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Capitulo 3 Larissa

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1. DO FEMINÍCIDIO
1.1 Histórico do Feminicídio no Brasil
A mulher, desde o início, com rara as exceções, teve que aguentar uma sociedade machista e preconceituosa, onde seus direitos eram nulos e sua figura era considerada um objeto, cuja posse passava de geração à geração para o homem dominante. Num contexto histórico mundial, pode-se citar como exemplo, na Idade Média, sociedades como a Índia, que em seu código de Manu, instaurava textos e artigos como: 
A mulher, normalmente, não pode depor, salvo nos processos em que for indigitadas outras mulheres, ou então quando não houver outras quaisquer provas, e nesse caso o depoimento é relativo; Uma mulher está sob a guarda do seu pai durante a infância, sob a guarda de seu marido durante a juventude, sob a guarda de seus filhos em sua velhice; ela não deve jamais conduzir-se a sua vontade; Aquele que não tem filho macho pode encarregar a sua filha de maneira seguinte, dizendo que o filho macho que ela puser no mundo, se tornará dele e cumprirá na sua honra a cerimônia fúnebre; Uma mulher estéril deve ser substituída no 8º ano; aquela cujos filhos têm morrido, no 10º; aquela que só põe no mundo filhas, no 11º; e aquela que fala com azedume, imediatamente.(BRAGA, 2011).
Desde a Antiguidade, as mulheres eram subordinadas aos homens, não tinham voz ativa, não podiam votar nem serem eleitas, entre muitas outras coisas. Com o passar dos anos foram conquistando seus direitos e foram sendo reconhecidas com igualdade, no mercado de trabalho principalmente.
Conforme a Secretaria de Educação do Paraná (2020), demonstra com passar dos anos as Constituições Federais tiveram muitos avanços principalmente para as mulheres, sendo esses destacados abaixo:
A Constituição de 1824 o "Cidadão" era só homem. A mulher não podia votar, nem ser eleita. Podia trabalhar em empresas privadas, mas não podia ser funcionária pública.
 AConstituição de 1934 consagrou, pela primeira vez, o princípio da igualdade entre os sexos.Proíbe diferenças de salários para um mesmo trabalho por motivo de sexo, proíbe o trabalho de mulheres em indústrias insalubres e garante assistência médica e sanitária à gestante e descanso antes e depois do parto, através da Previdência Social.
A Constituição de 1937anteve as conquistas das Constituições anteriores, eacrescentou o direito a voto para as mulheres.
A Constituição de 1946 a representou um retrocesso para as mulheres quando elimina a expressão "sem distinção de sexo" quando diz que todos são iguais perante a Lei.
A Constituição de 1967 o único avanço no tocante à condição da mulher foi a redução do prazo para a aposentadoria, de 35 para 30 anos.
A Constituição de 1969 não houve alterações com relação aos direitos da mulher.
As principais conquistas da Constituição de 1988 foram a isonomia e igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, seja na vida civil, no trabalho, e na família.
Legalidade ninguém pode ser levado a fazer o que não quer, desde que não seja obrigado por Lei. Direitos Humanos, proibição de tortura, tratamento desumano ou degradante e inviabilidade da intimidade, da vida privada e da casa. Direitos e deveres individuais e coletivos: permanência da presidiária com seus filhos durante o período de amamentação, a prática do racismo é definida como crime, sujeito a pena de reclusão, inafiançável e imprescritível.
Direitos Sociais a educação, saúde, trabalho lazer, segurança, previdência social. Direitos Trabalhistas a proibição de diferença de salário, admissão e função, por motivo de sexo, licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com duração de 120 dias e proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivo específico;
Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento, até 6 anos de idade em creches e pré-escolas.
Direitos das Trabalhadoras Domésticas o salário mínimo, proibição da redução do salário, 13º salário, folga semanal, férias anuais remuneradas, licença à gestante de 120 dias, licença paternidade, aposentadoria, integração à previdência Social.
Direitos Políticos a mulher pode votar e ser votada. Seguridade Social saúde, Previdência e Assistência Social. Família o direitos e deveres referentes à sociedade conjugal passam a ser exercidos igualmente pelo homem e pela mulher, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar a família pode ser formada por qualquer dos pais e seus filhos, o prazo do divórcio diminui para 1 (um) ano, em caso de separação judicial; e para 2 (dois) anos, em caso de separação de fato, o Estado criará mecanismos para coibir a violência familiar.
Direito à propriedade a mulher passa a ter direito ao título de domínio e à concessão de uso da terra, independentemente de seu estado civil, tanto na área urbana como rural.
1.1.1 A 1º Constituição Federal que trata do Feminicídio (1988)
Tiveram uma lenta evolução jurídica, perpassando desde formas absurdas de preconceito contra seus estudos, onde se eram vedadas a educação, submissão patriarcal, proibição do voto, proibição do trabalho até as incansáveis lutas e revoluções para conquista de seus direitos. 
Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos.
Na sociedade brasileira, a luta da mulher em relação a seus direitos vem de muito tempo, a submissão ainda e muito comum. A mulher teve que lutar para conseguir desde os mais fundamentais direitos como: o de votar, trabalhar, ser gestante, ser uma gestante trabalhadora, ser mãe, ser dona do seu corpo, ter direito à saúde, entre vários outros. Diante desses fatos, houve um começo de consciência em relação à mulher, a atual Constituição Federal, foi um marco na defesa dos direitos da mulher. A mulher foi inclusa nos direitos humanos, igualou os direitos entre homens e mulheres, conforme artigo 5°, I e 226, parágrafo 5° da Constituição Federal de 1988:
Artigo 5º- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I- homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
Artigo 226- A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
O Código Civil que operou mudanças substanciais na situação feminina; a Lei no 8.930/94 que incluiu o estupro no rol dos crimes hediondos; a Lei no 9.318/96 que agravou a pena dos crimes cometidos contra a mulher grávida; a Lei no 11.340/06 – a famosa Lei Maria da Penha – que penaliza com efetividade os casos de violência doméstica e a da lei do feminicídio – a Lei no 13.104, promulgada em 9 de março de 2015. São normas que ilustram os significativos avanços operados na proteção dos direitos fundamentais femininos no cenário da história legislativa pátria.
LEI Nº 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015. ( Lei do Feminicídio)
	
	
	
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal , passa a vigorar com a seguinte redação:
“Homicídio simples
Art. 121. ........................................................................
.............................................................................................
Homicídio qualificado
§ 2º ................................................................................
.............................................................................................
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
.............................................................................................§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - Violência doméstica e familiar;
II - Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
..............................................................................................
Aumento de pena
..............................................................................................
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - Durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - Contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.” (NR)
Art. 2º O art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte alteração:
“Art. 1º .........................................................................
I - Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V e VI);
...................................................................................” (NR)
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.
1.1.2 Conceito do Feminicídio Constitucional
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.
É claro que o termo feminicídio possui conceito muito além do que apenas mortes de mulheres causadas pelo fato de seu gênero, porém, o conceito basilar de feminicídio assim se firmou, contudo, passa-se a analisar alguns conceitos, como por exemplo, o conceito dado por Brandalise (2018) onde a autora traz dados atrelados ao surgimento do termo e dados do crime praticado em nosso país, e assim o conceitua:
Feminicídio é o termo usado para denominar assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero. Ou seja, quando a vítima é morta por ser mulher. No Brasil, a Lei do Feminicídio, de 2015, estabelece que, quando o homicídio é cometido contra uma mulher, a pena é maior.
Fica visível que o conceito vai muito além do motivo gênero, são questões usadas para entender o motivo do ódio e sentimento de posse da mulher, o que se observa é que o feminicídio é simplesmente o crime cometido contra a mulher por ela ser mulher em detrimento de uma superioridade existente na cabeça do patriarcado.
A natureza jurídica dos direitos das mulheres é de fundamento constitucional, que como demonstrado anteriormente, foi um grande passo para as conquistas conseguidas e consolidadas até os dias atuais a Constituição Federal de 1988, foi um marco histórico em relação à proteção dada às mulheres no Brasil.
Assim, ao trazer em seus artigos 5°, 7° e 226, o princípio da igualdade entre homens e mulheres, os princípios protecionistas que vedam a discriminação da mulher no âmbito trabalhista e igualdade salarial, a equivalência de direitos e obrigações dentro do casamento entre o homem e a mulher, ensejou a liberdade feminina, quebrou as correntes trazidas da história contra as mulheres e às deu autonomia, abrindo espaço para seu crescimento.
A evolução dos direitos feministas vem tomando força, dia após dia, as metas almejadas vêm se concretizando com passos longos, ainda que ainda haja resquícios da cultura arcaica que englobava as restrições dos direitos femininos, hoje a realidade vem caminhando para um momento jamais vivido, a valorização e admiração da mulher trabalhadora, mãe, ser humano.
Desse modo, não há como falar de direitos sem tocar nos princípios que os envolvem, já dizia Reale (1991, p.299), “toda forma de conhecimento filosófico ou científico, implica na existência de princípios” assim, os princípios constitucionais que se relacionam com a igualdade conquistada, ou seja, com os direitos adquiridos são, em suma, os princípios da isonomia, da dignidade da pessoa humana, da legalidade e o princípio da segurança jurídica e a proteção constitucional ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada.
1.1.3 Característica: Diferença do feminicídio e da Lei Maria da Penha
Embora ambas tratem de casos de violência contra a mulher, as leis Maria da Penha e do Feminicídio, são textos distintos na legislação brasileira, mas que podem ser considerados complementares.
A Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15), introduz um qualificador na categoria de crimes contra a vida e altera a categoria dos chamados crimes hediondos, acrescentando nessa categoria o feminicídio.
LEI Nº 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015.
Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º O art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal , passa a vigorar com a seguinte redação:
“Homicídio simples
Art. 121. ........................................................................
.............................................................................................
Homicídio qualificado
§ 2º ................................................................................
.............................................................................................
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
.............................................................................................
§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
..............................................................................................
Aumento de pena
..............................................................................................
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.” (NR)
Art. 2º O art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 , passa a vigorar com a seguinte alteração:
“Art. 1º .........................................................................
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V e VI);
...................................................................................” (NR)
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.
Já Lei Maria da Penha é uma lei federal brasileira, cujo objetivo principal é estipular punição adequada e coibir atos de violência doméstica contra a mulher. Estabelece que todo o caso de violência doméstica e intrafamiliar é crime, deve ser apurado através de inquérito policial e ser remetido ao Ministério Público.
LEI Nº 13.827, DE 13 DE MAIO DE 2019
Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para autorizar, nas hipóteses que especifica, a aplicação de medida protetiva de urgência, pela autoridade judicial ou policial, à mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou a seus dependentes, e para determinar o registro da medida protetiva de urgência em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para autorizar, nas hipóteses que especifica, a aplicação de medida protetiva de urgência,pela autoridade judicial ou policial, à mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou a seus dependentes, e para determinar o registro da medida protetiva de urgência em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de Justiça.
Art. 2º O Capítulo III do Título III da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), passa a vigorar acrescido do seguinte art. 12-C:
“Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.”
Art. 3º A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 38-A:
“Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência.
Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas.”
Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
O autor Fernando Capez traz em que na atualidade temos leis que protegem a mulher uma delas e a Lei n.11.340/2006 “DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER”, que criou mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher; dispôs sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; estabeleceu medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar com seu objetivo principal.
2 FEMINICÍDIO E PRÁTICAS JURÍDICAS
Antes da publicação da Lei 13.104/2015, que define o feminicídio como uma situação qualificada do crime de homicídio, constante no rol dos crimes hediondos, esse tipo de crime era discutido, em seu mérito, baseado em lei especial, na Lei Maria da Penha, que versa sobre os casos de violência doméstica familiar. No entanto, a referida lei não aborda especificamente o assassinato de mulheres pelo fato de serem mulheres, pelo gênero, de forma diferenciada.
O Global Americans Report realizou um estudo em 2019 e demonstrou que o Brasil é o pior país em termos de violência de gênero na América Latina, e apenas foi incluído no estudo do Eclacs devido a não confiabilidade dos dados estatísticos apresentados (ONU MULHERES, 2020).
Lagarde (2006, p. 99) descreve o feminicídio como “um crime de ódio contra as mulheres por serem mulheres. Constitui o ponto culminante de um espiral de violência originada na relação desigual entre homens e mulheres na sociedade patriarcal”. Trata-se de um tipo penal que atinge as mulheres, pelo simples fato de serem mulheres. 
Dessa forma, o arcabouço jurídico é necessário e imprescindível na tentativa de combater esse tipo de crime. O inquérito policial, o devido processo legal, o julgamento e a condenação de um autor de feminicídio são elementos essenciais para diminuir a sensação de impunidade e aplicar ao criminoso a pena adequada, justa, proporcional à perda do bem maior: a vida humana.
Há uma enorme diferença entre a aplicação da Lei do Feminicídio e efetiva redução desse tipo de crime, uma vez que a realidade brasileira é muito precária quanto aos feminicídios e o acesso à Justiça. Paes (2018, p. 75) afirma que: 
em geral as leis e as práticas para condenar autores de feminicídio ainda são extremamente fracas no Brasil e o sistema patriarcal de desigualdade e exclusão social permanece alto em áreas em que existe uma concentração de pobreza e em zonas de conflito.
Em relação ao aspecto punitivo, é imprescindível que a Lei do Feminicídio seja aplicada com efetividade e todos os agentes públicos envolvidos no processo investigatório, processamento e julgamento desses crimes podem ser auxiliados com a aplicação das Diretrizes Nacionais do Feminicídio. 
2.1 Do Inquérito e o Feminicídio
No Brasil, a Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1803 trouxe a denominação inquérito policial, que em seu art. 10, §1º previa as condutas a serem adotadas por chefes, delegados e subdelegados de polícia nos casos de crimes comuns cometidos em seus distritos. Tal disposição determinava que, para a formação de culpa nos crimes comuns, as autoridades deveriam realizar todas as diligências necessárias à descoberta dos fatos criminosos e suas circunstâncias e, em seguida, encaminha-las aos Promotores Públicos com os autos de corpo de delito e indicação de testemunhas idôneas e cientificarem a autoridade competente para a formação de culpa (BRASIL, 2020a). 
O Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, que regulamentou a lei supracitada, determinou que as autoridades policiais, imediatamente após serem informadas da prática de crime comum, deveriam adotar todas as diligências necessárias para verificação de sua existência, circunstâncias, autores e cúmplices, e reduzi-las a termo, compreendendo, para tanto, o corpo de delito direto, quando presentes elementos passíveis de incriminação, exames e buscas para apreensão de documentos e instrumentos, inquirição de testemunhas que houvessem presenciado o fato criminoso ou tenham tido razão de sabê-lo, bem como perguntas feitas ao réu e ao ofendido (BRASIL, 2020b).
A autoridade policial, quando presente no local do crime, deve proceder à apreensão dos instrumentos utilizados para a prática do crime e de quaisquer objetos porventura encontrados, após a realização dos exames necessários para apuração do fato criminoso e suas circunstâncias. Ao final era obrigado a lavrar auto que contivesse assinaturas da autoridade, perito e de duas testemunhas (LIMA, 2015). 
Ao final dessa etapa, submetia-se o autor preso em flagrante a um interrogatório e as declarações juradas das pessoas eram colhidas ou escoltas que o conduzissem, presenciassem o fato, ou dele tivessem conhecimento. Após, realizava-se o exame de corpo de delito e interrogavam-se as testemunhas do crime, inquirindo-as sob juramento a respeito do fato e suas circunstâncias, bem como de seus autores ou cúmplices, cujos depoimentos seriam escritos resumidamente em um único termo assinado pela autoridade policial, testemunhas e autor, quando preso em flagrante (CAPEZ, 2019). 
Quando as diligências eram encerradas e todas as peças autuadas, o inquérito policial era entregue diretamente ao Juiz de Direito, se da comarca especial, ou ao Juiz Municipal, se da comarca geral, para que tomassem conhecimento e procedessem à análise de indícios de culpa por crime inafiançável cometido pelo indiciado. Em caso positivo e reconhecida a conveniência da prisão do indiciado, expedia-se mandados ou requisições para tal fim. Não existindo tais indícios, os autos eram remetidos ao Promotor Público, ou quem o representasse para análise dos fatos e formação de sua opinio delicti, manifestando-se pelo oferecimento ou não de denúncia contra o indiciado (BRASIL, 2020b). 
O Código de Processo Penal de 1941 manteve o inquérito policial como instrumento de garantia do cidadão contra acusações abusivas, pois buscava apurar as infrações penais através da prova do fato, indícios de autoria e imputabilidade penal do agente como forma de fundamentar as diligências investigatórias e, consequentemente, subsidiar a ação penal.Tal situação se deve ao fato de que o objetivo de investigar e apontar o autor do delito sempre teve por base a segurança da ação da justiça e do próprio acusado, tendo em vista que o simples ajuizamento de uma ação penal contra determinado indivíduo, sem provas que o condenem, implicaria em ônus social, técnico e judicial ao suposto acusado (LINHARES, 2005). 
Dessa forma, pode-se concluir que o inquérito policial é o mecanismo capaz de realizar uma instrução prévia dos fatos definidos como crime que, através da polícia judiciária, reúne todas as provas preliminares necessárias para afirmar a ocorrência de um delito e seu autor, auxiliando a Justiça Criminal a preservar inocentes de acusações temerárias através da garantia de um juízo inaugural de delibação probatória. 
Paccelli (2014, p 56) afirma que:
O inquérito policial, atividade específica da polícia judiciária é fase pré processual da persecução penal nos crimes comuns, possui natureza jurídica procedimental e constitui a legitimação ativa a cargo do Estado que, atribuída a órgãos estatais, compete às autoridades administrativas, quando expressamente autorizadas por lei e no exercício de suas funções, e, via de regra, à polícia judiciária, o esclarecimento e apuração das infrações penais e de sua autoria. 
No caso do feminicídio, cuja ação é penal pública incondicionada, o procedimento administrativo de inquérito policial deve ser instaurado de ofício pela autoridade policial ou mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público. Deve acompanhar a denúncia e conter a narração do fato com todas as circunstâncias, a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou presunção de ser ele o autor da infração, bem como os motivos que o impossibilitem de fazer e a nomeação de testemunhas, com indicação de sua profissão e residência (BRASIL, 2020c). 
O prazo para conclusão do inquérito é de máximo de dez dias, a contar da data em que se executar a ordem de prisão, nos casos em que o indiciado esteja preso em flagrante ou preventivamente, ou dentro de trinta dias, quando se encontrar solto, independentemente de fiança, sendo imediatamente remetido ao juiz competente, destinatário mediato, que se utilizará do inquérito para formação de suas convicções e, assim, receber a petição inicial, determinar a realização de diligências e providências cautelares, tais como prisão, quebra de sigilo telefônico, entre outros, sendo-lhe vedado decidir unicamente com base nos elementos informativos colhidos na investigação (BRASIL, 2020c). 
A Lei 11.340/06 não estabelece uma disciplina própria da investigação criminal nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher. O que há, na verdade, é uma previsão detalhada quanto ao protocolo de atendimento especializado a ser cumprido pela autoridade policial (artigos 10 a 12-C) e sobre as medidas cautelares específicas, principalmente aquelas destinadas à proteção urgente da ofendida (artigos 18 a 24-A).
Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, contudo, independentemente da pena prevista, fica excluído o procedimento estabelecido pela Lei 9.099/95 (artigo 41 da Lei 11.340/06); por conseguinte, todos esses delitos são obrigatoriamente apurados, na fase de investigação preliminar, mediante inquérito policial.
Destaque-se, ainda, que essa investigação criminal, ou melhor, todo o atendimento a ser prestado por órgãos da Polícia Civil às mulheres que se encontrem nessa situação particular de violência deve ser realizado por unidades especializadas (artigo 8º, IV, da Lei 11.340/06). 
Oportuno lembrar que recente modificação legislativa veio a reafirmar esse compromisso legal dos Estados e do Distrito Federal em conferir prioridade “à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher” (artigo 12-A da Lei 11.340/06).
Os inquéritos são elaborados mediante vários olhares e falas que tentam compor justificativas para a ocorrência do evento e para o indiciamento ou não de um suposto autor. Os atores envolvidos são testemunhas do assassinato, familiares, amigos e conhecidos das vítimas ou dos autores, podendo incluir policiais e o indiciado (LINHARES, 2005). 
Assim sendo, o inquérito policial sumariza a organização de fatos, testemunhos e provas realizada pelos agentes ao selecionar as vozes que serão ouvidas e as que serão silenciadas em um documento cujo desfecho configura a versão final sobre o caso. 
2.2 Da Participação do Ministério Público 
O Ministério Público é o destinatário do inquérito policial nos crimes de ação penal pública, cabendo ao promotor de justiça, como titular da ação, ao receber o inquérito policial em qualquer tempo de seu andamento, dar os devidos encaminhamentos para o caso. De acordo com o previsto na legislação brasileira, o promotor de justiça poderá oferecer a denúncia, ou requisitar que a polícia faça novas diligências, ou representar pelo arquivamento do caso se não estiverem presentes os elementos suficientes para demonstrar a autoria, o dolo ou a materialidade no crime (ONU MULHERES, 2020). 
O Ministério Público deve atuar com a devida diligência e segundo os deveres de investigar e sancionar, prevenir e garantir uma justa e eficaz reparação para as vítimas. De acordo com o quadro de suas atribuições e dentro dos limites legais de suas atuações, o Promotor de Justiça deverá acompanhar a apuração dos fatos a partir do conhecimento da ocorrência da tentativa ou da morte violenta de uma mulher atento para a verificação das circunstâncias em que o crime ocorreu, analisando as provas produzidas. Diante do caso de morte violenta de uma mulher, o Promotor de Justiça deve adotar como premissa se tratar de crime por razões de gênero e aplicar a perspectiva de gênero para a análise do caso; uma vez que forem devidamente coletados e analisados, as evidências e indícios servirão como elementos probatórios para fundamentar a tese de acusação que permita chegar com êxito ao julgamento e obter a punição dos responsáveis pelo crime (MPDFT, 2016). 
Nesse sentido, é fundamental que o promotor de Justiça, ao incorporar a perspectiva de gênero, promova uma mudança substantiva em sua atuação: aplicando as diretrizes formuladas nesse documento na elaboração da tese de acusação e demais atos relacionados ao processo judicial, aplicando a Lei Maria da Penha às mortes decorrentes de violência doméstica e familiar e modificando a linguagem empregada nas peças processuais e nos argumentos para o convencimento dos jurados.
O núcleo da acusação nos crimes de feminicídio tentado ou consumado deve lançar mão das lentes de gênero para avaliação da sua tese, a qual pode ser definida em conformidade entre os componentes fáticos, os componentes jurídicos e os componentes probatórios, dentro de um todo coerente e verossímil (MODELO DE PROTOCOLO, 2014), formado com base nos elementos recolhidos durante a fase de investigação policial, sendo elaborada a partir das evidências e suas deduções, e dos tipos penais aplicáveis. 
O panorama descrito pela Onu Mulheres enfatiza que:
Uma tese de acusação bem-sucedida – em matéria de mortes violentas de mulheres, sejam elas consumadas ou tentadas, além das recomendações usuais de coerência, integralidade e solidez – deve apresentar ao juiz e aos jurados os meios de convicção sobre: i) as razões de gênero que comprovam se tratar de uma morte violenta por razões de gênero; (ii) os danos causados à vítima direta e às vítimas indiretas; (iii) a responsabilidade do autores e/ou partícipe; e iv) elementos que permitam confrontar as diferentes opiniões e interpretações entre os operadores do direito, no que diz respeito ao conceito de gênero, ou as classificações de “morte violenta por razão de gênero”, ou “morte violenta por razões da condição do sexo feminino” (ONU MULHERES, 2020). 
A Lei Maria da Penha e a recente tipificação do crimede feminicídio passaram a exigir uma postura ativa do Ministério Público em proporcionar a adequada proteção às vítimas de violência, bem como a responsabilização dos agressores, através de uma atuação que permita compreender a complexidade da dinâmica da violência doméstica e familiar contra a mulher em sua atuação perante o Tribunal do Júri. 
O advento da Lei Maria da Penha possibilitou a criação de vários mecanismos de proteção para as vítimas de violência doméstica e familiar, permitindo-lhes permear todo o processamento e julgamento dos crimes de feminicídio, como também prezar pela necessidade de garantir a proteção da mulher sobrevivente e seus familiares e dependentes, vítimas indiretas da ação criminosa.
A mudança legislativa introduzida pela Lei nº 13.104/2015 reforçou a aplicação da Lei Maria da Penha pelos operadores do direito e pelo Tribunal do Júri, provocando uma transformação na administração da justiça ao atribuir às vitimas de violência o papel de sujeitos de direitos fundamentais, dentro e fora da relação processual e estendendo as medidas protetivas de urgência, assistência, reparação e prisão, aplicáveis aos casos de violência doméstica e familiar, para todas as mulheres que tenham sido vítimas de mortes ou tentativas violentas decorrentes da razão de gênero. 
A título de exemplo, as medidas protetivas de urgência quanto ao agressor (BRASIL, 2020d), constituem-se em suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente; afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; proibição de aproximação da ofendida, seus familiares ou testemunhas, com fixação do limite mínimo de distância a ser estabelecido pelo juiz; contato com a ofendida, familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; freqüentar determinados lugares a fim de se preservar a integridade física e psicológica da ofendida; restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
As aplicáveis à ofendida corresponderão a encaminhamentos, em conjunto com seus dependentes, a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; recondução ao respectivo domicílio após afastamento do agressor; afastamento do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos e separação de corpos. Nestes casos, tais medidas poderão ser concedidas tanto pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou da ofendida, como de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público. Ainda, será possível aplicá-las de forma isolada ou cumulativamente, ou substituí-las a qualquer tempo por outras de maior eficácia, quando verificada sua necessidade (BRASIL, 2020d).
Todavia, segundo entendimento proferido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, a inclusão da qualificadora do feminicídio não poderá servir como substituto das qualificadoras de motivo torpe ou fútil, cuja natureza é subjetiva, sob pena de subverter os princípios da proteção conferida à mulher, uma vez que o feminicídio possui nomeação jurídica especial por qualificar-se como o último ato de violência letal advindo de um continuum de violência contra a mulher em razão do gênero, decorrente das relações hierárquicas e sociais que resultam no controle sobre a vida e a morte das mulheres. 
Objetivando que a violência contra as mulheres seja adequadamente prevista e viabilizada pela sociedade e por todo o sistema de justiça, e sendo o Ministério Público o destinatário final do inquérito policial nos crimes de ação penal pública, tal órgão deverá compreender a dinâmica existente no ciclo de violência doméstica contra a mulher para, só então, tratar os casos de feminicídio, independentemente de consumação. 
Com o advento da Lei no 11.340/2006, houve uma significativa transformação na administração da justiça com novo papel atribuído às vítimas, que passaram a ser vistas não apenas em sua qualidade passiva dos crimes, mas como sujeitos de direitos fundamentais e na relação processual. 
Ciente que a violência em razão do gênero encontra-se constantemente envolta em fases iniciais de harmonia e cumplicidade entre o casal, seguidas de momentos de acúmulo de tensões, brigas constantes e xingamentos, para, ao final, resultar em episódios de agressão física e emocional, os quais podem ou não ensejar a busca de auxílio psicológico, judicial e policial para enfrentamento da situação, e compreendendo que questões relacionadas à dependência emocional, financeira, ignorância de seus direitos, sentimento equivocado de culpa e dificuldade de se reconhecer como receptora da violência, seja por motivos sociais ou religiosos, podem conduzir a mulher a uma reconciliação momentânea, com falsas promessas de mudança, o promotor de justiça, ao receber o inquérito policial, deverá adotar como premissa a prática do crime por razões de gênero e ordenar a realização de diligências e encaminhamentos que se fizerem necessários ao caso, atentando-se aos fatores de risco que resultaram na situação e prezando pela reparação sancionatória do agressor, a nível material, moral e psicológico, devida à vítima e seus familiares, devendo esta estar expressa na denúncia oferecida pelo Ministério Público, inclusive com menção ao quantum a ser fixado (BRASIL, 2020c). 
Uma vez devidamente coletadas e analisadas, as evidências e indícios servirão como elementos probatórios fundamentais para a tese de acusação e investigação dos casos envolvendo feminicídio, de modo a possibilitar o êxito no julgamento e a punição dos responsáveis pelo crime. 
Oferecida a denúncia, esta deverá ser sucinta, limitando-se à exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, sendo o caso, o rol de testemunhas (BRASIL, 2020c), evitando-se a descrição de circunstâncias não essenciais para não induzir o plenário a discussões protelatórias, que poderiam conduzir os jurados a uma dúvida inexistente sobre os fatos principais. 
Entretanto, para que uma tese de acusação seja considerada bem sucedida, ela deverá apresentar ao juiz e aos jurados meios de convicção sobre as razões que comprovem se tratar de uma morte violenta por razões de gênero, os danos causados à vítima direta e às vítimas indiretas, a responsabilidade dos autores e/ou partícipes, os elementos que permitam confrontar as diferentes opiniões e interpretações entre os operadores jurídicos no que tange ao conceito de gênero ou as classificações de morte violenta por essas razões. 
Primeiramente a perspectiva de gênero deve ser incorporada na denúncia, mencionando o tipo penal feminicídio desde o início como forma de propiciar uma análise probatória sem preconceitos por parte dos destinatários da prova, uma vez que estas devem emergir como resultado da investigação conduzida na fase do inquérito policial, tendo em vista que o fluxo de informações entre a autoridade policial responsável pela condução do inquérito policial e o Ministério Público constitui elemento fundamental para o encaminhamento das investigações e a obtenção de evidências fortes que resultem na demonstração das razões de gênero (MPDFT, 2016). 
De modo a garantir coerência e melhor uso das provas apresentadas ao processo através do inquérito policial, recomenda-se que o Ministério Público utilize o mesmo modelo elaborado para orientação da investigação policial, permitindo ao promotor de justiça contextualizar a morte a partir de informações como as circunstâncias de tempo, modo e lugar em que tenha ocorrido sua consumação ou tentativa; a identificação dos responsáveis; informações sobre a natureza e grau de relacionamento entre a vítima e as pessoas indiciadas pelo crime; bem como a determinação dos danos ocasionados com o crime e a necessidade de proteção conferida às vitimas diretas, indiretas e familiares (MPDFT, 2016). 
O ponto inicialpara o oferecimento da denúncia deve ocorrer na comprovação da morte ou de sua tentativa, a fim de que se configure a existência de um feminicídio consumado ou tentado. Todavia, a denúncia deverá pormenorizar, de forma clara e detalhada, cada um dos fatos dotados de relevância jurídica, demonstrando as acusações imputadas e as responsabilidades dos agentes, além de apresentar informações completas sobre o perfil da vítima e o indiciado que possam evidenciar as razões de gênero e outros fatores que tenham afetado as condições de vulnerabilidade em que a vítima se encontrava e que possam ter influenciado a prática do crime, tais como raça, cor, idade, orientação sexual e condição socioeconômica (MPDFT, 2016). 
Durante a fase de investigação policial ou na instrução criminal, sempre que novas evidências forem identificadas, caberá ao promotor de justiça solicitar ao juiz quebra de sigilo telefônico e telemático da vítima e/ou do suposto agressor indiciado, bem como que se procedam a buscas e apreensões destinadas à localização da arma do crime, documentos e objetos que auxiliem na comprovação de sua autoria, formação da acusação e conhecimento dos fatos às vítimas indiretas, possibilitando-lhes o acesso às informações sobre o inquérito policial, linhas de investigação adotadas, teses de acusação e demais dados considerados relevantes para a reparação dos direitos à memória da vítima (MPDFT, 2016). 
Nos crimes tentados e sempre que a segurança das vítimas sobreviventes, indiretas e testemunhas o exigirem, o promotor de justiça, de posse de sua manifestação expressa em termos de declarações, tanto poderá complementar o requerimento de medidas protetivas feito pela própria vítima sobrevivente na delegacia de polícia, como também realizar sua oitiva, requerendo a aplicação das medidas mais adequadas ao caso em questão. Em se tratando de feminicídios consumados, tais medidas podem ser requeridas para as vítimas indiretas quando existentes registros de risco concreto de possíveis atentados contra suas vidas. 
Contudo, quando a ocorrência de tais crimes resultarem de forma tentada ou consumada, poderão ser aplicadas medidas de prisão preventiva, decretadas de ofício pelo juiz, via representação da autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público, podendo, neste último caso, serem realizadas em qualquer fase do inquérito policial (BRASIL, 2020c). 
A Resolução n. 135, de 26/1/2016 do CNMP instituiu o Cadastro Nacional de casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, atendendo ao disposto no art. 26, III, da Lei n. 11.340, de 7/8/2006. Trata-se de um programa de banco de dados de responsabilidade do CNMP, de abrangência nacional, acessível aos Ministérios Públicos estaduais, que deverão alimentar no sistema todos os processos em que haja a aplicação da Lei n. 11.340/2006, inclusive os casos de feminicídio em contexto de violência doméstica contra a mulher (CP, art. 121, § 2°, c/c § 2°-A, inciso I). 
Os Ministérios Públicos deverão fiscalizar a atuação policial para o adequado preenchimento dos campos constantes da taxonomia do cadastro nacional. A taxonomia obrigatória do cadastro nacional não impede que os Ministérios Públicos estaduais acrescentem campos à taxonomia do cadastro estadual. 
Feminicídio não é crime passional, tampouco “crime para lavar a honra” ou “crime por amor”. Trata-se de crime de ódio, misógino, decorrente da desigualdade estrutural nas relações sociais e de poder entre homens e mulheres, que resultam no controle sobre a vida e a morte das mulheres. O Ministério Público deve abolir o uso da expressão “crime passional” em relação aos crimes praticados em contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. O feminicídio consumado é o último ato de violência letal de um continuum de violências precedentes (MPDFT, 2016). 
Diante do novo papel atribuído às vítimas, de efetivos sujeitos de direitos fundamentais, cabe ao Ministério Público velar para que o Estado realize uma investigação pronta e imparcial sobre os fatos, reconhecendo o direito à Justiça; para que se apure as circunstâncias dos crimes, os motivos e os responsáveis pelos fatos , possibilitando ao direito à verdade e para que haja um processo e julgamento livres de estereótipos e preconceitos, que não deturpem a memória da vítima para justificar a violência sofrida oferecendo o direito à memória (MPDFT, 2016). 
2.3	Instauração do Processo 
A ação penal pode ser conceituada como o “poder de proceder contra alguém diante da existência de fumus commissi delicti” (LOPES Jr., 2019, p. 355). O direito de ação encontra fundamento no art. 5° XXXV, da CF/88 que assegura que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 2020e). No curso da ação penal são produzidas as provas, apresentadas as alegações defensivas e acusatórias, para que, ao final, utilizando-se de seu livre convencimento motivado, o juiz profira uma sentença, condenatória ou absolutória.
Julgar com perspectiva de gênero implica fazer o real direito à igualdade, através de uma resposta a uma obrigação constitucional e convencional de combater a discriminação de gênero através de atividades jurisdicionais que garantam o acesso à justiça, bem como remediar, no caso concreto, situações assimétricas de poder. 
Nos crimes cometidos contra a vida há uma especificidade na atuação do Poder Judiciário brasileiro quando há um julgamento por conselho de sentença, formado por jurados leigos em sessão presidida pelo juiz de direito. Nessas situações, a incorporação da perspectiva de gênero no julgamento de morte violenta de mulheres assume caráter especial, uma vez que todas as provas colhidas, bem como as teses da acusação e da defesa, serão direcionadas ao convencimento do respectivo conselho, responsável final pela decisão de reconhecimento da prática do crime e da responsabilidade penal do acusado (CAPEZ, 2019). 
A desconstrução de estereótipos e preconceitos com base no gênero, a partir de mudanças utilizadas na linguagem empregada nos interrogatórios, depoimentos e na elaboração de peças processuais, constitui uma estratégia de transformação substantiva que deve ser observada pelos magistrados em todas as fases da investigação e dos processos nos quais venham a intervir, oportunizando o destaque de expressões como violência por razões de gênero e feminicídio, que devem ser utilizadas como forma de demonstrar que a morte violenta de uma mulher por razões de gênero, ou sua tentativa, é resultado da desigualdade social e não mero fato individual que enseje a responsabilização da vítima (ROUSSEF; MENICUCCU, 2016). 
Em ações penais instauradas em crimes cujas vítimas são mulheres, é comum o estabelecimento de teses de defesa fortemente concentradas na apresentação de elementos negativos com relação à vítima e que enalteçam a imagem do réu. Tais situações revelam a manutenção de uma cultura patriarcal que prima pelo reconhecimento do privilégio ou até mesmo legítima defesa do agressor, culminando em sua absolvição. Estas situações devem ser levadas ao conhecimento do juiz que, munido dos instrumentos processuais cabíveis, utilizará de todas as formas necessárias para evitar a exposição da vítima sobrevivente ou seus familiares, podendo, inclusive, realizá-las através da decretação de sigilo e do indeferimento de provas consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (ONU MULHERES, 2020). 
Dessa forma, ao construir uma relação direta entre o feminicídio e a reivindicação de um novo tipo penal, com a remissão a um enquadramento jurídico e desconsiderando sua existência com múltiplas determinações, pode-se verificar que houve um equívoco, uma vez que tal vertente pretende instaurar um debate sobre a judicialização específica dos assassinatos de mulheres em razão do gênero. 
A tipificação do crime de feminicídio encontra resistência, ainda hoje, e são inúmeras as críticas e a resistência no reconhecimento da necessidade da separação desse crime e o de homicídio. Há certa razoabilidade em alguns desses argumentosrazoáveis, principalmente devido ao reconhecimento da limitação e do lugar ocupado pela legislação penal no sistema capitalista. No entanto, há uma necessidade de reconhecimento e esclarecimento relacionada a esses argumentos no que se refere à brutalidade e à base estruturalmente desigual na qual ocorrem as violências praticadas contra as mulheres. 
Cladem (2011, p. 147) descreve cinco argumentos que fundamentam essa posição contrária:
1) É preciso manter o princípio do direito penal mínimo; 2) o feminicídio já está contemplado no homicídio qualificado; 3) os problemas de técnica legislativa podem tornar inconstitucional a nova lei; 4) não há redução nas taxas do fenômeno, tampouco se resolve o problema da impunidade com a criação de um tipo penal, ou com o aumento de penas; 5) o sistema penal não pode ser demandado por um sentido simbólico e sim por sua eficácia reconhecidamente limitada.
Conforme afirmação de Segato (2011, p. 253) “a eficácia nominativa da lei, portanto, consiste na legitimidade dada a alguns sujeitos, cujo discurso é válido e o sofrimento social que nomina está oficialmente reconhecido”. A ampliação do debate em torno do feminicídio, reside na necessidade de criação de uma resposta penal, uma vez que a discussão principal é focada no reconhecimento da desigualdade de gênero e do conjunto de violências sofridas pelas mulheres ao longo da história, que passa a ser nomeado penalmente quando se reconhece a letalidade deste contexto. Em alguns argumentos contrários à judicialização da violência de gênero em geral, há os argumentos notadamente patriarcais, na medida em que impedem a identificação da dor, do sofrimento, da brutalidade da morte implicada nos assassinatos de mulheres e o seu significado no contexto de relações sociais extremamente desiguais. 
A Lei Maria da Penha traz em seu bojo atribuições à Defensoria Pública para o acompanhamento processual e extrajudicial das mulheres em situação de violência doméstica e familiar, citando diversos artigos entre os quais: artigo 8º, artigo 21, arts. 27 e 28, artigo 30 e 35, entre outros. Critérios de hipossuficiência devem ser levados em conta, mas também a vulnerabilidade momentânea da mulher quando está sofrendo uma das violências elencadas pela Lei Maria da Penha (BRASIL, 2020b). 
O acompanhamento da mulher vítima de violência por defensor, seja ele público ou advogado contratado pela vítima deve ser efetivo, visando evitar também a ocorrência de novos crimes. A legislação é clara quanto à necessidade de acompanhamento dessas vítimas mulheres em todas as fases do processo criminal. Além de evitar a revitimização, visa dar acesso à justiça, direito à informação, direito à verdade e outros direitos fundamentais que são bilaterais e se estendem às vítimas. Essas questões são levantadas nas diretrizes nacionais do feminicídio, que visa orientar a investigação, o processamento e o julgamento com perspectiva de gênero nos casos de mortes violentas de mulheres (BIANCHINI, 2018).
Alguns esclarecimentos sobre a assistência de acusação são inicialmente necessários. Primeiro é que há previsão legal nos artigos 267 e seguintes do Código de Processo Penal, dispositivos mantidos mesmo após reformas recentes, não havendo espaço para tese de inconstitucionalidade, superada inclusive com decisões do STF. Segundo que cooperar com a repressão do crime não transforma a posição de assistente em oponente, nem expressa a consagração do direito a vingança, mesmo porque assegura-se o direito à vítima e demais legitimados expressos e não a todos sem distinção (NUCCI, 2014, p. 519). Terceiro, e não menos importante, é a já mencionada mudança de perspectiva na posição da vítima no processo penal, que pretende não só a reparação do dano, mas o direito amplo ao acesso à justiça, direito à verdade e à memória. 
É claro que não pode haver proibição de atuação da Defensoria, de defensor, no acompanhamento da vítima direta ou indireta nos processos criminais, muito menos quando se tratar de feminicídio tentado ou consumado. Há um compromisso assumido pelo Estado na promoção dos direitos humanos das mulheres, exemplificado nos arcos jurídicos internacionais e nacionais, havendo uma obrigação de assegurar o gozo desses direitos onde quer que seja necessário. Delimitar ou proibir é discriminar mulheres e barrar o acesso à justiça dessas vítimas. 
A Defensoria Pública é um instrumento de acesso de forma direta das pessoas em situação de vulnerabilidade ao sistema de justiça, não só dos réus, não só dos homens, mas também das rés, e das vítimas diretas e indiretas, sejam homens ou mulheres. De outro norte, não haverá restrição alguma às vítimas mulheres que tenham condições de contratar advogados e se habilitem nos processos em trâmite nas varas dos júris, o que tornará mais evidente a discriminação entre mulheres com condições financeiras e as que não têm, caso haja a negativa de atendimento e acompanhamento por parte da Defensoria Pública (LEWIN; PRATA, 2016).
O artigo 27 da Lei Maria da Penha é claro quando diz que em todos os atos cíveis e criminais a mulher deve estar acompanhada por advogado e, por uma falha, não constou da Defensoria Pública, obviamente. Não tem a lei regramentos inúteis ou decorativos, pois esse acompanhamento deve ser efetivo e sem condicionantes, sobe pena de se reduzir direitos fundamentais. Essa exigência foi construída na Lei Maria da Penha (Exposição de Motivos) tendo como experiência as audiências realizadas com base na Lei 9.099/95 que não traziam ao processo o protagonismo das vítimas. Essas se viam excluídas do processo e saíam das audiências de transação para retornar ao ciclo da violência, sem qualquer informação quanto a seus direitos. É uma exigência e a “ausência de assistência jurídica torna a mulher ainda mais vulnerável, o que dificulta o exercício de seus direitos” (BIANCHINI, 2018, p.163). A autora segue mencionando que a garantia de assistência de advogado à mulher é ferramenta indispensável para que ela seja orientada e informada sobre seus direitos. Se houver descumprimento dessa assistência, o ato será considerado irregular, podendo ser considerado nulo em havendo prejuízo à situação jurídica da vítima.
3 EXECUÇÃO DA LEI DO FEMINICÍDIO 
A Lei Maria da Penha foi responsável pela criação de diversos princípios e mecanismos de proteção para as vítimas de violência doméstica e familiar que obrigatoriamente precisam estar presentes em todo o processamento e julgamento dos crimes de feminicídio, tentado ou consumado. É preciso observar, antes de tudo e além da condenação, a necessidade de garantir a proteção da mulher sobrevivente e seus familiares, particularmente seus dependentes, vítimas indiretas desse tipo de ação criminosa. 
Primeiramente, há que se ressaltar que a Lei 11.340/06 tem como objetivo principal tornar mais rigorosa a punição dos casos de violência doméstica e familiar, com vistas a tutelar, não apenas a incolumidade física e a saúde da mulher em situação de violência, mas também resguardar a tranquilidade e a harmonia dentro do âmbito familiar, diante de seu caráter extremamente protecionista e não meramente punitivo (BULOS, 2019).
A Lei 13.104/2015 introduziu uma mudança legislativa com enfoque para a aplicação da Lei Maria da Penha pelos operadores do direito que atuam no Tribunal do Júri, através da extensão das medidas de prevenção, proteção e punição para todas as mulheres que tenham sido vítimas de tentativas ou mortes violentas decorrentes de razões de gênero nos casos previstos na Lei Maria da Penha (BRASIL, 2020d). 
O tratamento das mortes violentas de mulheres por razões de gênero deve ser abordado através de uma perspectiva mais abrangente, com a aplicação efetiva das disposições contidas na Lei Maria da Penha, com o objetiva de prevenir a ocorrência dos feminicídios, que constituem o final mais gravoso do ciclo de violência à qual a vítima é submetida. 
Nesta conjuntura, ambas as leis estabelecem providências judiciais, entre as quais pode-se citar as medidas protetivas deurgência, cujo prognóstico é apontado como um dos maiores avanços no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher no Brasil (AVIZ et. al., 2017). São dois importantíssimos mecanismos de defesa à opressão sofrida pela mulher em situação de violência doméstica e familiar, como condição para resguardar sua integridade física e psíquica e, consequentemente, evitar maiores danos a mulher, sua família ou até mesmo proteger a regularidade de eventual investigação em curso. 
3.1 Atuação do Poder Judiciário na Execução Penal em Relação ao Feminicídio
A lei do Feminicídio tem a finalidade de enrijecer a legislação vigente, sendo esta considerada como mais um dispositivo de salvaguarda da mulher, cujo enfoque está nos casos que envolvam o assassinato de mulheres decorrente de sua condição de mulher e não o tipo penal, e engloba duas modalidades de crimes, tentados e consumados.
O Poder Judiciário é o órgão responsável pelo aprimoramento da expertise relacionada ao atendimento às mulheres vítimas de violência, assim como a implantação de Juizados ou Varas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que devem se instaladas em todos os Estados brasileiros. Esses juizados compõem a justiça comum, possuem competência cível e criminal para processar, julgar e executar as ações decorrentes dos atos de violência doméstica e familiar contra a mulher, deve ser realizado preferencialmente o acolhimento e atendimento da mulher vítima de violência por uma equipe multidisciplinar especializada nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde (BIANCHINI, 2018).
Campos e Carvalho (2006) afirmam que o costume decisório, que influencia na condução dos processos de violência doméstica e familiar contra a mulher nos moldes do microssistema dos Juizados Especiais Criminais, re-privatiza o conflito, de forma que novas modalidades de violências conjugais não são prevenidas e novas violências públicas (do processo) são adicionadas ao relacionamento já desgastado. 
Conforme enunciado de Pedro Lessa (2003, p. 8 e ss.):
 o poder judiciário é o que tem por missão aplicar contenciosamente a lei a casos particulares, sendo que o autor aponta, em termos clássicos, três principais características distintivas de tal poder da República, dentre as quais 1.º as suas funcções são as de um arbitro; para que possa desempenha-las, importa que surja um pleito, uma contenda; 2.º só se pronuncia acerca de casos particulares, e não em abstracto sobre normas, ou preceitos jurídicos, e ainda muito menos sobre princípios; 3.º não tem iniciativa, agindo – quando provocado, o que é mais uma consequencia da necessidade de uma contestação para poder funccionar.
Há um grande paradoxo relacionado à cultura social e jurídica dos agentes das instituições do sistema de justiça brasileiras, incluindo os membros da magistratura, que vai além das dificuldades estruturais, e permeia as deficiências na formação desses profissionais para enfrentamento das especificidades da violência doméstica e familiar contra a mulher. A Lei Maria da Penha se propôs a romper com a tradição jurídica de encarar o conflito doméstico de forma displicente, de separação entre espaços público e privado, que imputava toda a responsabilidade pela solução do litígio à vítima pressionada e fragilizada psicologicamente. 
É primordial ressaltar que o controle da legalidade da execução penal não é relacionado exclusivamente à definição de sua natureza jurídica se jurisdicional ou administrativa, uma vez que, hipoteticamente tanto uma função quanto a outra correspondem, prioritariamente, à aplicação e observância da lei (CASTILHO, 2019).
Ainda assim, a Lei de Execução Penal possui como premissa legal a concessão de maior proteção aos apenados quanto ao controle de legalidade na execução da pena, pois incumbe ao poder judiciário no Brasil a apreciação e cumprimento das normas jurídicas, sendo que lhe é facultada, inclusive, um controle incidental de constitucionalidade das normas legais, o que é proibido à administração pública, sobrepondo-se a um contraditório melhor definido e qualificado.
Não há como afastar o caráter jurisdicional da execução penal, ainda que esteja contrária à vontade do condenado, uma vez que seria inútil se após o julgamento procedente da ação criminal, o juiz não possuísse meios de impor o cumprimento da sentença exarada do processo de conhecimento (RODRIGUES, 2020).
Compete ao juízo da execução realizar a atividade de fiscalização e vigilância dos órgãos administrativos e particulares incumbidos de controlar o cumprimento da pena em estabelecimentos prisionais ou medidas de segurança em estabelecimentos próprios, o que caracteriza uma atividade jurisdicional e ainda administrativa, devendo garantir os direitos do apenado.
3.1.1 Do Afastamento Legal
A mulher vítima de violência doméstica busca a autoridade policial para realizar a denúncia e com o objetivo de obter segurança contra o agressor. O legislador estabeleceu medidas protetivas de urgência na Lei com o propósito de afastar o agressor da vítima e também do lar, no intuito de proteger a mulher violentada no seio doméstico. 
No artigo 22 da Lei Maria da Penha, pode-se constatar a medida protetiva que obriga o agressor a não estar no mesmo ambiente que a vítima: 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. [...]. (BRASIL, 2020d). 
Conforme aduz Alice Bianchini (2018, p. 167):
Diante da garantia imposta pela Lei, o afastamento do agressor visa diminuir os riscos de possíveis novas agressões, além de contribuir para a integridade física e emocional da vítima, : A retirada do agressor do interior do lar, ou a proibição de que lá adentre, além de auxiliar no combate e na prevenção da violência doméstica, pode encurtar a distância entre a vítima e a Justiça. O risco de que a agressão seja potencializada após a denúncia diminui quando se providencia para que o agressor deixe a residência em comum ou fique sem acesso franqueado a ela. Para cessar a violência doméstica a vítima ou o agressor podem se afastar do lar ou do local no qual há convivência entre eles. Tal afastamento deve ser feito observando o caso concreto e suas peculiaridades, a fim de que a vítima não seja prejudicada. 
Nesse seguimento, Maria Berenice Dias ensina que: 
Para garantir o fim da violência é possível a saída de qualquer deles da residência comum. Determinado o afastamento do ofensor do domicílio ou do local de convivência com a ofendida (art. 22, II), ela e seus dependentes podem ser reconduzidos ao lar (art. 23, II). Também pode ser autorizada a saída da mulher da residência comum, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda de filhos e alimentos (art. 23, III). A previsão justifica-se. Sendo casados os envolvidos, o afastamento com a chancela judicial, não caracteriza abandono de lar, a servir de fundamento para eventual ação de separação. Em qualquer das hipóteses, trata-se de decreto de separação de corpos (art. 23, IV) decorrente de crime e não de outras questões de natureza exclusivamente civil. (DIAS, 2008, p. 84). 
O inciso III apresentacondutas tipificadas nas quais o agressor é proibido de se aproximar da vítima, devendo o juiz fixar um limite mínimo de distância entre a ofendida e o agressor, sendo proibido ainda o contato por qualquer meio de comunicação. Uma forma de impedir o contato entre agressor e ofendida, seus familiares e testemunhas seria delimitar um mínimo de distância de aproximação (art. 22, III, a). Para isso o juiz tem a faculdade de fixar, em metros, a distância a ser mantida pelo agressor da casa, do trabalho da vítima e do colégio dos filhos. (DIAS, 2008, p. 85). 
Com ênfase no enunciado pelo artigo 22, em seus incisos II e III, a Lei busca uma forma de distanciar o agressor da vítima. O afastamento do lar é primordial para a proteção da vítima, uma vez que o agressor não deve mais conviver com a mesma, no entanto, essas medidas de afastamento são ineficazes quando a vítima aceita a permanência do agressor nos mesmos locais em que ela esteja.
O artigo 12-C foi introduzido na Lei Maria da Penha nos seguintes termos (BRASIL, 2020d):
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
§ 1º. Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.
§ 2º. Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso.
Diante da garantia imposta pela Lei, o afastamento do agressor objetiva diminuir os riscos de possíveis novas agressões, além de contribuir para a integridade física e emocional da vítima, conforme aduz Alice Bianchini: 
A necessidade de afastamento do agressor do lar ou do local no qual há convivência entre eles é o fim da violência doméstica. Esse afastamento deve ser feito observando o caso concreto e suas peculiaridades, a fim de que a vítima não seja prejudicada. 
A falta de políticas publicas e a ineficácia das medidas de afastamento do agressor estão relacionadas a princípio na ausência da coerção do Estado quanto à garantia e a aplicação efetiva da Lei. A falta de fiscalização e aplicação de tais medidas protetivas, como o afastamento do lar, resulta na manutenção da convivência e consequentemente com atos de violência e ameaça. 
 Nesse sentido, ao demostrar dúvida acerca da eficácia das medidas protetivas, Luiz Guilherme Marione afirma que: 
O que se pode notar é a dificuldade da aplicação e também da fiscalização das medidas protetivas quando se trata de conferir uma efetiva das determinações judiciais, tendo em vista que muitas vezes torna-se impossível aplicar tais dispositivos em sua integralidade; vários são os fatores que contribuem para a não concretização dessas medidas (MARIONE, 2020). 
As medidas protetivas visam a garantia para que as mulheres gozem dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal do Brasil, direitos inerentes à pessoa humana, que possibilitam oportunidades e a possibilidade de viver sem violência, tendo preservada sua saúde física e mental.
Quando ocorre a busca de amparo legal pela vítima para sua própria proteção e mesmo assim há o crime de feminicídio, percebe-se uma falha do Estado, por ação ou omissão, pois não houve proteção à vida da mulher. Existem casos em que ocorre demora para conceder medidas de proteção, ocorrem falhas na intimação do agressor, a falta de comunicação à ofendida quando o agressor é liberado da prisão, entre diversos outros fatores que ocasionam o fracasso na aplicação da lei e consequentemente a prática do crime (AVIZ et. al. 2017).
É de suma importância reconhecer a autonomia das medidas protetivas, a fim de que a mulher não se sinta desamparada em situações em que não for instaurado um processo criminal. Faz-se necessário e urgente que sejam tomadas providências pelo Poder Judiciário e pelo Estado com a finalidade de acolher as vítimas que sofrem permanentemente ameaças e agressões de diversas formas. A inefetividade das medidas protetivas deve ser objeto de criação de novos possíveis meios mais severos de punição que inibam a violência doméstica. 
3.1.2 Da Prisão
A Lei Maria da Penha alterou o código de Processo Penal, artigo 313, III, com a criação de mais uma possibilidade de prisão preventiva. A prisão do agressor pode ocorrer para englobar duas possibilidades: a garantia da celeridade na tramitação do processo e assegurar a eficácia da medida protetiva de urgência.
A Lei 13.641, de 03 de abril de 2018, passou a prever o crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência (art. 24-A da Lei 11.340/06), entretanto a legislação anterior estabelecia apenas a fixação de outras medidas cautelares e a decretação da prisão preventiva, quando do descumprimento de ordem judicial por parte do agente (BRASIL, 2020d). Após a criação do tipo penal previsto no art. 24-A da Lei Maria da Penha, o ofensor poderá, além de ser preso pelo descumprimento de medida protetiva, responder e ser preso pelo novo delito.
Isso porque o § 4º do art. 282 do Código de Processo Penal assevera que 
No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único) (BRASIL, 2020).
Há uma controvérsia relacionada à aplicação da “Lei Maria da Penha” no âmbito do Direito Penal no que se refere à prisão preventiva, elencadas no art. 313 do CPP. É importante mencionar a necessidade do controle jurisdicional prévio, posto que ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente (art. 5º, LXI, da CR/88). É certo que o parágrafo único do artigo 312 do CPP permite a decretação da prisão preventiva devido ao descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares. Entretanto, o artigo 282, § 6o do CPP deixa claro que, apenas em último caso o juiz poderá decretar a prisão preventiva. Em caso de insuficiência ou ineficácia da medida inicialmente imposta, deve o juiz substituí-la ou impor outra em cumulação. Mas a prisão preventiva só se justifica quando não há nenhuma outra alternativa (BULOS, 2019). 
A jurisprudência é pacífica no sentido de que quando houver descumprimento de ordem de autoridade e houver previsão em lei das consequências do descumprimento, não se configura o crime de desobediência, como era o caso do descumprimento de medida protetiva determinada judicialmente, pois o juiz poderia impor outras medidas, inclusive, decretar a prisão preventiva do ofensor, uma vez que as medidas de proteção são progressivas.
Aury Lopes Jr (2013, p. 97) ensina que: 
Sem embargo, pensamos que a interpretação deve ser sistemática e restritiva. Logo, descumprida a medida cautelar diversa imposta, deverá o juiz, em primeiro lugar, buscar a ampliação do controle pela via da acumulação com outra medida cautelar diversa. Somente quando insuficiente a cumulação, poder-se-á cogitar da prisão preventiva e, mesmo assim, quando houver proporcionalidade em relação ao delito imputado. Assim, a previsão de manejo da prisão preventiva como instrumento coercitivo, em nome da efetividade das demais medidas protetivas, não significa destituí-la de todos os seus fundamentos e requisitos cautelares. 
No mesmo sentido, Maria Berenice Dias (2018, p. 98) afirma que: 
[…] a desobediência não previamente justificada àscautelares impostas autoriza, em qualquer hipótese, sua conversão em prisão preventiva (desde que não seja possível aplicar outra medida alternativa em substituição ou cumulação), ainda que não se trate de situação arrolada no art. 313, sob pena de sua imposição, eventualmente, resultar inócua […]. 
Existe uma nova possibilidade que se inaugura para a decretação da prisão preventiva, que não pode ser interpretada de forma isolada, impondo, primordialmente, deve-se atentar ao preenchimento dos requisitos gerais de toda e qualquer prisão dessa espécie, mencionados no art. 312 do CPP. É importante ressaltar que a Lei Maria da Penha não criou um novo “periculum libertatis”, isto é; não criou um novo risco que se pretende tutelar nem dispensou provas do “fumus boni iuris” (DIAS, 2018). 
A prisão cautelar do suposto agressor no caso de feminicídios consumados ou tentados deve ser analisada, tendo em vista que, em casos de violência doméstica e familiar, a proximidade do autor com a vítima sobrevivente, vítimas indiretas, familiares e testemunhas, permite o conhecimento de seus hábitos por parte do agressor, colocando-as em situação de maior risco. Para garantir a incolumidade física da vítima sobrevivente e vítimas indiretas, o representante do Ministério Público poderá requerer a decretação da prisão preventiva do agressor, de acordo com o artigo 20 da Lei Maria da Penha, em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, ou solicitar a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão que auxiliem a cessar o ciclo de violência (MARIONE, 2020). 
Dessa forma, descumprida a medida cautelar diversa imposta, deverá o juiz, em primeiro lugar, buscar a ampliação do controle pela via da acumulação com outra medida cautelar diversa. Somente quando insuficiente a cumulação, poder-se-á cogitar da prisão preventiva e, mesmo assim, quando houver proporcionalidade em relação ao delito imputado. 
3.2. Do Direito a Contestação (Ampla Defesa e Contraditório) 
Uma importante peculiaridade da Lei nº 11.340/2006 é o fato de que, não obstante a regra estabelecida pela Lei nº 12.403/2011, segundo a qual a concessão de medidas de urgência em geral exige a prévia a manifestação do acusado, a Lei Maria da Penha admite a dispensa do prévio contraditório quando da concessão de suas medidas protetivas específicas (CASTRO, 2018). 
Dessa forma, no arcabouço sistemático da Lei nº 11.340/2006, após o registro da ocorrência de suposta violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade policial deve remeter ao juiz competente, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, um expediente apartado com o pedido para a concessão de medidas protetivas de urgência, nos termos do seu artigo 12, inciso III (BRASIL, 2020d). Logo, as medidas protetivas de urgência podem ser concedidas liminarmente, lastreadas em uma possível ameaça à integridade física e psíquica da vítima. De acordo com Juliana Garcia Belloque (2011): 
As medidas protetivas de urgência são claramente medidas cautelares, adotadas em cognição sumária na fase inquisitiva ou judicial, inclusive sem oitiva da parte afetada, não definitivas e que visam assegurar o resultado do processo de apuração dos fatos supostamente criminosos, culminando na eventual punição do agressor. 
As medidas protetivas se urgência rotineiramente baseiam-se unicamente no depoimento ou na oitiva da vítima, atendendo a legislação vigente, que baseia-se na premissa da vulnerabilidade da mulher em situação de violência doméstica. Dessa forma, é possível que sejam concedidas, inaudita altera pars, medidas como o afastamento do agressor da ofendida e de seus familiares mediante fixação de uma distância mínima, ou a proibição de comunicação com a ofendida e de frequentar determinados lugares. Trata-se de uma exceção à regra geral, segundo a qual o Magistrado deve, primeiramente, ouvir as partes, para, somente após fazê-lo, proferir sua decisão. Uma exceção que soluciona um dilema em favor da vítima. 
Segundo Ferrajoli (2013, p. 77-91.) o direito de defesa, em essência é o direito de refutar a acusação. E é baseado em três fundamentos teóricos elencados abaixo:
O primeiro refere-se ao caráter de direito fundamental que impede que seja confiada a lógica do mercado como se tratasse de um direito patrimonial, devendo ser garantido pela esfera pública. O segundo revela-se no interesse público não só de condenar um culpado, mas especialmente de proteger um inocente. Por fim, no próprio processo em si, na participação dialética que vai influir na correta comprovação da verdade, que é a verdade processual, expressa processo em contraditório.
Conforme enunciado de Ferrajoli, a concessão, inaudita altera pars e por prazo indeterminado, de medidas restritivas de liberdade de locomoção do agressor, acrescida à morosidade na apresentação da denúncia, constitui um cerceamento de defesa do réu. Isso ocorreria porque nesse caso, o agressor apenas terá a oportunidade de se defender das acusações no curso da ação penal, momento no qual lhe é dada a opção de produzir provas sobre os fatos, a existência do crime, a autoria do fato e da culpabilidade. Não há como negar a aplicabilidade das regras do CPP sobre medidas cautelares, aos institutos da Lei Maria da Penha, principalmente nos textos nas quais a legislação é silente, isto é; na determinação dos requisitos para a imposição liminar de uma medida protetiva. Portanto, nos casos em que o contraditório não representar uma concreta ameaça a integridade da vítima, nem prejuízo à sua proteção, ele é medida impositiva. 
Nos termos do art.19, §1º, da Lei Maria da Penha, que assim dispõe:
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida.
§1o. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado (BRASIL, 2020d).
Esse artigo prevê a possibilidade de concessão de medida protetiva de urgência antecipadamente devido ao seu caráter emergencial, mediante o chamado contraditório diferido ou postergado, sob pena de perder sua eficácia, isso não significa ausência de garantia do o contraditório a quem se vê na obrigação de cumpri-las. Contraditório postergado não é ausência de contraditório, pois se assim fosse seria o fim do devido processo legal, o que é inadmissível no estado democrático de direito.
Na análise das medidas protetivas de urgência, como tutela inibitória, o julgador, ao se convencer da probabilidade real do ilícito, diante da ameaça a um direito, deve agir prontamente, a fim de evitar esse ilícito e, por conseguinte, o próprio dano, em consonância com o art.5º, XXXV, da Constituição da República, segundo o qual, “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, sobretudo no âmbito da evitabilidade do crime ou de sua continuidade e com a eficiência com que deve ser apreciada e, se for o caso, deferidas (BULOS, 2019).
Desse modo, caso o julgador esteja convencido da necessidade de proteção da vítima com vistas a prevenir a ocorrência do dano e resguardar a sua integridade, em observância aos ditames dos artigos 19 e 22 da Lei 11.343/06, pode aplicar liminarmente as medidas protetivas de urgência.
Impossível divergir desse posicionamento, uma vez que, caso o esgotamento do contraditório diante de uma situação de urgência fosse indispensável para se constatar a ocorrência da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher para posterior decisão, as medidas protetivas perderiam, por completo, sua eficácia, pois, até mesmo com o prazo de 48 horas, previsto na Lei, poderia não ser suficiente para salvaguardar a integridade física da vítima, pior ainda seria o resultado caso fosse necessário o exercício do contraditório antes da apreciação do pedido.
Objetiva-se primordialmente a prevenção do ilícito, através da efetivação dos efeitos da tutela inibitória, que não pode ser relegada a segundo

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