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Vozes da Literatura 
Brasileira
 Um Diálogo Essencial
Pré-Modernismo e Modernismo
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Vivian Steinberg
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Geovana Gentili
Revisão Textual:
Profa. Ms. Silvia Augusta Barros Albert 
5
• Introdução
• Modernismo no Brasil
• Considerações Finais
• Monteiro Lobato
• Oswald de Andrade (1890-1954) - Memórias 
Sentimentais de João Miramar (1924)
É importante que você leia o conto e o romance na íntegra. Leia os manifestos sugeridos, veja 
os vídeos sobre esse período na história literária do Brasil e os filmes que foram feitos a partir 
de romances dessa época, como o filme Macunaíma, um clássico do cinema nacional; que 
acompanhe o desenvolvimento dos manifestos do modernismo como o teatro de José Celso 
Martinez e o Tropicalismo, na música popular brasileira. Há muito material desse período 
disponível na internet. É um momento decisivo nas artes brasileiras.
Estudaremos “Urupês” de Monteiro Lobato e Memórias 
Sentimentais de João Miramar. O primeiro marca o 
surgimento do personagem caipira na prosa brasileira, tentando 
desmistificar as personagens românticas de nossa prosa. O 
segundo é a estreia do modernismo brasileiro em romance com 
todas as inovações que esse novo olhar contempla.
Pré-Modernismo e Modernismo
6
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Contextualização
O começo do século no Brasil mostrou uma notória efervescência no mundo intelectual e 
artístico que desencadeou a “Semana de Arte Moderna”, nos dias 13 a 17 de fevereiro de 1922. 
Transportar-se para outra época é fundamental para a compreensão do momento histórico.
Há um documentário de Roberto Moreira que expõe os momentos fundamentais da trajetória 
do Modernismo no Brasil. Faz parte da iniciativa do Itaú Cultural de pesquisar e de divulgar 
os Aspectos da Cultura Brasileira. Disponível em: https://youtu.be/pO4t9UmF2us.
Há uma convergência entre várias expressões artísticas dessa época. A pintura, a seguir, 
de Tarsila do Amaral, por exemplo, foi fundadora do tema para o manifesto histórico de 
Oswald de Andrade.
Tarsila do Amaral, óleo sobre tela, 1929.
O quadro acima foi batizado de “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral, e representa a junção 
de duas obras da pintora: “Abaporu” e “A Negra” , a qual deu nome ao manifesto Antropófago 
que foi publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, em 1º de maio de 1928. 
7
Manifesto Antropófago
Oswald de Andrade
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
(...) 
Tupy, or not tupy is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. 
(...)
O que atrapalhava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. 
A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
(...)
In: SWARTZ, Jorge. Vanguardas latino-americanas - Polêmicas, manifestos e textos críticos. São 
Paulo: EDUSP-Iluminuras, 1995. (p.142-147). 
Essas manifestações influenciaram toda a literatura brasileira posterior e também outras expressões 
artísticas como o teatro de José Celso Martinez e o movimento musical conhecido como Tropicalismo 
ou movimento tropicalista, cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato 
Neto, Os Mutantes e Tom Zé.
8
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Introdução
Caro aluno, o nosso percurso ocorre no começo do século XX, 
num momento perturbado mundialmente e também no Brasil, 
com a instauração da “Era Vargas”, depois da Proclamação da 
República, em 15 de novembro de 1894, e a quebra da República 
Velha (1894-1930).
“República Velha”
A “República Velha” representou o poder das oligarquias rurais no cenário político e econômico brasileiro.
A República Velha, ou Primeira República, é o nome dado ao período compreendido entre a 
Proclamação da República, em 1889, e a eclosão da Revolução de 1930.
(...) a República Velha é dividida em dois momentos: a República da Espada e a República 
Oligárquica.
A República da Espada abrange os governos dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano 
Peixoto. Foi durante a República da Espada que foi outorgada a Constituição que iria nortear as 
ações institucionais durante a Primeira República. Além disso, o período foi marcado por crises 
econômicas, como a do Encilhamento, e por conflitos entre as elites brasileiras, como a Revolução 
Federalista e a Revolta da Armada.
A República Oligárquica foi marcada pelo controle político exercido sobre o governo federal pela 
oligarquia cafeeira paulista e pela elite rural mineira, na conhecida “política do café com leite”. Foi 
nesse período que se desenvolveu ainda mais fortemente o coronelismo, garantindo poder político 
regional às diversas elites locais do país.
O período marca também a ascensão e queda do poder econômico dos fazendeiros paulistas, baseado 
na produção do café para a exportação. Além disso, os capitais acumulados com a exportação do 
produto garantiram o início da industrialização do país, ao menos na região Sudeste.
Essa industrialização proporcionou mudanças na estrutura social brasileira, com a formação de 
uma classe operária e o crescimento do espaço urbano. As mudanças políticas e sociais, também 
conhecidas pelo termo modernização, resultaram ainda em agudos conflitos sociais, tanto no 
campo, como no caso da Guerra de Canudos, quanto nas cidades, como a Revolta da Vacina e as 
greves operárias na década de 1910.
A crise das oligarquias rurais e a crise econômica mundial, atingindo profundamente a produção 
cafeeira, representaram a agonia da República Velha. A insatisfação com a eleição de Júlio Prestes, 
em 1930, deu à elite os motivos para derrubar os fazendeiros paulistas que estavam no poder, 
através da Revolução de 1930. Era o fim da República Velha e o início da Era Vargas.
Por Tales Pinto Graduado em História
Disponível em: https://goo.gl/4iow7j (acesso: 1/10/2014)
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9
Nesta unidade, vamos estudar um texto inicial de José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), 
“Urupês”, publicado no final de 1914. Nessa data, foram publicados dois artigos: “ Velha Praga” e 
“Urupês”, no jornal O Estado de S. Paulo. Devido à repercussão, o autor sentiu-se autorizado a 
dedicar-se à literatura, então vende a fazenda que herdou do avô, vem para São Paulo, e entrega-
se à Literatura e a outras atividades afins: compra a Revista do Brasil, na qual passa a trabalhar, 
e inaugura uma editora, impulsionando o processo de edição e distribuição de livros no Brasil. O 
artigo foi publicado em seu primeiro livro de contos e deu nome ao livro, cuja primeira edição data 
de 1920. Esse é o começo de uma longa carreira literária, recheada de polêmicas. 
Monteiro Lobato
“Universo paralelo - fiapos de biografia de Monteiro Lobato”
Vamos ler trechos de uma biografia comentada de Monteiro Lobato, escrita por Maria Angélica Ferrasoli: 
“Universo paralelo”. 
Assim começam muitas cronologias e biografias: “Aos 18 de abril de 1882 nasce em Taubaté, 
demonstrando desde muito cedo grande interesse pela escrita, pintura e desenho... Ao completar 
18 anos, ingressa na Faculdade de Direito...”. Muito chato, não é mesmo? Algumas, porém, não 
deveriam jamais merecer tal maçante destino. Muito menos a do homem do porviroscópio, aquele 
que antecipava o porvir, ou a do verdadeiro “furacão na Botocúndia”, o escritor que revolucionou 
a literatura infantil, mandou às favas os rapapés ortográficos de sua época e impulsionou o processo 
de edição e venda de livros no Brasil. Você já sabe que se trata de Monteiro Lobato. Mas faz de conta 
que, bem a calhar, estamos no mundo do faz-de-conta e ainda não caiu a ficha, certo? Então, vamos 
lá: prove um pouco do pó de pirlimpimpim.
Primeira dica: ele não era o Peter Pan, embora pudesse ter vestido a carapuça do menino fantástico e 
destemido. Mas, longe da Terra do Nunca, depois do tuim tradicional causado pelo pó, vamos pisar 
mesmo é no ano de1919, bem na esquina da Rua Boa Vista com a Ladeira Porto Geral, no centro 
de São Paulo. Ali funciona a Revista do Brasil. Está em sua 47ª edição. Seu proprietário esmera-se em 
produzir o editorial.
“Há por aí inúmeros artistas populares, abafados, asfixiados pela indiferença ambiente, sem meios de 
alcançar a publicidade (...) a Revista abre-se a todos eles...” O convite, democrático, é mais uma das 
muitas empreitadas de José Bento Monteiro Lobato, o primeiro brasileiro a compreender que crianças 
são seres pensantes e inteligentes e, talvez tarde demais, a compreender também que o progresso de seu 
país nunca esteve nas mãos de gente do mesmo naipe.
O Monteiro Lobato do Sítio do Picapau Amarelo não é novidade para quase ninguém, nem seu mérito 
questionável. “À minha filha e a todos os meninos e meninas de sua idade, cujos pais estavam em 
condições de comprar um livro, Lobato deu uma infância maravilhosa, que minha geração não conhecera, 
na falta de boas histórias nacionais para crianças”, atestou o mineiro Carlos Drummond de Andrade. O 
poeta de Itabira, porém, não deixou de acrescentar que, no entanto, “a lição maior de Lobato é sua 
própria e tumultuosa riqueza humana”.
(...)
Disponível em: https://goo.gl/q8oorj – Acesso: 3/10/2014.
10
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
O texto de Maria Angélica Ferrasoli, embora num tom coloquial, apontou para algumas 
vertentes desse escritor: a versatilidade, um intelectual que escrevia sobre os acontecimentos 
políticos, culturais e econômicos; um homem que revolucionou a literatura infantil; e que se 
preocupou em publicar, traduzir e vender livros pelo Brasil todo, democratizando a literatura. 
Como finaliza esse trecho, com palavras de Carlos Drummond de Andrade: “a lição maior de 
Lobato é sua própria e tumultuosa riqueza humana”.
Perseguindo a questão da identidade brasileira, que necessariamente passa pelos textos 
literários, “Urupês” é um dos primeiros artigos a ser considerado no que diz respeito à definição 
de um “caráter brasileiro”. O autor contrapõe o idealizado indianismo de José de Alencar ao 
degradado realismo rural do caipira, de acordo com Jorge Schwartz1, que descreve o caminho 
de Lobato em relação a seu personagem Jeca Tatu da seguinte forma:
Talvez influenciado pelas teorias racistas ainda vigentes, (...) Lobato identifica 
no caboclo uma espécie de indolência inata - antes atribuída aos índios e 
aos negros -, causa dos males do país.(...).
O dinâmico criador de Jeca Tatu não demora a mudar radicalmente de posição 
ao perceber que o problema não é de ordem genética, mas estrutural. Aliando-
se a um programa nacional de saneamento público contra a verminose que 
assolava a população caipira, Lobato percebe que há possibilidade de mudar 
socialmente o caboclo, caso lhe sejam dadas as condições. Passa assim para 
uma posição diametralmente oposta 2. 
Monteiro Lobato sempre esteve envolvido em questões polêmicas. O texto, publicado em 
1914, é impregnado por teorias racistas, mas o autor ousa rever seu personagem e denuncia 
o descaso nacional em relação à população marginal - aqueles que não vivem nos centros 
urbanos, os trabalhadores rurais, os caipiras paulistas, principalmente em relação a um tema 
ainda fundamental como o saneamento básico e a cegueira que toma conta das autoridades em 
relação à sociedade periférica, o olhar das autoridades não os enxerga, como se não existissem. 
Vamos ler o começo de “Urupês“:
Esboroou-se o balsâmico indianismo de Alencar ao advento dos Rondons 
que, ao invés de imaginarem índios num gabinete, com reminiscências de 
Chateaubriand na cabeça e a Iracema aberta sobre os joelhos, metem-se a 
palmilhar sertões de Winchester em punho.
Morreu Peri, incomparável idealização dum homem natural como o sonhava 
Rousseau, protótipo de tantas perfeições humanas que no romance, ombro a 
ombro com altos tipos civilizados, a todos sobrelevava em beleza d’alma e corpo.
Contrapôs-lhe a cruel etnologia dos sertanistas modernos um selvagem real, feio 
e brutesco, anguloso e desinteressante, tão incapaz, muscularmente, de arrancar 
uma palmeira, como incapaz, moralmente, de amar Ceci.
Por felicidade nossa – a de D. Antonio de Mariz – não os viu Alencar; sonhou-
os qual Rousseau. Do contrário lá teríamos o filho de Arará a moquear a linda 
menina num bom braseiro de pau brasil, em vez de acompanhá-la em adoração 
pelas selvas, como o Ariel benfazejo do Paquequer.
1 SWARTZ, Jorge. Vanguardas latino-americanas - Polêmicas, manifestos e textos críticos. São Paulo: EDUSP-Iluminuras, 1995. 
(p.539-548).
2 id. ibidem. p.540-541.
11
A sedução do imaginoso romancista criou forte corrente. Todo o clã plumitivo 
deu de forjar seu indiozinho refegado de Peri e Atala. Em sonetos, contos e 
novelas, hoje esquecidos, consumiram-se tabas inteiras de aimorés sanhudos, 
com virtudes romanas por dentro e penas de tucano por fora.
Vindo o público a bocejar de farto, já céptico ante o crescente desmantelo do 
ideal, cessou no mercado literário a procura de bugres homéricos, inúbias, 
tacapes, borés, piágas e virgens bronzeadas. Armas e heróis desandaram 
cabisbaixos, rumo ao porão onde se guardam os móveis fora de uso, saudoso 
museu de extintas pilhas elétricas que a seu tempo galvanizaram nervos. E lá 
acamam poeira cochichando reminiscências com a barba de D. João de Castro, 
com os frankisks de Herculano, com os frades de Garrett e que tais…
Fonte: Publicado em O Estado de S.Paulo, 1914. Todas as referências estão em: LOBATO, 
Monteiro. “Urupês”. In Urupês. São Paulo: Globo, 2012. 
No começo do artigo, Lobato critica o ideal do índio criado por José de Alencar, que 
influenciado pelo francês Chateaubriand e Rousseau, criou Iracema e Peri. No momento que 
escreve, sabe que Rondons não imaginam os índios, mas, lidam com a realidade, “palmilham 
os sertões”. Não é uma crítica apenas ao escritor, mas a uma forma de pensar, a de idealizar o 
outro, no caso o índio.
O autor refere-se ao Marechal Rondon (1865-1958), responsável por desbravar terras, que 
realizou expedições com o objetivo de explorar a região Amazônica, estabeleceu relações cordiais 
com os índios. Em 1899, participou das articulações que resultaram na proclamação da república 
brasileira, junto com Benjamin Constant.
E Monteiro Lobato, continua em seu texto:
Não morreu, todavia.
Evoluiu.
O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Crismou-se de “caboclismo”. 
O cocar de penas de arara passou a chapéu de palha rebatido à testa; o ocara virou rancho 
de sapé; o tacape afilou, criou gatilho, deitou ouvido e é hoje espingarda troxadal o boré 
descaiu lamentavelmente para pio de inambu; a tanga ascendeu a camisa aberta ao peito.
Mas o substrato psíquico não mudou: orgulho indomável, independência, fidalguia, coragem, 
virilidade heróica, todo o recheio em suma, sem faltar uma azeitona, dos Perís e Ubirajaras.
Estes setembrino rebrotar duma arte morta inda se não desbagoou de todos os frutos. Terá o 
seu “I Juca Pirama”, o seu “Canto do Piaga” e talvez dê ópera lírica.
Mas, completado o ciclo, virão destroçar o inverno em flor da ilusão indianista os prosaicos 
demolidores de ídolos – gente má e sem poesia. Irão os malvados esgaravatar o ícone com 
as curetas da ciência. E que feias se hão de entrever as caipirinhas cor de jambo de Fagundes 
Varela! E que chambões e sornas os Peris de calça, camisa e faca à cinta!
Isso, para o futuro. Hoje ainda há perigo em bulir no vespeiro: o caboclo é o “Ai Jesus!” nacional.
É de ver o orgulhoso entono com que respeitáveis figurões batem no peito exclamando com 
altivez: sou raça de caboclo!
12
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Anos atrás o orgulho estava numa ascendência de tanga, inçada de penas de tucano, com 
dramas íntimos e flechaços de curare.
Dia virá em que os veremos, murchos de prosápia, confessar o verdadeiro avô: – um dos 
quatrocentos de Gedeão trazidos por Tomé de Souza¹ num barco daqueles tempos, nosso 
mui nobre e fecundo “Mayflower”.
Porque a verdadenua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da 
nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígene de tabuinha no beiço, 
uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e 
sorna, nada a põe de pé.
Quando Pedro I lança aos ecos o seu grito histórico e o país desperta estrouvinhado à crise 
duma mudança de dono, o caboclo ergue-se, espia e acocora-se de novo.
(LOBATO, Monteiro. “Urupês”. In Urupês. São Paulo: Globo, 2012). 
Nesse trecho, Lobato diz que o ideal do índio mudou para o ideal do caboclo. Todas as 
virtudes que cabiam ao índio literário, agora pertencem ao caboclo: “orgulho indomável, 
independência, fidalguia, coragem, virilidade heroica” e que ainda vai existir obras de arte 
inspiradas nesse ideal de homem. Mas que, na posteridade, vai-se perceber a realidade do povo 
que é uma mistura entre o índio e o estrangeiro. Lobato descreve pejorativamente o degradado 
realismo rural do caipira, descrevendo com humor a atitude que tiveram ao ouvir a declaração 
da independência: o caboclo deu uma espiada e voltou a acocorar-se.
Lobato está impregnado pelas teorias racistas da época e continua a descrição de atitudes, cria 
uma personagem: Jeca Tatu, que é preguiçoso e acomodado. Esse personagem é um estereótipo, 
uma generalização, um personagem de história em quadrinhos. Ao mesmo tempo, há uma 
denúncia social, chamando a atenção para o descaso que existe para toda uma população 
encoberta por teorias idealistas.
Depois, o autor descreve o personagem em “ação”:
(...)
Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de carne onde se resumem todas 
as características da espécie.
Ei-lo que vem falar ao patrão. Entrou, saudou. Seu primeiro movimento após prender entre 
os lábios a palha de milho, sacar o rolete de fumo e disparar a cusparada d’esguicho, é 
sentar-se jeitosamente sobre os calcanhares. Só então destrava a língua e a inteligência.
- Não vê que…
De pé ou sentado as idéias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa.
De noite, na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo”, imitado da 
mulher e da prole.
Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostas um cabo de foice, fazê-lo noutra 
posição será desastre infalível. Há de ser de cócoras.
Nos mercados, para onde leva a quitanda domingueira, é de cócoras, como um faquir do 
Bramaputra, que vigia os cachinhos de brejaúva ou o feixe de três palmitos.
13
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo…
Quando comparece às feiras, todo mundo logo advinha o que ele traz: sempre coisas que 
a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher 
– cocos de tucum ou jissara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pinhões, orquídeas 
ou artefatos de taquara-poca – peneiras, cestinhas, samburás, tipitis, pios de caçador ou 
utensílios de madeira mole – gamelas, pilõesinhos, colheres de pau.
Nada Mais.
Seu grande cuidado é espremer todas as conseqüências da lei do menor esforço – e nisto 
vai longo.
Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e 
gargalhar ao joão-de-barro. Pura biboca de bosquimano. Mobília, nenhuma. A cama é uma 
espipada esteira de peri posta sobre o chão batido.
Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para hóspedes. Três pernas 
permitem equilíbrio inútil, portanto, meter a Quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o 
chão. Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os 
quais se sentam?
(...)
LOBATO, Monteiro. “Urupês”. In Urupês. São Paulo: Globo, 2012. 
Para aprofundar os seus estudos acerca do tema 
estudado, é importante ler a obra na íntegra.
Lobato criou um personagem típico, um estereótipo como 
qualquer personagem de história em quadrinhos. O humor 
que lhe é atribuído é pelo exagero e grotesco, além de ser 
acomodado a seu destino. Pinta o Jeca Tatu com tintas 
fortes, e assim ficou imortalizado o personagem e criticado 
seu autor, que ao longo da vida se redimiu, criando outros 
personagens como o Jeca Tatuzinho (1924), e o Zé Brasil 
(1947). Mudou radicalmente de posição ao perceber que 
o problema não é de ordem genética, mas estrutural. 
Denuncia a falta de saneamento público contra a verminose 
que assolava a população caipira. O Jeca Tatu passa a ser 
visto como vítima do sistema, e assim ficou conhecido o 
slogan: “O jeca não é assim: está assim”. 
14
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
A editora Globo está reeditando toda a obra de Monteiro Lobato com muito esmero, 
organizou vários artigos que saíram na imprensa sobre o autor no site: https://goo.
gl/q8oorj. Recomendamos o artigo, já comentado de Maria Angélica Ferrasoli: 
“Universo paralelo”. Há links relacionados a Monteiro Lobato: https://goo.gl/q8oorj. 
Há um livro de ensaios sobre a obra de Monteiro Lobato: Monteiro Lobato - livro 
a livro, com organização de Marisa Lajolo, da Editora Unesp.
Há um artigo de Monteiro Lobato sobre Machado de Assis, escrito em 1939, 
disponível no site https://goo.gl/q8oorj
Vimos um pouco da obra adulta de Monteiro Lobato, mas não podemos deixar de comentar 
sobre a obra infantil desse autor, o grande marco dessa literatura no Brasil. Ele via a criança 
como um ser, não como um mini adulto como até então as crianças eram tratadas. Escreveu 
para seu amigo: “Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.”3. Criou, 
então, o Sítio do Pica-Pau Amarelo, que mistura o real e o maravilhoso numa só realidade 
literária, como uma realidade melhor que o mundo dos adultos - “bichos sem graça”. A 
República ideal é a das crianças, elas que poderiam modernizar a sociedade. Essa obra foi 
um divisor de águas na literatura infantil brasileira. Publicado em 1920, com o título de A 
Menina do Narizinho Arrebitado, sai, posteriormente, em 1921, outra edição com o título 
definitivo, Reinações de Narizinho.
A personagem mais peculiar dessa obra, e mais significativa, vista como um alter ego de 
Lobato, é a boneca de pano, a Emília. Feita por Tia Nastácia com retalhos de uma velha saia, 
com o corpo desajeitado, com olhos de retrós preto, sobrancelha meio fora do lugar e recheio 
de macela, para Narizinho, o apelido de Lúcia. A boneca nasceu muda, mas o doutor Caramujo 
curou a mudez da boneca com uma pílula falante. Vamos ler, a seguir, dois trechos do livro 
Reinações de Narizinho:
(...)
Na casa ainda existem duas pessoas — tia Nastá cia, negra de estimaç ã o que carregou Lú cia 
em pequena, e Emí lia, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo. Emí lia foi feita 
por tia Nastá cia, com olhos de retró s preto e sobrancelhas tã o lá em cima que é ver uma 
bruxa. Apesar disso Narizinho gosta muito dela; nã o almoç a nem janta sem a ter ao lado, 
nem se deita sem primeiro acomodá -la numa redinha entre dois pé s de cadeira. 
(...)
Veio a boneca. O doutor escolheu uma pí lula falante e pô s-lhe na boca. 
— Engula duma vez! — disse Narizinho, ensinando à Emí lia como se engole pí lula. E nã o 
faç a tanta careta que arrebenta o outro olho. 
Emí lia engoliu a pí lula, muito bem engolida, e começ ou a falar no mesmo instante. A 
primeira coisa que disse foi: “Estou com um horrí vel gosto de sapo na boca!” E falou, falou, 
falou mais de uma hora sem parar. Falou tanto que Narizinho, atordoada, disse ao doutor 
que era melhor fazê -la vomitar aquela pí lula e engolir outra mais fraca. 
— Nã o é preciso — explicou o grande mé dico. — Ela que fale até cansar. Depois de algumas 
horas de falaç ã o, sossega e fica como toda gente. Isto é “fala recolhida”, que tem de ser 
botada para fora. 
3 Carta a Godofredo Rangel, Rio de Janeiro, 7/5/1926). 
15
E assim foi. Emí lia falou trê s horas sem tomar fô lego. Por fim calou-se. 
— Ora graç as! — exclamou a menina. (...)
(LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Círculo do Livro, 1986). 
Assim surge a voztransgressora da personagem que subverte a ordem do mundo adulto, no 
Sítio. Ela ficou conhecida como torneirinha de asneiras e criou o verbo “asneirar”. Emília foi 
comparada ao personagem modernista, Macunaíma, fazendo-lhe uma contraposição, ou seja, 
um outro olhar para montarmos a identidade polifônica do Brasil.
Gabriela Romeu4 cita Laura Sandroni, no livro De Lobato a Bojunga: “Vista por muitos 
como o alter ego de Lobato, através de quem ele emite os seus pontos de vista, denuncia 
os absurdos do mundo civilizado, ri da empáfia dos sábios e poderosos. Sendo uma boneca, 
embora evolua e vire gente de verdade, ela está livre das obrigações sociais impostas pela 
educação à criança. Ela pode dizer o que pensa sem nenhum tipo de coerção”, afirma.
Conhecemos, assim, outro personagem para montarmos o palimpsesto da identidade 
polifônica brasileira. 
Sobre Emília: 
Ler, na íntegra, o artigo: “Independência ou morte em Emília - a voz transgressora 
de Lobato” de Gabriela Romeu, disponível em: https://goo.gl/u44VZX
Ler “Nem tudo tá dominado” de Amália Safatle. Disponível em: https://goo.gl/q8oorj
Sobre a polêmica atual:
Em relação à censura sobre as obras infantis de Monteiro Lobato, alegando termos 
preconceituosos, ou politicamente incorretos, há dois artigos de Márcia Leite em: 
https://goo.gl/woV3gJ
Depois de Lobato, vamos conhecer outro autor, transgressor como Emília, e figura marcante 
no movimento modernista brasileiro. 
4 Em “Independência ou morte em Emília - a voz transgressora de Lobato”. Disponível em: https://goo.gl/u44VZX. (acesso 6/10/2014).
16
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Oswald de Andrade (1890-1954) - Memórias Sentimentais de João Miramar (1924)
Vamos dar um novo passo na aventura brasileira na modernidade com o romance 
Memórias Sentimentais de João Miramar de Oswald de Andrade. Esse que foi comparado 
a Ulisses, de James Joyce, por Haroldo de Campos, em relação às novidades experimentais 
do “romance”, e considerado um divisor de águas da nossa prosa. O próprio autor sentia 
essas experiências como invenções.
O romance sai em 1924, dedicado a Paulo Prado e Tarsila do Amaral, com capa ilustrada 
pela pintora. Mário de Andrade, numa carta a Manuel Bandeira, datada de 1923, escreveu 
“Osvaldo e Sérgio chegam em dezembro. (...). Osvaldo traz um romance Memórias de João 
Miramar - segundo me contam interessantíssimo, moderníssimo, exageradamente de ficção. 
Morro de curiosidade”5. O autor chamou seu primeiro romance de “o primeiro cadinho de 
nossa nova prosa”, num artigo de 1943.
O romance começa com “À guisa de prefácio” assinada por Machado Penumbra, autor que 
extrapola seu texto para se tornar, ele próprio, personagem do livro. É uma voz carregada de 
beletrismo oratório-acadêmico (“orador ilustre escritor”), em vários episódios - o livro não é 
dividido em capítulos, mas em fragmentos numerados e com títulos, por exemplo, no 137, 
podemos ler: 
Cap. 137 – Baile
“A sua loira e estranha divindade dominou a sala fantástica até extinguir-se a última nota da 
mágica orquestra”. Para o álbum de Mlle. Rolah. Machado Penumbra. 
O pseudo-autor, ou o heterônimo, Machado Penumbra, se mostra encantado com Mlle. 
Rolah, a amante de Miramar.
No fragmento 89, “Literatura”, comparece como conferencista em “excursão histórica”, para 
uma reverência póstuma “à malograda morte do Conselheiro Zé Alves”. E assim por diante. 
Aparecem outros intelectuais da província (São Paulo de 1912 era uma província no sentido 
exato do termo), por exemplo, Dr. Pôncio Pilatos da Glória; Dr. Mandarim Pedroso, Presidente 
do “Recreio Pingue-Pongue, “chiquíssima sociedade de moças que a sua personalidade centrava 
como um coreto” e que ele definia como “uma forja de temperamentos e um ninho de pombas 
gárrulas”. Todas essas figuras são basicamente extraídas do ambiente em que circulava Oswald 
de Andrade na São Paulo anterior e contemporânea à Primeira Guerra, o que dá um tom de 
paródia ao romance, de acordo com Haroldo de Campos, em “Miramar na mira”. 
O livro é composto por 163 fragmentos, numerados e intitulados. Narra a história de João 
Miramar com sarcasmo e numa certa sequência. A história começa na infância do narrador 
e termina quando este tem 35 anos. A ação não é tão importante quanto o relato, isto é, a 
linguagem utilizada, em que prosa e poesia se confundem, estreitando os limites entre os gêneros. 
De acordo com Antônio Cândido, e depois reiterado por Haroldo de Campos, é interessante 
comparar essa narrativa com Um homem sem profissão, 1º. volume da autobiografia de Oswald 
de Andrade, único publicado, e que cobre o período de 1890-1919. “Sob esse ponto de vista, 
esta autobiografia é um livro-chave para a compreensão da obra de ficção oswaldiana” 6. 
5 Extraído de “Miramar na mira” de Haroldo de Campos, in ANDRADE, Oswald de. Memórias Sentimentais de João Miramar. São Paulo: 
editora Globo, 1997. Disponível em: http://goo.gl/lguok2 (acesso: 6/10/2014). 
6 op.cit. p.12
17
Enquanto nos fragmentos iniciais, a linguagem aproxima-se do universo infantil, ao longo da 
narrativa, transforma-se, tornando-se mais adulta. Há intervenções, por exemplo, do Machado 
Penumbra que, em alguns episódios, é o narrador, com uma dicção empolada, diferente da 
linguagem de Miramar. Outras vozes cruzam o romance, como cartas e intervenções em outras 
línguas como, por exemplo, no fragmento 148, em que há influência da migração árabe, ou 
no 68, em que se implode a sociedade burguesa e seus valores. Há a sátira dentro de sátira 
e o recurso da paródia, presente também em outras prosas modernistas, como a de Mário de 
Andrade, em Macunaíma, ou a de James Joyce, em Ulisses. 
Vamos ler alguns trechos:
À guisa de prefá cio
Joã o Miramar abandona momentaneamente o 
periodismo para fazer a sua entrada de homem 
moderno na espinhosa carreira das letras. E 
apresenta-se como o produto improvisado e portanto 
imprevisto, e quiç á chocante para muitos, de uma 
é poca insofismá vel de transiç ã o. Como o tanks, os 
aviõ es de bombardeio sobre as cidades encolhidas 
de pavor, os gases asfixiantes e as terrí veis minas, 
o seu estilo e sua personalidade nasceram das 
clarinadas caó ticas da guerra. 
Porque eu continuarei a chamar guerra a toda esta é poca embaralhada de iné ditos valores e 
clangorosas ofensivas que nos legou o outro lado do Atlâ ntico com as primeiras bombardas 
heró icas da tremenda conflagraç ã o europeia.
(...)
 Esperemos com calma os frutos dessa nova revoluç ã o que nos apresenta pela primeira vez o 
estilo telegrá fico e a metá fora lancinante. O Brasil, desde a idade trevosa das capitanias, vive 
em estado de sítio. Somos feudais, somos fascistas, somos justiçadores. Época nenhuma 
da história foi mais propícia à nossa entrada no concerto das nações, pois que estamos na 
época dos desconcertos. O Brasil, paí s situado na Amé rica, continente donde partiram as 
sugestõ es mecâ nicas e coletivistas da modernidade literá ria e artí stica, é um paí s privilegiado 
e moderno. Nossa natureza como nossa bandeira, feita de glauco verde e de amarelo jalde, é 
propí cia à s violê ncias maravilhosas da cor. Justo é pois que nossa arte també m o queira ser. 
Quanto à gló ria de Joã o Miramar, à parte alguns lamentá veis abusos, eu o aprovo sem, 
contudo, adotá -la nem aconselhá -la. Será esse o Brasileiro do Sé culo XXI? Foi como ele a 
justificou, ante minhas reticê ncias crí ticas. O fato é que o trabalho de plasma de uma lí ngua 
modernista, nascida da mistura do portuguê s com as contribuiç õ es das outras lí nguas imigradas 
entre nó s e contudo tendendo paradoxalmente para uma construç ã o de simplicidade latina, 
nã o deixa de ser interessante e original. A uma coisa apenas oponho legí timos embargos – é 
à violaç ã o das regras comuns da pontuaç ã o. Isso resulta em lamentá veis confusõ es, apesar 
de, sem dú vida, fazer sentir “a grande forma da frase”, como diz Miramar pro domo sua. 
“Memó rias Sentimentais” – por que negá -lo? – é o quadro vivo de nossamá quina social 
que um novel romancista tenta escalpelar com a arrojada seguranç a dum profissional do 
subconsciente das camadas humanas. 
“O estilo empolado do prefá cio, 
que nã o combina com a 
linguagem do resto do romance, 
é intencional: na realidade, é um 
antiprefá cio, em que Machado 
Penumbra (uma personagem 
que representa um autor) satiriza 
a funç ã o do escritor.” Note-se a 
caracterizaç ã o feita do pró prio 
romance: um ‘ensaio satí rico’
18
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Há , alé m disso, nesse livro novo, um sé rio trabalho em torno da “volta ao material” – 
tendê ncia muito da nossa é poca como se pode ver no Salã o d’Outono, em Paris.
Pena é que os espí ritos curtos e provincianos se vejam embaraç ados no decifrar do estilo em 
que está escrito tã o atilado quã o mordaz ensaio satí rico.
Machado Penumbra 
Cap. 1 – O Pensieroso
Jardim desencanto
O dever e procissõ es com pá lios
E cô negos
Lá fora
E um circo vago e sem misté rio
Urbanos apitando nas noites cheias
Mamã e chamava-me e conduzia-me para dentro do orató rio de mã os grudadas.
- O Anjo do Senhor anunciou à Maria que estava para ser a mã e de Deus. Vacilava o morrã o 
do azeite bojudo em cima do copo. Um manequim esquecido vermelhava. 
- Senhor convosco, bendita sois entre as mulheres, as mulheres nã o tê m pernas, sã o como o 
manequim de mamã e até em baixo. Para que pernas nas mulheres, amé m. 
Cap. 3 – Gare do Infinito
Papai estava doente na cama e vinha um carro e um 
homem e o carro ficava esperando no jardim. 
Levaram-me para uma casa velha que fazia 
doces e nos mudamos para a sala do quintal onde 
tinha uma figueira na janela.
No desabar do jantar noturno a voz toda preta de 
mamã e ia me buscar para a reza do Anjo que carrega meu pai.
Cap. 4 – Gatunos de Crianç as 
O circo era um balã o aceso com mú sica e pasté is na estrada.
E funâ mbulos cavalos palhaç os desfiaram desarticulaç õ es risadas para meu trono de pau 
com gente em redor. 
Gostei muito da terra da Goiabada e tive inveja da vontade de ter sido roubado pelos ciganos. 
De uma forma sutil e poética, o 
narrador comunica a morte de 
seu pai. O olhar e as palavras são 
de uma criança, verificamos isso 
nas caracterizações dos lugares: 
“...para uma casa velha que fazia 
doces...”
“Joã o Miramar dá iní cio à s suas 
memó rias com recordaç õ es 
fragmentá rias de sua infâ ncia. No 
ú ltimo pará grafo, vemos como se 
cruzam no seu pensamento pedaç os 
da oraç ã o Ave Maria e a descriç ã o 
do manequim de sua mã e”. 
19
Cap. 8 – Fraque do Ateu 
Saí de D. Matilde porque marmanjo nã o podia 
continuar na classe com meninas. 
Matricularam-me na escola modelo das tiras de 
quadros nas paredes alvas escadarias e um cheiro de 
limpeza. 
Professora marinha e recreio alegre começ ou a aula 
da tarde um bigode de arame espetado no grande 
professor Seu Carvalho. 
No silê ncio tic tac da sala de jantar informei mamã e que nã o havia Deus porque Deus 
era a natureza. 
Nunca mais vi o Seu Carvalho que foi para o Inferno. 
 
 Explore
Esses trechos estão disponíveis em: http://goo.gl/4nqRhI (acesso: 6/10/2014)
Há misturas de notas, algumas do site outras da autora deste livro. As que estão estre aspas são do site.
 
 Importante
Ler na íntegra o romance, a leitura é deliciosa. No site acima, há disponíveis alguns trechos. O 
romance inteiro pode ser acessado em: http://goo.gl/iZjUeT
A dicção de Oswald de Andrade não é a única nesse começo do século XX. O interesse em 
experimentar novas linguagens e em conquistar maior liberdade na criação literária era um 
discurso comum. Ouvimos esse brado já em Monteiro Lobato e em outros autores da mesma 
geração. Porém, em 1922, aconteceu a “Semana de Arte Moderna”, marcando o desejo de 
inovar nas linguagens artísticas. Nesse momento, o romance de Oswald de Andrade estava 
em processo. Surgiram vários manifestos, revistas, espalhados pelo país todo, algumas com 
caráter nacionalista, outras preocupadas em entender, sem ufanismos, a identidade brasileira ou 
a multiplicidade de identidades. 
“ A caracterizaç ã o se faz por meio 
de um detalhe caricaturado do 
corpo. O estilo sinté tico tem um 
exemplo criativo com “silê ncio tic 
tac da sala”, no lugar de “barulho 
do reló gio na sala silenciosa”. 
Observe-se ainda como o texto 
alude à dispensa de um professor, 
cujas ideias religiosas (Deus era a 
Natureza) divergiam do Catolicismo”
20
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Modernismo no Brasil 
Vamos ver alguns aspectos históricos e estéticos do Modernismo no Brasil.
Oswald de Andrade viaja a Paris e entra em contato com os manifestantes futuristas, volta 
ao Brasil em 1912. (Podemos associar a viagem que relata em Memórias Sentimentais de 
João Miramar à do autor).
Resumidamente, o Manifesto Futurista (1909) de Marinetti (1876-1944) anuncia o 
compromisso da literatura com a nova civilização técnica, o combate ao academismo e a 
exaltação ao culto às “palavras em liberdade”.
Graça Aranha (1868-1931), embora sua obra Canãa, lançada em 1902, se situe mais 
próxima de Euclides da Cunha do que de Oswald ou de Mário de Andrade, apoiou a nova 
geração, promovendo a “Semana de Arte Moderna”. Seu apoio foi fundamental porque já era 
reconhecido no meio intelectual brasileiro. Era diplomata e membro da Academia Brasileira de 
Letras e viveu na Europa de 1900 a 1921, conhecendo de perto a agitação intelectual da Belle 
Époque. Ele também assimilou o sentido geral de renovação literária.
No Brasil, houve uma exposição histórica de Anita Malfatti, em 1917, ano em que ela volta 
de Berlim e de Nova York. Nessas viagens, a pintora assimila novas tendências inclusive uma 
pincelada expressionista. Houve burburinho, por ocasião dessa exposição, com um artigo de 
Monteiro Lobato criticando “os estrangeirismos”: “(...). Estas considerações são provocadas 
pela exposição da sra. Malfatti onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude 
estética forjada no sentido da extravagâncias de Picasso & Companhia. (...)”7 . Depois o autor 
retratou-se, inclusive pediu colaboração dela para fazer capas e ilustrações para os livros de 
sua editora, mas esse artigo e sua repercussão acabaram por afastá-lo, momentaneamente, do 
grupo que promoveria a Semana de Arte Moderna. Foi uma lástima, visto que Monteiro Lobato 
também era inovador em muitos aspectos.
O grupo de jovens intelectuais passou a se reunir e a discutir aspectos estéticos, combatendo a 
arte acadêmica, continuando a divulgar pela imprensa muitas de suas concepções inovadoras. Em 
1919 integrou-se ao grupo o escultor Victor Brecheret, recém chegado de seus estudos em Roma. 
Semana de Arte Moderna ( 13 a 17 de fevereiro de 1922)
Capa do catálogo e cartaz 
da exposição criados por Di 
Cavalcanti
7 LOBATO, Monteiro. Idéias de Jeca Tatu. 2a.ed., São Paulo: Revista do Brasil, 1920. p.93-101.
21
O ano de 1922 é simbólico para o Brasil, pois coincide com o centenário da Independência. 
O fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) influenciou tanto o crescimento econômico, 
principalmente, o crescimento da indústria, como as relações políticas e os costumes. Sobre esse 
momento histórico e social brasileiro, Antonio Candido e José Aderaldo Castello escreveram: 
(...) surge uma mentalidade renovadora na educação e nas artes, como se 
principia a questionar seriamente a legitimidade do sistema político, dominado 
pela oligarquia rural. Torna-se visível, principalmente nos Estados do Sul, 
que dominam a vida econômica e política, a influência da grande leva de 
imigrantes, que forneceram mão-de-obra e quadros técnicos depois de 1890, 
trazendo elementos novos ao panorama material e espiritual. Em 1922 irrompe 
a transformação literária, ocorre o primeiro dos levantes político-militares que 
acabariam por triunfar com a Revolução de Outubro de 1930, funda-se o 
Partido Comunista Brasileiro, etapa significativa da política de massas, que se 
esboçava e que avultaria cada vez mais.
(MELLO E SOUSA,Antonio Candido; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da 
Literatura Brasileira. 8a. ed. São Paulo: Difel, 1981, p.7-8).
Os autores descrevem nesse trecho, panoramicamente, o momento social, político e 
econômico dos primórdios do século XX.
Semana de Arte Moderna
A programação da semana é a seguinte:
Aconteceu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. 
Foi aberta com a conferência de Graça Aranha: “A emoção estética na arte moderna”, a que 
se seguiram números de música e de declamações. Na segunda parte, Ronald de Carvalho 
pronunciou a conferência: “A pintura e a escultura moderna no Brasil”. No dia 15, houve a 
conferência de Menotti del Picchia: “Arte Moderna”, na qual foi vaiado. Mário de Andrade, no 
intervalo, pronunciou uma palestra sobre a exposição de artes plásticas no hall do teatro. No 
dia 17, Villa-Lobos fez apresentações de música. Estiveram presentes Guilherme de Almeida, 
Ronald de Carvalho, Elísio de Carvalho, Oswald de Andrade, Renato de Almeida, Luís Aranha, 
Mário de Andrade, Agenor Barbosa, Moacir de Abreu, Rodrigues de Almeida e Sérgio Milliet. 
Manuel Bandeira e Ribeiro Couto mandaram poemas para que fossem lidos.
Sobre esse tema há muita bibliografia: 
Sobre o Modernismo no Brasil, consultar a enciclopédia do Itaú Cultural, inclusive tem um pequeno 
vídeo esclarecedor sobre os primórdios da semana, sobre a exposição de Anita Malfatti, há 
possibilidades de visualizar as principais obras modernistas. Disponível em: https://goo.gl/eJ1P5Y
Sobre a Semana de 1922, consultar o site da Prefeitura de São Paulo, no sistema municipal 
de bibliotecas. Nesse site, estão disponíveis vários artigos, teses e ensaios sobre esse período, por 
ocasião da comemoração dos noventa anos da semana. Disponível em:
https://goo.gl/JKjpej
Há também um vídeo da Globo News: “Semana de Arte Moderna - 1922” que vale a pena 
conferir, disponível em: https://youtu.be/tJKYZdGU4rA
22
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Nesse período da literatura brasileira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade foram 
figuras centrais, participaram ativamente, escreveram manifestos, romances, poemas e artigos 
que refletem um modo de escritura novo. Dispomos, a seguir, uma lista de textos e revistas 
fundamentais para a compreensão da história da literatura e de um momento transgressor na 
literatura brasileira. Transgressor principalmente em questões do uso da linguagem e na forma 
como os limites entre os gêneros foram ampliados. Não deixe de consultá-los para ampliar e 
aprofundar seus conhecimentos sobre esse importante período da literatura brasileira!
Primeiras manifestações do Modernismo no Brasil
• “Prefácio Interessantíssimo” de Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade. (1922).
• Revista Klaxon: considerada a mais radical das revistas de vanguarda. Os primeiros 
artigos falam da arte moderna, assinados por Mário de Andrade, Oswald de Andrade e 
Menotti del Picchia. (1922).
• Manifesto Pau-Brasil, de Oswald de Andrade. (1924).
• Memórias sentimentais de João Miramar - Oswald de Andrade. (1924).
• A Escrava que não é Isaura - Mário de Andrade. (1925).
• Manifesto do Grupo de Cataguases. (1927).
• “Manifesto Antropófago”, em Revista de Antropofagia, Oswald de Andrade. (1928).
• Macunaíma - Mário de Andrade. (1928).
• Manifesto Nhengaçu Verde-Amarelo. (1929).
• Serafim Ponte Grande - Oswald de Andrade. (1933).
Esses textos são extremamente importantes para compreendermos a abrangência e o impacto 
que essas obras causaram na literatura, na música e nas artes plásticas.
SCHWARTZ, Jorge. Vanguardas latino-americanas - Polêmicas, manifestos e 
textos críticos. São Paulo: Iluminuras/ EDUSP, 1995.
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e Modernismo brasileiro. 
Rio de Janeiro: Vozes, 1982.
23
Considerações Finais
Nesta unidade, fizemos um passeio pelo começo do século XX, no Brasil, através do texto 
de estreia de Monteiro Lobato, “Urupês”, que trouxe para a literatura brasileira o tipo caipira, 
nomeado de Jeca Tatu. Esse texto foi considerado um texto pré-modernista, com elementos 
que prenunciam o modernismo. O criador do Sítio do Pica-Pau Amarelo e de seus personagens 
maravilhosos sabia que as crianças são seres pensantes. Esse é outro tema que poderíamos 
discorrer eternamente. 
Em contrapartida, estudamos trechos do primeiro romance da prosa modernista brasileira, 
Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade. Nota-se a inovação que 
esse autor traz. Ao nos determos apenas na forma, teremos vários elementos que corroboram 
para essa ideia de novidade. Em primeiro lugar, a questão de ser construído por fragmentos, que 
têm sentido por si só. Ao inovar na narrativa, o autor nos impossibilita uma leitura tradicional e 
linear da história. Depois, a inovação da linguagem e um agudo senso crítico da sociedade, da 
burguesia fazem desse texto uma grande obra de vanguarda. 
Revivemos, ainda, a Semana de Arte Moderna com todas as inovações estéticas que os 
artistas e intelectuais propunham à época. Hoje são ideias que estão assimiladas, mas 
naquele momento causaram profundo estranhamento. Foi um momento extremamente rico 
em experiências artísticas e da valorização do brasileiro com todo seu linguajar, não de uma 
maneira ufanista (criticada pelos modernistas de 1922), mas de maneira integralizada, não 
ignorando as influências estrangeiras, mas sim as deglutindo, como foi proposto no Manifesto 
Antropofágico de Oswald de Andrade. 
Foram grandes as contribuições que essa geração nos legou e que, hoje, estão incorporadas no 
nosso pensar sobre a identidade do brasileiro. Assimilamos que não há uma identidade brasileira, 
mas muitas, infinitas e que cada novo texto lido e escrito acrescenta outras possibilidades de 
reflexão sobre o mundo, sobre nós mesmos e sobre o Brasil. 
24
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Material Complementar
Para complementar seu conhecimento sobre o tema dessa unidade, além da insistência para 
que leia as obras na íntegra, ressaltamos a importância das seguintes leituras: O Manifesto da 
Poesia Pau-Brasil; o Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade e o discurso de Mário 
de Andrade: “A Escrava que não é Isaura”. Disponível em:
• https://goo.gl/Y5T73s
• https://goo.gl/PouKE
Esses textos trazem aspectos e tendências da poética modernista imprescindíveis não só para 
a compreensão da literatura moderna como também da contemporânea. Vale destacar que até 
a leitura de obras anteriores a esse período da literatura brasileira ganham nova coloração com 
os estudos da poética modernista. 
25
Referências
ANDRADE, Oswald. Memórias Sentimentais de João Miramar. 9a. ed. São Paulo: Editora 
Globo, 1997. 
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 47. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
CAMPOS, Haroldo de. “Miramar na mira”. In: ANDRADE, O. Memórias sentimentais de 
João Miramar. 9a. ed. São Paulo: Editora Globo, 1997. 
LOBATO, Monteiro. Idéias de Jeca Tatu. 2a.ed., São Paulo: Revista do Brasil, 1920.
______________. Urupês. São Paulo: Ed. Globo, 2012.
______________. Reinações de Narizinho. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.
LUKACS, G. A teoria do romance. São Paulo: Editora 34, 2003. 
MELLO E SOUSA, Antonio Candido; CASTELLO, José Aderaldo. Presença da Literatura 
Brasileira. 8a. ed. São Paulo: Difel, 1981, 
SWARTZ, Jorge. Vanguardas latino-americanas - Polêmicas, manifestos e textos 
críticos. São Paulo: EDUSP-Iluminuras, 1995. 
SCHWARZ, R. Ao vencedor as batatas. 5. ed. São Paulo: Editora 34, 2003.
Referências Bibliográficas (disponível para consulta)
Academia.edu: http://www.academia.edu/
Brasil escola: http://www.brasilescola.com/
Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/
Itaú Cultural: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
E-Dicionário de Termos Literários, Carlos Ceia: http://www.edtl.com.pt. 
Editora Globo: http://lobato.globo.com
Portal G1 – globo.com: http://g1.globo.com.
Portal de literatura: http://www.portaldaliteratura.com/autores
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecasRevista Emília: http://www.revistaemilia.com.br/
http://repositorio.geracaoweb.com.br/20120921_160532memrias_sentimentais_de_joo_
miramar__oswald_de_andrade.pdf
26
Unidade: Pré-Modernismo e Modernismo 
Anotações
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil 
Tel: (55 11) 3385-3000

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