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CURSO BACHAREL EM DIREITO LUCAS PEREIRA DA LUZ RDD COMO INSTRUMENTO DE COMBATE A CRIMINALIDADE NO SISTEMA PRISIONAL Colinas do Tocantins – TO, Dezembro. 2019 LUCAS PEREIRA DA LUZ RDD COMO INSTRUMENTO DE COMBATE A CRIMINALIDADE NO SISTEMA PRISIONAL Monografia apresentada como pré-requisito para Conclusão do Curso Direito, do Grupo Universidade Brasil- Faculdade de Colinas do Tocantins-TO. Orientador: Esp. Antônio Rogério Barros de Melo Colinas do Tocantins-TO, Dezembro. 2019. LUCAS PEREIRA DA LUZ RDD Como Instrumento De Combate A Criminalidade No Sistema Prisional Monografia apresentada ao Curso de Direito do Grupo Universidade Brasil- Faculdade de Colinas do Tocantins-TO, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Direito. Aprovado em ___/____/ 2019. Nota:_________ BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________ Porf. Antônio Rogério Barros de Melo (Orientador de TCC) Faculdade de Colinas – FIESC/UNIESP. __________________________________________________________ Msc. Ana Leide Rodrigues de Sena Góis. (Professora de TCC) Faculdade de Colinas – FIESC/UNIESP. _________________________________________________________ Prof. Luiz Felipe Defavari Coordenador do Curso de Direito Faculdade de Colinas – FIESC/UNIESP. Colinas do Tocantins-TO, Dezembro. 2019. TERMO DE RESPONSABILIDADE Eu Lucas Pereira da Luz, acadêmico do curso de direito, orientado pelo Professor, declaro para os devidos fins que o Trabalho de Conclusão de Curso/ Monografia atendem as normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de textos, previstas no Manual para Elaboração de Trabalhos Acadêmicos. As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a origem da ideia do autor com as respectivas obras e anos de publicação. Caso não apresente estas indicações, ou seja, caracterize crime de plágio, estou ciente das implicações legais decorrentes deste procedimento, nos termos do art. 184 do Código de Processo Penal Brasileiro: Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no trabalho acadêmico “RDD Como Instrumento De Combate A Criminalidade No Sistema Prisional”. Colinas do Tocantins/TO, 11 de Novembro de 2019. _____________________________________________ Lucas Pereira da Luz Assinatura do Acadêmico DEDICATÓRIA A Deus, em primeiro lugar, por estar sempre ao meu lado, por ter me dado o dom da vida, por nunca ter permitido que eu desistisse diante das dificuldades. E em segundo lugar, agradeço imensamente a minha família, pois sem eles nada disso teria sentido, agradeço pelo carinho, pela torcida, e por fazerem parte da minha caminhada. AGRADECIMENTOS A todos aqueles que estiveram comigo nessa jornada, a minha família, meus companheiros de aula, meus professores, a todos que sempre torceram por mim, que me ajudaram quando eu precisei. A vocês, os meus agradecimentos, essa vitória é de todos nós. “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, e rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Machado de Assis RESUMO A criminalidade no Brasil é uma realidade que infelizmente faz parte do cotidiano dos brasileiros, cada vez mais as pessoas temem por sua vida e por sua segurança, o medo é um sentimento presente na vida das pessoas. Quando um criminoso é preso e recolhido a unidade prisional, a sensação de alívio e tranquilidade é inevitável, pois já é um conforto para o cidadão saber que o indivíduo de má índole, foi retirado do convício social dá uma sensação de segurança. Entretanto, o fato do criminoso está recolhido pagando pelo seu crime em uma unidade prisional, já não é suficiente para manter a população resguardada, tendo em vista que atualmente facções criminosas tem tomando de conta dos presídios e cadeias pelo país e utilizando de seu poder para praticar crimes de dentro das unidades prisionais onde deveriam estar apenas cumprindo sua pena e pagando pelo crime que cometeu. É uma situação caótica a segurança no Brasil, o objetivo desse trabalho é apontar que o atual sistema penitenciário brasileiro não está sendo eficaz, no sentido de evitar que bandidos condenados cumpram sua pena e não cometam crimes que atinjam a sociedade. A lei de execução penal, também é um assunto que será abordado nesse trabalho, embora seja eficiente no papel, na prática não está sendo útil no combate ao crime organizado. Palavras chave: Criminalidade; Lei de Execução Penal; Presídios. ABSTRACT Crime in Brazil is a reality that unfortunately is part of the daily life of Brazilians, people increasingly fear for their lives and their safety, fear is a feeling present in people's lives. When a criminal is arrested and imprisoned, the sense of relief and tranquility is inevitable, as it is already a comfort for the citizen to know that the individual of bad character, has been removed from the social conviction gives a sense of security. However, the fact that the criminal is collecting paying for his crime in a prison unit is no longer enough to keep the population safe, given that criminal factions are currently taking over the prisons and jails around the country and using their power to protect them. commit crimes from within the prison units where they should only be serving their sentence and paying for the crime they committed. It is a chaotic security situation in Brazil, the aim of this paper is to point out that the current Brazilian penitentiary system is not being effective in preventing convicted thugs from serving their sentence and not committing crimes that affect society. The law of criminal enforcement is also a subject that will be addressed in this work, although it is efficient on paper, in practice is not being useful in combating organized crime. Keywords: Crime; Prisons; Penal Execution Law LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CF Constiuição Federal CPP Código de Processo Penal CP Código Penal CV Comando Vermelho DH Direitos Humanos LEP Lei de Execuções Penais PCC Primeiro Comando da Capital RDD Regime Disciplinar Diferenciado SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 1 SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO .................................................................... 14 1.2 BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA CARCERÁRIO NO BRASIL ....................... 14 1.3 O PROBLEMA DA SUPERLOTAÇÃO ................................................................ 17 2 O PODER PARALELO DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA................................... 21 2.1 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO SISTEMA PRISIONAL ............................. 25 3 MEDIDAS JÁ UTILIZADAS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO DENTRO DOS PRESÍDIOS ...................................................................................................... 27 3.1 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL E O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO ...... 27 3.2 O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: CRÍTICAS AO SISTEMA E ASPECTOS POSITIVOS...........................................................................................29 3.2.1 Regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade ................................ 29 3.2.2 RDD – Regime Disciplinar Diferenciado - Aspectos Gerais ............................. 30 3.2.3 Críticas sobre o RDD........................................................................................ 34 3.2.4 Aspectos e Efeitos Positivos ............................................................................ 36 3.3 COMBATE AO USO DE CELULAR .................................................................... 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 42 12 INTRODUÇÃO A violência no Brasil é uma realidade assustadora, o país vive uma situação crítica, as forças de segurança parecem não acompanhar o ritmo que as coisas estão acontecendo, o país vive uma cenário de guerra. Todos os dias pessoas são assassinadas, todos os momentos acontecem roubos, sequestros, assaltos, as pessoas perderam a sua paz, e os bandidos a cada dia que passa parecem que estão ganhando mais espaço. A impressão que surge é de que os bandidos estão mais organizados do a polícia, bandidos tem dominado espaços, são donos e mandam dentro das favelas. Uma prova disse é crescimento constante de duas grandes organizações criminosas, denominadas PCC (Primeiro Comando da Capital) e CV (comando vermelho). Dois grupos que comanda pelo pais afora diversos crimes, sendo o tráfico de drogas o sua principal atividade. Biondi (2007, p. 208) assevera que: “a criação do PCC é vista por muitos presos como o fim de um tempo no qual imperava algo que se aproximava de um cenário ‘hobbesiano’ de guerra de todos contra todos”. No mesmo sentido Feltran (2012, p. 136) discorre que: Que o surgimento do PCC em 1993 teria sido uma resposta da população carcerária ao Massacre do Carandiru”, ocorrido no ano anterior, quando policiais militares invadiram o Pavilhão 9 da Casa de Detenção para controlar uma rebelião, em ação que resultou na morte de cento e onze presos. Além de comandar o tráfico de drogas e outros crimes pelo país, essas duas organizações criminosas tem dominado os presídios e casas de prisão, obrigando os que não são faccionados a se faccionar, movimentam o tráfico de drogas dentro de unidades prisionais, mas o pior é que esses criminosos fazem coisas que ultrapassam os limites dos muros de penitenciárias e tem reflexo direto na vida de quem está do lado de fora. A grande característica das organizações criminosas é exatamente a “estrutura organizada” capaz de articular, definir ordens e objetivos, além de impor enorme respeito às normas e às autoridades dos líderes. Sustenta ainda que a principal diferença entre uma organização criminosa e um bando ou quadrilha é que esta pratica seus atos de forma improvisada ou desorganizada, enquanto aquela previamente calcula os riscos de uma operação, buscando efetivar resultados seguros. (MENDRONI, 2009) 13 De dentro dos presídios, bandidos dão ordens para que crimes sejam cometidos do lado de fora, comandam o tráfico, encomendam mortes, sequestros, utilizam-se de parelhos celulares para praticar crimes, aplicam golpes em pessoas pelo telefone, cometem crimes como estelionato, extorsão e tudo isso de dentro dos presídios. A sociedade está refém dessa situação, não existe mais um lugar seguro, uma vez que para os bandidos aparentemente não há limites, não há muros e não há cercas que os impeça de cometer seus crimes. O objetivo desse trabalho é retratar essa situação caótica em que se encontra a sociedade brasileira, no primeiro capítulo será feito um apanhado histórico da sistema carcerário brasileiro e suas péssimas condições, será também mencionado neste capítulo a questão da superlotação, que é hoje o maior problema do sistema penitenciário brasileiro. No segundo capítulo abordará a questão do poder das organizações criminosas dentro do sistema prisional. E no terceiro serão apresentados as possíveis soluções e medida que já vem sendo utilizados pelo governo na tentativa de coibir essa prática de cometimento de crimes dentro dos presídios brasileiros. 14 1 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 1.1 BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA CARCERÁRIO NO BRASIL As condições precárias na qual se encontra o sistema penitenciário brasileiro é uma realidade na qual a sociedade infelizmente já está acostumada, pois esse problema não é atual, vem se propagando e piorando ao longo dos anos, em decorrência de um amontoado de questões que o governo nunca resolve, o que resulta em falta de credibilidade por parte da população em relação ao governo. A forma como o governo administra o sistema prisional não tem apresentado soluções para a crise existente, é um modelo que já não produz bons resultados e só acumula problemas Esse modelo que foca apenas na repressão e vigilância ganhou mais ênfase no período da ditadura entre os anos de 1964 a 1985, quando os militares detinha o poder sobre a liberdade, cidadania e legislação, foi um período de lutas e revoltas onde o foco era a briga para permanecer no poder, e durante todo esse período não houve investimento nem inovação no sistema penitenciário e essa situação permanece até os dias de hoje, não sendo reformulado nem atualizado, Após esse período da ditadura, o Brasil entrou em nova fase, um retorno à democracia, em 1988 foi promulgada a atual Constituição Federal, que apesar de trazer excelentes garantias aos direitos fundamentais, a dignidade da pessoa humana, não trouxe grandes benefícios e mudanças as quais o sistema prisional precisava, a democracia renasceu, o cidadão teve de volta seus direitos e garantias, entretanto o sistema prisional ficou a margem de toda essa evolução social, não houve investimentos, nem melhoria na estrutura, não foram construídos presídios melhores, a crise que assolou o pais entre 1980 e 1990 foi a justificativa do governo e mais uma vez o sistema prisional ficou no esquecimento. E com isso, o que temos hoje é uma herança de todo esse período da história do Brasil em que o sistema prisional não foi visto como algo importante para a sociedade, acrescente a estes fatores o aumento grandioso da criminalidade no país, uma inovação da legislação com leis mais rígidas, penas mais pesadas, a justiça mais eficiente em virtude dos avanços tecnológicos da informática e o resultado são cadeias e presídios superlotados espalhados por todo o país. Diante disso, temos um caso caótico e um sistema prisional prestes a explodir. 15 Sobre a realidade das prisões brasileiras, Farias Júnior (2006, p. 518) dispõe o seguinte: O ambiente interno das prisões é fervilhante e carregado de baixezas, incidentes e episódios sucessivos, muitos dos quais se processam nos subterrâneos, nos desvãos e nas sombras secretas e recônditos misteriosos, ficando reprimidos não só no íntimo dos presos como também sepultados no âmago da estrutura prisional. Nesses episódios estão, por exemplo, as torturas, que devem ficar aí abafadas e nunca reveladas, ou, se reveladas, não têm a mínima ressonância, constituindo-se numa das mais inomináveis barbáries consagradas pelo uso policial e prisional, não havendo grito ou chance dos direitos humanos que possa dar fim a essa tirania, enquanto subsistir essa sistemática penal; as curras sexuais, os assédios, as chantagens, a coação e o constrangimento para consecução de atos libidinosos e sexuais, constituindo-se noutra ignominiosa mazela prisional; havendo uma infinidade de outras que não são reveladas, delas conhecendo só os envolvidos ou quando muito os dirigentes, mas nada podendo-se fazer devido à lei do silêncio, pela qual ninguém, sabe nada, ninguémviu nem ouviu nada. Graciliano Ramos, em sua Memórias do Cárcere, faz uma real descrição sobre como é a da vida no interior do presídio: [...] A gente mais ou menos válida tinha saído para o trabalho, e no curral se desmoronava o rebotalho da prisão, tipos sombrios, lentos, aquecendose ao sol, catando bichos miúdos. Os males interiores refletiam-se nas caras lívidas, escaveiradas. E os externos expunham-se claros, feridas horríveis. Homens de calças arregaçadas exibiam as pernas cobertas de algodão negro, purulento. As mucuranas haviam causado esses destroços, e em vão queriam dar cabo delas. Na imensa porcaria, os infames piolhos entravam nas carnes, as chagas alastravam-se, não havia meio de reduzir a praga. Deficiência de tratamento, nenhuma higiene, quatro ou seis chuveiros para novecentos indivíduos. Enfim, não nos enganávamos. Estávamos ali para morrer. (RAMOS, 1995 apud AMORIM, 2004, p. 52) A Lei dos Crimes Hediondos, trouxe uma sensação de justiça para a sociedade, em contrapartida agravou um problema já existente, o da superlotação, sobre o assunto temos a opinião de MONTEIRO (1999, p.4) que assevera que: Em relação aos gravames penais oriundos da Lei dos Crimes Hediondos, devemos entender o momento de pânico que atingia alguns setores da sociedade brasileira, sobretudo por causa da onda de seqüestros no Rio de Janeiro, culminando com o do empresário Roberto Medina, irmão do Deputado Federal pelo estado do Rio de Janeiro, Rubens Medina, considerado a gota d'água para a edição da lei. O clima emocional para o surgimento de dispositivos duros que combatessem os chamados crimes hediondos estava assim criado. A sociedade exigia uma providência drástica para pôr fim ao ambiente de insegurança vivido no país. O governo precisava dar ao povo a sensação de segurança. 16 Infelizmente este não é um problema isolado em determinada região do país, tão pouco é uma exceção a regra, pois a questão da superlotação, aumento da criminalidade, baixo índice recuperação, problemas com fugas, existem em todo o território brasileiro. Analisemos abaixo o que diz um antigo membro titular do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária: Em viagens por vários estados, na condição de Professor de Direito Penitenciário da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, tive a chance de ver, pessoalmente, o desamparo dos estabelecimentos penais, convertidos, em sua maioria, em redutos de promiscuidade e violência. ( Leal, 2001, p. 57) O mesmo autor também afirma que: Seja na Casa de Detenção de São Paulo, onde cerca de 7250 homens habitam a maior prisão da América Latina, ou a Penitenciária Aníbal Bruno, de Pernambuco, palco de torturas veiculadas pela imprensa, seja na decadente Lemos de Brito, em Salvador, com seu 'beco da morte", ou no Instituto Penal Paulo Sarasate, do Ceará, semidestruído por presidiários amotinados, vi a projeção reiterada do mesmo filme, coproduzido pelo estigma, pelo preconceito e pela indiferença. (Leal 2001, p. 57) Diante de tudo isso, é nítido que a questão da ressocialização é algo praticamente impossível, em um ambiente sem o mínimo de condições para viver, um ambiente violente, lotado com criminosos de toda espécie, não há a possibilidade de se falar em recuperação. A questão da ressocialização é algo muito relevante e que merece um estudo bastante aprofundado e discutido, porém, em que pese o fato desse assunto não ser o foco do presente trabalho, convém destacar apenas que a falta de recuperação só aumenta o problema da criminalidade no país, uma vez que só devolve para a sociedade pessoas ainda piore, que no ambiente prisional só aprenderam a tornar-se ainda mais violentos e mais revoltados com sociedade em geral. A falta de um programa de ressocialização que funcione de fato dentro dos presídios, faz com que os presos sejam submetidos a uma situação degradante de vida, expostos a violência, doenças, não há como se falar em ressocialização sem uma mudança nas condições físicas e estruturais das prisões brasileiras. Nesse sentido discorre Foucalt: O sentimento de injustiça que um prisioneiro experimenta é uma das causas que mais pode tornar indomável seu caráter. Quando se vê assim exposto ao sofrimento que a lei não ordenou nem mesmo previu, ele entra em estado habitual de cólera contra tudo que o cerca; só vê carrascos em todos os 17 agentes de autoridade: não pensa mais ter sido culpado, acusa a própria justiça (FOUCAULT, 2009, p 252). Diante das afirmações acima expostas, percebe-se que o atual modelo do sistema prisional brasileiro a muito tempo está falido, não funciona, está em um círculo vicioso, onde presos entram e são devolvidos ainda piores para a sociedade. As condições precárias das prisões as tornam verdadeiros depósitos humanos, e sem nenhuma possibilidade de recuperação o preso cumpre a sua pena e retorna ao convício social. “A prisão torna possível, ou melhor, favorece a organização do meio de delinquentes, solidários entre si, hierarquizados, pronto para todas as cumplicidades futuras” (FOUCAULT, 2009, p 222). 1.2 O PROBLEMA DA SUPERLOTAÇÃO A superlotação é uma realidade das prisões brasileiras, entretanto, o governo parece fechar os olhos para essa situação, e o que se vê é o problema crescendo, como uma bola de neve que fica cada vez maior, o governo não investe em estrutura nos presídios, cadeias e casa de prisão, o governo não consegue resolver o problema da criminalidade e da violência no pais, e uma coisa fica interligada a outra e sem solução. As unidades prisionais no Brasil não oferecem estrutura digna para que uma pessoa sobreviva, os presos são amontoados em celas como animais. Em todo o país a questão da superlotação é um problema, e a solução nunca aprece, não é prioridade do governo, a justiça interessa apenas fazer cumpri a lei, punir o culpado e fazer com que ele cumpra pelo crime que cometeu, e para o governo, desde que o criminoso seja tirado do convívio social, está tudo bem. E com isso a população carcerária no Brasil só aumenta, conforme podemos constatar nos gráficos abaixo1: 1 Dados obtidos no site do Departamento Penitenciário Nacional - Ministério da Justiça e Segurança Pública, http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes- penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf (acesso em 18 d eoutubro de 2019) http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf 18 Gráfico 1. Evolução das pessoas privadas de liberdade entre 2005 a 2018 Gráfico 2. Evolução da população prisional, vagas e déficit de vagas entre 2000 e 20162 A omissão do Estado frente a essa situação faz com que haja excesso de lotação dos presídios e a reincidência, motivos que levam ao aumento da crise do sistema prisional. Nas condições atuais as prisões brasileiras não têm êxito em relação à redução da criminalidade, sabendo-se que esse é o seu principal objetivo, mais isso não é uma realidade. Percebe-se isso, pelo fato do crescimento da reincidência de crimes e prisões. Vieira afirma que: 2 O cálculo da população prisional inclui as pessoas privadas de liberdade em carceragens de delegacias e no Sistema Penitenciário Federal. O cálculo do número de vagas inclui as vagas do Sistema Penitenciário Federal. 19 (...) as unidades prisionais brasileiras não oferecem uma estrutura nem física, nem humana, o sistema precisa de mudanças emergenciais para poder colher os detentos numa forma mais humana. E assim tentar ressocializar o preso de forma maisrápida. (VIEIRA, 2011, p. 117) Não há vagas nas prisões brasileiras, e todos os dias pessoas são presas, condenadas, a falta de investimento no sistema prisional é um descaso do governo para com a sociedade, pois sem manutenção, sem investimento, sem projetos de recuperação do detento o problema da superlotação tende a piorar, as prisões no Brasil são verdadeiros barris de pólvora prestes a explodir, o que ocasionam rebeliões, mortes, fugas, um verdadeiro cenário de guerra. Sobre o assunto temos as palavras de Dias que afirma o seguinte: A superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade tornam as prisões num ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de doenças. Todos esses fatores estruturais aliados ainda à má alimentação dos presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a lugubridade da prisão, fazem com que um preso que adentrou lá numa condição sadia, de lá não saia sem ser acometido de uma doença ou com sua resistência física e saúde fragilizadas (DIAS, 2016). As cadeias e presídios são construídos com uma capacidade de pessoas já pré-estabelecida, toda a estrutura física, tamanho das celas, quantidade de banheiros, camas, refeitório, tudo é feito para uma quantidade específica de pessoas, quando esse número é ultrapassado ocorre a superlotação, e com isso a qualidade de vida nesse ambiente já deixa de existir, o espaço é insuficiente, o calor aumenta, a proliferação e doenças. No mesmo sentido afirma Dias: “O número de colchões é insuficiente e nem a alternativa de pendurar redes nas celas faz com que todos possam descansar ao mesmo tempo” (DIAS, 2016). Não há privacidade alguma em penitenciárias e presídios superlotados. O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu que o sistema prisional chega a ser praticamente medieval, após a divulgação de um estudo da Anistia Internacional, apontando a degradação do sistema penitenciário nacional.Para reduzir o problema da superlotação, foi criada a Lei nº 12.403, de 4 de maio de 2011, possibilitando alternativas à prisão provisória para presos não reincidentes que cometeram delitos leves com pena privativa de liberdade de até quatro anos, como fiança e monitoramento eletrônico. A liberação desses acusados pode causar uma sensação de insegurança (DIREITONET, 2016). Essa situação fere todos os direitos de dignidade da pessoa humana, a Declaração Universal dos Direitos Humanos assegura isso em seu artigo 5°: “Ninguém 20 será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Com a superlotação surge também o problema da proliferação de doenças, o que também pode vir a atingir a sociedade quando este preso voltar ao convício social. Podemos citar como exemplo o sistema prisional de Campinas, no qual a tuberculose é considerada como ameaça já que sem o devido controle dentro das prisões, talvez não seja possível controlar a reincidência fora delas. Pouca ventilação, superlotação, condições sanitárias adversas, baixo nível sócio econômico, tempo de permanência na penitenciária e uso de drogas favorece a proliferação de doenças como a tuberculose. Portanto, risco de contaminação e possível epidemia para com a comunidade perto da penitenciária, como os familiares e policiais, é incisivo (DIREITONET, 2016). (...) A AIDS no meio carcerário é muito comum devido à possibilidade de ser transmitida com o uso de drogas injetáveis, podendo ser considerada como epidemia. A doença na prisão põe em perigo a vida dos “pacientes” por causa da falta ao acesso de médicos especilistas em HIV/AIDS e, do acesso limitado a todos os tratamentos disponíveis e terapias alternativas. Por isso, os prisioneiros com HIV/AIDS não têm as mesmas taxas de esperança de vida que uma pessoa com HIV/AIDS que vive na parte externa. Todavia, mais uma vez o Estado deixa a desejar no que diz respeito à saúde pública, demonstrando assim, que o preso com HIV/AIDS já adquiriu fora da cadeia ou contagiou-se por alguém que já tinha antes de ser detido (DIREITONET, 2016). Além das doenças contagiosas, infecciosas, outra situação comum dentro dos presídios, e que também vai em desencontro ao princípios e garantias constitucionais, é a presença de presos portadores de distúrbios mentais, presos com algum tipo de deficiência física, em fim são situações que mais uma vez deixa claro o descaso com o qual o sistema penitenciário brasileiro vem sendo tratado. Quanto à saúde dentária, o tratamento odontológico na prisão resume-se à extração de dentes. Não há tratamento médico-hospitalar dentro da maioria das prisões. Para serem removidos para os hospitais os presos dependem de escolta da PM, a qual na maioria das vezes é demorada, pois depende de disponibilidade. Quando o preso doente é levado para ser atendido, há ainda o risco de não haver mais uma vaga disponível para o seu atendimento, em razão da igual precariedade do nosso sistema público de saúde (DIREITONET, 2016). Diante de tudo isso, a conclusão a que se chega é de que, uma vez encarcerado nessas condições desumanas, o preso acaba por ser punido duas vezes, 21 pois além de perder a liberdade, perde a sua dignidade, perde a sua saúde, pode vir a perder a vida. Exames clínicos realizados com os clássicos testes de personalidade mostraram os efeitos negativos do encarceramento sobre a psique dos condenados e a correlação destes efeitos com a duração daquele. A conclusão a que chegam os estudos deste gênero é que “a possibilidade de transformar um delinqüente anti-social violento em um indivíduo adaptável, mediante uma longa pena carcerária, em conformidade com as relações informais de poder e de prepotência que a caracterizam (BARATTA, 2002). Há muitas falhas no atual modelo do sistema penitenciário brasileiro, não há uma política de recuperação do preso, que existe é uma necessidade de tirar o criminoso das ruas, do meio da sociedade, mas o estado esquece de sua responsabilidade com custódia desse preso, o estado esquece de sua obrigação para com o cidadão que está preso, mas que não perdeu seus direitos, direito a saúde, alimentação, e principalmente, direito a dignidade. Há uma necessidade urgente de uma reestruturação no sistema penitenciário, investimento na parte física e estrutural para que assim, após proporcionar uma qualidade de vida digna para esses presidiários, seja feito um investimento na recuperação dos mesmos enquanto cidadão. 2 O PODER PARALELO DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA O crime organizado representa um grande desafio para Estado, tendo em vista a dificuldade em combate-lo, visto que as organizações criminosas, ou facções atualmente são muito difíceis de combater, pois enquanto organização se tornam mais fortes, possuem membros espalhados por todo o país, os lideres dificilmente são identificados, infelizmente a realidade é que o Estado não dispões de estrutura física e também jurídica para pôr fim a atuação das organizações criminosas no país. Desde 1995, o Brasil possui uma legislação específica que cuida do crime organizado, através da Lei no 9.034/1995. Contudo, essa lei não definiu o tipo penal incriminador da atividade de crime organizado, deixando a criminalização da conduta associativa para a prática delituosa ser feita pelo tipo penal do artigo 288 do Código Penal, que se referia à formação de quadrilha ou bando (NUCCI, 2015). Segundo o doutrinador Araújo Silva (2003, p. 34) No campo jurídico, para que se construa um conceito aproximado do que vem a ser o crime organizado, devem ser observados três requisitos, quais sejam: “estrutural (número mínimo de pessoas integrantes), finalístico (rol de crimes 22 a ser considerado como de criminalidade organizada) e temporal (permanência e reiteração de vínculo associativo)”. Em 2004, o Brasil por meio do Decreto no 5.015, aderiu a uma definição de organizaçãocriminosa criada pela Convenção de Palermo (Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional), sendo assim, para o ordenamento jurídico brasileiro a definição de organização criminosa passou a ser: a) grupo criminoso organizado – grupo estruturado por três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material. (BRASIL, 2004). A Lei no 12.850/13, em seus artigos 1º e 2º, traz a definição do tipo penal a qual pertence a organização criminosa, as devidas penalizações e também de que forma de se dá o crime. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. (...) Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. (...) § 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução. (BRASIL, 2013) O conceito de crime organizado é complexo é abrangente, sobre o assunto Flávio Gomes afirma que: O crime organizado possui uma textura diversa: tem caráter transnacional na medida em que não respeita as fronteiras de cada país e apresenta características assemelhadas em várias nações; detém um imenso poder com base numa estratégia global e numa estrutura organizativa que lhe permite aproveitar as fraquezas estruturais do sistema penal; provoca danosidade social de alto vulto; tem grande força de expansão, compreendo uma gama de condutas infracionais sem vítimas ou com vítimas difusas; dispõe de meios instrumentais de moderna tecnologia; apresenta um intricado esquema de conexões com outros grupos delinquenciais e uma rede subterrânea de conexões com os quadros oficiais da vida social, econômica e política da comunidade; origina atos de extrema violência; exibe um poder de corrupção de difícil visibilidade; urde mil disfarces e simulações e, em 23 resumo, é capaz de inerciar ou fragilizar os Poderes do próprio Estado. (GOMES, 1997, p. 75) Sobre o poder, entende-se que é algo que sempre fez parte da sociedade, é algo necessário para se definir uma hierarquia e para que haja organização entre as pessoas, é um fenômeno natural que sempre existiu. É impossível uma sociedade existir sem que haja em sua estrutura uma hierarquia de poder que defina as funções de cada um. O exercício do poder é possível somente em uma organização social e, nessa perspectiva, o Estado possui poder político institucionalizado para que o bem comum possa ser realizado. O poder político, ou poder estatal, é o que legitima o Estado, funcionando como o princípio unificador da ordem jurídica (FERREIRA FILHO, 2007). No Estado há uma divisão de poderes de acordo com artigo 2º da Constituição Federal de 1988 que prevê a tripartição dos poderes da União, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, que embora estejam interligadas, trabalham de forma independente e harmônica entre si, de maneira que não haja entre eles supremacia de um sobre o outro. Essa divisão harmônica visa, principalmente, “ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade e indispensável para evitar o arbítrio e o demando de um em detrimento do outro e especialmente dos governados” (SILVA, 2005). Porém, algo que sempre existiu na sociedade foram pessoas, ou grupos que desafiam o poder do Estado, se opõe as leis existentes, infringindo-as e criando uma situação de desordem dentro da sociedade, obrigando o estado a utilizar de meios para coibir tais ações. As organizações criminosas possuem metodologia diferenciada para atacar a soberania do Estado, essas metodologias avanças tem evoluído e crescido muito, o que tem gerado transtornos para o estado e para a sociedade, tendo em vista que a máquina estatal parece não ter condições de competir com essas organizações que cada vez tem ganhado espaço, e colocando o estado em uma posição de descrença perante a sociedade. O Estado também tem sofrido a infiltração de organizações criminosas que desestruturam o poder, corrompendo funcionários, inserindo a violência, a corrupção, provocando desequilíbrio econômico, social e político. Ao passo que muitos dos que são associados ao crime organizado estão nas favelas e nas margens da sociedade, as organizações criminosas têm espaço mais 24 amplo, sendo chefiadas, muitas vezes, por empresários, políticos, ou funcionários de alta patente (GONÇALVES, 2012). Com relação ao poder cobiçado pelas organizações criminosas, Campos e Santos (2004) afirma o seguinte: Os objetivos principais das organizações criminosas são obter poder e riqueza. Para tanto, empregam recursos tecnológicos e estruturas diversificadas para criar, desenvolver e mesmo ocultar os crimes praticados. Entre os segmentos mais lucrativos do crime organizado estão: as drogas, o tráfico de armas; o tráfico de seres humanos para prostituição, o comércio de órgãos e o trabalho escravo. A corrupção e a lavagem de dinheiro são elementos comuns a todas as atividades do crime organizado. A forma do crime organizado agir, acaba por fazer com que em algumas comunidades eles assumam o poder que deveria ser do estado, uma vez que o crime organizado realiza para a população recursos e oferece vantagens que deveriam ser oferecidas pelo estado. Com isso o crime organizado acaba por manter a população ao seu lado, seja por medo ou até mesmo por gratidão, o que dificulta o poder do estado de combater essas organizações. Na opinião de Campos e Santos (2004): A ausência de políticas de controle de criminalidade, associada à miséria, à desigualdade na distribuição de renda, a falta de educação, habitação e emprego são fatores que contribuem para a existência do crime organizado, que surge como opção de vida, embora de forma ilícita, diante da falta do Estado em garantir as condições mínimas para a sobrevivência digna. Para estes autores, O Crime Organizado alcançou tão grandes proporções porque ocupou perante a população mais carente um lugar que deveria, antes, ter sido ocupado pelo Estado, sendo que perante a parcela da população mais abastada surgiu como forma de aumentar ainda mais suas riquezas e seu poder. Tal é a realidade que há quem diga que o Crime Organizado é tal como um câncer no seio da sociedade, vez que corrompe todos os seus segmentos em todas as esferas de poder. (CAMPOS e SANTOS, 2004, p. 14). Sobre o poder paralelo e aa política criminal das organizações Gonçalves (2012, p. 1) afirma que: O crime de forma generalizada, é um fator puramente político, ou melhor, de política criminal de Estado. O poder paralelo das organizações criminosas adquire maior força quando o Estado Mínimo é exercido, quando o Estado abre mão de sua responsabilidade com os direitos sociais mais básicos, como previdência, estabilidade, saúde, segurança, educação, entre outros, e se preocupa apenas com o Poder de Polícia, incentivando a construção de presídios, em vez dede promover e implementar mudanças sociais através de políticas públicas que atendam às demandas.Diante desse cenário, está cada mais complicado para o estado combater o poder paralelo das organizações criminosas, visto que este poder se 25 estende para dentro e fora dos presídios, o que significa afirmar que nesse caso específico, a solução não é a construção de mais presídios. De acordo com Fort e Oliveira (2007), citando Foucault: As prisões funcionam como micro poderes, ou sociedades paralelas e o que ocorre dentro de seus muros pouco interessa à população, a não ser que ameace à segurança da sociedade institucionalizada. Campos e Santos (2004), apontam que: Para o surgimento de organizações criminosas dentro dos presídios brasileiros desde a década de 1970, como a Falange Vermelha, o Comando Vermelho, o Terceiro Comando, o Primeiro Comando da Capital, entre outros. A sua formação está ligada à falta de políticas voltadas à reabilitação dos presos mediante condições favoráveis e adequadas ao respeito aos seus direitos. A falta destas contribui para o crescimento das facções criminosas nas prisões e fora delas. Assim, exercendo o seu poder dentro e fora dos presídios, as facções criminosas tem alcançado cada vez mais espaço dentro da sociedade, o que resulta em sua expansão para toas as regiões do Brasil. 2.1 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO SISTEMA PRISIONAL Quando se fala em organização criminosa no Brasil, logo se remete ao PCC e ao Comando Vermelho, visto que são as consideradas as maiores organizações criminosas da atualidade no Brasil. O Comando Vermelho3 é originário do Rio de Janeiro, já o PCC4 em São Paulo. Acredita- se que o grupo PCC tenha atuação em diversos estados do país, e não se concentra apenas no estado de São Paulo, estados do país5, mesmo assim trata-se de um grupo muito organizado, e o fato de estar espalhado por diversas regiões o torna ainda mais forte e influente dentro dos presídios brasileiros. Na visão de Ana Gabriela Mendes BRAGA elucida: O surgimento e funcionamento dessas organizações na prisão dependem, principalmente, das características específicas do ambiente institucional, tais como histórico da “Casa”, perfil do Diretor e dos presos, números de internos 3 Apesar de muitos conferirem o surgimento do Comando Vermelho ao contato de presos comuns com presos políticos, os pormenores desse surgimento ainda não estão muito bem elucidados e ainda causa divergências sobre o assunto. Mais sobre o assunto: PAIXÃO, Antonio Luiz. Recuperar ou punir? Como o Estado trata o criminoso. São Paulo: Cortez, 1987. 4 Mais sobre o surgimento do PCC até chegar a sua hegemonia nas prisões em: DIAS, Camila Caldeira Nunes. PCC: hegemonia nas prisões e monopólio da violência. São Paulo: Saraiva, 2013 (Coleção saberes monográficos). 5 De acordo com Camila Caldeira, op.cit., o PCC atuaria em mais de 13 estados, dentre eles: Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Pernambuco, Bahia e Paraíba. p. 286/289. 26 e de agentes penitenciários, observação do regulamento formal, arranjo interno do poder, sistema de privilégios, rigidez disciplinar, grau de violência, permissividade e corrupção da instituição etc. As conjunturas política e social também influenciam na consolidação destas organizações. O tipo de política criminal, assim como as características estruturais e culturais da “sociedade mais ampla”, repercutem inevitavelmente no ambiente social da prisão. (BRAGA, 2013. p. 145) Vários são os problemas enfrentados pelos presídios brasileiros, conforma mencionado anteriormente, contudo, eles ainda são única alternativa disponível para que se tire criminosos do meio da sociedade. Entretanto, como iremos demonstrar neste capítulo, apesar de não estarem convivendo em sociedade, há nos presídios brasileiros criminosos que cometem crimes que atingem o lado de fora das unidades prisionais. Geralmente os crimes cometidos de dentro das unidades prisionais, são ordenados ou executados por facções ou um de seus membros, em virtude do poder que as mesmas detém dentro dos presídios e cadeias em todo o país, nesse contexto afirma Araújo (2013). Por tanto é afirmativa a existência e a atuação das organizações criminosas dentro dos presídios brasileiros, principalmente porque certa aceitação, mesmo que velada, do poder público e as facções criminosas agem e se fortalecem no sistema prisional, sendo um movimento normal e oficial, e são estas que tomam as decisões internas, que seriam na verdade, função segurança e da administração do presídio, demonstrando seu controle absoluto, pois são as facções que determinam a transferência de presos para outras galerias, entre muitas outras decisões, (ARAÚJO,2013). É uma situação muito difícil e complexa para o estado solucionar, pois dentro das prisões brasileiras já existe uma cultura de que as facções que dão as ordens, existe uma distribuição dentro das prisões, os pesos hoje encontram-se divididos de acordo com o crime que cometeu, de acordo com a periculosidade, profissão, crença e principalmente de acordo com a facção a qual pertence. Assim, é necessário ainda que a administração de um presídio ou de uma cadeia ainda tenha essa preocupação de manter essa separação, sob pena de colocar em risco a vida de um criminoso que for colocado em cela onde haja outros presos que não sejam da mesma facção ou organização criminosa que a sua, em virtude da guerra de facções que existe dentro e fora dos presídios. Exemplos de ataques ordenados de dentro das prisões são inúmeros, resultando em mortes, depredações e ondas de violência que deixam a população em pânico. Assim, a solução para essa crise seria uma reformulação do sistema penitenciário, que levaria à construção de novos 27 presídios para abastecer a população prisional e aliviar a superlotação, dando aos reclusos condições mais dignas e humanas, separando-os do seu grau de dano sociedade e dando-lhes oportunidades de educação, trabalho e arte, que, naturalmente, contribuem para a ressocialização do detento. (NEPOMUCENO, 2015). Muitas coisas precisariam mudar para que essa situação fosse resolvida, mais estrutura nos presídios, mais funcionários , mais segurança, para que a vigilância fosse aumentada a fim de que fosse possível evitar a entrada de drogas para serem comercializadas e alimentar o tráfico, e também a entrada de celular que o meio de comunicação que esses bandidos utilizam para encomendar crimes fora dos presídios. Também seria importante a substituição, quando há oportunidade para tal, de penas privativas de liberdade para outro tipo de penalidade, como a restrição de direitos, por exemplo. (NEPOMUCENO, 2015). 3 MEDIDAS JÁ UTILIZADAS NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO DENTRO DOS PRESÍDIOS 3.1 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL E O COMBATE AO CRIME ORGANIZADO A Lei no 7.210 6 , de 11 de julho de 1984, conhecida como Lei de Execução Penal (LEP), é o dispositivo legal que legitima todos os atos praticados durante a execução da pena, ou seja quando o criminoso está recluso em uma penitenciária, cumprindo a pena que foi lhe imposta pelo judiciário. Esta lei foi estabelecida para legitimar a execução penal, que é uma fase do processo penal em que se aplica a decisão dada pelo juiz em sentença condenatória penal, na qual se impõe, efetivamente, a pena privativa de liberdade, a pena restritiva de direitos ou a pecuniária (NUCCI, 2007). Na lei de execuções penais estão todas as normas de administração penitenciária, todos os direitos e deveres do preso, porém não há que fale a respeito da proibição de superlotação, não pouco há na LEP menção às medias a serem utilizadas para que haja a ressocialização do preso. Analisando alguns dados extraídos do Formulário Categoria e indicadores Preenchidos, do InfoPen (Sistema Integrado de Informações Penitenciarias), do Departamento Penitenciário nacional do Ministérioda Justiça (DEPEN/MJ), referente a junho de 2009, constata-se que a população carcerária nacional era de 469.546 internos, sendo 409.287 custodiados no sistema penitenciário e 60.259 nas policiais e no sistema de segurança 6 BRASIL. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L7210.htm>. Acesso em: 28 ago. 2019. 28 pública. O número total de vagas, tanto no sistema penitenciário quanto nas policiais e no sistema de segurança pública, era apenas 299.392 unidades, gerando um déficit momentâneo de 170. 154 acomodações. Em termos percentuais, significa que temos uma excedente população de 57%, ou seja, para cada cúbico de quatro camas, colocam-se dois presos ou mais para dormir no chão, quadro atual da realidade carcerária brasileira no que diz respeito ao número de vagas. (MAGALHAES, 2010, p 82) O objetivo da execução penal, conforme descrito no artigo 1º da LEP, é efetivar o disposto na sentença ou decisão criminal. Nesse sentido: Visa-se pela execução fazer cumprir o comando emergente da sentença penal condenatória ou absolutória imprópria, estando sujeitas à execução, também, as decisões que homologam transação penal em sede de Juizado Especial Criminal (MARCÃO, 2014, p. 23). Ao contrário do que alguns acreditam, a lei de execuções penais não trata apenas das questões referentes aos presos com privação de liberdade, mas também dos condenados com medida de segurança, tratamento ambulatorial, prisão domiciliar, internação hospitalar, tratamento psiquiátrico. A pena imposta ao condenado visa a punição do fato criminoso, porém, tem sua razão de ser na ressocialização e na integração social do condenado. Nesse sentido, a LEP prevê que a pena restritiva de liberdade seja cumprida em regimes diferentes, individualizados segundo o grau de periculosidade do condenado. A individualização da pena está prevista no artigo 5o, XLVI, da Constituição Federal de 1988, determinando que “[...] a lei regulará a individualização da pena [...]” (BRASIL, 1988). Portanto, a execução penal, nada mais é do que a concretização da função punitiva que o estado tem. Traz em seu âmago um caráter de sanção penal multifacetado que envolve os aspectos retributivo e preventivo, sendo a prevenção percebida nos prismas positivo geral e individual, e negativo geral e individual (NUCCI, 2007). De acordo com o art. 8º da lei de execuções penais, os condenados que cumprirão pena no regime fechado, devem ser classificados de acordo com o resultado do exame criminológico que obrigatoriamente deve ser realizado quando da entrada do mesmo no estabelecimento prisional. Sobre esse assunto, aponta Marcão (2014, p. 33) O exame criminológico é obrigatório “apenas aos condenados ao cumprimento de pena no regime fechado”, sendo que, no regime semiaberto, esse exame é facultativo, devendo ser determinado pelo juiz, caso julgue necessário. A classificação dos condenados possibilita adequar a pena às condições pessoais dos mesmos e assegurar os princípios da personalidade e da proporcionalidade da pena, aspectos presentes no rol dos direitos e 29 garantias constitucionais, de modo que o condenado receba o tratamento penitenciário adequado, atendendo ao princípio da individualização da pena. De acordo com o artigo 33, § 2º, alínea b, da Código Penal, irão cumprir pena no regime fechado, os condenados com pena superior a 8 (oito) anos de reclusão. O artigo 87 da lei de execuções penais, prevê os condenados a pena privativa de liberdade, que devem cumprir sua pena no regime fechado, são encaminhados para unidades de segurança porte médio ou máximo, dependendo do crime e do grau de periculosidade do condenado. Ainda, de acordo com o art. 52, do mesmo dispositivo legal, os presos condenados a pena privativa de liberdade no regime fechado, também poderão ser submetidos ao Regime Disciplinar diferenciado dependendo do grau de periculosidade. 3.2 O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO: CRÍTICAS AO SISTEMA E ASPECTOS POSITIVOS 3.2.1 Regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade No Brasil, o Código Penal ao regulamentar as penas impostas e suas modalidades de cumprimento, dispõe sobre os regimes na qual o condenado deverá cumprir a sua pena. Os regimes para cumprimento da pena que estão previstos no código penal são: fechado, semiaberto e aberto. De acordo com o art. 33, § 2º, “a” e “b” do Código Penal, o regime fechado, é aquele imposto aos condenados a pena superior a 8 (oito) anos ou para os condenados reincidentes cuja a pena seja inferior a 8 (oito) anos e superior a 4 (quatro). Neste caso a pena deverá ser cumprida em uma unidade penitenciária de segurança máxima ou média. O regime semiaberto será aplicado aos condenados que não sejam reincidentes, ou seja, réus primários, e que sejam condenados a uma pena que não exceda a 8 (oito) anos e que seja superior a 4 (quatro) anos, de acordo com o que dispõe o art. 33, § 2º, “b” do Código Penal. Neste caso o condenado poderá trabalhar durante o dia e a noite deve retornar ao estabelecimento penal para dormir. Ainda de 30 acordo com a lei essa modalidade de pena deve ser cumprida em colônia agrícola, industrial ou similar. O regime aberto é aquele aplicado ao condenado não reincidente cuja pena imposta seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos de acordo com o art. 33, § 2º, “c” do Código Penal. 3.2.2 RDD – Regime Disciplinas Diferenciado - Aspectos Gerais O Regime Disciplinar Diferenciado também chamado RDD, é uma forma de sanção disciplinar imposta ao preso com comportamento inadequado, trata-se de uma forma de isolamento, onde o preso é separado dos demais e fica sozinho em cela especial pelo período máximo de 360 (trezentos e sessenta dias). Esse regime foi criado no estado de São Paulo sob a justificativa de ser utilizado no combate ao crime organizado. Amanda Maciel Costa7, em seu artigo “Regime disciplinar diferenciado: aspectos históricos e críticos” discorre sobre o Regime Disciplinar Diferenciado e como o mesmo foi criado: O Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) é modalidade de sanção disciplinar e teve sua origem no Estado de São Paulo, por meio da Resolução 26/2001 da Secretaria de Administração Penitenciária, que alegou ser esta necessária para combater o crime organizado, prevendo a possibilidade de isolar o preso por até 360 dias e aplicava-se aos líderes de facções criminosas ou portadores de comportamentos inadequados. A Resolução 26/2001 do Estado de São Paulo surge como resposta à megarrebelião ocorrida no início de 2001, quando 29 unidades prisionais rebelaram-se simultaneamente por ordem de chefes de facções criminosas exaradas dentro dos próprios presídios. Foi estabelecido também no Rio de Janeiro, em 2002, um regime análogo ao paulista, em resposta à rebelião no Presídio Bangu I, liderado por Fernandinho Beira-Mar. (AMANDA MACIEL COSTA, 2013) A Resolução 26/2001, determinada que o Regime Disciplinar Diferenciado fosse aplicado, como uma medida de segurança de caráter punitivo, para os líderes de facções criminosas, por serem os principais mandantes de crimes de dentro do presídio, e também para presos que apresentavam um comportamento que necessitasse de um tratamento diferenciado em virtude de sua periculosidade. Aplica-se o RDD ao preso que pratique fato previsto como crime doloso quando ocasione subversão da ordem ou disciplina interna; ao que apresente 7 Amanda Maciel Costa, artigo: “Regime disciplinar diferenciado: aspectos históricos e críticos. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8147/Regime-disciplinar-diferenciado-aspectos-historicos-e- criticos. Acesso em out. 2019. https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8147/Regime-disciplinar-diferenciado-aspectos-historicos-e-criticoshttps://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8147/Regime-disciplinar-diferenciado-aspectos-historicos-e-criticos 31 alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade; ao preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. É importante ressaltar que o regime poderá ser aplicado tanto ao preso condenado quanto ao provisório, bastando que se enquadre em uma das condições supra (previstas no artigo 52 caput e §§ 1º e 2º da LEP). (AMANDA MACIEL COSTA, 2013) Além do isolamento, presos submetidos a esse regime também tem uma certa restrição quanto as visitas, até mesmo os advogados necessitam de prévio agendamento para visitar seu cliente com a direção do presídio. Seguindo a mesma linha do estado de São Paulo, e também em virtude de uma rebelião, mas dessa vez ocorrida no presídio Bangu I, em 2003 o estado do Rio de Janeiro implantou um Regime Disciplinar Especial de Segurança (RDES), que tinha basicamente o mesmo intuito do estado de São Paulo, isolar líderes de facções criminosas, por serem os principais mandantes de crimes de dentro do presídio presos responsáveis por rebeliões. De acordo com Christiane Russomano FREIRE e Salo de CARVALHO: A adoção de tal regime para o âmbito nacional demonstra a relação entre o recrudescimento disciplinar com a necessidade do Poder Público em reafirmar seu controle sobre os estabelecimentos prisionais. A adoção de tal legislação de emergência ante o apelo de respostas por parte da mídia e da sociedade, ainda de acordo com os autores, serve para demonstrar a incapacidade do Poder Público em gerir a crise na segurança pública, passando a assentir, oficialmente, com práticas arbitrárias perpetradas no cotidiano nas prisões do país. (CARVALHO, Salo de; FREIRE, 2007. p. 275) Desse modo, em linhas gerais, tal instituto consiste em uma sanção administrativa de até um ano, de redução de visitas e permite o isolamento na cela. Marcão (2004, p. 36) narra o trâmite legislativo da criação do RDD: A morte de dois Juizes de Execução Penal, no mês de março de 2003, em São Paulo e Espírito Santo, fez ressurgir no âmbito do Congresso nacional o Projeto de Lei 7.053, enviado em 2001 pela Presidência da República. Em 2610312003 o PL foi aprovado na Câmara dos Deputados e seguir para o Senado Federal, agora modificado vários dispositivos da Lei de Execução Pena!, criado, como força de Lei, o Regime Disciplina Diferenciado. O projeto tramitou e foi convertido em Lei, sendo alvo de severas criticas advindas de vários Juristas, e a ele também se opôs o Conselho Nacional de Policia Criminal e Penitenciária, conforme noticia MAURICIO KUEHNE em excelente artigo. Trata-se da Lei n. 10.792, de 1° de dezembro de 2003, que altero a Lei n.7.210, de 11 de junho de 1984-Lei de Execução Penal - e o Decreto - Lei n. 3.689. de 03 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal -, além de estabelecer outras providências. Nos precisos termos do art. 52 da Lei de Execução Penal, "a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e quando ocasione subversão da ordem ou disciplina interna, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime 32 disciplinado diferenciado". O regime disciplinado diferenciado é modalidade de sanção disciplinar (art.53, V, da LEP), e para sua aplicação basta a prática do fato regulado. Não é preciso aguardar eventual condenação ou transito em julgado da sentença penal condenatória, o que por certo inviabilizaria a finalidade do instituto. (MARCÃO, 2004, p. 36) Instituído no âmbito nacional pela Lei 10.792/03, o Regime Disciplinar Diferenciado – RDD, não foi poupado de críticas. Sobre o RDD, a Lei de Execução Penal passou a dispor que: Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; II - recolhimento em cela individual; III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. § 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. § 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. Conforme dito anteriormente, o regime disciplinas diferenciado é uma sanção disciplinar, muito embora seja chamado de “regime”, convêm esclarecer essa diferença, para que fique claro que o RDD não é um procedimento que possa ter alguma interferência no processo de progressão de regime do preso, a não ser quanto a questão da emissão de certidão de bom comportamento, tendo em vista que, por motivos óbvios, o presos submetido ao RDD, não poderá ser considerado como preso que possui bom comportamento. Sobre o assunto, aponta Renato Marcão8: Pela possibilidade de progressão de regime, mas sob a ressalva de que, antes de ser transferido para o regime mais brando, o preso deverá cumprir integralmente a sanção. O que vale dizer: mesmo que obtida a progressão de regime, a transferência não será automática, se ainda restar tempo para ser cumprido sob o RDD, apenas depois desse é que poderá ser colocado no novo regime mais brando. De acordo com as disposições legais acerca do RDD, existem três situações em que é possível a aplicação da referida sanção, qual sejam: que o preso 8 MARCÃO, Renato. Progressão de regime prisional estando o preso sob Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.bu.ufsc.br/regimeXRDD.pdf>. Acesso em: 25 de agosto de 2019. 33 tenha cometido crime doloso, o que é considerado falta grave, segundo que o preso seja integrante de facção criminosa e por último que o preso seja considerado perigoso e que possa pôr em risco a ordem e a segurança da unidade prisional. Sobre os critérios para aplicação do RDD: Quem tem legitimidade para requerer a inclusão do preso no regime de exceção é a autoridade administrativa diretora do estabelecimento ou um de seus superiores (uma vez que o RDD é sanção administrativa). Tal requerimento deverá ser circunstanciado e deverá alegar um dos motivos condicionais para a aplicação do RDD, infração esta que deve ter ocorrido no interior do estabelecimento penal. O Ministério Público (MP) não pode requerer a inclusão do preso nesse regime, por falta de previsão legal. A aplicação desta medida fica restrita à decisão judicial precedida de manifestação do MP e da defesa do prejudicado, no entanto, antes da decisão judicial o diretor do estabelecimento pode determinar o isolamento preventivo do preso por até 10 dias e, dependendo do caso, o próprio juiz poderá decretar a inclusão preventiva no RDD, sem a oitiva do MP e da defesa. ((AMANDA MACIEL COSTA, 2013) Ressalte o fato de que havendo a suspeita do preso ser integrante de facção criminosa, ou que seja perigoso a ponto de colocar em risco a segurança da unidade prisional, não é necessário o cometimento de falta grave para que o mesmo seja submetido sanção do RDD. Essa é a única sanção disciplinar prevista na LEP em que é necessário procedimento judicial (mesmo que possa ser determinado pelo diretordo estabelecimento o isolamento preventivo por 10 dias). O requerimento da sanção é de atribuição do Diretor do estabelecimento prisional ou seu superior, de maneira que o Ministério Público não tem legitimidade para fazer o pedido. (GIAMBERARDINO, André; PAVARINI, 2012. p. 237.) Após o requerimento feito pela autoridade competente, Ministério Público e a defesa deverão se manifestar. Com a previsão de duração máxima de 360 dias, prorrogável até o limite de 1/6 da pena. No caso dos presos provisórios, esse limite de 1/6 será verificado a partir da pena mínimo dos delitos cominados a ele. Impondo o recolhimento em cela individual, o RDD inaugurou uma nova lógica na execução penal brasileira: se antes, mesmo que apenas em teoria, o discurso era para buscar reintegrar o indivíduo, tal regime impõe uma exclusão e incapacitação do indivíduo nele abrigado, busca, de fato, neutralizar os indivíduos considerados pela administração como perigosos para a ordem e disciplina interna. (CARVALHO, Salo de; FREIRE, Christiane Russomano. Op. cit. p. 278.) De acordo com Roberta Duboc PEDRINHA: O RDD foi pensado para ser um espaço de isolamento e sofrimento intenso. No RDD, o preso se vê privado de quase todo tipo de contato físico, pois nas visitas de seus familiares se vêem separados por um vidro, bem como não há visita íntima. Não é permitido televisão, rádio e nem mesmo a leitura de jornal, bem como o trabalho é vetado. De acordo com a autora, seria uma prisão dentro da prisão. (PEDRINHA, 2010. p. 173.) 34 3.2.3 Críticas sobre o RDD Muitas críticas são feitas ao RDD baseadas no ferimento aos diretos humanos dos presos. É a tese sustentada pelo experto em Execução penal Raya (2007, p. 288): Demonstra, o isolamento e o RDD em comento, que, sob forte influência midiática e, em muitos momentos para atender a esta, ainda não se consegue - ou não se quer- identificar, avaliar, discutir e alterar a gênese da violência e criminalidade presente. Continua a insistir no clássico e ineficaz enfretamento das conseqüências. Continuar a creditar- e querer —se acreditado - que uma centena de presas em Regimes Disciplinar Diferenciado vai suportar ou minimizar as causas e motivação que geram a violência e a criminalidade. Seja exemplo dessa argumentação a Lei 8.07211990 - Lei dos Crimes Hediondos -, que parece não ter contribuído para a redução dos índices de crimes definidos como tais. Diante do contexto em que foi criado, é evidente que a lógica imposta pelo RDD é a de neutralizar presos considerados perigosos para a ordem prisional. Assim, contraria o previsto na Lei de Execução Penal em que, pelo menos no discurso, o objetivo da pena seria a ressocialização, uma vez que, ao isolar o preso, estaria institucionalizando-o mais ainda. Com a edição da nova Lei, surgiram variados questionamentos acerca de sua inconstitucionalidade, pelo fato de permitir o isolamento em cela, em face de desajustes com princípios penais garantistas inseridos na Carta Magna. É exatamente nesse sentido a lição de Raya (2004, p. 272): Parece claro que o Regime Disciplinar diferenciado se distancia do direito constitucional e internacional que reiteradamente vem orientando no sentido de uma intervenção penal e um tratamento penitenciário humanizado, pois o isolamento e o RDD, sem dúvida alguma, agravam a dessocialização do preso. Amanda Maciel Costa, em seu artigo “Regime disciplinar diferenciado: aspectos históricos e críticos” também faz menção a essa crítica: Em diversos momentos questiona-se a constitucionalidade do instituto, que afronta vários princípios protegidos constitucionalmente, já que se pode considerar o RDD como uma modalidade de pena cruel, que é vedada pelo art. 5º, XLVII da CF, também fere a dignidade da pessoa humana, garantida pelo artigo 1º, III CF, indo de encontro aos direitos humanos defendidos pelo art. 4º, II CF, bem como desrespeita a integridade física e moral do preso (art. 5º, XLIX). O art. 1º da LEP coloca como objetivo da execução penal proporcionar condições para a integração social do condenado e do internado, de forma que este artigo acaba por ser desprezado pelo artigo 52, uma vez que os presos sob o RDD acabam desintegralizados e desumanizados. 35 Este mesmo instituto desrespeita também o previsto no § 1º do art. 45 da LEP, uma vez que as sanções não podem colocar em perigo a integridade física e moral do condenado e o isolamento assim o faz. Ademais, as hipóteses estabelecidas no art. 52 da LEP são demasiadas vagas, causando uma total insegurança jurídica quanto à subsunção do fato à norma, pois conceitos tais como “alto risco para a ordem e segurança do estabelecimento e da sociedade” mostra-se bastante etéreo, não se tendo parâmetros certos e objetivos para determinar o cumprimento de tão grave regime. (AMANDA MACIEL COSTA, 2013) Em posição diametralmente oposta, temos a lição de Nucci (2007, p. 959): "Proclamar a inconstitucionalidade desse regime, fechando os olhos aos imundos cárceres aos quais estão lançados muitos presos no Brasil é, com a devida Vênia, uma imensa contradição". Quanto à hipótese de se aplicar em caso subversão da ordem e da disciplina, utilizou-se de conceitos demasiadamente vagos, o que, de acordo com FREIRE e CARVALHO, ante a ausência de taxatividade, feriria o princípio da legalidade, o que permitiria mais ainda o cometimento de arbitrariedades por parte da Administração Pública. Em suas palavras: Assim, se anteriormente a falta de precisão decorrente da ambigüidade terminológica favorecia o arbítrio administrativo, com o novo texto a tendência é sua potencialização. Por outro lado, produz efeito na gestão da política penitenciária, visto que a importância auferida à ordem, à disciplina e à segurança não apenas reforça a ideologia defensivista, mas ressignifica o sentido da execução, voltada na contemporaneidade à contenção dos “socialmente indesejáveis”, dos “corpos excedentes”. Abdica-se, pois, vez por todas, do ilusório e romântico fim ressocializador pregado no Estado Social em prol de uma administração das “massas inconvenientes”.( CARVALHO, Salo de; FREIRE, Christiane Russomano. Op. cit. p. 278) Posição oposta adota alguns autores9, ao afirmarem que caberá ao juiz, ao analisar o caso em concreto, verificar a existência de tal hipótese ou não de acordo com a sua experiência. No tocante a hipótese de aplicação da sanção prevista no §2º do art. 52, qual seja, quando há fundadas suspeitas de que o preso seja participante de alguma. Mas de longe, de todas as críticas que foram feitas em relação ao RDD, a mais preocupante é a feita por Paulo César BUSATO, ao considerá-lo como produto de um Direito Penal de Inimigo, nos termos propostos por Jakobs. BUSATO problematiza que nas hipóteses que podem levar a colocação sob esse regime, é 9 PINTO, Nalayne Mendonça. Recrudescimento penal no Brasil: simbolismo e punitivismo. In: MISSE, Michel (Org.). Acusados e acusadores: estudos sobre ofensas, acusações e incriminações. Rio de Janeiro: Revan: FAPERJ, 2008. p. 259. 36 possível verificar um juízo de valor mais relacionado ao Direito Penal de autor do que de fato. Além disso, o regime seria dirigido para determinadas classes de indivíduos que seriam, arbitrariamente, considerados pela administração como representantes de um risco para a organização interna da prisão. Em suas palavras: A imposição de uma fórmula de execução da pena diferenciada segundo características do autor relacionadas com “suspeitas” de sua participação na criminalidade de massas não é mais do que um “Direito penal de inimigo”, quer dizer, trata-se da desconsideração de determinada classe de cidadãos como portadores de direitos iguais aos demais a partir de uma classificação que se impõe desde as instâncias de controle. A adoção do Regime Disciplinar Diferenciadorepresenta o tratamento desumano de determinado tipo de autor de delito, distinguindo evidentemente entre cidadãos e “inimigos”. (BUSATO, 2007, p.297) De fato, a temática concernente ao RDD enseja inúmeros questionamentos jurídicos acerca de sua constitucionalidade. Todavia, não trataremos da especificidade da temática constitucional, uma vez que sua abordagem, nesse momento, é para destacar as ações de combate ao crime dentro dos estabelecimentos penitenciários. De tal modo, identifica-se uma tendência à quebra do princípio da igualdade, ao impor uma reação penal mais rígida, motivada pelo perfil do autor, e não pelo o que de fato ele fez. E é nesse sentido que se verifica o Direito Penal de Inimigo tal qual fundamentado por JAKOBS, uma vez que ele explica que: Quem por princípio se conduz de modo desviado, não oferece garantia de um comportamento pessoal e por isso, não pode ser tratado como cidadão, mas deve ser combatido como inimigo. Esta guerra tem lugar com um legítimo direito dos cidadãos, em seu direito à segurança; mas diferentemente da pena, não é Direito também a respeito daquele que é apenado, ao contrário, o inimigo é excluído. (JAKOBS, 2012. P. 47) Desse modo, sintetizamos a temática desse instituto, parafraseando a lição do renomado processualista Nucci (2007, p. 959) que admite o Regime Disciplinar Diferenciado-RDD como uma das alternativas necessárias para combater a criminalidade organizada, fazendo-se um meio adequado e legítimo para o momento em que vivencia a sociedade brasileira. 3.2.4 Aspectos e Efeitos Positivos Em que pese as críticas antes levantadas, há ainda aqueles que creem que a aplicação do RDD e seus efeitos práticos sejam benéficos. Para Roberto PORTO (2007, p.66): “O sucesso poderia ser verificado estatisticamente, uma vez 37 que, durante os mais de quatro anos de existência, não houve fugas ou rebeliões, além de não existir nenhum relato de violência física perpetrada por parte de agentes do Estado” Ainda, quanto ao fim proposto pela sanção, qual seja, desmantelar as organizações criminosas, o autor conclui que: O efeito prático do isolamento dos líderes das facções criminosas propiciado pelo Regime Disciplinar Diferenciado foi devastador para a criminalidade organizada. Com a falta de contato com os líderes, importantes integrantes, alguns deles fundadores destas facções, foram destituídos de seus comandos, causando a desestruturação destes grupos criminosos. (PORTO 2007, p.66) Esses efeitos são totalmente rebatidos por vários autores. Quanto ao isolamento ter desmantelado as organizações criminosas ante a ausência de lideranças, vários autores apontam que, graças a dinamicidade das organizações, o isolamento imposto a um dos líderes não a fragilizaria a ponto de desintegrá-la e/ou enfraquecê-la. Ainda, depreender do simples fato de que não há relatos de abuso físico e rebeliões não é o suficiente para determinar o sucesso ou não do regime, pois isso é o mínimo que se espera de qualquer execução da pena (mesmo que no Brasil dificilmente ocorra), ainda mais se tais estatísticas forem extraídas de um sistema tão reduzido de vagas e de detentos10. De acordo com Antonio Rafael BARBOSA (2013, p.114): “esse isolamento possibilitaria o surgimento de novas lideranças, assumindo uma posição de maior autonomia ao assumir os negócios da organização, mas sem perder o vínculo com os líderes antigos.“ Outro efeito, apontado por Camila CALDEIRA (2009), o efeito simbólico trazido pelo regime. De acordo com DIAS, a perda da liderança não se dá de maneira automática apenas com o isolamento. Não obstante não conseguir o desmantelamento, de maneira paradoxal, a autora percebe um efeito simbólico na aplicação do RDD: [...] o sujeito que sofre a punição de ser re movido para o RDD encarna a imagem exemplar da insubmissão às regras oficiais do Estado, o que lhe confere ainda mais legitimidade para ocupar a posição de líder de uma organização que se pauta justamente por esta oposição. [...] Nesse sentido, o RDD acaba contribuindo para a construção de figuras “míticas” no 10 De acordo com o relatório do DEPEN referente ao ano de 2014, no Brasil existiriam 346 vagas destinadas ao RDD. 38 imaginário dessa população, como é o caso do preso Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido pelo apelido de Marcola. (CALDEIRA (2009, p. 135/136) Aponta-se ainda que mesmo que em regime de isolamento, há ainda a possibilidade de atuação e contato junto ao grupo criminoso, seja por intermédio dos advogados, seja por uso de aparelhos celulares obtidos graças a corrupção sistêmica existente no sistema prisional. CALDEIRA (2009, p. 138): “Também nem sempre serão os verdadeiros líderes que estão sob a sanção, uma vez que é freqüente a prática de uso de “laranjas” para esconderem quem exerce de verdade o papel de líder da organização.” A aplicação do RDD por parte da Administração, ainda, conforme aponta SALLA (2009), seria feita de maneira a tornar menos visível o poder exercido pelas lideranças das organizações, até mesmo para não lhe serem aplicadas a sanção. Assim, serviria para estabelecer limites ao exercício do poder dos líderes da organização criminosa, mas estaria ainda muito longe de enfraquecê-la. Explica SALLA (2006, p. 298/299): Um aspecto a ser ainda pesquisado é se esse regime disciplinar está sendo usado para a construção de uma nova pax prisional. Os governos ameaçam ou efetivamente segregam as lideranças das facções no RDD. A manutenção das lideranças nas unidades prisionais comuns significa que delas se espera que colaborem minimamente com a manutenção da ordem interna, como a redução das mortes entre presos, redução das brigas e mesmo tentativas de fuga. Portanto, a adoção da medida paliativa, voltada apenas para curto prazo, sem a adoção conjunta de políticas públicas, de médio e longo prazo, voltadas para resolver os problemas do sistema prisional brasileiro, faz com que exista um jogo de acordos entre a Administração Pública e as organizações criminosas em que: a primeira está interessada em manter a aparência de deter algum controle do sistema prisional; já a segunda detém de fato esse controle, o que permite com que continue perpetrando as suas ações dentro e fora do sistema prisional. 3.3 COMBATE AO USO DE CELULAR O combate a entrada de celular nas unidade prisionais é combatido diariamente por servidores do sistema prisional, tendo em vista que estes aparelhos são utilizados como meio de comunicação com o meio externo, e através deles que crimes são encomendados por criminosos de dentro das cadeias e penitenciárias. 39 Além de crimes como assalto a banco, sequestro, os celulares também são utilizados para aplicar golpes, hoje em dia são frequentes a quantidade de pessoas vítimas desses golpe, que recebem ligações de outros estados, com presos se passando por parentes em situação de perigo, presos se passam por funcionário de banco e com isso conseguem acesso a dados pessoas das pessoas. Infelizmente para o presidiário o uso do celular ainda não é tipificado como crime, configurando apenas infração disciplinar considerada como falta grave, artigo 50, inciso VII, da Lei de Execução Penal. Portanto, os presidiários que forem pegos utilizando aparelho celular, rádio ou qualquer aparelho eletrônico similar que permita a comunicação com o mio externo ou com outros presos, será submetido a procedimento administrativo disciplinar e receberá uma punição pelo cometimento da falta. Porém, essas medidas não coíbem a entrada de celulares nas unidades prisionais, visto que os presos não se intimidam com as punições administrativas, e a reincidência sempre ocorre. Entretanto, se para a prática de introduzir celular na unidade prisional não configura crime para o presidiário,
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