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Resumo 1 Educação e trabalho

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Educação e trabalho
Aula 5
Trabalho e precarização numa ordem neoliberal
O neoliberalismo e a reestruturação produtiva da era da acumulação flexível, dotadas de forte caráter destrutivo, têm acarretado, entre tantos aspectos nefastos, um monumental desemprego, uma enorme precarização do trabalho e uma degradação crescente, na relação metabólica entre homem e natureza, conduzida pela lógica societal voltada prioritariamente para a produção de mercadorias, que destrói o meio ambiente em escala globalizada. Muitas são as formas de fetichização: desde o culto da sociedade democrática, que teria finalmente realizado a utopia do preenchimento, até a crença na desmercantilização da vita societal, no fim das ideologias. Ou ainda aqueles que visualizam uma sociedade comunicacional, capaz de possibilitar uma interação subjetiva, para não falar daqueles que visualizam o fim do trabalho como a realização concreta do reino da liberdade, nos marcos da sociedade atual, desde que um pouco mais regulamentada e regida por relações mais contratualistas. Depois de desestruturar o Terceiro Mundo e eliminar os países póscapitalistas do Leste Europeu, a crise atingiu também o centro do sistema produtor de mercadorias (Kurz, 1992). E quanto mais se avança na competitividade inter-capitalista, quanto mais se desenvolve a tecnologia concorrencial, maior é a desmontagem de inúmeros parques industriais que não conseguem acompanhar sua velocidade intensa. Entre tantas destruições de forças produtivas, da natureza e do meio ambiente, há também, em escala mundial, uma ação destrutiva contra a força humana de trabalho, que encontra-se hoje na condição de precarizada ou excluída. Se se constitui num grande equívoco imaginar-se o fim do trabalho na sociedade produtora de mercadorias e, com isso, imaginar que estariam criadas as condicões para o reino da liberdade é, entretanto, imprescindível entender quais mutações e metamorfoses vêm ocorrendo no mundo contemporâneo, bem como quais são seus principais significados e suas mais importantes consequências. No que diz respeito ao mundo do trabalho, pode-se presenciar um conjunto de tendências que, em seus traços básicos, configuram um quadro crítico e que têm direções assemelhadas em diversas partes do mundo, onde vigora a lógica do capital. O capitalismo contemporâneo, com a configuração que vem assumindo nas últimas décadas, acentuou sua lógica destrutiva. Num contexto de crise estrutural do capital, desenham-se algumas tendências, que podem assim ser resumidas:
1) o padrão produtivo taylorista e fordista vem sendo crescentemente substituído ou alterado pelas formas produtivas flexibilizadas e desregulamentadas, das quais a chamada acumulação flexível e o modelo japonês ou toyotismo são exemplos;
2) o modelo de regulação social-democrático, que deu sustentação ao chamado estado de bem estar social, em vários países centrais, vêm também sendo solapado pela (des)regulação neoliberal, privatizante e anti-social.
Duas manifestações são mais virulentas e graves: a destruição e/ou precarização, sem paralelos em toda era moderna, da força humana que trabalha e a degradação crescente, na relação metabólica entre homem e natureza, conduzida pela lógica voltada prioritariamente para a produção de mercadorias que destroem o meio ambiente. Preciso que se diga de forma clara: desregulamentação, flexibilização, terceirização, bem como todo esse receituário que se esparrama pelo “mundo empresarial”, são expressões de uma lógica societal onde o capital vale e a força humana de trabalho só conta enquanto parcela imprescindível para a reprodução deste mesmo capital. Isso porque o capital é incapaz de realizar sua autovalorização sem utilizar-se do trabalho humano. Pode diminuir o trabalho vivo, mas não eliminá-lo. Pode precarizá-lo e desempregar parcelas imensas, mas não pode extinguí-lo. Vivenciamos um quadro de crise estrutural do capital, que se abateu no conjunto das economias capitalistas a partir especialmente do início dos anos 70. Sua intensidade é tão profunda que levou o capital a desenvolver práticas materiais da destrutiva auto-reprodução ampliada possibilitando a visualização do espectro da destruição global, ao invés de aceitar as necessárias restrições positivas no interior da produção para satisfação das necessidades humanas (Mészáros, 1995). Esta crise fez com que, entre tantas outras conseqüências, o capital implementasse um vastíssimo processo de reestruturação do capital, com vistas à recuperação do ciclo de reprodução do capital e que, como veremos mais adiante, afetou fortemente o mundo do trabalho. Um segundo elemento fundamental para o entendimento das causas do refluxo do movimento operário decorre do explosivo desmoronamento do Leste Europeu (e da quase totalidade dos países que tentaram uma transição socialista, com a ex-União Soviética à frente), propagando-se, no interior do mundo do trabalho, a falsa idéia do “fim do socialismo”.
As conseqüências do fim do Leste europeu sejam eivadas de positividades (pois coloca-se a possibilidade da retomada, em bases inteiramente novas, de um projeto socialista de novo tipo, que recuse entre outros pontos nefastos, a tese staliniana do “socialismo num só país” e recupere elementos centrais da formulação de Marx), no plano mais imediato houve, em significativos contingentes da classe trabalhadora e do movimento operário, a aceitação e mesmo assimilação da nefasta e equivocada tese do “fim do socialismo” e, como dizem os defensores da ordem, do fim do marxismo. Como consequência do fim do chamado “bloco socialista”, os países capitalistas centrais vêm rebaixando brutalmente os direitos e as conquistas sociais dos trabalhadores, dada a “inexistência”, segundo o capital, do perigo socialista hoje. Um terceiro elemento fundamental para a compreensão da crise do mundo do trabalho refere-se ao desmoronamento da esquerda tradicional da era stalinista. Ocorreu um agudo processo político e ideológico de socialdemocratização da esquerda e a sua conseqüente atuação subordinada à ordem do capital. Esta opção social democrática atingiu fortemente a esquerda sindical e partidária, repercutindo, conseqüentemente, no interior da classe trabalhadora. O quarto elemento central da crise atual - que, com a enorme expansão do neoliberalismo a partir de fins de 70 e a consequente crise do welfare state, deu-se um processo de regressão da própria socialdemocracia, que passou a atuar de maneira muito próxima da agenda neoliberal. O Neoliberalismo passou a ditar o ideário e o programa a serem implementados pelos países capitalistas, inicialmente no centro e logo depois nos países subordinados, contemplando reestruturação produtiva, privatização acelerada, enxugamento do estado, políticas fiscais e monetárias, sintonizadas com os organismos mundiais de hegemonia do capital como Fundo Monetário Internacional.
A desmontagem dos direitos sociais dos trabalhadores, o combate cerrado aos sindicalismo classista, a propagação de um subjetivismo e de um individualismo exacerbados da qual a cultura “pós-moderna”, bem como uma clara animosidade contra qualquer proposta socialista contrária aos valores e interesses do capital, são traços marcantes deste período recente. Como resposta do capital à sua crise estrutural, várias mutações vêm ocorrendo e que são fundamentais nesta viragem do século XX para o século XXI. Uma delas, e que tem importância central, diz respeito às metamorfoses no processo de produção do capital e suas repercussões no processo de trabalho. Como respostas do capital à crise dos anos 70, intensificaram-se as transformações no próprio processo produtivo, através do avanço tecnológico, da constituição das formas de acumulação flexível e dos modelos alternativos ao binômio taylorismo/fordismo, onde se destaca, para o capital, especialmente, o toyotismo. O toyotismo (via particular de consolidação do capitalismo monopolísta do Japão do pós-45) pode ser entendido como uma forma de organização do trabalho que nasce a partir da fábrica Toyota, no Japão eque vem se expandindo pelo Ocidente capitalista, tanto nos países avançados quanto naqueles que se encontram subordinados. Suas características básicas (em contraposição ao taylorismo/fordismo) são:
1) sua produção muito vinculada à demanda;
2) ela é variada e bastante heterogênea;
3) fundamenta-se no trabalho operário em equipe, com multivariedade de funções;
4) tem como princípio o just in time, o melhor aproveitamento possível do tempo de produção e funciona segundo o sistema de kanban, placas ou senhas de comando para reposição de peças e de estoque que, no Toyotismo, devem ser mínimos. Enquanto na fábrica fordista cerca de 75% era produzido no seu interior, na fábrica toyotista somente cerca de 25% é produzido no seu interior. Ela horizontaliza o processo produtivo e transfere à “terceiros” grande parte do que anteriormente era produzido dentro dela.
A falácia de “qualidade total” passa a ter papel de relevo no processo produtivo. Os Círculos de Controle de Qualidade (CCQ) proliferaram, constituindo-se como grupos de trabalhadores que são incentivados pelo capital para discutir o trabalho e desempenho, com vistas a melhorar a produtividade da empresa. Em verdade, é a nova forma de apropriação do saber fazer intelectual do trabalho pelo capital. O despotismo torna-se então mesclado com a manipulação do trabalho, com o “envolvimento” dos trabalhadores, através de um processo ainda mais profundo de interiorização do trabalho alienado (estranhado). O operário deve pensar e fazer pelo e para o capital, o que aprofunda (ao invés de abrandar) a subordinação do trabalho ao capital. No Ocidente, os CCQs têm variado quanto à sua implementação, dependendo das especificidades e singularidades dos países em que eles são implementados. Esta forma flexibilizada de acumulação capitalista, baseada na reengenharia, na empresa enxuta, para lembrar algumas expressões do novo dicionário do capital, teve consequências enormes no mundo do trabalho.
1) há uma crescente redução do proletariado fabril estável, que se desenvolveu na vigência do binômio taylorismo/fordismo e que vem diminuindo com a reestruturação, flexibilização e desconcrentração do espaço físico produtivo, típico da fase do toyotismo;
2) há um enorme incremento do novo proletariado, do subproletariado fabril e de serviços, o que tem sido denominado mundialmente de trabalho precarizado. São os “terceirizados”, subcontratados, “part-time”, entre tantas outras formas assemelhadas, que se expandem em inúmeras partes do mundo. Inicialmente, estes postos de trabalho foram preenchidos pelos imigrantes, como os gastarbeiters na Alemanha, o lavoro nero na Itália, os chicanos nos EUA, os dekaseguis no Japão etc. Mas hoje, sua expansão atinge também os trabalhadores especializados e remanescentes da era taylorista-fordista;
3) vivencia-se um aumento significativo do trabalho feminino, qua atinge mais de 40% da força de trabalho nos países avançados, e que tem sido preferencialmente absorvido pelo capital no universo do trabalho precarizado e desregulamentado;
4) há um incremento dos assalariados médios e de serviços, o que possibilitou um significativo incremento no sindicalismo destes setores, ainda que o setor de serviços já presencie também níveis de desemprego acentuado;
5) há exclusão dos jovens e dos idosos do mercado de trabalho dos países centrais: os primeiros acabam muitas vezes engrossando as fileiras de movimentos neonazistas e aqueles com cerca de 40 anos ou mais, quando desempregados e excluídos do trabalho, dificilmente conseguem o reingresso no mercado de trabalho;
6) há uma inclusão precoce e criminosa de crianças no mercado de trabalho, particularmente nos países de industrialização intermediária e subordinada, como nos países asiáticos, latino-americanos etc.
7) há uma expansão do que Marx chamou de trabalho social combinado (Marx, 1978), onde trabalhadores de diversas partes do mundo participam do processo de produção e de serviços. O que, é evidente, não caminha no sentido da eliminação da classe trabalhadora, mas da sua precarização e utilização de maneira ainda mais intensificada. Em outras palavras: aumentam os níveis de exploração do trabalho.
Portanto, a classe trabalhadora fragmentou-se, heterogeneizou-se e complexificou-se ainda mais (Antunes, 1998). Tornou-se mais qualificada em vários setores, como na siderurgia, onde houve uma relativa intelectualização do trabalho, mas desqualificou-se e precarizou-se em diversos ramos, como na indústria automobilística, onde o ferramenteiro não tem mais a mesma importância, sem falar na redução dos inspetores de qualidade, dos gráficos, dos mineiros, dos portuários, dos trabalhadores da construção naval etc. Criou-se, de um lado, em escala minoritária, o trabalhador “polivalente e multifuncional” da era informacional, capaz de operar com máquinas com controle numérico e de, por vezes, exercitar com mais intensidade sua dimensão mais intelectual. E, de outro lado, há uma massa de trabalhadores precarizadados, sem qualificação, que hoje está presenciando as formas de part-time, emprego temporário, parcial, ou então vivenciando o desemprego estrutural. A lógica societal, em seus traços dominantes, é dotada, portanto, de uma aguda destrutividade, que no fundo é a expressão mais profunda da crise que assola a (des)sociabilização contemporânea, condição para a manutenção do sistema de metabolismo social do capital, conforme expressão de Mészáros (1995) e seu circuito reprodutivo. Neste sentido, desregulamentação, flexibilização, terceirização, downsizing, “empresa enxuta”, bem como todo esse receituário que se esparrama pelo “mundo empresarial”, são expressões de uma lógica societal onde tem-se a prevalência do capital sobre a força humana de trabalho, que é considerada somente na exata medida em que é imprescindível para a reprodução deste mesmo capital. Isso porque o capital pode diminuir o trabalho vivo, mas não eliminá-lo. Pode intensificar sua utilização, pode precarizá-lo e mesmo desempregar parcelas imensas, mas não pode extinguí-lo. Estas consequências no interior do mundo do trabalho evidenciam que, sob o capitalismo, não se constata o fim do trabalho como medida de valor, mas uma mudança qualitativa, dada, por um lado, pelo peso crescente da sua dimensão mais qualificada, do trabalho multifuncional, do operário apto a operar com máquinas informatizadas, da objetivação de atividades cerebrais. Tem-se, portanto, cada vez mais uma crescente capacidade de trabalho socialmente combinada, que se converte no agente real do processo de trabalho total, o que torna, segundo Marx, absolutamente indiferente o fato de que a função de um ou outro trabalhador seja mais próxima ou mais distante do trabalho manual direto (Marx, 1978). E, ao invés do fim do valor-trabalho, pode-se constatar uma inter-relação acentuada das formas de extração de mais valia relativa e absoluta, que se realiza em escala ampliada e mundializada. A eliminação do trabalho e a generalização desta tendência sob o capitalismo contemporâneo - nele incluído o enorme contingente de trabalhadores do Terceiro Mundo - suporia a destruição da própria economia de mercado, pela incapacidade de integralização do processo de acumulação de capital, uma vez que os robôs não poderiam participar do mercado como consumidores. A simples sobrevivência da economia capitalista estaria comprometida, sem falar em tantas outras consequências sociais e políticas explosivas que adviriam desta situação. Tudo isso evidencia que é um equívoco pensar na desaparição ou fim do trabalho enquanto perdurar a sociedade capitalista produtora de mercadorias e — o que é fundamental — também não é possível perspectivar nenhuma possibilidade de eliminação da classe-que-vive-do-trabalho, enquanto forem vigentes os pilares constitutivos do modo de produção do capital. O ententimento abrangente e totalizante da crise que atinge o mundo do trabalho passa, portanto, por este conjunto de problemas que incidiram diretamente no movimento operário, na medida que são complexos queafetaram tanto a economia política do capital, quando as suas esferas política e ideológia. Esta crise é particularizada e singularizada pela forma pela qual estas mudanças econômicas, sociais, políticas e ideológicas afetaram mais ou menos direta e intensamente os diversos países que fazem parte dessa mundialização do capital que é, como se sabe, desigualmente combinada. 
Aula 6
EDUCAÇÃO E TRABALHO uma relação tão necessária quanto insuficiente
Observando a dinâmica dos mercados quer seja de bens e serviços, financeiros ou de trabalho, apreende-se que algo significativo se alterou nos últimos 30 anos nas sociedades capitalistas que se reorganizam e se reestruturam no sentido de introduzir novas formas de racionalização do trabalho e da vida social. Compreende-se que esse processo revela características e contradições específicas, da mesma forma que, em outros momentos históricos, outras tantas foram observadas. Portanto, não se fala de “impactos” mas de processos expressos, neste atual contexto, pela globalização dos mercados de bens e fluxos financeiros e o acirramento da concorrência; difusão do ideário neoliberal que, contraditoriamente, requer políticas estatais que garantam a desregulamentação de normas de concorrência e direitos sociais. Nesse sentido, a concentração de capital – fusões, incorporações, privatizações – ocorre ao mesmo tempo que a força de trabalho fragiliza-se pela flexibilização, quer seja das estruturas produtivas, das formas de organização do trabalho, da própria força de trabalho, por meio do emprego/desemprego. É dentro dessa nova correlação de forças que se concretiza a lógica do “livre mercado”, sob a coordenação do sistema financeiro global. Difundem-se, cada vez mais intensamente, tecnologias produtivas apoiadas na microeletrônica como a automação, a informática, a telemática. A opção política do uso dessas tecnologias tem sido direcionada para intensificar a produtividade e a supressão do emprego. A estrutura do mercado de trabalho também tem passado por mudanças: altas taxas de desemprego são acompanhadas da crescente insegurança e precariedade das novas formas de ocupação. A flexibilização da força de trabalho (contratos de tempo parcial, subcontratação, terceirização, etc.) inscreve-se no mesmo processo que articula o discurso por maiores níveis de escolaridade para os trabalhadores que permanecem empregados e ocupam postos de trabalho considerados essenciais para os processos produtivos nos quais se inserem. É possível observar, após terem decorrido quase três décadas de mudanças nas formas de racionalização do capitalismo, que o desenvolvimento econômico não mais significa desenvolvimento social, como ocorreu em países hoje considerados desenvolvidos por um longo período (Castel, 1998). O desemprego já não é resultado da ausência de crescimento econômico, mas se tornou inerente ao próprio crescimento econômico. No Brasil, essa relação nunca havia se dado de forma intensiva; talvez a melhor expressão do avanço do capi talismo no Brasil seja justamente o registro de profunda heterogeneidade produtiva e desigualdade das relações de trabalho. O mercado de trabalho brasileiro não conseguiu estabelecer uma situação em que o emprego formal (aquele que possibilita garantias e direitos sociais) tenha se tornado algo generalizado para o conjunto da população; ao contrário, criou-se um mercado “altamente flexível” com situações completamente diferenciadas e, em grande medida, precárias. O salário mínimo foi perdendo poder de compra ao mesmo tempo que elevados índices de crescimento econômico eram registrados pelo Produto Interno Bruto; ao mesmo tempo, cada vez mais horas de trabalho eram necessárias para a compra da ração essencial. Várias contradições foram observadas e serão tomadas aqui como argumentos para questionar o consenso que a relação entre trabalho e educação parece ser portadora.
Em primeiro lugar, aponta-se o crescente desemprego de trabalhadores escolarizados, mesmo em um contexto como o brasileiro, no qual a educação ainda não é um direito conquistado por todos; e, em seguida, questiona-se essa relação a partir das desigualdades geracionais, raciais e de gênero. O desemprego crescente de trabalhadores escolarizados sobretudo nos setores mais modernos da sociedade, é tomado como um dos argumentos para tornar relativa essa perspectiva instrumental da educação que se expressa como se fosse capaz de garantir o emprego ou, até mesmo, o trabalho. O desemprego de trabalhadores, em decorrência do processo de reestruturação, acrescenta uma nova dimensão aos problemas sociais que marcam há muito o Brasil, até então, miséria, pobreza, não-acesso à educação e à saúde. Os jovens no Brasil, assim como em outros países do mundo, constituem o grupo social mais escolarizado e mais desempregado, ou, mesmo, inserido em trabalhos precários. Por exemplo, para os mais escolarizados, observase a proliferação do subemprego com a denominação estágio. Também deve ser apontada a desigualdade entre homens e mulheres, brancos e negros com o mesmo tempo de escolaridade, no mercado de trabalho, tanto em rendimentos como em condições de trabalho. A qualificação (escolaridade e formação profissional) se transformou no fetiche capaz de romper esse processo. Somas vultosas estão sendo gastas no mundo inteiro para requalificar trabalhadores. Os resultados são pífios se mensurados a partir da reinserção no mercado de trabalho, como atestam pesquisas em vários países. Um argumento substantivo apontado para tornar relativa a relação entre escolaridade e inserção no mercado de trabalho é encontrado na condição desigual vivida pela mulher. 
No Brasil, as mulheres também vivenciaram, nos últimos 30 anos, inegáveis ganhos sociais, políticos e econômicos observados em vários estudos referentes a outros contextos nacionais, sobretudo nos países desenvolvidos. A segregação sexual no trabalho persiste como um fenômeno mundial. O inegável crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho e a escolaridade elevada alteram pouco suas condições socioeconômicas. A desigualdade entre homens e mulheres se expressa de diferentes formas, como a posição ocupada pelas mulheres no mercado de trabalho (17,2% de trabalhadoras domésticas, 13,1% de não-remuneradas, 9,3% de trabalhadoras para auto-consumo), perfazendo um percentual de 40% de postos de trabalho precários enquanto para os homens esse índice é de 10,7%. Mesmo entre as mulheres empregadas (41,9%) é possível observar que vários indicadores (rendimento, jornada de trabalho, registro em carteira e direitos no trabalho) apontam para a precária condição da maioria das mulheres na ocupação de postos de trabalho que demandam menor qualificação reconhecida efetivamente pela remuneração, como no setor de prestação de serviços onde trabalham 29,8% das mulheres e 12% dos homens. Entre esses(as) trabalhadores(as), 78% das mulheres e 43% dos homens incluem-se na classe de rendimento mensal de até R$ 240,00 (Bruschini, 1998). O movimento das desigualdades é registrado tanto pelo IBGE como pelo Seade/Dieese, mesmo com a utilização de metodologias diferenciadas para suas coletas de dados e números diferentes entre si. Precariedade no trabalho é um processo social que atinge homens e mulheres no atual momento do mercado de trabalho; porém, as mulheres já estavam em maior número nas ocupações precárias e continuam a vivenciar taxas maiores de informalidade e precariedade, apesar dos índices de escolaridade mais elevados. Nesse sentido, pode-se afirmar que as mulheres foram pioneiras em ocupar postos de trabalho precários, que estavam por vir para ambos os sexos, no contexto da reestruturação produtiva. Mesmo assim, elas continuam campeãs em informalidade e precariedade e começam a ser mais atingidas pelo desemprego em vários setores. As taxas de desemprego vêm apresentando crescimento acentuado para os trabalhadores de ambos os sexos, com elevação mais intensa para os homens. No entanto, historicamente, as taxas relativas às mulheres são mais altas, independentementeda região do país.
Aula 7 
Juventudes e produção de subjetividades no contexto de acumulação flexível do capital
A expressividade numérica da população juvenil brasileira nem sempre se fez acompanhada por políticas públicas que visassem assegurar o desenvolvimento integral dos jovens, o que os impulsionaram, ao longo de décadas, a uma luta cotidiana por visibilidade e pelo reconhecimento como sujeitos de direitos, com demandas e especificidades próprias. Esta situação foi relativamente revertida durante os governos de Lula da Silva e de Dilma Roussef, momento em que as questões da juventude ganharam espaços nas agendas governamentais e nos debates nacionais, cuja maior expressão foi a criação da SNJ, em 2004, e as políticas de juventude implementadas a partir de então. Por se tratar de um conceito polissêmico, algumas considerações iniciais são necessárias quando se aborda a temática da juventude. A primeira, diz respeito ao entendimento sobre a faixa etária correspondente à juventude. No Brasil, o único dispositivo legal que delimita a faixa etária juvenil é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que contempla os 18 anos como idade limite. O importante não é definir a partir de que idade os sujeitos se tornam “jovens” ou “velhos”, mas descrever os processos através dos quais são designados socialmente dessa forma. É por isso que para Bourdieu, a “juventude” é apenas uma palavra, pois não pode ser compreendida sem ser contextualizada, uma vez que sofre variação historicamente e em relação a outras categorias. Afinal, “somos sempre o jovem ou velho de alguém”. A segunda consideração, diz respeito à definição de juventude e a imprecisão dos critérios que compõem essa categoria, já que se trata de uma categoria em constante mutação. Sposito (2005) informa que no fim dos anos 1980 a juventude era concebida como o momento de transição para a vida adulta, ou o momento de preparação para aquilo que o jovem viria a ser. Atualmente, discute-se a idéia de autonomia, independência econômica e também um conceito de juventude que é o de experimentação. Juventude “fase da vida em que se inicia a busca de autonomia, marcada tanto pela construção de elementos da identidade – pessoal e coletiva – como por uma atitude de experimentação”. Apesar do reconhecimento da impossibilidade de retratar a juventude como um conceito homogêneo, uma vez que os jovens vivenciam aspectos diferenciados, de acordo com suas condições econômico-sociais, gênero, etnia, sexualidade, local de moradia, entre outras variáveis, este estudo visa a somarse aos demais trabalhos que buscam compreender os diferentes modos de perceber, sentir e estar no mundo dos jovens das camadas populares na atualidade; refletindo as mediações e contradições que determinam serem quem são. As questões dos referidos instrumentos buscaram compreender o perfil dos jovens estudantes-trabalhadores de hoje e os sentidos/percepções que imprimem a participação política e a relação trabalho e educação no atual contexto de desemprego estrutural e de crescimento das relações de trabalho flexíveis e precárias, caracterizadas pela terceirização, trabalho de tempo parcial, autônomo e/ou desregulamentado, fato que tende a se agravar com a reforma trabalhista implementada no governo Temer por meio da Lei n.13.467/2017.
O governo Lula teve um papel importante na instauração de uma política de juventude no país. Tal reconhecimento, no entanto, chegou com certo atraso se compararmos o Brasil com os demais países latino-americanos, onde as questões da juventude entraram na pauta de políticas públicas ao longo da década de 1990. O estabelecimento do Ano Internacional da Juventude decretado pela ONU, em 1985, e a criação da Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ), em 1992, não foram capazes de estimular à formulação de programas ou organismos específicos de políticas para este grupo populacional, o que fez do Brasil o penúltimo país latino-americano a colocar as demandas da juventude na agenda governamental, ficando a frente somente de Honduras. O reconhecimento da criança e adolescente como sujeitos de direitos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, foi um marco importante para a questão juvenil, pois fez avançar de modo significativo a discussão sobre as políticas de juventude. Programas ou políticas para a juventude foram criados somente a partir de 1997, após a repercussão nacional do assassinato em Brasília do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, incendiado por cinco jovens de classe média enquanto dormia em uma parada de ônibus. Destinados aos jovens na condição de risco social e executados em parceria com organizações não governamentais (ONGs) e fundações empresariais, tais programas foram guiados pela idéia de prevenção de delitos, de controle ou de efeito compensatório de problemas que atingiriam a juventude, contribuindo para reforçar a imagem do jovem como um problema, especialmente em questões relacionadas à violência, ao crime, à exploração sexual, a drogadição, a saúde e ao desemprego. Ainda hoje são grandes os desafios para o reconhecimento dos jovens como sujeitos de direitos, especialmente em nosso país, cuja história é marcada por mecanismos legais e subjetivos elaborados pela classe dominante-dirigente com vistas à exclusão da participação política e à negação de direitos para grandes setores da população. Ainda que nas últimas décadas a ampliação de direitos tenha ocorrido por meio da legislação nacional, na realidade concreta esta ampliação se faz de forma fraca e restrita, posto que as condições políticas, econômicas, sociais e culturais que historicamente produzem a exclusão não foram superadas. Tendo em vista que o critério de seleção dos sujeitos da pesquisa priorizou jovens-estudantes da EJA, cabe desde já informar que, conceitualmente, compreendemos a EJA muito mais do que processos escolares; corresponde a todos os processos formativos em que jovens, adultos e idosos vivenciam ao longo da vida, conforme concepção consolidada na V Conferência Internacional de Adultos (CONFINTEA), realizada em Hamburgo, em 1997. Por ser o Homem um ser social, produto e produtor das múltiplas relações sociais as quais participa, a escola é apenas um dentre muitos espaços na sociedade onde as pessoas constroem e partilham seus conhecimentos. Todavia, pensar a EJA escolar na perspectiva da formação humana exige concebê-la para além do viés instrumental, economicista e fetichizado que a tem caracterizado, isto é, enquanto redentora das mazelas enfrentadas pelos indivíduos no mercado de trabalho. Exige analisar não só as condições materiais de existência dos jovens, mas considerar a subjetividade como uma construção histórico-cultural; elemento importante dessa materialidade. Por esta razão, a pesquisa tem se dedicado em compreender as ideias e comportamentos dos jovens no movimento de transformações das determinações objetivas. Grosso modo, os jovens participantes da pesquisa vivem as mazelas comuns enfrentadas pelos jovens de baixo poder aquisitivo e moradores das áreas de risco. No aspecto social, a maioria convive com a violência no seu cotidiano, entre ela, a própria violação de direitos por parte do Estado. Por sentirem de forma imediata os efeitos do narcotráfico e do crime organizado, quantitativo significativo desses jovens circula pouco pela cidade, devido à espacialidade determinada não só pelo crescimento da violência e do narcotráfico no Rio de Janeiro, mas também por fatores de ordem econômica que ocasionam a desigual apropriação e circulação dos sujeitos das diferentes classes sociais da/na cidade. Reconhecendo não se tratar de uma questão irrelevante ou menor, a cidade foi considerada elemento importante nas políticas de juventudes durante os governos Lula da Silva e Dilma Roussef, sobretudo, por tais políticas pautarem-se em uma concepção de cidadania participativa e no protagonismo juvenil. Não por acaso, “Juventude e Cidade” foi o principal eixo temático da III Conferencia Nacional de Juventude, realizada em Palmas, em 2010.Isto, porque é na cidade que se materializa a ação política dos seus habitantes; ela é o espelho da forma como a cidadania é vivenciada coletivamente. Por esta razão, a facilidade/dificuldade de acesso que a cidade possibilita aos diferentes equipamentos públicos de cultura, esporte, lazer, saúde, educação, tecnologia, informação, entre outros, é elemento importante na constituição do ser social e não deve ser negligenciada nas análises das questões sociais.
Produto do seu tempo, os jovens das escolas pesquisadas expressam em suas narrativas as marcas objetivas e subjetivas das mudanças de corte neoliberal efetuadas no Brasil, a partir da década de 1990, visto que nasceram e se constituíram - individualmente e socialmente - ao longo dessa década. As denominadas políticas de ajustes estruturais implementadas no país, orientadas pelos organismos financeiros multilaterais, principalmente o Fundo Monetário internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial, produziram graves consequências sociais. Sob o argumento de reduzir custos e criar melhores condições de competitividade no mercado global uma nova engenharia na produção foi adotada, ocasionando desastrosas mudanças no mundo trabalho, tais como o aumento exponencial do desemprego conjugado com o crescimento do trabalho parcial, temporário e terceirizado, bem como a desregulamentação e o ataque as leis trabalhistas. Com as mudanças operadas no mundo da produção e do trabalho, iniciada nos países de capitalismo central ao final da década de 1970 e efetuadas no Brasil a partir da década de 1990, sob o pretexto de solucionar a crise econômica do capital, a ideia do direito humano e social foi fortemente impactada, ao mesmo tempo em que uma nova cultura foi sendo gestada: a da descartabilidade. Na sociedade da descartabilidade não apenas as mercadorias tornam-se facilmente descartáveis, mas também os próprios trabalhadores. Valores tradicionais e históricos são rapidamente cancelados e, por conseguinte, as experiências de lutas organizadas são mais facilmente quebradas, pois a ênfase é dada ao individualismo e a fragmentação em detrimento do coletivo. Buscamos perceber a compreensão e o interesse dos jovens da EJA em relação à política, tendo em vista, por um lado, o fato de alguns estudos apontarem a baixa participação política dos jovens nos espaços institucionalizados (INSTITUTO CIDADANIA, 2004), e, por outro, os movimentos ocorridos em várias cidades do país protagonizados pelos jovens brasileiros, iniciado em São Paulo com o Movimento do Passe Livre, em junho de 2013, e as ocupações das escolas pelos estudantes secundaristas, no ano de 2016, assim como a ocupação da Assembléia Legislativa de São Paulo, no mesmo ano, por centenas de jovens com o objetivo de pressionar os deputados a investigarem o desvio de dinheiro público na compra de merenda de suas escolas. Fontes (2005) também enfatiza o sentimento de indiferença como conseqüência subjetiva da precarização do mundo do trabalho contemporâneo. Para a autora, essa indiferença generalizada é cruel, pois quanto mais se generaliza o sofrimento, mais se solicita das pessoas a produção de “felicidade e a alegria ali onde todos fomos despossuídos das características que, até então, nos asseguravam nossa própria condição humana”. Como as subjetividades são construídas nas relações concretas de produção da vida em sociedade, como indicam Marx e Engels (2009), o agravamento das questões sociais durante a década de 1990 e início da década seguinte, assim como as políticas compensatórias e focalizadas, de alívio a pobreza, adotadas com o objetivo de aliviar as tensões e garantir a coesão social e a governabilidade, nos ajudam a compreender a anulação da política e o recuo do sentimento de pertencimento a uma coletividade e de identificação com os projetos de transformação social, como sinalizam Mattos (2009), Leher e Frigotto (2005).
Valorização do individualismo na sociedade capitalista neoliberal é mediação que deve ser considerada na configuração do refluxo da participação política e social dos estratos empobrecidos da população, ainda que não exclusivo a eles. Em contexto marcado pelos altos índices de desemprego, a ameaça constante da demissão produz o crescimento do individualismo. As transformações operadas pelas Tecnologias da Informática e da Comunicação (TICs) nas relações concretas de produção da vida em sociedade também contribuem para a compreensão da identidade cultural dos jovens pesquisados, especialmente por reconhecer que as TICs têm provocado mudanças no quadro de valores da sociedade que afetam as condições de vida das pessoas, suas rotinas e seu cotidiano (SEVCENKO, 2001). As novas tecnologias, ao provocar a compressão do tempo-espaço de giro da produção, da troca e do consumo alteram as formas das pessoas se relacionarem, sentirem prazer, desejarem, se enxergarem a si e os outros e a viverem. A globalização e o ímpeto de expansão impelem o capital a eliminar as barreiras espaciais e subjetivas que possam pôr em risco a livre circulação e o consumo em escala planetária das mercadorias. Se a roldana que move o capitalismo é o consumo, mais do que nunca “falsas necessidades” são produzidas e é grande o poder da mídia neste sentido, “na organização do consumo e da produção, bem como na definição de desejos e necessidades integralmente novos”.

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