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A INEFICÁCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE

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A INEFICÁCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE. 
 Monografia apresentada como requisito parcial para aprovação da Disciplina de orientação de Direito UNIP-Universidade Paulista. Orientadora Maria Carmem.
“A Ineficácia do Estatuto do Desarmamento na Redução da Criminalidade” tem como principal objetivo analisar os aspectos da Lei 10.826/03 que fazem com que a mesma não tenha eficácia quanto à redução da criminalidade. A relevância social da pesquisa acadêmica é obtida, na medida em que visa contribuir com as pessoas que possuem e portam armas de fogo, bem como com aquelas que pretendem adquirir e obter a concessão de porte de arma de fogo com o intuito único e exclusivo de promover a proteção própria e porventura de terceiros contra atos criminosos. O problema que inspirou a pesquisa foi a promulgação da Lei 10.826 no ano de 2003, a qual, em sua concisa redação vetou muitas possibilidades de acesso às armas de fogo pelas vias legais, não impedindo por outro, que as armas cheguem por vias secundárias à população. No primeiro capítulo é apresentado um posicionamento histórico em relação à evolução das armas desde os primórdios da humanidade onde eram utilizados materiais grotescos até os dias atuais, com as modernas e eficazes armas de fogo. Após o posicionamento histórico sobre as armas de fogo, é apresentada a conceituação e modos de operação, funcionamento e utilização das armas de fogo, e posteriormente a evolução da legislação pertinente às armas de fogo no Brasil. O segundo capítulo apresenta análises da Lei em estudo por doutrinadores como Ângelo Fernando Facciolli, e Guilherme de Souza Nucci, quanto ao acesso às armas de fogo, porte, e utilização das mesmas na sociedade. Por fim, no terceiro capítulo, foi analisada a pesquisa de campo feita com a oitiva de encarcerados, apresentando pensamentos doutrinários e pesquisas quantitativas realizadas em outros países acerca da utilização e consequências do uso de armas de fogo por civis. Apresentou-se ainda dados explanados durante audiência pública na Câmara dos Deputados em que o tema pautado era justamente o porte de armas de fogo.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................. ARMAS DE FOGO E LEI DAS ARMAS DE FOGO.............................. EVOLUÇÃO DAS ARMAS DE FOGO ................................................... ARMAS – CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO.......................................... Armas Automáticas .............................................................................. Armas de Tiro Simples .......................................................................... Armas Semiautomáticas........................................................................ Armas de Repetição.............................................................................. A EVOLUÇÃO DAS LEIS DAS ARMAS DE FOGO .............................. DA APLICAÇÃO DA LEI NA SOCIEDADE.......................................... ANÁLISE DA LEI ................................................................................... DA RESTRIÇÃO AO ACESSO DAS ARMAS DE FOGO E MUNIÇÕES DAS PENAS PREVISTAS EM LEI ........................................................ A INEFICÁCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO NA REDUÇÃO DA CRIMINALIDADE............................................................................ PESQUISA REALIZADA ................................................................. DAS PESQUISAS ANALISADAS.......................................................... CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. REFERÊNCIAS ............................................................................................... ANEXOS ........................................................................................................ 
INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como área do conhecimento o Direito Penal, Direito Constitucional e Direitos Humanos – em especial o direito de poder portar uma arma de fogo e a variedade de reações desencadeadas por este fato. Teoricamente, pretende-se compreender as falhas e lacunas na legislação vigente no que tange à Lei de Armas de Fogo, visando esclarecer os motivos pelos quais tal legislação não atende à seu objetivo maior que é a redução da criminalidade. A relevância social obtida com esta pesquisa acadêmica tem, na medida em que visa contribuir com as pessoas que não se utilizam de armas no seu diaa-dia, esclarecer dúvidas e conquistar direitos para aquelas que cotidianamente fazem uso destas, seja decorrente do exercício da profissão ou por terem optado pela autorização para portar uma arma de fogo. Justifica-se a escolha do tema, em decorrência da afinidade e curiosidade pessoal do pesquisador, que objetiva com este trabalho esclarecer os fatos que fazem com que a Lei de Armas de Fogo, conhecida vulgarmente como “Estatuto do Desarmamento”, não alcance seu objetivo principal, e ainda, apresentar soluções para tanto. Também chamaram a atenção, outros fatos e falhas na legislação, que estão descritos no corpo do texto. A utilização das armas de fogo está presente em nossa história desde o século IX d.C. quando os chineses inventaram a pólvora, desde então, pouco à pouco, as diversas nações mundiais foram aderindo à tal invento e cada vez mais aperfeiçoando o modo de utilizá-la, ou seja, desenvolvendo armas menores e de manuseio individual com capacidade de fogo cada vez maior. Sabe-se que a Constituição Federal de 1988, prevê em seu artigo 5º, que são invioláveis a intimidade, a vida privada, e a honra dos cidadãos brasileiros, garantindo o direito à vida, à segurança, à liberdade e à propriedade, e ainda, reza que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, portanto abre precedente indiscutível para a utilização moderada e eficaz da força para conter tais atos ofensivos. A CartaMagna reza ainda em seu artigo 144, que a segurança é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. Por outro lado, tem-se o aval para a utilização da força, até mesmo letal no caso da legítima defesa, a qual fica completamente inalcançável sem a presença e utilização de material equivalente ao utilizado para promover a ameaça, qual seja as armas de fogo. Para promover a compreensão do tema, a estruturação do presente trabalho monográfico foi dividida em três capítulos. O primeiro capítulo visa posicionar historicamente a evolução das armas, desde a utilização de paus e pedras, até a criação de armas semi-automáticas e automáticas, e ainda, demonstrar de forma clara a evolução da legislação armamentista. Após posicionar a história, é apresentado um conceito geral dos modos de utilização das armas, bem como quanto aos direitos sobre elas, (porte e posse). Sob a mesma égide, classificar-se-á os modelos de armas, calibres, funcionamento e modo de aquisição das mesmas. O segundo capítulo apresenta uma síntese da Lei 10.826/03, de seu decreto regulamentador 5.123/04, e ainda de legislações complementares ao tema abordado, apresentando posicionamentos de doutrinadores como Ângelo Fernando Facciolli, João Luís Vieira Teixeira, Guilherme de Souza Nucci. O terceiro capítuloapresenta dados estatísticos, com perguntas formuladas a indivíduos que se encontram encarcerados pelos mais variados tipos de crimes, quanto à utilização das armas, modo de aquisição das mesmas, motivação para cometimento de ilícito contra pessoa armada, entre outros. Aprofundando-se no problema desta pesquisa, é feito uma análise de dados estatísticos do Brasil e de outros países quanto à interferência das armas de fogo na vida em sociedade. O método utilizado na pesquisa é o indutivo com a pesquisa de campo, e dedutivo quando analisada a lei para a aplicabilidade no caso concreto, de modo que a base da pesquisa é de ordem bibliográfica, onde se consultou doutrinas adquiridas em livrarias online, e fornecidas pela biblioteca da faculdade de direito de Francisco Beltrão. Por derradeiro, apresentam-se as considerações angariadas com a realização desta pesquisa acadêmico-científica, a partir do enfoque e aimprescindibilidade do tema, tanto para o direito pátrio, como também para aqueles que pretendem utilizar-se de armas de fogo ou apenas possuí-las dentro de suas residências para eventuais incidentes e também para todos aqueles que possam de alguma forma se beneficiar com este. 
ARMAS DE FOGO E LEIS DAS ARMAS DE FOGO 1.1 EVOLUÇÃO DAS ARMAS DE FOGO Conforme se pôde perceber através de estudos históricos, desde tempos imemoriáveis, o homem utiliza-se de objetos com o intuito de agredir, atacar, ofender, ou ainda proteger-se ou proteger à sua família e suas posses de alguma ameaça, seja esta de animais ou outros seres humanos trabalho.
Portanto, narra a história que na idade da pedra, tempo em que os homens habitavam cavernas, estes, utilizavam-se de instrumentos como tacapes, pedras, galhos e outros tipos de objetos com o intuito de caçar animais para sua sobrevivência ou guerrear com inimigos, visto pois, que já utilizavam-se de armas para muitos objetivos. A vantagem da utilização de tais instrumentos consiste no fato de que indivíduos com menor potencial ofensivo, ou seja, tamanho e força reduzidos, poderiam igualar-se ou até mesmo serem mais fortes que outros; (homens ou animais) o que desde então passa a ser visto como potencial ofensivo das armas. Cumpre asseverar, que com o passar dos anos, os homens foram percebendo, que poderiam aprimorar suas armas, afiando uma das pontas de uma haste de madeira, ou amarrando uma pedra a ela, com isso, tais instrumentos foram evoluindo. Segundo TEIXEIRA (2001, p.15) “Amarrando-se um cipó nas duas pontas de um galho, fazia-se um arco, que impulsionava outros galhos à distância e assim por diante”. Constata-se, portanto, que os homens perceberam que poderia ser confeccionado um arco com um cipó trabalhado preso junto a uma vara arqueada, a qual dispararia um projétil com maior velocidade e alcance do que sefosse lançado diretamente com o impulso da mão ou braço, surgindo assim o conjunto arco-e-flecha, que mais tarde tornaram-se as bestas e balestras. Segundo TEIXEIRA (2001, p. 15), “Com o invento da fundição do ferro, surgiram armas mais elaboradas, como arcos, que arremessavam flechas com pontas metálicas, lanças, espadas, adagas, [...].” Tal evolução foi de extrema importância para a história e para o aprimoramento das armas, visto que sem a fundição do ferro ou aço, as armas de fogo em tese, nunca poderiam ter se desenvolvido. Estas armas, com o passar dos anos, tiveram seu tamanho reduzido para facilitar sua camuflagem e seu transporte, porém tiveram aprimoramentos que as tornaram mais letais e mais resistentes à condições adversas. Por volta do século IX d.C, os chineses descobriram a pólvora, inicialmente utilizada para fins pirotécnicos, porém logo perceberam que tal descoberta poderia ser utilizada na área bélica, aprimorando assim a “arte da guerra” disparando projéteis, inicialmente foram desenvolvidos canhões feitos de bambu, que logo foram substituídos por canhões feitos de ferro ou bronze, pesados, de difícil locomoção, porém em relação aos de bambu, tinham maior poder de fogo e consequentemente maior potencial ofensivo. Estes eram operados por duas, três ou até quatro pessoas. Posteriormente, tais artefatos foram aprimorados, tendo seu tamanho reduzido, podendo ser operados por apenas uma pessoa, facilitando e agilizando sua operação. Após o invento da pólvora e o desenvolvimento das armas de fogo, não demorou muito para que o mundo todo utilizasse as mesmas, fato este de suma importância para que estes objetos fossem aprimorados, criando-se os bacamartes ou garruchas, que eram armas de cano longo, carregadas pela boca do cano que disparavam uma esfera maciça de chumbo ou ferro, porém tal arma tinha alcance reduzido, pois em uma distância maior, perdia seu potencial ofensivo e seu projétil não tinha direção certa. Segundo informações coletadas na internet, mais precisamente no site WIKIPEDIA, (2012, p. 1) após alguns anos de aprimoramento da pólvora, fora desenvolvida a “pólvora sem fumo”, esta, não “explode” como a pólvora negra, pois é feita de pura nitrocelulose (pólvora de base simples), queimando de maneira mais lenta, fazendo com que o projétil disparado seja impulsionado de 13 maneira uniforme durante todo seu trajeto ao longo do cano da arma, diminuindo o recuo e aumentando a velocidade de propulsão. Os Estados Unidos foram sem dúvida, a nação que mais contribuiu para a evolução das armas de fogo, país este, onde até os dias atuais, sua população é adoradora de tais instrumentos, e um dos países onde a legislação armamentista é mais flexível, ou seja, é fácil adquirir uma arma legalizada, até mesmo de funcionamento automático com calibres potencialmente consideráveis. MCNAB (1999, p.7) menciona em sua obra que “Depois de Samuel Colt trazer seu revólver de percussão para o mercado em 1835, e Horace Smith e Daniel B. Wesson introduzirem a primeira munição de revólver, a pistola tornou-se uma arma viável de combate”. Samuel Colt foi um cidadão americano, e oficial da marinha, que desenvolveu o revólver Colt, uma arma com capacidade para cinco ou seis munições, arma esta, revolucionária para a época, e que até os dias de hoje, tem seu modo de funcionamento utilizado pelas mais diversas indústrias bélicas em todo o mundo. De acordo com informações coletadas no WIKIPEDIA (2012, P.1) Horace Smith e Daniel B. Wesson são os fundadores da S&W (Smith & Wesson), tradicional fabricante de munições e armas nos Estados Unidos, foram os responsáveis pelo desenvolvimento do estojo descartável de antecarga, que primeiramente era feito de papelão, e posteriormente passou a ser metálico, mais precisamente de latão, para que não sofresse danos causados pela umidade quando exposto à condições adversas. O estojo de antecarga é utilizado para conter num mesmo objeto, a pólvora, a espoleta e o projétil, facilitando e tornando mais rápidas as recargas, permitindo assim uma enorme evolução das armas de fogo, já que desta forma poderiam ser carregadas pela culatra, permitindo uma cadência maior de tiros em menor tempo. As armas de fogo ao longo do tempo foram tendo seu manuseio cada vez mais simplificado e ágil, e o poder de fogo aumentado, visto que os canos ganharam “raias”, ranhuras, que potencializam a velocidade do projétil e dão melhor direcionamento e balanceamento a ele. 14 TEIXEIRA (2001, p. 16), expõe que: [...] com o invento do cartucho metálico (para conter a carga de pólvora e a espoleta, e para fazer a vedação da câmara de disparo, minimizando o escape de gases) foram diversificando-se os modelos, com diferentes sistemas de funcionamento, que continuaram evoluindo até a chegada das armas de fogo curtas, de alta tecnologia, como os revólveres e as pistolas fabricadas com ligas de polímero e/ou alumínio. O desenvolvimento e aprimoramento das armas de fogo, se comparado à evolução de outras invenções como os automóveis, por exemplo, foi lenta, visto que desde a invenção da pólvora até os dias atuais,as armas vêm sendo melhoradas, com o intuito de proporcionar maior poder de fogo, com maior precisão e fornecendo maior segurança para quem às dispara, bem como para quem não deve ser alvejado em uma situação de conflito em área urbana. Pode-se afirmar, segundo MCNAB (1999, p.13) que: Recentemente, levou-se a cabo experiências com metralhadoras que utilizaram a aceleração electromagnética, em vez de percussão, para o disparo das munições, tendo o resultado sido uma chuva de fogo de alta velocidade, denso, potente e surpreendentemente silencioso. Outras ideias já saíram da mesa de desenho. A espingarda automática G11 da Heckler & Koch dispara uma munição sem invólucro, em que o cartucho está inserido num retângulo de carga propulsora, que desaparece completamente ao ser disparado. Com tais evoluções, verifica-se que as armas de operação individual vêm sofrendo constantes aprimoramentos, e como explanou MCNAB (1999, p.13), o cartucho metálico que foi há alguns anos uma descoberta excepcional, está ficando ultrapassado, já que a eliminação da necessidade de ejeção do cartucho conferiu às armas desenvolvidas para a utilização de carga propulsora intergrada ao projétil um elevado poder de fogo com redução considerável no seu estampido. 1.2 ARMAS - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO Arma, segundo FRAGOSO (1971, p. 76), “é o instrumento em condições de ser utilizado ou que pode a qualquer instante ser posto em condições de ser usado para o ataque ou a defesa”. 15 Pode-se dizer segundo FRAGOSO (1971, p. 76), que até mesmo uma caneta ou material análogo, ao ser cravada em alguém com o intuito de ferir ou matar, considera-se arma, pois é instrumento apto e que de pronto pode ser utilizado para uma finalidade lesiva. Outro conceito de arma é o apresentado por SILVA (2000, p.77), o qual afirma que “a ofensividade é natural da arma, ou seja, a qual se considera por si mesma, devido a sua fabricação e pela sua finalidade de construção”. Segundo o autor, não se incluem no conceito de arma as que eventualmente (ou acidentalmente) são usadas como arma, somente aquelas que são produzidas para a finalidade ofensiva podem ser consideradas armas. Analisando o conceito exposto por SILVA (2000, p.77), pode-se entender que um punhal ou adaga, são considerados armas, e uma espingarda ou pistola destinada ao tiro esportivo não, pois a primeira já é fabricada com o intuito de ser utilizada como arma, e a segunda, como material desportivo. O Decreto 3.665/2000 – Regulamento de Fiscalização de Produtos Controlados do Comando do Exército, denominado R-105, que vigora neste País, dispõe sobre os tipos, calibres, funcionamentos e espécies de armas, bem como atribui definições aos termos presentes na Lei 10.826/03, chamada de “Estatuto do Desarmamento”. O Decreto 3.665/00, conhecido como R-105, em seu artigo 3º dá definições conceituais quanto aos tipos de armas de fogo. Art. 3o Para os efeitos deste Regulamento e sua adequada aplicação, são adotadas as seguintes definições: XXXVII - carabina: arma de fogo portátil semelhante a um fuzil, de dimensões reduzidas, de cano longo - embora relativamente menor que o do fuzil - com alma raiada; XLIX - espingarda: arma de fogo portátil, de cano longo com alma lisa, isto é, não raiada; LIII - fuzil: arma de fogo portátil, de cano longo e cuja alma do cano é raiada; LXI - metralhadora: arma de fogo portátil, que realiza tiro automático; LXIII - mosquetão: fuzil pequeno, de emprego militar, maior que uma carabina, de repetição por ação de ferrolho montado no mecanismo da culatra, acionado pelo atirador por meio da sua alavanca de manejo; LXVII - pistola: arma de fogo de porte, geralmente semiautomática, cuja única câmara faz parte do corpo do cano e cujo carregador, quando em posição fixa, mantém os cartuchos em fila e os apresenta sequencialmente para o carregamento inicial e após cada disparo; há pistolas de repetição que não dispõem de carregador e cujo carregamento é feito manualmente, tiro a tiro, pelo atirador; 16 LXVIII - pistola-metralhadora: metralhadora de mão, de dimensões reduzidas, que pode ser utilizada com apenas uma das mãos, tal como uma pistola; LXXIV - revólver: arma de fogo de porte, de repetição, dotada de um cilindro giratório posicionado atrás do cano, que serve de carregador, o qual contém perfurações paralelas e equidistantes do seu eixo e que recebem a munição, servindo de câmara; O artigo 16 do R 105, dispõe quais são os calibres e funcionamentos de uso restrito, incluindo ainda as vedações quanto à simulacros de armas utilizadas pelas Forças Armadas Nacionais. Art. 16. São de uso restrito: I - armas, munições, acessórios e equipamentos iguais ou que possuam alguma característica no que diz respeito aos empregos tático, estratégico e técnico do material bélico usado pelas Forças Armadas nacionais; II - armas, munições, acessórios e equipamentos que, não sendo iguais ou similares ao material bélico usado pelas Forças Armadas nacionais, possuam características que só as tornem aptas para emprego militar ou policial; III - armas de fogo curtas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia superior a (trezentas libras-pé ou quatrocentos e sete Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .357 Magnum, 9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto; IV - armas de fogo longas raiadas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia superior a mil libras-pé ou mil trezentos e cinquenta e cinco Joules e suas munições, como por exemplo, .22- 250, .223 Remington, .243 Winchester, .270 Winchester, 7 Mauser, .30-06, .308 Winchester, 7,62 x 39, .357 Magnum, .375 Winchester e .44 Magnum; V - armas de fogo automáticas de qualquer calibre; VI - armas de fogo de alma lisa de calibre doze ou maior com comprimento de cano menor que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milímetros; VII - armas de fogo de alma lisa de calibre superior ao doze e suas munições; VIII - armas de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola, com calibre superior a seis milímetros, que disparem projéteis de qualquer natureza; IX - armas de fogo dissimuladas, conceituadas como tais os dispositivos com aparência de objetos inofensivos, mas que escondem uma arma, tais como bengalas-pistola, canetas-revólver e semelhantes; X - arma a ar comprimido, simulacro do Fz 7,62mm, M964, FAL; XI - armas e dispositivos que lancem agentes de guerra química ou gás agressivo e suas munições; XII - dispositivos que constituam acessórios de armas e que tenham por objetivo dificultar a localização da arma, como os silenciadores de tiro, os quebra-chamas e outros, que servem para amortecer o estampido ou a chama do tiro e também os que modificam as condições de emprego, tais como os bocais lança-granadas e outros; XIII - munições ou dispositivos com efeitos pirotécnicos, ou dispositivos similares capazes de provocar incêndios ou explosões; 17 XIV - munições com projéteis que contenham elementos químicos agressivos, cujos efeitos sobre a pessoa atingida sejam de aumentar consideravelmente os danos, tais como projéteis explosivos ou venenosos; XV – espadas e espadins utilizados pelas Forças Armadas e Forças Auxiliares; XVI - equipamentos para visão noturna, tais como óculos, periscópios, lunetas, etc; XVII - dispositivos ópticos de pontaria com aumento igual ou maior que seis vezes ou diâmetro da objetiva igual ou maior que trinta e seis milímetros; XVIII - dispositivos de pontaria que empregam luz ou outro meio de marcar o alvo; XIX - blindagens balísticas para munições de uso restrito; XX - equipamentos de proteção balística contra armas de fogo portáteis de uso restrito, tais como coletes, escudos, capacetes, etc; e XXI - veículos blindados de emprego civil ou militar. [grifou-se]. Já o artigo 17 do mesmo Regulamento dispõe acerca das armas e acessórios de calibre, funcionamento e tipo classificados como de uso permitido: Art. 17. São de uso permitido: I - armas de fogo curtas, de repetição ou semi-automáticas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia de até trezentaslibras-pé ou quatrocentos e sete Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .22 LR, .25 Auto, .32 Auto, .32 S&W, .38 SPL e .380 Auto; II - armas de fogo longas raiadas, de repetição ou semi-automáticas, cuja munição comum tenha, na saída do cano, energia de até mil libras-pé ou mil trezentos e cinqüenta e cinco Joules e suas munições, como por exemplo, os calibres .22 LR, .32-20, .38-40 e .44-40; III - armas de fogo de alma lisa, de repetição ou semi-automáticas, calibre doze ou inferior, com comprimento de cano igual ou maior do que vinte e quatro polegadas ou seiscentos e dez milímetros; as de menor calibre, com qualquer comprimento de cano, e suas munições de uso permitido; IV - armas de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola, com calibre igual ou inferior a seis milímetros e suas munições de uso permitido; V - armas que tenham por finalidade dar partida em competições desportivas, que utilizem cartuchos contendo exclusivamente pólvora; VI - armas para uso industrial ou que utilizem projéteis anestésicos para uso veterinário; VII - dispositivos óticos de pontaria com aumento menor que seis vezes e diâmetro da objetiva menor que trinta e seis milímetros; VIII - cartuchos vazios, semi-carregados ou carregados a chumbo granulado, conhecidos como "cartuchos de caça", destinados a armas de fogo de alma lisa de calibre permitido; IX - blindagens balísticas para munições de uso permitido; X - equipamentos de proteção balística contra armas de fogo de porte de uso permitido, tais como coletes, escudos, capacetes, etc; e XI - veículo de passeio blindado. [grifou-se]. 18 Verifica-se no artigo supracitado, que os calibres de uso permitido, tem ainda como parâmetro de classificação quanto à energia do projétil na saída do cano. Por exemplo, no inciso II, a munição .22 LR, é permitida, porém, a munição .22 LR do tipo Magnum, é de uso restrito, já que ultrapassa mil libras-pé quando da sua saída na boca do cano de uma carabina. O Decreto nº 5.123/04, em seu artigo 11, repetiu o conceito do Decreto anterior (R-105), redefinindo arma de fogo de uso restrito como sendo “aquela de uso exclusivo das Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, de acordo com legislação específica”. No que tange ao funcionamento das armas de fogo, conforme especificado pelos artigos supracitados, são classificadas como automáticas, semiautomáticas e de repetição, porém, existem ainda as operadas “tiro à tiro” ou “tiro simples”, e as que podem funcionar em modo “burst-fire”, que nada mais são do que armas automáticas que disparam três projéteis ao mesmo tempo, elevando consideravelmente seu poder de fogo. O artigo 3º do R-105 define o funcionamento das armas de fogo: Art. 3o Para os efeitos deste Regulamento e sua adequada aplicação, são adotadas as seguintes definições: X - arma automática: arma em que o carregamento, o disparo e todas as operações de funcionamento ocorrem continuamente enquanto o gatilho estiver sendo acionado (é aquela que dá rajadas); XVI - arma de repetição: arma em que o atirador, após a realização de cada disparo, decorrente da sua ação sobre o gatilho, necessita empregar sua força física sobre um componente do mecanismo desta para concretizar as operações prévias e necessárias ao disparo seguinte, tornando-a pronta para realizá-lo; XXIII - arma semi-automática: arma que realiza, automaticamente, todas as operações de funcionamento com exceção do disparo, o qual, para ocorrer, requer, a cada disparo, um novo acionamento do gatilho; Estas são características gerais das armas de fogo, suas peculiaridades são abordadas na sequência deste estudo. 1.2.1 Armas Automáticas Quanto ao conceito de armas de funcionamento automático, segundo FACCIOLLI (2010, p. 377) “[...] é aquela em que o atirador pode manter a arma 19 em disparos contínuos até que seja suspenso o comando de disparo (gatilho) ou termine a munição do compartimento de recarga (carregador)”. Portanto, nas armas automáticas os tiros são sequenciais com apenas um pressionamento no gatilho, porém quando o pressionamento cessar, os tiros também cessarão. Estas armas tem funcionamento complexo, e elevado poder de fogo, podendo disparar diversos projéteis em um só segundo. Exemplos de armas com este tipo de ação são as metralhadoras, fuzis e algumas pistolas modernas como a Glock Auto (Áustria), HK - Heckler & Koach (Alemanha) e Beretta M9 (Itália). As pistolas Glock e HK são vendidas no Brasil, entretanto somente no modo semiautomático. TEIXEIRA (2001, p.17) define como arma automática “[...] aquela que com apenas um aperto do gatilho (e mantendo-o pressionado) dispara ininterruptamente até que a capacidade do carregador (“pente”) seja totalmente esgotada”. Armas com funcionamento automático são muito utilizadas por forças policiais e militares, porém em alguns países como nos Estados Unidos, Suíça, e Áustria, estas armas são comercializadas livremente. 1.2.2 Armas de Tiro Simples No que diz respeito às armas com funcionamento do tipo “tiro simples”, FACCIOLLI (2010, p.377), define que “... é o sistema em que a arma necessita ser municiada manualmente depois de efetuado o disparo”. Estas armas normalmente tem capacidade de até dois tiros, sendo que possuem um cano para cada tiro, com percussores separados, necessitando que se acione o percussor de forma independente do gatilho para que o tiro possa ser efetuado. Normalmente são armas do tipo espingarda, garruchas ou bacamartes, conforme expõe TEIXEIRA (2001, p.16) “Exemplo disso são os bacamartes (utilizados, por exemplo, pelos bandeirantes, no Brasil no século XVIII), que eram grandes armas de canos longos, semelhantes a um fuzil, carregadas pela boca do cano”. Armas com este funcionamento estão caindo no desuso nos dias atuais, porém caçadores e atiradores esportivos ainda às utilizam. 20 1.2.3 Armas Semiautomáticas Quanto às armas semiautomáticas, TEIXEIRA (2001, p. 17) dispõe que “As semi-automáticas necessitam ter seus gatilhos premidos a cada disparo que se deseje efetuar, ou seja, para se efetuar três disparos, é necessário que se aperte o gatilho três vezes consecutivas, e assim por diante”. FACCIOLLI (2010, p. 377) expõe que “Semiautomático é o sistema em que o carregamento ou a preparação para o seguinte disparo é efetuada automaticamente em decorrência do disparo anterior”. O funcionamento destas armas é na grande maioria decorrente dos gases expelidos pela queima da pólvora, que proporciona o recuo da cápsula deflagrada ejetando-a para que um novo cartucho intacto adentre à câmara de disparo. Exemplos clássicos deste funcionamento são as pistolas, algumas carabinas, rifles, fuzis e espingardas modernas. São armas utilizadas pelo mundo todo, seja por civis, atiradores ou forças policiais, tem cadência de tiro muito boa e precisão considerável. Estas armas são muito utilizadas por atiradores esportivos, civis, forças militares, forças policiais, magistrados e promotores. 1.2.4 Armas de Repetição FACCIOLLI (2010, p. 377) conceitua o modo de funcionamento do tipo repetição como sendo [...] o sistema em que a arma necessita de um acionamento por parte do atirador em preparação para o disparo seguinte. Esta ação pode ser realizada mediante uma alavanca, manivela de culatra ou ferrolho, deslizamento de manopla ou telha (bomba), engatilhamento do martelo ou cão (ação simples de revólver), deslocamento do gatilho (dupla ação de revólver) etc. As armas de repetição tiveram papel fundamental no desenvolvimento de todas as armas de fogo utilizadas atualmente, haja vista o fato de que fora este funcionamento o desenvolvido por Samuel Colt, quando da invenção do primeiro revólver. MACNAB (1999, p.07) expõe acerca da invenção do revólver: 21 No mundo da arma pessoal, o século XIX foi um tempo de progresso excepcional. Depois de Samuel Colt trazer o seu revólver de percussão para o mercado em 1835, e Horace Smith e Daniel B. Wesson introduzirem a primeira munição de revólver, a pistolatornou-se uma arma viável de combate. As armas de repetição tem capacidade para mais de uma munição, apresentando na maioria dos casos apenas um cano, e para efetuar uma cadência de tiro, a arma deve ser “manobrada”, ou seja, tem de ser efetuado um movimento com o ferrolho da arma ou com o percussor, o qual eliminará o cartucho deflagrado para que um novo adentre ou posicione-se na câmara para o disparo. As carabinas, espingardas pump-action, revólveres e rifles de precisão, são os maiores representantes desta categoria, são muito utilizados no tiro esportivo, algumas forças de segurança menos modernizadas utilizam ainda os revólveres, na maioria dos estados Brasileiros estes já foram substituídos pelas pistolas, as espingardas pump-action são utilizadas pelo mundo todo, já que são armas muito confiáveis, com grande poder de fogo, curto alcance e Stopping Power (poder de parada ou poder de cessar uma ameaça com apenas um tiro) muito bom. Os rifles de repetição são muito utilizados no mundo inteiro, pois apresentam maior precisão em um tiro de longa distância. 1.3 A EVOLUÇÃO DAS LEIS DAS ARMAS DE FOGO A legislação brasileira pertinente à regular a utilização, porte e posse de armas de fogo, sempre foi bastante controversa, ininteligível, e passível de diversas emendas ao longo de sua vigência, sendo assim modificada consideravelmente ao longo dos anos, gerando certa insegurança jurídica no que tange à utilização, posse e porte de armas de fogo. Acerca do controle das armas de fogo no Brasil através de previsões legais, conforme entendimento de GOMES e OLIVEIRA (2002 p. 72) “A evolução do tratamento jurídico penal da matéria sempre foi marcada por uma idéia de necessário controle sobre tais objetos”. Desde o tempo de D. Pedro, tem-se disposições legais referentes às armas de fogo, chamadas naquela época de “armas defesas”. O Código Criminal do 22 Império, também chamado de lei de 16 de Dezembro de 1830, já dispunha sobre tal tema. CAPITULO V USO DE ARMAS DEFESAS Art. 297. Usar de armas offensivas, que forem prohibidas. Penas - de prisão por quinze a sessenta dias, e de multa correspondente á metade do tempo, atém da perda das armas. Art. 298. Não incorrerão nas penas do artigo antecedente: 1º Os Officiaes de Justiça, andando em diligencia. 2º Os Militares da primeira e segunda linha, e ordenanças, andando em diligencia, ou em exercicio na fórma de seus regulamentos. 3º Os que obtiverem licença dos Juizes de Paz. Art. 299. As Camaras Municipaes declararão em editaes, quaes sejam as armas offensivas, cujo uso poderão permittir os Juizes de Paz; os casos, em que as poderão permittir; e bem assim quaes as armas offensivas, que será licito trazer, e usar sem licença aos occupados em trabalhos, para que ellas forem necessarias. Verifica-se no artigo 298 §3º acima citado, que o porte legal de armas de fogo já era previsto naquela época, só podendo gozar de tal direito quem o obtivesse através de licença concedida pelos Juízes de Paz. O artigo 297, utiliza o verbo “usar”, não dispondo quanto à portar ou possuir, portanto, só incorreria na pena deste artigo, quem se utilizasse de uma arma proibida, abrindo o precedente para que se pudesse ter dentro de sua residência qualquer arma. Tal legislação não previa que fosse realizado qualquer teste, tanto psicológico quanto prático, para a aquisição ou porte de arma, ademais, não fazia menção alguma quanto à possuir uma arma, apenas quanto à portá-la. Presume-se, portanto que era permitido à qualquer pessoa adquirir e ter dentro de sua propriedade uma ou mais armas. Quanto ao artigo 299, desde aquele tempo, já havia certa cautela quanto ao tipo, funcionamento ou calibre das armas que poderiam ser portadas pela população, porém, as declarações que a lei cita, só poderiam alcançar as armas que estivessem sendo portadas, e não as que estivessem guardadas na residência dos cidadãos. Posteriormente, fora criado o Código Penal de 1890, o qual continha apenas dois artigos acerca do uso e fabricação de armas de fogo, não dispondo nada acerca de calibres, tipo de funcionamento ou tipo de armas permitidas ou não. 23 CAPITULO V DO FABRICO E USO DE ARMAS Art. 376. Estabelecer, sem licença do Governo, fabrica de armas, ou pólvora: Penas – de perda, para a Nação, dos objetos apreendidos e multa de 200$ a 500$000. Art. 377. Usar de armas ofensivas sem licença da autoridade policial: Pena – de prisão celular por 15 a 60 dias. Parágrafo único. São isentos de pena: 1º, os agentes da autoridade publica, em diligencia ou serviço; 2º, os oficiais e praças do Exercito, da Armada e da Guarda Nacional, na conformidade dos seus regulamentos. O artigo 376 da legislação supracitada veda a fabricação de armas sem autorização de autoridade competente, porém não dispõe qual é a autoridade competente para autorizar ou não a fabricação de tais objetos. Já o artigo 377, vedava o uso de armas sem licença da autoridade policial, não dispondo quanto à territorialidade desta autorização (federal ou estadual), e ainda, não informava qual era a autoridade policial que poderia deferir ou não o porte de arma para um civil. Percebe-se, que tanto o Código Criminal do Império, quanto o Código Penal de 1890, previam o porte de arma para os oficiais de justiça enquanto em diligência. Quando da criação do Código Penal de 1940, ou Decreto-Lei número 2.848, de 07 de dezembro de 1940, tal legislação nem mesmo dispunha acerca das armas de fogo, apenas de causas de aumento e diminuição de penas, agravantes e atenuantes, bem como sobre bandos armados, não autorizando ou vedando o uso de armas de fogo. A Lei de Contravenções Penais, Decreto-lei número 3.688, de 3 de outubro de 1941, em seus artigos 18 e 19, dispunha sobre o porte, a fabricação, importação, exportação, posse e comércio de armas de fogo, não definindo acerca de tipo, espécie, calibre ou funcionamento das armas que seriam ou não permitidas ao uso civil. PARTE ESPECIAL CAPÍTULO I DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PESSOA 24 Art. 18. Fabricar, importar, exportar, ter em depósito ou vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição: Pena – prisão simples, de três meses a um ano, ou multa, de um a cinco contos de réis, ou ambas cumulativamente, se o fato não constitui crime contra a ordem política ou social. Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade: Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente. § 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente já foi condenado, em sentença irrecorrível, por violência contra pessoa. § 2º Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis, quem, possuindo arma ou munição: a) deixa de fazer comunicação ou entrega à autoridade, quando a lei o determina; b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa inexperiente no manejo de arma a tenha consigo; c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela se apodere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manejá-la. O artigo 18, já bania o comércio ilegal de armas de fogo, sem citar os calibres e tipos de armas que poderiam ser comercializadas legalmente, e ainda, bania a fabricação de qualquer tipo de arma sem autorização de autoridade competente, porém, não cita qual seria a autoridade competente para fiscalizar ou autorizar o comércio, importação, exportação ou fabricação de armas de fogo. Em análise ao artigo 19, percebe-se que houve uma preocupação do legislador quanto ao porte ilegal de armas de fogo, já que previa sanção penal para quem portasse arma de fogo sem autorização (porte). Considerava-se uma causa de aumento, quem já condenado com sentença transitada em julgado por violência contra pessoa, fosse flagrado portando arma de fogo. Em apertada síntese, percebe-se ainda, referência quanto à disparo de arma de fogo, tal previsão está disposta no artigo 28 da mesma lei. CAPÍTULO III DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLUMIDADE PÚBLICA Art.28. Disparar arma de fogo em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela: Pena – prisão simples, de um a seis meses, ou multa, de trezentos mil réis a três contos de réis. Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, quem, em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, sem licença da autoridade, causa deflagração perigosa, queima fogo de artifício ou solta balão aceso. 25 Percebe-se que fora equiparado o potencial ofensivo de um disparo de arma de fogo, à queima de fogo de artifício. Fato este, notoriamente repudiável, visto que um artifício pirotécnico tem teoricamente menor potencial ofensivo do que um disparo de arma de fogo. No ano de 1997, fora promulgada a lei 9.437/97, denominada Lei das Armas de Fogo. Tal lei pode ser considerada um tanto quanto concisa, face á importância da matéria da qual tratava. A referida legislação, em muitos aspectos é semelhante ao Estatuto do Desarmamento, porém esta deu origem e atribuiu funções ao SINARM – Sistema Nacional de Armas, conforme expõe os artigos 1º e 2º. Art. 1º Fica instituído o Sistema Nacional de Armas - SINARM no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, com circunscrição em todo o território nacional. Art. 2° Ao SINARM compete: I - identificar as características e a propriedade de armas de fogo, mediante cadastro; II - cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e vendidas no País; III - cadastrar as transferências de propriedade, o extravio, o furto, o roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais; IV - identificar as modificações que alterem as características ou o funcionamento de arma de fogo; V - integrar no cadastro os acervos policiais já existentes; VI - cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as vinculadas a procedimentos policiais e judiciais. Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem dos seus registros próprios. Quanto ao artigo 1º, GOMES e OLIVEIRA, (2002 p. 20), expõe que: O próprio legislador passou a encarar as armas de fogo como verdadeiros produtos controlados, sobre os quais o Estado deve manter uma rigorosa tutela. Para viabilizar esses controles, tornou-se necessária a criação de toda uma estrutura administrativa especial, corporificada e instrumentalizada por meio de um novo organismo denominado Sistema Nacional de Armas, ou simplesmente SINARM. [grifo do autor] Em análise ao artigo 2º, o qual atribui as competências do SINARM, percebe-se que este, tem atribuições somente quanto ao cadastramento das armas, e não quanto á sua fiscalização, cabendo ao Ministério do Exército tal 26 atribuição. Ainda citando GOMES e OLIVEIRA, (2002 p. 22) “O cadastro a que se refere a nova legislação abrange não somente as armas de fogo, mas também seus proprietários” [grifo do autor]. Tal legislação, fora a primeira a preocupar-se em atribuir um proprietário à uma arma de fogo, pois até então, quando da aquisição de armas de fogo, estas, não haviam qualquer cadastramento em órgão de fiscalização ou controle destas. Conforme cita TEIXEIRA, (2001, p. 23). A lei citada acima possui apenas vinte e um artigos e está dividida em cinco capítulos, mas, no entanto, grande é a sua importância, independentemente do fato de ela ser uma boa ou má lei. E grandes são as discussões que ela gerou. Seus objetivos eram reduzir a criminalidade existente em nosso país e coibir a violência, por meio da restrição do acesso das pessoas ás armas de fogo. Diante de inúmeras lacunas da legislação acima descrita, dois meses depois, fora criado o Decreto 2.222/97, que veio regulamentar e suprir algumas falhas anteriormente existentes. FACCIOLLI (2010, p.16) explica quanto à ineficácia e falta de estrutura da Lei 9.437/97. Vários avanços puderam ser sentidos ao longo de pouco mais de seis anos da vigência da Lei, tais como: criminalizou o porte de arma de fogo; disciplinou o registro e o porte; estabeleceu objetivos programáticos para o sistema; inaugurou a “Política Nacional de Controle de Armas de Fogo”, dentre outros. A sociedade esperava mais... - ou melhor, aspirava apenas à redução da violência armada, o que acabou não acontecendo! A frustração social foi o principal fator que contribuiu para ruírem as estruturas do 1º SINARM. [grifo do autor] No ano de 2003, a lei vulgarmente chamada de Estatuto do Desarmamento, qual seja, a Lei 10.826/03, fora criada. Nota-se, que conforme expõe FACCIOLLI, (2010, p.19) “Pressão intensa da mídia e de ONGs promoveram a ilusão de que a proibição da venda e da restrição ao porte de armas de fogo poderia acabar com a violência que domina os grandes centros urbanos”. Tal afirmação é confirmada diante do exposto no site JURISWAY (2012, p.1) em artigo publicado pela Dra. Liduína Araújo Batista. 27 Em junho de 2003, foi organizada uma Marcha Silenciosa, com sapatos de vítimas de armas de fogo, em frente ao Congresso Nacional. Este fato chamou bastante atenção da mídia e da opinião pública. Os legisladores tomaram para si o tema e criaram uma comissão mista, com deputados federais e senadores para formular uma nova lei. Esta comissão analisou todos os projetos que falavam sobre o tema nas duas casas e reescreveram uma lei conjunta: o Estatuto do Desarmamento. Quando da criação de tal lei, fora estipulado em seu próprio corpo, mais precisamente no artigo 35, um referendo, uma consulta popular, com os mesmos critérios de uma eleição para cargos políticos, para saber a opinião da população quanto à proibição ou não do comércio de armas de fogo no Brasil, o qual, contrariando as expectativas da grande maioria dos representantes desta nação, segundo o jornal online FOLHA UOL (2012, p.1), teve um índice nacional de 63,94% dos votos contrários ao desarmamento da população e 36,06% à favor, porém em alguns estados como o Rio Grande do Sul, 86,83% da população, optou pelo direito de possuir armas de fogo. O maior marco desta legislação é seu caráter essencialmente restritivo, visando a dificultar o acesso da população às armas de fogo, criando barreiras, que aos olhos do povo, só servem para barrar as pessoas de bem, não impedindo de forma alguma o acesso de criminosos às armas de fogo. FACCIOLLI, (2010 p. 19), nos mostra que “Infelizmente, a cultura que se desenvolveu em torno das armas de fogo no Brasil é a de repulsa, aversão – “visão antiarmas”. O instrumento em si (arma) não é venal; o que o torna nocivo é o seu mau uso...”. Diferentemente da Lei 9.437/97, a lei 10.826/03, impôs algumas limitações a quem pretende ter armas de fogo, e também, gerou obrigações para estas, como por exemplo, a obrigatoriedade de teste de aptidão psicológica e técnica para manusear arma de fogo. Conforme pode-se perceber no artigo 4º da referida Lei: Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) 28 II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. § 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. § 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) Atualmente, exige-se paraa obtenção de registro de arma de fogo, o que é indispensável para a aquisição de forma legal de uma arma que o cidadão apresente seus documentos pessoais, certidões negativas no âmbito Federal, Estadual, Militar e Eleitoral, e ainda, que comprove não estar respondendo à inquérito policial ou à processo criminal, apresentar ainda, comprovante de residência, e submeter-se à exames psicológicos e de capacidade técnica para manuseio de arma de fogo. Quanto ao caput do artigo supracitado, FACCIOLLI, (2010 p. 80), critica a “declaração de efetiva necessidade”, pois entende ser critério subjetivo, senão, verifica-se: O direito à aquisição (melhor ainda: o direito ao acesso à propriedade – de arma de fogo) é, essencialmente, um tema que gravita na órbita constitucional. A legitimação à propriedade somente pode ser limitada pela funcionalidade social do bem, sendo a segurança consagrada como um direito social fundamental na Lex máxima. A presente assertiva é importante pois, ao longo do texto normativo, percebe-se o intento em criar embaraços ao cidadão de bem em adquirir uma arma de fogo. Arriscamo-nos a ir mais longe e constatar uma vontade em desestimular não a aquisição, mas a própria intenção na propriedade – mina-se a expectativa pelo direito, por via oblíqua. [grifo do autor] O artigo 28 alterou a previsão da lei 9.437/97, a qual dispunha que a idade mínima para aquisição de arma de fogo, era de 21 (vinte e um) anos, vedando agora, a compra de arma de fogo por menor de 25 (vinte e cinco) anos. “Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei”. Portanto em apertada síntese, percebe-se que o legislador, ao criar tal lei, não observou as faixas etárias da responsabilidade civil, criminal ou eleitoral, as 29 quais gravitam entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um anos), entendendo o legislador, que indivíduos menores de 25 (vinte e cinco) anos, não seriam capazes de possuir uma arma de fogo, mas seriam sim capazes de, por exemplo, conquistar um cargo de prefeito municipal ou deputado federal. FACCIOLLI (2010 p. 331), nos reza acerca do tema: A intenção do legislador foi clara: desarmar as faixas etárias com idade inferior a 25 anos por acreditar que, com esta medida reduziria os níveis de violência e homicídios no Brasil. A idade – 25 anos – por si só não pode ser usada como termômetro para avaliar o grau de maturidade ou de responsabilidade do cidadão. O uso de armas é atividade técnica, que, por si só, contribui para disciplinar o indivíduo. O tiro não é uma modalidade desportiva?. Ainda citando FACCIOLLI, (2010 p. 331), quanto á busca da maioridade civil, este afirma: O esforço do legislador foi enorme ao longo de mais de oitenta anos em busca da unificação das maioridades civil-penal, o que somente conseguiu-se quando da vidência do novo Código Civil, em 2003. No mesmo ano, por via oblíqua e inconstitucional, cria-se uma nova modalidade de maioridade. Verifica-se ante o exposto, que a maioridade torna-se um tanto quanto embaraçada, já que para cumprir com o direito de cidadão e votar para os cargos eletivos em âmbito regional ou federal, é de 16 anos, conduzir um veículo por exemplo, a maioridade considera-se aos 18 anos de idade, para ser candidato à prefeito ou deputado federal, a maioridade é de 21 anos, já para adquirir ou portar uma arma de fogo, o sujeito torna-se capaz apenas aos 25 anos de idade. Tais fatos são verdadeiros atentados contra o princípio da isonomia, visto que indivíduos que tem por ofício, por exemplo, a profissão de policial, ou militar, mesmo que menor de 25 anos de idade poderá adquirir e portar uma arma de fogo, e outro, com profissão diversa destas, não poderá. 2 DA APLICAÇÃO DA LEI NA SOCIEDADE 2.1 ANÁLISE DA LEI O Estatuto do Desarmamento é marcado e conhecido pela sociedade, tanto pelos defensores do direito de portar e possuir armas, quanto por aqueles que têm um idealismo antiarmas, pelo seu caráter extremamente restritivo de direitos, ferindo por vezes a própria Constituição Federal. Segundo FACCIOLLI (2010, p.11): A nova Lei do Sinarm, elaborada em meio a pressões de entidades governamentais e não governamentais, não foi edificada com imparcialidade em obediência aos imperativos constitucionais de construção legislativa. Em diversas passagens cria imbróglios, obstaculizando a sua completa compreensão. Não bastasse tratar-se de lei extravagante, ultrapassou os limites admitidos da harmonia e coerência. [grifo do Autor]. Conforme expõe o site da REVISTA MAGNUM (2012, p.1), “Estão no Supremo tribunal Federal (STF) 16 tópicos em pauta nas Ações Direitas de Inconstitucionalidade (ADIns), que dizem respeito ao Estatuto do Desamamento (Lei 10.826/03)”. [grifo do autor]. Ainda citando o texto publicado na REVISTA MAGNUM (2012, p.1), o advogado Wladimir Reale, explica que “O artigo 35 está prejudicado em função do resultado do referendo, o que é lastimável, pois por duas vezes o Supremo já havia julgado inconstitucional a proibição do comércio de armas de fogo e munição nas ADIns 2035 e 2290”. [grifo do autor]. Conforme exposto anteriormente, percebe-se que a lei em análise, fora criada e aprovada “às pressas”, mediante forte pressão da sociedade e de ONGs, para satisfação de uma pequena parcela da sociedade, fato este provado nas urnas, quando da votação à favor ou contra o comércio de armas e munições no país. O artigo 5º da Constituição Federal assegura a todos em seu inciso XI, a inviolabilidade de seu domicílio. Conforme segue: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no 31 País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; Em observância aos fatos atuais gerados pela criminalidade, é impossível um cidadão barrar a entrada de um criminoso armado em sua residência, sem a possibilidade de possuir uma arma de fogo, o que adiante será provado pela pesquisa de campo realizada. Ainda em análise ao artigo 5º, em seu inciso XXII, onde o estado garante o direito de propriedade, porém, como garantir a propriedade de seus bens, se alguém, com maior potencial ofensivo, intenta retirá-lo, ameaçando seu direito á vida, direito este, também garantido na CF, no caput do artigo 5º. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXII - é garantido o direito de propriedade; [grifou-se] Com uma interpretação extensiva do Estatuto do Desarmamento, percebese que o ofensor dos direitos garantidos na Constituição Federal, pode ter o direito à vida, e ainda, a um direito que não está presente na Carta Magna, qual seja o de propriedade sobre os bens alheios, visto que, com tamanhas restrições impostas ao cidadão de bem, torna-se quase impossível adquirir uma arma de forma legal, pois um dos requisitos para esta obtenção é completamente subjetivo. Por exemplo, um advogado é ameaçado de morte em função de seu trabalho, a partir daí, solicita a aquisição de uma arma de fogo com esta justificativa, podendo esta ser indeferida, pois poderá suprimir um direito alheio previsto na Carta Magna. Ou seja; o indivíduo ameaçado poderá sofrer um atentado contra sua vida, mas não poderá de maneira legal, tentar impedir tal ameaça. Tais dispositivos são completos atentados contra a liberdade individual, já que quando do mau uso de uma arma de fogo, o cidadão que a utilizou de forma inadequada, será punido na forma da lei, não cabendo à administração pública 32 afirmar ser bom ounão para cada indivíduo ter acesso à uma arma de fogo, ou ainda, decidir em nome do cidadão, se este, pode ter acesso à uma ferramenta que possibilite uma reação de defesa contra uma ameaça à sua vida ou seu patrimônio. Ainda em análise ao inciso XXII da CF, observa-se que fica completamente suprimida tal garantia na análise do §2º do artigo 16 do Decreto 5.123/04, que regulamentou a Lei 10.826/03. Art. 16. O Certificado de Registro de Arma de Fogo expedido pela Polícia Federal, precedido de cadastro no SINARM, tem validade em todo o território nacional e autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa. § 2 o Os requisitos de que tratam os incisos IV, V, VI e VII do art. 12 deste Decreto deverão ser comprovados, periodicamente, a cada três anos, junto à Polícia Federal, para fins de renovação do Certificado de Registro. [grifou-se]. Vê-se que mesmo garantido o direito de propriedade pela CF, se o indivíduo que possui uma arma de fogo, não cumprir com o disposto no parágrafo acima citado, este, poderá incorrer em crime e ainda perder a propriedade de sua arma de fogo. É de bom alvitre salientar, que diante do exposto acima, fica evidente o descaso com as cláusulas pétreas constantes no texto da Carta Magna, pois o direito á propriedade sobre um bem adquirido de forma correta, dentro das especificações legais, ficará sujeito à perda, se o detentor de tal bem, simplesmente silenciar, ou melhor, permanecer inerte, fato este, que por si só, pode ser considerado abusivo, pois a perda da arma de fogo, ou a incursão em algum crime, não se dará por nenhuma prática ilícita. É este o entendimento do Coronel Paes de Lira, em texto publicado no site da ONG PELA LEGÍTIMA DEFESA (2012, p.1), veja-se: Nesse sentido, a Constituição Federal Brasileira garante em seu artigo 5.º o direito à vida, à segurança e à propriedade, que são os fundamentos da cidadania conforme prescreve o inciso II, do artigo 1.º, da própria Constituição. Todos esses direitos são cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser retirados do ordenamento jurídico constitucional e muito menos desrespeitados, nos termos estabelecidos pelo inciso IV, do parágrafo 4.º, do artigo 60, da Carta Magna. 33 Uma das piores afrontas à Constituição trazidas pela lei federal em questão diz respeito à figura do registro renovável da arma de fogo, ou seja, o proprietário precisará renovar a própria condição de domínio sobre o bem possuído, numa clara afronta ao constitucional direito de propriedade previsto no artigo quinto, caput, e seu inciso XXII, da Constituição Federal, que garante o direito de propriedade em sua plenitude. Assim, a lei criou uma figura inconstitucional, pois o direito de propriedade fica condicionado a uma verdadeira revalidação constante, o que não encontra amparo em nosso sistema constitucional, num desrespeito ao direito adquirido de quem legalmente possui uma arma decorrente do ato jurídico perfeito que foi sua aquisição. [grifo do Autor]. Ainda no texto publicado por Paes de Lira, vê-se a preocupação com a subjetividade da norma, pois a autoridade policial, ao analisar o requisito de efetiva necessidade, poderá negar-lhe a renovação, retirando-lhe o direito à propriedade de uma arma de fogo que indubitavelmente lhe pertence. A renovação obrigatória do Certificado de Registro de arma de fogo, determinada no § 2°, artigo 16 do Decreto 5.123 de 1°/07/2004, submete o proprietário ao critério subjetivo da discricionariedade da autoridade policial, a qual pode entender que o proprietário não atende ao requisito da efetiva necessidade, indeferindo a renovação e, por consequência transformando o proprietário legal de uma arma de fogo em potencial criminoso, pela impossibilidade em que foi colocado de revalidar tal documento. Não restaria ao proprietário da arma outra alternativa a não ser entregá- la ao Estado, configurando-se assim um autêntico confisco. Ainda em análise ao artigo 5º da CF, verifica-se que segundo o artigo 28 da lei 10.826/03, nem todos os indivíduos são iguais perante a lei. Veja-se: “Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo, ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V, VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei”. As exceções de que trata este artigo são: I – os integrantes das Forças Armadas; II – os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal; III – os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei; V – os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; VI – os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal; 34 VII – os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias; X - integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. (Redação dada pela Lei nº 11.501, de 2007) Pode-se, portanto constatar, que indivíduos menores de 25 (vinte e cinco) anos de idade, pelo simples fato de ocuparem um dos cargos acima descritos, tem capacidade para portar uma arma de fogo, e outro, que por escolha pessoal, resolve seguir outra carreira profissional, como por exemplo um empresário, médico ou agricultor, não é capacitado psicologicamente para portar uma arma de fogo de maneira consciente. Diante de tal análise, vê-se que evidentemente tal suposição fere o princípio da isonomia, também conhecido como princípio da igualdade, dispondo basicamente, que “todos são iguais perante a lei”. FACCIOLLI (2010, p.330), nos ensina que: Atendidos os requisitos marcados na lei, não há justificativa plausível para impedir os cidadãos, com capacidade civil e penal plenas ao exercício do direito de propriedade. É certo que o bem – arma de fogo – possui uma natureza especialíssima, mas, nem por isso, pode servir como argumento para discriminar, genericamente, as diversas classes de brasileiros. [grifo do Autor]. Devido à lacuna deixada na lei, quanto à possibilidade de portar ou possuir uma arma de fogo o Decreto 5.123/04, o qual regulamentou a lei 10.826/03, em seu artigo 22, destaca uma excepcionalidade: Art. 22. O Porte de Arma de Fogo de uso permitido, vinculado ao prévio registro da arma e ao cadastro no SINARM, será expedido pela Polícia Federal, em todo o território nacional, em caráter excepcional, desde que atendidos os requisitos previstos nos incisos I, II e III do § 1o do art. 10 da Lei no 10.826, de 2003. (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). Os requisitos de que trata este artigo são: I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física; II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei; III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o seu devido registro no órgão competente. 35 Percebe-se analisando tais dispositivos, que o critério de deferimento da concessão do porte, torna-se totalmente subjetivo quanto ao critério para deferimento da autorização de aquisição de arma de fogo. FACCIOLLI, (2010, p. 117), em se tratando do porte, afirma que “A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido é ato sujeito ao preenchimento dos requisitos legais e a um juízo favorável de conveniência e oportunidade por parte de Administração”. Quanto ao direito de herança, direito este previsto na Carta Magna de 1988, este fica completamente esquecido ao analisar uma situação hipotética em que o filho, já órfão de mãe, agora com 22 anos de idade, acaba por perder o paique sempre teve armas devidamente registradas, porém agora seu filho, o qual não possui ainda 25 anos, terá de entregá-las à polícia ou então transferi-las para um terceiro até que complete os 25 anos de idade exigidos por esta lei. Portanto, diante de tal análise, constata-se a evidente e manifesta supressão às garantias previstas na Constituição Federal, já que diante da Lei 10.826/03, fora suprimido o direito de propriedade, o direito à legítima defesa, o direito à vida, à segurança, à inviolabilidade do domicílio e até mesmo o direito de herança. 2.2 DA RESTRIÇÃO AO ACESSO ÀS ARMAS DE FOGO E MUNIÇÕES De acordo com FACCIOLLI (2010, p.12), “[...] a Lei 10.826/03 não pode ser interpretada isoladamente, sem o seu Regulamento, sem o Decreto 3.665 de 2000 e demais legislações esparsas [...]”. Portanto, mostra-se necessário analisar o artigo 4º da Lei 10.826/03: Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá, além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos: I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e de não estar respondendo a inquérito policial ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos; (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; 36 III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestadas na forma disposta no regulamento desta Lei. § 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização. § 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no regulamento desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008) § 3o A empresa que comercializar arma de fogo em território nacional é obrigada a comunicar a venda à autoridade competente, como também a manter banco de dados com todas as características da arma e cópia dos documentos previstos neste artigo. § 4o A empresa que comercializa armas de fogo, acessórios e munições responde legalmente por essas mercadorias, ficando registradas como de sua propriedade enquanto não forem vendidas. § 5o A comercialização de armas de fogo, acessórios e munições entre pessoas físicas somente será efetivada mediante autorização do Sinarm. § 6o A expedição da autorização a que se refere o § 1o será concedida, ou recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis, a contar da data do requerimento do interessado. § 7o O registro precário a que se refere o § 4o prescinde do cumprimento dos requisitos dos incisos I, II e III deste artigo. § 8o Estará dispensado das exigências constantes do inciso III do caput deste artigo, na forma do regulamento, o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma com as mesmas características daquela a ser adquirida. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008) Vê-se diante da análise do artigo supracitado, que o primeiro requisito a ser preenchido para a aquisição de uma arma de fogo, é declarar a efetiva necessidade, que segundo FACCIOLLI (2010, p. 80) é extremamente subjetivo: Quais os critérios a serem utilizados para avaliar a efetiva necessidade em se conceder a autorização para compra de uma arma, em meio a uma sociedade cada vez mais violenta e insegura? Fica difícil definir critérios que sejam equânimes (ou pelo menos justos) para abranger a presente previsão. E analisando o inciso I do referido artigo, pode-se ver, que somente cidadãos com caráter ilibado, ou seja, que nunca tiveram qualquer problema nas esferas Federal, Militar, Estadual ou Eleitoral. Já o inciso II, preocupou-se em “localizar” as armas que encontram-se nas mãos de civis, pois exige que seja indicada a residência do adquirente, e ainda quando à ocupação lícita, o que gera muita polêmica. FACCIOLLI (2010, p.1), dá uma clássico exemplo: “As mulheres que vendem o corpo – outro exemplo interessante – exercem ocupação lícita, não se 37 tem dúvida. De que forma devem apresentar este tipo de documento comprobatório, sem expor sua privacidade, sua intimidade?” Acima exposto, encontra-se no inciso III, a previsão de que é necessária a comprovação de aptidão técnica para manuseio de arma de fogo, fato este, que estimula a clandestinidade e imperícia, vez que, torna-se provável que um cidadão que pretende adquirir uma arma de fogo, não estará capacitado para manuseá-la, pois teoricamente nunca teve uma, e ainda, se este quiser, antes da realização dos exames práticos exigidos pela Polícia Federal, terá de recorrer á vias ilegais para um treinamento de tiro, já que são inúmeras as restrições para conseguir um treinamento prático de tiro e manuseio de armas de fogo. A aptidão psicológica será atestada por psicólogo credenciado na Polícia Federal. FACCIOLLI (2010, p.86) expõe: De qualquer forma, a “aptidão” deverá ser comprovada por ocasião de realização de testes específicos, por profissionais dos quadros da Polícia Federal ou por profissionais credenciados pelo órgão – inc. VII do art. 12 do Dec. 5.123/04. O não cumprimento das exigências previstas enseja o indeferimento do pedido do interessado. Analisando o artigo 12 do Decreto 5.123/04, verifica-se o aumento dos pré- requisitos para a obtenção de uma arma de fogo de uso permitido. Conforme segue: Art. 12. Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá: I - declarar efetiva necessidade; II - ter, no mínimo, vinte e cinco anos; III - apresentar original e cópia, ou cópia autenticada, de documento de identificação pessoal; (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). IV - comprovar, em seu pedido de aquisição e em cada renovação do Certificado de Registro de Arma de Fogo, idoneidade e inexistência de inquérito policial ou processo criminal, por meio de certidões de antecedentes criminais da Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral, que poderão ser fornecidas por meio eletrônico; (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). V - apresentar documento comprobatório de ocupação lícita e de residência certa; VI - comprovar, em seu pedido de aquisição e em cada renovação do Certificado de Registro de Arma de Fogo, a capacidade técnica para o manuseio de arma de fogo; (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). 38 VII - comprovar aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo, atestada em laudo conclusivo fornecido por psicólogo do quadro da Polícia Federal ou por esta credenciado. § 1 o A declaração de que trata o inciso I do caput deverá explicitar os fatos e circunstâncias justificadoras do pedido, que serão examinados pela Polícia Federal segundo as orientações a serem expedidas pelo Ministério da Justiça. (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). § 2 o O indeferimento do pedido deverá ser fundamentado e comunicado ao interessado em documento próprio. § 3 o O comprovante de capacitação técnica, de que trata o inciso VI do caput, deverá ser expedido por instrutor de armamento e tiro credenciado pela Polícia Federal e deverá atestar, necessariamente: (Redação dada pelo Decreto nº 6.715, de 2008). I - conhecimento da conceituação e normas de segurança pertinentes à arma de fogo; II - conhecimento básico dos componentes e partes da arma de fogo; e III - habilidade do uso da arma de fogo demonstrada, pelo interessado, em estande de tiro credenciado pelo Comando do Exército. § 4 o Após a apresentação dos documentos referidos nos incisos III a VII do caput, havendo manifestação favorável do órgão competente mencionada no §1o , será expedida, pelo SINARM, no prazo máximo de trinta dias, em nome do interessado, a autorização para a aquisição da arma de fogo indicada. § 5 o É intransferível a autorização para a aquisição da arma de fogo, de que trata o §4o deste artigo. § 6 o Está dispensadoda comprovação dos requisitos a que se referem os incisos VI e VII do caput o interessado em adquirir arma de fogo de uso permitido que comprove estar autorizado a portar arma da mesma espécie daquela a ser adquirida, desde que o porte de arma de fogo esteja válido e o interessado tenha se submetido a avaliações em período não superior a um ano, contado do pedido de aquisição. (Incluído pelo Decreto nº 6.715, de 2008). [grifou-se] Vê-se em análise ao inciso VI supracitado, que é necessária a comprovação de aptidão técnica para o manuseio de arma de fogo, porém, antes da realização dos exames práticos (prova de tiro e prova teórica/prática sobre as partes e funcionamento da arma de fogo a ser adquirida) não é exigido por lei nenhum curso de capacitação para o manuseio destes objetos. Verifica-se no caso em comento, que conforme o §2º do artigo 4º da Lei 10.826/03, regulamentado pelo artigo 21, §2º do Decreto 5.123/04, ambos regulamentados pela Portaria 12 do COLOG (Comando Logístico), que há uma quantidade evidentemente limitada quanto à aquisição de munições no comércio nacional. Ressalta-se o disposto na Portaria 12 do COLOG: Art. 3º A quantidade de cartuchos de munição de uso permitido, por arma registrada, que um mesmo cidadão poderá adquirir no comércio especializado, é a seguinte: 39 I - até 300 (trezentas) unidades de cartuchos de munição esportiva calibre .22 de fogo circular, por mês; e II - até 200 (duzentas) unidades de cartuchos de munição de caça e esportiva nos calibres 12, 16, 20, 24, 28, 32, 36 e 9.1mm, por mês. Art. 5º A quantidade de munição de uso permitido, por arma registrada, que cada cidadão poderá adquirir no comércio especializado (lojista), anualmente, é de até 50 (cinqüenta) unidades. Art. 9º. Ficam estabelecidas as seguintes quantidades máximas de partes de munição e de cartuchos de munição que poderão ter as suas aquisições autorizadas. VII - caçador de subsistência e proprietário de arma de fogo de cano longo (acima de 24 polegadas ou 610 mm) e alma lisa: a) espoletas, até 200 (duzentas) unidades por mês; b) estojos, até 200 (duzentas) unidades por mês; e c) pólvora (mecânica e/ou química), até 1 (um) Kg por mês. Verifica-se no artigo 5º supracitado, é possível perceber que há uma certa disparidade na lei, pois armas longas de calibre .22, tem à disposição 300 unidades de munição mensalmente, enquanto uma arma de porte como uma pistola calibre .380, vem à ter apenas 50 munições por ano. A quantidade de 50 cartuchos é derivada da Portaria 40 do Ministério da Defesa, e segundo FACCIOLLI (2010, p.92) “Um dos aspectos mais polêmicos da Portaria 40/MD foi restringir a aquisição anual de, no máximo, cinquenta cartuchos de munição, ao ano, por tipo de calibre de arma regularizada”. Ainda em análise ao presente caso, é controverso afirmar que um cidadão que não seja filiado a clube de tiro ou de caça, se aperfeiçoe no tiro se este pode adquirir apenas 50 munições para arma de porte no decorrer de um ano, ficando assim impossível deste treinar disparos de arma de fogo, pois se utilizar a munição para treinamento poderá ficar sem para sua defesa. Ocorre, portanto, que no decorrer de três anos da expedição do registro da arma de fogo, o cidadão que a possui, terá de renovar o registro desta, e para isso, sua capacidade técnica para disparar uma arma de fogo de modo que não coloque a vida de ninguém em perigo, será atestada, porém, sem treinamento, o que poderá resultar em um desastroso resultado do exame prático. 2.3 DAS PENAS PREVISTAS NA LEI Conforme dispõe o artigo 12 da Lei 10.826, denominada Estatuto do Desarmamento, é ilegal a posse de arma de fogo em desacordo com 40 determinação legal ou regulamentar, mesmo que no interior de sua residência, fato este, punível com detenção de 1 (um) à 3 (três) anos, cominada com multa. Diante de tal artigo, ao confrontarmo-lo com o requisito subjetivo para a aquisição de uma arma de fogo, e ainda, em análise juntamente com o artigo 23 do Código Penal, abaixo transcrito: Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - em legítima defesa;(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Pode-se constatar, que se caso um cidadão, correndo iminente risco de sofrer um atentado contra sua vida, solicita a aquisição de uma arma de fogo no comércio legal, e esta é negada, ele teria sim o direito de possuir uma arma de fogo mesmo que em desconformidade com a lei para garantir sua proteção, pois estaria amparado no inciso I e II, pois estaria agindo por estado de necessidade e ainda em legítima defesa por um risco iminente, amparado nas causas excludentes de ilicitude. O artigo 14 do Estatuto do Desarmamento, é exaustivo quanto à maneiras de configurar o delito de porte ou posse ilegal de arma de fogo: Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. Percebe-se diante do exposto, que a lei procurou abranger qualquer possibilidade de porte ou posse irregular de uma arma de fogo. FACCIOLLI (2010, p.220) afirma que: Não temos a menor dúvida de que a intenção do legislador foi a de esgotar, ao máximo, o rol de ações passíveis de enquadramento penal, com o fito de intimidar criminosos e pessoas que usam de forma indiscriminada e sem controle armas, munições ou acessórios. 41 Já o artigo 15 da mesma lei, prevê o delito no caso de disparo de arma de fogo, citando em seu caput, “lugar habitado”, gerando assim várias controvérsias. A lei aplicada na contemporaneidade tem interpretado como lugar habitado, todo e qualquer lugar onde possa existir alguém residindo. Portanto analisa-se: Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável Segundo FACCIOLLI (2010, p.223), “Buscou o legislador coibir o disparo aleatório, gerador das chamadas “balas perdidas” que diariamente atingem pessoas inocentes dentro de casa, no interior de veículos, em faculdades, colégios etc.” [grifo do autor] NUCCI (2009, p.91) define lugar habitado como sendo [...] o local que possui em redor, pessoas residindo. Cuida-se de analisar, no caso concreto, em que tipo de região ocorreu o disparo. Se ninguém por ali habita, é natural não haver sentido algum na punição, pois o disparo em local ermo não constitui perigo para a segurança pública. Portanto, quem dispara arma de fogo em área rural, campos, matas e demais locais ermos, sem colocar a vida de outrem em risco, não incorre na pena prevista no artigo em apreciação. É este o entendimento de FACCIOLLI (2010, p.223): O agente que realiza disparos em áreas rurais, campos, matas e demais locais desabitados não incorre no tipo descrito. O mesmo não ocorre com quem executa disparos apontando uma arma para cima, nas periferias da cidade, em ruas desabitadas ou vias públicas com pouco movimento. Quanto ao disparo de arma de fogo, a lei nada dispõe acerca do disparo efetuado para repelir uma ameaça ou agressão, chamado de “tiro de advertência”. Portanto, se um indivíduo, mesmo possuindo uma arma devidamente registrada, com munição adquirida de forma legal, e durante a madrugada perceber que um indivíduo está tentando adentrar em sua residência, teoricamente este não poderá 42 nem mesmo efetuar um disparo de arma

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