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TCC FINALIZAÇÃO

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Prévia do material em texto

CURSO BACHAREL EM DIREITO 
 
 
 
LUCAS PEREIRA DA LUZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RDD COMO INSTRUMENTO DE COMBATE A CRIMINALIDADE NO SISTEMA 
PRISIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Colinas do Tocantins – TO, Dezembro. 
2019 
 
 
LUCAS PEREIRA DA LUZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RDD COMO INSTRUMENTO DE COMBATE A CRIMINALIDADE NO SISTEMA 
PRISIONAL 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como pré-requisito 
para Conclusão do Curso Direito, do Grupo 
Universidade Brasil- Faculdade de Colinas do 
Tocantins-TO. 
Orientador: Esp. Antônio Rogério Barros de 
Melo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Colinas do Tocantins-TO, Dezembro. 
2019. 
 
 
LUCAS PEREIRA DA LUZ 
 
RDD Como Instrumento De Combate A Criminalidade No Sistema Prisional 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito do Grupo Universidade Brasil- Faculdade 
de Colinas do Tocantins-TO, como requisito parcial para obtenção do Grau de 
Bacharel em Direito. 
 
Aprovado em ___/____/ 2019. 
Nota:_________ 
 
BANCA EXAMINADORA 
___________________________________________________________ 
Porf. Antônio Rogério Barros de Melo (Orientador de TCC) 
 Faculdade de Colinas – FIESC/UNIESP. 
 
__________________________________________________________ 
Msc. Ana Leide Rodrigues de Sena Góis. (Professora de TCC) 
Faculdade de Colinas – FIESC/UNIESP. 
 
_________________________________________________________ 
Prof. Luiz Felipe Defavari 
Coordenador do Curso de Direito Faculdade de Colinas – FIESC/UNIESP. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Colinas do Tocantins-TO, Dezembro. 
 
2019. 
 
 
 
TERMO DE RESPONSABILIDADE 
 
 
 
 
Eu Lucas Pereira da Luz, acadêmico do curso de direito, orientado pelo 
Professor, declaro para os devidos fins que o Trabalho de Conclusão de Curso/ 
Monografia atendem as normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de 
textos, previstas no Manual para Elaboração de Trabalhos Acadêmicos. 
As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a 
origem da ideia do autor com as respectivas obras e anos de publicação. 
Caso não apresente estas indicações, ou seja, caracterize crime de plágio, 
estou ciente das implicações legais decorrentes deste procedimento, nos termos do 
art. 184 do Código de Processo Penal Brasileiro: 
Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado 
no trabalho acadêmico “RDD Como Instrumento De Combate A Criminalidade No 
Sistema Prisional”. 
 
 
Colinas do Tocantins/TO, 11 de Novembro de 2019. 
 
 
_____________________________________________ 
Lucas Pereira da Luz 
Assinatura do Acadêmico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus, em primeiro lugar, por estar sempre ao meu lado, por 
ter me dado o dom da vida, por nunca ter permitido que eu 
desistisse diante das dificuldades. 
E em segundo lugar, agradeço imensamente a minha família, 
pois sem eles nada disso teria sentido, agradeço pelo carinho, 
pela torcida, e por fazerem parte da minha caminhada. 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A todos aqueles que estiveram comigo nessa jornada, a minha família, meus 
companheiros de aula, meus professores, a todos que sempre torceram por mim, que 
me ajudaram quando eu precisei. A vocês, os meus agradecimentos, essa vitória é de 
todos nós. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver 
crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o 
homem chega a desanimar da virtude, e rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. 
Machado de Assis 
 
 
 
RESUMO 
 
A criminalidade no Brasil é uma realidade que infelizmente faz parte do cotidiano dos 
brasileiros, cada vez mais as pessoas temem por sua vida e por sua segurança, o 
medo é um sentimento presente na vida das pessoas. Quando um criminoso é preso 
e recolhido a unidade prisional, a sensação de alívio e tranquilidade é inevitável, pois 
já é um conforto para o cidadão saber que o indivíduo de má índole, foi retirado do 
convício social dá uma sensação de segurança. Entretanto, o fato do criminoso está 
recolhido pagando pelo seu crime em uma unidade prisional, já não é suficiente para 
manter a população resguardada, tendo em vista que atualmente facções criminosas 
tem tomando de conta dos presídios e cadeias pelo país e utilizando de seu poder 
para praticar crimes de dentro das unidades prisionais onde deveriam estar apenas 
cumprindo sua pena e pagando pelo crime que cometeu. 
É uma situação caótica a segurança no Brasil, o objetivo desse trabalho é apontar que 
o atual sistema penitenciário brasileiro não está sendo eficaz, no sentido de evitar que 
bandidos condenados cumpram sua pena e não cometam crimes que atinjam a 
sociedade. A lei de execução penal, também é um assunto que será abordado nesse 
trabalho, embora seja eficiente no papel, na prática não está sendo útil no combate 
ao crime organizado. 
 
Palavras chave: Criminalidade; Lei de Execução Penal; Presídios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Crime in Brazil is a reality that unfortunately is part of the daily life of Brazilians, people 
increasingly fear for their lives and their safety, fear is a feeling present in people's 
lives. When a criminal is arrested and imprisoned, the sense of relief and tranquility is 
inevitable, as it is already a comfort for the citizen to know that the individual of bad 
character, has been removed from the social conviction gives a sense of security. 
However, the fact that the criminal is collecting paying for his crime in a prison unit is 
no longer enough to keep the population safe, given that criminal factions are currently 
taking over the prisons and jails around the country and using their power to protect 
them. commit crimes from within the prison units where they should only be serving 
their sentence and paying for the crime they committed. 
It is a chaotic security situation in Brazil, the aim of this paper is to point out that the 
current Brazilian penitentiary system is not being effective in preventing convicted 
thugs from serving their sentence and not committing crimes that affect society. The 
law of criminal enforcement is also a subject that will be addressed in this work, 
although it is efficient on paper, in practice is not being useful in combating organized 
crime. 
 
Keywords: Crime; Prisons; Penal Execution Law 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
CF Constiuição Federal 
CPP Código de Processo Penal 
CP Código Penal 
CV Comando Vermelho 
DH Direitos Humanos 
LEP Lei de Execuções Penais 
PCC Primeiro Comando da Capital 
RDD Regime Disciplinar Diferenciado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 
1 SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO .................................................................... 14 
1.2 BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA CARCERÁRIO NO BRASIL ....................... 14 
1.3 O PROBLEMA DA SUPERLOTAÇÃO ................................................................ 17 
 
2 O PODER PARALELO DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA................................... 21 
2.1 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO SISTEMA PRISIONAL ............................. 25 
 
3 MEDIDAS JÁ UTILIZADAS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO DENTRO 
DOS PRESÍDIOS ...................................................................................................... 27 
3.1 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL E O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO ...... 27 
3.2 O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: CRÍTICAS AO SISTEMA E 
ASPECTOS POSITIVOS...........................................................................................29 
3.2.1 Regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade ................................ 29 
3.2.2 RDD – Regime Disciplinar Diferenciado - Aspectos Gerais ............................. 30 
3.2.3 Críticas sobre o RDD........................................................................................ 34 
3.2.4 Aspectos e Efeitos Positivos ............................................................................ 36 
3.3 COMBATE AO USO DE CELULAR .................................................................... 38 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 41 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
INTRODUÇÃO 
 
A violência no Brasil é uma realidade assustadora, o país vive uma 
situação crítica, as forças de segurança parecem não acompanhar o ritmo que as 
coisas estão acontecendo, o país vive uma cenário de guerra. 
Todos os dias pessoas são assassinadas, todos os momentos 
acontecem roubos, sequestros, assaltos, as pessoas perderam a sua paz, e os 
bandidos a cada dia que passa parecem que estão ganhando mais espaço. A 
impressão que surge é de que os bandidos estão mais organizados do a polícia, 
bandidos tem dominado espaços, são donos e mandam dentro das favelas. 
Uma prova disse é crescimento constante de duas grandes 
organizações criminosas, denominadas PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV 
(comando vermelho). Dois grupos que comanda pelo pais afora diversos crimes, 
sendo o tráfico de drogas o sua principal atividade. 
Biondi (2007, p. 208) assevera que: “a criação do PCC é vista por muitos 
presos como o fim de um tempo no qual imperava algo que se aproximava de um 
cenário ‘hobbesiano’ de guerra de todos contra todos”. 
No mesmo sentido Feltran (2012, p. 136) discorre que: 
 
Que o surgimento do PCC em 1993 teria sido uma resposta da população 
carcerária ao Massacre do Carandiru”, ocorrido no ano anterior, quando 
policiais militares invadiram o Pavilhão 9 da Casa de Detenção para controlar 
uma rebelião, em ação que resultou na morte de cento e onze presos. 
 
Além de comandar o tráfico de drogas e outros crimes pelo país, essas 
duas organizações criminosas tem dominado os presídios e casas de prisão, 
obrigando os que não são faccionados a se faccionar, movimentam o tráfico de drogas 
dentro de unidades prisionais, mas o pior é que esses criminosos fazem coisas que 
ultrapassam os limites dos muros de penitenciárias e tem reflexo direto na vida de 
quem está do lado de fora. 
 
A grande característica das organizações criminosas é exatamente a 
“estrutura organizada” capaz de articular, definir ordens e objetivos, além de 
impor enorme respeito às normas e às autoridades dos líderes. Sustenta 
ainda que a principal diferença entre uma organização criminosa e um bando 
ou quadrilha é que esta pratica seus atos de forma improvisada ou 
desorganizada, enquanto aquela previamente calcula os riscos de uma 
operação, buscando efetivar resultados seguros. (MENDRONI, 2009) 
 
13 
 
De dentro dos presídios, bandidos dão ordens para que crimes sejam 
cometidos do lado de fora, comandam o tráfico, encomendam mortes, sequestros, 
utilizam-se de parelhos celulares para praticar crimes, aplicam golpes em pessoas 
pelo telefone, cometem crimes como estelionato, extorsão e tudo isso de dentro dos 
presídios. 
A sociedade está refém dessa situação, não existe mais um lugar 
seguro, uma vez que para os bandidos aparentemente não há limites, não há muros 
e não há cercas que os impeça de cometer seus crimes. 
O objetivo desse trabalho é retratar essa situação caótica em que se 
encontra a sociedade brasileira, no primeiro capítulo será feito um apanhado histórico 
da sistema carcerário brasileiro e suas péssimas condições, será também 
mencionado neste capítulo a questão da superlotação, que é hoje o maior problema 
do sistema penitenciário brasileiro. 
No segundo capítulo abordará a questão do poder das organizações 
criminosas dentro do sistema prisional. E no terceiro serão apresentados as possíveis 
soluções e medida que já vem sendo utilizados pelo governo na tentativa de coibir 
essa prática de cometimento de crimes dentro dos presídios brasileiros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
1 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
 
1.1 BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA CARCERÁRIO NO BRASIL 
 
As condições precárias na qual se encontra o sistema penitenciário 
brasileiro é uma realidade na qual a sociedade infelizmente já está acostumada, pois 
esse problema não é atual, vem se propagando e piorando ao longo dos anos, em 
decorrência de um amontoado de questões que o governo nunca resolve, o que 
resulta em falta de credibilidade por parte da população em relação ao governo. A 
forma como o governo administra o sistema prisional não tem apresentado soluções 
para a crise existente, é um modelo que já não produz bons resultados e só acumula 
problemas 
Esse modelo que foca apenas na repressão e vigilância ganhou mais 
ênfase no período da ditadura entre os anos de 1964 a 1985, quando os militares 
detinha o poder sobre a liberdade, cidadania e legislação, foi um período de lutas e 
revoltas onde o foco era a briga para permanecer no poder, e durante todo esse 
período não houve investimento nem inovação no sistema penitenciário e essa 
situação permanece até os dias de hoje, não sendo reformulado nem atualizado, 
Após esse período da ditadura, o Brasil entrou em nova fase, um retorno 
à democracia, em 1988 foi promulgada a atual Constituição Federal, que apesar de 
trazer excelentes garantias aos direitos fundamentais, a dignidade da pessoa humana, 
não trouxe grandes benefícios e mudanças as quais o sistema prisional precisava, a 
democracia renasceu, o cidadão teve de volta seus direitos e garantias, entretanto o 
sistema prisional ficou a margem de toda essa evolução social, não houve 
investimentos, nem melhoria na estrutura, não foram construídos presídios melhores, 
a crise que assolou o pais entre 1980 e 1990 foi a justificativa do governo e mais uma 
vez o sistema prisional ficou no esquecimento. 
E com isso, o que temos hoje é uma herança de todo esse período da 
história do Brasil em que o sistema prisional não foi visto como algo importante para 
a sociedade, acrescente a estes fatores o aumento grandioso da criminalidade no 
país, uma inovação da legislação com leis mais rígidas, penas mais pesadas, a justiça 
mais eficiente em virtude dos avanços tecnológicos da informática e o resultado são 
cadeias e presídios superlotados espalhados por todo o país. Diante disso, temos um 
caso caótico e um sistema prisional prestes a explodir. 
15 
 
Sobre a realidade das prisões brasileiras, Farias Júnior (2006, p. 518) 
dispõe o seguinte: 
 
O ambiente interno das prisões é fervilhante e carregado de baixezas, 
incidentes e episódios sucessivos, muitos dos quais se processam nos 
subterrâneos, nos desvãos e nas sombras secretas e recônditos misteriosos, 
ficando reprimidos não só no íntimo dos presos como também sepultados no 
âmago da estrutura prisional. Nesses episódios estão, por exemplo, as 
torturas, que devem ficar aí abafadas e nunca reveladas, ou, se reveladas, 
não têm a mínima ressonância, constituindo-se numa das mais inomináveis 
barbáries consagradas pelo uso policial e prisional, não havendo grito ou 
chance dos direitos humanos que possa dar fim a essa tirania, enquanto 
subsistir essa sistemática penal; as curras sexuais, os assédios, as 
chantagens, a coação e o constrangimento para consecução de atos 
libidinosos e sexuais, constituindo-se noutra ignominiosa mazela prisional; 
havendo uma infinidade de outras que não são reveladas, delas conhecendo 
só os envolvidos ou quando muito os dirigentes, mas nada podendo-se fazer 
devido à lei do silêncio, pela qual ninguém, sabe nada, ninguémviu nem ouviu 
nada. 
 
Graciliano Ramos, em sua Memórias do Cárcere, faz uma real descrição 
sobre como é a da vida no interior do presídio: 
[...] A gente mais ou menos válida tinha saído para o trabalho, e no curral se 
desmoronava o rebotalho da prisão, tipos sombrios, lentos, aquecendose ao 
sol, catando bichos miúdos. Os males interiores refletiam-se nas caras 
lívidas, escaveiradas. E os externos expunham-se claros, feridas horríveis. 
Homens de calças arregaçadas exibiam as pernas cobertas de algodão 
negro, purulento. As mucuranas haviam causado esses destroços, e em vão 
queriam dar cabo delas. Na imensa porcaria, os infames piolhos entravam 
nas carnes, as chagas alastravam-se, não havia meio de reduzir a praga. 
Deficiência de tratamento, nenhuma higiene, quatro ou seis chuveiros para 
novecentos indivíduos. Enfim, não nos enganávamos. Estávamos ali para 
morrer. (RAMOS, 1995 apud AMORIM, 2004, p. 52) 
 
A Lei dos Crimes Hediondos, trouxe uma sensação de justiça para a 
sociedade, em contrapartida agravou um problema já existente, o da superlotação, 
sobre o assunto temos a opinião de MONTEIRO (1999, p.4) que assevera que: 
 
Em relação aos gravames penais oriundos da Lei dos Crimes Hediondos, 
devemos entender o momento de pânico que atingia alguns setores da 
sociedade brasileira, sobretudo por causa da onda de seqüestros no Rio de 
Janeiro, culminando com o do empresário Roberto Medina, irmão do 
Deputado 
Federal pelo estado do Rio de Janeiro, Rubens Medina, considerado a gota 
d'água para a edição da lei. O clima emocional para o surgimento de 
dispositivos duros que combatessem os chamados crimes hediondos estava 
assim criado. A sociedade exigia uma providência drástica para pôr fim ao 
ambiente de insegurança vivido no país. O governo precisava dar ao povo a 
sensação de segurança. 
 
16 
 
Infelizmente este não é um problema isolado em determinada região do 
país, tão pouco é uma exceção a regra, pois a questão da superlotação, aumento da 
criminalidade, baixo índice recuperação, problemas com fugas, existem em todo o 
território brasileiro. 
Analisemos abaixo o que diz um antigo membro titular do Conselho 
Nacional de Política Criminal e Penitenciária: 
Em viagens por vários estados, na condição de Professor de Direito 
Penitenciário da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, tive 
a chance de ver, pessoalmente, o desamparo dos estabelecimentos penais, 
convertidos, em sua maioria, em redutos de promiscuidade e violência. ( Leal, 
2001, p. 57) 
 
O mesmo autor também afirma que: 
Seja na Casa de Detenção de São Paulo, onde cerca de 7250 homens 
habitam a maior prisão da América Latina, ou a Penitenciária Aníbal Bruno, 
de Pernambuco, palco de torturas veiculadas pela imprensa, seja na 
decadente Lemos de Brito, em Salvador, com seu 'beco da morte", ou no 
Instituto Penal Paulo Sarasate, do Ceará, semidestruído por presidiários 
amotinados, vi a projeção reiterada do mesmo filme, coproduzido pelo 
estigma, pelo preconceito e pela indiferença. (Leal 2001, p. 57) 
 
Diante de tudo isso, é nítido que a questão da ressocialização é algo 
praticamente impossível, em um ambiente sem o mínimo de condições para viver, um 
ambiente violente, lotado com criminosos de toda espécie, não há a possibilidade de 
se falar em recuperação. 
A questão da ressocialização é algo muito relevante e que merece um 
estudo bastante aprofundado e discutido, porém, em que pese o fato desse assunto 
não ser o foco do presente trabalho, convém destacar apenas que a falta de 
recuperação só aumenta o problema da criminalidade no país, uma vez que só 
devolve para a sociedade pessoas ainda piore, que no ambiente prisional só 
aprenderam a tornar-se ainda mais violentos e mais revoltados com sociedade em 
geral. A falta de um programa de ressocialização que funcione de fato dentro dos 
presídios, faz com que os presos sejam submetidos a uma situação degradante de 
vida, expostos a violência, doenças, não há como se falar em ressocialização sem 
uma mudança nas condições físicas e estruturais das prisões brasileiras. Nesse 
sentido discorre Foucalt: 
 
O sentimento de injustiça que um prisioneiro experimenta é uma das causas 
que mais pode tornar indomável seu caráter. Quando se vê assim exposto ao 
sofrimento que a lei não ordenou nem mesmo previu, ele entra em estado 
habitual de cólera contra tudo que o cerca; só vê carrascos em todos os 
17 
 
agentes de autoridade: não pensa mais ter sido culpado, acusa a própria 
justiça (FOUCAULT, 2009, p 252). 
 
Diante das afirmações acima expostas, percebe-se que o atual modelo 
do sistema prisional brasileiro a muito tempo está falido, não funciona, está em um 
círculo vicioso, onde presos entram e são devolvidos ainda piores para a sociedade. 
As condições precárias das prisões as tornam verdadeiros depósitos humanos, e sem 
nenhuma possibilidade de recuperação o preso cumpre a sua pena e retorna ao 
convício social. “A prisão torna possível, ou melhor, favorece a organização do meio 
de delinquentes, solidários entre si, hierarquizados, pronto para todas as 
cumplicidades futuras” (FOUCAULT, 2009, p 222). 
 
1.2 O PROBLEMA DA SUPERLOTAÇÃO 
 
A superlotação é uma realidade das prisões brasileiras, entretanto, o 
governo parece fechar os olhos para essa situação, e o que se vê é o problema 
crescendo, como uma bola de neve que fica cada vez maior, o governo não investe 
em estrutura nos presídios, cadeias e casa de prisão, o governo não consegue 
resolver o problema da criminalidade e da violência no pais, e uma coisa fica 
interligada a outra e sem solução. As unidades prisionais no Brasil não oferecem 
estrutura digna para que uma pessoa sobreviva, os presos são amontoados em celas 
como animais. 
Em todo o país a questão da superlotação é um problema, e a solução 
nunca aprece, não é prioridade do governo, a justiça interessa apenas fazer cumpri a 
lei, punir o culpado e fazer com que ele cumpra pelo crime que cometeu, e para o 
governo, desde que o criminoso seja tirado do convívio social, está tudo bem. E com 
isso a população carcerária no Brasil só aumenta, conforme podemos constatar nos 
gráficos abaixo1: 
 
 
 
 
 
1 Dados obtidos no site do Departamento Penitenciário Nacional - Ministério da Justiça e Segurança Pública, 
http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-
penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf (acesso em 18 d eoutubro de 2019) 
http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf
http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf
18 
 
Gráfico 1. Evolução das pessoas privadas de liberdade entre 2005 a 2018 
 
 
Gráfico 2. Evolução da população prisional, vagas e déficit de vagas entre 2000 e 
20162 
 
A omissão do Estado frente a essa situação faz com que haja excesso 
de lotação dos presídios e a reincidência, motivos que levam ao aumento da crise do 
sistema prisional. Nas condições atuais as prisões brasileiras não têm êxito em 
relação à redução da criminalidade, sabendo-se que esse é o seu principal objetivo, 
mais isso não é uma realidade. Percebe-se isso, pelo fato do crescimento da 
reincidência de crimes e prisões. Vieira afirma que: 
 
2 O cálculo da população prisional inclui as pessoas privadas de liberdade em carceragens de delegacias e no 
Sistema Penitenciário Federal. O cálculo do número de vagas inclui as vagas do Sistema Penitenciário Federal. 
19 
 
(...) as unidades prisionais brasileiras não oferecem uma estrutura nem física, 
nem humana, o sistema precisa de mudanças emergenciais para poder 
colher os detentos numa forma mais humana. E assim tentar ressocializar o 
preso de forma maisrápida. (VIEIRA, 2011, p. 117) 
 
Não há vagas nas prisões brasileiras, e todos os dias pessoas são 
presas, condenadas, a falta de investimento no sistema prisional é um descaso do 
governo para com a sociedade, pois sem manutenção, sem investimento, sem 
projetos de recuperação do detento o problema da superlotação tende a piorar, as 
prisões no Brasil são verdadeiros barris de pólvora prestes a explodir, o que 
ocasionam rebeliões, mortes, fugas, um verdadeiro cenário de guerra. Sobre o 
assunto temos as palavras de Dias que afirma o seguinte: 
 
A superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade tornam as 
prisões num ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de 
doenças. Todos esses fatores estruturais aliados ainda à má alimentação dos 
presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a 
lugubridade da prisão, fazem com que um preso que adentrou lá numa 
condição sadia, de lá não saia sem ser acometido de uma doença ou com 
sua resistência física e saúde fragilizadas (DIAS, 2016). 
 
As cadeias e presídios são construídos com uma capacidade de pessoas 
já pré-estabelecida, toda a estrutura física, tamanho das celas, quantidade de 
banheiros, camas, refeitório, tudo é feito para uma quantidade específica de pessoas, 
quando esse número é ultrapassado ocorre a superlotação, e com isso a qualidade 
de vida nesse ambiente já deixa de existir, o espaço é insuficiente, o calor aumenta, 
a proliferação e doenças. No mesmo sentido afirma Dias: “O número de colchões é 
insuficiente e nem a alternativa de pendurar redes nas celas faz com que todos 
possam descansar ao mesmo tempo” (DIAS, 2016). 
 
Não há privacidade alguma em penitenciárias e presídios superlotados. O 
Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu que o sistema prisional 
chega a ser praticamente medieval, após a divulgação de um estudo da 
Anistia Internacional, apontando a degradação do sistema penitenciário 
nacional.Para reduzir o problema da superlotação, foi criada a Lei nº 12.403, 
de 4 de maio de 2011, possibilitando alternativas à prisão provisória para 
presos não reincidentes que cometeram delitos leves com pena privativa de 
liberdade de até quatro anos, como fiança e monitoramento eletrônico. A 
liberação desses acusados pode causar uma sensação de insegurança 
(DIREITONET, 2016). 
 
Essa situação fere todos os direitos de dignidade da pessoa humana, a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura isso em seu artigo 5°: “Ninguém 
20 
 
será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou 
degradante”. 
Com a superlotação surge também o problema da proliferação de 
doenças, o que também pode vir a atingir a sociedade quando este preso voltar ao 
convício social. 
 
Podemos citar como exemplo o sistema prisional de Campinas, no qual a 
tuberculose é considerada como ameaça já que sem o devido controle dentro 
das prisões, talvez não seja possível controlar a reincidência fora delas. 
Pouca ventilação, superlotação, condições sanitárias adversas, baixo nível 
sócio econômico, tempo de permanência na penitenciária e uso de drogas 
favorece a proliferação de doenças como a tuberculose. Portanto, risco de 
contaminação e possível epidemia para com a comunidade perto da 
penitenciária, como os familiares e policiais, é incisivo (DIREITONET, 2016). 
(...) 
 
 
A AIDS no meio carcerário é muito comum devido à possibilidade de ser 
transmitida com o uso de drogas injetáveis, podendo ser considerada como 
epidemia. A doença na prisão põe em perigo a vida dos “pacientes” por causa 
da falta ao acesso de médicos especilistas em HIV/AIDS e, do acesso 
limitado a todos os tratamentos disponíveis e terapias alternativas. Por isso, 
os prisioneiros com HIV/AIDS não têm as mesmas taxas de esperança de 
vida que uma pessoa com HIV/AIDS que vive na parte externa. Todavia, mais 
uma vez o Estado deixa a desejar no que diz respeito à saúde pública, 
demonstrando assim, que o preso com HIV/AIDS já adquiriu fora da cadeia 
ou contagiou-se por alguém que já tinha antes de ser detido (DIREITONET, 
2016). 
 
Além das doenças contagiosas, infecciosas, outra situação comum 
dentro dos presídios, e que também vai em desencontro ao princípios e garantias 
constitucionais, é a presença de presos portadores de distúrbios mentais, presos com 
algum tipo de deficiência física, em fim são situações que mais uma vez deixa claro o 
descaso com o qual o sistema penitenciário brasileiro vem sendo tratado. 
 
Quanto à saúde dentária, o tratamento odontológico na prisão resume-se à 
extração de dentes. Não há tratamento médico-hospitalar dentro da maioria 
das prisões. Para serem removidos para os hospitais os presos dependem 
de escolta da PM, a qual na maioria das vezes é demorada, pois depende de 
disponibilidade. Quando o preso doente é levado para ser atendido, há ainda 
o risco de não haver mais uma vaga disponível para o seu atendimento, em 
razão da igual precariedade do nosso sistema público de saúde 
(DIREITONET, 2016). 
 
Diante de tudo isso, a conclusão a que se chega é de que, uma vez 
encarcerado nessas condições desumanas, o preso acaba por ser punido duas vezes, 
21 
 
pois além de perder a liberdade, perde a sua dignidade, perde a sua saúde, pode vir 
a perder a vida. 
Exames clínicos realizados com os clássicos testes de personalidade 
mostraram os efeitos negativos do encarceramento sobre a psique dos 
condenados e a correlação destes efeitos com a duração daquele. A 
conclusão a que chegam os estudos deste gênero é que “a possibilidade de 
transformar um delinqüente anti-social violento em um indivíduo adaptável, 
mediante uma longa pena carcerária, em conformidade com as relações 
informais de poder e de prepotência que a caracterizam (BARATTA, 2002). 
 
Há muitas falhas no atual modelo do sistema penitenciário brasileiro, não 
há uma política de recuperação do preso, que existe é uma necessidade de tirar o 
criminoso das ruas, do meio da sociedade, mas o estado esquece de sua 
responsabilidade com custódia desse preso, o estado esquece de sua obrigação para 
com o cidadão que está preso, mas que não perdeu seus direitos, direito a saúde, 
alimentação, e principalmente, direito a dignidade. 
Há uma necessidade urgente de uma reestruturação no sistema 
penitenciário, investimento na parte física e estrutural para que assim, após 
proporcionar uma qualidade de vida digna para esses presidiários, seja feito um 
investimento na recuperação dos mesmos enquanto cidadão. 
 
2 O PODER PARALELO DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
 
O crime organizado representa um grande desafio para Estado, tendo 
em vista a dificuldade em combate-lo, visto que as organizações criminosas, ou 
facções atualmente são muito difíceis de combater, pois enquanto organização se 
tornam mais fortes, possuem membros espalhados por todo o país, os lideres 
dificilmente são identificados, infelizmente a realidade é que o Estado não dispões de 
estrutura física e também jurídica para pôr fim a atuação das organizações criminosas 
no país. 
Desde 1995, o Brasil possui uma legislação específica que cuida do crime 
organizado, através da Lei no 9.034/1995. 
Contudo, essa lei não definiu o tipo penal incriminador da atividade de crime 
organizado, deixando a criminalização da conduta associativa para a prática 
delituosa ser feita pelo tipo penal do artigo 288 do Código Penal, que se 
referia à formação de quadrilha ou bando (NUCCI, 2015). 
 
Segundo o doutrinador Araújo Silva (2003, p. 34) 
 
No campo jurídico, para que se construa um conceito aproximado do que vem 
a ser o crime organizado, devem ser observados três requisitos, quais sejam: 
“estrutural (número mínimo de pessoas integrantes), finalístico (rol de crimes 
22 
 
a ser considerado como de criminalidade organizada) e temporal 
(permanência e reiteração de vínculo associativo)”. 
 
 
Em 2004, o Brasil por meio do Decreto no 5.015, aderiu a uma definição 
de organizaçãocriminosa criada pela Convenção de Palermo (Convenção das 
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional), sendo assim, para o 
ordenamento jurídico brasileiro a definição de organização criminosa passou a ser: 
 
a) grupo criminoso organizado – grupo estruturado por três ou mais pessoas, existente 
há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais 
infrações graves ou enunciadas na presente Convenção com a intenção de obter, direta 
ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material. (BRASIL, 
2004). 
 
A Lei no 12.850/13, em seus artigos 1º e 2º, traz a definição do tipo penal 
a qual pertence a organização criminosa, as devidas penalizações e também de que 
forma de se dá o crime. 
 
Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, 
os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento 
criminal a ser aplicado. 
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais 
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, 
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, 
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas 
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional. 
(...) 
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por 
interposta pessoa, organização criminosa: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas 
correspondentes às demais infrações penais praticadas. 
(...) 
§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, 
da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de 
execução. (BRASIL, 2013) 
 
O conceito de crime organizado é complexo é abrangente, sobre o 
assunto Flávio Gomes afirma que: 
O crime organizado possui uma textura diversa: tem caráter transnacional na 
medida em que não respeita as fronteiras de cada país e apresenta 
características assemelhadas em várias nações; detém um imenso poder 
com base numa estratégia global e numa estrutura organizativa que lhe 
permite aproveitar as fraquezas estruturais do sistema penal; provoca 
danosidade social de alto vulto; tem grande força de expansão, compreendo 
uma gama de condutas infracionais sem vítimas ou com vítimas difusas; 
dispõe de meios instrumentais de moderna tecnologia; apresenta um 
intricado esquema de conexões com outros grupos delinquenciais e uma rede 
subterrânea de conexões com os quadros oficiais da vida social, econômica 
e política da comunidade; origina atos de extrema violência; exibe um poder 
de corrupção de difícil visibilidade; urde mil disfarces e simulações e, em 
23 
 
resumo, é capaz de inerciar ou fragilizar os Poderes do próprio Estado. 
(GOMES, 1997, p. 75) 
 
Sobre o poder, entende-se que é algo que sempre fez parte da 
sociedade, é algo necessário para se definir uma hierarquia e para que haja 
organização entre as pessoas, é um fenômeno natural que sempre existiu. É 
impossível uma sociedade existir sem que haja em sua estrutura uma hierarquia de 
poder que defina as funções de cada um. 
 
O exercício do poder é possível somente em uma organização social e, nessa 
perspectiva, o Estado possui poder político institucionalizado para que o bem 
comum possa ser realizado. O poder político, ou poder estatal, é o que 
legitima o Estado, funcionando como o princípio unificador da ordem jurídica 
(FERREIRA FILHO, 2007). 
 
No Estado há uma divisão de poderes de acordo com artigo 2º da 
Constituição Federal de 1988 que prevê a tripartição dos poderes da União, o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário, que embora estejam interligadas, trabalham de 
forma independente e harmônica entre si, de maneira que não haja entre eles 
supremacia de um sobre o outro. 
 
Essa divisão harmônica visa, principalmente, “ao estabelecimento de um 
sistema de freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização 
do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o demando de 
um em detrimento do outro e especialmente dos governados” (SILVA, 2005). 
 
 
Porém, algo que sempre existiu na sociedade foram pessoas, ou grupos 
que desafiam o poder do Estado, se opõe as leis existentes, infringindo-as e criando 
uma situação de desordem dentro da sociedade, obrigando o estado a utilizar de 
meios para coibir tais ações. 
As organizações criminosas possuem metodologia diferenciada para 
atacar a soberania do Estado, essas metodologias avanças tem evoluído e crescido 
muito, o que tem gerado transtornos para o estado e para a sociedade, tendo em vista 
que a máquina estatal parece não ter condições de competir com essas organizações 
que cada vez tem ganhado espaço, e colocando o estado em uma posição de 
descrença perante a sociedade. 
 
O Estado também tem sofrido a infiltração de organizações criminosas que 
desestruturam o poder, corrompendo funcionários, inserindo a violência, a 
corrupção, provocando desequilíbrio econômico, social e político. Ao passo 
que muitos dos que são associados ao crime organizado estão nas favelas e 
nas margens da sociedade, as organizações criminosas têm espaço mais 
24 
 
amplo, sendo chefiadas, muitas vezes, por empresários, políticos, ou 
funcionários de alta patente (GONÇALVES, 2012). 
 
Com relação ao poder cobiçado pelas organizações criminosas, Campos 
e Santos (2004) afirma o seguinte: 
 
Os objetivos principais das organizações criminosas são obter poder e 
riqueza. Para tanto, empregam recursos tecnológicos e estruturas 
diversificadas para criar, desenvolver e mesmo ocultar os crimes praticados. 
Entre os segmentos mais lucrativos do crime organizado estão: as drogas, o 
tráfico de armas; o tráfico de seres humanos para prostituição, o comércio de 
órgãos e o trabalho escravo. A corrupção e a lavagem de dinheiro são 
elementos comuns a todas as atividades do crime organizado. 
 
A forma do crime organizado agir, acaba por fazer com que em algumas 
comunidades eles assumam o poder que deveria ser do estado, uma vez que o crime 
organizado realiza para a população recursos e oferece vantagens que deveriam ser 
oferecidas pelo estado. Com isso o crime organizado acaba por manter a população 
ao seu lado, seja por medo ou até mesmo por gratidão, o que dificulta o poder do 
estado de combater essas organizações. 
Na opinião de Campos e Santos (2004): 
 
A ausência de políticas de controle de criminalidade, associada à miséria, à 
desigualdade na distribuição de renda, a falta de educação, habitação e 
emprego são fatores que contribuem para a existência do crime organizado, 
que surge como opção de vida, embora de forma ilícita, diante da falta do 
Estado em garantir as condições mínimas para a sobrevivência digna. Para 
estes autores, O Crime Organizado alcançou tão grandes proporções porque 
ocupou perante a população mais carente um lugar que deveria, antes, ter 
sido ocupado pelo Estado, sendo que perante a parcela da população mais 
abastada surgiu como forma de aumentar ainda mais suas riquezas e seu 
poder. Tal é a realidade que há quem diga que o Crime Organizado é tal como 
um câncer no seio da sociedade, vez que corrompe todos os seus segmentos 
em todas as esferas de poder. (CAMPOS e SANTOS, 2004, p. 14). 
 
Sobre o poder paralelo e aa política criminal das organizações 
Gonçalves (2012, p. 1) afirma que: 
 
O crime de forma generalizada, é um fator puramente político, ou melhor, de 
política criminal de Estado. O poder paralelo das organizações criminosas 
adquire maior força quando o Estado Mínimo é exercido, quando o Estado 
abre mão de sua responsabilidade com os direitos sociais mais básicos, como 
previdência, estabilidade, saúde, segurança, educação, entre outros, e se 
preocupa apenas com o Poder de Polícia, incentivando a construção de 
presídios, em vez dede promover e implementar mudanças sociais através 
de políticas públicas que atendam às demandas.Diante desse cenário, está cada mais complicado para o estado 
combater o poder paralelo das organizações criminosas, visto que este poder se 
25 
 
estende para dentro e fora dos presídios, o que significa afirmar que nesse caso 
específico, a solução não é a construção de mais presídios. 
De acordo com Fort e Oliveira (2007), citando Foucault: 
As prisões funcionam como micro poderes, ou sociedades paralelas e o que 
ocorre dentro de seus muros pouco interessa à população, a não ser que 
ameace à segurança da sociedade institucionalizada. 
 
Campos e Santos (2004), apontam que: 
Para o surgimento de organizações criminosas dentro dos presídios 
brasileiros desde a década de 1970, como a Falange Vermelha, o Comando 
Vermelho, o Terceiro Comando, o Primeiro Comando da Capital, entre outros. 
A sua formação está ligada à falta de políticas voltadas à reabilitação dos 
presos mediante condições favoráveis e adequadas ao respeito aos seus 
direitos. A falta destas contribui para o crescimento das facções criminosas 
nas prisões e fora delas. 
 
Assim, exercendo o seu poder dentro e fora dos presídios, as facções 
criminosas tem alcançado cada vez mais espaço dentro da sociedade, o que resulta 
em sua expansão para toas as regiões do Brasil. 
 
2.1 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO SISTEMA PRISIONAL 
 
Quando se fala em organização criminosa no Brasil, logo se remete ao 
PCC e ao Comando Vermelho, visto que são as consideradas as maiores 
organizações criminosas da atualidade no Brasil. O Comando Vermelho3 é originário 
do Rio de Janeiro, já o PCC4 em São Paulo. 
Acredita- se que o grupo PCC tenha atuação em diversos estados do 
país, e não se concentra apenas no estado de São Paulo, estados do país5, mesmo 
assim trata-se de um grupo muito organizado, e o fato de estar espalhado por diversas 
regiões o torna ainda mais forte e influente dentro dos presídios brasileiros. 
Na visão de Ana Gabriela Mendes BRAGA elucida: 
 
O surgimento e funcionamento dessas organizações na prisão dependem, 
principalmente, das características específicas do ambiente institucional, tais 
como histórico da “Casa”, perfil do Diretor e dos presos, números de internos 
 
3 Apesar de muitos conferirem o surgimento do Comando Vermelho ao contato de presos comuns com presos 
políticos, os pormenores desse surgimento ainda não estão muito bem elucidados e ainda causa divergências 
sobre o assunto. Mais sobre o assunto: PAIXÃO, Antonio Luiz. Recuperar ou punir? Como o Estado trata o 
criminoso. São Paulo: Cortez, 1987. 
4 Mais sobre o surgimento do PCC até chegar a sua hegemonia nas prisões em: DIAS, Camila Caldeira Nunes. PCC: 
hegemonia nas prisões e monopólio da violência. São Paulo: Saraiva, 2013 (Coleção saberes monográficos). 
5 De acordo com Camila Caldeira, op.cit., o PCC atuaria em mais de 13 estados, dentre eles: Paraná, Rio Grande 
do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Pernambuco, Bahia e Paraíba. p. 286/289. 
26 
 
e de agentes penitenciários, observação do regulamento formal, arranjo 
interno do poder, sistema de privilégios, rigidez disciplinar, grau de violência, 
permissividade e corrupção da instituição etc. As conjunturas política e social 
também influenciam na consolidação destas organizações. O tipo de política 
criminal, assim como as características estruturais e culturais da “sociedade 
mais ampla”, repercutem inevitavelmente no ambiente social da prisão. 
(BRAGA, 2013. p. 145) 
 
 
Vários são os problemas enfrentados pelos presídios brasileiros, 
conforma mencionado anteriormente, contudo, eles ainda são única alternativa 
disponível para que se tire criminosos do meio da sociedade. Entretanto, como iremos 
demonstrar neste capítulo, apesar de não estarem convivendo em sociedade, há nos 
presídios brasileiros criminosos que cometem crimes que atingem o lado de fora das 
unidades prisionais. 
Geralmente os crimes cometidos de dentro das unidades prisionais, são 
ordenados ou executados por facções ou um de seus membros, em virtude do poder 
que as mesmas detém dentro dos presídios e cadeias em todo o país, nesse contexto 
afirma Araújo (2013). 
Por tanto é afirmativa a existência e a atuação das organizações criminosas 
dentro dos presídios brasileiros, principalmente porque certa aceitação, 
mesmo que velada, do poder público e as facções criminosas agem e se 
fortalecem no sistema prisional, sendo um movimento normal e oficial, e são 
estas que tomam as decisões internas, que seriam na verdade, função 
segurança e da administração do presídio, demonstrando seu controle 
absoluto, pois são as facções que determinam a transferência de presos para 
outras galerias, entre muitas outras decisões, (ARAÚJO,2013). 
 
É uma situação muito difícil e complexa para o estado solucionar, pois 
dentro das prisões brasileiras já existe uma cultura de que as facções que dão as 
ordens, existe uma distribuição dentro das prisões, os pesos hoje encontram-se 
divididos de acordo com o crime que cometeu, de acordo com a periculosidade, 
profissão, crença e principalmente de acordo com a facção a qual pertence. 
Assim, é necessário ainda que a administração de um presídio ou de 
uma cadeia ainda tenha essa preocupação de manter essa separação, sob pena de 
colocar em risco a vida de um criminoso que for colocado em cela onde haja outros 
presos que não sejam da mesma facção ou organização criminosa que a sua, em 
virtude da guerra de facções que existe dentro e fora dos presídios. 
 
Exemplos de ataques ordenados de dentro das prisões são inúmeros, 
resultando em mortes, depredações e ondas de violência que deixam a 
população em pânico. Assim, a solução para essa crise seria uma 
reformulação do sistema penitenciário, que levaria à construção de novos 
27 
 
presídios para abastecer a população prisional e aliviar a superlotação, dando 
aos reclusos condições mais dignas e humanas, separando-os do seu grau 
de dano sociedade e dando-lhes oportunidades de educação, trabalho e arte, 
que, naturalmente, contribuem para a ressocialização do detento. 
(NEPOMUCENO, 2015). 
 
Muitas coisas precisariam mudar para que essa situação fosse resolvida, 
mais estrutura nos presídios, mais funcionários , mais segurança, para que a vigilância 
fosse aumentada a fim de que fosse possível evitar a entrada de drogas para serem 
comercializadas e alimentar o tráfico, e também a entrada de celular que o meio de 
comunicação que esses bandidos utilizam para encomendar crimes fora dos 
presídios. 
Também seria importante a substituição, quando há oportunidade para tal, de 
penas privativas de liberdade para outro tipo de penalidade, como a restrição 
de direitos, por exemplo. (NEPOMUCENO, 2015). 
 
3 MEDIDAS JÁ UTILIZADAS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO DENTRO 
DOS PRESÍDIOS 
 
3.1 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL E O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO 
 
A Lei no 7.210 6 , de 11 de julho de 1984, conhecida como Lei de 
Execução Penal (LEP), é o dispositivo legal que legitima todos os atos praticados 
durante a execução da pena, ou seja quando o criminoso está recluso em uma 
penitenciária, cumprindo a pena que foi lhe imposta pelo judiciário. 
 
Esta lei foi estabelecida para legitimar a execução penal, que é uma fase do 
processo penal em que se aplica a decisão dada pelo juiz em sentença 
condenatória penal, na qual se impõe, efetivamente, a pena privativa de 
liberdade, a pena restritiva de direitos ou a pecuniária (NUCCI, 2007). 
 
Na lei de execuções penais estão todas as normas de administração 
penitenciária, todos os direitos e deveres do preso, porém não há que fale a respeito 
da proibição de superlotação, não pouco há na LEP menção às medias a serem 
utilizadas para que haja a ressocialização do preso. 
 
Analisando alguns dados extraídos do Formulário Categoria e indicadores 
Preenchidos, do InfoPen (Sistema Integrado de Informações Penitenciarias), 
do Departamento Penitenciário nacional do Ministérioda Justiça 
(DEPEN/MJ), referente a junho de 2009, constata-se que a população 
carcerária nacional era de 469.546 internos, sendo 409.287 custodiados no 
sistema penitenciário e 60.259 nas policiais e no sistema de segurança 
 
6 BRASIL. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L7210.htm>. Acesso em: 28 ago. 2019. 
28 
 
pública. O número total de vagas, tanto no sistema penitenciário quanto nas 
policiais e no sistema de segurança pública, era apenas 299.392 unidades, 
gerando um déficit momentâneo de 170. 154 acomodações. Em termos 
percentuais, significa que temos uma excedente população de 57%, ou seja, 
para cada cúbico de quatro camas, colocam-se dois presos ou mais para 
dormir no chão, quadro atual da realidade carcerária brasileira no que diz 
respeito ao número de vagas. (MAGALHAES, 2010, p 82) 
 
O objetivo da execução penal, conforme descrito no artigo 1º da LEP, é 
efetivar o disposto na sentença ou decisão criminal. Nesse sentido: 
 
Visa-se pela execução fazer cumprir o comando emergente da sentença 
penal condenatória ou absolutória imprópria, estando sujeitas à execução, 
também, as decisões que homologam transação penal em sede de Juizado 
Especial Criminal (MARCÃO, 2014, p. 23). 
 
Ao contrário do que alguns acreditam, a lei de execuções penais não 
trata apenas das questões referentes aos presos com privação de liberdade, mas 
também dos condenados com medida de segurança, tratamento ambulatorial, prisão 
domiciliar, internação hospitalar, tratamento psiquiátrico. 
 
A pena imposta ao condenado visa a punição do fato criminoso, porém, tem 
sua razão de ser na ressocialização e na integração social do condenado. 
Nesse sentido, a LEP prevê que a pena restritiva de liberdade seja cumprida 
em regimes diferentes, individualizados segundo o grau de periculosidade do 
condenado. A individualização da pena está prevista no artigo 5o, XLVI, da 
Constituição Federal de 1988, determinando que “[...] a lei regulará a 
individualização da pena [...]” (BRASIL, 1988). 
 
Portanto, a execução penal, nada mais é do que a concretização da 
função punitiva que o estado tem. 
 
Traz em seu âmago um caráter de sanção penal multifacetado que envolve 
os aspectos retributivo e preventivo, sendo a prevenção percebida nos 
prismas positivo geral e individual, e negativo geral e individual (NUCCI, 
2007). 
 
De acordo com o art. 8º da lei de execuções penais, os condenados que 
cumprirão pena no regime fechado, devem ser classificados de acordo com o 
resultado do exame criminológico que obrigatoriamente deve ser realizado quando da 
entrada do mesmo no estabelecimento prisional. 
Sobre esse assunto, aponta Marcão (2014, p. 33) 
 
O exame criminológico é obrigatório “apenas aos condenados ao 
cumprimento de pena no regime fechado”, sendo que, no regime semiaberto, 
esse exame é facultativo, devendo ser determinado pelo juiz, caso julgue 
necessário. A classificação dos condenados possibilita adequar a pena às 
condições pessoais dos mesmos e assegurar os princípios da personalidade 
e da proporcionalidade da pena, aspectos presentes no rol dos direitos e 
29 
 
garantias constitucionais, de modo que o condenado receba o tratamento 
penitenciário adequado, atendendo ao princípio da individualização da pena. 
 
 
De acordo com o artigo 33, § 2º, alínea b, da Código Penal, irão cumprir 
pena no regime fechado, os condenados com pena superior a 8 (oito) anos de 
reclusão. 
O artigo 87 da lei de execuções penais, prevê os condenados a pena 
privativa de liberdade, que devem cumprir sua pena no regime fechado, são 
encaminhados para unidades de segurança porte médio ou máximo, dependendo do 
crime e do grau de periculosidade do condenado. Ainda, de acordo com o art. 52, do 
mesmo dispositivo legal, os presos condenados a pena privativa de liberdade no 
regime fechado, também poderão ser submetidos ao Regime Disciplinar diferenciado 
dependendo do grau de periculosidade. 
 
3.2 O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: CRÍTICAS AO SISTEMA E 
ASPECTOS POSITIVOS 
 
3.2.1 Regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade 
 
 No Brasil, o Código Penal ao regulamentar as penas impostas e suas 
modalidades de cumprimento, dispõe sobre os regimes na qual o condenado deverá 
cumprir a sua pena. Os regimes para cumprimento da pena que estão previstos no 
código penal são: fechado, semiaberto e aberto. 
 De acordo com o art. 33, § 2º, “a” e “b” do Código Penal, o regime 
fechado, é aquele imposto aos condenados a pena superior a 8 (oito) anos ou para os 
condenados reincidentes cuja a pena seja inferior a 8 (oito) anos e superior a 4 
(quatro). Neste caso a pena deverá ser cumprida em uma unidade penitenciária de 
segurança máxima ou média. 
 O regime semiaberto será aplicado aos condenados que não sejam 
reincidentes, ou seja, réus primários, e que sejam condenados a uma pena que não 
exceda a 8 (oito) anos e que seja superior a 4 (quatro) anos, de acordo com o que 
dispõe o art. 33, § 2º, “b” do Código Penal. Neste caso o condenado poderá trabalhar 
durante o dia e a noite deve retornar ao estabelecimento penal para dormir. Ainda de 
30 
 
acordo com a lei essa modalidade de pena deve ser cumprida em colônia agrícola, 
industrial ou similar. 
 O regime aberto é aquele aplicado ao condenado não reincidente cuja 
pena imposta seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos de acordo com o art. 33, § 2º, “c” 
do Código Penal. 
 
3.2.2 RDD – Regime Disciplinas Diferenciado - Aspectos Gerais 
 
O Regime Disciplinar Diferenciado também chamado RDD, é uma forma 
de sanção disciplinar imposta ao preso com comportamento inadequado, trata-se de 
uma forma de isolamento, onde o preso é separado dos demais e fica sozinho em cela 
especial pelo período máximo de 360 (trezentos e sessenta dias). Esse regime foi 
criado no estado de São Paulo sob a justificativa de ser utilizado no combate ao crime 
organizado. 
Amanda Maciel Costa7, em seu artigo “Regime disciplinar diferenciado: 
aspectos históricos e críticos” discorre sobre o Regime Disciplinar Diferenciado e 
como o mesmo foi criado: 
O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) é modalidade de sanção disciplinar 
e teve sua origem no Estado de São Paulo, por meio da Resolução 26/2001 
da Secretaria de Administração Penitenciária, que alegou ser esta necessária 
para combater o crime organizado, prevendo a possibilidade de isolar o preso 
por até 360 dias e aplicava-se aos líderes de facções criminosas ou 
portadores de comportamentos inadequados. 
A Resolução 26/2001 do Estado de São Paulo surge como resposta à 
megarrebelião ocorrida no início de 2001, quando 29 unidades prisionais 
rebelaram-se simultaneamente por ordem de chefes de facções criminosas 
exaradas dentro dos próprios presídios. 
Foi estabelecido também no Rio de Janeiro, em 2002, um regime análogo ao 
paulista, em resposta à rebelião no Presídio Bangu I, liderado por 
Fernandinho Beira-Mar. (AMANDA MACIEL COSTA, 2013) 
 
A Resolução 26/2001, determinada que o Regime Disciplinar 
Diferenciado fosse aplicado, como uma medida de segurança de caráter punitivo, para 
os líderes de facções criminosas, por serem os principais mandantes de crimes de 
dentro do presídio, e também para presos que apresentavam um comportamento que 
necessitasse de um tratamento diferenciado em virtude de sua periculosidade. 
Aplica-se o RDD ao preso que pratique fato previsto como crime doloso 
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina interna; ao que apresente 
 
7 Amanda Maciel Costa, artigo: “Regime disciplinar diferenciado: aspectos históricos e críticos. Disponível em: 
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8147/Regime-disciplinar-diferenciado-aspectos-historicos-e-
criticos. Acesso em out. 2019. 
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8147/Regime-disciplinar-diferenciado-aspectos-historicos-e-criticoshttps://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8147/Regime-disciplinar-diferenciado-aspectos-historicos-e-criticos
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alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da 
sociedade; ao preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas 
suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em 
organizações criminosas, quadrilha ou bando. 
É importante ressaltar que o regime poderá ser aplicado tanto ao preso 
condenado quanto ao provisório, bastando que se enquadre em uma das 
condições supra (previstas no artigo 52 caput e §§ 1º e 2º da LEP). (AMANDA 
MACIEL COSTA, 2013) 
 
Além do isolamento, presos submetidos a esse regime também tem uma 
certa restrição quanto as visitas, até mesmo os advogados necessitam de prévio 
agendamento para visitar seu cliente com a direção do presídio. 
Seguindo a mesma linha do estado de São Paulo, e também em virtude 
de uma rebelião, mas dessa vez ocorrida no presídio Bangu I, em 2003 o estado do 
Rio de Janeiro implantou um Regime Disciplinar Especial de Segurança (RDES), que 
tinha basicamente o mesmo intuito do estado de São Paulo, isolar líderes de facções 
criminosas, por serem os principais mandantes de crimes de dentro do presídio presos 
responsáveis por rebeliões. 
De acordo com Christiane Russomano FREIRE e Salo de CARVALHO: 
A adoção de tal regime para o âmbito nacional demonstra a relação entre o 
recrudescimento disciplinar com a necessidade do Poder Público em 
reafirmar seu controle sobre os estabelecimentos prisionais. A adoção de tal 
legislação de emergência ante o apelo de respostas por parte da mídia e da 
sociedade, ainda de acordo com os autores, serve para demonstrar a 
incapacidade do Poder Público em gerir a crise na segurança pública, 
passando a assentir, oficialmente, com práticas arbitrárias perpetradas no 
cotidiano nas prisões do país. (CARVALHO, Salo de; FREIRE, 2007. p. 275) 
 
Desse modo, em linhas gerais, tal instituto consiste em uma sanção 
administrativa de até um ano, de redução de visitas e permite o isolamento na cela. 
Marcão (2004, p. 36) narra o trâmite legislativo da criação do RDD: 
 
A morte de dois Juizes de Execução Penal, no mês de março de 2003, em 
São Paulo e Espírito Santo, fez ressurgir no âmbito do Congresso nacional o 
Projeto de Lei 7.053, enviado em 2001 pela Presidência da República. Em 
2610312003 o PL foi aprovado na Câmara dos Deputados e seguir para o 
Senado Federal, agora modificado vários dispositivos da Lei de Execução 
Pena!, criado, como força de Lei, o Regime Disciplina Diferenciado. O projeto 
tramitou e foi convertido em Lei, sendo alvo de severas criticas advindas de 
vários Juristas, e a ele também se opôs o Conselho Nacional de Policia 
Criminal e Penitenciária, conforme noticia MAURICIO KUEHNE em excelente 
artigo. Trata-se da Lei n. 10.792, de 1° de dezembro de 2003, que altero a 
Lei n.7.210, de 11 de junho de 1984-Lei de Execução Penal - e o Decreto - 
Lei n. 3.689. de 03 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal -, além 
de estabelecer outras providências. Nos precisos termos do art. 52 da Lei de 
Execução Penal, "a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta 
grave e quando ocasione subversão da ordem ou disciplina interna, sujeita o 
preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime 
32 
 
disciplinado diferenciado". O regime disciplinado diferenciado é modalidade 
de sanção disciplinar (art.53, V, da LEP), e para sua aplicação basta a prática 
do fato regulado. Não é preciso aguardar eventual condenação ou transito 
em julgado da sentença penal condenatória, o que por certo inviabilizaria a 
finalidade do instituto. (MARCÃO, 2004, p. 36) 
 
Instituído no âmbito nacional pela Lei 10.792/03, o Regime Disciplinar 
Diferenciado – RDD, não foi poupado de críticas. Sobre o RDD, a Lei de Execução 
Penal passou a dispor que: 
 
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, 
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso 
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime 
disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração máxima 
de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova 
falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; II - 
recolhimento em cela individual; III - visitas semanais de duas pessoas, sem 
contar as crianças, com duração de duas horas; IV - o preso terá direito à 
saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. § 1o O regime disciplinar 
diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, 
nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a 
segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. § 2o Estará 
igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o 
condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou 
participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou 
bando. 
 
Conforme dito anteriormente, o regime disciplinas diferenciado é uma 
sanção disciplinar, muito embora seja chamado de “regime”, convêm esclarecer essa 
diferença, para que fique claro que o RDD não é um procedimento que possa ter 
alguma interferência no processo de progressão de regime do preso, a não ser quanto 
a questão da emissão de certidão de bom comportamento, tendo em vista que, por 
motivos óbvios, o presos submetido ao RDD, não poderá ser considerado como preso 
que possui bom comportamento. 
Sobre o assunto, aponta Renato Marcão8: 
 
Pela possibilidade de progressão de regime, mas sob a ressalva de que, 
antes de ser transferido para o regime mais brando, o preso deverá cumprir 
integralmente a sanção. O que vale dizer: mesmo que obtida a progressão 
de regime, a transferência não será automática, se ainda restar tempo para 
ser cumprido sob o RDD, apenas depois desse é que poderá ser colocado no 
novo regime mais brando. 
 
De acordo com as disposições legais acerca do RDD, existem três 
situações em que é possível a aplicação da referida sanção, qual sejam: que o preso 
 
8 MARCÃO, Renato. Progressão de regime prisional estando o preso sob Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). 
São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.bu.ufsc.br/regimeXRDD.pdf>. Acesso em: 25 de agosto de 2019. 
33 
 
tenha cometido crime doloso, o que é considerado falta grave, segundo que o preso 
seja integrante de facção criminosa e por último que o preso seja considerado 
perigoso e que possa pôr em risco a ordem e a segurança da unidade prisional. 
 
Sobre os critérios para aplicação do RDD: 
Quem tem legitimidade para requerer a inclusão do preso no regime de 
exceção é a autoridade administrativa diretora do estabelecimento ou um de 
seus superiores (uma vez que o RDD é sanção administrativa). Tal 
requerimento deverá ser circunstanciado e deverá alegar um dos motivos 
condicionais para a aplicação do RDD, infração esta que deve ter ocorrido no 
interior do estabelecimento penal. O Ministério Público (MP) não pode 
requerer a inclusão do preso nesse regime, por falta de previsão legal. A 
aplicação desta medida fica restrita à decisão judicial precedida de 
manifestação do MP e da defesa do prejudicado, no entanto, antes da 
decisão judicial o diretor do estabelecimento pode determinar o isolamento 
preventivo do preso por até 10 dias e, dependendo do caso, o próprio juiz 
poderá decretar a inclusão preventiva no RDD, sem a oitiva do MP e da 
defesa. ((AMANDA MACIEL COSTA, 2013) 
Ressalte o fato de que havendo a suspeita do preso ser integrante de 
facção criminosa, ou que seja perigoso a ponto de colocar em risco a segurança da 
unidade prisional, não é necessário o cometimento de falta grave para que o mesmo 
seja submetido sanção do RDD. 
Essa é a única sanção disciplinar prevista na LEP em que é necessário 
procedimento judicial (mesmo que possa ser determinado pelo diretordo 
estabelecimento o isolamento preventivo por 10 dias). O requerimento da 
sanção é de atribuição do Diretor do estabelecimento prisional ou seu 
superior, de maneira que o Ministério Público não tem legitimidade para fazer 
o pedido. (GIAMBERARDINO, André; PAVARINI, 2012. p. 237.) 
 
 Após o requerimento feito pela autoridade competente, Ministério 
Público e a defesa deverão se manifestar. 
Com a previsão de duração máxima de 360 dias, prorrogável até o limite de 
1/6 da pena. No caso dos presos provisórios, esse limite de 1/6 será verificado 
a partir da pena mínimo dos delitos cominados a ele. Impondo o recolhimento 
em cela individual, o RDD inaugurou uma nova lógica na execução penal 
brasileira: se antes, mesmo que apenas em teoria, o discurso era para buscar 
reintegrar o indivíduo, tal regime impõe uma exclusão e incapacitação do 
indivíduo nele abrigado, busca, de fato, neutralizar os indivíduos 
considerados pela administração como perigosos para a ordem e disciplina 
interna. (CARVALHO, Salo de; FREIRE, Christiane Russomano. Op. cit. p. 
278.) 
 
De acordo com Roberta Duboc PEDRINHA: 
O RDD foi pensado para ser um espaço de isolamento e sofrimento intenso. 
No RDD, o preso se vê privado de quase todo tipo de contato físico, pois nas 
visitas de seus familiares se vêem separados por um vidro, bem como não 
há visita íntima. Não é permitido televisão, rádio e nem mesmo a leitura de 
jornal, bem como o trabalho é vetado. De acordo com a autora, seria uma 
prisão dentro da prisão. (PEDRINHA, 2010. p. 173.) 
 
34 
 
3.2.3 Críticas sobre o RDD 
 
Muitas críticas são feitas ao RDD baseadas no ferimento aos diretos 
humanos dos presos. É a tese sustentada pelo experto em Execução penal Raya 
(2007, p. 288): 
Demonstra, o isolamento e o RDD em comento, que, sob forte influência 
midiática e, em muitos momentos para atender a esta, ainda não se consegue 
- ou não se quer- identificar, avaliar, discutir e alterar a gênese da violência e 
criminalidade presente. Continua a insistir no clássico e ineficaz enfretamento 
das conseqüências. Continuar a creditar- e querer —se acreditado - que uma 
centena de presas em Regimes Disciplinar Diferenciado vai suportar ou 
minimizar as causas e motivação que geram a violência e a criminalidade. 
Seja exemplo dessa argumentação a Lei 8.07211990 - Lei dos Crimes 
Hediondos -, que parece não ter contribuído para a redução dos índices de 
crimes definidos como tais. 
 
Diante do contexto em que foi criado, é evidente que a lógica imposta 
pelo RDD é a de neutralizar presos considerados perigosos para a ordem prisional. 
Assim, contraria o previsto na Lei de Execução Penal em que, pelo menos no discurso, 
o objetivo da pena seria a ressocialização, uma vez que, ao isolar o preso, estaria 
institucionalizando-o mais ainda. 
Com a edição da nova Lei, surgiram variados questionamentos acerca 
de sua inconstitucionalidade, pelo fato de permitir o isolamento em cela, em face de 
desajustes com princípios penais garantistas inseridos na Carta Magna. É 
exatamente nesse sentido a lição de Raya (2004, p. 272): 
Parece claro que o Regime Disciplinar diferenciado se distancia do direito 
constitucional e internacional que reiteradamente vem orientando no sentido 
de uma intervenção penal e um tratamento penitenciário humanizado, pois o 
isolamento e o RDD, sem dúvida alguma, agravam a dessocialização do 
preso. 
 
Amanda Maciel Costa, em seu artigo “Regime disciplinar diferenciado: 
aspectos históricos e críticos” também faz menção a essa crítica: 
 
Em diversos momentos questiona-se a constitucionalidade do instituto, que 
afronta vários princípios protegidos constitucionalmente, já que se pode 
considerar o RDD como uma modalidade de pena cruel, que é vedada pelo 
art. 5º, XLVII da CF, também fere a dignidade da pessoa humana, garantida 
pelo artigo 1º, III CF, indo de encontro aos direitos humanos defendidos pelo 
art. 4º, II CF, bem como desrespeita a integridade física e moral do preso (art. 
5º, XLIX). O art. 1º da LEP coloca como objetivo da execução penal 
proporcionar condições para a integração social do condenado e do 
internado, de forma que este artigo acaba por ser desprezado pelo artigo 52, 
uma vez que os presos sob o RDD acabam desintegralizados e 
desumanizados. 
35 
 
Este mesmo instituto desrespeita também o previsto no § 1º do art. 45 da 
LEP, uma vez que as sanções não podem colocar em perigo a integridade 
física e moral do condenado e o isolamento assim o faz. 
Ademais, as hipóteses estabelecidas no art. 52 da LEP são demasiadas 
vagas, causando uma total insegurança jurídica quanto à subsunção do fato 
à norma, pois conceitos tais como “alto risco para a ordem e segurança do 
estabelecimento e da sociedade” mostra-se bastante etéreo, não se tendo 
parâmetros certos e objetivos para determinar o cumprimento de tão grave 
regime. (AMANDA MACIEL COSTA, 2013) 
 
Em posição diametralmente oposta, temos a lição de Nucci (2007, p. 
959): "Proclamar a inconstitucionalidade desse regime, fechando os olhos aos 
imundos cárceres aos quais estão lançados muitos presos no Brasil é, com a devida 
Vênia, uma imensa contradição". 
Quanto à hipótese de se aplicar em caso subversão da ordem e da 
disciplina, utilizou-se de conceitos demasiadamente vagos, o que, de acordo com 
FREIRE e CARVALHO, ante a ausência de taxatividade, feriria o princípio da 
legalidade, o que permitiria mais ainda o cometimento de arbitrariedades por parte da 
Administração Pública. Em suas palavras: 
 
Assim, se anteriormente a falta de precisão decorrente da ambigüidade 
terminológica favorecia o arbítrio administrativo, com o novo texto a tendência 
é sua potencialização. Por outro lado, produz efeito na gestão da política 
penitenciária, visto que a importância auferida à ordem, à disciplina e à 
segurança não apenas reforça a ideologia defensivista, mas ressignifica o 
sentido da execução, voltada na contemporaneidade à contenção dos 
“socialmente indesejáveis”, dos “corpos excedentes”. Abdica-se, pois, vez por 
todas, do ilusório e romântico fim ressocializador pregado no Estado Social 
em prol de uma administração das “massas inconvenientes”.( CARVALHO, 
Salo de; FREIRE, Christiane Russomano. Op. cit. p. 278) 
 
Posição oposta adota alguns autores9, ao afirmarem que caberá ao juiz, 
ao analisar o caso em concreto, verificar a existência de tal hipótese ou não de acordo 
com a sua experiência. No tocante a hipótese de aplicação da sanção prevista no §2º 
do art. 52, qual seja, quando há fundadas suspeitas de que o preso seja participante 
de alguma. 
Mas de longe, de todas as críticas que foram feitas em relação ao RDD, 
a mais preocupante é a feita por Paulo César BUSATO, ao considerá-lo como produto 
de um Direito Penal de Inimigo, nos termos propostos por Jakobs. BUSATO 
problematiza que nas hipóteses que podem levar a colocação sob esse regime, é 
 
9 PINTO, Nalayne Mendonça. Recrudescimento penal no Brasil: simbolismo e punitivismo. In: MISSE, Michel 
(Org.). Acusados e acusadores: estudos sobre ofensas, acusações e incriminações. Rio de Janeiro: Revan: FAPERJ, 
2008. p. 259. 
36 
 
possível verificar um juízo de valor mais relacionado ao Direito Penal de autor do que 
de fato. Além disso, o regime seria dirigido para determinadas classes de indivíduos 
que seriam, arbitrariamente, considerados pela administração como representantes 
de um risco para a organização interna da prisão. Em suas palavras: 
 A imposição de uma fórmula de execução da pena diferenciada segundo 
características do autor relacionadas com “suspeitas” de sua participação na 
criminalidade de massas não é mais do que um “Direito penal de inimigo”, 
quer dizer, trata-se da desconsideração de determinada classe de cidadãos 
como portadores de direitos iguais aos demais a partir de uma classificação 
que se impõe desde as instâncias de controle. A adoção do Regime 
Disciplinar Diferenciadorepresenta o tratamento desumano de determinado 
tipo de autor de delito, distinguindo evidentemente entre cidadãos e 
“inimigos”. (BUSATO, 2007, p.297) 
 
De fato, a temática concernente ao RDD enseja inúmeros 
questionamentos jurídicos acerca de sua constitucionalidade. Todavia, não 
trataremos da especificidade da temática constitucional, uma vez que sua abordagem, 
nesse momento, é para destacar as ações de combate ao crime dentro dos 
estabelecimentos penitenciários. 
De tal modo, identifica-se uma tendência à quebra do princípio da 
igualdade, ao impor uma reação penal mais rígida, motivada pelo perfil do autor, e não 
pelo o que de fato ele fez. E é nesse sentido que se verifica o Direito Penal de Inimigo 
tal qual fundamentado por JAKOBS, uma vez que ele explica que: 
Quem por princípio se conduz de modo desviado, não oferece garantia de um 
comportamento pessoal e por isso, não pode ser tratado como cidadão, mas 
deve ser combatido como inimigo. Esta guerra tem lugar com um legítimo 
direito dos cidadãos, em seu direito à segurança; mas diferentemente da 
pena, não é Direito também a respeito daquele que é apenado, ao contrário, 
o inimigo é excluído. (JAKOBS, 2012. P. 47) 
 
Desse modo, sintetizamos a temática desse instituto, parafraseando a 
lição do renomado processualista Nucci (2007, p. 959) que admite o Regime 
Disciplinar Diferenciado-RDD como uma das alternativas necessárias para combater 
a criminalidade organizada, fazendo-se um meio adequado e legítimo para o momento 
em que vivencia a sociedade brasileira. 
 
3.2.4 Aspectos e Efeitos Positivos 
 
Em que pese as críticas antes levantadas, há ainda aqueles que creem 
que a aplicação do RDD e seus efeitos práticos sejam benéficos. Para Roberto 
PORTO (2007, p.66): “O sucesso poderia ser verificado estatisticamente, uma vez 
37 
 
que, durante os mais de quatro anos de existência, não houve fugas ou rebeliões, 
além de não existir nenhum relato de violência física perpetrada por parte de agentes 
do Estado” 
 Ainda, quanto ao fim proposto pela sanção, qual seja, desmantelar as 
organizações criminosas, o autor conclui que: 
 
O efeito prático do isolamento dos líderes das facções criminosas propiciado 
pelo Regime Disciplinar Diferenciado foi devastador para a criminalidade 
organizada. Com a falta de contato com os líderes, importantes integrantes, 
alguns deles fundadores destas facções, foram destituídos de seus 
comandos, causando a desestruturação destes grupos criminosos. (PORTO 
2007, p.66) 
 
 Esses efeitos são totalmente rebatidos por vários autores. Quanto ao 
isolamento ter desmantelado as organizações criminosas ante a ausência de 
lideranças, vários autores apontam que, graças a dinamicidade das organizações, o 
isolamento imposto a um dos líderes não a fragilizaria a ponto de desintegrá-la e/ou 
enfraquecê-la. 
Ainda, depreender do simples fato de que não há relatos de abuso físico 
e rebeliões não é o suficiente para determinar o sucesso ou não do regime, pois isso 
é o mínimo que se espera de qualquer execução da pena (mesmo que no Brasil 
dificilmente ocorra), ainda mais se tais estatísticas forem extraídas de um sistema tão 
reduzido de vagas e de detentos10. 
De acordo com Antonio Rafael BARBOSA (2013, p.114): “esse 
isolamento possibilitaria o surgimento de novas lideranças, assumindo uma posição 
de maior autonomia ao assumir os negócios da organização, mas sem perder o 
vínculo com os líderes antigos.“ 
 Outro efeito, apontado por Camila CALDEIRA (2009), o efeito simbólico 
trazido pelo regime. De acordo com DIAS, a perda da liderança não se dá de maneira 
automática apenas com o isolamento. Não obstante não conseguir o 
desmantelamento, de maneira paradoxal, a autora percebe um efeito simbólico na 
aplicação do RDD: 
 [...] o sujeito que sofre a punição de ser re movido para o RDD encarna a 
imagem exemplar da insubmissão às regras oficiais do Estado, o que lhe 
confere ainda mais legitimidade para ocupar a posição de líder de uma 
organização que se pauta justamente por esta oposição. [...] Nesse sentido, 
o RDD acaba contribuindo para a construção de figuras “míticas” no 
 
10 De acordo com o relatório do DEPEN referente ao ano de 2014, no Brasil existiriam 346 vagas destinadas ao 
RDD. 
38 
 
imaginário dessa população, como é o caso do preso Marcos Willians Herbas 
Camacho, conhecido pelo apelido de Marcola. (CALDEIRA (2009, p. 135/136) 
 
 Aponta-se ainda que mesmo que em regime de isolamento, há ainda a 
possibilidade de atuação e contato junto ao grupo criminoso, seja por intermédio dos 
advogados, seja por uso de aparelhos celulares obtidos graças a corrupção sistêmica 
existente no sistema prisional. 
CALDEIRA (2009, p. 138): “Também nem sempre serão os verdadeiros 
líderes que estão sob a sanção, uma vez que é freqüente a prática de uso de “laranjas” 
para esconderem quem exerce de verdade o papel de líder da organização.” 
A aplicação do RDD por parte da Administração, ainda, conforme aponta 
SALLA (2009), seria feita de maneira a tornar menos visível o poder exercido pelas 
lideranças das organizações, até mesmo para não lhe serem aplicadas a sanção. 
Assim, serviria para estabelecer limites ao exercício do poder dos líderes da 
organização criminosa, mas estaria ainda muito longe de enfraquecê-la. 
Explica SALLA (2006, p. 298/299): 
 
Um aspecto a ser ainda pesquisado é se esse regime disciplinar está sendo 
usado para a construção de uma nova pax prisional. Os governos ameaçam 
ou efetivamente segregam as lideranças das facções no RDD. A manutenção 
das lideranças nas unidades prisionais comuns significa que delas se espera 
que colaborem minimamente com a manutenção da ordem interna, como a 
redução das mortes entre presos, redução das brigas e mesmo tentativas de 
fuga. 
 
Portanto, a adoção da medida paliativa, voltada apenas para curto prazo, 
sem a adoção conjunta de políticas públicas, de médio e longo prazo, voltadas para 
resolver os problemas do sistema prisional brasileiro, faz com que exista um jogo de 
acordos entre a Administração Pública e as organizações criminosas em que: a 
primeira está interessada em manter a aparência de deter algum controle do sistema 
prisional; já a segunda detém de fato esse controle, o que permite com que continue 
perpetrando as suas ações dentro e fora do sistema prisional. 
 
3.3 COMBATE AO USO DE CELULAR 
 
O combate a entrada de celular nas unidade prisionais é combatido 
diariamente por servidores do sistema prisional, tendo em vista que estes aparelhos 
são utilizados como meio de comunicação com o meio externo, e através deles que 
crimes são encomendados por criminosos de dentro das cadeias e penitenciárias. 
39 
 
Além de crimes como assalto a banco, sequestro, os celulares também 
são utilizados para aplicar golpes, hoje em dia são frequentes a quantidade de 
pessoas vítimas desses golpe, que recebem ligações de outros estados, com presos 
se passando por parentes em situação de perigo, presos se passam por funcionário 
de banco e com isso conseguem acesso a dados pessoas das pessoas. 
Infelizmente para o presidiário o uso do celular ainda não é tipificado 
como crime, configurando apenas infração disciplinar considerada como falta grave, 
artigo 50, inciso VII, da Lei de Execução Penal. Portanto, os presidiários que forem 
pegos utilizando aparelho celular, rádio ou qualquer aparelho eletrônico similar que 
permita a comunicação com o mio externo ou com outros presos, será submetido a 
procedimento administrativo disciplinar e receberá uma punição pelo cometimento da 
falta. 
Porém, essas medidas não coíbem a entrada de celulares nas unidades 
prisionais, visto que os presos não se intimidam com as punições administrativas, e a 
reincidência sempre ocorre. 
Entretanto, se para a prática de introduzir celular na unidade prisional 
não configura crime para o presidiário,

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