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IVSimpósioABC-CamillaSantos2019-FINAL (3)

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AVALIAÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO SOB DIFERENTES PRÁTICAS DE MANEJO DO SOLO SOB CULTIVO ORGÂNICO DE HORTALIÇAS EM SEROPÉDICA (RJ)
Evaluation of Soil Fertility in Different Soil Tillage for vegetables under Organic System in Seropédica (RJ)
SILVA, Camilla Santos Reis de Andrade da1; SILVA, Pedro Henrique Silvério da2; ROCHA, Franciele de Souza3; ARAÚJO, Ednaldo da Silva 4; PINHEIRO, Érika Flávia Machado5 
1Mestranda do Programa de Pós-graduação em Agronomia-Ciências do Solo (UFRRJ). E-mail: camilla.sras@gmail.com
2Estudante de graduação em Agronomia (UFRRJ). E-mail: pedro_henriquesds@hotmail.com
3Estudante de graduação em Engenharia Florestal (UFRRJ). E-mail: franciele.florestal@gmail.com
4Pesquisador da Embrapa Agrobiologia. E-mail: ednaldo.araujo@embrapa.br
5Professora do Departamento de Solos (UFRRJ). E-mail:erika.solos@gmail.com
Resumo: 
O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de diferentes práticas de manejo sobre a fertilidade do solo sob cultivo orgânico de hortaliças em Seropédica (RJ). Foram avaliados três sistemas de manejo do solo sob produção orgânica: a) plantio direto, com o uso de triturador de resíduos (Triton) para cobertura morta do solo; b) sistema de manejo convencional com o uso da enxada rotativa e; c) sistema de manejo convencional com o uso de uma aração e duas gradagens. O estudo foi conduzido no Sistema Integrado de Produção Agroecológica, localizado em Seropédica(RJ). O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. As amostras de terra nas camadas de 0-5 e 5-10 cm foram coletadas para avaliação dos teores de Ca, Mg, P, K, carbono orgânico total e determinação de pH. Os resultados referentes aos atributos químicos do solo mostraram que não houve diferença significativa entre as médias dos tratamentos de manejo do solo para ambas as profundidades avaliadas. Finalizando, as diferentes práticas agrícolas de manejo do solo favorecem a manutenção da fertilidade médio prazo, contribuindo para a sustentabilidade da produção orgânica de hortaliças.
Palavras-chave: agroecologia, manejo do solo e qualidade ambiental
Abstract: 
The objective of this work was to evaluate the effect of different management practices on soil fertility under organic vegetable cultivation in Seropédica (RJ). Three soil management systems under organic production were evaluated: a) no-tillage, without herbicide and with waste shredder (Triton); b) conventional management system using the rotary hoe and; c) conventional management system using one plow and two harrows. The study was conducted at SIPA- Integrated System of Agroecological Production, located in Seropédica-RJ. The experimental design was randomized blocks with four replications. Soil samples in the 0-5, 5-10 layers were collected to evaluate Ca, Mg, P, K, total organic carbon and pH determination. The averages were subjected to analysis of variance by the F test. The results showed no significant difference between the averages of the treatments for the chemical attributes of the soil at both depths evaluated. From these results, it can be inferred that different agricultural practices favor the maintenance of long-term fertility, contributing to the sustainability of organic vegetable production.
Keywords: agroecology, soil management and environmental quality
Introdução
Os sistemas orgânicos de produção destacam-se por princípios ecológicos que asseguram o uso sustentável dos recursos naturais em agroecossistemas. Entre os princípios, destacam-se a proibição da utilização de defensivos agrícolas, fertilizantes solúveis, hormônios e aditivo químico em qualquer fase da produção agrícola, conforme descrito na Lei 10.803. 	No que se refere ao uso da terra na agricultura orgânica, enfatiza-se práticas de manejo que favoreçam e mantenham a atividade biológica e fertilidade do solo a longo prazo (Altiere et al., 2011), ou seja, que mantenha um dos pilares da segurança do solo. Contudo, dentre as técnicas aplicadas ao solo na horticultura orgânica, o preparo do solo é o mais questionado quanto a conservação deste recurso natural (Pinheiro et al., 2004). O manejo do solo, quando praticado de forma inadequada interfere na estrutura do solo, acarretando no rompimento dos agregados e na oxidação matéria orgânica, sendo também responsável pelo aparecimento de uma camada compactada que dificulta a infiltração de água e o crescimento de raízes, deixando o solo altamente suscetível à erosão (Reichert et al., 2003). 
Dessa forma, verifica-se que uma alternativa viável para a conservação do solo em produção orgânica de hortaliça é a inserção de um sistema de manejo sem o revolvimento do solo associado ao uso de plantas de cobertura do solo, para o controle da vegetação espontânea sem uso de herbicida (Vakali, et al.,2011). Neste sentido, Jokela e Nair (2016) confirmam a necessidade de métodos novos e eficientes para o controle das plantas espontâneas na horticultura orgânica, e que não tenham efeitos negativos sobre a sustentabilidade do sistema, especialmente, nos parâmetros de conservação do solo. Contudo, há escassez de informações sobre os efeitos deste sistema sobre os atributos físicos, químicos e biológicos do solo e na produtividade das culturas.
Estudos realizados por Darolt e Skora (2002), Castro et al. (2005) e Halde et al. (2015) relatam a importância do uso sustentável das terras na olericultura orgânica e que não adotem o deslocamento significativo do solo sob forma de aração e gradagem.			Diante disso, a finalidade deste trabalho é avaliar o efeito de diferentes práticas de manejo sobre a fertilidade do solo num cultivo orgânico de hortaliças em Seropédica (RJ).
Material e Métodos
O experimento foi instalado no ano agrícola de 2014/2015 em área experimental pertencente ao Sistema Integrado de Produção Agroecológica (SIPA), na Fazendinha Agroecológica Km 47. O SIPA está situado no município de Seropédica (RJ), localizado entre os paralelos 22º 49’ e 22º 45’ S e os meridianos 43º 23’ e 43º 42’ O, com altitude média de 33 metros, na Baixada Fluminense. O clima da região, segundo a classificação de Köopen, é do tipo Aw (Clima Tropical com estação seca). O solo é classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo. 
Foram avaliados três manejos de preparo do solo sob agricultura orgânica, a saber: a) sistema plantio direto (PD) com uso de triton para triturar e espalhar a palha na superfície do solo; b) preparo convencional com uso de enxada rotativa (ER); e c) preparo convencional com uma aração e duas gradagens (PC). Ressalta-se que não foi utilizado herbicida em nenhum tratamento avaliado. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, com quatro repetições.
Em novembro de 2018, após quatro anos da implantação do experimento, foram coletadas amostras de terra indeformadas nas profundidades de 0-5 e 5-10 cm (Tabela 1). Após esta etapa, as amostras foram secas ao ar e Em seguida, foram passadas por peneiras de 2 mm de diâmetro para a obtenção da terra fina seca ao ar (TFSA). Avaliou-se a fertilidade do solo, quantificando-se os teores de cálcio, magnésio, alumínio, fósforo, potássio, pH e carbono orgânico total segundo a metodologia da EMBRAPA (2005). 
 As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de F a 5% de significância. Foram utilizados os softwares R 3.5 e SISVAR 5.3.
Tabela 1. Detalhamento da sucessão de culturas implantadas no sistema orgânico sob diferentes preparos do solo no SIPA em Seropédica (RJ). 
	Ano agrícola
	Pré-cultivo
	Hortaliça
	2014/15
	Milho+ Feijão de Porco
	Feijão-Caupi e Abobrinha
		 2015/16
	Milho + Crotalária
	Feijão comum
	2016/17
	Milho + Mucuna preta
	Repolho
	2017/18
	Milho+ Mucuna verde
	Brócolis americano
	2018/19
	Milho + Crotalária
	Abóbora jacarezinho
Resultados e Discussão
Os diferentes sistemas de manejo do solo avaliados na produção orgânica de hortaliça mostraram ser homogêneos quanto aos parâmetros químicos do solo, já que não houve diferença estatística significativa entre os tratamentos aplicados, conforme descrito na Tabela 2. Verifica-se, também,que os valores dos atributos químicos são maiores na camada de 0-5 cm. Este efeito é devido à maior presença de matéria orgânica e de microrganismos decompositores nos primeiros centímetros do solo, cuja atividade metabólica é fundamental à manutenção da fertilidade do solo à longo prazo (Araújo et al., 2007). Os teores de carbono orgânico observados foram baixos. A entrada de matéria orgânica na produção orgânica de horticultura é baixa sendo feita, principalmente, através da manutenção da palhada na superfície do solo das culturas anteriores (milho, mucuna verde e preta, crotalária e feijão de porco) e de adubos orgânicos. Os resíduos culturais da produção de olerícolas, geralmente, possuem uma baixa recalcitrância, apresentando uma alta taxa de decomposição, principalmente, sob as condições de estudo em solos arenosos sob clima tropical. Estes fatores em conjunto condicionam a rápida mineralização da matéria orgânica. 
Estudo realizado por Loss et al. (2010) sobre a avaliação de diferentes manejos do solo em Seropédica (RJ) mostrou que o plantio direto com milho/berinjela se destacou do preparo convencional do solo, apresentando maiores teores de matéria orgânica leve e carbono oxidável. Esses resultados demonstram, o potencial de sistemas conservacionista em promover o incremento de matéria orgânica do solo e assegurar a sustentabilidade dos agroecossistemas. 
Observa-se, também, que após quatro anos de avaliação do sistema de plantio direto, os teores de K e P são altos em todos os tratamentos na camada superficial. Por outro lado, foi observada uma redução dos teores desses macronutrientes na camada de 5-10 cm. Ainda assim, são valores adequados para a nutrição vegetal. Este quadro de fertilidade apresenta vantagem pela menor dependência da quantidade de adubos potássicos e fosfatados, o que pode desencadear numa economia para os horticultores orgânicos (Favarato et al., 2015).
Os teores de Ca e Mg são considerados médios, de acordo com Freire et al. (2013), com pouca variação nas profundidades do solo 0-5 e 5-10 cm. Estes resultados são similares ao encontrados por Souza et al. (2013) em Itoporanga/SC, onde somente os teores de fósforo e potássio modificaram em profundidade. Em relação aos valores de pH, a maioria das culturas tem seu desenvolvimento favorecido com o pH do solo na faixa de 5,5 a 6,5. Verifica-se que os sistemas de manejo adotados neste estudo apresentam escala de pH satisfatórios para o desenvolvimento vegetal. 
Diante do exposto, observa-se que todos os sistemas adotados neste estudo contribuem para os níveis adequados da fertilidade do solo. Entretanto, os teores de C são considerados baixos, e à longo prazo podem diminuir. Dessa forma, a estratégia adotada para este quadro é o fornecimento contínuo de matéria orgânica no solo, através da entrada de resíduos da palhada e a da adubação orgânica. 
Além disso, é possível verificar que os sistemas de manejos avaliados neste estudo estão de acordo com princípios da agricultura orgânica, a qual preza pela manutenção da fertilidade do solo à longo prazo (Cordeiro et al., 2018; Silva et al., 2018).
Tabela 2. Valores médios de carbono orgânico total, pH, cálcio, magnésio, fósforo em diferentes sistemas de manejo do solo sob cultivo orgânico de hortaliças no SIPA, em Seropédica (RJ).
	Sistemas de Manejo do solo
	 C pH
	 Ca Mg K P
	0-5 cm
	 % --------------
	cmolcKg-1 ------ mg dm-3 -----
	Plantio Direto
	0.87a 6.19a
	3.53a 1.32a 132.30a 68.94a
	Preparo convencional
com enxada rotativa
	0.97a 6.46a
	3.85a 1.35a 200.2a 88.93a
	Preparo convencional
com aração e gradagem
	0.72a 6.33a
	3.58a 1.2a 143.3a 64.27a
	CV (%)
	14.43 2.99
	7.80 6.35 27.85 24.04
	5-10 cm
	 % --------------
	cmolcKg-1 ------- --mg dm-3 ---
	Plantio Direto
	0.64a 6.29a
	3.11a 1.17a 72.65a 48.26a
	Preparo convencional
com enxada rotativa
	0.67a 6.40a
	3.38a 1.24a 95.99a 52.47a
	Preparo convencional
com aração e gradagem
	0,67a 6.32a
	3.37a 1.14a 85.58a 55.18a
	CV (%)
	18.94 4.76
	8.40 10.84 20.94 22.96
Médias seguidas de letras iguais, na coluna, não diferem estatisticamente pelo teste F (p >0,05).
Conclusões
Os diferentes sistemas de manejos orgânico do solo utilizados para a produção de horticultura demonstraram atuar de forma homogênea sobre os atributos químicos do solo, os quais apresentaram níveis médios a altos. Porém, o sistema de manejo plantio direto é estratégico em sistema orgânico de produção, uma vez que elimina a necessidade do revolvimento do solo, prática que acarreta na mineralização da matéria orgânica do solo, que se encontra em níveis baixos haja visto os teores de carbono no solo. Finalizando, são necessários esclarecimentos sobre a viabilidade econômica do Triton e o aceitamento deste implemento agrícola pelos agricultores. 
Referências Bibliográficas
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ARAÚJO, A. S. F. E; MONTEIRO, R. T. R. Indicadores biológicos de qualidade do solo. Bioscience Journal,v. 23, n. 3, p. 66-75, 2007
BRASIL. Decreto n. 10.831, de 23 de dez. de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências, Brasília, DF, dez 2003.
DAROLT, M.R.; SKORA NETO, F. Sistema de plantio direto em agricultura orgânica. Disponível em: <http:// www.planetaorganico.com.br/daroltsist.htm>. Acesso em: julho de 2019. 
EMBRAPA. Manual de Laboratórios: Solo, Água, Nutrição Vegetal, Nutrição Animal e Alimentos. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2005. 313p.
FAVARATO, L., JACIMAR, J.L.; SOUZA, L d., GALVÃO, J. C. C., SOUZA, C.M.,GUARÇONI, R.C. .Atributos químicos do solo com diferentes plantas de cobertura em sistema de plantio direto orgânico. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), v.5, n.2., p.19-28, Dezembro, 2015.
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