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MATERIAL DIDÁTICO FUNDAMENTOS E ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Impressão e Editoração 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 - TAREFAS DE MARKETING ................................................................ 8 UNIDADE 2 - UMA VISÃO ABRANGENTE DAS TAREFAS DE MARKETING ...... 14 UNIDADE 3 - CONCEITOS E FERRAMENTAS DE MARKTETING ........................ 19 UNIDADE 4 - LUCRATIVIDADE ............................................................................... 46 UNIDADE 5 - COMO AS EMPRESAS E O MARKETING ESTÃO MUDANDO ....... 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 59 3 INTRODUÇÃO Evolução do conceito e fundamentos do marketing Mais importante que entender sua definição é compreender que marketing deve ser encarado como uma filosofia, uma norma de conduta para a empresa, em que as necessidades latentes dos consumidores devem definir as características dos produtos ou serviços a serem elaborados e as respectivas quantidades a serem oferecidas. Marketing é uma palavra em inglês derivada de market, que significa mercado. É utilizada para expressar a ação voltada para o mercado. Assim, entende-se que a empresa que pratica o marketing tem o mercado como a razão e o foco de suas ações (DIAS, 2003). Em 1960, a AMA (American Marketing Association) definia marketing como o desempenho das atividades de negócio que dirigiam o fluxo de bens e serviços do produtor ao consumidor ou utilizador. O mundo dos negócios, cada vez mais desenvolvido, gerou a necessidade de melhor conceituar o marketing, explicando sua natureza. Observa-se, então, uma evolução constante nas definições que o caracterizam cada vez mais e de maneira mais ampla. Mas afinal: O que é marketing? Em 1965, a Ohio State University definiu marketing como: "o processo na sociedade pelo qual a estrutura da demanda para bens econômicos e serviços é antecipada ou abrangida e satisfeita através da concepção, promoção, troca e distribuição física de bens e serviços". Interessante· registrar visão mais simplista do que seria marketing, que durante muito tempo permaneceu na cabeça dos menos entendidos. Para esses leigos de antigamente (e desavisados de hoje - inclusive universitários) marketing é vender. Uma outra concepção distorcida é que fazer um filme publicitário para a televisão é fazer marketing. Philip Kotler e Sidney Levy, em 1969, sugeriram que o conceito de marketing deveria abranger também instituições não lucrativas. Para Willian Lazer, também em 1969, o marketing deveria reconhecer as dimensões societárias, isto é, levar em 4 conta as mudanças, verificadas nas relações sociais. David Luck insistiu, nesse mesmo ano, em seu artigo "Broadening the concept of marketing too far", no Journal of Marketing, de julho, que o marketing deveria limitar-se às atividades que resultam em transações de mercado. Kotler e Levy respondem acusando Luck de uma nova forma de miopia e sugerem que a cruz do marketing liga-se a uma ideia de troca antes da tese da transação de mercado. O desenrolar dos fatos, através dos tempos, tratou de provar que Kotler e Levy tinham razão naquilo que defendiam. Através de outros comentaristas mercadológicos começa a esboçar-se a tese dupla de que: a) Os limites do marketing passam a incluir as empresas não lucrativas; b) As dimensões sociais do marketing começam a configurar-se. O movimento para expandir o conceito de marketing tornou-se, provavelmente, irreversível quando o Journal of Marketing passou a dedicar atenção especial às regras das mudanças sociais e ambientais. Ao mesmo tempo, Kotler e Gerald Zaltmen (apud COBRA, 1997) estabelecem a expressão marketing social, definindo-a como "a criação, implementação e controle de programas calculados para influenciar a aceitabilidade das ideias sociais e envolvendo considerações de planejamento de produto, preço, comunicação, distribuição e pesquisa de marketing". Kotler reavalia sua posição inicial concernente aos limites do conceito de marketing e articula um conceito "genérico" de marketing. Propõe que a essência do marketing é transação, definida como troca de valores entre duas partes através do seguinte conceito: “Marketing é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros". Robert Bartels (1974) conclui: "Se o marketing é para ser olhado como abrangente as atividades econômicas e não econômicas, talvez o marketing, como foi originalmente concebido reaparecerá em breve com outros nomes". 5 Agora, serão relacionadas algumas definições baseadas no ponto de vista de alguns estudiosos do assunto: "É a função empresarial que cria continuamente valor para o cliente e .gera vantagem competitiva duradoura para a empresa, por meio da gestão estratégica das variáveis controláveis de marketing: produto, preço, comunicação e distribuição" (DIAS, 2003). "É estar atento para as tendências do mercado e produzir rapidamente o que o cliente quer" (MARINS, 2005). "É o processo pelo qual a economia é integrada a sociedade para servir as necessidades humanas" (DRUKER, 1992). "É a atividade humana dirigida à satisfação de necessidades e desejos por meio de processos de troca" (KOTLER, 1998). Em ordem de importância pode-se definir Marketing como: um estado de espírito ou uma filosofia que orienta o pensamento geral da organização, tanto no processo de tomada de decisão quanto na execução dos planos acordados; uma maneira de organizar as várias funções ou atividades da empresa (ou de qualquer outra organização); e um conjunto de ferramentas. Técnicas e atividades, a que os clientes e o público da organização em geral estão expostos. Em um conto de duas cidades, escrito há cem anos, Charles Dickens fez o seguinte comentário acerca da Revolução Francesa: "Foi o melhor dos tempos; foi o pior dos Tempos". Hoje, temos de levantar as mãos para o céu por muitas coisas: os grandes avanços da medicina moderna, a produtividade excepcionalmente alta graças à automação e à mecanização, a promessa dos computadores e da Internet! o acelerado crescimento do comércio global e o fim da Guerra Fria. Nos dias de hoje, a espécie humana é capaz de eliminar a fome no planeta e de acabar com 6 muitas epidemias. Mas, paralelamente a esses benefícios, persistem problemas aparentemente insolúveis: miséria! conflitos religiosos, degradação do meio ambiente, ditaduras políticas, corrupção, terrorismo e armas de destruição em massa. Líderes que precisam traçar o futuro de suas empresas enfrentam o desafio de encontrar um caminho que seja lógico. As mudanças ocorrem em um ritmo cada vez mais acelerado: hoje não é como ontem e não será como amanhã. Manter a estratégia atual é arriscado, assim como adotar uma nova estratégia. Há algumas certezas que devem ser observadas. Em primeiro lugar, forças globais continuarão a afetar a vida profissional e pessoal de todos. A atividade fabril se deslocará para locais economicamente mais favoráveis, a não ser que medidas protecionistas impeçam tais deslocamentos, elevando os custos gerais. Em segundo lugar, a tecnologia continuará a avançar e a nos maravilhar. A clonagem da ovelha Dolly foi apenas o começo da revolução biogenética. O projeto Genoma Humano promete conduzir a medicina a novas curas. A Revolução Digital está lançando chips que tornarão possível a construção de casas inteligentes,a fabricação de carros inteligentes e até a confecção de roupas inteligentes. Estamos no alvorecer de um tempo em que robôs inteligentes farão grande parte de nosso trabalho. Alguns poderão até viajar em espaçonaves ou morar nelas. Em terceiro lugar! Há uma contínua pressão em direção à desregulamentação do setor econômico. Cada vez mais pessoas, em mais países, estão se convencendo de que os mercados funcionam melhor sob condições relativamente livres, em que os consumidores possam decidir o que e onde comprar e as empresas sejam livres para decidir o que fabricar e comercializar. Economias competitivas giram mais dinheiro do que aquelas altamente regulamentadas ou planejadas. Muitos países estão privatizando empresas estatais para colher os benefícios da concorrência. Esses três fatores - globalização, avanços tecnológicos e desregulamentação - representam infinitas oportunidades. Como bem observou John Gardner, há muitos anos: "Por trás de todo problema existe uma oportunidade brilhantemente disfarçada". Mas o que é o marketing e o que ele tem a ver com esses assuntos? O marketing lida com a identificação e o atendimento das necessidades humanas e 7 sociais. Uma das definições mais sucintas de marketing é "atender a necessidades de maneira lucrativa". Isso é válido para a Procter & Gamble (P&G), que percebeu que as pessoas estão preocupadas com o excesso de peso e desejam alimentos saborosos, mas com menor teor de gordura e inventou o Olestra; para a CarMax, que percebeu que as pessoas desejam mais segurança ao comprar um carro usado e inventou um novo sistema para a venda de carros, e para a IKEA, que percebeu que as pessoas desejam bons móveis a um preço significativamente menor e fabricou móveis em módulos para o consumidor montar. Todos esses casos ilustram um esforço para transformar uma necessidade particular ou social em uma oportunidade de negócio lucrativo. 8 UNIDADE 1 - TAREFAS DE MARKETING Um recente livro, Marketing radical, elogia empresas como a Harley-Davidson, a Virgin Atlantic, Airways e a Boston Beer por terem obtido êxito ao quebrar todas as regras do marketing. Em vez de financiar dispendiosas pesquisas de marketing, desembolsar enormes verbas em comunicação de massa e operar grandes departamentos de marketing, essas empresas otimizaram ao máximo o uso de seus limitados recursos, aproximaram-se de seus clientes e criaram soluções que satisfizeram melhor suas necessidades. Elas criaram clubes de compras, utilizaram estratégias criativas de relações públicas e concentraram-se em fornecer produtos de alta qualidade e em conquistar a fidelidade de longo prazo dos clientes. Ao que parece, nem todo processo de marketing deve seguir os passos da P&G. Na verdade podemos distinguir três estágios pelos quais a atividade de marketing pode passar: 1. Marketing empreendedor: a maioria das empresas é fundada por indivíduos perspicazes. Eles percebem uma oportunidade e saem batendo de porta em porta a fim de chamar a atenção para seu produto. Jim Koch, fundador da Boston Beer Company, fabricante da cerveja Samuel Adams – que se tornou uma das marcas artesanais mais vendidas –,começou em 1984 carregando garrafas da Samuel Adams de bar em bar para persuadir os proprietários de bares a oferecer seu produto. Ele insistia e acabava persuadindo-os a incluir a Samuel Adams em seus cardápios. Durante dez anos sua empresa não pôde contar com um orçamento para propaganda; ele vendia cerveja por meio de venda direta e promovia o produto pessoalmente. Hoje sua empresa fatura 210 milhões de dólares, sendo líder no mercado de cerveja artesanal. 2. Marketing profissionalizado: quando as pequenas empresas alcançam o sucesso, elas inevitavelmente passam a adotar procedimentos de marketing mais profissionais. A Boston Beer recentemente optou por gastar mais de 15 milhões de dólares em anúncios de TV em mercados selecionados. A empresa emprega hoje mais de 175 profissionais de vendas e tem um departamento de marketing que realiza pesquisas de mercado. Embora a Boston Beer seja muitíssimo menos sofisticada que sua arquiinimiga, a Anheuser-Busch, adotou algumas das ferramentas utilizadas em empresas cujo marketing é conduzido profissionalmente. 9 3. Marketing burocrático: muitas grandes empresas mergulham de cabeça no marketing profissionalizado, examinando detalhadamente os últimos números da Nielsen, investigando minuciosamente relatórios de pesquisa de mercado e tentando aperfeiçoar suas relações com os distribuidores e suas mensagens publicitárias. Essas empresas não têm a criatividade e a paixão das empresas 'guerrilheiras' do primeiro estágio, o estágio do marketing empreendedor. Seus gerentes de marca e produtos precisam sair de seus escritórios e passar a ter um contato maior com o cliente. Assim, eles podem visualizar novos meios de agregar valor à vida dos clientes. O resultado é que o marketing efetivo pode assumir várias formas. Sempre existirá uma tensão entre o estágio profissionalizado do marketing e sua manifestação mais criativa. É mais fácil aprender a abordagem profissionalizada, que será tratada como a criatividade e a paixão verdadeira funcionam em muitas empresas e podem ser utilizadas pelos administradores de hoje e de amanhã. O escopo do marketing Normalmente, o marketing é visto como a tarefa de criar, promover e fornecer bens e serviços a clientes, sejam estes pessoas físicas ou jurídicas. Na verdade, os profissionais de marketing envolvem-se no marketing de bens, serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informações e ideias. Bens Bens tangíveis ou produtos constituem a maior parte do esforço de produção e marketing da maioria dos países. A economia dos Estados Unidos sozinha produz e comercializa a cada ano 80 bilhões de ovos, 3 bilhões de frangos, 5 milhões de secadores de cabelo, 200 milhões de toneladas de aço e 4 bilhões de toneladas de algodão. Nos países em desenvolvimento, os bens - principalmente alimentos, commodities, itens de vestuário e habitação - são o sustentáculo da economia. 10 Serviços À medida que as economias evoluem, uma proporção cada vez maior de suas atividades se concentra na produção de serviços. A atual economia dos Estados Unidos consiste em um mix de 70 por cento de serviços e 30 por cento de produtos. Entre os serviços estão aqueles prestados por empresas aéreas, hotéis, locadoras de automóveis, barbeiros e esteticistas, pessoal ele manutenção e reparo, canis e terapeutas para cães, assim como profissionais que trabalham em uma empresa ou para ela, como contadores, advogados, engenheiros, médicos, programadores de software e consultores gerenciais. Muitas ofertas ao mercado consistem em um mix variável de bens e serviços. No extremo daquilo que se entende como serviço estaria um psiquiatra ouvindo um paciente ou um quarteto de cordas tocando Mozart; em um outro nível estaria o telefonema viabilizado por um pesado investimento em instalações e equipamentos, e em um nível mais tangível estaria um restaurante fastfood, onde o cliente adquire tanto um produto quanto um serviço. Experiências Orquestrando diversos serviços e mercadorias, podemos criar, apresentar e comercializar experiências, O Magic Kingdom da Walt Disney World é uma experiência. Nele, você visita um reino de fadas, um navio pirata e uma casa mal- assombrada. À sua maneira, o Hard Rock Café e o Planei Hollywood também são experiências. Existe um mercado para experiências peculiares, como passar uma 11 semana em um centro de treinamento de beisebol, jogando com grandes craques seniores, reger a Orquestra Sinfónica de Chicago por cinco minutos ou escalar o monte Everest. Eventos Empresas de marketing promovem eventos emdeterminados períodos, como nas Olimpíadas, em aniversários de empresas, nas principais feiras de negócios, em eventos esportivos e em espetáculos artísticos. Há toda uma categoria de profissionais que se encarregam de planejar reuniões e elaborar os detalhes de um evento - e o realizam de maneira perfeita. Pessoas O marketing de celebridades tornou-se um importante negócio. Anos atrás, alguém em busca da fama contrataria um assessor de imprensa para veicular matérias em jornais e revistas, Hoje, toda importante estrela de cinema tem um agente, um gerente pessoal e ligações com uma agência de relações públicas. Artistas, músicos, presidentes de empresas, médicos, advogados, financistas bem sucedidos e outros profissionais estão buscando ajuda de empresas de marketing de celebridades. No mundo das artes, Andy Warhol aplicou claramente princípios de marketing empreendedor para solidificar sua fama. O 'guru gerencial’ Tom Peters, especialista no estabelecimento de sua própria marca, tem aconselhado que cada pessoa se torne uma 'marca’. Lugares Lugares – cidades, estados, regiões e países inteiros - competem ativamente para atrair turistas, fábricas, sedes de empresas e novos moradores. Stratford, no estado de Ontário, Canadá, era uma cidade razoavelmente decadente com dois únicos trunfos: seu nome e um rio chamado Avon. Isso se tornou a base para um festival anual de Shakespeare, que nasceu em Stratford-Upon-Avon. Esse festival colocou Stratford na rota de turismo, A Irlanda tem se destacado nesse tipo de atividade, tendo convencido mais de 500 empresas a se instalarem no país com o apoio do Conselho de Desenvolvimento da Irlanda, do Conselho de Turismo da 12 Irlanda e do Conselho de Exportação da Irlanda, responsáveis, respectivamente, por captação de investimentos, turismo e exportações. Entre as empresas de marketing de lugares podem estar especialistas em desenvolvimento económico, imobiliárias, bancos comerciais, associações locais de negócios e agências de propaganda e de relações públicas. Propriedades Propriedades são direitos intangíveis de posse, tanto de bens imóveis quanto de bens financeiros (ações e títulos). Direitos de propriedade são comprados e vendidos, e isso leva a um esforço de marketing. Imobiliárias trabalham para proprietários de imóveis ou para quem as procura para compra e venda de imóveis residenciais ou comerciais. Instituições de investimentos e bancárias estão envolvidas no marketing de títulos patrimoniais tanto para investidores pessoa física como para jurídica. Organizações As organizações trabalham sistematicamente para construir uma imagem sólida e positiva na mente de seu público. Vemos anúncios de identidade corporativa veiculados por empresas que buscam maior reconhecimento público. A Philips, empresa holandesa de produtos eletrônicos veicula anúncios com o slogan "Vamos fazer as coisas [ficarem] melhores". As empresas Body Shop e Ben & Jerry's chamam atenção para si patrocinando causas sociais. Outras empresas devem sua visibilidade a um líder carismático, como Richard Branson, da Virgin, ou Phil Knight, da Nike. Universidades, museus e grupos de teatro elaboram planos para melhorar sua imagem pública a fim de competir com mais êxito por um público maior e por mais recursos. Informações Informações podem ser produzidas e comercializadas como um produto. É essencialmente isso que escolas e universidades produzem e distribuem, mediante um preço, aos pais, aos alunos e às comunidades. Enciclopédias e grande parte dos livros de não-ficção vendem informações. Revistas, como a Road andTracke a Byte, 13 fornecem informações consideráveis sobre os universos dos carros e dos computadores, respectivamente. Compramos CD-ROMs e visitamos a Internet em busca de informações. A produção, a embalagem e a distribuição de informações constituem um dos principais setores económicos da sociedade de hoje. Ideias Toda oferta de marketing traz em sua essência uma ideia básica. Charley Revson, da Revlon, observou: "Na fábrica, fazemos cosméticos; na loja, vendemos esperança". O comprador de uma furadeira está, na verdade, comprando um furo. Produtos e serviços são plataformas para a entrega de algum conceito ou benefício. As empresas empenham-se arduamente na busca da necessidade essencial que tentarão satisfazer. Uma igreja, por exemplo, deve decidir se vai se apresentar como local de culto ou como centro comunitário; o projeto arquitetônico da igreja variará dependendo dessa escolha. 14 UNIDADE 2 - UMA VISÃO ABRANGENTE DAS TAREFAS DE MARKETING Os profissionais de marketing possuem técnicas para estimular a demanda pelos produtos de uma empresa. Mas essa é uma visão demasiadamente simplista das atribuições dos profissionais de marketing. Da mesma maneira que profissionais de produção e logística são responsáveis pela gestão do suprimento, os profissionais de marketing são responsáveis pela gestão da demanda. Gerentes de marketing procuram influenciar o nível, a velocidade e a composição da demanda para alcançar os objetivos da organização. A Tabela 1.1 relaciona oito diferentes estados de demanda e as tarefas correspondentes com que gerentes de marketing se deparam. As decisões dos profissionais de marketing Gerentes de marketing precisam tomar inúmeras decisões, desde decisões fundamentais, como que características projetar em um novo produto, quantos profissionais de vendas contratar ou quanto gastar em propaganda, até decisões de menor importância, como o texto e a cor de uma nova embalagem. O Lembrete de Marketing "Perguntas mais frequentes dos profissionais de marketing" relaciona muitas das questões levantadas por gerentes de marketing. Lembrete de Marketing Perguntas mais frequente dos profissionais de marketing Como podemos identificar o(s) segmentos(s) de marketing correto(s)? Como podemos diferenciar o que oferecemos daquilo que a concorrência oferece? Como devemos responder a clientes que nos pressionam por preços mais baixos? Como podemos competir com concorrentes que possuem custos e preços menores, locais e no exterior? 15 Até que ponto podemos customizar nossa oferta para cada cliente? Quais são as principais maneiras pelas quais podemos fazer no negócio crescer? Como podemos construir marcas sólidas? Como podemos reduzir o custo de aquisição de clientes? Como podemos manter nossos clientes fiéis por mais tempo? Como podemos saber quais são os clientes mais importantes? Como podemos medir o retorno do investimento em propaganda, promoção de vendas e relações públicas? Como podemos melhorar a produtividade da força de vendas? Como podemos estabelecer múltiplos canais de distribuição e ao mesmo tempo gerenciar o conflito entre os canais? Como podemos fazer com que todos os departamentos da empresa sejam mais orientados para o cliente? Tabela 1.1 - Estados de demanda e tarefas de marketing 1.Demanda negativa Um mercado encontra-se em um estado de demanda negativa quando uma parcela significativa dele não gosta do produto e até mesmo o evita - vacinas, serviços odontológicos, vasectomias e operações de vesícula, por exemplo. Empregadores têm uma demanda negativa por ex-presidiários e alcoólatras como funcionários. A tarefa do marketing é analisar por que o mercado não gosta do produto e avaliar se um programa de marketing que envolva o redesenho do produto, preços mais baixos e promoção positiva pode mudar crenças e atitudes. 2. Demanda inexistente Consumidores-alvos podem desconhecer ou não estar interessados em um produto. Agricultores podem não ter nenhum interesse em um novo método de cultivo e estudantes universitários podem estar interessados em cursos de línguas estrangeiras. A tarefa do marketing éencontrar meios de ligar os benefícios do produto às necessidades e aos interesses naturais das pessoas. 3.Demanda latente Muitos consumidores podem compartilhar uma forte necessidade que nenhum produto disponível no mercado é capaz de satisfazer. Existe uma forte demanda latente por cigarros que não prejudiquem a saúde, bairros mais seguros e 16 automóveis que consumam menos combustível. A tarefa do marketing consiste em mensurar o tamanho do mercado potencial e desenvolver produtos e serviços que satisfaçam a demanda. 4.Demanda em declínio Toda organização se depara, mais cedo ou mais tarde, com declínio na demanda por um ou mais de seus produtos. Igrejas têm visto suas congregações diminuírem; universidades particulares têm visto o número de matrículas reduzir. O profissional de marketing deve analisar as causas do declínio e determinar se a demanda poderá ser reestimulada com novos mercados-alvo, com mudanças na característica do produto ou com comunicações mais eficazes. A tarefa do marketing é reverter o declínio da demanda por meio do marketing criativo. 5. Demanda irregular Muitas empresas precisam lidar com uma demanda que apresenta variações sazonais, diárias ou até mesmo horárias, o que causa problemas de ócio e de sobrecarga. Muitos veículos de transporte coletivo ficam ociosos durante as horas de menor movimento e mostram-se insuficientes durante os horários de pico. Museus são pouco visitados durante a semana e ficam demasiadamente lotados durante os fins de semana. A tarefa de marketing denominada sincromarketing consiste em encontrar meios de mudar o padrão de demanda com a determinação de preços flexíveis, promoções e outros incentivos. 6. Demanda plena As empresas se deparam com demanda plena quando estão satisfeitas com seu volume de negócios. A tarefa do marketing consiste em manter o nível de demanda, apesar das preferências mutáveis dos consumidores e da crescente concorrência. A empresa deve manter ou melhorar sua qualidade e medir a satisfação do consumidor regularmente. 7.Demanda excessiva Algumas empresas possuem um nível de demanda maior do que podem ou desejam suportar. O Parque Nacional de Yosemite fica superlotado no verão. A tarefa de marketing denominada demarketing consiste em encontrar meios de reduzir a demanda temporária ou permanentemente. O demarketing geral procura desestimular a demanda total e, para isso, toma atitudes como aumentar preços e reduzir promoções e serviços. O demarketing seletivo consiste em tentar reduzir a demanda advinda de parcelas do mercado menos lucrativas e que necessitam menos do produto. 8.Demanda Indesejada Produtos prejudiciais à saúde atrairão esforços organizados para desestimular seu consumo. Já foram realizadas campanhas de desestímulo ao consumo de cigarros, bebidas alcoólicas, drogas, armas de fogo, filmes prnográficos etc. bem como campanhas de planejamento familiar. A tarefa do marketing é fazer com que as pessoas que apreciam determinado produto deixem de consumi-lo, por meio de ferramentas como mensagens amedrontadoras, preços elevados e 17 disponibilidade reduzida. A importância dessas questões varia de mercado para mercado. Considere os quatro mercados a seguir: consumidor, empresarial, global e sem fins lucrativos. Mercado consumidor Empresas que comercializam produtos e serviços de consumo em massa, como refrigerantes, cremes dentais, aparelhos de televisão e passagens aéreas, investem grande parte de seu tempo tentando estabelecer uma imagem de marca superior. Isso exige uma ideia clara de seus clientes-alvo (target customers ou, simplesmente, target), o conhecimento da(s) necessidade(s) que seu produto atenderá e uma comunicação enfática e criativa do posicionamento de marca. Grande parte da solidez de uma marca depende do desenvolvimento de um produto superior, com uma embalagem adequada, sustentado por propaganda contínua e atendimento confiável. A força de vendas desempenha um papel na abertura e na manutenção de mercado para a marca, mas isso tem menos relação o estabelecimento da imagem de marca. Profissionais de marketing de consumo decidem sobre as características, o nível de qualidade, a abrangência da distribuição e os gastos em promoção que ajudarão sua marca a alcançar a primeira ou a segunda posição em seu mercado-alvo. Mercado empresarial Empresas que vendem bens e serviços para outras empresas deparam-se com profissionais de bem treinados e bem informados, que possuem técnicas para avaliar ofertas competitivas. Compradores empresariais compram bens que permitam fabricar um produto ou que possam ser revendidos para terceiros. Compradores empresariais compram produtos para gerar lucros. As empresas que vendem esses produtos devem demonstrar como eles ajudarão seus clientes a atingir suas metas de lucro. A propaganda desempenha um papel, mas um papel mais forte é desempenhado pela força de vendas, pelo preço e pela reputação com que a empresa conta no que se refere à confiabilidade e à qualidade. 18 Mercado global Empresas que vendem seus produtos e serviços no mercado global enfrentam decisões e desafios adicionais. Elas têm que decidir em que países entrar; como entrar em cada país (como exportador, licenciador de franquia, parceiro em joint-venture, fabricante sob contrato ou fabricante autônomo); como adaptar as características de seus produtos e serviços a cada país; como determinar preços para seus produtos em países diferentes dentro de uma faixa estreita o suficiente para evitar a criação de um mercado paralelo para seus produtos, e como adaptar suas comunicações para que se encaixem nas práticas culturais de cada país. Essas decisões devem ser tomadas diante de um sistema jurídico diferente; diferentes estilos de negociação; diferentes exigências de compra, propriedade e emprego de bens; uma moeda que poderá sofrer variações de valor; situações que envolvam corrupção ou favoritismo político e assim por diante. Mercados sem fins lucrativos (terceiro setor) e governamental Empresas que vendem seus produtos a organizações sem fins lucrativos, como igrejas, fundações, instituições de caridade ou órgãos públicos, precisam determinar seus preços com cautela, pois essas organizações têm poder de compra limitado. Preços mais baixos afetam as características e a qualidade que o fornecedor pode incluir em sua oferta. Muitos formulários têm de ser preenchidos quando se vende a órgãos públicos. Muitas das compras do governo exigem licitações, sendo favorecida à proposta que apresenta o menor preço na ausência de fatores que justifiquem um preço mais elevado. 19 UNIDADE 3 - CONCEITOS E FERRAMENTAS DE MARKTETING O marketing ostenta uma rica variedade de conceitos e ferramentas. Vamos começar com a definição de marketing e depois passaremos a descrever seus principais conceitos e ferramentas. Definição de marketing Dentre todas as inúmeras definições existentes para marketing, podemos estabelecer uma distinção entre definições sociais e gerenciais. Uma definição social mostra o papel desempenhado pelo marketing na sociedade. Um profissional de marketing disse certa vez que o papel do marketing é "proporcionar um padrão de vida superior". Uma definição social que serve a nosso propósito é: Marketing é um processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros. Quando se usa uma definição gerencial, o marketing é frequentemente descrito como 'a arte de vender produtos'. Mas as pessoas se surpreendem quando ouvem que o mais importante em marketing não é vender! Vender é apenas a ponta do iceberg de marketing. Peter Drucker, umdos maiores teóricos da administração, expõe essa questão da seguinte maneira: Pode-se presumir que sempre haverá necessidade de algum esforço de vendas, mas o objetivo do marketing é tornar a venda supérflua. A meta é conhecer e compreender tão bem o cliente que o produto ou o serviço se adapte a ele e se venda por si só. O ideal é que o marketing deixe o cliente pronto para comprar. A partir daí basta tornar o produto ou o serviço disponível. Quando a Sony projetou seu Walkman, a Nintendo projetou um videogame de qualidade superior e a Toyota lançou o automóvel Lexus, elas se viram inundadas de pedidos, pois haviam projetado o produto 'certo’ com base em um cuidadoso estudo de marketing. 20 A American Marketing Association oferece a seguinte definição: • Marketing (administração de) é o processo de planejar e executar a concepção, a determinação do preço (pricing), a promoção e a distribuição de ideias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais. Lidar com esses processos requer uma quantidade considerável de trabalho e técnicas. A administração de marketing ocorre quando pelo menos uma das partes envolvidas em um processo de troca potencial pensa sobre os meios de obter as respostas desejadas das demais partes. Vemos a administração de marketing como a arte e a ciência da escolha de mercados-alvo e da captação, manutenção e fidelização de clientes por meio da criação, da entrega e da comunicação de um valor superior para o cliente. Conceitos centrais de marketing O marketing pode ser mais bem compreendido definindo-se vários de seus conceitos centrais. Mercados-alvo e segmentação Uma empresa raramente consegue satisfazer a todos em um mercado. Nem todos gostam do mesmo refrigerante, quarto de hotel, restaurante, automóvel, faculdade ou filme. Sendo assim, os profissionais de marketing começam pela segmentação do mercado. Eles identificam e traçam os perfis de grupos distintos de compradores que poderão preferir ou exigir produtos e mix de marketing (ou compostos de marketing) variáveis. Segmentos de mercado podem ser identificados analisando-se diferenças demográficas, psicográficas e comportamentais existentes entre compradores. A empresa decide então que segmentos apresentam as maiores oportunidades - aqueles a cujas necessidades a empresa pode atender de maneira superior. Para cada mercado-alvo escolhido, a empresa desenvolve uma oferta ao mercado. A oferta é posicionada na mente dos compradores-alvo como possuidora de algum (ns) benefício(s) fundamental (ais). A Volvo, por exemplo, 21 desenvolve seus carros para o mercado-alvo de compradores que têm como uma de suas principais preocupações a segurança. Portanto, ela posiciona seu carro como o mais seguro que um cliente pode comprar. Antigamente, um 'mercado' era um espaço físico onde compradores e vendedores se reuniam para trocar mercadorias. Atualmente, os economistas descrevem um mercado como um conjunto de co mpradores e vendedores que negociam determinado produto ou classe de produto (o mercado habitacional ou o mercado de grãos). Mas, para os profissionais de marketing, as empresas vendedoras representam os diferentes setores, e as compradoras, o mercado. A Figura 1.1 mostra a relação entre o setor e o mercado. Empresas vendedoras e compradoras estão interligadas por quatro fluxos. As vendedoras fornecem bens, serviços e comunicação (anúncios, mala direta) ao mercado; em troca, recebem dinheiro e informação (atitudes, dados de vendas). O fluxo interno mostra uma troca de dinheiro por bens e serviços; o fluxo externo, uma troca de informações. Os empresários frequentemente utilizam o termo mercados para indicar vários grupos de clientes. Falam de mercados de necessidades (o mercado preocupado com dietas); mercados de produtos (o mercado de calçados); mercados demográficos (o mercado de jovens), e mercados geográficos (o mercado francês). Ou então estendem o conceito para incluir outros mercados, como o de eleitores, o de mão-de-obra e o de doadores. Os mercados ocupam um grande espaço nas economias modernas. Cinco mercados básicos e seus fluxos de ligação são mostrados na Figura 1.2. Fabricantes se dirigem a mercados de recursos (mercados de matérias-primas, de mão-de-obra, de recursos financeiros), compram recursos e os transformam em mercadorias e 22 serviços. Então eles vendem os produtos acabados a intermediários, que os vendem aos consumidores finais. Os consumidores vendem Sua capacidade de trabalho e recebem dinheiro, com o qual pagam por bens e serviços. O governo arrecada impostos para adquirir bens dos mercados de recursos, produtores e intermediários e utiliza esses bens e serviços para oferecer serviços públicos. A economia de cada país, assim como a economia global, consiste em complexos conjuntos de mercados que interagem ligados por processos de troca. Hoje, podemos distinguir entre local de mercado (marketplace) e espaço de mercado (marketspace).O local de mercado é o espaço físico, uma loja na qual se vão fazer compras; o espaço de mercado é digital, como um site na Internet pelo qual se podem fazer compras. Muitos observadores acreditam que um crescente volume de compras passará do local de mercado para o espaço de mercado. Veja a seção Marketing para o Novo Milénio "E-commerce: os primórdios". FIGURA 1.2 - Estrutura de fluxos em uma moderna economia de troca Mohan Sawhney propôs o conceito de metamercado para descrever um agrupamento de produtos e serviços complementares estreitamente relacionados uns com os outros na mente do consumidor, mas que se estendem por meio de um conjunto diversificado de setores. O metamercado automotivo consiste em 23 fabricantes de automóveis, concessionárias de carros novos e usados, financiadoras, seguradoras, oficinas, revendedores de autopeças, postos de atendimento, revistas de automobilismo, anúncios classificados de carros em jornais e sites sobre carros na Internet. Ao pensar em comprar um carro - ou ao adquiri-lo-, o comprador se envolverá em muitas partes desse metamercado. Isso tem criado uma oportunidade para intermediários desse metamercado ajudarem compradores a se movimentar por esses grupos sem tropeços, embora sejam desconectados no espaço físico. Um exemplo é o Edmund's (www.edmunds.com), um site Web em que um comprador de automóvel pode encontrar os preços oficiais de diferentes marcas e modelos e navegar sem maiores dificuldades para outros sites em busca do revendedor que ofereça o menor preço de financiamento, de acessórios e carros usados a preços de ocasião. Intermediários do metamercados também podem servir a outros metamercados, como o de imóveis residenciais e o de serviços matrimoniais. Profissionais de marketing e clientes potenciais Um profissional de marketingé alguém que busca uma resposta (atenção, compra, voto, doação) de outra parte, denominada cliente potencial (prospect). Se duas partes estão buscando vender algo uma para a outra, denominamos ambas de profissionais de marketing. Necessidades, desejos e demandas O profissional de marketing precisa tentar compreender as necessidades do mercado-alvo, seus desejos e suas demandas. Necessidades descrevem exigências humanas básicas. As pessoas precisam de comida, ar, água, roupa e abrigo para poder sobreviver. Elas também têm uma necessidade muito grande de recreação, educação e entretenimento. Essas necessidades se tornam desejos quando são dirigidas a objetos específicos capazes de satisfazê-las. Um norte-americano necessita de comida, mas deseja um hambúrguer, batatas fritas e um refrigerante. Um habitante das Ilhas Maurício necessita de comida, mas deseja uma manga, arroz, lentilhas e feijão. Desejos são moldados pelasociedade em que se vive. 24 Demandas são desejos por produtos específicos apoiados por uma possibilidade de pagar. Muitas pessoas desejam um Mercedes, mas apenas algumas podem e estão dispostas a comprar um. As empresas devem medir não apenas quantas pessoas desejam seu produto, mas também quantas efetivamente estão dispostas e apfas a adquirí-lo. Essas distinções esclarecem a frequente acusação de que "os profissionais de marketing criam necessidades" ou "os profissionais de marketing fazem com que as pessoas comprem coisas que não querem". Profissionais de marketing não criam necessidades: as necessidades existem antes dos profissionais de marketing. Os profissionais de marketing, paralelamente a outras influências da sociedade, influenciam desejos. Eles podem promover a ideia de que um Mercedes satisfaz a necessidade de status social de uma pessoa. Eles não criaram, entretanto, a necessidade de status social. Produto ou oferta As pessoas satisfazem a suas necessidades e a seus desejos com produtos. Um produto é qualquer oferta que possa satisfazer a uma necessidade ou a um desejo. Já mencionamos as principais categorias de ofertas básicas: bens, serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares, propriedades, organizações, informações e ideias. Uma marca é uma oferta de fonte conhecida. Uma marca como McDonald's encerra muitas associações na mente das pessoas: hambúrgueres, diversão, crianças, fast-food, arcos amarelos. Essas associações formam a imagem de marca. Todas as empresas lutam para estabelecer uma marca sólida - ou seja, uma imagem de marca forte e favorável. Valor e satisfação O produto ou oferta alcançará êxito se proporcionar valor e satisfação ao comprador-alvo. O comprador escolhe entre diferentes ofertas com base naquilo que parece proporcionar o maior valor. Definimos valor como a razão entre o que o cliente recebe e o que ele dá. O cliente recebe benefícios e assume custos. Os 25 benefícios incluem benefícios funcionais e emocionais. Os custos incluem custos monetários, de tempo, de energia e psicológicos. Benefícios Benefícios funcionais + benefícios emocionais Valor: ____________ = __________________________________________________________________________________________________ Custos Custos monetários + custos de tempo + custos de energia + custos psicológicos O profissional de marketing pode aumentar o valor da oferta para o cliente com diversas estratégias: Aumento de benefícios; Redução de custos; Aumento de benefícios e redução de custos ; Aumento de benefícios em proporção maior que o aumento de custos Redução dos benefícios em proporção menor que a redução de custos O cliente que está optando entre duas ofertas de valor, V1 e V2, vai avaliar a razão V1 I V2. Ele favorecerá V1 se a razão for maior que 1; favorecerá V2 se a razão for menor que 1, e ficará indiferente se a razão for igual a 1. Troca e transações A troca é apenas uma das quatro maneiras de uma pessoa obter um produto. Ela pode produzir o produto ou serviço, caçando, pescando ou colhendo frutos para se alimentar.·A pessoa pode utilizar a força para obter o produtor assaltando ou roubando. Pode mendigar como fazem os moradores de rua para conseguir comida. Ou então pode oferecer um produtor serviço ou dinheiro em troca de alguma coisa que deseja. Trocar que é o conceito central de marketing, envolve a obtenção de um produto desejado de alguém oferecendo algo em troca. Para que o potencial de troca possa existir, cinco condições são essenciais: 1. Que existam pelo menos duas partes. 26 2. Que todas as partes possuam algo que possa ter valor para as outras partes. 3. Que todas as partes tenham capacidade de comunicação e de entrega. 4. Que todas as partes estejam livres para aceitar ou recusar a oferta de troca. 5. Que todas as partes acreditem ser adequado participar da negociação. A efetivação ou não da troca depende de as duas partes concordarem com termos que deixarão ambas em uma situação melhor (ou, pelo menos, não em uma situação pior) do que antes. A troca é um processo de criação de valor, porque normalmente deixa ambas as partes em melhor situação. A troca é mais um processo que um acontecimento. Duas partes estão engajadas em uma troca se estiverem negociando - tentando chegar a condições aceitáveis para ambas as partes. Quando se chega a um acordo, dizemos que ocorre uma transação. Uma transação é uma comercialização de valores entre duas ou mais partes. A dá X a S e recebe Y em troca. Smith vende um aparelho de TV a Jones e Jones paga 400 dólares a Smith. Essa é uma transação monetária clássica. Mas as transações não exigem que o dinheiro seja um dos valores trocados. Uma transação de permuta envolve a troca de bens e serviços por outros bens e serviços, como quando o advogado Jones prepara o testamento do médico Smith em troca de uma consulta médica. Uma transação envolve várias dimensões: pelo menos duas coisas de valor, acordo no que diz respeito às condições, momento de acordo e local de acordo. Geralmente existe um sistema legal para dar suporte e exigir o cumprimento do acordo por todas as partes. Sem uma legislação contratual, as pessoas poderiam ver as transações com certo grau de desconfiança, e todos sairiam perdendo. Uma transação é diferente de uma transferência. Em uma transferência, A dá X a S, mas não recebe nada em troca. Presentes, subvenções e doações a obras de caridades são transferências. O comportamento de transferência também pode ser compreendido por meio do conceito de troca. Normalmente, quem transfere espera receber algo pelo presente concedido - por exemplo, gratidão ou uma mudança no comportamento do agraciado. Profissionais especializados na captação de recursos (fund raisers), por exemplo, oferecem benefícios aos doadores, como cartas de 27 agradecimento, assinaturas de revistas e convites para eventos. Os profissionais de marketing têm ampliado o conceito de marketing para incluir o estudo do comportamento de transferência, além do estudo do comportamento de transação. Em um sentido mais amplo, os profissionais de marketing têm como objetivo provocar uma resposta comportamental da outra parte. Uma empresa deseja realizar uma vendar um candidato deseja um voto, uma igreja deseja um membro ativo, um grupo de ação social deseja a adoção acalorada de uma causa. O marketing consiste na tomada de ações que provoquem a reação desejada de um público-alvo. Para realizar trocas bem-sucedidas, os profissionais de marketing analisam aquilo que cada uma das partes espera da transação. Simples situações de troca podem ser mapeadas por meio da identificação dos dois participantes e do fluxo de desejos e ofertas existente entre ambos. Suponha que a Caterpillar, a maior fabricante de equipamento de terraplanagem do mundo, pesquise os benefícios que uma construtora comum deseja ao comprar equipamentos de terraplanagem. Esses benefícios, relacionados na parte superior do mapa de troca, na Figura 1.3, incluem equipamentos de alta qualidade, preço justo, entrega pontual, boas condições de financiamento e peças de reposição e serviços de qualidade. Os itens na lista de desejos não têm a mesma importância e podem variar de um comprador para outro. Uma das tarefas da Caterpillar é descobrir a importância relativa desses diferentes desejos para o comprador. A Caterpillar também tem uma lista de desejos. Deseja um bom preço pelo equipamento, pagamento pontual e propaganda boca a boca positiva. Se houver compatibilidade suficiente entre essas duas listas, existirá uma base para transação. A tarefa da Caterpillar é formular uma oferta que motive a construtora a comprar equipamentos Caterpillar. A construtora, por sua vez, poderá apresentar uma contra oferta.Esse processo de negociação leva a condições aceitáveis por ambas as partes ou decisão de não levar adiante as negociações. 28 FIGURA 1.3 - Mapa de troca entre duas partes, mostrando a lista de desejos de cada uma Relacionamentos e redes O marketing de transações é parte de uma ideia maior denominada marketing de relacionamento. O marketing de relacionamento tem como objetivo estabelecer relacionamentos mutuamente satisfatórios de longo prazo com partes-chave - clientes, fornecedores, distribuidores -, a fim de ganhar e reter sua preferência e seus negócios no longo prazo. Empresas de marketing isso prometendo e fornecendo produtos e serviços de alta qualidade a preços justos às outras partes ao longo do tempo. O marketing de relacionamento estabelece sólidas ligações econômicas, técnicas e sociais entre as partes. Ele reduz o dinheiro e o tempo investidos nas transações. Nos casos mais bem sucedidos, as transações deixam de ser negociadas de tempos em tempos e se tornam rotineiras. O resultado final do marketing de relacionamento é a construção de um patrimônio corporativo denominado rede de marketing. Uma rede de marketing consiste na empresa e naqueles que a apóiam (clientes, funcionários, fornecedores, distribuidores, revendedores, agências de propaganda e acadêmicos, entre outros), com quem ela construiu relacionamentos profissionais mutuamente compensadores. Cada vez mais, a concorrência não é entre empresas, mas entre redes de marketing, sendo o prêmio conferido à empresa que tiver construído a melhor rede. 29 O princípio operacional é simples: construa uma rede efetiva de relacionamentos com os principais públicos interessados e os lucros serão uma consequência. Canais de marketing Para alcançar um mercado-alvo, a empresa faz uso de três tipos de canais de marketing. Ela utiliza canais de comunicação para transmitir mensagens a compradores-alvo e deles receber mensagens. Entre esses canais estão jornais, revistas, rádio, televisão, correio, telefone, outdoors, pôsteres, folhetos, CD-ROMs, fitas de áudio e Internet. Além de tudo isso, também são enviadas mensagens por meio de expressões faciais e do modo de se vestir, pelo visual das lojas e por muitos outros meios. Cada vez mais as empresas estão acrescentando canais de diálogo (e-mail e números para ligações gratuitas) para contrabalançar os canais de via única mais tradicionais (como anúncios publicitários). A empresa utiliza canais de distribuição para demonstrar ou entregar produtos ou serviços tangíveis ao comprador ou usuário. Há canais de distribuição física e canais de distribuição de serviços. Dentre eles estão os armazéns, veículos de transporte e diversos canais comerciais, como distribuidores, atacadistas e revendedores. A empresa também utiliza canais de venda para realizar transações com compradores potenciais. São canais de venda não apenas os distribuidores e revendedores, mas também as instituições bancárias e as companhias de seguro que facilitam as transações. Os profissionais de marketing ficam realmente diante de um problema de projeto quando se deparam com a escolha do melhor mix de canais de comunicação, distribuição e venda para suas ofertas. Cadeia de suprimento Enquanto os canais de marketing ligam a empresa aos compradores-alvo, a cadeia de suprimento (supply chain) é um canal mais longo, que se estende das matérias-primas aos componentes dos produtos finais - que são levados aos compradores finais. A cadeia de suprimento para bolsas femininas começa com o couro, assando para as operações de curtume, as operações de corte, a produção e os canais de marketing que levam o produto final às clientes. A cadeia de 30 suprimento representa um sistema de entrega de valor. Cada empresa captura apenas uma determinada porcentagem do valor total gerado pela cadeia. Quando uma empresa adquire concorrentes ou muda para um estágio superior ou inferior na cadeia produtiva, seu objetivo é capturar um percentual maior do valor da cadeia de suprimento. Concorrência A concorrência inclui todas as ofertas e substitutos rivais reais e potenciais que um comprador possa considerar. Suponha que uma empresa automobilística planeje comprar aço para a produção de seus carros. A Figura 1.4 mostra vários níveis de concorrentes. A fabricante de automóveis pode comprar aço da U.S. Steel ou de outras siderúrgicas integradas nos Estados Unidos ou em outros países; procurar uma pequena siderúrgica como a Nucor para comprar aço com economia de custos; comprar alumínio para determinadas partes do carro para reduzir seu peso, ou comprar plásticos especiais para os pára-choques, em vez de aço. Obviamente, a U.S. Steel estaria pensando em concorrência em termos demasiadamente restritos se considerasse apenas as outras siderúrgicas integradas. Na verdade, no longo prazo é mais provável que a U.S. Steel seja atingida por produtos substitutos do que pelas suas rivais imediatas. A U.S. Steel deve considerar ainda se fabricará produtos substitutos ou se ficará apenas naquelas áreas em que o uso do aço proporciona um desempenho superior. Podemos estender o quadro ainda mais ao estabelecer uma distinção entre quatro níveis de concorrência, com base no grau em que produtos são passíveis de substituição: 1. Concorrência de marcas: uma empresa vê suas concorrentes como outras empresas que oferecem produtos e serviços semelhantes aos mesmos clientes por preços similares. A Volkswagen pode considerar a Toyota, a Honda, a Renault e outras fabricantes de carros de preço médio suas concorrentes. Mas não pode se ver competindo com a Mercedes ou a Hyundai. 2. Concorrência setorial: uma empresa vê todas as empresas que fabricam o mesmo tipo de produto ou classe de produtos como suas concorrentes. A 31 Volkswagen pode considerar concorrentes todas as demais fabricantes de automóveis. 3. Concorrência de forma: uma empresa vê todas as empresas fabricantes de produtos que oferecem o mesmo serviço como suas concorrentes. A Volkswagen pode considerar como concorrente não apenas as outras empresas automobilísticas, mas também os fabricantes de motocicletas, bicicletas e caminhões. 4. Concorrência genérica: uma empresa vê como suas concorrentes todas as empresas que competem pelo dinheiro dos mesmos consumidores. A Volkswagen pode considerar como concorrente empresas que vendem bens de consumo duráveis, férias no exterior e novas residências. FIGURA 1.4 – Tela do radar da U.S. Steel 32 Ambiente de marketing A concorrência representa apenas uma das forças no ambiente em que a empresa opera. O ambiente de marketing é constituído pelo ambiente de tarefa e o ambiente geral. O ambiente de tarefa inclui os participantes imediatos envolvidos na produção, distribuição e promoção da oferta. Os participantes principais são a empresa, os fornecedores, os distribuidores, os revendedores e os clientes-alvo. Incluídos no grupo de fornecedores estão os de materiais e de serviços, como institutos de pesquisa de marketing, agências de propaganda, bancos, seguradoras, transportadoras e empresas de telecomunicações. Dentre os distribuidores e revendedores estão agentes, corretores, representantes de fabricantes e todos aqueles que facilitam a busca de clientes e as vendas a eles. O ambiente geral é formado por seis componentes: ambiente demográfico, ambiente econômico, ambiente natural (meio ambiente), ambiente tecnológico, ambiente político-legal e ambiente sociocultural. Esses ambientes contêm forças que podem produzir um impacto importante sobre os participantes do ambiente de tarefa. Participantes do mercado devem prestar mais atenção nas tendências e nos acontecimentos desses ambientes e realizar ajustesoportunos em suas estratégias de marketing. Mix de marketing Profissionais de marketing utilizam diversas ferramentas para obter as respostas desejadas de seus mercados-alvo. Essas ferramentas constituem o mix de marketing: • Mix de marketing (ou composto de marketing) é o conjunto de ferramentas de marketing que a empresa utiliza para perseguir seus objetivos de marketing no mercado-alvo. McCarthy classificou essas ferramentas em quatro grupos amplos que denominou os 4Ps do marketing: produto, preço, praça (ou ponto-de-venda) e promoção (do inglês product, price, place e promotion).14 As variáveis específicas de marketing sob cada P são mostradas na Figura 1.5. Decisões de mix de marketing devem ser tomadas para que se exerça influência sobre os canais 33 comerciais, bem como sobre os consumidores finais. A Figura 1.6 mostra a empresa preparando um mix de ofertas de produtos, serviços e preços, utilizando um mix de promoção, formado por promoção de vendas, publicidade, força de vendas, relações públicas, mala direta, telemarketing e Internet, para alcançar os canais de distribuição e os clientes-alvo. FIGURA 1.6 – Estratégias de mix de marketing 34 Normalmente, a empresa pode alterar seu preço, o tamanho de sua força de vendas e suas despesas com propaganda no curto prazo. Mas ela só pode desenvolver novos produtos e modificar seus canais de distribuição no longo prazo. Dessa maneira, no curto prazo, a empresa geralmente realiza menos mudanças de mix de marketing de um período para outro do que a variedade de decisões de mix de marketing pode sugerir. Observe que os 4Ps representam a visão que a empresa vendedora tem das ferramentas de marketing disponíveis para influenciar compradores. Do ponto de vista da empresa compradora, cada ferramenta de marketing é projetada para oferecer um benefício ao cliente. Robert Lauterborn sugeriu que os 4Ps do vendedor correspondem aos 4Cs dos clientes. 4Ps 4Cs Produto Cliente (solução para o) Preço Custo (para o cliente) Praça Conveniência Promoção Comunicação Empresas vencedoras serão as que conseguirem atender às necessidades dos clientes de maneira econômica e conveniente, com comunicação efetiva. ORIENTAÇÕES DA EMPRESA PARA O MERCADO Definimos a administração de marketing como o esforço consciente para alcançar resultados de troca desejados com mercados-alvo. Mas qual filosofia deve guiar os esforços de marketing de uma empresa? Que pesos devem ser atribuídos aos interesses da organização, dos clientes e da sociedade? Frequentemente, esses interesses entram em conflito: Dexter Um dos produtos mais populares da Dexter Corporation era um lucrativo papel cuja gramatura evitava que saquinhos de chá se desmanchassem na água quente. Infelizmente, os produtos utilizados para produzir o papel 35 representavam 98 por cento dos resíduos tóxicos produzidos anualmente peia empresa. Portanto, embora o produto da Dexter fosse extremamente popular entre seus clientes, ele era claramente prejudicial ao meio ambiente. A Dexter constituiu uma força-tarefa com representantes dos departamentos ambiental, jurídico, de P&D e de marketing e a incumbiu de solucionar o problema. A força-tarefa obteve sucesso, e a empresa aumentou sua participação de mercado e praticamente eliminou os resíduos tóxicos do processo. Obviamente, atividades de marketing devem ser conduzidas sob a égide de uma filosofia bem pensada de marketing eficiente, efetivo e socialmente responsável. Entretanto, há cinco orientações concorrentes com bases nas quais as organizações conduzem atividades de marketing: a orientação de produção, a orientação de produto, a orientação de vendas, a orientação de marketing e a orientação de marketing societal. A orientação de produção A orientação de produção é um dos conceitos mais antigos nas relações comerciais. A orientação de produção sustenta que os consumidores dão preferência a produtos fáceis de encontrar e de baixo custo. Gerentes de empresas orientadas para a produção concentram-se em alcançar alta eficiência de produção, baixos custos e distribuição em massa. Eles supõem que os consumidores estejam interessados principalmente em disponibilidade de produtos e preços baixos. Essa orientação tem sentido em países em desenvolvimento, onde os consumidores estão mais interessados em obter o produto do que em suas características. Esse conceito também é utilizado quando uma empresa deseja expandir o mercado: Texas Instruments A Texas Instruments é um dos principais expoentes da filosofia "ponha a produção na rua; corte os preços" nos Estados Unidos, a filosofia pioneira de Henry Ford para expandir o mercado automobilístico. A Texas Instruments concentra todos os seus esforços em aumentar o volume de produção e modernizar sua tecnologia para conseguir reduzir custos. A partir dos baixos custos, 36 ela corta os preços e expande o mercado. Ela também luta para alcançar a liderança nos mercados-alvo. Essa orientação também tem sido a estratégia-chave de muitas empresas japonesas. Algumas prestadoras de serviços também operam sob a orientação de produção. Muitas consultas médicas e odontológicas são organizadas segundo princípios de linha de montagem, bem como o atendimento em alguns órgãos públicos (como centros de recrutamento e repartições que emitem licenças). Embora essa orientação administrativa possa resultar no atendimento de muitos casos por hora, tende a gerar acusações de atendimento impessoal e de qualidade precária. A orientação de produto Algumas empresas são guiadas pela orientação de produto. A orientação de produto sustenta que os consumidores dão preferência a produtos que ofereçam qualidade e desempenho superiores ou que tenham características inovadoras. Os gerentes em organizações que seguem essa linha se concentram em fabricar produtos de qualidade e em aperfeiçoá-los com o tempo. Eles presumem que os compradores admiram produtos bem-feitos e que podem avaliar qualidade e desempenho. Entretanto, esses gerentes às vezes se vêem presos em um 'caso de amor' com seu produto e não percebem aquilo de que o mercado necessita. A gerência pode escorregar no mito da 'ratoeira melhor', acreditando que uma ratoeira e melhor fará com que as pessoas se acotovelem à sua porta. Foi o que ocorreu quando a WebTV foi a lançada no final de 1996, com resultados decepcionantes: WebTV Parecia o sonho do telemaníaco: uma TV com um dispositivo que permitia navegar na Web e assistir à televisão ao mesmo tempo. Entretanto, apesar de uma campanha promocional de 50 milhões de dólares desencadeada pela WebTV e seus parceiros Sony e Philips Electronics, apenas 50 mil assinantes aderiram à novidade. Não havia nada de errado com o produto em si, que mostrava informações da Internet em um aparelho de televisão comum; simplesmente o proprietário original da WebTV (hoje pertencente à Microsoft) não conhecia o mercado. O problema foi a mensagem de marketing errada. Os telemaníacos 37 queriam entretenimento de melhor qualidade, enquanto os usuários de computador queriam surfar na Web com pequenos monitores de microcomputadores. A World Wide Web enfrentou problemas ao concorrer com a TV. Para as pessoas acostumadas à televisão, a Web é lenta e estática, pelo menos quando comparada a Jornada nas Estrelas e S.O.S. Malibu. Atualmente, uma campanha reformulada enfatiza o entretenimento. Empresas orientadas para produtos frequentemente projetam produtos com pouca ou nenhuma participação dos clientes. Acreditam que seu departamento de engenharia possa desenvolver produtos excepcionais. Muito frequentemente elas nem ao menos avaliam os produtos da concorrência. Um executivo da GeneralMotors disse, há anos: "Como o público pode saber que tipo de carro quer até que veja o que está disponível no mercado?" Os projetistas e engenheiros da GM projetavam um novo carro. A fábrica o produzia. O departamento financeiro estabelecia um preço para ele. Por fim, os departamentos de marketing e de vendas tentavam vendê-lo. Não é de admirar o fato de que era necessário um enorme esforço de vendas! Hoje em dia, a GM pergunta aos clientes o que eles valorizam em um carro e conta com a ajuda do pessoal de marketing desde os estágios iniciais do projeto. A orientação de produto pode levar à miopia de marketing. Os administradores de empresas ferroviárias acreditavam que as pessoas que viajavam preferiam trens em vez de outros tipos de transporte e menosprezaram a crescente concorrência das linhas aéreas, dos ônibus e dos automóveis. Fabricantes de réguas de cálculo acreditavam que engenheiros queriam réguas de cálculo e menosprezaram o desafio das calculadoras de bolso. Faculdades, lojas de departamentos e os correios julgam estar oferecendo o produto certo ao público e não conseguem entender por que as vendas estão caindo. Essas organizações estão, com demasiada frequência, olhando para um espelho, quando deveriam estar olhando pela janela. 38 A orientação de vendas A orientação de vendas é outra orientação comum em negócios. A orientação de vendas parte do princípio de que os consumidores e as empresas, por vontade própria, normalmente não compram os produtos da organização em quantidade suficiente. A organização deve, portanto, empreender um esforço agressivo de vendas e promoção. Esse conceito pressupõe que os consumidores normalmente demonstram uma inércia ou resistência em relação à compra e devem ser persuadidos a comprar. Também pressupõe que a empresa possui uma bateria efetiva de ferramentas de venda e promoção para estimular mais compras. A orientação de vendas é praticada mais agressivamente com relação a produtos não procurados, produtos que os compradores geralmente não pensam em comprar, como seguros, enciclopédias e jazigos funerários. Esses setores têm aperfeiçoado várias técnicas de vendas para localizar compradores potenciais e convencê-los agressivamente dos benefícios que seus produtos oferecem. A orientação de vendas também é praticada por organizações sem fins lucrativos para captar recursos - buscar novas matrículas para universidades e obter inscrições em partidos políticos, por exemplo. Um partido político 'vende' seu candidato aos eleitores de maneira vigorosa. O candidato passeia pela cidade o dia todo, apertando mãos, beijando bebês, reunindo-se com doadores e fazendo discursos. Uma infinidade de dinheiro é gasta em propaganda no rádio e na televisão, pôsteres e mala direta. As falhas do candidato são ocultadas do público, já que o objetivo é realizar a venda, não sendo levada em conta a satisfação pós- compra. Após a eleição, a nova autoridade continua a adotar uma visão orientada para vendas. Existe pouca pesquisa sobre o que o público deseja e muita venda para fazer com que o público aceite as políticas que o político ou seu partido deseja. A maioria das empresas pratica a orientação de vendas quando tem excesso de capacidade. Seu objetivo é vender aquilo que fabrica, em vez de fabricar aquilo que o mercado quer. Em economias industriais modernas, a capacidade produtiva aumentou até o ponto em que a maioria dos mercados é de compradores (os 39 compradores são predominantes), e os vendedores têm de correr atrás de clientes. Clientes potenciais são bombardeados por comerciais de TV, anúncios em jornais, malas diretas e telefonemas de vendedores. Em toda esquina há alguém tentando vender alguma coisa. Como resultado, o público frequentemente identifica marketing com venda e propaganda agressivas. Mas o marketing fundamentado em venda agressiva leva a altos riscos. Pressupõe-se que clientes persuadidos a comprar um produto gostarão dele; e caso isso não ocorra, imagina-se que esses clientes não falarão mal dele e tampouco reclamarão junto a um órgão de defesa do consumidor, esquecendo-se de sua decepção e voltando a comprar o produto. Essas suposições são frágeis. Uma pesquisa mostrou que clientes insatisfeitos podem falar mal do produto a dez ou mais conhecidos; as más notícias voam. A orientação de marketing A orientação de marketing é uma filosofia empresarial que desafia as três orientações de negócios que acabamos de discutir. Suas premissas centrais cristalizaram-se em meados da década de 50. A orientação de marketing sustenta que a chave para alcançar as metas organizacionais está no fato de a empresa ser mais efetiva que a concorrência na criação, entrega e comunicação de valor para o cliente de seus mercados-alvo selecionados. A orientação de marketing tem sido apresentada de muitas maneiras interessantes: "Atender às necessidades de maneira lucrativa". "Identificar desejos e atendê-los." "Amar o cliente, não o produto." "Como você quiser." (Have it your way, slogan da Burger King) "Você é quem manda." (You/re the 60ss, slogan da United Airlines) "Pessoas em primeiro lugar." (Putting people first, slogan da British Airways) "Parceiros no lucro." (Partners for profit, slogan da Milliken & Company) 40 Theodore Levitt, de Harvard, elaborou uma comparação perspicaz entre as orientações de vendas de marketing: A venda está voltada para as necessidades do vendedor, o marketing, para as necessidades do comprador. A venda preocupa-se com a necessidade do vendedor de converter seu produto em dinheiro; o marketing, com a ideia de satisfazer as necessidades do cliente por meio do produto e de todo um conjunto de coisas associado a sua criação, entrega e consumo final. A orientação de marketing baseia-se em quatro pilares: mercado-alvo, necessidades dos clientes, marketing integrado e lucratividade. Esses pilares estão ilustrados na Figura 1.7, em que são contrastados com a orientação de vendas. A orientação de vendas adota uma perspectiva de dentro para fora. Começa com a produção, concentra-se nos produtos existentes e exige ênfase em vendas e promoção para gerar vendas lucrativas. A orientação de marketing adota uma perspectiva de fora dentro. Começa com um mercado bem definido, focaliza as necessidades dos clientes, coordena todas as atividades que os afetarão e produz lucros satisfazendo-os. FIGURA 1.7 - Comparação entre a orientação de vendas e a de marketing 41 Mercado-alvo As empresas têm maiores chances de se saírem bem quando escolhem seus mercados-alvo com cuidado e preparam programas de marketing customizados: Estée Lauder Depois que o censo de 1990 chamou a atenção das empresas para o crescente poder de compra das minorias, a gigante dos cosméticos Estée Lauder voltou sua atenção para a comunidade negra, com linhas especiais de cosméticos desenvolvidas para tons de pele mais escuros. Em 1992, a subsidiária da Estée Lauder, a Prescriptives, lançou a linha Ali Skins, que oferece "115 tonalidades diferentes de base. O executivo sênior de marketing criativo da Prescriptives atribui à Ali Skins um aumento de 45 por cento nas vendas desde o lançamento da linha. Necessidades dos clientes Uma empresa pode identificar seu mercado-alvo, mas falhar em compreender com exatidão as dos clientes. Considere o seguinte exemplo: Uma importante empresa do setor químico inventou uma nova substância que, ao endurecer, transformava-se em um material semelhante ao mármore. Em busca de uma aplicação! o departamento de marketing decidiu oferecê-la ao mercado de banheiras. A empresa criou algumas banheiras-modelo e as exibiu em uma feira setorial. Ela esperava convencer fabricantes a produzir banheiras com o novo material; embora osfabricantes tenham achado as banheiras bonitas, nenhum se dispôs a fabricá-las. O motivo logo ficou claro: a banheira teria de custar dois mil dólares, ao passo que a maioria das banheiras era vendida na faixa de 500 dólares. Com dois mil dólares, os consumidores poderiam comprar banheiras de mármore verdadeiro ou de ônix. Além disso, as banheiras desse material eram tão pesadas que quem quisesse instalar delas teria de reforçar a estrutura do piso. Compreender as necessidades e os desejos dos clientes nem sempre é uma tarefa fácil. Alguns consumidores têm necessidades das quais não têm plena consciência. Ou não conseguem articular essas necessidades. Ou então empregam palavras que exigem alguma interpretação. O que o cliente quer dizer quando diz 42 que precisa de um carro 'barato', um cortador de grama 'potente', um torno 'veloz', um maiô 'atraente' ou um hotel 'repousante'? Considere o cliente que diz querer um carro barato. O profissional de marketing deve sondar mais profundamente. Podemos distinguir cinco tipos de necessidades: 1. Necessidades declaradas (o cliente quer um carro econômico). 2. Necessidades reais (o cliente quer um carro cujo custo de manutenção seja baixo, não seu preço inicial). 3. Necessidades não-declaradas (o cliente espera um bom atendimento por parte do revendedor). 4. Necessidades de 'algo mais' (o cliente gostaria que o revendedor incluísse um mapa rodoviário como brinde). 5. Necessidades secretas (o cliente quer ser visto pelos amigos como um consumidor inteligente). Responder apenas à necessidade declarada pode não ser o bastante para o cliente. Considere' uma mulher que entra em uma loja de ferragens e pede um produto para vedação de vidraças de janelas. Essa cliente está declarando uma solução, não uma necessidade. O balconista pode sugerir que uma fita seria uma solução mais adequada. A cliente pode entender que o balconista atendeu a sua necessidade, não sua solução declarada. Deve-se fazer uma distinção entre o marketing reativo o marketing pró-ativo e o marketing criativo. Um profissional de marketing reativo encontra uma necessidade declarada e a preenche. Um profissional de marketing pró-ativo vê adiante, pensando nas necessidades que os clientes possam vir a ter no futuro próximo. Um profissional de marketing criativo descobre e produz soluções que os clientes não pediram, mas às quais respondem com entusiasmo. Hamel e Prahalad acreditam que as empresas devem ir além de simplesmente perguntar aos clientes o que eles desejam: Os clientes são notoriamente falhos em termos de previsão. Há 10 ou 15 anos quantos de nós pensávamos em possuir telefones celulares e aparelhos de fax e 43 copiadoras em casa, assim como aplicações financeiras 24 horas por dia, motores multiválvulas para automóveis, aparelhos de GD, carros com sistemas de navegação a bordo, receptores manuais de posicionamento global por satélite, caixas eletrônicos automáticos ou sistemas de compras via Internet? A Sony é um bom exemplo de empresa de marketing criativo. Ela lançou muitos novos produtos bem-sucedidos que os clientes jamais pediram ou pensaram ser possíveis: o Walkman, o videocassete, a filmadora, os CDs e assim por diante. A Sony vai além do marketing orientado para o cliente; ela orienta os próprios mercados em que atua. Akio Morita, seu fundador, declarava que ele não atendia mercados, mas os criava. Por que é tão imensamente importante satisfazer clientes-alvo? Porque as vendas das empresas a cada período advêm de dois grupos: novos clientes e clientes que já compraram anteriormente. Estima-se que atrair um cliente novo pode custar até cinco vezes mais do que agradar um já existente. E pode custar até 16 vezes mais levar um novo cliente ao mesmo nível de lucratividade do cliente perdido. A retenção de clientes é, portanto, mais importante do que a atração de clientes. Marketing integrado Quando todos os departamentos da empresa trabalham em conjunto para atender aos interesses dos clientes, o resultado é o marketing integrado. Infelizmente, nem todos os funcionários são treinados e motivados para trabalhar pelo cliente. Um engenheiro certa vez reclamou que o pessoal de vendas está "sempre protegendo o cliente e não pensa nos interesses da empresa"! E continuou criticando os clientes por "exigirem demais". O exemplo a seguir destaca o problema de coordenação: O diretor de marketing de uma grande empresa aérea europeia deseja aumentar a participação de mercado da empresa. Sua estratégia é aumentar a satisfação dos clientes oferecendo refeições melhores, cabines mais limpas, tripulações mais bem treinadas e tarifas mais baixas. Entretanto, ele não tem qualquer autoridade sobre esses assuntos. O departamento de serviço de bordo escolhe a comida que mantém os custos das refeições mais baixos; o departamento 44 de manutenção utiliza serviços de limpeza que mantêm baixos os custos de limpeza; o departamento de recursos humanos contrata pessoas sem considerar se são naturalmente amáveis, e o departamento de finanças determina as tarifas. Como os departamentos geralmente adotam um ponto de vista de custo de produção, o diretor de marketing está impedido de criar um mix de marketing integrado. O marketing integrado ocorre em dois níveis. Em primeiro lugar, as diversas funções de marketing - força de vendas, propaganda, atendimento ao cliente, gerência de produto, pesquisa de marketing - devem trabalhar em conjunto. Com muita frequência, a força de vendas acha que os gerentes de produto determinam preços e cotas muito altos e o diretor de propaganda e os gerentes de marca não conseguem chegar a um acordo sobre uma campanha publicitária. Todas essas funções de marketing devem ser coordenadas do ponto de vista do cliente. Em segundo lugar, o marketing deve ser incorporado pelos outros departamentos; eles também devem 'pensar o cliente'. Segundo David Packard, da Hewlett-Packard: "O marketing é importante demais para ser deixado a cargo apenas do departamento de marketing!" O marketing é mais uma orientação que abrange toda a empresa do que um departamento. A Xerox chega ao ponto de incluir em cada descrição de cargo uma explicação de como esse cargo afeta o cliente. Os gerentes de fábrica da Xerox sabem que visitas à fábrica podem ajudar a convencer um cliente potencial a realizar a compra, se a fábrica for limpa e eficiente. Contadores da Xerox sabem que as atitudes dos clientes são afetadas pelo cuidado com que é feito o faturamento da empresa e pela rapidez no retorno das ligações recebidas. Para estimular o trabalho em equipe entre todos os departamentos, a empresa adota, além do marketing externo, o marketing interno. O marketing externo é direcionado às pessoas de fora da empresa. O marketing interno é a tarefa de contratar, treinar e motivar funcionários que desejam atender bem aos clientes. Na verdade, o marketing interno deve preceder o marketing externo. Não faz o menor sentido prometer um excelente serviço antes que o quadro da empresa esteja preparado para fornecê-lo. Administradores que acreditam que o cliente é o único verdadeiro 'centro de lucro' da empresa consideram o organograma tradicional da Figura 1.8(a) obsoleto - uma pirâmide com a alta administração no alto, a gerência de nível médio no meio e o pessoal de linha de frente e os clientes na base. Empresas que dominam bem o 45 marketing invertem o organograma, como mostrado na Figura 1.8(b). No topo estão os clientes; em seguida, em grau de importância, vem o pessoal de linha de frente, que se encontra com os clientes, atende-os e os satisfaz; abaixo deles estão os gerentes de nível médio, cuja tarefa é dar apoio ao pessoal de linha de frente para que possam atender bem aos clientes, e na base está a alta administração, cuja tarefa é
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