa leitura! Tânia Regina Dantas Editora Geral da Revista da FAEEBA Liége Maria Sitja Fornari Editora Executiva da Revista da FAEEBA 10 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, jan./jun. 2014 Enviar textos para Liége Fornari: liegefornari@gmail.com / lsitja@uneb.br /refaeeba.dedc1@listas.uneb.br Nº Tema Alfredo Eurico Rodrigues Matta Maria Olívia Matos Oliveira Junho de 2015 Dezembro de 2015 Dezembro de 201430.05.2014 30.10.2014 30.05.2015 Educação, Mídias e Design Pedagógico Educação Popular Educação à Distância Prazo de entrega dos artigos Lançamento previsto Coordenadores 42 43 44 Luciano Sérgio Ventin Bomfim Eduardo José Fernandes Nunes Mary Valda Souza Sales Emanuel do Rosário dos Santos Nonato 11Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, jan./jun. 2014 This 41st edition of the Journal of FAEEBA – Contemporary Education explores a complex and contemporary theme that has become an important issue in the academic field nowadays, the cognitive neuroscience and education. This edition luckily empha- sizes the relevance of this theme for teacher training and continuous education and it also shows the need to increase research in this field in order to contribute decisively, among other things, to include this discussion in the curricula and to strengthen the pedagogical practice. The theme of cognition and the nature of human learning are not recent; they have been a challenge to various thinkers since Ancient Greece. However, it was the emer- gence of Cognitive Science that has led to a further study of the main themes in this new field as the nature of the relationship mind-brain, of language and of mind, the artificial intelligence research, and the contributions of this knowledge to the comprehension of the acquisition of knowledge. The Philosophy, in this new era of expansion of cognitive sciences, proposed a new line of research named “Philosophy of Mind”. In this field of Philosophy of mind, themes as neuroethics and neuromoral have contributed to investigate the limits be- tween the brain neurophysiology and our choices. In the field of Law, there is a line of research named Neurolaw that studies the relationship between neurophysiology and the psychic structure of standards. Once in these fields it is not possible to disregard the importance of the relationship among brain-knowledge-attitudes, the more this is true for education. Recent studies from cognitive psychology and from advances in neuroscience led to the recognition of the complexity of the human being, resulting in a new way of viewing the relationship among brain-language-knowledge, somewhat different from the one that was linear and mechanistic. Studies and researches in these areas show how important it is to understand the relationship among biological, environmental and interactional aspects. The papers in this issue reach out to the public shortly after the Journal of FAEEBA successfully coordinated, on April 22 and 23, the VI Encontro dos Editores de Periódicos da Área de Educação das Regiões Norte e Nordeste, which was aimed at discussing the editorial policies and the open access. Editors from ten states participated from the event, exchanging experiences and knowledge of publishing in the educational area. We deliver to our readers in this edition a set of texts that, in an original and con- sistent manner, faced the challenge of researching the relationship between cognition and learning. Enjoy your reading! Tânia Regina Dantas – General Editor Liége Maria Sitja Fornari – Executive Editor 12 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, jan./jun. 2014 Email papers to Liége Fornari: liegefornari@gmail.com / lsitja@uneb.br /refaeeba.dedc1@listas.uneb.br Nº Theme Alfredo Eurico Rodrigues Matta Maria Olívia Matos OliveiraDecember 2014 December 2015 05.30.2014Education, Media and Pedagogical Design Popular Education Distance Education Submission deadline Publication date Coordinators 42 43 Luciano Sérgio Ventin BomfimEduardo José Fernandes NunesJune 201510.30.2014 05.30.201544 Mary Valda Souza Sales Emanuel do Rosário dos Santos Nonato EDUCAÇÃO: COGNIÇÃO, APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO DE PROFESSORES 15Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 15-18, jan./jun. 2014 Kátia Maria Santos Mota e Valquíria C. M. Borba Neste século XXI, com a evolução tecnológica, que permite o acesso aos processos cognitivos envolvidos na aprendizagem, possibilitando analisar e compreender como o conhecimento se dá em termos neurocientíficos, fisiológicos, e que fatores influenciam no processamento da informação, na aprendizagem, os educadores têm a tarefa de estudar, pesquisar e se atualizar a partir desses novos parâmetros de estudo. Não há mais como o educador negar os estudos neurocientíficos, a relação entre o funcionamento do cérebro e a aprendizagem. A partir desse contexto, neste número 41 trazemos estudos que discutem questões voltadas para o debate em torno da cognição, da aprendizagem e da formação de professores. Tendo em vista a discussão proposta nesta edição – Cognição, Apren- dizagem e Formação de Professores –, o primeiro artigo Leitura e escritura: processos cognitivos, aprendizagem e formação de professores, de Valquíria Claudete Machado Borba, Monalisa dos Reis Aguiar Pereira e Adelino Pereira dos Santos, traça um breve panorama das contribuições de pesquisas sobre os processos cognitivos envolvidos na aprendizagem da leitura e da escritura com base nos pressupostos científicos da neuro- ciência, enfatizando a importância desses conhecimentos para uma prática pedagógica mais significativa no desenvolvimento da leitura e da escritura. No artigo A Neurociência na formação de professores: um estudo da realidade brasileira, Márcia Gorett Ribeiro Grossi, Aline Moraes Lopes e Pablo Alves Couto discutem a importância de perceber os fundamentos sobre neurobiologia cognitiva, necessários no processo ensino e aprendizagem, e apresentam dados de pesquisa que verificaram se os cursos de Pedagogia e dos Programas Especiais de Formação Pedagógica de docentes no Brasil têm incorporado em suas propostas pedagógicas os conhecimentos sobre a neurociência, mostrando resultados que permitem afirmar que a neurociência cognitiva na área educacional ainda não é uma realidade. Refletindo sobre as contribuições de Lev Semionovich Vigotski e Baruch de Espinosa, no texto Vivência e afetação na sala de aula: um diálogo entre Vigotski e Espinosa, Eliana de Sousa Alencar Marques e Maria Vilani Cosme de Carvalho aprofundam suas reflexões em torno da teoria de Vigotski, e revelam que ele encontrou em Espinosa a sustentação filosófica que explica a relação afeto e intelecto no desenvolvimento do psiquismo humano. A partir disso, as autoras propõem um diálogo entre Vigotski, por meio da categoria vivência, e Espinosa, a partir da categoria afetação. No estudo Repercussões de descobertas neurocientíficas ao ensino da escrita, Ronei Guaresi explora descobertas das neurociências com alguma implicação com a educação, em especial com a aquisição e o aprendizado da escrita. De acordo com o linguista, o advento das tecnologias permitiu ampliar substancialmente o funcio- namento da linguagem no cérebro humano, como se aprende, processa, evoca ou se esquece o conhecimento verbal. A partir disso, Guaresi discute e especula sobre as seguintes questões: como se aprende? O que impedeou prejudica no processo de aprender coisas novas e aperfeiçoar conhecimentos que já se tem? Como o professor pode facilitar ou dificultar o aprendizado de seus alunos? O autor defende a conside- ração de achados neurocientíficos no ensino de língua materna e reflexão da matriz curricular dos cursos de licenciatura. Em Cognoteca: uma alternativa para o exercício de habilidades cognitivas, emo- cionais e sociais no contexto escolar, Daniela Karine Ramos, a partir da concepção de cognoteca, um acervo de materiais e jogos que exercitam habilidades emocionais, 16 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 15-18, jan./jun. 2014 Apresentação cognitivas e sociais, que permite a proposição de atividades curriculares e extracur- riculares, contribuindo para fortalecer o enfoque globalizador de educação, apresenta os jogos cognitivos como recurso didático ao exercício dessas habilidades. Seu estudo partiu da proposição de atividades na cognoteca e observações realizadas no atendi- mento de turmas do Ensino Fundamental. No artigo O impacto do bi/multilinguismo sobre o potencial criativo em sala de aula – uma abordagem via teoria dos sistemas dinâmicos, Márcia Cristina Zimmer e Ubiratã Kickhöfel Alves, a partir de uma perspectiva de aquisição de linguagem baseada na Teoria dos Sistemas Dinâmicos, destacam o impacto do bi/multilinguismo na construção do conhecimento, focalizando, principalmente, as questões referentes ao controle executivo e ao potencial criativo dos aprendizes bi/multilíngues. Os au- tores, com base na discussão teórica apresentada, recomendam que se reflita sobre o papel da escola, bem como os desafios enfrentados pelo educador frente à tarefa de construção colaborativa de conhecimento. Francisco Jailson Dantas de Oliveira e Maria Inez Matoso Silveira, no artigo A compreensão leitora e o processo inferencial em turmas do nono ano do Ensino Fun- damental, tendo em vista os baixos níveis de compreensão leitora entre estudantes da escola básica no Brasil, principalmente em Alagoas, verificaram a compreensão de textos e o uso do processo inferencial entre estudantes do nono ano do ensino funda- mental, em três escolas públicas e três escolas particulares de Maceió (AL), durante o 2º semestre de 2012. Conforme os dados da pesquisa, os autores encontraram um nível elevado de déficit na compreensão leitora de estudantes das escolas públicas, significativamente maior do que dos estudantes das escolas particulares, sendo que nestas houve maior problema com questões que demandavam ativação do conhecimento prévio para consolidar as estratégias inferenciais, essenciais à leitura fluente e produtiva. O texto intitulado Leituras compartilhadas, memória e envelhecimento, de autoria de Kátia Maria Santos Mota, Áurea da Silva Pereira e Maria Emília O. de Santana Rodrigues, discute a problemática memória e envelhecimento e apropria-se das prá- ticas de leitura literária como uma atividade propulsora da socialização de eventos pessoais / coletivos, os quais contribuem para o fortalecimento das identidades e da solidariedade em um grupo de leitoras idosas. As limitações da memória indicam ser minimizadas a partir das (re)descobertas da leitura do texto literário e do reconheci- mento de si nas trajetórias de vida. Lícia Beltrão e Mary Arapiraca, ao produzirem o artigo Literatura na formação de professoras: presente!, nos apresentam uma possibilidade de encarar a formação docente em toques mágicos, conciliando cognição e afeto, razão e coração. A proposta em foco não se sustenta em pilares metodológicos preconcebidos; ao contrário, as autoras acreditam no respeito à liberdade das professoras no sentido de avançar nos seus conhecimentos pedagógicos em consonância com a verdade do seu ser, da auten- ticidade do seu jeito de ser professora. Apostam, assim, no convívio com a linguagem literária como uma oportunidade de se quebrar as amarras dos conhecimentos rígidos e de experimentar as imprevisibilidades fantasiosas do universo de aprendizagens no mundo ficcional. Os autores Luísa Álvares Pereira, Luciana Graça e Anderson Carnin se preocu- pam com as políticas educacionais concernentes à formação docente para o ensino da escrita. No artigo intitulado Modelos de formação para o ensino da escrita em Portugal e no Brasil, apresentam suas concepções referentes à temática em discussão e fazem uma reflexão sobre três projetos realizados em Portugal e no Brasil. Por meio 17Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 15-18, jan./jun. 2014 Kátia Maria Santos Mota e Valquíria C. M. Borba de uma análise comparativa dos três modelos de formação docente, identificam as dimensões responsáveis pelos resultados positivos dos projetos em foco, dentre as quais destacamos a integração entre professores e investigadores e a adoção de um modelo formativo centrado na ação didática. A partir da realização de uma pesquisa na rede pública municipal de ensino, no in- terior do Rio Grande do Sul, os autores Rosimar Serena Siqueira Esquinsani e Valdocir Antonio Esquinsani desenvolvem uma reflexão sobre as avaliações dos professores acerca dos eventos de formação continuada nos quais atuaram. A partir dos resultados encontrados, ao longo de quinze anos de pesquisa, o artigo intitulado Aprendizagem profissional e políticas para formação continuada de professores: um estudo de caso defende a formação continuada como qualificação profissional, tomando como base a cognição e aprendizagem do adulto/profissional em prol do aprimoramento e (re) significação do ato pedagógico. Tomando como cenário pedagógico a formação de uma comunidade de prática na qual se busca compreender e compartilhar as aprendizagens relacionadas ao conheci- mento profissional do professor, o artigo Aprendizagens de professoras que ensinam matemática em uma comunidade de prática, de autoria de Marcia Cristina Nagy e Márcia Cristina de Costa Trindade Cyrino, analisa a atuação de nove professoras nesse processo formativo. Trata-se de uma experiência de formação continuada, com ênfase na produção de relatos e análises de relatos do desenvolvimento de tarefas em sala de aula. Os processos de partilha, análise e reflexão em um ambiente colaborativo permitiram que as professoras repensassem e modificassem suas práticas de ensino de matemática. Preocupadas em refletir sobre a docência universitária, na intenção de propor recon- figurações para a formação docente à luz de um referencial humanista e democrático, Sandra Regina Soares e Flávia Vieira apresentam o artigo Aprendizagem, ensino e desenvolvimento profissional docente na universidade: desafios, perspectivas e tra- jetórias de mudança. Duas experiências na docência universitária, em Portugal e no Brasil, são analisadas positivamente em decorrência de se constituírem em políticas institucionais que incentivam e apoiam o caráter de indagação e de transformação da docência crítica. As autoras acreditam que podemos desenvolver modos solidários de trabalho acadêmico, associados às rotinas educacionais mais coerentes com o ser/ fazer docente na perspectiva emancipatória da sociedade. No artigo intitulado Profissão professor: modos de gerenciar a docência em tempos de inclusão, a autora Gisele Ruiz Silva analisa o discurso da inclusão escolar a partir do perfil de docência que caracteriza o professor-inclusivo. Toma como objeto de análise reportagens da Revista Nova Escola (2008-2013), fazendo o mapeamento das enunciações discursivas no decorrer desse período. Os resultados apontam para uma mudança do foco da discursividade na qual a inclusão deixa de ser uma possibilidade e passa a ser uma realidade escolar mais natural, centralizando-se na postura docente com características que proporcionam estratégias pedagógicas que permitem envolver todos os alunos, independente das suas especificidades. Pensando nas concepções dos professores universitários sobre a relação entre osrequisitos para a aprendizagem apresentados pelos alunos e a aprendizagem das dis- ciplinas, Iron Pedreira Alves e Juan Ignacio Pozo, em Las concepciones implícitas de los profesores universitarios sobre los requisitos para el aprendizaje, analisam essa relação com base nas teorias implícitas sobre ensino-aprendizagem, e avaliam as di- ferenças entre as concepções de professores de psicologia da educação e professores de outras disciplinas de cursos de formação docente. 18 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 15-18, jan./jun. 2014 Apresentação Baseadas em experiências de uma pesquisa colaborativa, as autoras Rosa Maria Moraes Anunciato de Oliveira e Renata Prenstteter Gama apresentam o artigo Desen- volvimento profissional docente e narrativas em diferentes momentos da formação e atuação, no qual relatam a atuação dos participantes da pesquisa na produção de narrativas de processos formativos. As escritas dos participantes, complementadas com a transcrição das filmagens dos encontros presenciais, foram analisadas pelo grupo nos momentos de leitura, discussão e problematização das questões emergentes em referência à docência. A análise coletiva das narrativas resultou em revisões de crenças e atitudes, assim como de reelaboração de saberes, habilidades e competências. Os espaços das universidades são valorizados como promotores da formação docente, inicial e continuada, com ênfase na abordagem reflexiva em grupos colaborativos. A seção “Estudos” apresenta dois artigos. O ensaio produzido por Maria da Con- ceição Passeggi, Pierre Bourdieu: da “ilusão” à “conversão” autobiográfica, analisa três produções de Bourdieu no sentido de demarcar a trajetória do autor em referência aos estudos biográficos. Passeggi analisa o pensamento bourdieusiano, seguindo o percurso cronológico das obras, em três momentos: iniciando com a “crítica” às histórias de vida, passando pela postura de “adesão” ao método biográfico e, final- mente, chegando à sua “conversão” ao autobiográfico. O segundo artigo, Educação e direitos humanos numa perspectiva intercultural, de Maria Elly Herz Genro e Jaime Zitkoski, apresenta reflexões sobre Direitos Humanos numa perspectiva intercultural relacionada aos aspectos políticos e filosóficos no âmbito educacional. Conforme os autores, é necessário o fortalecimento da temática dos Direitos Humanos na educação, tendo em vista o contexto social de atuação de cada docente em sua prática educativa e sua reflexão pautada por perspectivas sociais, políticas e filosóficas, e destacam a urgência de ressignificar a concepção de Direitos Humanos a partir da perspectiva intercultural e emancipatória da realidade educacional. Ainda neste número, trazemos três resumos de pesquisas desenvolvidas no âmbito do doutorado e uma no do mestrado. O resumo de tese de Ana Cecília Cossi Bizon refere-se à pesquisa Narrando o exame Celpe-Bras e o convênio PEC-G: a construção de territorialidades em tempos de internacionalização. O resumo de tese de Lise Mary Arruda Dourado apresenta a síntese da pesquisa sobre Fluências lexicais africanas e afro-brasileiras no processo de construção identitária dos estudantes da Escola Municipal Eugênia Anna dos Santos. E, por fim, o resumo de tese de Rosemary Lapa Oliveira apresenta o seu trabalho sobre A leitura-estar-no-mundo e a constituição do sujeito-leitor. A dissertação de Marcos Paulo Lopes Pessoa, intitulada De volta ao inferno – um caso de tradução intersemiótica entre literatura e videogame, se propôs a investigar o processo de tradução entre literatura e videogame. Agradecemos a todos que enviaram seus artigos – publicados ou não –, bem como aos pareceristas e demais colaboradores desta edição. Esperamos que os textos aqui reunidos contribuam para a discussão em torno da temática cognição, aprendizagem e formação de professores e suscitem novas reflexões, colaborando com a área da educação e com o fortalecimento dos estudos advindos da neurociência e das reflexões sobre os processos envolvidos na aprendizagem nos cursos de formação de professores. Boa leitura!!! Kátia Maria Santos Mota Valquíria C. M. Borba 19Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 19-26, jan./jun. 2014 Valquíria Claudete Machado Borba; Monalisa dos Reis Aguiar Pereira; Adelino Pereira dos Santos lEITURA E ESCRITURA: PROCESSOS COGNITIVOS, APRENDIZAGEM E FORMAÇÃO DE PROFESSORES Valquíria Claudete Machado Borba∗ Monalisa dos Reis Aguiar Pereira∗∗ Adelino Pereira dos Santos∗∗∗ RESUMO Este artigo tem por objetivo geral traçar um breve panorama das contribuições de pesquisas sobre os processos cognitivos envolvidos na aprendizagem da leitura e da escritura com base nos pressupostos científicos da neurociência, enfatizando a importância desses conhecimentos para uma prática pedagógica mais significativa no desenvolvimento da leitura e da escritura. Para isso, buscamos na teoria conexionista os conceitos fundamentais para a compreensão da perspectiva neurocientífica de aquisição da linguagem. Palavras-chave: Processos cognitivos. Leitura. Escritura. Prática pedagógica. ABSTRACT READING AND wRITING: COGNITIvE PROCESSES, LEARNING AND TEAChER TRAINING This paper aims to present a general view of the contributions and researches on cognitive processes of reading and writing learning based on neuroscience and emphasizing the importance of this knowledge for meaningful pedagogical practice on the development of reading and writing. For that, we bring fundamental concepts for comprehending the neuroscience perspective of language acquisition according to the connectionist approach. Keywords: Cognitve processes. Reading. Writing. Pedagogical practice. ∗ Doutora em Letras e Linguística. Professora Adjunta do curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus I. Professora do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) do Campus V da UNEB. Líder do Grupo de Estudos em Educação e Linguagem (GEEL/UNEB). Endereço para correspondência: Rua Silveira Martins, 2555, Cabula, Salvador – BA. CEP: 41150-000. valmborba@hotmail.com ∗∗ Doutora em Letras. Professora Assistente do curso de Pedagogia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus I. Professora do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) do Campus V da UNEB. Líder do Grupo de Estudos em Educação e Linguagem (GEEL/UNEB). Endereço para correspondência: Rua Silveira Martins, 2555, Cabula, Salvador – BA. CEP: 41150-000. mrapereira@uneb.br ∗∗∗ Doutor em Letras. Professor Adjunto do curso de Letras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus V. Professor e coordenador do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) do Campus V da UNEB. Endereço para correspondência: Loteamento Jardim Bahia s/n, Santo Antônio de Jesus – BA. CEP: 44574-005. adesantos@uneb.br 20 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 19-26, jan./jun. 2014 Leitura e escritura: processos cognitivos, aprendizagem e formação de professores Introdução Nas últimas décadas, os estudos neurocientíficos avançaram muito e, hoje, temos um conhecimento profundo do funcionamento do cérebro, consequen- temente, da aquisição da linguagem, dos processos cognitivos envolvidos no desenvolvimento da lei- tura e da escritura1. E, a partir dessa compreensão, estudos têm sido realizados sobre a aprendizagem da leitura e da escritura, visando verificar estraté- gias que facilitem o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Para nossa discussão, trazemos dados de alguns estudos da última década sobre leitura e escritura, com base no paradigma conexionista, que concebe a aprendizagem como o estabelecimento de novas conexões neuroniais, tendo como objetivo traçar um breve panorama das investigações sobre as relações entre cognição e aquisição do conhecimento, mais especificamente da leitura e da escritura. As pesquisas atuais apontam para a importância do vínculodos estudos da educação e da linguística com os achados da neurociência, possibilitando um arcabouço teórico e metodológico para a investi- gação da cognição, visando o desenvolvimento de estratégias de ensino-aprendizagem mais eficazes. Iniciamos, então, nossa discussão com um rápido panorama das ciências da cognição. Abordamos, em seguida, a importância dos estudos conexio- nistas e das pesquisas sobre leitura e escritura com base nas descobertas da neurociência, mostrando suas contribuições para o ensino-aprendizagem da leitura e da escritura. Nessas pesquisas, os estudos sobre memória, aprendizagem de língua materna e de língua estrangeira, estratégias de ensino da leitura e da escritura, tipo de instrução, questões como o papel da atenção, da emoção, da motivação, da interação, do objetivo, da frequência e da regu- laridade da experiência com a leitura e a escritura têm sido amplamente discutidos por vários autores como Poersch e Rossa (2007), Castro (2004, 2007a, 2007b), Zimmer (2006), Borba (2013), Floriani (2007), Sigot (2007), Gabriel (2006), Guaresi (2007), Metring (2011), Cosenza e Guerra (2011), 1 Usamos o termo “escritura” por compreender que tratamos do processo do ato de escrever, que envolve diversos fatores, sendo a análise desses fatores, qualquer conhecimento, procedimento ou fator envolvido nele, objeto de nossos estudos. Dahene (2012), entre outros tantos. Ao tratarmos dos estudos sobre aquisição do conhecimento, todos esses aspectos são importantes, e muitas pes- quisas que aliam cognição e ensino-aprendizagem têm servido como parâmetro para reflexões sobre o processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escritura. Apesar de já haver ampla literatura relacionando neurociência e ensino, tendo em vista, principalmente, o processo de ensino-aprendiza- gem da leitura e da escritura nas escolas, ainda há pouco conhecimento por parte dos professores dessa perspectiva teórica, refletindo sua formação, na qual esse arcabouço teórico é pouco discutido.2 Para início da reflexão proposta, vejamos as ciên- cias da cognição. Ciências da cognição Ao estudarmos o conhecimento, como ele acontece, é preciso ter claro a partir de que pa- radigma da cognição partirmos, pois, conforme nossa filiação teórica, teremos uma compreensão diferente dos processos analisados. No nosso es- tudo, o paradigma conexionista serve de base para nossas reflexões. Dentre os paradigmas da cognição, destacamos três: o behaviorista, o simbólico ou cognitivista e o conexionista3. No paradigma behaviorista, conforme Rossa (2004 apud BORBA, 2013, p. 31), “[...] a lingua- gem é vista como um produto decorrente de um estímulo. Assim, a aprendizagem de uma língua resume-se, nesse paradigma, ao aprendizado de um conjunto de hábitos, compreendendo um sistema de estímulo, resposta e reforço”. “O behaviorismo é um paradigma neuronial, negando a existência da mente” (TEIXEIRA, 1998 apud BORBA, 2013, p. 31). O paradigma simbólico ou cognitivista enfatiza o papel da mente na aquisição do conhecimento, distinguindo a mente do cérebro como realidades distintas, ou seja, a linguagem (realidade física) serve para expressar o pensamento (realidade 2 A esse respeito, indicamos a leitura do artigo “Neurociências e edu- cação: uma articulação necessária na formação docente” (HAMMES DE CARVALHO, 2011). 3 Para uma leitura mais detalhada sobre estes paradigmas da cognição, leia o primeiro capítulo do livro Instrução e produção textual: um estudo com contos de assombração (BORBA, 2013). 21Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 19-26, jan./jun. 2014 Valquíria Claudete Machado Borba; Monalisa dos Reis Aguiar Pereira; Adelino Pereira dos Santos mental). Para Poersch (1998, p. 40), a “idéia bási- ca da linguagem simbólica é a de que a cognição humana depende centralmente da manipulação de representações simbólicas (processadas em série) através de processos semelhantes a regras”. Esse paradigma é baseado no inatismo, teoria da aqui- sição da linguagem de orientação racionalista, e na linha filosófica do dualismo. O ambiente, nesse paradigma, apresenta um papel muito menor na maturação da linguagem, pois esta viria de uma base genética principal (BORBA, 2013). Já o paradigma conexionista busca “[...] explicar os processos mentais com base em configurações estabelecidas ‘a doc’ nas redes neuroniais. Pleiteia a elaboração de configurações internas com base em processamento de distribuição em paralelo. Ad- quirir conhecimento é estabelecer novas conexões neuroniais” (POERSCH, 1998, p. 40). Ao falarmos de aprendizagem, vemos, então, que, no paradigma behaviorista, há ênfase no sen- tido / na experiência, na observação e imitação. No paradigma simbólico, acredita-se no inatismo, nasceríamos com uma gramática universal, que afloraria a partir dos estímulos, considerados po- bres para um aprendizado da língua em tão pouco tempo.4 Ainda neste paradigma, os conceitos são arquivados de forma estanque no cérebro, em forma de símbolos prontos e localizados. A respeito disso, o paradigma conexionista contrapõe-se, pois, nessa perspectiva, com base nos estudos da neurociên- cia, o conhecimento se dá a partir dos estímulos recebidos, considerados ricos, em configurações estabelecidas ad hoc5 nas redes neuroniais, havendo um processamento distribuído em paralelo, em que as informações recuperadas são diretamente relacionadas à experiência de cada pessoa, sendo sempre diferente, mas apresentando traços comuns que possibilitam a comunicação. A aprendizagem se dá, assim, por meio de processos associativos neuroniais (BORBA, 2013). E, para que os proces- sos associativos neuroniais ocorram, vários fatores estão envolvidos: conhecimento prévio, emoção, 4 Nesse paradigma, considera-se que a língua é muito complexa e que não seria possível um bebê aprender em tão exíguo tempo a sua estrutura e usos. Por isso a crença em uma gramática universal, em um dispositivo genético, inato, que afloraria, permitindo, assim, a aquisição linguística pela criança em um tempo considerado curto, os primeiros anos de vida. 5 No momento da enunciação. atenção, objetivo, frequência e regularidade da experiência, interação etc. Nessa direção, a neurociência amplia a com- preensão dos aspectos cognitivos e biológicos que afetam esses processos associativos neuroniais. De posse dos conhecimentos desses aspectos cognitivos e biológicos, várias pesquisas sobre o ensino-aprendizagem da leitura e da escritura têm sido conduzidas. No Brasil, encontramos resultados significativos dessas pesquisas, que trataremos na seção a seguir. É importante ressaltar que ainda há muito mais estudos sobre os processos envolvidos na leitura do que na escritura. leitura: aspectos cognitivos Para iniciar esta seção trazemos algumas consi- derações de um artigo de Gabriel (2006) em que a autora questiona o que o corpo/cérebro faz quando se lê, como se dá a relação leitura-compreensão e como avaliar a compreensão leitora. Para a pesquisadora, a decifração, etapa que deve estar superada para um leitor proficiente, é uma “habi- lidade construída através de um longo processo de alfabetização e letramento” (SOARES, 2004 apud GABRIEL, 2006, p. 77), não sendo inata, e sim influenciada pelo processo de letramento, ou seja, a leitura é um produto cultural desde seu primeiro nível. O que diferencia o ser humano das outras espécies, então, é essa capacidade de “construir ou recuperar significados a partir de um conjunto de símbolos ou signos” (GABRIEL, 2006, p. 77). E essa capacidade simbólica, conforme a autora, se desenvolve “à medida que o indivíduo interage em uma sociedade que utiliza de símbolos de diversas naturezas, entre eles a linguagem verbal e escrita” (GABRIEL, 2006, p. 79). A partir de suas reflexões, Gabriel (2006) pon- tua: a) a diferença entre um leitor proficiente e um principiante, pois o tempo e esforço demandadosnão são os mesmos; b) os diferentes níveis de compreensão, que dependerão do objetivo, do co- nhecimento prévio, da familiaridade com o código escrito, com o gênero textual etc. A compreensão, para a professora, [...] prevê a integração de elementos da memória de longo prazo do leitor aos elementos trazidos pelo 22 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 19-26, jan./jun. 2014 Leitura e escritura: processos cognitivos, aprendizagem e formação de professores texto [...]. É necessário que o leitor tenha uma atitude ativa de cooperação para a construção da estrutura, a fim de que seja capaz de fazer as devidas inferências, de identificar ironias e, principalmente, de aprender através da leitura. (GABRIEL, 2006, p. 81). Para que seja capaz de construir significado, atividade de natureza cognitiva, o leitor precisa “ativar os conhecimentos armazenados, processar diferentes tipos de informações (ortográficas, sintá- ticas, semânticas, pragmáticas), relacionar os dados novos aos pré-existentes na memória” (CASTRO, 2007a, p. 85-86). Para isso, várias habilidades são necessárias: a) linguística: habilidades referentes aos constituintes e ao funcionamento da língua; b) textual: habilidades relativas à organização das sequências de enunciados que compõem os textos; c) referencial: habilidades relacionadas às experiên- cias do indivíduo e seu conhecimento prévio; d) de relação: habilidades relativas às regras envol- vidas nas relações interpessoais, considerando os papéis e intenções dos participantes; e) situacional: habilidades relativas aos fatores exter- nos (sociais, culturais e circunstanciais) que podem afetar a comunicação. (CASTRO, 2007a, p. 88). Ainda, a leitura “envolve conhecimento e ex- periência no uso da língua e do sistema pragmá- tico de usos e convenções ligados à comunicação linguística e conhecimentos referentes ao tema do texto” (CASTRO, 2007a, p. 88), assim como a identificação da temática e reconhecimento das relações entre as sequências do texto, diferenciando os tipos e categoria textuais. Todas essas informações sobre o que envolve a leitura, a compreensão leitora, vão ao encontro do que é proposto no paradigma conexionista, ou seja, a leitura é “basicamente uma questão de processamento, cuja eficiência vai depender da ex- periência lingüística do indivíduo. Essa experiência é a responsável, em última instância, pelo rápido acesso – e ativação – da informação já codificada em nodos neuroniais” (ZIMMER, 2006, p. 55). Tratando em termos cognitivos, podemos dizer, então, com base em Zimmer, Blatskowski e Gomes (2004), que a leitura é atividade subdividida em seis áreas de habilidades e conhecimento: a) habilidades automáticas de reconhecimento de palavras; b) conhecimento estrutural e de vocabulário; c) conhecimento acerca da estrutura formal do discurso; d) conhecimento prévio de mundo; e) habilidades de síntese e avaliação; f) conhecimento metacognitivo e de monitoramento de habilidades. Ainda, um leitor proficiente integra natural- mente as estratégias ascendente (bottom-up) e descendente (top-down) de leitura, conforme seus objetivos e necessidades, compensando as defici- ências em um nível por meio de conhecimentos construídos a partir de outros níveis – como o conhecimento do contexto (ZIMMER; BLATSKO- WSKI; GOMES, 2004). Numa perspectiva conexionista, de acordo com Zimmer, Blatskowski e Gomes (2004), ao tratarmos da leitura, é preciso compreender que: a) A compreensão leitora resulta da integração si- multânea entre diferentes níveis de processamento da informação; b) Há interatividade entre o processamento simultâ- neo de diferentes estímulos, como o visual, traduzido no sistema de escrita alfabético, o fonológico e o semântico; c) Efeitos de regularidade /consistência e frequência influenciam diretamente na compreensão; d) A compreensão em leitura é basicamente uma questão de processamento, cuja eficiência vai de- pender da experiência linguística e extralinguística do indivíduo; e) A compreensão em leitura é única, uma vez que cada sujeito possui suas próprias estratégias de integração das informações textuais à sua rede de conhecimentos que foi construída a partir da sua própria subjetividade; f) A própria percepção do texto será singular e estará em consonância com o dado já experienciado e en- gramado em sua rede de conhecimentos e emoções. g) O processo de ler é eminentemente ativo. Logo, o professor deve auxiliar o aluno a tornar-se um investigador diante do texto, va- 23Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 19-26, jan./jun. 2014 Valquíria Claudete Machado Borba; Monalisa dos Reis Aguiar Pereira; Adelino Pereira dos Santos lorizando o seu conhecimento, auxiliando-o na tarefa de exame e reelaboração do dado frente ao novo por meio da manipulação cognitiva que caracteriza sua subjetividade (ZIMMER; BLATSKOWSKI; GOMES, 2004). A partir do exposto, citamos algumas pesquisas que têm analisado aspectos cognitivos envolvidos na leitura, importantes para a compreensão da lei- tura como uma atividade altamente complexa, em que vários fatores estão envolvidos. Sigot (2007) apresenta uma pesquisa sobre dife- renças na emergência das representações semânti- cas na leitura de alunos que aprendem inglês como língua estrangeira no Brasil e nos Estados Unidos, mostrando que “o padrão de input fornecido por ambientes distintos afeta a habilidade leitora de alunos brasileiros aprendendo língua estrangeira no Brasil e nos Estados Unidos” (SIGOT, 2007, p. 316). Para a autora, isso sinaliza que “diferentes orientações teóricas devam ser adotadas de acordo com o ambiente onde a língua é aprendida”. (SI- GOT, 2007, p. 316). Castro (2007b) realizou uma pesquisa sobre o papel da emoção na memória relacionada à leitura. Entre os dados encontrados, a pesquisa- dora verificou que trechos emocionantes são mais recordados e melhor. Também verificou que os relatos dos sujeitos da pesquisa não representavam uma macroestrutura dos textos lidos, contrariando a ideia de que armazenamos apenas por meio de macroestruturas textuais. Esses estudos nos mostram a complexidade envolvida na leitura, em que vários processos cognitivos estão envolvidos. Práticas pedagógicas de leitura devem partir desses conhecimentos na direção das várias conexões que podem ser esta- belecidas nas redes neuroniais. Podemos ver que o ambiente, o input é fundamental na aprendizagem, e que a emoção apresenta um papel importante na recordação. Os estudos cognitivos conexionistas ressaltam ainda o papel da atenção (ALVES; ZIMMER, 2005), da frequência e da regularidade com que os conteúdos são trabalhados, o papel do conhe- cimento prévio, do tipo de instrução, do objetivo etc. na leitura e na escritura. A seguir trataremos deste último tópico. Escritura: processos cognitivos A escritura, assim como a leitura, envolve vários aspectos cognitivos. Contudo, há menos estudos sobre os processos cognitivos envolvidos na escritura do que as pesquisas sobre leitura. Para Borba (2013, p. 72), Se a compreensão em leitura é uma questão de processamento que depende da experiência linguís- tica e extralinguística prévia do indivíduo, do que aprendeu, do que memorizou, das associações que construiu, a escritura também depende muito da ex- periência com modelos de gêneros textuais. Assim, a produção textual também depende do processamen- to, da exposição a um input significativo que chame a atenção para a sua constituição, sua função, sua importância, de forma que o indivíduo memorize, guarde informações referentes a determinados gê- neros textuais e consiga acessá-las quando preciso, fazendo as devidas relações entre o objetivo que tem ao escrever e o conhecimento prévio necessário para atingir esse objetivo. Segundo Borba (2013), a experiência, a memó- ria implícita e explícita, os dados armazenados na memória são fundamentaispara escrever determi- nado texto. Cabe à escola oferecer experiências de qualidade para o desenvolvimento tanto da leitura como da escritura. Em sua pesquisa, Borba (2013) mostra a importância do tipo de instrução, implí- cita ou implícita e explícita,6 e do conhecimento do gênero textual que se propõe ensinar para o desenvolvimento da escritura. Os dados relatados na pesquisa, feita com alunos de 9º ano, revelaram que quando recebem instrução implícita e explícita sobre a composição do gênero textual em estudo, ou seja, quando são trabalhadas explicitamente as características dos gêneros textuais, levando à re- flexão sobre sua composição, o desenvolvimento da escritura é melhor. Conforme Borba (2013, p. 176), “[...] o fator instrução exerce um papel importante no desenvolvimento da produção textual, pois, ao identificar características antes não notadas, o aluno é levado a apreendê-las e aplicá-las ao produzir seus textos”. 6 Instrução implícita caracteriza-se pela exposição ao conteúdo, no caso ao gênero textual, sem explicitar suas características. Instrução implícita e explícita caracteriza-se, aqui, pela reflexão sobre a com- posição do gênero textual durante as atividades de forma explícita. 24 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 19-26, jan./jun. 2014 Leitura e escritura: processos cognitivos, aprendizagem e formação de professores Outro estudo pautado no paradigma conexio- nista de aprendizagem é o de Floriani (2007), que mostrou a importância da exposição ao input para o desencadeamento da aprendizagem de estruturas complexas da língua materna. Por meio de ativida- des de leitura que continham construções passivas, alunos de 4ª série (hoje, 3º ano) do ensino funda- mental, sujeitos do grupo experimental, passaram a utilizá-las em suas produções textuais. Esse es- tudo mostra a importância da exposição ao objeto de estudo, do input. Para a autora, “A cada input de sentença na voz passiva captado pelo sujeito, sinapses relativas a essa estrutura são reforçadas, aumentando a probabilidade de uso correto e pre- ferência por essa construção” (FLORIANI, 2007, p. 143-144). Essa relação entre leitura e escritura também é reforçada por Guaresi (2007) na sua pesquisa sobre a influência da experiência da leitura no desempenho em produção escrita. Nos dados da sua análise, em que verificou a correlação entre tempo de leitura diária, uso de elementos coesivos, riqueza vocabular e inadequações ortográficas, o autor concluiu que a experiência em leitura é de- terminante na riqueza vocabular, na ortografia e na coesão textual. Para o autor, A leitura parece ser um processo privilegiado de reforços ou alterações sinápticas, o que constitui, de fato, a aprendizagem para o conexionismo. A leitura frequente faz com que as sinapses se tornem mais fortes, por meio da repetição dos estímulos. As sinapses, à medida que são reforçadas, automatizam os processos e permitem que o leitor faça leituras com grau de aproveitamento cada vez melhor. Decorre daí, que leitores frequentes e proficientes têm melhores oportunidades de apresentar maior adequação ortográfica, maior riqueza vocabular, ou seja, apresentar melhor desempenho em produção escrita. (GUARESI, 2007, p. 172). Tanto o estudo de Floriani quanto o de Guaresi reforçam a ideia de exposição citada por Borba. Os processos cognitivos envolvidos na leitura e na escritura vão depender muito do grau de exposição implícita e implícita e explícita que os alunos ex- perienciam ao longo da vida. Não só disso, mas de uma série de outros fatores como o conhecimento prévio, o objetivo, a atenção, a emoção etc., já citados neste artigo. Vejam que as pesquisas sobre escritura perpas- sam a leitura, impossível separá-las, embora o foco tenda mais para uma das atividades. Ainda sobre produção textual, citamos o estudo de França (2006), que investiga o papel da memória na produção do gênero textual resumo. Nessa pes- quisa, sem instrução explícita nenhuma, a autora verificou qual compreensão três alunas tinham do gênero resumo. Por meio da produção de resumos orais, escritos e entrevistas semiestruturadas, ao analisar os dados, a pesquisadora evidenciou que Embora o resumo seja bastante necessário no âmbito escolar, observamos que a definição adotada neste trabalho não foi apreendida. Verificamos que a von- tade de externar a opinião própria e de confrontá-la com o autor fez com que não houvesse fidelidade ao texto original e, sim, a reprodução de idéias comuns ou críticas ao falado anteriormente por alguém. Verificamos que a memória atua diretamente na produção do resumo e que a sua elaboração nem sempre reflete a concepção que se tem do gênero. As diferentes escolhas feitas na elaboração do gênero resumo são espontâneas, levando em consideração a formação acadêmica e social do indivíduo, e, apa- rentemente, seguem uma lógica interna escolhida por nós mesmos. (FRANÇA, 2006, p. 192). França (2006, p. 192) chega à conclusão de que é papel do professor “orientar os alunos na elabo- ração do gênero resumo e apresentar aos mesmos as técnicas de armazenamento e de recuperação de informações na memória, não só para facilitar a aquisição do conhecimento como tornar o aluno consciente de suas próprias escolhas”. Esses estudos apresentados aqui representam um breve panorama dos estudos que vêm sendo desenvolvidos sobre leitura e escritura numa perspectiva conexionista da aprendizagem. Fran- ça (2006) expõe o que Borba (2013) mostra em seu estudo: a importância da instrução explícita. Todos os estudos aqui apresentados reforçam a importância da exposição, do input, da frequên- cia, da regularidade, da emoção, da atenção etc. Muito ainda há para se estudar e pesquisar sobre as relações entre neurociência, leitura e escritura. Neste artigo, apresentamos algumas direções atu- ais das pesquisas sobre os processos envolvidos na leitura e na escritura, buscando contribuir para uma discussão importante neste século: a relação 25Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 19-26, jan./jun. 2014 Valquíria Claudete Machado Borba; Monalisa dos Reis Aguiar Pereira; Adelino Pereira dos Santos entre neurociência e educação. Não há mais como o profissional da educação negar estes estudos. É preciso que os achados da neurociência façam parte da formação dos professores, pois a compreensão dos processos cognitivos envolvidos na leitura e na escritura, entre tantos outros aspectos não cita- dos neste estudo, lança luz para a reflexão-ação- -reflexão da prática pedagógica. Conclusão Neste artigo, propusemos um breve panorama das contribuições de pesquisas sobre os processos cognitivos envolvidos na aprendizagem da leitura e da escritura. As pesquisas, com base nos pres- supostos científicos da neurociência, mostram a importância desses conhecimentos para uma prática pedagógica mais significativa no desenvolvimento da leitura e da escritura. Estudos baseados na teoria conexionista revelam a importância do conheci- mento por parte dos professores das relações entre o funcionamento do cérebro e a aprendizagem. Como ressalta Relvas (2012, p. 16), A neurociência quando dialoga com a educação promove caminhos para o educador tornar-se um mediador do como ensinar com qualidade por meio de recursos pedagógicos que estimulem o estudante a pensar sobre o pensar. No entanto, torna-se fun- damental para o professor promover os estímulos corretos no momento certo para que se possa inte- grar, associar e entender os conteúdos propostos em sala de aula. Esses estímulos quando emoldurados e aplicados no cotidiano, podem ser transformadores em uma aprendizagem significativa e prazerosa no processo escolar. E, para isso, é importante que o professor compreenda as várias possibilidades de inter- pretação, recordação de um texto, a necessidade de uma exposição continuada e significativa dos conteúdos, a diferençaque uma exposição explí- cita pode fazer na apreensão das especificidades de um gênero textual, o papel do conhecimento prévio na aprendizagem etc. Além dessas ques- tões, muitas outras podem ser citadas, como a complexidade das tarefas propostas, o número de estímulos simultâneos, a maturidade neurológica, a integridade das vias sensoriais e das demais funções cognitivas, o nível intelectual, o nível de consciência, aspectos afetivos etc. (COSTA; MAIA, 2011), que não são discutidos aqui, mas que indicam a complexidade da cognição hu- mana, que envolve muitos fatores cognitivos, interacionais, biológicos. Embora já em voga, a discussão neurociência-educação ainda está lon- ge dos cursos de pedagogia, longe da educação. Precisamos desmistificar o estudo do cérebro e da sua relação com a aprendizagem. Infelizmente, “a crença de que o aprendizado ocorre na mente e esta não tem nada a ver com o corpo levou muitos educadores a acreditar que o estudo do corpo cabia apenas aos profissionais da área da saúde, ou quiçá, ao professor de educação física” (PINHEIRO, 2005 apud METRING, 2011, p. 12). Diríamos, ainda leva muitos profissionais da educação a ignorar os avanços neurocientíficos. Esperamos que esta provocação encontre eco, que os estudos aqui apresentados possibilitem novos diálogos e que levem à reflexão sobre o ensino-aprendizagem da leitura e da escrita no século XXI. REFERÊNCIAS ALVES, U. K.; ZIMMER, M. C. Perceber, notar e aprender: uma visão conexionista da consciência do aprendiz na aquisição fonológica da L2. In: Revista virtual de Estudos da linguagem – RevEL, v. 3, n. 5, ago. 2005. Dispo- nível em: <http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_5_perceber_notar_e_aprender.pdf>. 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Recebido em: 24.01.14 Aprovado em: 18.03.14 2727Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 27-40, jan./jun. 2014 Márcia Gorett Ribeiro Grossi; Aline Moraes Lopes; Pablo Alves Couto A NEUROCIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UM ESTUDO DA REAlIDADE BRASIlEIRA Márcia Gorett Ribeiro Grossi ∗ Aline Moraes lopes ∗∗ Pablo Alves Couto ∗∗∗ RESUMO Conhecer o funcionamento, potencialidades e limitações do sistema nervoso possibilitam atender as demandas do educador frente às dificuldades de aprendizagem, levando a uma contribuição positiva na prática pedagógica. Por isso a importância de perceber os fundamentos sobre neurobiologia cognitiva, necessários no processo ensino e aprendizagem. Nesta perspectiva, o objetivo desta pesquisa foi verificar se os cursos de Pedagogia e dos Programas Especiais de Formação Pedagógica de docentes no Brasil têm incorporado em suas propostas pedagógicas os conhecimentos sobre a neurociência. Assim, foram realizadas análises nas matrizes curriculares desses cursos. Complementando o estudo, foi feita uma consulta ao banco de Teses e Dissertações da Capes, para identificar as publicações nacionais acadêmicas sobre essa temática. Os resultados permitem afirmar que a neurociência cognitiva na área educacional ainda não é uma realidade, haja vista a falta de disciplinas relacionadas com a neurociência na maioria das matrizes curriculares dos cursos pesquisados. Os dados, portanto, indicam a necessidade de uma revisão nos currículos dos profissionais da Educação. Analisando a produção nacional sobre a neurociência na educação, percebe-se que a pesquisa sobre este tema encontra-se tímida, embora exista um interesse cada vez maior nos últimos dez anos. Palavras-chave: Prática pedagógica. Neurociência. Processo ensino e aprendizagem. Publicações nacionais. Curso de pedagogia. ABSTRACT NEUROSCIENCE FINDINGS AND TEAChER TRAINING: A STUDY OF BRAZILIAN REALITY Understanding the nervous system function, its capabilities and limitations may help educators to solve their demands through new ways of viewing their pedagogical practice when facing learning difficulties. This is why it is important to understand the ∗ Doutora em Ciência da Informação pela UFMG. Mestre em Tecnologia pelo CEFET-MG. Engenheira Eletricista pela PUC- -MG. Professora do Depto de Educação e Subcoordenadora do Mestrado em Educação Tecnológica do CEFET-MG. Membro do Grupo de Pesquisa AVACEFET do CEFET-MG. Endereço para correspondência: Av. Amazonas, 7.675 –Nova Gameleira, Belo Horizonte. Minas Gerais. CEP: 30510-000. marciagrossi@terra.com.br ∗∗ Mestranda em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG. Especialista emPROEJA pelo CEFET-MG. Graduada em Letras pela UFSJ. Membro do Grupo de Pesquisa AVACEFET do CEFET-MG. Endereço para correspondência: Av. Amazonas, 7.675 – Nova Gameleira, Belo Horizonte. Minas Gerais. CEP: 30510-000. adrenalineletras@hotmail.com ∗∗∗ Mestrando em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG. Graduado em Ciências Biológicas pela UFMG. Membro do Grupo de Pesquisa GEMATEC do CEFET-MG. Endereço para correspondência: Av. Amazonas, 7.675 – Nova Gameleira, Belo Horizonte. Minas Gerais. CEP: 30510-000. pa.couto@yahoo.com.br 28 Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 27-40, jan./jun. 2014 A neurociência na formação de professores: um estudo da realidade brasileira fundamentals of cognitive neurobiology required for teaching and learning processes. In this perspective, the objective of this study was to check whether Pedagogy courses and Special Programs for teacher training in Brazil have incorporated into their pedagogical practice the knowledge of neuroscience. Thus the curricular schedules of these courses were analyzed. In order to complement this study, thesis and dissertations from Capes were also analyzed in an attempt to identify national academic publication on this topic. The results indicate that cognitive neuroscience in education is not yet a reality, given the lack of disciplines related to neuroscience in most curricular courses analyzed. Thereby, it is necessary a revision of the curricula of teacher training courses. When we analyze the national studies on neuroscience and its application in education, it is clear that there are few researches on this topic, although there is a growing interest on it in the last ten years. Keywords: Pedagogical practice. Neuroscience. Teaching and learning processes. National publications. Pedagogy courses. 1. Introdução O Brasil tem 12,9 milhões de analfabetos, se- gundo o relatório de 2012 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). A responsabilidade por esse índice é decorrente de vários motivos. Dentre eles destacam-se os altos índices de fracasso escolar, que podem ser verificados nos resultados apresentado pelos sistemas de avaliação como a Prova AB, que é uma parceria entre o movimento independente Todos Pela Educação, o Instituto Paulo Montenegro/Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Edu- cacionais (Inep), a Avaliação da Educação Básica (Saeb) e a Prova Brasil, ambos realizados pelo Inep. Todas essas avaliações têm revelado que no ano de 2011 os alunos que chegam ao 5º ano do Ensino Fundamental não dominam as competências bási- cas de leitura, escrita e matemática, principalmente os alunos das escolas públicas. Além desses dados, a empresa Pearson apresentou em 2012 o resultado de uma pesquisa sobre habilidades cognitivas e desempenho escolar em 40 países. O Brasil ficou na penúltima colocação nesta pesquisa, que con- sidera o resultado de testes de matemática, leitura e ciências para alunos dos últimos anos do ensino fundamental, indicando que a alfabetização desses alunos não tem sido plenamente efetivada, contri- buindo para o alto índice de analfabetos brasileiros (PEARSON, 2012). Com base no cenário exposto, acredita-se que uma possibilidade para minimizar o fracasso es- colar é aceitar as diversidades presentes nas salas de aula. Os professores precisam estar capacitados para compreender e atender as diferenças cogniti- vas dos alunos de acordo com os princípios da neu- rociência, pois o conhecimento do sistema nervoso, fisiológico e patológico ajuda a melhorar as práticas educativas visando à diminuição das dificuldades de aprendizagem (ESCRIBANO, 2007). Nesta direção argumentativa, a neurociência – enquanto um ramo do conhecimento que envolve várias áreas como, por exemplo, a neurologia, a psicologia e a biologia, que possuem como tema comum de pesquisa o sistema nervoso (SN) – oferece a possibilidade de entender como ocorre o processo de aprendizagem. Embora, para que a aprendizagem aconteça, seja necessário o diálogo entre a neurociência e a pedagogia, pois esta últi- ma é a responsável pelos métodos pedagógicos de ensino. Complementando esse tema, Guerra (2010, p. 4) comenta: Os avanços das neurociências esclareceram muitos aspectos do funcionamento do SN, especialmente do cérebro, e permitiram a abordagem mais científica do processo ensino e aprendizagem. Funções relaciona- das à cognição e às emoções, presentes no cotidiano e nas relações sociais, como dormir, comer, gostar, reconhecer, falar, compreender, ter atenção, esque- cer, experimentar, ajudar, lembrar, calcular, planejar, julgar, rir, movimentar-se, trabalhar, emocionar-se, são comportamentos que dependem do funciona- mento do cérebro. Educar é aprender também. E, para entender o que ocorre com o cérebro quando uma pessoa aprende, faz-se necessário rea- lizar releituras dos teóricos da educação, associan- 2929Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade, Salvador, v. 23, n. 41, p. 27-40, jan./jun. 2014 Márcia Gorett Ribeiro Grossi; Aline Moraes Lopes; Pablo Alves Couto do-os aos estudos da neurociência; compreender a biologia do cérebro nas dimensões cognitivas, emocionais, afetivas e motoras; reconhecer que o processo de aprender está relacionado com as bases químicas e físicas na função neural do ser humano; e, como cada ser humano é único, cada cérebro é único e aprende de forma diferente. Portanto, é pre- ciso ensinar de formas diferenciadas. Dentre esses autores, destacam-se: Piaget, com seus estágios de desenvolvimento (sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal); Ausubel, com a aprendizagem significativa; Vygotsky e a zona de desenvolvimento proximal, a qual define a distância entre o desenvolvimento real da criança e o desenvolvimento potencial, que representa aquilo que ela tem potencial de aprender; e Markova, com sua teoria das linguagens naturais da mente. Desta forma, a neurociência na sala de aula retoma questões já estudadas por teóricos da psicologia e da educação, trazendo novos olhares sobre estas questões. Cabe destacar que, de acordo com Metring (2011, p. 3), os neurocientistas: [...] não estão preocupados em formular receitas, seja para a área educacional, organizacional, médi- ca ou qualquer outra. Estão, sim, preocupados em descobrir, dia após dia, coisas maravilhosas sobre a organização neuronal do ser humano e as disponibi- lizar para quem queira utilizar seus achados, mas o trabalho de articulação (no nosso caso, os processos de ensino e aprendizagem) precisa ocorrer a partir das necessidades dessas áreas e por profissionais dessas áreas. A neurociência é compreendida por 6 aborda- gens: • Neurociência molecular: investiga a quími- ca e a física envolvidas na função neural. Estuda as diversas moléculas de importân- cia funcional no SN; • Neurociência celular: considera as distin- ções entre os tipos de células no SN e como funciona cada um respectivamente; • Neurociência sistêmica: estuda as regiões do SN, de processos como a percepção, o discernimento, a atenção e o pensamento; • Neurociência comportamental: estuda a interação entre os sistemas que influenciam o comportamento, explica as capacidades mentais que produzem comportamentos como sono, emoções, sensações visuais, dentre outros; • Neurociência cognitiva: estuda as capa- cidades mentais mais complexas como aprendizagem, linguagem, memória, pla- nejamento; • Neurociência clínica: estuda as patologias do SN. O foco de investigação desta pesquisa foi a abrangência cognitiva, ressaltando que o objetivo da neurociência na educação não é propor uma nova pedagogia, mas apontar caminhos e metodologias mais adequadas no desenvolvimento da educação. Nessa perspectiva, objetivou-se verificar se os cursos de Pedagogia e dos Programas Especiais de Formação Pedagógica de docentes no Brasil têm incorporado em suas propostas curriculares os
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