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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DO DIREITO MATERIAL DIDÁTICO COMPLETO

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O CÓDIGO DE NAPOLEÃO E OS SISTEMAS JURIDICOS VIGENTES À ÉPOCA 
PLURALISMO JURÍDICO 
A convivência de vários ordenamentos jurídicos passou a ganhar relevância à partir da queda do Império Romano e do forçado intercâmbio cultural decorrente da invasão dos Bárbaros Germânicos.
A colonização por sua vez, também ocasionou uma situação em que diversas regras com diferentes origens evidenciavam-se à partir do choque cultural entre colonizados e colonizadores .Com a descolonização sistemas legais unificados foram criados com suas especificidades e diferenças próprias.À partir do final do século XX, há uma “nova onda” de pluralismo jurídico, em especial devido à globalização. Além da maior proximidade entre países devido a esse processo, há também o enfraquecimento dos Estados e de suas tradicionais funções legais.
Após a Revolução Francesa, a ideia de monismo jurídico predominou por muito tempo, acreditando-se que somente o ordenamento jurídico Estatal era dotado de eficácia. Porém, essa ideia não pode ir muito à frente, tendo em vista a pluralidade de pessoas e de suas necessidades que muitas vezes não podem ser supridas pelo Direito Estatal, necessitando então de outras fontes de normatividade para preencher suas lacunas sociais e jurídicas. (costumes, jurisprudência, doutrina, princípios gerais de direito, analogia, etc). 
O CÓDIGO DE NAPOLEÃO :
O Código Civil Francês, de 21 de março de 1804 ficou conhecido à partir de 1807, como “Código de Napoleão” , devido ao fato de ter sido editado durante o Consulado de Bonaparte. 
Após o Congresso de Viena , em 1815, voltou a ser conhecido apenas como “Código Civil”, mas a adesão dos juristas ao título personalista em especial no chamado “Novo Mundo” fez que um Decreto de 1852 restabelecesse a denominação oficial de Código de Napoleão em homenagem ao seu idealizador e artífice. Foi à partir do conhecido Golpe do 18 Brumário (Novembro de 1799) , que foi instalado o Consulado na França , com três membros, sendo Napoleão declarado o Primeiro Cônsul. No ano seguinte, instalou-se uma comissão com a finalidade de elaborar o Projeto do Código Civil. 
Assim, sob o comando de Napoleão, foi redigido por Tronchet, Presidente da Cour de Cassation, conhecido e respeitado processualista, Portalis, membro do Tribunal de Presas, advogado e respeitável jurista ,Bigot de Préameneu, Comissário do Governo junto ao Tribunal de Cassation e Maleville, Juiz da Cour de Cassation. Após três meses de exaustivo trabalho, o texto foi submetido ao Conselho de Estado , conforme determinava a Constituição do ano VIII , sob controle de Cambaceres, o segundo Cônsul. Concebido como um conjunto de leis que regulamentava as relações entre os cidadãos, o Código sustentava-se em três pilares que caracterizavam a burguesia surgida da Revolução Francesa: A Propriedade; O Contrato e a Responsabilidade Civil. 
A Propriedade , foi transformada em direito inviolável e sagrado, sendo à época apresentada por Portalis como “ a alma universal da legislação” . Portador da visão de mundo ao final do século XVIII e início do século XIX , ou seja, trazendo em seu bojo ideias oriundas do Iluminismo e na Revolução Francesa, até hoje o Código Napoleão revela especial modernidade e adaptabilidade, permitindo acompanhar a transformação da sociedade francesa , que em dois séculos, passou de uma organização patriarcal à afirmação da igualdade entre os homens e mulheres. Em vigência até nossos dias serviu e serve de referência para as legislações do mundo desde o século XIX. 
O Código de Napoleão, permaneceu inalterado por mais de um século, exceto pela restrição ao divórcio em 1816, o Código foi inovador : suprimiu o direito de primogenitura em relação às sucessões, admitiu a possibilidade de divórcio em casos de adultério e eliminou o que restava do feudalismo em relação ao direito das coisas, com intuito de eliminar totalmente os usos e costumes feudais , adotou o sistema de registro civil laico, em consonância com o Estado laico que surgiu após a Revolução Francesa . 
As grandes mudanças só aconteceram em 1964 , diante das mudanças da sociedade francesa ocorridas durante mais de 200 anos. Mesmo assim, dos atuais 2.302 artigos, 1.200 continuam em plena vigência com a redação original. Ressalta-se que nesse período a França teve mais de dez Constituições, sendo a de 4 de outubro de 1958 a última delas, e mesmo com todas as transformações Constitucionais o Código foi sempre recepcionado pelas novas Constituições, sendo referência para o povo francês e desde sempre desfruta de prestigio internacional. 
Conclui-se que o Código de Napoleão, foi responsável pela unificação da legislação civil e pela “morte” do Pluralismo Jurídico , já que admitia apenas um único direito vigente para qualquer membro da sociedade, segundo legisladores e aplicadores da época, abrange de forma clara e objetiva todo o direito vigente na sociedade francesa, destacando-se princípios como o da UNIVOCIDADE DO DIREITO, no qual se destaca a postura de defender a existência de apenas um sistema jurídico , aquele imposto pela ordem estatal. O legislador francês utilizou-se no Código de tipos normativos minuciosos, com raros conceitos vagos ou abertos, que limitava a atividade jurisdicional , fato que originou o surgimento da Escola da EXEGESE , a qual concedeu ao legislador todo comedimento possível, limitando a possibilidade interpretativa dos juízes, ao restringir esta ao aspecto gramatical e sistemático as disposições do Código. 
O CÓDIGO DE NAPOLEÃO E O DIREITO BRASILEIRO :
O Código Civil Francês de 1804, exerceu e exerce enorme influência na cultura jurídica dos países que adotam o sistema romanista, mais precisamente os que compõem a Europa Continental e suas ex-colônias. Partindo-se do princípio de que “o legislador não deve perder de vista que as leis são elaboradas para os homens, e não os homens para as leis e que estas devem ser adaptadas ao caráter, aos hábitos, à situação do povo, para o qual elas se destinam” 
O Código de Napoleão, segue à risca os princípios liberais de igualdade e liberdade que vigoravam à época. Sua intenção era reformar o sistema jurídico francês com base nos princípios estabelecidos pela Revolução Francesa, já que antes do advento do Código, a França não tinha um corpo único de leis e sim vários costumes locais, havendo frequentemente isenções e privilégios dados por reis ou senhores feudais. Assim, como a Revolução Francesa aboliu o Feudalismo, tornou-se necessário que o pluralismo jurídico da época desse lugar a um único direito, incidindo sobre toda população. 
O Código Civil Francês, possui uma estrutura que serviu de base para todos os Códigos que vieram depois, apresenta regras gerais que deverão sempre ser levadas em consideração quando da aplicação das regras especiais. Apresenta matéria de direito civil distribuída de forma logica com intuito de sanar toda e qualquer lacuna, funcionando como autêntico sistema jurídico.
COMPARAÇÃO ENTRE AS ESTRUTURAS DOS CÓDIGOS :
CÓDIGO DE NAPOLEÃO 
Composto por três livros, além do título preliminar (arts. 1º a 6º ): I – Das pessoas (arts. 7º a 515); II – Dos bens e das diversas modificações da propriedade (arts. 516 a 710); III – Das diferentes formas porque se adquire a propriedade (arts. 711 a 2.302) 
CÓDIGO CIVIL ALEMÃO de 1900 
Conhecido como BGB (BürgerlichesGesetzbuch)
Composto por cinco livros :I – Parte Geral ; II – Obrigações e Contratos; 
III – Coisas; IV – Família; V – Sucessões
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO 
Divide-se em 02 partes : Geral e Especial
Parte Geral composta por três livros :I – Das Pessoas; II – Dos Bens;
III – Dos fatos jurídicos; 
Parte Especial composta por cinco livros; I – Do direito das Obrigações; 
II – Do Direito de Empresa; III – Do direito das Coisas; IV – Do direito de Família; V – Do direito das Sucessões 
O dois primeiros códigos (francês e o alemão), estão ainda em vigência nos seus países de origem, como ícones de uma nova cultura jurídica e que foi fruto de dois movimentos distintos nesses países : O Iluminismo naFrança e o pandectismo (reconstituição história do Direito Romano), na Alemanha. Não só serviram como de modelos para os códigos de outras nações como são tão expressivos que não se cogita em substitui-los, seja pela representatividade histórica seja pelo fato de não ter surgido escolas jurídicas que as suplantassem na sociedade. 
DIREITO GERMÂNICO 
O Direito Germânico baseava-se nos usos e costumes e não era escrito, ou seja, era Consuetudinário. Cada família , a “clã” (sippe) ou Tribo (stamm) possuía suas leis com tradições próprias. A família (familie) era a principal instituição dos povos germânicos , o centro (mitte) , de onde partiam as regras, regras estas, baseadas nos costumes, fonte principal do direito. Registre-se que no direito costumeiro, o pai (vater) exercia poder absoluto dentro da família , sendo as regras emanadas de sua boca (mund) , sendo esse poder equivalente ao poder do paterfamilias romano. 
Referido direito costumeiro do povo germânico (bárbaros) determinava que a família seria responsável por dividas, atos ilícitos, e erros de seus filhos 
Assim :
“ Se um jovem germânico adentrasse determinada taberna e lá destruísse mesas, cadeiras e barris de cerveja , se vivesse com sua família, seria ela, responsável pela indenização dos prejuízos causados ao dono da taberna, pelos atos ilícitos causados.”
Esse costume do direito germânico relaciona-se com as predisposições legais do artigo 932,I, do vigente Código Civil Brasileiro o qual preconiza que os pais detentores do poder familiar, são responsáveis pela reparação civil pelos danos eatos ilícitos praticados pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade. Assim, no Brasil de hoje :
“Se um jovem menor de 18 anos resolver sair com o automóvel do pai e provocar acidente de trânsito, gerando prejuízos materiais , o prejudicado poderá promover uma demanda reparatória contra os pais.”
Conclusão : Uma regra dos antigos tempos do direito germânico é atualmente aplicada no Brasil, embora naqueles tempos não houvesse uma idade cronológica para a maioridade civil (que no Brasil é 18 anos completos). 
Ao longo dos tempos, constatou-se que o direito costumeiro germânico começou a receber a influência do direito romano , com leis escritas e codificadas, referida circunstância possibilitou a formação do SISTEMA JURIDICO ROMANO-GERMÂNICO, também conhecido como CIVIL LAW, ou seja, sistema jurídico codificado, que serve de fonte do direito. 
Em síntese :
Segundo Rodrigo de Freitas Palma (in História do Direito, 4 ed. São Paulo: Saraiva , 2011) :
“ A desintegração do Império Romano deixaria muitas marcas na cultura germânica. O direito de outrora consuetudinário começou a receber as formas e os métodos da sistematização próprios de seus antigos dominadores. As leis germânicas costumeiras foram, pouco a pouco, redigidas em latim. Logo foi percebida a utilidade da Lei escrita para a manutenção da estabilidade do grupo social, e os mores se acomodavam a essa nova e insurgente realidade. A profunda simbiose entre os Direitos costumeiros trazidos por esses povos de índole belicosa, que na época da conquista ainda viviam em tribos, acabou cedendo lugar a inevitável amalgama da latinização dos hábitos e das ordens sociais erigidas segundo os moldes do cosmopolitismo romano. Iniciava-se assim a construção do Sistema Romano-Germânico de direito – a Civil Law” 
O Sistema do direito codificado – Civil Law passou a ser desta forma, o Sistema da Europa Continental. A partir de então, Portugal – nas Ordenações do Reino edificou seu Sistema Legal, fortemente influenciado pelo direito romano e direito canônico e o Brasil, foi herdeiro desse legado vigente até a atualidade. 
DIREITO INGLÊS:
O Direito Inglês surgiu no século VI com a conversão da Inglaterra ao cristianismo. A sua principal característica é não ser legislado nem codificado. Não há desse modo no sistema jurídico inglês código civil, código penal, etc. Desse modo, com a ausência de legislação codificada é de se questionar : De que forma o magistrado inglês julga uma demanda judicial? O Juiz inglês, para decidir uma causa/lide analisa o caso concreto e para decidir se baseia no precedente judicial (staredecisis) e é nesse ponto que reside a distinção entre o direito inglês e o direito romano , sob o ponto de vista do julgador. O magistrado romano ao decidir uma demanda, baseia-se em lei (Corpus Iuris Civilis ou Lei das XII Tábuas) – Civil Law, o magistrado inglês por sua vez, para julgar o pleito se socorre do precedente judicial (judge-made-law) ou simplesmente common law.
Conclusão : A jurisprudência inglesa na verdade, se transforma em direito normativo, pois, o conjunto de cases apresentados na Corte formam a base do direito inglês. De modo diverso, a jurisprudência para aqueles países que adotam a civil law possuem caráter interpretativo da lei escrita, pois o direito normativo nos sistemas de origem romana provém da lei. 
Na common law, valoriza-se cada vez mais as leis – direito codificado; na civil law, denota-se a valorização da interpretação jurisprudencial .
COMMON LAW 
É a base do direito inglês , o direito criado pelos juízes e tribunais – judgemade-law e não por leis oriundas do parlamento, direito formado por decisões judiciais proferidas para casos concretos que se tornam precedentes vinculantes (staredecisis). A existência dos precedentes judiciais garante o julgamento uniforme de determinada matéria, assim, se um fato foi apreciado pelo tribunal, deve-se entender que outro semelhante tenha também o mesmo desfecho judicial, o precedente vincula decisão futura.
OBS = Na hipótese em que determinado tribunal inglês conclua que a controvérsia do processo judicial é diferente dos casos anteriores tem-se um leader case (caso lider), hipótese em que o tribunal decidirá como firstimpression case (caso de primeira impressão) e não dependerá de qualquer precedente judicial anterior, a referida decisão do caso líder, se tornará um precedente e vinculará futuros casos semelhantes . 
MAGNA CARTA DE 1215 :
No dia 15 de junho de 1.215, em Runnymede, no condado de Surrey, sul da Inglaterra, o Rei inglês, João Sem Terra – John Lackland assinou a Magna ChartaLibertatum , na qual se comprometeu a respeitar os direitos adquiridos pelos barões ingleses. O rei João Sem Terra, não respeitava os costumes e os direitos adquiridos pelos barões ingleses e, por conseguinte, altos impostos foram criados e o direito de locomoção foi restringido. Como resposta, os barões elaboraram um documento escrito em latim, salvaguardando regras mínimas de boa convivência entre o rei e seus súditos. Destaque-se que o nome completo da Magna Carta é : Magna ChartaLibertatum seu Concordiam inter regem Johanem et Barones pro concessione libertatumecclesiae et regniAngliae, ou seja Carta Magna das Liberdades ou concordia entre o rei João e os Barões para a outorga das liberdades da igreja e do reino inglês . 
A Carta Magna de 1215 foi o mais importante documento do direito inglês, considerado um marco das liberdades públicas e dos direitos civis, influenciando diversos diplomas legais, dentre eles a atual Constituição brasileira. 
O ESTADO DE DIREITO:
O Estado de Direito surgiu nos séculos XVII e XVIII no âmbito das revoluções que provocaram mudanças na organização política das sociedades inglesa e francesa ao acabar com o absolutismo (forma de governo autoritária baseada na imposição da lei por um governante absoluto) e implantar o parlamentarismo (sistema de governo composto por um corpo parlamentar – deputados, senadores e Poder Legislativo em geral – que está submetido a um sistema de leis, a Constituição, e que deve governar a partir do cumprimento dessas leis).
No sistema parlamentar, os legisladores devem governar a partir do que está previsto no corpo das leis. Se os legisladores cometem excessos e descumprem com a lei em seu governo, eles podem ser depostos. Isso acontece porque há, no Estado de Direito, a previsão de uma espécie de “direito natural”, que deve ser regulado pelo contrato social, comofoi estabelecido no âmbito da Filosofia Política pelo filósofo inglês moderno John Locke.Segundo a teoria do contrato social de Locke, todos os cidadãos têm direitos por natureza e, na medida em que podem surgir conflitos da reivindicação desses direitos, os cidadãos unem-se na sociedade e estabelecem um acordo para que haja a mediação dos conflitos e, consequentemente, a paz. Quando um cidadão descumpre o pacto ou o contrato social, ele comete um crime.
Baseada nesses ideais, a Inglaterra implantou o parlamentarismo no ano de 1689, após passar por séculos de absolutismo e pela ditadura de Oliver Cromwell, que foram regimes autoritários por imporem, por si mesmos, as leis e não respeitar o direito individual. Na França, aconteceu algo semelhante, pois a Revolução Francesa destituiu o poder absolutista a partir das batalhas ocorridas entre 1789 e 1795 e colocou no lugar um governo republicano baseado no cumprimento das normas do Direito estabelecidas pela Constituição.
A diferença crucial entre a França e a Inglaterra é que os ingleses adotaram o parlamentarismo com a monarquia. Assim, o governo era representado pelos monarcas, mas o corpo de leis que regula o governo era estabelecido pelo Poder Legislativo. Já os franceses adotaram o sistema republicano, havendo tripartição dos poderes (ideia proposta primeiramente pelo filósofo iluminista francês Charles de Montesquieu), que visa a combater qualquer tipo de excesso de poder a partir da repartição igualitária dos âmbitos legislativo, executivo e judiciário.
O poder nos governos republicanos é distribuído, portanto, entre aqueles que criam as leis (o Legislativo), aqueles que executam as leis em seus governos (o Executivo) e aqueles que atuam quando há o descumprimento da lei por parte de um dos poderes ou dos cidadãos comuns (o Judiciário). Os direitos fundamentais que regulam esse tipo de Estado são os direitos à vida, à liberdade e à igualdade.
Os governos francês e inglês modernos começaram a instaurar no mundo o chamado Estado de Direito, que desde a sua fundação tinha uma forte inspiração burguesa e liberal. O liberalismo é uma doutrina econômica idealizada por John Locke e mais bem teorizada e fundamentada pelo filósofo e economista inglês Adam Smith. Segundo esses pensadores, o governo não deveria intervir na economia e, diretamente, no modo de vida das pessoas, limitando-se a solucionar os conflitos e a organizar a verba estatal e aplicá-la nas obras públicas.Uma série de distorções ocorreu nas sociedades liberais, principalmente em virtude da miséria em que se encontrava a população e da exploração dos trabalhadores das fábricas por parte da burguesia, fazendo emergir o pensamento socialista, que foi detalhado e transformado em doutrina econômica por Karl Marx, filósofo, sociólogo e economista alemão, e Friedrich Engels, economista e jornalista, considerados os criadores do socialismo científico.
A população geral estava insatisfeita. A fome, a falta de emprego, as jornadas exaustivas, a falta de direitos para os trabalhadores (como salário mínimo, descanso semanal remunerado, aposentadoria e licença-maternidade), os altos índices de violência, a baixa escolarização e o alastramento de doenças levaram a população europeia à beira da ruína.
Em razão desses problemas sociais, no início do século XX, os economistas passaram a rever o liberalismo econômico, que fundamentava o Estado de Direito. O economista inglês John Maynard Keynes criou, então, uma teoria que ficou conhecida como keynesianismo ou social-democracia.
A social-democracia baseia-se na premissa de que, para que o mercado, a economia, o governo e a vida das pessoas funcionem adequadamente, o Estado deve atender a uma série de normas que visem a melhorar a vida geral da população e manter um Estado de bem-estar social, ou seja, o Estado Social, que mais tarde ficou conhecido no meio jurídico como Estado Democrático de Direito.
A aparente junção do Estado Liberal com o Estado Social para fundar o Estado Democrático de Direito não era assim tão simples. Segundo José Afonso da Silva, jurista e professor titular de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo:
“O Estado democrático de Direito concilia Estado democrático e Estado de Direito, mas não consiste apenas na reunião formal dos elementos desses dois tipos de Estado. Revela, em verdade, um conceito novo que incorpora os princípios daqueles dois conceitos, mas os supera na medida em que agrega um componente revolucionário de transformação do status quo.”
Isso significa que o Estado Democrático de Direito passou a formar um novo conceito, completamente diferente do que já era feito pelo Estado de Direito, por acomodar em si novos elementos que dizem respeito à vida e à sua regulação nas sociedades contemporâneas.
Características, fundamento, conceito e implicações
O Estado Democrático de Direito, apesar de parecer ser um simples Estado de Direito entoado por governos democráticos, onde há apenas a participação popular na escolha dos governantes, não é. A democracia na escolha dos participantes é fundamental, mas deve haver também uma série de garantias de direitos fundamentais para que haja, de fato, liberdade e igualdade entre as pessoas.
Esses direitos são educação, saúde, saneamento, direito de ir e vir, direito ao julgamento livre e imparcial, com a prerrogativa de ampla defesa para aqueles que são acusados de cometer crimes, direito à alimentação adequada, direito à previdência (aposentadoria) e a garantia dos direitos trabalhistas em geral (férias remuneradas, descanso remunerado semanal, jornada de trabalho fixa e justa, salário mínimo, licença-maternidade, licença médica, entre tantos outros).
O conjunto de direitos que adentraram na concepção de Estado Democrático de Direito visa a garantir, em suma, a dignidade da pessoa humana, partindo do pressuposto de que todo mundo tem direito a garantias básicas que tornem a sua vida digna de ser vivida. Existem documentos oficiais, nos âmbitos do Direito Constitucional e do Direito Internacional, que regulamentam as garantias que devem ser atribuídas à população em um Estado Democrático de Direito
Os países democráticos, sendo republicanos ou parlamentaristas, devem ter as suas leis garantidas por uma Constituição. É dever dos Estados, a partir de seus poderes, garantir a manutenção desses direitos. Para regulamentar e executar tal manutenção, são eleitos governos e um corpo legislativo que operam no sentido de garantir que todas as normas jurídicas sejam respeitadas.No âmbito internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um documento oficial que rege o sistema jurídico internacional na tentativa de evitar que os Direitos Humanos básicos sejam desrespeitados. Existem organismos, como a ONU e a Unesco, que atuam na fiscalização dos governos, visando a coibir qualquer excesso ou desrespeito aos Direitos Humanos dentro dos países.
Estado Democrático de Direito e a Constituição Federal Brasileira
O artigo 1º da Constituição Federal Brasileira de 1988 diz:
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Ainda o primeiro artigo, em seu parágrafo único, diz que:
“todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representanteseleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Esse primeiro parágrafo reúne toda a essência democrática da Constituição Federal Brasileira de 1988 e abriga em si a responsabilidade que o Estado brasileiro assumiu com o seu povo: garantir a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. A partir do momento em que o Estado não consegue garantir esses direitos, ele está falhando do ponto de vista constitucional.
Garantir a atenção à saúde básica,a escolarização, o saneamento, o julgamento imparcial e público, além da garantia dos direitos trabalhistas e da liberdade individual são papéis do Estado segundo a Constituição Federal Brasileira, já expressos no inciso III do artigo 1º, que declara como direito de todos o princípio da dignidade humana.
O FENÔMENO DAS GUERRAS MUNDIAIS 
Primeira Guerra Mundial: o real “início” do século XX
Primeira Guerra Mundial. Até 1914, o mundo ainda vivia um eco da “Belle Époque” (Bela Época), isto é, a fase do progresso e do otimismo vivida na Europa dos grandes Impérios desde o fim da década de 1870. A “inauguração” do século XX com uma guerra de proporções catastróficas (chamada por muitos de seus contemporâneos de “apocalíptica”) parecia ser um prenúncio da sucessão de guerras sangrentas que se alastrariam ao longo do século.
Contudo, antes mesmo de o primeiro conflito mundial acontecer, algumas guerras setoriais estouraram. Duas merecem destaque: a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e a Guerra dos Bálcãs (1912-1913). Essas guerras, sobretudo a dos Bálcãs, delineavam um pouco do que aconteceria em 1914, haja vista que foi na Bósnia (um dos países da Península Balcânica) que o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando foi assassinado. Como denota a história , a sua morte foi tida como o estopim da guerra.
A grande máquina de guerra da Primeira Guerra Mundial pertencia ao então II Reich (Segundo Império) alemão, que havia modernizado sua infraestrutura e seu arcabouço militar após a unificação, ocorrida em 1870. O II Reich, comandado por Guilherme II, era uma das nações mais poderosas da época e, assim como outras, tinha pretensões expansionistas. As dimensões da guerra logo se tornaram evidentes com a quantidade de soldados, armamento, munições, bombas e veículos utilizados só no primeiro ano. O uso de armas químicas, como gases tóxicos que matavam instantaneamente, também revelou uma face terrível da guerra.
O Império Alemão, mesmo tendo entrado na guerra com o exército mais moderno, acabou perdendo e sendo obrigado a se submeter às sanções instituídas pelos seus inimigos, sobretudo pela França, prescritas no Tratado de Versalhes. Vale ressaltar que uma das consequências diretas da guerra foi a Revolução Bolchevique, levada a cabo na Rússia, em outubro de 1917. Os revolucionários russos, liderados por Lenin, aproveitaram-se do enfraquecimento que o Império do Czar Nicolau II sofreu durante a Primeira Guerra para empreender a ação revolucionária.
O período entreguerras
As décadas de 1920 e 1930 foram marcadas pelas tentativas de reestruturação dos países europeus afetados pela devastação da guerra. O mais afetado deles, a Alemanha, viu seu império ser desmanchado e o regime republicano conhecido como República de Weimar ser instalado.
A situação política e econômica dos alemães estava tão caótica nesse período que muitos movimentos políticos radicais ganharam adesão popular, como o movimento espartaquista – facção comunista da Alemanha –, que tentou um golpe revolucionário em 1919, e o movimento nacional socialista dos trabalhadores alemães, que fundou o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, que ficaria conhecido como Partido Nazista. Adolf Hitler entrou para esse partido em 1921, dando um novo formato para ele.
Ao mesmo tempo, a Itália, no início da década de 1920, viu a tomada do poder pelos fascistas, liderados por Benito Mussolini. A Rússia, que havia sofrido a ação revolucionária bolchevique, incorporou ao seu domínio outras nações eslavas, criando a União Soviética. Com a morte de Lenin, o primeiro líder soviético, em 1924, Stalin tornou-se o comandante do império soviético. Todo esse cenário é conhecido em História como o “Período entreguerras”, haja vista que foi o totalitarismo desenvolvido pelos Estados descritos acima que montou o cenário para a Segunda Guerra Mundial.
Se as guerras entre o Japão e Rússia e nos Bálcãs introduziram a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Sino-Japonesa (iniciada em 1937 e só finalizada em 1945) e a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foram o prefácio da Segunda. O segundo conflito entre China e Japão acabou incorporando-se, em 1939, à Segunda Guerra europeia, quando os japoneses aliaram-se à Alemanha nazista e à Itália fascista. Francisco Franco, general espanhol, por sua vez, comandou a revolução nacionalista com viés fascista na Espanha, tendo recebido forte auxílio dos nazistas. Quando a Alemanha invadiu a Polônia em setembro de 1939, o cenário da guerra já estava montado.
Desencadeamento da Segunda Guerra
A Segunda Guerra, como pontuam alguns historiadores, foi, de certa forma, uma continuação da Primeira, haja vista que alguns dos motivos eram similares, como o desejo de expansão imperialista da Alemanha, que, sob o jugo de Hitler, declarou-se como o III Reich (terceiro império). Porém, a devastação e o morticínio dessa guerra foram inigualáveis, sem contar as atrocidades que foram cometidas fora da zona de combate, como o holocausto nazista e os gulags soviéticos, já que tanto nazistas quanto comunistas desejam levar a cabo a construção de um império global.
A União Soviética, que desde 1939 havia firmado um pacto de não agressão com os nazistas, rompeu com estes em 1941, tornando-se a inimiga do “eixo” na Frente Leste. Nos anos seguintes, os aliados ocidentais articularam-se com a URSS em prol de combater o inimigo em comum. A entrada dos Estados Unidos na guerra, que ocorreu também em 1941, em razão do ataque japonês à base naval de Pearl Harbor, fez com que a guerra se acelerasse e que tivesse dois grandes polos: o continental (europeu) e o do Pacífico (batalhas travadas no Oceano Pacífico, em especial nas ilhas japonesas). A partir desse evento, houve o início da formação da aliança entre Inglaterra, Estados Unidos e outros países a eles associados contra as chamadas “Potências do Eixo” (Alemanha, Itália e Japão).
Do dia “D” às bombas atômicas
A articulação dos aliados teve o seu cume no chamado Dia D, isto é, uma gigantesca operação militar realizada em 06 de junho de 1944 que consistia em um projeto de libertação da Europa a partir do litoral francês. O objetivo dessa operação era liberar a França, a Holanda, a Bélgica e os demais países da Europa Ocidental ocupados pelos nazistas e chegar até a Alemanha.
Do lado oriental, os soviéticos fizeram também um processo de avanço sobre o espaço nazista até chegar à Alemanha. Aos poucos, as forças alemãs foram minguando e, em abril de 1945, foi noticiado o suicídio de Adolf Hitler. Em agosto desse mesmo ano, a guerra chegou ao fim em solo europeu, mas prosseguiu no Pacífico contra o Japão. Foi nesse país que foram lançadas as duas bombas atômicas, nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, em 06 e 09 de agosto, respectivamente, por um bombardeiro dos Estados Unidos, provocando a morte instantânea de dezenas de milhares de pessoas. Após essa catástrofe nuclear, a guerra finalmente chegou ao fim com a rendição do Japão em 02 de setembro de 1945.
Guerra Fria
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, começaram a aparecer as divergências entre as potências vencedoras em razão das diferentes visões de mundo e dos diferentes projetos políticos. No mundo ocidental, prevaleceu o modelo da economia de mercado e do sistema democrático de direito. Na Europa Oriental e em grande parte da Ásia, prevaleceu a economia estatal planificada, regida pelo sistema comunista.
Houve, portanto, paulatinamente, um delineamento geopolítico entre uma zona de influência encabeçada pelos Estados Unidos, que abrangia a Europa Ocidental, o continente americano e a Oceania, e uma zona de influência soviética, que se assenhorava da Europa Oriental e de quase toda a Ásia. No começo dos anos 1950, essas divergências passaram a ficar explícitas e temerosas com o estouro da Guerra das Coreias – em que havia um núcleo apoiado pelos soviéticos (o norte-coreano) e outro apoiado pelos ocidentais (o lado Sul da Coreia). Essa atmosfera de rivalidade entre superpotências ficou conhecida como Guerra Fria, que durou até o fim dos anos 1980.
A origemda Globalização
Não existe um total consenso sobre qual é a origem do processo de globalização. O termo em si só veio a ser elaborado a partir da década de 1980, tendo uma maior difusão após a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. No entanto, são muitos os autores que defendem que a globalização tenha se iniciado a partir da expansão marítimo-comercial europeia, no final do século XV e início do século XVI, momento no qual o sistema capitalista iniciou sua expansão pelo mundo.
De toda forma, ela foi gradativamente apresentando evoluções, recebendo incrementos substanciais com as transformações tecnológicas proporcionadas pelas três revoluções industriais. Nesse caso, cabe um destaque especial para a última delas, também chamada de Revolução Técnico-Científica-Informacional, iniciada a partir de meados do século XX e que ainda se encontra em fase de ocorrência. Nesse processo, intensificaram-se os avanços técnicos no contexto dos sistemas de informação, com destaque para a difusão dos aparelhos eletrônicos e da internet, além de uma maior evolução nos meios de transporte.
Portanto, a título de síntese, podemos considerar que, se a globalização iniciou-se há cerca de cinco séculos aproximadamente, ela consolidou-se de forma mais elaborada e desenvolvida ao longo dos últimos 50 anos, a partir da segunda metade do século XX em diante.
Aspectos positivos e negativos da globalização
Uma das características da globalização é o fato de ela se manifestar nos mais diversos campos que sustentam e compõem a sociedade: cultura, espaço geográfico, educação, política, direitos humanos, saúde e, principalmente, a economia. Dessa forma, quando uma prática cultural chinesa é vivenciada nos Estados Unidos ou quando uma manifestação tradicional africana é revivida no Brasil, temos a evidência de como as sociedades integram suas culturas, influenciando-se mutuamente.
Existem muitos autores que apontam os problemas e os aspectos negativos da globalização, embora existam muitas polêmicas e discordâncias no cerne desse debate. De toda forma, considera-se que o principal entre os problemas da globalização é uma eventual desigualdade social por ela proporcionada, em que o poder e a renda encontram-se em maior parte concentrados nas mãos de uma minoria, o que atrela a questão às contradições do capitalismo.
Além disso, acusa-se a globalização de proporcionar uma desigual forma de comunicação entre os diferentes territórios, em que culturas, valores morais, princípios educacionais e outros são reproduzidos obedecendo a uma ideologia dominante. Nesse sentido, forma-se, segundo essas opiniões, uma hegemonia em que os principais centros de poder exercem um controle ou uma maior influência sobre as regiões economicamente menos favorecidas, obliterando, assim, suas matrizes tradicionais.
Entre os aspectos positivos da globalização, é comum citar os avanços proporcionados pela evolução dos meios tecnológicos, bem como a maior difusão de conhecimento. Assim, por exemplo, se a cura para uma doença grave é descoberta no Japão, ela é rapidamente difundida (a depender do contexto social e econômico) para as diferentes partes do planeta. Outros pontos considerados vantajosos da globalização é a maior difusão comercial e também de investimentos, entre diversos outros fatores.
É claro que o que pode ser considerado como vantagem ou desvantagem da globalização depende da abordagem realizada e também, de certa forma, da ideologia empregada em sua análise. 
Efeitos da Globalização
1) Configuração do espaço geográfico internacional em redes, sejam elas de transporte, de comunicação, de cidades, de trocas comerciais ou de capitais especulativos. Elas formam-se por pontos fixos – sendo algumas mais preponderantes que outras – e pelos fluxos desenvolvidos entre esses diferentes pontos.
2)  expansão das empresas multinacionais, também chamadas de transnacionais ou empresas globais. Muitas delas abandonam seus países de origem ou, simplesmente, expandem suas atividades em direção aos mais diversos locais em busca de um maior mercado consumidor, de isenção de impostos, de evitar tarifas alfandegárias e de angariar um menor custo com mão de obra e matérias-primas. 
O processo de expansão dessas empresas globais e suas indústrias reverberou no avanço da industrialização e da urbanização em diversos países subdesenvolvidos e emergentes, incluindo o Brasil.
3) Formação dos acordos regionais ou dos blocos econômicos. Embora essa ocorrência possa ser inicialmente considerada como um entrave à globalização, pois acordos regionais poderiam impedir uma global interação econômica, ela é fundamental no sentido de permitir uma maior troca comercial entre os diferentes países e também propiciar ações conjunturais em grupos.
4) Expansão e consolidação do sistema capitalista, além de permitir sua rápida transformação. Assim, com a maior integração mundial, o sistema liberal – ou neoliberal – ampliou-se consideravelmente na maior parte das políticas econômicas nacionais, difundindo-se a ideia de que o Estado deve apresentar uma mínima intervenção na economia.
A globalização é, portanto, um tema complexo, com incontáveis aspectos e características. Sua manifestação não pode ser considerada linear, de forma a ser mais ou menos intensa a depender da região onde ela se estabelece, ganhando novos contornos e características. Podemos dizer, assim, que o mundo vive uma ampla e caótica inter-relação entre o local e o global.
DIREITOS FUNDAMENTAIS DE 1ª à 6ª DIMENSÃO :
Os Direitos Fundamentais visam assegurar a todos uma existência digna, livre e igual, criando condições à plena realização das potencialidades do ser humano. Nas palavras de Alexandre de Moraes podem ser definidos como:
“ O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana”. 
Por serem indispensáveis à existência das pessoas, os direitos fundamentais possuem as seguintes características:
1. Inalienabilidade: são direitos intransferíveis e inegociáveis.
2.Imprescritibilidade: não deixam de ser exigíveis em razão do não uso.
3.Irrenunciabilidade: nenhum ser humano pode abrir mão da existência desses direitos.
4.Universalidade: devem ser respeitados e reconhecidos no mundo todo.
5.Limitabilidade: não são absolutos. Podem ser limitados sempre que houver uma hipótese de colisão de direitos fundamentais.
É importante salientar que esses direitos são variáveis, modificando-se ao longo da história de acordo com as necessidades e interesses do homem. Essa transformação é explicada com base na teoria das gerações de direitos fundamentais, criada a partir do lema revolucionário francês (liberdade, igualdade, fraternidade) e que pode ser assim resumida:
A TEORIA GERACIONAL DE KAREL VASAK (1979).
A teoria das gerações foi desenvolvida por Karel VASAK por meio de  um texto publicado em 1977, bem como,  por uma palestra proferida em 1979. Tal palestra fruto de uma Conferência no Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo (França) – 1979: "Pelos Direitos Humanos da Terceiração Geração: os direitos de solidariedade". 
Neles (texto e palestra), estabeleceu-se, em breve síntese, a teoria das gerações, que redunda numa relação entre direitos e o lema da revolução francesa: liberté, egalité et fraternité (liberdade, igualdade e fraternidade). É o que vemos por este fluxograma:
Gerações de direitos fundamentais: da 1ª à 6ª geração
Conforme definição doutrinária, os direitos e garantias fundamentais do Título II da Constituição Federal de 1988 constituem gênero dos quais são espécies os direitos e deveres individuais e coletivos, os direitos sociais, os direitos de nacionalidade, os direitos políticos e os partidos políticos.
Os direitos e deveres individuais e coletivos estão relacionados no art. 5º da Constituição. Porém, conforme doutrina e jurisprudência,não se restringem ao rol deste artigo, podendo ser encontrados em outras partes do texto constitucional, tanto de forma expressa, como decorrentes de seus regimes e princípios. Eles também podem ser encontrados em tratados e convenções internacionais de que o Brasil é parte.
DIREITOS DE PRIMEIRA DIMENSÃO:
Os direitos de primeira dimensão referem-se às LIBERDADES NEGATIVAS CLÁSSICAS, que enfatizam o princípio da liberdade, configurando os direitos civis e políticos. Exigem do ente estatal uma abstenção e não uma prestação, possuindo assim um caráter negativo, tendo como titular o indivíduo. Exemplos: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, à liberdade de religião, à participação política, etc. Os direitos fundamentais de primeira dimensão representam de forma geral os direitos civis e políticos.Esta geração de direitos, fruto do pensamento liberal-burguês do século XVIII, foi reconhecida pelas primeiras constituições escritas. Porém, teve sua origem e desenvolvimento marcados por documentos históricos como a Magna Carta 1215, assinada pelo rei João Sem Terra, a Paz de Westfália de 1648, o Habeas Corpus Act de 1679, a Bill ofRights de 1688 e finalmente as declarações de direitos Americana (1776) e Francesa (1789).
DIREITOS DE SEGUNDA DIMENSÃO
Os direitos de segunda dimensão relacionam-se com as LIBERDADES POSITIVAS, são aqueles que asseguram o princípio da igualdade material entre o ser humano. Neste contexto, ocorre a criação de normas de ordem pública destinadas a limitar a autonomia de vontade das partes em prol dos interesses da coletividade. O direito de segunda geração, ao invés de se negar ao Estado uma atuação, exige-se dele que preste políticas públicas, tratando-se, portanto de direitos positivos, impondo ao Estado uma obrigação de fazer, correspondendo aos direitos à saúde, educação, trabalho, habitação, previdência social, assistência social e etc. São direitos que impõem diretrizes, deveres e tarefas a serem realizadas pelo Estado, no intuito de possibilitar à população melhor qualidade de vida e um nível de dignidade como pressuposto do próprio exercício da liberdade. Os primeiros documentos que representaram esta dimensão são a Constituição de Weimar na Alemanha e o tratado de Versalhes, ambos de 1919.
DIREITOS DE TERCEIRA DIMENSÃO
Os direitos de terceira geração ou dimensão consagram os princípios da solidariedade ou fraternidade, são aqueles direitos atribuídos de forma geral a todas as formações sociais, protegendo interesses de titularidade coletiva ou difusa. Exemplos: direito ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, direito de comunicação, de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade. Tratam-se de direitos transindividuais de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.Os direitos fundamentais de terceira geração, também chamados de direitos transindividuais, decorreram das profundas mudanças pelas quais passaram a comunidade internacional e a sociedade de massa, por meio do desenvolvimento tecnológico e científico.
Essas mudanças provocaram alterações nas relações econômico-sociais e o consequente surgimento de novos problemas, alvos de preocupações em escala mundial, como, por exemplo, a preservação do meio ambiente e a proteção aos consumidores.
DIREITOS DE QUARTA DIMENSÃO
Os direitos de quarta dimensão não são um consenso na doutrina, são aqueles direitos emanados pela globalização política, compreendem o direito à democracia, informação e pluralismo (político, religioso, jurídico e cultural) e de normatização do patrimônio genético (conjunto de informações genéticas contidas nas plantas, nos animais e nos microorganismos no todo ou em partes (cascas, folhas, raízes, pelos penas, peles etc) . Os direitos fundamentais de quarta dimensão tratam do futuro respeito à cidadania, sendo imprescindíveis para a realização e legitimidade da globalização política. Não é unânime a aceitação desta dimensão de direito fundamental, parte da doutrina considera como direitos fundamentais de quarta geração os decorrentes da evolução da engenharia genética, relacionados à manipulação do patrimônio genético, processo que pode colocar em risco a existência humana.
Outras correntes doutrinárias apontam como direitos fundamentais de quarta geração aqueles introduzidos pela globalização política, correspondendo à última fase de institucionalização do Estado social. São defensores desta corrente: Pedro Lenza; Marcelo Novelino; Erival Oliveira e Norberto Bobbio.
DIREITOS DE QUINTA DIMENSÃO
Registre que já existem autores defendendo a existência dos direitos de quinta dimensão e o direito à paz seria o seu grande representante. Incorporam os anseios e necessidades humanas que se apresentam com o tempo, são direitos provindos de respostas à dominação biofísica que impõe uma visão única do predicado “animal” do homem, conduzindo os “clássicos” direitos econômicos, culturais e sociais. O jurista Paulo Bonavides sintetizou a importância do direito à paz em uma sociedade globalizada onde prevalece a lógica neoliberal, geradora de contrastes que culminam em violência ao traçar um panorama histórico e social das cinco gerações de Direitos Fundamentais, em outras palavras, “quem negar o direito à paz cometerá um crime contra o ser humano”.Os direitos de quinta geração estão relacionados, segundo outros doutrinadores, à evolução da cibernética e de tecnologias como a realidade virtual e a Internet.
DIREITOS DE SEXTA DIMENSÃO
O direito fundamental de acesso à água potável, como direito de sexta dimensão, significa um acréscimo ao acervo de direitos fundamentais, nascidos, a cada passo, no longo caminhar da Humanidade. Esse direito fundamental, necessário à existência humana e a outras formas de vida, necessita de tratamento prioritário das instituições sociais e estatais, bem como por parte de cada pessoa humana.
Compreendido como direito fundamental alçado, agora, a uma nova dimensão, o acesso à água potável exige mudanças de atitudes do Estado e da sociedade.
O Estado legislador fica comprometido a elaborar leis que priorizem a proteção e a promoção do direito fundamental, exigindo-se que sua atuação esteja vinculada à juridicidade desse direito. No que tange ao Estado administrador, este deve estabelecer políticas públicas, levando em consideração que se está diante de um direito fundamental. Já o Estado prestador de serviços jurisdicionais, ao apreciar os conflitos sociais levados à sua apreciação, deve decidir de modo a concretizar o direito fundamental. São defensores desta corrente: Zulmar Fachin e Deise Marcelino da Silva.
CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO 
Não há dúvida à respeito da existência de novas tendências constitucionais na América Latina. A cultura latino-americana e, por conseguinte, o Direito Constitucional que aqui se desenvolve têm traços especiais que os distingue dos demais sistemas. Esse novo modelo é fruto de reivindicações sociais de parcelas historicamente excluídas do processo decisório nesses países, notadamente as populações indígenas. 
O denominado Constitucionalismo Latino-americano nasce (do ponto de vista normativo) a partir, das Constituições do Equador de 2008 e da Bolívia de 2009 e se apresenta, para muitos, como uma verdadeira ruptura com as tradicionais bases do constitucionalismo (seja ele clássico ou contemporâneo) de matriz europeia até então vigente.
Esse Constitucionalismo Latino-americano surge no contexto de busca pela promoção de um Estado Plurinacional. Sua fundamentação teórica é a de que os Estados nacionais modernos foram criados a partir da lógica da homogeneização e uniformização, sendo desde a origem Estados que visaram negar a diversidade.
Isso porque, com a predominância de uma lógica colonial e eurocêntrica, foram desenvolvidos mecanismos de normalização e construção de uma suposta “identidade nacional”, com um direito nacional (monismo jurídico), uma moeda nacional, um exército nacional, uma línguanacional, entre outros tipos de anulação da diferença. Há um artificialismo formador de um Estado nacional de padrão europeu, o que acaba, em última análise, por justificar a superioridade de determinadas culturas sobre outras.
Inexistindo mais de um sistema normativo vigorando no mesmo Estado-nação, o monismo jurídico foi o pálio sobre o qual por muito tempo se edificou esse modelo importado, monocultural, excluindo não apenas os povos originários do processo político, mas também mulheres e escravos.
Impulsionados pela ideia de igualdade influenciados por padrões Europeus, os Estados latino-americanos desenvolveram as mais variadas políticas “assimilacionistas”, com o fim de “incorporar” os indígenas à nação, num desejo integracionista da “sociedade envolvente majoritária”.
Logo, onde há “uniformização de valores”, obrigatoriamente, haverá radical exclusão, em um modelo nada representativo dos grupos “não uniformizados”. Todo esse processo de “culturicídio” de grupos e etnias por meio do modelo homogêneo e uniformizador é questionado pelo novo constitucionalismo da América Latina, numa perspectiva plural de reconhecimento e inclusão do “outro” nos processos de formação da vontade política e distribuição do poder.
ESTADO LIBERAL x ESTADO PLURINACIONAL 
Antes se consagrava um conceito “liberal” de nação, em que há uma identificação e unificação entre esta e o Estado (Estado-nação, com um só povo, uma só língua, uma só cultura), com a “plurinacionalidade” há uma refundação do conceito de Estado, pois o Estado Plurinacional deve congregar e reconhecer diferentes nações em seu seio (grupos sociais heterogêneos existentes no Estado), numa incessante tentativa de rechaçar o “universal” como uma categoria abstrata.
Trata-se, portanto, de um movimento social, jurídico e político voltado à ressignificação do exercício do poder constituinte, da legitimidade, da participação popular e do próprio conceito de Estado. O Estado do Constitucionalismo Latino-americano é o Estado Plurinacional, que reconhece a pluralidade social e jurídica, respeitando e assegurando os direitos de todas as camadas da população. Em outras palavras: esse novo constitucionalismo consiste em proposta jurídico-política de um Estado Plurinacional que tem como objetivo a criação de um modelo de gestão pública das diferenças e de respeito aos modos de vida dos grupos culturalmente diferenciados que, no modelo colonial, foram excluídos do sistema de tomadas de decisão relativas ao mesmo espaço geográfico e político.
O Constitucionalismo Latino-americano do Estado Plurinacional, por isso mesmo, só pode ser profundamente intercultural, uma vez que ele corresponde à constituição de uma relação igual e respeitosa de distintos povos e culturas, a fim de manter as diferenças legítimas e eliminar (ou ao menos reduzir) as ilegítimas, mantendo uma unidade como garantia da diversidade.[
Essa experiência é um sinal de que é possível a convivência respeitosa de diferentes grupos culturalmente diferenciados, seus modos de vida e suas juridicidades num mesmo espaço geográfico e político cada vez mais livre das amarras coloniais ainda presentes na América Latina.
Com o objetivo de descentralizar o poder, estes países, destroem o conceito de “unidade nacional” baseada na homogeneização por meio do reconhecimento da diversidade. Assim, amparam, em verdade, não apenas os povos indígenas, mas também outras minorias, como as comunidades tradicionais afrodescendentes (os quilombolas, no Brasil), concedendo uma cidadania diferenciada por meio de fortalecida representação política multicultural, bases do conceito de Estado Plurinacional.
EXEMPLOS DA CONSTITUIÇÃO DA BOLÍVIA 
A Constituição da Bolívia, por exemplo, prevê: a) cota de parlamentares oriundos dos povos indígenas; b) a propriedade exclusiva da terra, recursos hídricos e florestais pelas comunidades indígenas; c) além de estabelecer a equivalência entre a justiça tradicional indígena e a jurisdição ordinária estatal. Ou seja: cada comunidade indígena poderá ter seu próprio Tribunal e suas decisões não poderão ser revisadas pela justiça comum.
A compreensão desses conceitos, contudo, fica mais clara quando se analisa o desenvolvimento histórico do constitucionalismo na América Latina em diálogo com o Direito Internacional dos Direitos Humanos, com enfoque no corpus iuris indígena.
A grande maioria dos autores afirma que até aproximadamente metade do século XX o período foi marcado por um intenso “indigenismo integracionista” que, de forma geral, representa o ideal “assimilacionista” da maior parte dos Estados latino-americanos.
No Brasil, em 1973, foi editada a Lei 6.001, denominada “Estatuto do Índio” que, apesar de mencionar nominalmente a preservação da cultura indígena, possuía o objetivo de integração dos índios na “comunhão nacional” (art. 1º). Buscou-se, assim, impor aquilo que era denominado “integração harmoniosa dos índios”, em verdadeiro processo de assimilação.
O referido estatuto também estabeleceu o “regime tutelar”, que dividiu os índios em superadas categorias conforme o grau de incorporação à comunhão nacional. Os denominados “não integrados” deveriam ser tutelados pela União, por meio da Funai. Esse regime, sem dúvida, não foi recepcionado pela Constituição de 1988, além de colidir com a Convenção 169 da OIT,( Organização Internacional do Trabalho, que reconhece direitos indígenas e coletivos abrangendo aspectos de direitos econômicos sociais e culturais), normativa já internalizada na ordem jurídica pátria (embora sistematicamente ignorada) e com status supralegal.
Analisando as mudanças constitucionais da América Latina sob o prisma do multiculturalismo e do tratamento constitucional dado aos povos originários indígenas, a constitucionalista peruana Raquel Yrigoyen Fajardo estabelece uma cronologia lógica, através de ciclos constitucionais na América, no intuito de superar o “constitucionalismo liberal monista” do século XIX e o “constitucionalismo social integracionista” do século XX.
Segundo a autora, três são os ciclos constitucionalistas contemporâneos em nossa região: a) constitucionalismo multicultural; b) constitucionalismo pluricultural e c) constitucionalismo plurinacional.
A) Primeiro ciclo – ciclo multicultural:
O primeiro ciclo tem como grandes marcos normativos a Constituição do Canadá de 1982 e a do Brasil de 1988. Dentre as suas principais características está o reconhecimento de direitos indígenas individuais e coletivos, como o direito à identidade cultural.
Apesar de avanços conquistados depois de anos de um regime ditatorial militar, a Constituição brasileira de 1988 se encontra apenas e tão somente no primeiro ciclo constitucionalista da América Latina.
No tocante aos povos indígenas originários, o texto constitucional brasileiro, longe de reconhecer uma autonomia jurídica, política e cultural, enfatiza o âmbito meramente protetivo e monojurídico. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são “bens da União” (art. 20, inciso XI). As línguas indígenas não são consideradas oficiais, embora a Constituição autorize e reconheça a sua utilização pelas comunidades indígenas (art. 210, § 2º). Ademais, consagra-se o monismo Jurídico (existe um só Direito, não se reconhecendo oficialmente um “direito indígena” e, tampouco, sua jurisdição).
B) Segundo ciclo – ciclo pluricultural:
O segundo ciclo tem como principal marco normativo a incorporação da Convenção 169 da OIT por diversos países americanos. Este ciclo, também denominado “constitucionalismo pluricultural”, rompe com o monismo jurídico, reconhecendo (e não apenas tutelando) as tradições, os costumes, as autoridades e o direito indígena, com jurisdição autônoma.
Importante conflito entre a Convenção 169 da OIT (art. 14) e a Constituição (art. 20, inciso XI), está no fato de que o tratado internacional proclama os direitos de propriedade e de posse indígena sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Para André de Carvalho Ramos, “apesar de, no Brasil, a CF/88 considerar bens da União as terras indígenas, ficaevidente que a Convenção é cumprida pela proteção efetiva à permanência e uso, mesmo que o domínio jurídico seja da União.” 
Em sentido diverso, ValerioMazzuoli sustenta que “Tem-se, aqui, uma antinomia entre tratados internacionais de direitos humanos e a Constituição, que deve ser resolvida pelos critérios contemporâneos de solução de antinomias, em especial pela aplicação do princípio pro homine.” Isso porque “Todas as normas em vigor no Estado, sejam internas ou internacionais, devem ser interpretadas ‘conforme’ os direitos humanos, sem qualquer exceção.” 
C) Terceiro ciclo – ciclo plurinacional:
O terceiro ciclo tem como marcos normativos justamente as Constituições do Equador de 2008 e da Bolívia de 2009. O terceiro ciclo constitucional dá ensejo a um Estado Plurinacional, em que os povos indígenas não são apenas protegidos (como no primeiro ciclo) ou têm sua autonomia reconhecida (como no segundo ciclo). Passa-se a reconhecer não apenas uma jurisdição indígena, mas também nações indígenas coexistindo dentro do mesmo Estado: um novo Estado Plurinacional. As comunidades tradicionais passam a fazer parte da construção do Estado, integrando o poder constituinte originário. Estamos diante de um “constitucionalismo plurinacional”.
Voltado à afirmação do corpus iuris das comunidades tradicionais, pode-se afirmar que a ideia de “um só povo” passa por um processo de desconstrução. Em seu lugar, sedimenta-se, cada vez mais, o conhecimento da multiplicidade de nações dentro de um Estado (indígenas e não indígenas). E o Direito se aproveita para registrar a multiplicidade de ordenamentos emanados dos mais diversos grupos sociais que conformam estas nações, o que é reforçado pela possibilidade de reconhecimento da jurisdição indígena.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
[1] FIGUEIREDO, Marcelo. Tendências atuais do constitucionalismo latino americano: existe um “novo constitucionalismo” na região?. Disponível em: <https://emporiododireito.com.br/leitura/tendencias-atuais-do-constitucionalismo-latino-americano-existe-um-novo-constitucionalismo-na-regiao-por-marcelo-figueiredo>. Acesso em: 26 de agosto de 2019.
[2] FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 104.
[3] DA COSTA, Renata Tavares. Observaciones sobre eldebidoproceso intercultural, p. 3.
[4] RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 862.
[5] ALVES, Marina Vitória. Neoconstitucionalismo e novo constitucionalismo latino-americano: características e distinções, p. 11.
[6] LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 75.
[7] RAMOS, André de Carvalho. Opus citatum, p. 853.
[8] Ibidem, p. 302.
[9] MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 336.
[10] Ibidem, p. 37.

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