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HORACIO - A arte poética - Editorial inquério - Lisboa

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Prévia do material em texto

r. í CLÁSSICOS INQUÉRITO
-re~-ro 12
HORÁCIO
ARTE POÉTICA
Introdufão, Trlldufão e Comentán'o de
R. M. ROllldo' Fer.nllndeI .
tllI
FlI&uldlldede Letrlls de Lisboll
I
\. I )
j - ),"
..,
~~.
li]
EDITORIAL INQUÉRITO LIMITADA
LISBOA
NOTA À PRESENTEEDIÇÃO
Esteve unJa antenor edição portuguesa da Arte
Poética horaciana esgotadfl durante vádos anos. Por
serpeça indispensávelpara a.compreensão dajeitu-
ra da obra literána, por ter influencIado até ao sé-
culo XVIIIa literatura ocidental, foi essaediçãopro-
curada. Por ser procurada, tomou-se rara e, I!ma
vez quase desaparecida, tem sido submetida ii tor-
tura de fotocópIas sem número. Não se sabe como
se sentem os livros, mas alegramo-nos com a pre-
sente edição da Inquén'to, que aparece quase inal-
terada, excepto no que respeita a indicações biblIo-
gráficas, que foram actualizadas, e a dois ou três
casos do texto português, que foram melhorados.
.' ),.~. ,:~ ~
f '!
À MEMÓRIA DO MEU"QUERIDO MESTRE
PROF.. SCARLAT LAMBRINO
E EM LEMBRANÇA
DA SUA GRANDE BONDADB
B VASTA ERUDIÇÃO.
II
. ~
r
I
I
~,
PREFÁCIO
:.:~:~
\ ~~
n,
:.::
:i
!J:'""
t
'.
A presente edição tem como único fim proporcionar "/~~;~
mais um instrumento de trabalho aos estudiosos portu-' ;~;
gueses interessados no conhecimento da teoria literária ,fi:
antiga e da sua influência nas literaturas modernas. Fal- '".I
tava-lhes, com, efeito, desde há 'muito fempo, uma tra- , "',
dução portuguesa da Arte Poética horaciana e faltava-',;
-lhes, sobretudo, a edição desta, acompanhada por wn ",:':
comentário actualizado. Este lhes permitirá averiguar ::~;
em que medida progrediu, neste nosso século, a ciênCia, ~~,t~
filológicaocupada em' esclarecer este texto fundamental ',~~
de Horácio. ",
Tal carência foi a razão mais preponderante, sem' "
fatar do meu gosto por Horácio, que me levou a abordar
o assunto e a levá-Io a cabo, muito embora não igno-
rasse as dificuldades e as contingências de tat empreen- o"~.~'"
dimento. ~:;-~
Não deve o leitor procurar, no que se lhe apresenta . ,.'A
no comentário, originalidade de métodos e de matérias. ',:ii.;..1
Não é possível, sem ser a tongo prazo, fazer investiga- ".:~!~
çõesoriginaissobre o texto da Arte Poética,pois a bi- " . ~';~
bliografia'fundamental sobre o assunto amontoa-se desde ~",I{~, '..t,>
há séculos e, ainda que de qualidade desigual, a verdade '::',1
é que o seu conhecimentose torna indispensável. Ora ele
~
~/
.
'
, ,
"~"..
'1.,9
;,'1
!;..
"o
só é materialmente possível, pela leitura aturada de
vários anos.
No entanto, para suprir essa lenta posse de conheci-
mentos e ideias, decidi tomar como fontes orientadoras
da minha infonnação os estudos mais modernos sobre
Horácio e a sua Arte Poética, entre os quais se salientam
os de Rostagni, Perret e, muito especialmente, o de
Brink. A estes utilizei-os profusamente.
Quanto ao plano, é este livro, por assim dizer, canó-
nico. Na introdução, situei a Arte Poética no meio am-
biente em que foi criada e assim também no lugar que
lhe compete no brilhante processo e evolução da obra
horaciana. Não descurei igualmente a problemática que
subsiste, no que respeita a estrutura do poema, as suas
fontes e a sua finalidade. Por fim, tomei em considera-
ção as edições portuguesas da Arte Poética, para que o
leitor possa fazer uma ideia segura do interesse desper-
tado, no nosso país, por este texto.
Na tradução, que confronta o texto latino, procurei
observar com fidelidade o texto original, fazendo o pos-
sível para que o lei~or o sinta em todas as suas caracte-
rísticas de documento literário, feito por um espírito
perspicaz c crítico.
No tocante ao comentário, é ele o mais completo pos-
sível, sem que esteja demasiado sobrecarregado por mi-
nudências inúteis, que em nada facilitam a compreensão
do texto e que não intcre~sam senão ao especialista.
Atendi sobretudo às dificuldades levantadas pelo con-
teúdo, mas esclareci também os aspectos mais insólitos
10
"
. \~;';1j
da .fonna, ou seja, da língua e da estrutura do discurso ;;~:~:
horadano. ;U
O rrexto !Latinofundanrenta-se printipalme:DJte nos :!:!
textos estabelecidos por Villeneuve e Klingner, cujaS"'"
edições estão citadas na bibliografia. Só se introduziram algu': "
mas Jigeiras alterações no tooante à ortogtra'M, como, r'
p. ex., na SIUIbstimiçãode uolt poc uult (v. 348), a tim
de Ifadlâtar a lCompreensão dos versos horaJCianosao 1citoc
mmos wrsado na leitum do !la:tim.ÜX'aJá1Cstaedição Jhe
sirva de algum 3JUXÍ1io.
Cumpre-me recordar agora a contribuição dada a
este trabalho pelo Prof. Scarlat Lambrino que a morte
acahOlU'de ro1.1lbac,tão bru.scam'enite, à nossa convivên-
cia. Ele leu e melhorou o original com várias sugestões
ditadas pelo espírito crítico, severo e justo, que todos
lhe conhecíamos. Também ele deveria ter escrito o pre-
fácio para esta edição, se a morte o não tivesse sur-
preendido no meio dos seus trabalhos. Todas as palavras
são poucas para descrever a sua acção benéfica de di-
dacta e investigador, mas estou certo de que a obra dos
seus discípulos a comprovará largamente, pois, através
deles, a sua figrura c<mt:inuará a viver.
Rcsta-me agradclCcr 'ao Prof. Prado Coelho o interesse ':'f'
que demonstrofll na pu,blicação d€5te traJba:1hoe ao meu :11
Amigo António Coimbra Martins a paciência com que',~'
leu o origmaJ e as sugestões com que enriqueceiU este),
Hwo. Dese10 finalmente ~embraTa colaJbOlraçãodada pelo.
Dr. Vidolf Buesou na COITelCçãodas pro:vas tipo:gráficas .
e no melliocamento de vários pornlenores.
,'o,.
INTRODUÇÃO
HORÁCIO E A SUA ARTE ,POÉTICA
Foi na Apúlia e mais precisamente Vida
em Venúsia que QUi1Z.tusHoratius Nasc. 65 a.C.
Flaecus nasceu, em 8 de Dezembro
de 65 a.C. Ele próprio o diz nas Odes., lI, 17, 1'7 e
se.gs., referindo-se aos signos astrais que presidiram ao '
seu nascimento. Filho de um libertus (escravo forro)
que, .entretanto, grangeara uma 'posição e uma pequena
quinta, foi enviado poT seu pai a estudar .em Roma
com o retor Orbilius, sentando-se nos mesmos bancos
que os filhos de senadores e cavaleiros, seus condis-
cfpwos. .
Continuará os estudos em Atenas e, aos vinte anos
(44 a.C. ), alistar-se-á ([10exéocito de Bru.to como tri-
bunus militum. voltan,do a Roma em 42, depois do
desastre d~ FiIiJpos,que levara Bruto ao suicídio.
No retomo a Roma espera-o a adversidade: o pai '
morrera, e a pequena quinta, que possuía, fora confis-
cada. A pobreza espe:rava-o, pois, e s6 com o trabalho
quotidiano a poderia Horácio enfrentar. Emprega-se
então como seriba quastorius. ou seja, qualquer coisa
""o
"O
,.:
"
. .1:, ::~,.,
Il~.
13 -'.:1
corno amanuense do. Mhustério.das Finanças, sem qu.e,
todavia, deixasse -aocupação que lhe era mais agradáveJ,
a pu'blicação de versos, que o ajudava a aumentar o
pecúlio mensal.
Foi exactamente nesta fase difícil que travou conhe-
cimento com Vário e Virgílio que o.apresentaram a Me-
cenas, proporcionando-Ihe, por volta de 38 a.C., u.m
lugar no círculo de literatos que se reünia na casa do
grande benfeitor das letras. Com est-a entrada para
aquela sociedade .de artistas e escritores, começa.rá!para
Rorácio uma nova era de sucesso literário, de melhoria
financeira e uma 10nga amizade com Mecenas e alguns
dos poetas ,protegidos !por este. Também, como conse-
quência nélJturaldo meio qruepassara a frequentar, as
suas relações sociais eSltenderam-seàs peTSOnalLdadesdo-
minantes da Roma de então e chelga!fammesmo ao pró-
prio imperador que iguaI.menJte.passoo a protegê-'lo. M-
guns anos depois, já Roráeio estava definitivamenJt:e
Hberto das preocupações fiinanceil1'~e na jpOSSe reconf01"-
tante de .uma propriedade na região sa:bina, que, com a
sua casa de Roma, fOTmavaum dos dois poWsque deli-
mitavam a sua existência de: homem e de a.rtista. Em
Roma, desejava 1er :a.rtran.quilidade,a simpliddade que
o espeTavamna sua quinsta.Uma vez nesta, :porém, logo
lli.evoLtavao sPleen da vida tUJr.buJlentame:niteintelectual
do meio artístico de Roma..
A obra poética que nos deixou é o
reflexo da sua persOinalida.deequili-brada, sem seTdemasiado satisfeita, do seu carácter am-
bicioso, sem que por isso fosse possuído por eterno des-
contentamento. Combinava um bom-gosto muito seu,
uma ironia prazenteira e um labor incansável, com os
resultados da sua experiência poética, com a leitum da .
poesia ~rega e romana e com.os conhecimentos teóricos
que aprendera na escolade Orbnio, nas escolas de Atenas.
e nos estudos qruefez pela vida fora.
Desta some, a sua obra-em que a dx."'l\ (ars)
grega se combina a:dmiràve1mentecom o Italum facetum
e com a ironia que ao poeta. era peculiar -, ainda que. "~
apreSentecerta diversid3lde,não deixa de estar /Unida<' .../t
interiormente pelo seu equilíbrio e \bom senso !estético. ':' '."i
!
: p~';~.
Im~j\:',~'
a ~esia, comprazendo-se em pu.blicar poemas que, aind~?,:w.~';'na Juventude, o tomam célebre. "'!:IU~.,
.
'
~'~','I.;. 'J'
'nf.'.. '''t!''
Obra poética. {~il~
:i.llj
':;1
.,
Até à sua morte, em 27 de Novem-
bro de 8 a.C., nunca mais rubandonou
Morte 8 a.C.
Rorácio inicia-se e dá-se a conhecer Epodos
ao grande público com os Epodos
(iambi) !emnúmero Idedezassete, compostos entre 41!e
311a.C. e publicados em 30. Embora :ainda incipiente
e imaturo, o poeta já aqui nos traz inovações importan-
tes, como ele pt'óprio diz, ao dar a conhecer ao Ládo ,
os jambos de ATquílocode Paros (EPíst., I, 19, 23-5). ":,:!
Neles se ocUlpada crítica socioa1e !política'- não tão... -~":'i
.
:
I
I
.
mordaz e pessoal como a de Arqufloco -, do amox e da.. ':!
tranquilid~de que a vida do campo proporciona. ,;.'
.;
~
~
"
15 li
:r.~"
14
I
,
~ti;: :~os Epodos seguem-se as Sdtiras Sátiras
l~:~i4'<Satul'tBou Sermones) constituídas por
~~~~dC>islivros (o primeiro, puhlica:do cerca de 35 a.C., con.
~;~\~:aémdez poem~s, e o segundo, que.vem a lume cerca .de
J:{;~30, contém OItO), em que HorácIOapresenta temáhca
F., ,variada que percorre todas as gamas da vida rontempo-
t, rânea e da sua pr6pria vida. Tomando Lucílio, o velho
poeta satírico, como seu modelo romano, Horácio vai
dar um novo rumo.à sátira tornanda-a ~ais dúctil, mais
bem humarada: tem a arte de a Ifazer tão contun-
" dente como a do .seu modelo, mas menos directa e me-
r.~,nos grosseira. Os temas vão ,desdea .gastronomia, litera~
h .:; tura e abservaçãa de tipos sociais, à .descriçãodos plais
Ü',;:,Iin~~ifican~s. incidentes da vida quotidiana, e. nelesr ,.:.semeIa HoraclO, a cada passo, pormenores autoblOgrá-
~",' ficos, ideias literárias, morais e filosóficas, :nas quais
sQbressai notável tendência e-picurista, a que apregoa o
meio termo.e o prazer modera:da.
lembra:r os pequenos {ugau:-es(fonJtede Bandúsia) , qJ\.tJe,de
qua:lquer modo, lhe tinham agradado e excitélldoa ima-
ginação. A sede de perfeição que nas Odes se' revela,
já não escapara ao juizo da antigui.da.de que diz, pela
boca de Quintirliano, que «dos líricos é o mesmo Horácio
quase o único digno de ser lido, pois se inspira por vezes
e está. cheio de aJe.gria e ;bele~a, é múltiplo nas figuras,
audaz, cam extremo ,bom gosto na escala das pala-
vras» (1). Este juízo da antiguida:de define com exacti-
dão, julgamas nós, tudo qu.a.:ntose possa. pensaã acerca
do poeta.
1,
"
",
É, no entanto, nas Odes (quatro li- Odes
vros e cento e três poemas) que Horácio
mais se evidencia pela veia poética, pela técnica aJPurada
de versifica:do're pela linguagem tersa e sempre apro-
pria;da aos temas de que se ocupa. Estão compostas nos
mais variados metros gregos, desde as antigas estrofes
alcaicas e sáficas, à estro,feasclepiadeia da época hele.-
nÍstica. Nelas trata Horácio dos temas que mais lhe inte-
ressam, comprazendo-se em cantar os feÍ1tosde homens
politicas, em louvar os deuses e os seus amigos, em
Já no fim da vida encamenda..-llie Carmen
Augusto um hino.à maneim sáfica dedi- Saeculare
cado a ApoIo e Diana. Compõe Horácio
então. o chamado Carmen Sceculare,que foi cantado nos
Jogos Seculares de 17 a.C. f:>Orum cora .de 27 raJPazes
e 27 raparigas. Nele se celebram, em hábil combinação
de misticismoe patriotismo, a glória de Roma e os bene-
fícios qtie a ddade colheu da genial a:dministração de
Augusto.
Finalmente restam os dois livros das Epístolas
Epístolas. O primeiro, com 19 canas, foi
('I) Inst. O,.., X, I, og6: <At lyricorum idem Horatius foce
60ius legi dignos: nam et insurgit aliquando et plenus est
iucund-itatis et gratiée et ua.rius figuris et uerbis felic:ssime
audax.>
16 INQ11- 2 17
, ..,
".
.1
."
...
prublicadoem 20 a.C. Nele se encontra uma verdadeira
filosofia da vida, em que o poeta, já amadurecido pelos
anos e na posse de larga experiência, só foca o ess~nciccl
e despreza o acessório. Basta lembraT a Epíst. I, 11',
. escrita para combater a angústia de um amigo, a quem
Horácio diz que, por mais que procure, só nele próprio
encontrará a paz: «os que COITemos :mares, mudam de
céu, mas não de espírito» (2).
Vemos que começa a;gora, no dedínio da 'Vida, a acal-
mar-se, tendendo para uma filosofia, em que entram
elementos do epicurismo, de que se considera fiel adepto
(diz pertencer ao rebanho de Epicuro, Epíst., I, 4, 16)
e do estoicismo. Resta saber se este estoieismo foi él!pren-
dido nos livros .de filosofia ou na sua experiência da vida.
No livro segundo das EPístolas (neste só se contam
duas), entre.ga-se Horádo inteiramente à crítica literária.
É neste capítulo que vai integrar-se a Arte Poética.
J:'..
A Arte Poética, contudo, não surge Sátiras
sem fUmaprévia evolução, que 1entare- Literárias
mos csboçar. Já quando das Sátiras,
Horáeio procura teorizar os seus conhecimentos de poé-:
tica. Em três sátiras compostas por volta de 30 a.C.,
I, 4; I, 10; n, I, tenta responder a certas questões teó-
ricas de poesia. I, 4: - O que constitui um bom poema
e como pode averiguar-se a sua qualidade; I, 10:-
(2) V. 2]: cCCElum, non animum mutant, qui trans mare
currunb.
18
'-if'
N.
,Ú.. Horácio marca a .na posição lirerária, colocandO-<;eentre~~
os modemizantes da escola :deCatwo e Calvo e os aTcai-
zantes admiradores .deLucílio. Começa já a defender um
princípio que veremos aparecer na Arte Poética: os escri-
tores .latinos devem formar o seu .gosto na leitura das
letras gregas; lI, 1':- Horário defen.de-sedos seus crí-
ticos, fazendo a sua apologia por 'meio de um. diálogo
seu com o jurisconsulto Trebácio.
'I~,"
Nas EPístolas, veremos mais patente Epístolas
3Jveia crítica de Horácio. A Epíst., I, Literárias
19, dedicél!daa Mecenas, procura servir
de defesa contra os críticos, que o acusa- Epístola a
VIamde imitação. É Horácio, porém, que Mecenas
disso os acusa dizendo: «Ú imitadores, 6
gél!doservil!», pondo neles os defeitos de que o arguiam.
Defende-se, depois, mostrando em que medida fora ino-
vél!dore original dentro da poesia de Roma, ao introduzir
novos temas e novos metros, ao dar aoconhecer ATquí-
loco, Safo e Alceu.
Mais importante do que a anterior
é a epístola a Floro (lI, 2), na qua:l o
poeta explica as i"azões'que o levaram a
não publicar mais no ,domínioda Unca. É que ele agora
não escrevia, porque tinha o suficiente, porque estava
velho e porque, enfim, Roma estcl:Vademasiél!dobam.
lhenta. Além disso, todos devem, no fim da vi.da, voJtar
à meditação e à filosofia. Entretanto, critica o baixo
Epístola
a Floro
19
~~:t::",:~ .'".'
...: ~
.~~'),
, 11t
nivcl da poesia: ramana, pela fatta de cuidada que os
poetas denotam na língua poé.tica que usam. HOTácia
disserta sobre as razões de caráCter retórico-poética que
presidem à escolha de palavras e à composição .da frase,
tal cama !fará postexiormente na Arte Po~tica. Como
.;' nesta, já começ.aa defender a prindpio de que a poeta
I,:"':,deve ser um técnico da língua e não simples _amador.
i): 'H?rácio aparece-nos, II1eStepoema, como fteorizador da
I'. . literatura e coma ;gran.deesmista, esses mesmos aspectos
com que se revestirá e se afirmará definitivamente lIla
ArtJePoética.
EmooJ1anumerada, nas edições de
Horácio, antes da epístola a Floro, a
epístola dedkada a Augusto Pertence a
data posterior. Cam ela vem o poeta responder ao impe-
rador que demanstrara desejade possuir uma cma sua,
tanta mais que Horácio já enviara epístolas a outros seus
amigos, menos importéllIltes.Nesta :altura, porém, estava
Hõrá~io ocupa.docom a pu.blicação do quarta livro das
i.. Oàes e não podia pretexta:r, como 'fizera na; carta a
I.:;:~"~~.flõro,a3Jbandono da poesia, além de que, nesse mesmo
t~ti)liyro das Otks, havia cinCo.!poemasdedicados ao própria
W'j;f\:ugusto.Assim, vai agora escrever, na epístola ao impe-
~~:('!l#dor,sobre um tema que a ambos interessava: a posição
.,;~!~tp~poeta e da poesia lIlaRoma cantemporânea. Natural-
I~H~iDenteque a opinião do poeta devia diferir da que o
1;~:;(.,po1íticoperlilhav.a, mas Hor~cio s3!bedefender-se hàbFI-~i(,~<ij~mente de qualquer campromIsso.
Epístola
a Augusto
......
Só :trêsgéneros poéticos serão.apreciados: a dramá- '.-
tica (vv. 139-213), o épico (vv. 214-270) e o lírico
(vv. 132-138). que ocupaxá um lu.gar modesto. Trava
discussão. sobretudo, acerca .dos tópicos Jiterários que
lhe eram caros: o antigo e o moderno; o grego e o ro-
mano; a poeta e a sociedade. Es~e último tinha muita
importância, vista 'que anuitos poetas (coma Virgílio),
abandonando a poesia subjeotiva, se tinham dedicado. à
caitsa; de Rama et da Estado, carutando a grandeza de
ambos.
Mas Horácia não. toma partido por qualquer poS'ição
extremista: não é arcaizatnte, mas tão-pouco é modemi-
zante em toda o sentido. Se é he1enizante,é porque julga
que. a cultura refinada dos Helenos poderá traze'r a:1gum.
I" ~;I
bem ao talento agreste dos Romanos. Quanto à função ~.:jf
do poeta na socieda"de,acha que este Ilhepode ser útil, ",:',
sem que, contudo, perca todo o seu individualismo.
Tudo. o que apregoa, já Horácio pusera em prática na
poesia até então publicada e isto era a garantia de que
os princípios que teorizava levavam, de facto, a uma
poesia euidada .e ,de excelente IIlfv,el,qualida;des 'que ele
tanta prezava.
.-':.
Incluída na ;grupo das epístolas (3)
encontra-se a mais extensa e importante
composição, a EPístola ad Pisones, es-
crita em hexâmetr03 daotilicos,sobre teo-
.~...~"
:~~~f;
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I !
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. ..~~.
: ,:....
ARTE
POÉTICA
Título
..
(3) Algu.ns autores consideram a A. P. como a. rerceira. epís-
;1';
21
. .
tola do ilivro II. Outros, porém, falam da. A. P. como
sendo um poema independente. Vid. Horatius, Opera,
00. F. Klingner, :Upsia,I959, ip. 294. Quintiliano, Inst.
Or., vm, 3'. 60. refet'e-se à A. P., como se um poema
à parte constituísse:. <...Horatius in prima parte 1ibri de
arte poetica...~ Cremos ser esta segunda Mpótese a que
mais se a!,«"oximada veTda.de.
(4) Inst. Or., Epíst. dedicatória a Trífon, 2.: <...usus deinde
Horati consiJio, qui ,in arte poetica 6uadet...~
(5) Vid. n. 3.
(6) Será.este o titulo escolhidona nossa.tradução.
por si, uma tradição mi,lenária e, afinal, são mais qu.e/i~
suficientes paTa servirem de epígraJe a um poema. ' ,
:\
1
O poema de Horácio é de,dicado aos Dedicatória' \
Písones, peTsonalidades romanas, ruja
identificação nos interessa sobremaneira para determinar
dois pontos tundamentais: a ,data aproximada do poema
e o seu escopo. Efectivamente, contribuiria para o conhe-
cimento da rfinalidadecom q.ue Horácio escreve a A. P.
o simples facto de se ,determinarem as adividades lite-
rárias .dos Pisões, e, Ibemassim, a data da composição
do poema ressaltaria com mais clareza, desdeo momento
em que soUlbéssemosquando eJesviveram.
Mas a tarefa não é fácil. No entanto, Porfirião, o
comentador de Horácio, e 'que, segundo toda a verosi-
milhança, devia estar em melhor posição ,do que nós .
para identificar os Pisões, diz-nos que a A. P. doi dedi..;."'"
cada a Lúcio Pisão e a seus filhos, ao Pisão que poste- ."
dormente foi custos urbis e que em poeta epatrono das
artes Ii:berais~ (7). · .
ifia 1iterária. Quintiliano chamar-Ihe-á (4), aa,g.umasgera-
ções mais tarde, «ars poetioa» ou ~de arte poetica
Hber» (5), títulos que se tornaram os mais conhecidos
e que possivelmente já caracterizavam a epístola antes
de aparecerem citados na obra ,do grande retor. Houve
também qu.em desejoassecombinar os ,dois ,títulos possí-
veis e ,assim aparece a carta. poétic~ designada como
Epístolas ad Písones de arte poetica. Este título deve ter
sido motivado igualmente pelo facto ,de não estarmos
diante de um ;tréLtado,como daria a entender o Ars poe-
tica ou De arte poetíca, mas de uma simples cart-a aos
Pisões, onde se formulavam alguns princípios que, por-
ventura, também poderiam aparecer num compêndio ,de
retórica.
Cremos, no entanto, ser preferível utiliZiar os títulos
Ars poetíca (6) ou Epístola ad Pisones, os quais, muito
embora não dêem a enrendex tudo o que se encontra no
poema, e possam mesmo 1evar a certa ambiguidade, têm,
Se admitirmos esta identificação Data
que é, sem :dúvida, a mais provável"
I somos forçados a aceitar concomitantementJeuma data.ti
(7) Comentário à A. P. I': chunc librum... ad Lucium ~i~r
nem, qui postea urbis custos fuit, eiusque l1beros mi~'
nam 'et ipse Pie<>poeta. fuit et studiorum liberali'"
a:ntistes:..
1.,-
,
..
22
>:;1_. "
~~~yistoque Lúcio Pisão fora. cônsul com Augusto
,i'i5 :,,~.ç. No entanto, esta identifik:açãonão satisfez
!iP.~eruditos (J. H. van ~en e A. Michaelis), que,
:~,pela co.nvicçãode que o poema .tratava de maté-
.àS:qp.etinham .deter fo.rçosamenteuma data anrerio.r
;~~~~:~o~bra hOl1a(:ian.a , formularam hi'p6teses em que ten-~~~\~.o ,
(t,~J.~o reivindicar para o poema horacian~ uma data
J'~:';~~o.r, partindo. de outra identificação, a do Pisão dai:' A P G CaJ " n:~- ~ A~.:.: ;. .. com . neu pumlO ,C'ól:>aoque ~o.ra Co.nsu'( em
~
i.~o:O
.
2
.
~.~,; ~
.
~~C: juntamente c~m ~~us~. Fal~a, c~ntudo., apo.io.
~;:~P~fICo. para esta IdenbfIcaçao, paIS nao co.nsta que,- -,.- ..
r~~rg~~uPisão fosse amigo das letras nem tãa-pouco que
fl~~Yessedescendência. .
tt%~j,)\.. ~rdade é que, de Lúcio Pisão, sabemo.s que per-
1
1::7i~ciade facto a Illmafamília cam reconhecido inreresse
f{~~~~, éU1:e~,muito embora nada saibamas sobre' a sua,o'
J!%>" d dA.:;:! escen enCla.
Levanta-se, .parém, o.utro.problema quanto. à idade
de Lúcio.Pisão.. Ele, que nascera em 49 a.C., na data
da publicação da A. P" j~ Itinha filhos em idade de
escrever poemas, ou pela menas, de estarem interessados
em fazê-Ia. Isso leva-nos a conferir dat.a bastante tardia
ao.poema.
Mas neste do.mínioda crítica externa, isto.é, das ele-
mentas exteriares ao.poema, ainda há outras dadas que
'0 foram utilizado.spara datá-llo.em époc.anão ,tardia. Estes
',,:'argumento.snão são de malde a co.nvencer, visto.que as
;; 'r~erências a ,persomclidadesda época não se apresentam
I'~' A _..J
1de tal modo cLarns,que sejam decisivas para a dad:açOO
/";'
: i~.
, , .
24'
I."
(d. comentário aos ViV.55, 387, 438, etc.) .O único dado ..
que prevalece, apesar de certas reservas que se possam
fazer, é a personagem a quem o poema está dedicado.,
Lúcio Pisão, e co.m este a data do seu nascimento,
49 a.C., Ieo facto de o.Sseus filhos já estarem em idéllde '
de compor poemas. Tudo isto. 1eva a. admitir, co.m J.
Perret, a possível data de 10 a.C., ou, mais C3:ute\.
lasamente com Brink (8), a passi,bilidade ,de a A. P.
ter sido campos.ta depois de 14-13 a.C. A data tar-dia
parece impor-se, tanto mais que a crítica interna também
a auto.riza.
Com efeito, o poeta, vv. 304-306, afinna que (mil
scrihens ipse, docebo», i. e. que, !n3JCluelaaltura, não.
se dedicava à poesia lírica, pois Ho.rácios6 co.nsiderava
como.es.crevero compor poesia -lírica (9). No entanto.,
também poderia admi.tir-se a intel1pretação de Plessi&-
-Lejay (10) que a.firmamfalar Ho.rácio,denão escreve~
poesia dramática, mas de, no entanto., ,a ensinar. Isto
invalidaria a utilização deste passo como.achega crono-
lógica. NélJturaJmente,estas suposições 1Joderãoter a sua
razão .de ser, e o. facto de Horácio. não co.mporpoesia
lírica no interuallum lyricum ,de 23-18 a.C. e no de
--
._0
.í-'
.;
(8) J. Perret, Horace, Paris. 1959,p. 1'90. Ci. F. Cupaiolo,
L' ePístola di Orazio ai Pisoni. Nápo:es, 1194'1.C. O. Brink,
Horace on Poetry, Prolegomena to the Literary Epistles,
Cambridge, 1'963, pp. 239 243
(9) Brink, ob. cit., ,p. 242.
(.10) Horace, CEuvres, comentário ao v. 300.
25
k
;.~:
w-
k
14-8 a.C. (8 a.C. é a datada sua morte), mostra que há
possibilidades de colocar a composição de A .P. no úl-
timo intervallum tanto mais que a A. P. é a súmula de
todos os seus conhecimentos de teorizélJdor. Não cremos,
todavia, que se possa considerar como definitiva, qual-
quer :das sOlluçõespropostas, visto faltarem dados COll1-
cretos e indiscutíveis.
J. Pe.rreil:,por sua vez, admite a data .tardia, porque
lhe parece mais verosímil que ,a Arte Poética .suceda à
epístola a Augusto, visto não ser provável -que Horáeio
tivesse dedicado .ao imperador uma epístola mais redu-
zida que a dedica:da aos Pisões, tanto mais que esta é
superior do ponto de vista da teoria literária. As epís-
toJas a que o imperador se refere na carta que mandou
a Hodeio, -lamentando-se por não Teceber nenhuma de-
las, devem ser as an~eriores dedicélJdasa FlOlro(EPíst. lI,
2) e a Mecenas (as do primeiro Ji'V'ro), muito embora
ne'Sltecaso contemos com a oposição de E. Fmenkel (11). _
Julgamos,pois, ser mais prudente seguira tradição
e admitir uma da-ta de ~omposição, ,de q.ualqueTmodo,
posterior a 14-13 a.C.
t
1-
10:1.
Depois de ler os 476 versos da
Arte Poética o leitor tem o direito de
se perguntar qual o intento pretendido
po-rHorácio. Trata-se de facto de uma
Escopo do poe-
ma e suas carac-
terísticas
(lU) Horace, Oxford, p. 383. Quanto às palavras de Angustio
a Horácio, vid. p. 20.
26
~.
i'~
- r
arte poética que o autor apresenta, ou trata-se apen~ dê --,
-uma epístola séria - se ;bem que com o tom irónico
próprio a Horádo-, em que este dá, sem procurar si~te-.
tematizar, o núcleo das suas ideias sobre poesia e criàçã~
literária e sobre a rfonnação do bom poeta? ~ a -Y~i~
dade é que HOTácio,cultor' ,da poesia lírica, vai a;gorn::_
fonnular regras !para a po~sia dramática, porquêfJi(
igiUal-maneira, é CSitranho que ;taJlintento provenh~,2~'I:
um tpq~t3:._que 'Vive ~xact~ente l11umacid~de onde <>-
teatr;- não fazia parte irut~gran'Íe da ~ida soci~:-cõmõ.- . '.- . . ----
na Grécia. Para esta escreve Aristóteles a Poética, em. - .'. . '-. -----
que pd,ucamente só fala de ibeatro.
Parece-nos plausível como re9posta a estas interroga-
ções, o que nos -dizJ. Perret (12). É que no tempo de
Augusto teria havido um movimento, dirigido pelo pró-
prio impemdor, para colocar o teatro no seu devido
lugar, tanto mais que muitos dos espectáculos citadinos
tinham desaparecido, .taiscomo os .gran-desados de oca-
tóri.a forense, o que forçava o povo a ir para o circo
ver os gladia:doresou, mais l1aramente,.ao teatro. Além
disto, tam,bémélIpoiaesta ;teseo facto de Augusto ter na
realidade favorecido autores dramáticos e .de ter sélJbo-
reado com raro prazer - 13.0contrário de Harácio - os
velhos poetas .dmmáticosdo Lácio, como Plauto.
Tenta, portanto, Horáeio escrever uma epístola aos
Pisões, em que, de certo mo.do,desfaça a impressão ne-
gativa com que tinha descrito a poesiadramátic,a no
..
','
L~:J
.~
(112) Ob. cit., ip. 186 e segs.
27
Ládo, na epístola a Augusto, e dá regras, sem que pre-
tenda escrever um tratado, re.gras de eXJperiência e de
leitura para que o poeta tenha resultados estêtica.IJ1oote
mais profícuos na composição da poesia dramática.
No entanto, todos estes motivos sãO'de or.dero geral.
Mas, no particular, que pretenderia Horácio? Quereria
levar os .Pisões a escrever, e bem, obroas,dramáticas 0\1
I
pensaria .dissuadi-Ios de iÍaI intento? A esta p.ergunta não
é possível responder peremptoriamente, mas de tudo o
que lemos parece sem dúvida deduzir-se que Horácio
quereria aevá-Ios a compor poesia dramática, observando
os prindpios da!"composição Ji1erária que conduzem à
perfeição.
'. . Resta-nos ,ainda o problema de como havemos de. .
classificar esta composição. Norden (13) atribui..Jhe um
carácter dsa..gógico,isto é, considera-a uma introdução
à poesia, com a divisão ars +artífex; Rostagni (14) pre-
tende ver nela um tratado de poesia à moda de Aristó-
teiles,sem a pr.ofurndidadeda obra deste. I mmisch (15)
diz ,tratar-se de uma selecção -de problemas poéticos.
(!I3)' E. Norden: cDie Composition und Litterat~gattung der
Horaz~schen Epistula. ad P.isones~, Hermes, XL (.1905),
.PP. 481-528. Cito apud Brink, ob. eit:, pp. 20 e segs.
::'.., e 280.
(1Í4) A. Ros,tagn.i L' Arte Poetiea di Orazio, Tmim, 111930
('I'eed. 1'946).
(15) O. Immiscl1, Horazens Epistel über die Dichtkunst, Phi-
lologus, Suppl. ,vaI. XXW (19.3J2), cito apud Brink,
ob. eit., pp. 35'e 283.
'2fJ
:,.
:..--.
.'1
:'.
Steidle (16), por sua vez, aJfimla: ser um 1C0njunJtode
preceitos, mas não um tratado. Cr.emos, por nossa parte,
que na A. P. há um pouco de tudo o que se defende
nestas opilIliõessem, no enta!I1Jto,admitmmos que, seja iUIII1
tratado. A ver.déLdeé que o 'poe~a dá preceitos, mas não
os dá todos, fazendo, pelo contrário, uma selecção
daqueles que melhor coohece e de que mais g06ta e, não
se submetendo, deste modo, à ordem dos manuais esco-
lares de retórica, que, porventura, serviriam de introdu-
ção à arte da poesia. No entanto ele introduz os 'leitores,
sem qualquer intento escolar, na verodadeira essência da
poesia.
Procura sobretudo expor as suas ideias, tira:das ou
não de auiÍolfes precedentes, 'e lteniÍa prorvar que: !paJra
fazer poeg,ia não ,deve pensar o a!prendiz de poota que
a poesia é uma actividade de amador, que o poeta nasce
por geração espontânea, nem confiar lemdemasia no
talento, nas a!pHdães naturais do 'Poeta. Para que 'a
poesia seja algo de elevado, de útil à cidade, para que
alcance o seu fim educativo e estético, tem o poeta de
possuir talento e arte, e para melhorar o seu critério
literá-rio deve subme.ter-sc a traJbalho atura:do nunca des-
prezando a opinião dos críticos. Só assim, com uma
vigilânda perfcita, poderá o poeta criar poesia verda-
deiramente digna deste Dome. "
.c-"
~
(iI6) W. SteidIe, Studien zur Ars Poetica des Horaz: Interpre-
tation des auf Diehlkunst und Gedichte bezüglichen
Hauptteils ('1'-294), Wünburg, pp. 1:.t7 e segs. Cit. apud
Brink, ob. cit., pp. 35 e 283.
~.f
.'~\~
. :..:~~
'.'
..:
.'
29
... Para exprimir as suas ideias sobre a Fontes
maneira de escrever poesia, Horáeio,
além de relembrar a sua longa experiência de poeta e
crítico, não esqueceu certos rprindpios de escola e para.
tal utilizou, com certeza, fontes da antiga orítica Inte-
riria.
O escoJiasta de Rorácio, Porfirião (17), diz-nos que
Rorádo tiram da obra de Neoptólemo .de Pário (cidade
da Tróa.de) os principais elementos da sua Arte Poética:
«Nesse livro reuniu os preceitos de Neopt6lemo de Pário
acerca da arte poética, não todos, mas os mais impoT-
tantes» .
cia para o conhecimento das fontes da A. P.: o fil6logo
e pCl!pirologistaChristian Jensen pu'blicou um artigo (19)
sobre um p~piro com a obra de Filodemo «Acerca dos
Poemas», noquaJ apontav.a que havia encontrado não só
referências mais abundant.es ao Neptólemo de quem Por-
firião falava, como até fragmentos do próprio Neopt6-
lemo, que para mais apresentavam nítida conexão com
os princípios defendidos na Arte Poética horaciana.
A posição estética .de Neoptólemo, que pode ser .descor-
tinada através dos fragmentos apresentados, coloca-se
nitidamente entre :a escola modernista de um CaJímCliCo,
ou seja, 'entre o neoterismo aIexandrino e a escola mais
tradicionalista e equilibrada de Arist6teles, mas apresen-
tando-se preponderantemente com uma feição rperipaté-
tica. Neoptólemo, que, por certo, era um alex.andrino
nos versos eruditos que escrevia e na sua eru.dição, assim
como no requinte do estilo, era, contudo, arÍstotélico
na defesa do poema Jongo (Calímaco 'queria-o breve
[20], como se vê na sua frase: «um gran.de livro é igual
a um grande' mal» ) , e da /Unidade da concepção aHerária.
Qu~to à divisão da obra teórica de Neoptólemo e ,da
suapossível influência na divisão da A. P. horaciana
falaremosmais adiante.
A figura de Neorptólemode Pário, no Neoptólemo
entanto, foi pouco conhecida até ao de Pário
séc. xx, pois ras referências que a este
poeta e, ao mesmo tempo, teorizador da poética se fa-
ziam, erCl!mpouco abundantes (em Ateneu, Estrabão,
Escoliastas de Romero, etc.), carência que levou os cri-
ticas de Roráeio a dividirem-se quanto à importância
a atribuir a Neopt61emocomo inspirador ,das ideias do
poeta romano (18).
Na segunda década do século xx, ou seja mais pre-
cisamente em 1918, deu-se um facto.da m~or importân-
. .~i
('19) eNeoptolemos und Horaz~, Abhand. d. P"euss. A~:;':., . ." .
d. Wiss. (19118), XlV (1'91'9), p. 48. Cito apud BrÍ1ik~f~,
ob. cit.. p. 28, n. I. Cf. a bibliogra!ia. de JOO5en,acerCa.j~';
:"~;; !
do mesmo assunto, :na.p. 1278.. .'ti!":
(20) Frag. 465 (Pfeiffer). ;. 'tr-:';
. I'~
'.
(117) em quem Lihrum cou.gessit 'préece-pta Neoptolemi 't'oo
7tocptOC',lOÕde arte poetica, lIlonquidem omnia., sed eminen-
tissima> .
Vid. Brink, ob. cit., p. 43 e segs.(18)
30
./.
31;<.
,:.~". " "
f~\6
~
.~.'Ct~"''''..-'Jo : .,<'" "'
i, '{I. . .' .'111:. ':.:.: ~.:o o.,j ..' ./;!,: J; '~. .. ,. .
'.t~.:.; '~Lf!~. .
;H{~~f~~;dado de Neoptólemo, porém, onu-as possíveis in-
iflGêhciasse entrevêem, destaamdo-se, sobremélJIleira,a
t~an~~la .aristotélica, cnja inf.luêncÍa se. pode admitm-,
pelo menos parcialmente, como ,tendo-se infiltrado na
abra, através do próprio NeoptólemO'. No entanto, a exi-
guidade dos fragmentos que deste nos chegaram, nãO'
permitem ser-se demasi<lJda afirmativo, muito embora
saibamas que a teoria da unid<lJde,da propriedade, .do
estilO', do lI'pÉlI'OV,são princípios anstotélicos. Se olhar-
mos, contndo, p~a 13.teoria dos cinco ados vemos que
esta já nãO' pertence a Aristóteles mas aos filósofos da
sua escola, dos seus continUJaJdoresna escola de Teo-
frasto (21). Este principio, por exemplo, que vai im-
peraJr durante toda O' helenismo, ,foi possivelmente
Conhecida também -através de NeoptólemO'. No comen-
tário ao poema, contudo, poderemos 'avaliar melhor estes
problemas.
Tudo istO'nos mostra que ao l<lJdode uma, possível
influência directra .de Aristóteles eda escol,a periopatética,
temos de admitir o conhecimento destes por meio de
Neoptólema -de Pário e sua consequente influência. Além
disso, como Neoptólemo pertence à época he1enística nãO'
é de estranhar que pela sua lei.tura tivesse Horácio tam-
bém si.dO'influ.enci<lJdo,mas lev.emente, pelo que se de-
fendia na escola aJex,andrina, a qual Horácio, ao longo
da sua obra, mostra conhecer bem.
(21) Vid. comentário a.os vv. 1189-190.
32
,, ":,//;:';
Mas é Horácio que predomina entre todas estas cor-
rentes, é ele que reúne num todo os elementos das diver-
sas escolas, caadeando-oscom ~deiase estilO'provenientes
da sua experiência e t3!lento cri3ldoce formandO' um
poema que obedece aos princípios que defende.
.Apesar do esforço de Horácio para Plano
fazer .do sen poema uma obra una, este e Estrutura
tem sofrida as mais variadas interpreta-
ções quanto ao plano. Já EscaIígero em 1561 dizia. na
sua Poétka que o poema de Horácia era uma 4:MSsine
ar.te tradita.» (22). A pretensão de EsoaHgera, contudO',
não tem razão de ser, visto que nunoa se poderia ima-
ginar um poema SOIbrea arte poética obedecendo ao
sistema rígida a que se sUJbmeltea ,estrutuca fixa de um
manUJalde retórica. OUltraatitude, contrária à de Esca-
lígero, mas que nos parece igualmente errada, é a de
Dacier - e, na sua esteira, a de Cândida Lusitano-
(23), que admir.ava, na 3Iparenre:fiad.tade ordem do
poema, da beauté du désoTdre».
A crítica aO'plano da Ars Po~tka toma-se, no en-
tanto, especialmente válida no decorrer deste sécuJo,pois
os filólogos dispõem doutros meios mais segnuos. No
princípio deste século, em 1905, E. NOI'den,divide a
A. P. em duas grandes partes: Ars - 1-294fArUfex
(22) Vid. Brink, ob. cit., p. '17; Arte Poética, trad. de Cân-
dido Lusitano, Lisboa., 1758, Discurso preliminar.
(23) Cândido Lusitano, ob. cit., ibidem. Cf. Brink, ob. cit..
pp. 16-a7.
INQ 11 - 3 33
t.
- 295-476. Este esquema, com mais ou menos subdivi-
sões, será adoptado pot" Jensen (1918), Rostagni
(1930), Imrnisch (1932), estando todos de acordo
quanto à última parte, ou sejQ, o artifex, que deve cor-
responder à parte dedic3Jda por Neoptólemo de Pário
ao poeta (~Qt'I)'t'1Í;).Na verdade, com a descoberta do
papiro de Filodemo, vira-se, e Jensen o mostram, que a
própria poética de Neoptólemo tinh~ um esquemQ, de
que nos ocu.paremosum pouco mais 3Jdiante, e que à
última parte desseesquema tripartido correspondia ex3.C-
tamente um Cél!pít11'10dedic3Jdoao poeta, ao artífice. Es.ta
parte, contudo, já for<l;apontada por Nooden, mesmo
antes de se conhecer'a divisão de Neoptólemo. Temos
assim o esquema dado ~r Nocden: Ars -- 1-294:Partes
poeticce- 1-130 (1-41: conteÚdo; 42-44: oifodem;45-
-130: estilo); Genera poetica - 131-294 (épico e dra-
mático). Artifex (poeta): 295-476, sendo esta Última
part.e:admitidaoofurúmemenrepor rtodosos críticos, 01que
nos dispensa de a citar nos planos que a seguir enume-
ramos.
Jensen, ,depoisde dar a conhecer a divisão da obt"a
de Neoptólemo de Pário: ~oiYl(jtç, ~oiYlp.C(e '/tOtYl't''1Íç,
afirnla que a primeira parte da Arte Poéticahoraciana
se deve .dividir ,da seguinte maneira: Ars.' t-294: 'ltoll}(rtç,
t-44 (OIldem); 'ltoll}}la,45-118 (sobre o estilo), H9-294
(géneros poéticos: épico e dramático).
Rostagni, por sua vez: Ars: t..294: 'ltOll}CftÇ,1'-45
(ordem): 'ltoLTj/J.a,46-127, (estilo), 128-152 (imitação),
153-294 (drama) .
34
~
.(
t1'''''~ ''.:I'i,..,).'! . o,::;,,;~ "
:i'.,.r~:::"i~~
Immisch: Ars 1-294: 'ltOll}CftÇ,1..46 (sobre a poes~lp:'
conteúdo e ordem), 47-118 (estiJo); 119-152 (hnitaçãÓH(i;
'ltoll}}la153-294 (géneros literários, sendo o dram-a o' g~t
nem escolhido). . .;;/\:
O último estudo de análise Ique conhecemos é o 'de';~.I'!t
Brink que apresenta um esquema tripartido, mas ~O~:i
uma ordem diversa, visto que defende diferente oivisã4::
da obra de Neoptólemo (24), que em vez de ser 'lto[l}~t~'::'
'ltOll}}lC1e ~OtYl't'1Í;, era sim 'ltOtl}}lC1,'ltOll}Cftt;,etx:. DeSt~T
modo teremos o seguinte plano, que parece sem dúvida
o mais racional,e que obedee:e,em todasas suas partes, :
à influência e estrutum de certas ,fontes possíveis, entre
as quais se evidenciam a própria obra; ,
de Neoptólemo de Páno, .as obras de Plano mais ra-
Arist6teles, Poética, Retórica e o tra- ciona) (Brink) e
tado desaparecido de Arist6teles De respectivas fon-
poetis: I ntr()àução, 1'-40 (corresponde tes da Arte Poé-
3JArist., Poética, 7-8) em que o poeta tica
insiste SOIbrea U111iodaJdeda concepção
poética, prceceptwm,que será válido para todo o poema;
1.aparte, sobre a ordem e o estilo, 40-118 (corresponde
ao calpítulo 'ltolTj}lade: Neoptólemo e a Arist., Retórica,
lU); 2.&parte, sobre os grandes géneros da poesia, 119-
-294 (que COITespoIlldeà 'ltoll}atçde Neoptóremo e a
ArisL, Poética e Retórica, 11, 12-14); 3.&par:te,dedicél!da
ao poeta e à crítica poética, 295-476 (correspondente
'li
~.
,'I'..;.
(24) Vid. p. 33.
35
ao 'JtOt"1]'r)j~de Neoptólemo e à obra. desaparecida de Aris-
tóteles De po~tis).
Não há dúvida de que este esquema nos aparece per-
feitamente verosímil e deve satisfazer todo aquele que
,não prOlCJl1mlrna .Arle Poética iUJIIlplano demasiado fixo
em que todas as ideias estejam classificadas por ruhricas,
plano qwe afinal iria oontTa.a concepção poética de
Rodeio, que vê na poesia não um 'géneronarraltivo como
a história ou os poemas cíclicos, mas um género que
cultiva os assUJ:itospor ;temas, lirnitando-se a. tratá-4os
nos aspectos que mais interessam ao artista. Seria querer
fazer deste lpOemade Horádo uma obra crentffioa, de
feição alexandrina, o querer descobrir um sisrema rígido
de ideias que procuorassemestudar exaustivamente o
assUDltoque mais preocupa Horácio: como fazer um rbom
poema.evitando, na medida do possível, oSeri"Osem que
tão fàci1rnentecai todo o que não tiver talento e técnica.
. ,.,A4rte Poéticahoradana.encontrou, A A.P. em
como em toda a Europa; favor muito Portugal
espeqail entre os la.tinis"tasportugueses,
..que' dela .fizeramvárias edições, as quais, muito embora
. de.,~esigual valor, deram 31conhecer Horácio e os seus
i pnDclpios POéticos ao público português. Logonoséc. XVI
~~osso humanista.Aquiles Estaço publica em AntuéI1pia,
Do ano de 1553, um comentário à A. P., em que se
ocupa principalmente de crítica textua1. Este é o pri-
meiro trabaJ1hoportuguês, de que tivemos notícia. Mas
ainda há OII1troscomentários e edições da 4. P. de
.36
"
Horácio de que, infeJiznrente, só enoontrámos a citação:
o do P. Bento Pereira (Jesuíta), o de D. Fll"UIbuos<>de
S. João, Cónego Regranre, o de Gaspar Pinto Correia,
que, segundo Costa e Sã, escrevera.copiosas notas, o do
(em manuscrito) P. Peixoto Correia (Jesuf~a). Além
destes, temos as edições de Pedro .da Veiga, pUlblicClJda
em Antuérpia, na Oficina de Oristiano Hauwel, em 1578,
e de Tomé Correia, prof. de hwn3JIlidadesem Pademno,
Roma ~ Bolonha, que em Veneza, na Oficina de Fran-
cisco de Franciscis, em 1587, publicou.um comentário à
Arte PoétiCCLde Horácio (25).
.,
Do séc. XVIIconhecemos uma edição da A. P. in-
clu1dana edição das obras completas de Horácio: En~n-
dimemo li~ral ~ construição portuguesa tÜ todas as
obras de Horácio príncipe dos poeM.s latinos 1yricos.
Com lndex copioso das Histórias é- Fábulas conreudas
nellas. Emendado nesta segunda impressão por industria
de Matheus Rodriguez mercador de liuros, 0- impresso à
sua custa, 1657. Lisboa, Officina de Henrique Valente
de Oliveira. Esta obra fora editaJdaipela primeira ~z a
expensas de Fmncisco da Costa, a quem foi atribuída a
tradução e fora impressa por M,anuel.da Silva:. Esta: é
a opinião de Inocêncio (26). No entanto, Menendez Pe-I
': .
. f ~
.. I')
I ',:
i,.
(25) Cf. as edições nomeadas por Costa. e Sá (vid. p. 43), pp.
22-24 e a 00. de Cândido Lusitano no Discurso preliminar.
(26) Inocência, vo1. iIi!, -p. 368. Cf. Exposição Horaciana, Bi-
blloteca Nacional, Catdlogo (eÚl.borado-porL11dsaMaria da
Costa. e Azevedo), Lisboa, 1'937, pp. 711-11'21.
37
~
.1
'J
;~
i~
!i1
layo (27) afirma ser esta tradução de Jorge Gomes.
Álamo. A edição refurida é :feita à c\lTÍosa maneira do
séc. XVII com o texto laJtinointercaJ3Jdono .texto portu-
guês, isto é, uma tradução ÍlnterIinear. A tradução é
, demasia.do seml e o aspecto tipográfico dificulta. a lei-
tura. Trata-se, corutudo, de tent'ativa meritória, pois o
autor e5IÍorça-sepor tr3Jduzir corredamente, palavra por
pal,avra, o texto latino.
Esta obra deve ~er conh€Cido certo êxito na sua
época, visto que ,foi reproduzi.da em mais ,duas edições,
que 3!presentam unicamente como variantes um título
com ligeiras modificações e formatos div,ersos do 'Pri-
meiro:
Obras ele Horácio. PrínciPe dos Poetas Latinos Ly-
ricos, com o entendimento literal 0- construição Portu-
gueza, ornadas .de hum Index coPioso das historias, 0-
Fabu/as conteudas nel/as. Emendadas 'lVestaultima Im-
pressão. 1681', Lisbo'a, Offidna .de MigueJ Manesoal &'à
sua custa (esta edição tem ,dois formatos ,di,ferentes).
Com o mesmo título repete-se esta edição em 1718, em
Coimbra, Officina ,de Joseph Antunes .da Sylva. É por-
tanto esta última.a 4.a edição, sendo a L&de 1638, a 2.a
de 1657 e a 3.&,de 1681' (em .dois formatos) (28).
É, no entanto, no séc. XVIII que se publica a mais
célebre edição da A. P.:
I1 .
f
(27) Horado en Espana, p. :1:'43.
(2'8) Cf. Exposição HQ1'aciana,Ipp. 7'k13.
38
I' .:~;"
?t'tJ1\
Arte Poetica. Traduzida e illustra-daem porlu:gueZÕ;!\
por Candido Lusitano, 1758, Lisboa, Offidna Pairiarcal .
de FranCiscoLuizAmeno; 2.a ed. correctae emendada,
Officina Rollandiana, Lisboa, 1778; Nova edição, Officina
Rollandiana, Lisboa, 1883.
Sem dúvida aLguma é esta; a edição, elélJOOradapelo
P. Francisco José Freire (Cândido Lusitano), que goza,
entre todas as edições portuguesas, de maior fama, de~
vido :ao facto de estac rtra.s1adada !effi vernáculo S())bo-
raso, se lbem que o autor a: tlvesse lÍeito em verso Ie:se .
tivesse utiJiz3Jdo da ikaJdução'{rancesa de Dacier (29).
O oomen.tá'fio, já muito antiqu~do, ainda nos par.ece ex-
tremamente sugestivo,. sobretudo ~lo que revela: das
preocupações literárias vigentes 1Ila.9I1aépoca.
As críticas Ique se fizeram a esta tra.dução (30), de
que era prosaica, não são justificadas, visto que não se
trat.a da ~r3Jduçãode .um poema lírico, mas sim de um ~.
poema com fins didácticos, cujo estilo não era conside-
rado, pelo próprio H01;ácio, como sendo. pertencente ao
da poesia pura, na qual o poeta só contava a poesia
lírica.
Ajnda do mesmo século nos chega.r3!ffioutras edições:
I I A arte poetica, traduz;da em rim<l:por MigueI do
(29) Vid. 00. de António Luís de Seabra., (vid. p. 44H:,.'
pp. t].7'8-279. ..:' .;};;..
(30) Vid. 01. 29. ;'~~,{:.
. ",'"
'1;'"
t~.
~.~.
39"
~")~' !
(" "1' .
;;,~'.r .
It,~.l'~I';' ; tt. .
~í~.í~~~":'.~".;'
':~uto'! Guerreiro, 1772, Lisboa; Regia OfficÍDa Typo-
gr3lphica.
Depois de breve introdução, em que, não sem a},guma
oandura, o autor amma. que .traduzira em verso «porque
nenhumas razões podem persuadir os leitores a que gos-
tem mais do verso solto, que da rima», vem a tradução,
sem comentário, escrita com .um mau gosto evidente,
fugindo, para mais, à mtenção linguística do re~to hora-
ciano e às próprias ideias do poeta, acrescentando muitos
pormenores sem valor, para conseguir obter umas rimas
de impressionante pobreza. Tem esta tradução Unica-
mente valor hist6rico.
Arte poetica. Traduzida em verso rimado e dedicada
à memória do grande Augusto, por D. Ritla CIMa
Freyre de Anodrade.1781'. Coimbra, Regia Officina da
Universidade.
Consiste esta.obra numa simples trélldução,precedida
de uma introdução sucinta em que se remete para o
comentário de Cândido Lusitano. A tradução é em Vêrso
rimado e disso muno se ressente, além de qoueo VOC3Jbu-
lário está longe de possuir o sabor do de Cândido Lusi-
tano. Também à rima se sacrifica a 1,deiae a fonna, que
saem por vezes erI13!dase frouxas. O autor desta tradução
não é D. Rita de Andrade, mas seu marido Bartolomeu
Cordovil, conforme diz Inocêncio (31). Outra hipótese
é que teria sido Ant6nio Isidoro dos Santos, bedcl da
"--t
(31) Vo1.v:m, p. 163. , '}~.
40
Universidade de Coimbra o seu autor. Parece, contudo
que 'a primcira hipótese é a mais provável.
Aree poenca. Epistola aos Pisões. Tra,duzidaem por-
tuguez e ilJustrada com escolhidas notas dos antigos e
tno,àernos interpretes ~ com hum commentario critico
sobre os preceitos poeticos, lições vari~, e intelligencia
dos lugares dilficultosos por Pedro José da Fonseca,
1790. Lisboa, Officina de Simão Th<lJdeoFerreira.
Esta ediçãobilingue é uma.,dasmais bem documenta-
das: o texto é precedido d~ um prólogo e acompanhado
por 'notas a que se segue um «Commentario Critico~.
O comentário e as notas são docu.mentosda ero.diçãodo
autor e testemunhos da ciêndafilológica dos nossos em-
ditos do séc. XYIII(32). A tradução em prosa, mantém-
-se fiel ao texto e, embora não dúctil, cpareoe-nosvaliosa.
pelo que representa de esforço para verter o pensamento
horaciano em vemácUJ1o.
.Poetica de Horácio. Traduzida e-exPlicada methodi-
camente para uso dos que apren.dempor Jeronymo Sua-
I:esBaa-bosa,jubiJado na Cadeira de Eloquencia e Poezia
da Universidade de CoirnJbra. 1791. Coimbra, Regis
'.
I~:'.
(32) Pedro J~ da. Fonseca. já.;fizera.anteriormente um comen-
táa:ioà. A. P., que, existe, manuscrito, na B. N. de Lis.
boa. (n.o 10676) e cujo título é: cHordcio, Notas esco-
lhitlas d epístola aos Pisoens, de Q.Hordcio Flacco, f'!itQ$
por Pedro Jos4 ela Fonseca, professor de Rethorica ,
Poetica na cidade àe Lisboa, Anno, I769.
..
....
41 '
,
Officina Typogr3lphica. 2.&edição. 1815. Lisboa, Typo-
graphia. Rollandiana.
A tradução é em verso rim3Jdomas o estilo não cor-
respondre à língua hora.ciama, pois é d1esinspimdo e
prosaico. Tem, aJém disso, o defeito de ser fei,ta na
sequêncjoado texto horadano inserido em diversas partes
separadas, quecorrespondem aos inúmeros assuntos de
que Horácio Itréllta.Assim, a cada paSso hora.ciano, Calbe
um comentário que faz corpo com a. tradução e o texto
l,atino. Deste modo, a consulta do livro torna-se difícil,
não se podendo der, sem dificuJdélJde,o texto e a:tradução.
em perfeito seguimento. O comentário, contudo, é
copioso e bastante comp1etopara a época..
.',
.;u.,"J ."
11,/i: . .
I~.:.
A Poetica restituída à sua ordem: oOma interpretação
parafrilStica,emportugues e huma carta do editor a oerto
amigo sobr.e es.te mesmo tlSsunto. 1793. Lisboa, Regia
. Officina Typographica:.
O <lJwtocdesta obra é o P. Tomaz José de A'quino,
q/UJefez uma introdução assaz Voaga,na qual semeia
reminiscências eruditas sem ,grande Ugaçãocom o poema
horadano; por isso, lhe chama «carta ~ certo amigo».
A traduç.ão,coIlJtudo,está JeSOIitaem prosa--o ~tor cha-
rna;-lheparafrástica -, num eetNodemasiado proJixo e
terra-a-terra, sendo apesar de tudo mais fiel que as de
Rita F. de Andmde e de Miguel do Conto Guerreiro.
O comentário que o acompanha é magro e mal documen-
tado, se~uindo-se-1hea tra;dução das notas de Metas-
tásio à A. P.
42
j
~'
Arte Poetica ou Epistola dJeQ. Horacio Flaccil âos
Pisães, vert~tkze ornada no idioma vulgar oom il.ustra-\
çóes e notas para uso e ins6rucção.da mocidade portu-
guesa por JOaKJuimJooé da Costa e Sã. I794. Lisboa,
Offidna d~ Simão Tha!ddeoFerreira. ''''1'0
Esta edição é ~recedid!éhde uma copiosa introdução,
e o te~to IbHingueé acoanpanhado por não menos aJOOn-
dante cdmentário. A tradução é correct.a, afuda que:pOr
vezes seja proJixa. Q11JaI1toà introdução parece-nos útil]
sobretudo um 'pequeno parágrafo, (VI, w. 22-26), em
que o alltoT,descreveas edições de Horácio em PO~"ga1.
"'j' :'
'o
;.
~~~
)
"~I' )'!~ :,'.
~~~
~:
o'
Por sUia.vez, do séc. XIX também chegaram até nóS
aIgumas edições da A. P.:
Arte Poetioa. EPístola lkOSPisões. Traduz~da em
verso por.tuguezpor Antonio José de Lima LeiJtão.1827,
Lisboa; Impressão de .Manuel Joseph da Cruz.
Esta edição é constituída Unicamente pela traduçãe
com um Ibreve comentário destituído -de interesseo
A tradução, em verso Ibranco, não reproduz o pensa.
mento horaciamo,mas sim o pensamento e o mau-goste
do tradUitor,muito em-boraele dig.ano prefácio: «Palre
ce-me que nesta minha tradução me aproximei da' con.
cisão de Horácio miaisque todos os ontros».
Arte Poetica. $Pi~tola aos Pisões. Traduzida pel~
Mar-quesade Alorna, in Obras Poeticas, 1844 Lisboa
VOIl.V, p. 3-66 e 325-326.
4:
, A Maa-quesade Morna fez uma edição :bilingue,
seguida.de hreve mas elucidajtivocomentário. A tradu-
ção, em verso branco, é lbastanteprosaica, foge, frequen-
tes ,ve2JeSà letra, quer acrescentando e~ressões que não
esiavam no texto latino, quer suprimindo outras que são
~14amentais pam. a sua oompreensão. A 11..edição
desta tradução da 4. P. saiua.~umeem Londres,euiI
1812 (33).
, ;
.. Aos Pisões, sobre a al1tepoetica, traduzida por An-,
tonio Luiz de SeaJbra.,em Satyras e Epistolas de Quinto
Horacio Flacco, traduzidas e comentadas por ..., Porto,
em casa:de Croz CoUJtinho,1846, voI. 11, rpp. 105-128,
~3)-280.
Esta ~dição é constituída:pelo texto traduzido e por
um comentário mediano. O valor da dradução é infeliz-
mente 'bastante diminuído pela falta. ,detalento do au.tor,
que, no entanto, é de extrema severidade para os seus
pted~essores (;vid. pp. 277-280). Efectivaanente, não
apreçia., com razão, nenlmma das traduções em verso,
que ~ fizeram anreriomnenbe, mas nem por isso deixa de
t~~"o verso para. tazer a Siuatradução. Qua:nJtoa. esta,
julgamos ser suficiente crítica, o que eStá implícito nas
pa:1~v11lSfinais escritas pelo próprio autor: ~Da nossa
tradução dizemos unicamente, que reconhecémos que
leva desigualdade, e alguns defeitOs, que POderiamos
(33) Q. a. 00. de A. J,.uísSea.bra.,p. 279-
14
i-.
emendar se tivessemos pacienda. e vagar para. DOS
ocuparmos com eRa.por mais tempo) (p. 280).
Paraphrase da EpiStola aos Pisóes, comummente de-
nominada Arte Poetica tk Quinto Horacio F~c1co.com
annotações sobre muitos lugares por D. Gastão Fausto
da. Camara. Coutinho, Lisboa, na Typogmphia de' José
Baptista Morando. 1853.
A tradução muito livre, como o próprio tfhEo sugere,
lê-se com certo agrado e segue-se-lheum comentário que,
embora nada :traga .de pessoal, satisfaz as exigências do
leitor (34).
.'
,~
Passamos agora ao séc. xx, do quaJlsó conhecemos,
uma tradução, publicada. no primeiro deténio do século.
,'o
t;
"
":.-.
Obras de Hordcio ~ Arte Poética (versão portu-
guesa), sem nome de tradutor, Cruz e C.. Ediltor,
Bra,ga, 1905.
Trata-se de um simples folheto com o texto da tra-
dução. Esta; apresenta-se geralmente correcta, mas nem
sempre dá o devido lugar a todos os elementos que sur-
gem no/con.texto horaciano. Naturalmente que a falta
de comentário desvaloriza OOstante este trabalho. ,:'J
..
,j
"
:.;....
:..~
.)
,:-..
. '
" ;'}
,.;J
,..~
~':' I
(34) a. JllwcADcio,vo1. iI[, p. 1[36. . .,...'''''
:.!;
45
Foram estes os elementos bibliográficos que conse-
guimos colher sobre a fO!ftunada A. P. horaciana em
Portugal. É possível que haJa ~acunas, mas julgamos
suficiente o número .de edições consideréiJdas,visto que,
por meio delas, muito podemos avaliar do conhecimento
de Horácio e sua qualidClldeno nosso país.
46
PRINCIPAL BIBLIOGRAFIA MODERNA
Edições da Arte Poética (A. P.)
Horace on Poetry, The 'Ars Poetica', by C. O. Brink,
Cambridge, 1971.
Horaoe, Építres, texte établi et tra.dJui,t'Par F. Ville--
neuve, Paris, 1961.
Quintus Horatius Flaccus, Briefe, erklãIt von A. Kiess-
'ling & R. Heinze, 7.&ed., com apêndice por E.
Bmck, Berlim, 1961: fundamental qu:anto à critica
feita por Burck aos mais modernos trabalhos sorbre
a A. P.
Horatius, Oper~, ed. de F. Klingner, Lípsia, 1959.
Orazio, Arte Poetica, introduzione.e commento odiA.
Rost3JgW,TlUlrim,1930.
Oeuvres c(Horace,ed. F. Plessis & P. Lej.ay, Paris,
1904.
Comentadores
Pompon;.PorPhyrionis commentarii in Hora.tium, ed. G.
Meyer, Lfpsia, 1874.
Pseudoacronis scholia in Horatium wetustiora, 00. O.
Ke1:ler,2 vaIs., L~ia, 1902-1904.
47
; ...;~7.:') ~.' I
Obras diversas
Bieler, L., Geschichte der rõmischen Likratur, B~Jim,
1961.
Brink. C. O., Horaceon Poetry, Prolegomenato the lite-
rary Epistles, Cambridge, 1963; The 'Ars Poetica',
Cambridge, 1971;EpistlesBook lI, The Letters to Au-
gustus and Floros, Cambridge, 1982.É a OIbfamais
actualizada e mais bem orientada que conhecemos.
Cupâiolo, F., L'Epistola di Orazio ai Pisoni, NáJpoles,
1941. Trabalho claro e extremamente bem informa.do
e útil.
Exposição Horacúma, Catdlogo, (Bibliotec'a. Nacional
de Lisboa), Lisboa, 1937. Obra organizada por Luiza
Maria de Castro e Azevedo, qUJe,com ela, contribui
grandemente para o conhecimento ,dasediçõeSportu-
guesas de Horádo.
Fxãnkel, E., Horace, Oxford, 1959. É este o an.e1hores-
,tudo sobre as composições de Horádo, mas infeliz-
mente não trata da A. P., muito embora: a ela se
refira quando necessário.
Gonçalves, F. Rebelo: «Horácio e Eurípides», Euphro-
syne, lU (1961), pp. 49-64. Faz-se o estudo das
razões por que Horácio não apresenta, nas epístolas
literárias, Eurípides como seu modelo. É que o tra-
gediógrafo grego fugia das regras anstotélicas defen-
didas por Horácio.
48
.~.~,
'-,
Grimal, P., Essaisur l'Ar! Poétique d'Horace, Paris, s.d.
(1968).
Lausberg, H., Elemente der literanschen Rhetonk, Muni-
que, 1963; Elementos de Retónca Literána, introd. e
trad. de R. M. Rosado Fernandes, Lisboa.
The Oxford ClassicalDicti0narY, Oxfovd, 1950 (O.e.D.)
PeIayo, Marcelino-Mooéndezy, Horacio en Espana. Tra-
ductores :y comentaàores de Ia Poesia Horaciana.
Solaces bibliograficos, 1\Ia,drid,s. d.
Perret, J., Horace, Paris, 1959. Monografia sem preten-
sões a ser eXaJUStiva,mas que, no entanto, é o resm-
ta,do dos conhecimentos de um grande ~a.tinista.
Stégen G., Les épttres littéraires d'Horace, Namur,
1958. Estudo da estrutura das epístolas literárias de
Horácio, em moMes demasiadamen.te am,biciosos.
Nem sempre fundamenta as suas opiniões.Vid. a
recensão ,de Maria M.anuela de B. Albu,querque
EuPhrosyne, lU (1961), pp. 433-437.
INQ11- 49
Q. HORATI FLACCl
DE ARTE POETICA LIBER
jI
.:.
Humaillo caJPiticeruicem pictor e'quin.am
mngeTesi uelit et uarias inducere plumas
undique conlatis membris, ut turpiter atrum
desinat in piscem muJier formosa superne,
spectatum admissi risum teneatis, amici?
Credite, Pisones, isti tél!bulaefore librum
persimilem, cuius, lUelutaegri somnia, iUanae
fingentur species, ut nec pes nec caput uni
reddatur fonnae. «Pictodbus atque poetis
5
ii""
.~
1.40 - Introdução: defende-se a unidade da concepção poética.
1 - Com este início, no qual se descreve um ser de hibri.
dismo impressionante, pretende Horácio defender, tal como..,. .
fizera a esco1a aristotélica, a preferência pelo ver~~ím~l, o que .,-,~ ,.
poderá parecer contraditório visto sabermos que se criaram, na
antiga mitologia, seres fabulosos e híbridos como os Centa\m'os.
as Sereias, a Quimera, etc. Estes seres podem. no entanto. exis-
tir no mito. mas a obra poética não se Lhes deve assemelh3Jl"
na sua estrutura. Pelo contrário, a obra de poesia. deve serlI,
50
QUINTO HORÁCIO FLACO
/
ARTE POETICA
. .'
I
~ : "1. I
.....
.
1
"
Se um rpinltorquisesse jtmtar a uma C<lJ~? hu~ ' 'ó. ".,:
mana lUffipescoço ~~.~jJ:va1o e a membros de émi~ .,'; ,,
~!!1aJ~.~'~~~-~~wk.~ apl~~~..p1.~~~,v~~g~~~, ~ " I '
for:ma a ,q~~ .~~in~s~~, ~~..,~OTP'~.~ ~~~o ~~~. Z"
) ,,~!1]heTde IbeJoafélJCe,con~eríeis vós o riso, ó m~ys.-b~~j;gos, se a ver tal espectáOUJ1ovos levassem? P~j~,:. 5
_c~ed.e-me,Pisõe,s, em tudo a este quadro se:assellTI~-"
Jhana o livro, oujas ideias vãs se concebessem quais. ~.. .. 0.° ._.___
~qnhos de" ~,oe~t~f ,de :taJ ,,~odo "q'Q~,'P-~, pés, n~,
~abeça pudessem constituir uma s6 forma. Direi~
v6s 'que .<~a!>intoresea"p~~i~~"igÜãirn~nte'se con-
simPles e una, formand() um todo. Cf. Arlst., Poética, VI-v:rr~
1450 b e segs. Este principio é defendido:na. A. P. até ao v. 37
3 - tltrpiter refere-se a desinat e a.o mesmo tempo a atrum.
o que torna di.fícil a sua tradução. Cremos, toda.via, que mais
reforce atrum devido à proximidade.
9 - Esta objecção, feita por um interlocutor imaginái-io,
corresponde a. um ,preceito já conhecido na. antiguidade; cujo
51
qt'"
,q~d1ibetaudendisempertuit aequa potestas.:. '10
;:~, et bane ueniampetimusquedamusqueuicissim,
'I...:;. .
f~ Illontit pladdis coeant inrnitia, non ut
tr.~ltes auibus geminentur, Hgribus a:gni.
'PéWtis gra.mbus plemmque et ~3!gna professis
il~Wri>ureus,Jateqm splendeat, unus et a1ter 15
~~~p~~turpannus, cum lucuset ~a Dianae
?~. properantis aquoo per amoe:nosambitus agros'
"a~t flumen Rhenmn aut pluums descrlbitur a'rcus:
sêd nun.cnon erat bis locus. Et fartasse cupressum
eco se encontra, 'I'. ex., em Luc., Pro imag., '18: c~ um dito
antigo, contudo, que poetas e pintores nã.o têm de daJrc.ontas~.
',HQrá.cioadmite, em princípio, o que esta. velha. sentença em si
:,contém, mas sem aceder a exageros, pois a poesia é imitação
:(p.EIL"'lcJtç)e e. lreaJlidade não dá. aio a. fantasias exubera.nres e
: iaa.cionais.
. .:;. 14 - Censura o poeta, atend0-5e, portan.to, ao princípio
:~ JInidade do poema, tuâOo que nao ~.~~ç.!L' oone~ão
com o tema :poético~is -~n ~~ ..di~s~, AA,.ql!e. ~~ d~.,-- '
exemp~..~~ ,ve~ ~~~!~. Compara essas mesmas digres-
'sões a remendos de púrpura. que, porventura., se cosam num
vestido de tecido diferente e que, em si, forma um todo. Esta.
mtjca, çomo a. seguir apontamos, era. possivelmen,te dirigida'
contra. certos poetas da antiguidade. No que respeita às
letras gregas é dtgno de tal crítica, Antím'aco de Cólofon
(séc. IV a. C.). como nos diz Rost3Jgni, visto que o ipOOta
grego, na Tebaida. fazia digressões similares. Dentro das metras
romanas, contudo, já é mais difíci.l Jdentificar um poeta que
possa.ser objecto desta crítica. Rostagni admite que a. imagem
do booque de Diana (v. 16) se dirija contra ComéLioSevero,
, e'que de Fúrio lBibáculo se trate, quan,to à critica da descri-
52
cedeu, desde sempre, a faculdade de tudo ousar~'
1
10 '
Bem o sabemos e, por isso, tal liberdade proc~~a~ ~\...D (*' :..
mos e reciprocamente a concedemos, sem pernutIr,' ;~~
contudo, que à. mansidão se junte a ferocidade e' \Ó~ ./ '
que se associem serpentes a aves e cordeiros a. J /". , .'tigres~
Gerahnente a princípios solenes e onde se pn).
metem grandes coisas, para obter mais efeito,
qualquer remendo purpúreo se Ihes cose, ao des- 15
crever o bosque e o altar de Diana, as curvas de
rápidos ribeiros por amenos campos, ou o Reno
ou o chuvoso arco-íris; ali, porém, não cabiam tais
descrições. Porventura também sabes figurar um
cipreste: mas que vem este fazer no meio dos des-
ção do Reno (v. 18) feita a desprop66ito. Lejay, no entaJvt:o~
não admite esta. última hipótese, 'Porque 'Bi'báculo nos seus
Annales belli Gallici teria. sido forçado, pela. natureza. do tema,
a falar do Reno, não caindo, por consequência. no erro apon-
tado por Hórácio.
19 - A com:pa.rn.çãodo mau poeta com o pin'tor que, em
todos os quadros, só sabia IpLntar um. cipreste é fortemente
irónica pelo duplo facto de ser pintada uma árvore numa. cena
marítima e de ser esta. um cipreste, árvore bem conhecida como
símbolo funerário. Deste modo, o cipreste, árvore dos mortos,
a:parecia junto de a!lguém que no naufirágio se salvara com
vida. Tudo isto era contrário à verosimi.!,ha.nçaque se pretende
na obra de arte.
O exem.plo horaciano é tirado de um costume normal entre
os antigos: os náu.fra.gos faziam-se piI1tar na. cena do naufrá-
gio de que se tinham salIVO.A piI1tura 'podia depois ser depo-
53
seis simulare; quid hoc si fractis ooat3Jtexspes 20
nauihus, aere dato qui pingitur? Amphora coepit
institui; oorrente TOtaCUTurceus exit?
, . . Denique sit quod uis, simplex dumta:mt et unum.
Maxima pars uatmn, pater et iuuenes patre digni,
decipimur specie redi. Bn~uisesse laboro, 25
obsc/Urusfio; sootanrtemIeuia nerui
defidunt animique; professus grandiã turget;
serpit humi tutus nimium timidusque proceUae;
qui IUariarecupit rem pmdi.gialiter unam,
deIphinum siduisadpingit, fludihus aprumo 30
In uitium .ducit cuIpae fuga, si t:a.ret arte.
sitada, num teII1lplo,como ex-voto. Vid. Hor., Odes, r, 5,
1'3-16; Sát., TI,I, 3'3; Fedro, IV, '211,'24'; Pérsi<?, I, ;89-91 e
6, 32-33; Juv., Sát., '14, 30\1e segs.
21 - O urceus é um vaso emuito diferente da â-nfora (am-
Pllora). Esta é esguia e alta ao ,passo que aquele é baixo,
ata'ITacado. O urceus era, além disso, um vaso para uso
doméstico.
23 - Neste verso faz-se a conclusão das premissas ex-
postas anteriormente: simplicidade e unidade do poema. Este
modo de generalizar o principio aristotélico provém, talvez,
da influência de Neoptólemo de Pário. Vid. Brink, Prole-
gomena, ,pp. 103, 23'1, 254.
24 - Inicia agora o poeta a defesa da justa medida e da
elaboração cuidada na criação ,poética. Este critério, saldo
da escola peri.patética, aparece-nos aqui caldeado pela. con-
cepção horaciana da vida (vid. p. 18) segundo a qual o
comedimento, o meio -reil'mo (p.~aó't''1j~,d. Arist., ~t. Nic.,
54
troços do navio, do qual, perdida já a esperança, ; 20
quem te deu dinheiro para assim o pintares, a '. .: 1. : .~
custo se salvou? Foi uma ânfora, sim, que começon .:, ::;~":. .t.:.""..,
a ser modelada: por que razão, da roda eircu1ante~.. .<~f11.
é um pote que vaj sair? Em suma:: faz !tudoo quet .~
quiseres, cootanto iCJ~eo lfaÇél$com simplk:Jdade ~(. ~:t-'
unidade. '--~
Com a grande parte dos poetas, 6 pai e 6 filhos
dignos de tal pai, deixamos enganar-nos por falsas
aparências de verdade: forcejo par ser !breve, em 25
obscuro me torno; a quem procura o estilo polido, (
'. !
faltam a força e o calor, e todo o que se propõe 1(.°"
atingir o sublime, descamba no empolado. Acaba, \.:.'~:;.~"
todavia, rastejando pelo chão o demasiado cauto,
o que tem medo da procela; mas quem deseje
variar prodigiosamente um tema uno, pintará golfi-
nhos nas florestas e javalis nas ondas do mar. 113~ ~_
~.~ocurando fugir do enga~o se cai no erro, caso
não se possua a arte.Nas imediações da escola
:II06 b 2'7), eram os pontos óptimos do procedimento humano.
Esta ideia repete-se na obra horaciana: Odes, TI, .10, 5 (aurea.
mediocritas); Sdt., I. I, 106 (est modus in rebus); Ep., ]i,
1'8, 9 (uirtus est medium uitiorum et utrimque reductum:
cnp meio dos vícios, a vidude se equiLibra., igualmente afas-
tada dos extremos~). CI. Ok., Bruto, 1'4'9; De officiis, T, 89.
25 - Horácio refere-se à breuitas como qualidade de estilo,
sem que a admita, contudo, em proporções demasiadas. Nesse
caso, origina-se a. faJta de darem obscuritas. Vid. VV. ~49:-
-150; 335-336. .:
ps,..
Ççl;;!i~:i-r '
".I ~~~1~-l'~ '.\
,mf:'"
.Aemilium cixca ludwn faJber imus et ungiUis
eXJPrimetet mollis imi,tabitur a~re capillos,
2Jmfelixoperis summa, quia ponere totum
'nesciet. Hunc ego me, siquid componere curem, 35
non magis ;esse ueJim quam naso uiuere pI'aJUO
spectandum nigris oculis nigroque ca,piHo.
Sumi te mareriam uestris, qui sc~,bitis, aequ~
uiribus et fUersate diu quid ferre TeCusent,
quid ualeant umeri. Cui Ieda potenter erit reS, 40
nec facundia, deseret hunc, nec Iud,dus ordo.
Ordinis ha~ ,uii.tus erit ef Ue11IUS,aut ego faJllor,
32 - O Aemilius ludus era uma esco1a de gladiadores
roznana, fundada por EmHio Lépido, em volta da qual se
encontravam lojas de aortífices,.escultores do bronze. Ora estes,
ainda que soubessem esculpir, não possuíam talento artístico
e não eram capazes de conceber uma obra de arte, porq ue
a obra de arte tem de f~mar um todo, não interessando os
pormenores senão em Te~ção a esse todo.
38-'40- Com este passo se termina a primeira parre, a
qual, nas opiniões de Norden e de Rostagni, etc., era dedicada
à inuentio. Brink, Prokgomena. p. 1,2 etc., discorda desta
classifica?o de Norden, visto que a adm'issão da inuentio
pressu,por~aque, no resto dQ poema, viessem as outras fases
da composição da. obra literária, preconizadas pela retórica
84.tiga, às <iuais Horácio se refere, mas sezn as querer com-
~r. A verdade é que nos pdmeiTos ?17versOs não há
;'gjalquer discussão técnica da escolha da matéria, o que diria
.t~ito a inuentio. mas tão-só a defesa da. unidade da obra
l~tH,' ,- . . _
i:~tica, que abrange a escolha do assunto, a d1Spo~uçao e o '
t~~~o"(inuentio. dispositioe elocutio). Se ao desejo de unidade
r~H~taxo bom-senso tereznçs então uma obra de arte.
i~I:~,":~:. ..l ... I
. .;-:~:~
;~~
J
.-r -O :~.
'" ./.'':.l
.'" -:;)
\..
-J; (
p
5~r
tM~,:,
Emilia, Omais ínfimo dos escu1tores mokiaJrá unhas--- ".-- .- __o
~~ ~!>.rQnze_~,~ié.E~~_~g~, ~~I?S~e~oso,s, nl~
será infeliz no acabamento da obra por ~ão saber.
_,~!'ÍaJrum :todo. Se M-gOdesej~~ ~ompor, n~o qu~-.o-o ._._
rer~3:aS~~Pl~~ar-I!1e a_~~~L d~_I!l~l!lo modo que
1!~9!1!e~~!ldaria possuir horrível nCl:.riz~.~~4~_q!!~
i !g~~_~~!J.~_!1egros ~,P~~~~,~~1?~!~ J<?~~e.mdi~0s.
~ <!~_,~~_!~ção. ,
. ( Vós que escreveis, escolhei matéria à altura das .
:~ )~;:::: :m~~~~~~~:~n::e:~:~l:::
8~ ~ã~ pod~ s.t!pgrt3:T~~ quem e5ColherassunJtóde 40
~ iacordo com as suas possibilidades nunca faltará
,J~Ioq~~~çia .n~ID-Jãcr-pouco ordem Iuzida.o-.." .
A virtude e beleza da ordem consistiTão- ou
40-118 - A segunda parte da A. P., que trata agora da ordem
e do estilo, correspoude respectivamente, segundo o esquema que
indicáIQOSna Introdução, p. 34, ao capítulo em que Neoptó-
lemo de Pário se ocupa do 7tol'J)fL(1,e ao capítulo lU da
Retórica de Arist6teles.
40-41 - Estes dois versos servem de ti,gação entre 1-40
e 4r2-I:I8 tornando a transição menos 'precipitada. Ao mesmo
tempo que se refere à escolha da matéria, que deve se,r feita.
segundo as possibilidades do autor, diz-nos o poeta que, no
caso daquela. condição ser preenchida, surgirá en tã.o a fa-
cundia e o ordo ou seja o estilo e a ordem da composição, que
completam a escolha da res (V'V. 38-40).
42-45 - Refere-se Horá.cioao ordo ('t'á.;tç) ou seja a uma
das cara.credsticas da dispositio (Vid. oI..a.usberg,Elemente.
, ""
'"
....
57
ut iam nUl11cdicat iam nunc debentia dici,
pleraque differat et praesens in tempus omittat,
hoc amet, hoc spernat promissi canninis aucror. 45
In uerbis etiam tenuis cautusque serendis
dixeris egregÍ'e, notum si caUida uepbum
reddiderit iunctura nouum. Si forte necesse est
indiciis monstraa-erecentibus abdita rerum, et
'"I.-
§ 42, '2), que consiste em fixar um plano para. a obra e d~zer
unicamente o que vem a propósito. Esta divisão tem de ser
alternda se admitirmos a. disposição apresen.tada por Klin.gner
100 sua edição, qUe tira o verso 45 da disposição tradicional,
colocando-o a seguir ao v. 46. Temos assim, em vez do texto
que apresentamos, o seguinte:
Ordinis haec uirtus er.it et uenus, aut ego falIor
'l1t iam nunc dicat iam nunc debentia did,
ple.raque. differat et praesens i'IÍ tempos OOlittat.
In uerbis etiam ten.ais cautusque serendis 46
hoc amet, hoc spernat opromissi caorminis auctor. 45
Dixeris eg!I'egie, notum si calLida uerbum, eoc. 47
:1
.lI!
,.
.
~
:
f
~,I..
,ai
~i:
~Ij Assim a tradução dos vv. 42-44 seria: cA virtude e beleza
da ordem consistirão - ou eu me engano - em que. se diga
imediatamente o que tem de ser dito, pondo muitos pormenores
de lado e omitindo-os de momento.~ A tradução dos vv. 46,
45, 47 e segs. soaria: c:No arranjo das 'Palavras o autO!I' do
poema prometido, se fO!I' cauteloso e discreto, prefedrá
esta forma, deixará a outra de lado. E magnlficamente
dirás, se ...~ Na versão tradicional, o verso 45 que pertencia
ao ordo, passa, na versão de Klingner (que segue .Bentley),
a pertencer à descrição da elocutio. Pireferiremos, por nossa
parte, mantermo-nos na tradição, reconhecendo, que a a,1tê-
"
.,.'
II~'.1I:j
58
eu me engano - em que se diga imediatamente o
que tem de ser dito, pondo muitos pomnenores de
lado e OIIIliibindo-osde momento: ql\le o autor do
poema prome.tido, ora escolha este aspecto, ora
despreze aquele.
1--. ~o arranjo d~s palavras deverás também ser
. subtil e cauteloso e magnlficamentedirás 'se, por,-,.--~~ -.. . ..- .. . .
engenhosa combinação. tr.ansfonnares em noVTda~-..~_.~
~~-:~~~.p~lav~~s ma!s__çQrr~nt~~Se porventurà for
n.ecessário. dar a conhecer coisas ignoradas, com
vocábúios 'recéni-criados, i'Joímar,palavras nunca
45
".
,
..'
. . I';:'
ração proposta, ainda que ~ja lógica., carece do apoio d~~'... ...\
manuscritos, e este facto .parece-nosextremamente relevanté~..
46-7'1'- Horácio começa a entrar .na teoria da esco]Jb~d~.
pa.~vras, que ;p!I'opriamen.teé uma das partes da disposiUQ'
ti :
(Vid. Lausbel'g., Elemente, § 46, 2), e discute os preceito~.>
que regulam a escoLha das palam-as em função do poema. (iií'"
ueí-bis ... serendis),' ocwpando-se logo dos singula uerba como
veremos. iBrink, Prolegomena. -p. 94, a:ponta a' possível. in:. ..,
fluência no passo que se segue, de Aristóteles, Retórica. llJIr
2-6, que HO!I'ácio pode ter conhecido di!rectamente e ~: W;.; .
termédio de Neoptó~emo de Páxio. . r-..
:"!{:.:.
47-48- Callida i1mctura: trata-se, segundo afirma R~i,i~
tagn.i, da metáfora, na qual é posstvel, por ~ábil combin~~'. ,-\
transformar o sentldç. de uma. pa1aNxa, ao colocá.-la. nuni:!&.,
texto desabitual. Vid. F. Cupaiol0, A proposito delIa (;cilr,~;
iunctura oraziana. Nápoles, 1942. Horácio dá, juntamente~~
opreoeito, um exemplo que o corrobora. Efectivamen:b!:~',.".,
expreSsão do v. 46, in uerbis ... serendis, está pela mais há~i.~i'i
tual. in uerbis inueniendis. A eX'p!I'essãohora.ciana p!I'ovém:M~.~t~
. "::~I~F '.~
59';
.'~J~; ~t : .
:l:~.~ .
:~:
~~gere cinemtis !I1onemUldita Cethegis 50
>::~~tinget d3JbiturqueJicentia sumpta pudenter,
~"1~~,noua fictaquenuper habebunt ue:Iiba.:fidem,si
~;{~,;G~ofonte cadent tpa.rcedetorta. Quid autemf.: :. .
r"LÇaeciIioPlau.toque daJbit Romam1s, ademptumt' .
~..,VergilioVarioque? Ego cur, adquirere pauca 55
: I, ":.,., .
.uma metáfora de origem agrícola. e tradUZ-6e li-reralmente: (Cno
, semear de vocábulos). Quando ao ad'Vérbio egregie (v. 47)
tem ele o .seu valor etimológico, i. e., de e+grex. ou seja, o
que foge do lt"eban1bo, tal como a língua,- 'Própria. àpoesia.
Do v. 4B ao v. .ÓC)faJará. o poeta rda lpOSSibiaidade de Clt"iar
vocábulos InOVOS,desde que estes sejam forjados com mode-
0'0.~a.ção..
; , .5,0 - Os Cet.egos pertenciam a uma. antiquIssima fanrllia.
~"~oma. Cinctuti é o epiteto com que os Cetegos são calraCte-
,r;.za.dos. porque, ainda em tempos não muito afastados de
Horácio, erles se ci.ngiam com o rústico cmctus em volta. do
peito ou da cintura de modo a ficarem 06 braços livres. Sobre
os ombros deitavam depois uma. toga.. Cinctutus é, a.!ém disso,
um vocábulo forjado por H~ácio que, mais uma. vez, exem-
plifica o preceito dado (d. v. 46). Poderfamos, em português,
traduzir este neologismo latÍlIlO 'por ccintudos:t. conservando
assim a intenção horacia.na.
53 - Graeco fonte: para a maioria dos romanos contavam
como neologismos as "palavras delrivadas do grego, ou seja, os
helenismos. Estes compreendem não só transliterações do gé-
nero de barbitos (lim), d. Hor., Odes. r, 212>,4 ou diota (vinho
velho), d. Hoc., Odes. .t, 9, 8, mas igualmeMe palavras decal-
ca.das semântica.mente sobre modelos helénic06, ta.iscomo poten-
tM do v. 40 (ÔUVCtTWÇ),prodigialiter do v. 29 (npCtTw8sç)"ele.
60
~uvidas _p~los Cetegos cintados, podes fazê-Io e 50
licença mesmo te é dada, desde que a tomes com
di~~jção. Assim, p~vras, há. pouco forjadas, em
breve terão ga~o largo crédito, se, com parcim6-
nia, forem tiradas de fonte grega. Por que motivo,
permitem os R.omaIwsa Pl:aJU.toleia Cedlio o que
recusam a Virgílio e a VáJIÜ.o?Se a Jíngua de Catão
e de Ênio, produzindo novas palavras, enriqueceu 55
:..)'....,
\.
~3-~8 - O poetaJ, contrapondo ai antigoo comediógraf05
Cecílio (séc. II a. C.) e Rauto (sécs. III-II a. C.) aos seus
contemporâneos (SOC.I a. C.) V.irgflio e Vário, alude à dife-
rença. de atitudes dos críticos lpara com os primeLros, aos qua.is
permitira~ inovações voca.bulares, ao passo que aos modernos
poetas tal liberdade nã.o era. concedida. Com esta compaxação
pretende Horácio trareI' a discussão as diver-gências de duas
esco1as 8ifamatícaã&: uma. chefiRLla por CícerQ e CésaIr, de-
fendia. a analog.ia na parte morfológ.ka e' na. parte lexica.l da.
Jócgua.. não admitindo, tporlanito. :IleQlogdsmos;oa outra., admi-
tia. a anomalia. concedendo que na língua. se ÍlDovasse por
meio da introdução de pa.lavcasinOvas.César, IDOseu tra.ba1ho
De analogia. amma. que se deve fugi!1', como de um rochedo,
da pala.v.ra."desusada e n,UlDcaouvida: cHabe sem.per in memo-
ria. aique m pectore ut ~uam scopolum sic fugias inauditum
a.txIue inso1ans uerbum~ (apud Aulo Gélio, N. A., l, 3:0 e
Macrób., Sat.. 1, 5, 2). Horácio toma a. posição defea1dida pela
escola. conrtrá.a:ia a. Gésar, mas, como sempre, admite-a, pres-
supondo, que das Uberdades concedidas se faça. uso com come-
dimenrto e critério. PéI.If3,continuar com exemPlos tradicionais
e It"espeitados da. ldteratura. arcaica, a.presenta Horádo, no
v. 56, os casos de JtniQ e Catão que movaram respectivamente
na poesia. e na prosa, introduzindo, Ina UDigua.,novos modeloe
voca:bUl1are9,
,"~
,i
I
'. "
I
'
""
.,.,1",
. . I
'I
,~
I
".~o.;
""
I'
61
..
si possum, inuideor, cum Hngua Catonis et Enni
sennonem paJtriumditauerit et nOouarerum
nomina protuJerit? Licuit semperque Hcebit
signatum praesente nota producere nomoo.
Vt siluae foliis pronos mutantur iu annos, 60
prima caodunt, ita uefoborumuetus inrent aetas,
et iuuenum ritu florent modO'nata uigentque.
Debemur modi nos nostr8.Jque.Siue receptus
terra NeptullIusclasses Aquilonibus areet,
regis opus, steriJisue ,diu paJlusaptaque Temis 65
uidnas urbes alit et ,graue sentit aratrum,
seu cursum mut8.JuHjnioquumirngilbus amnis,
56 - inuideor por mihi inuidetur: trata-se de uma cons-
trução à moda grega {por cpOovoupa.d, lIleologismo helénko,
que Horácio apresenta paxa juntar o exemplo à regra, tal
como já fizera antes (vv. 47, 50).
60 - As palawas e sua vida são descritas por Horácio com
o mesmo símile que Hom., [liada, VI I46 e segs., e Mimnermo,
frag. 2 (Diehl). usam paxa caracterizar a. vida dos mortais.
Com ele, o poeta recorda as opiniões dos que 'Pensam ser a
lI:ngua um fenómeno natural, 'Próprio da cpúatç (na.tureza.) e
não imposto por autoridade {vóp.~, OÉaEd.
\
63 - Debemur morti é construção helen:izante e lembra o
verso atribuído a Simónides, Ant. P<1!J..,X, 105: dodos estamos
destinados à morre>.
64 - É possível que, nestas rererências que se seguem,
Horácio enumere trabalhos públicos mandados efectuar por
César ou por Kugusto, tal como sugerem os comentadores de
62
-\ I~ .,
~;:; . .. (. .'-.
di átri
- hã 1 _1_' ,,'o 1 orna p 00, com que razaOo v-ue m~ln:aI-<IIl~ 1~,:;,: (
caso eu puder acrescentar-llie algumas? Foi Iícit. :::(,.q
r~ lícito sempre será !~!!~]m v~~~ul~cunh~~..: f.;r[~::~
com o selo da modemidade. Assim como as flores...\ \'ff1; I
tãS"mü~ -defólli~ dedinaJrdO:;'~õs,e-sóaS' \60:'\.. ..
fOlhas velhas caem, assim tamlbém cali' em destiSõ ; . -;.
a velh; geração de palavras e, à maneira dos jQ-' i i.-::-. .
. ~~~~_P~~'9~._~~.R°uco _~~~
.
__~~J)!:.~y~~ores-.' ç
I ~_~...: .~~~ham pleno vigor. Np'~_~_~~..Ho,~~~~.5~~ras- li.
'~.I e~t~mos.i~dad.<?~para a morte! Mesmo que o mar
\~. d~-Neptün'õ~.'r~ê~b.id;-p~iat~ira, proteja as arma-
das dos Aquilões, em obra digna de reis; mesmo
que 00pânlta.no, estéril durante muito tempO' e ô.lpro--
priado para os remos, 3!1imenteas cidades vizinhas 65
e até sinta o peso do arado; mesmo que o rio,
levado por caminhos favoráveis, mude o curso fa-
.; t:,
Horácio, Acrão e Pseudoacrão. Admitindo essas alusões, muitos
dos comen,tadores modernos tentaram indevidamente encontrar
aqui um ponto de apoio paEa a/ datação do poema, tomando
como premissa. o conhecimento de Horácio de certas obras pú-
b1icas levadas a. cabo em determinadas datas. ~, porém, ten-
tativa faladosa, visto qUe nada .nos diz que Horácio pensasse
em tal (vid. Brink, Prolegomena, p. 24I), ou, pelo menos, que
exclusivamente pensasse em obras determinadas. Devia sim,
fazer estas referências com o intuitq de generalizar o tema da.
debiLidade das obras humanas.
v-
65 - Palus, cuja ,prosódia normal é palus, élJparece aqui
escandido como p~I;:S, dando-se, por consequência, um caso de
correptio iam bica, que sobretudo fora normal na métrica ar-
caica plautina.
63
" .'"
(Jactas iter meaius, mortalia fada perlbunt,
nedum sennonum stet.honos et gratia uiuax.
MuJh renascentur quae iam ceddere, c.adenibque 70
quae nunc sunt m honore uocabuJa, si,uole:t usus,
quem penes atibitrium est et iRIset nonna loquendi.
Res gestae regumque oducumqueet tristia 'belia.
. qUQscribi possent numero, monstrauit Homerus.
VersDbusimpariter iunctis qrtrerimoniaprimum; 75
71 - Usus tem, neste c<:m.t.erto, um sentido bastante !rico,
poIS' Dão é só aquilo a. que se c;ha.maiva.na. !retórica Batina.
~uetudo loquentium (Quint., Inst. Or., [, 6, 44;' Aulo
Gélio, N. A., XII, I~, 116),mas inclui em si a utilitas, ou seja
a necessidade que leva à inovação formada. pelos neologismos
e pelo retorno ao uso de certos arca.ísmos. Isto, contudo, !Dão
permire identificar a expressão hora.ciana. com as teorias da
escola.epicUlrista (vid. [Brink, Prolegomena, p. /I:3<).n. 2). Com
o v. 72 fa.z-se a transição para um outro capLtulo.
73-85 - Ectra. agora. Hod.cio nas discussões dos metros,
os quais, como bem mostra Rostagni, formam, no <:asoestrito
do verso, _parte dos coniuncta uerba (os singula uerba foram
~ta.dos nos V'V.416-712),pois estes só podem conceber-se deIllbro
~,determinado ritmo. Ora este ritmo é na. poesia, o que se
~tende por metro, o qua;l, tpara. obedece1"a.oo pl"eceitos do
: "~p~~ov, tem de ser apropriado a.o rema poético de que se trata.
1,:'J3r,üik,Prolegomena, tp. 94, aponrta., neste caso, a poss1ve~m-o ,"" . .
, 'fhiência. directa ou indirecta (por Neoptólemo de Pário) do
',:~uema. delineado por Aristóteles, Retórica. 'IIII, 8. Por isso,
'~-se-á uma sinopse dos diversos metros e dos seus mlVeDr-
'bores (e~pe'ra.O, tal como era hábito fazer:se nas obras técnicas
dos gramáticos antigos. Horádo, muito embora escreva para
um,

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