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Caso Concreto 7 Caio, Tício e Mévio são servidores públicos federais exemplares, concursados do Ministério dos Transportes há quase dez anos. Certo dia, eles pediram a três colegas de repartição que cobrissem suas ausências, uma vez que sairiam mais cedo do expediente para assistir a uma apresentação de balé. No dia seguinte, eles foram severamente repreendidos pelo superior imediato, o chefe da seção em que trabalhavam. Nada obstante, nenhuma consequência adveio a Caio e Tício, ao passo que Mévio, que não mantinha boa relação com seu chefe, foi demitido do serviço público, por meio de ato administrativo que apresentou, como fundamentos, reiterada ausência injustificada do servidor, incapacidade para o regular exercício de suas funções e o episódio da ida ao balé. Seis meses após a decisão punitiva, Mévio o procura para, como advogado, ingressar com medida judicial capaz de demonstrar que, em verdade, nunca faltou ao serviço e que o ato de demissão foi injusto. Seu cliente lhe informou, ainda, que testemunhas podem comprovar que o seu chefe o perseguia há tempos, que a obtenção da folha de frequência demonstrará que nunca faltou ao serviço e que sua avaliação funcional sempre foi excelente. Como advogado, considerando o uso de todas as provas mencionadas pelo cliente, indique a peça processual adequada para amparar a pretensão de seu cliente e os fundamentos adequados. Resposta: A peça a ser elaborada consiste em uma petição inicial de ação de rito ordinário, com pedido de liminar para que Mévio retorne ao trabalho, o endereçamento da peça, deverá ser feito a um Juiz Federal da seção judiciária de algum estado, não cabendo mandado de segurança uma vez que Mévio pretende produzir provas, inclusive a testemunhal, para demonstrar o seu direito, sendo a dilação probatória vedada no Mandado de Segurança. No mérito, o art. 41, § 1º, inciso II, da CRFB/88 estabelece a obrigatoriedade da instauração de processo administrativo, em que seja assegurada a ampla defesa, para demissão de servidor público estável. Na situação apresentada, o servidor público Mévio foi demitido do serviço público sem a abertura de regular processo administrativo disciplinar, em clara violação a norma do Art. 41, § 1º, II, da Constituição Federal. Sendo o ato praticado pelo superior hierárquico de Mélvio ter contrariado a norma do Art. 141 da Lei n. 8.112/90 que define a competência do Presidente da República para aplicação da penalidade de demissão, aos servidores públicos federais, também violou aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, estampados no artigo 5º, incisos LIV e LV, da Constituição Federal, ao cercear o direito de defesa do Servidor público Mévio. È certo que este ato, representa violação aos princípios da isonomia, uma vez que Mévio foi o único dos três servidores penalizados pela ida ao balé, e da impessoalidade, pois Mévio foi alvo de perseguição por parte do seu chefe. Sendo assim deve ser demonstrada a possibilidade de análise no ato administrativo pelo judiciário, para controle de legalidade e, que o motivo alegado no ato de demissão é falso, em violação à teoria dos motivos determinantes. Nesta parte da causa de pedir, deverá ser mencionada a lesão patrimonial, pelo não recebimento dos vencimentos no período em que se coloca arbitrariamente fora dos quadros da Administração por demissão ilegal. Súmula 20 É necessário processo administrativo com ampla defesa, para demissão de funcionário admitido por concurso. Jurisprudência selecionada ● Processo administrativo com ampla defesa e exoneração de servidor estável Depreende-se do excerto acima transcrito que o Tribunal de Justiça concluiu, com fundamento nos fatos e nas provas dos autos, que o agravado era estável ao tempo da exoneração e que o seu desligamento do serviço público se deu sem a instauração de prévio procedimento em que fossem asseguradas as garantias do contraditório e da ampla defesa, motivos pelos quais determinou sua reintegração ao cargo. Desse modo, conforme expresso na decisão agravada, é certo que o Tribunal de origem decidiu em conformidade com o entendimento desta Corte, que, em inúmeros julgados, afirmou a necessidade da observância do devido processo legal para a anulação de ato administrativo que tenha repercussão no campo de interesses individuais de servidor público, no caso dos autos, a própria investidura do servidor no cargo público. Mais recentemente, o Plenário desta Corte, ao apreciar o mérito do RE 594.296/MG, de minha relatoria, cuja repercussão geral havia sido reconhecida, concluiu que qualquer ato da Administração Pública que repercuta no campo dos interesses individuais do cidadão deve ser precedido de prévio procedimento administrativo no qual se assegure ao interessado o efetivo exercício do direito ao contraditório e à ampla defesa, garantias previstas no art. 5º, inciso LV, da ConstituiçãoFederal. [RE 590.964 AGR, rel. min Dias Toffoli, 1ª T, j. 16-10-2012, DJE 222 de 12-11- 2012.] Segundo o autor Sergio Maria Pinheiro em sua doutrina de direito administrativo diz que; ”Poder disciplinar é o poder que tem a autoridade competente de averiguar infrações funcionais praticadas por agentes públicos e para aplicar, se for o caso, a respectiva sanção disciplinar. Assim, a autoridade administrativa, ao tomar ciência de que o servidor praticou uma falta, tem o dever de instaurar o processo disciplinar administrativo, sob pena de recair no crime de Condescendência Criminosa (Art 320, do Código Penal) ou mesmo, conforme as elementares e circunstâncias, configurar o crime de Prevaricação (Art. 319, do Diploma Legal brasileiro). Discricionariedade do poder disciplinar Característica do poder disciplinar é seu discricionarismo, no sentido de que não está vinculado a prévia definição da lei sobre a infração funcional e a respectiva sanção. Não se aplica ao poder disciplinar o princípio da pena específica que domina inteiramente o Direito Criminal comum, ao afirmar a inexistência da infração penal sem prévia lei. O administrador, no seu prudente critério, tendo em vista os deveres do infrator em relação ao serviço e http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1729772 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=3077145 verificando a falta, aplicará capítulo 2 • 60 a sanção que julgar cabível, oportuna e conveniente, dentre as que estiverem enumeradas em lei ou regulamento para a generalidade das infrações administrativas. A discricionariedade existe, limitadamente, nos procedimentos previstos para apuração da falta, uma vez que nos estatutos funcionais não se estabelecem regras rígidas como as que se impõem na esfera criminal. Além disso, a lei costuma dar à Administração o poder de levar em consideração, na escolha da pena, a natureza e a gravidade da infração e os danos que dela provierem para o serviço público. A indispensabilidade da motivação Para a imposição da sanção disciplinar, é preciso haver motivação, isto é, a descrição das razões de fato e de direito que levaram a Administração a punir o servidor, uma justificativa fundamentada à prática do ato, que pode ser resumida, sim, mas não dispensada totalmente, por ser meio de controle do ato administrativo”.
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