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Pornografia e Prostituição: do Suposto Prazer a Conduta Moral

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Me. Gleidson Jordan dos Santos
Pornografia e Prostituição: do Suposto Prazer a Conduta Moral
Trabalho apresentado a disciplina de Introdução ao Pensamento Filosófico do curso de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei, ministrada pelo Professor Dr. Gustavo Leal Toledo, como requisito para obtenção de pontos.
São João del-Rei
2018
Introdução
	Tanto a pornografia quanto a prostituição estão em um lugar nebuloso criado pela conserva cultural do que é certo ou errado e são comumente relacionadas entre si em discussões sobre restrições, direitos e a tal da liberdade. Esse pequeno artigo pretende abordar algumas questões para permear essas discussões e auxiliar na compreensão destes temas com apoio de textos de filósofos e algumas noções psicológicas. Conforme Cicarelli (2011) a pornografia é definida no dicionário Houaiss como estudo da prostituição, algo que fere o pudor, obsceno, indecente, enquanto a enciclopédia europeia define como algo destinado a provocar excitação sexual.
	Para Castanha (2008) a prostituição compreende uma atividade mercantilista do sexo onde atos sexuais são negociados em troca de benefícios, sejam eles financeiros, de satisfação das necessidades básicas como alimentação, vestuário ou moradia, ou trocados por bens ou outros serviços. Trata-se de uma prática presente em todas as classes sociais de forma visível e de ‘acesso’ público (contratado nas ruas ou em espaços de acesso livre a maiores de idade). Segundo Castanha (2008) é uma das profissões mais antigas do mundo, sendo justificada pelo mito machista de que a sexualidade masculina é incontrolável. Já a pornografia envolve produção, divulgação, exibição, distribuição, venda, compra, posse e utilização de material pornográfico (Castanha, 2008).
Breve contextualização sobre a Prostituição e Pornografia ao longo do tempo
	Na antiguidade, algumas formas de prostituição eram vinculadas a divindades e em determinadas civilizações eram respeitadas por evocarem o amor, o êxtase e a fertilidade (Cicarelli, 2011). A prostituição e a pornografia não tinham conotação pejorativa e moralista, foi a partir da preponderância do imaginário judaico-cristão no Ocidente que estes passaram a ser reprimidos pela moral sexual (Cicarelli, 2011) que será melhor abordado mais a diante. Segundo Cicarelli (2011) prostituir-se ou fornecer pornografia era uma prática comum enquanto meio de obtenção de renda e tinha sua prática controlada pelo Estado. Além disso, as prostitutas possuíam livre acesso ao mundo masculino e podiam participar das atividades que eram reservadas apenas para os homens, sendo formadas em escolas especializadas onde aprendiam a arte do amor, literatura, filosofia e retórica.
	Durante o século XVIII, na França, foram produzidas obras chamadas “filosóficas” não-autorizadas e distribuídas por meio de contrabando. Essas traziam erotismo, pornografia, anticlericalismo e crítica ao Antigo Regime. Dentre elas destaca-se o clássico pornográfico setecentista a Thérèse philosophe ou mémoires pour servir à l’histoire du père Dirrag et de mademoiselle Eradice de autor desconhecido. Esse livro revela-se como percussor do discurso feminista do século XX, onde a mulher requisita o direito sobre seu próprio corpo (Costa, 2013).
	Puleo (2004) retoma a conceitualização filosófico da feminilidade por Simone de Beauvoir para criticar a “hétero-designação” a qual a autora Amélia Valcárcel (apud. Puleo, 2004) se refere a uma particular condição das mulheres definidas por uma visão externa onde seriam designadas como mães ou prostitutas, sendo essa visão perpetuada desde tempos remotos. O autor também problematiza o conceito de indivíduo presente na sociedade dita liberal, a qual a filósofa política Carol Pateman aponta como promotora de perversas consequências para as mulheres, uma vez que o termo é masculino apesar da proposta de neutralidade. Nesse sentido, faz-se um paralelo aos conceitos de indivíduo e contrato na prostituição. Para Pateman (Apud. Puleo, 2004) cada um é dono do próprio corpo e como consequência a prostituição torna-se um contrato como qualquer outro. A lógica da autora é de assimilar a distinção do indivíduo que é objeto de contrato da posição de ser mulher.
		
Erotização, proibições e conduta moral
	Conforme Marzochi (2003) a pornografia tem sido um meio de expressão com sua liberdade garantida, desde que não envolva atos ilegais, como quando há envolvimento de menores de idade. Segundo o autor, a pornografia infantil é a maior preocupação dentro e fora da internet, não somente no que concerne a veiculação de imagens de crianças em canas de sexo, mas a exploração delas para obtenção deste material. Adams (apud. Marzochi, 2003) afirma que existe uma contradição dos novos tempos onde a cultura de massa exalta a sexualidade infantil por meio da erotização e culto a ao corpo com excessiva sexualização da nudez e da expressividade ‘artística’, enquanto condena a pedofilia que, por esse viés, poderia ser considerada uma consequência disto.
	É incoerente negar que a exploração sexual infantil não é antecedida por aspectos estruturais, familiares pessoais ou sociais. Esses ambientes ditos vulneráveis apresentam fatores de risco como empobrecimento, violência doméstica, física e psicológica, negligência, abuso d e drogas, prostituição, desemprego, dentre outros, que favorecem a venda ou troca do corpo por dinheiro, bens ou outros serviços (Rodrigues, 2011). Porém, Rodrigues (2011) ressalta que muitos desses sujeitos explorados não estão nessa vida por uma escolha, mas porque as condições e circunstancias os arrastaram para ela. 
Uma das mais óbvias “injustiças sociais” cometidas pela civilização é exigir de todos uma idêntica conduta sexual. A doença nervosa moderna tem ai suas origens, na medida em que a moral sexual dai advinda impõe normas e padrões de comportamento dificilmente acessíveis à grande maioria das pessoas (Freud, 1908). Os que tentarem ser “mais nobres do que suas constituições lhes permitem são vitimados pela neurose” (Freud, 1908, 197); aqueles cuja constituição sexual é “indomável” não aceitarão os limites impostos pela cultura, e tentarão escapar a esta injustiça pela “desobediência” às normas sociais: serão “marginalizados como pervertidos” (Freud, 1908, 192). Ao criar padrões de comportamento sexual, a moral sexual ocidental incentiva a produção de soluções marginais como possibilidades de se escapar à injustiça social. Dentre estas produções, a pornografia aparece com uma das formas de se obter prazer sexual (Cecarelli, 2011).
	Retomando a ideia da erotização e sexualização exacerbada da nudez, pode-se adentrar na análise de Costa e Noyama (2018) da obra de Byung-Chul Han que aborda a questão da exposição do indivíduo, considerada por ele como pornográfica por si só e de forma intensificada pelo capitalismo. Han não distingue erótico e pornográfico (enquanto exibição exacerbada), para ele há uma busca obsessiva pela ‘transparência’ e pelo suposto prazer que isso possa oferecer. Tudo é transformado em mercadoria pelo valor da exposição. Em um lugar onde o narcisismo impera, a intimidade também se torna mercadoria (Costa & Noyama, 2018).
	Com o avanço da tecnologia, o acesso ao que é exposto, com ou sem intenção, da intimidade ao produto da indústria pornográfica, trona-se rápido e fácil, tornando o suposto prazer mais próximo, enquanto se distância do outro, como um afastamento do outro ser. Elimina-se a relação com o outro e facilita-se o consumo do ‘produto’ exposto (Costa & Noyama, 2011). Como apresentado por Costa e Noyama (2018), impede-se o contato do ‘corpo e alma’, favorecendo a distância teatral à favor da intimidade. 
	Como afirma Cecarelli (2011) quando o sujeito chega ao ponto no qual a pornografia é a única possibilidade de satisfação, esta se apresenta como um erotismo desprovido de afeto. Com a ausência da afetividade a pornografia, bem como a busca da prostituição tornam-se opções para o sujeito, mesmo que sejam puramente mecânicas. Por outro lado, por nãoexistir relacionamento afetuoso, o material pornográfico tem vida curta, uma vez que se busca novos meios de excitação, já que os objetos cuja única função é promover a excitação rapidamente torna-se enfadonho (Cicarelli, 2011).
	Retomando a questão da moral sexual ocidental, Cicarelli (2011) afirma que ela própria incentiva a criação de soluções como possibilidade de satisfação do prazer. Uma delas, a pornografia, “utiliza-se de expressões milenares dando-lhes novo sentido a partir da moral sexual ocidental. Mas, é isso o verdadeiramente perverso: a mesma moral que obriga o sujeito a recorrer à pornografia como possibilidade de prazer, oferece as formas de tratamento e cura para os “desajustados”! (Cicarelli, 2011)”. A conserva cultural fomenta e é fomentada pela moral e essa condena o prazer, forçando as pessoas a buscarem o ‘imoral’ e, lugares mais ‘sombrios’ em busca de manter seu lugar de ‘respeito’ na sociedade.
Considerações Finais
	Como visto ao longo deste breve artigo, a pornografia e a prostituição já foram cultuadas pelas pessoas de forma a serem valorizadas pelas sensações positivas que podem promover, sendo um instrumento de auxílio na busca do prazer. Ainda que na antiguidade a mulher não havia conquistado seu lugar na sociedade, as mulheres profissionais da ‘arte do prazer’ tinham uma posição privilegiada. As ideias moralistas judaico-cristã fortalecidas na idade média fizeram uma cisão e atribuíram ou expandiram a ideia de perversão sexual, estigmatizando o erotismo e o prazer em nome do controle de massas por meio do sentimento de culpa.
	Pode-se considerar que a negatividade e as consequências da pornografia e da prostituição não são resultados delas em si, mas da posição que ela ocupou a partir dos ideais morais da sociedade. Estas condenam a busca do prazer, enquanto o mercado se aproveita dessa necessidade e vende as pessoas um suposto prazer, uma mercadoria efêmera, e como todas as outras necessidades mercadológicas, descartável. Como toda crítica pode conter demasiados julgamentos que não estão imunes as conservas culturais este artigo não pretendeu defender ou atacar as ferramentas de erotismo e prazer, mas auxiliar na reflexão e na busca do entendimento do lugar que a prostituição e pornografia ocupam e, ou, deveriam ocupar.
Referências
Castanha, N. (Org) (2008). Direitos Sexuais são Direitos Humanos. Caderno Temático.
Brasília.
Ceccarelli, P. R. (2011). A Pornografia e o Ocidente. Revista (In) visível, Portugal.
Costa, M. (2013). Teresa Filósofa:“filosofia” e erotismo na França. Dito Efeito, (3).
Costa, P. B., & Noyama, S. (2018). Sociedade da transparência de Byung-Chul Han: a pornografia enquanto conceito filosófico. Ensino & Pesquisa.
Marzochi, M. L. (2003). Pornografia na internet. Revista de Direito Administrativo, 233, 229-244. 
Puleo, A. H. (2004), Filosofia e Gênero: Da Memória do Passado ao Projeto de Futuro, in T. Godinho e M. L. da Silveira (orgs.), Políticas Públicas e Igualdade de Gênero. São Paulo, Coordenadoria Especial da Mulher, pp. 13-34
Rodrigues, E. M. (2011). Desafios no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. Revista digital Multidisciplinar, do ministério Publico do Rio Grande do Sul. Criança e Adolescentes, (04).

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