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NORMA PROCESSUAL PENAL

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NORMA PROCESSUAL PENAL
Conceito
 A norma pode ser definida singelamente como um comando. Um comando que obriga, proíbe ou permite alguma forma de conduta. Foi exatamente assim que a definiu o normativista Hans Kelsen. Logo, tomando como exemplo o art. 11 do Código Penal brasileiro, pode-se dizer que o relato ou discurso da lei nesse artigo é “matar alguém”, mas o sentido da norma aí contido é “não matar alguém”. Percebe-se, portanto, que lei e norma são realidades diferenciadas do ponto de vista lógico ou filosófico. 
Distinção entre a Lei, a norma e o direito processual penal
· A Lei
 Ainda segundo Antônio Alberto Machado “Pode-se dizer que a lei é um fato histórico resultante de uma correlação de forças políticas em um determinado tempo e espaço. Trata-se, portanto, de fato certo que pode ser perfeitamente localizado num espaço/tempo histórico, podendo, inclusive, ser identificado por um número e por uma data, já que toda lei é numerada na sequência cronológica de sua publicação”. 
· O Direito 
Leciona Antônio Alberto Machado, que o direito é “fenômeno muito mais complexo que não se deixa captar assim facilmente. Vale dizer, trata-se de um fenômeno que compreende tanto a lei quanto a norma, pois é inegável que o direito tem mesmo uma dimensão legal ou normativa, mas exibe outras dimensões como a ética, a econômica, a cultural, a política e a dimensão social. Além de complexo, é obvio que o direito, diferentemente do que ocorre com a lei e com a norma, é fenômeno dinâmico que se manifesta dialeticamente no plano também dinâmico do processo histórico, o qual, como se sabe, é mesmo um processo animado pelas lutas sociais”. 
· A Lei Processual 
Tendo analisado a norma e a lei de forma geral, Machado, entende que a lei processual penal, de um modo genérico “seriam todos aqueles diplomas legislativos (Código de Processo Penal, Constituição Federal, tratados e convenções internacionais, as leis processuais extravagantes etc.) aplicáveis ao processo penal; as normas processuais seriam os comandos que emergem desses diplomas legais, impondo, permitindo ou obrigando condutas dentro da relação processual; e o direito processual penal, por sua vez, seria então aquele fenômeno complexo de múltiplas dimensões, que resulta da atividade de interpretar e aplicar as normas processuais aos casos concretos, e que tem as suas finalidades e seus objetivos (sociais, políticos, econômicos, culturais e éticos) estabelecidos na dinâmica de um contexto histórico”. 
Elementos
Os diversos ramos do Direito se expressam sob a forma de norma jurídica. Toda norma jurídica que regula a atuação da jurisdição penal é uma norma de processo penal 
a) Regra – cada um tem seu papel dentro do processo 
b) Ordem – obrigatoriedade para seguir a regra, A regra deve ser obedecida por todos que participam do processo. 
c) Garantia – de dentro do ordenamento jurídico para que a regra seja cumprida. 
Regra – disposições estatuídas sobre as atividades que se desenvolvem no processo e regulamentam a atuação do juiz, das partes e terceiros fixando-lhes as posições processuais e recíprocas relações. (Exemplo: Regra sobre a citação que deve ser preferencialmente pessoal) 
Ordem – traduzida na obrigatoriedade de que todos os que se envolvem no processo não podem se afastar das regras de conduta traçadas. 
Garantia – série de medidas destinadas a tutelar a aplicação do conteúdo traçado pela norma (José Frederico Marques). (Exemplo: Aplicação da revelia) 
Classificação
Normas de direito material – destinadas a disciplinar os atos diretamente relacionados à vida e às relações na sociedade. (...) a norma jurídica do Código Penal que estabelece uma sanção de reclusão para aquele que conscientemente matar alguém (art. 121 CP). 
Normas de direito formal – são aquelas que determinam o modo de aplicação da norma material. 
São normas processuais penais materiais – queixa, prescrição, espécies de provas, graus de recurso, prisão preventiva, liberdade condicional (contendem diretamente com os direitos do argüido ou do recluso; limita e ameaça a liberdade) 
São normas processuais penais formais – formas de citação ou convocação, redação dos mandados, formas de audição e registro dos intervenientes processuais: estenografia, vídeo etc.; prazos de notificação do argüido, formalidades e prazos dos exames periciais, formalidades e horários das buscas. (regulamentam o desenvolvimento do processo, não produzem os efeitos jurídicos-materiais derivados das normais processuais materiais) 
Normas Processuais de Organização Judiciária: Tratam primordialmente da criação e estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares. Ex. criação de uma nova Vara. 
Normas Instrumentais e Instrumentais Materiais 
As normas instrumentais apenas de forma indireta contribuem para a resolução dos conflitos interindividuais, mediante a disciplina da criação e atuação das regras jurídicas gerais ou individuais destinadas a regulá-los diretamente. Constituem o critério de proceder.Destinam-se à relação processual penal sem qualquer conotação de direito penal.
As normas instrumentais-materiais são aquelas de direito (no caso do processo penal, de direito penal), embora estejam tratadas no Código de Processo Penal - ex.: aquelas que dizem respeito à decretação da prisão preventiva, do arresto, do seqüestro, (no processo penal como no civil). São leis processuais penais que, segundo Machado, contêm normas cuja essência ou natureza é de direito penal material. Vale dizer, as normas que restringem ou ampliam o jus puniendi, no geral, são normas tipicamente penais, mesmo que estejam inseridas no âmbito de uma lei processual. São as chamadas normas heterotópicas, ou hibridas que estão topograficamente inseridas na lei processual ou no Código de Processo Penal, mas exibem uma natureza predominantemente penal, exatamente porque disciplinam matérias que dizem respeito à pretensão punitiva e não propriamente ao processo, bem como as normas de caráter hibrido, que disciplinam situações de direito material e processual ao mesmo tempo”. 
Aplicação no Tempo 
Vigora o princípio de que a lei processual penal tem aplicação imediata (art. 2º, CPP) Não tem efeito retroativo, por força do princípio tempus regit actum (o tempo rege o ato). Excepcionalmente, admite-se a retroatividade quando a norma processual também tiver conteúdo de direito material.
· Critérios para a aplicação da lei processual: Quando uma nova lei processual é promulgada, deve se responder à seguinte questão: quando ela deve ser aplicada? Imediatamente ou depois de certo lapso (apenas para os processos que se iniciaram após sua vigência ou somente nas fases processuais após sua entrada em vigor). O art. 2°, do CPP estabelece: “A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos praticados sob a vigência da lei anterior”. Assim, a nova lei processual penal se aplica a todos os atos praticados durante sua vigência, sendo que os atos anteriores, regidos pela lei revogada, continuam válidos. É o chamado “princípio do efeito imediato (ou da aplicação imediata)”. Exemplo: Lei 12.403/2011. Proteção de direitos e garantias individuais. Aplicação imediata, inclusive para processos em curso (prisão preventiva já decretada). 
Aplicação no Espaço
A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional. Trata-se da aplicação do princípio da absoluta territorialidade (locus regit actum) o qual prevê a aplicação da lei processual penal aos processos e julgamentos realizados no território brasileiro. O termo “em todo território nacional” guarda relação com o pluralismo processual conferido pela Constituição Federal de 1891. O Código de Processo Penal, art. 1°, consagra a territorialidade, bem como suas exceções. 
Atenção: APLICAÇÃO DA LEI PENAL É DIFERENTE. 
REGRA: PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE. “Fora dos limites do território brasileiro, a lei processual pátria não poderá ser aplicada. Entretanto, a doutrina admitesua aplicação em três hipóteses: a) em território nullius, ou seja, terra de ninguém (alto-mar, por exemplo); b) em Estado Estrangeiro, se este autorizar; c) em caso de guerra, em território ocupado. 
EM SENTIDO ESTRITO (MATERIAL), TERRITÓRIO ABRANGE
· Solo (e subsolo) sem solução de continuidade e com limites reconhecidos (plataforma continental); 
· Águas Interiores; (rios, lagos, baías e golfos) 
· Mar territorial Art. 1º da Lei 8.617, de 4 de janeiro de 1993 (12 milhas náuticas da baixa-mar); (trata-se de faixa ao longo da costa incluindo o leito e o subsolo (plataforma continental). Para exploração econômica é de 200 milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha baixa-mar do litoral.). 
· E as duzentas milhas?
Também há a plataforma continental, numa extensão de duzentas milhas, sobre a qual o Brasil exerce soberania para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus recursos naturais. 
· Espaço Aéreo
Quanto ao espaço aéreo, o Brasil exerce completa e exclusiva soberania sobre os ares situados acima do seu território e mar territorial. Estabelece o Art. 11 da Lei 7.565/86 – (Código Brasileiro da Aeronáutica) Lei 8.617/93, art.2º in verbis: a soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo. 
· Embarcações e aeronaves públicas
Segundo Tourinho Filho, “por uma fictio juris, as embarcações e aeronaves públicas (navios e aeronaves da Marinha e da Aeronáutica) e aquelas a serviço do Governo, onde quer que estejam, representam o território nacional e, quanto às embarcações e aeronaves privadas (navios mercantes e aeronaves de empresas particulares nacionais) que se encontrem em alto-mar, ou sobrevoando o território nacional, ou até mesmo o alto-mar, representam, também o nosso território. 
Aplicação quanto às pessoas 
“No que concerne às pessoas, é evidente que o princípio da igualdade, insculpido no art. 5º da Constituição de 1988, determina que a lei processual penal, em regra, seja aplicada a todos os indivíduos isonomicamente, sem distinções ou privilégios. Todavia, o próprio art. 1º do Código de Processo Penal e a própria Constituição Federal (Art. 53) fazem algumas ressalvas que significam verdadeira exclusão de incidência da lei processual penal em relação a certas pessoas, sem que isso viesse a configurar privilégio ou impunidade. São os casos das imunidades diplomáticas e parlamentares, bem como das chamadas prerrogativas constitucionais de função”. 
Imunidades Diplomáticas 
“A respeito do tema Tourinho Filho esclarece que certas situações obrigam o país onde ocorreu a infração a restringir o jus puniendi, em benefício da própria ordem internacional, tornando então inaplicável o nosso CPP”. 
Membros do quadro diplomático (do embaixador ao terceiro secretário).
 Funcionários, desde que recrutados no Estado acreditante.
 Todos gozam de ampla imunidade penal, não podendo sequer ser obrigado a depor como testemunha. 
Autoridades consulares não gozam das mesmas prerrogativas. Os privilégios restringem-se aos atos de ofício. 
Imunidades Parlamentares 
As imunidades parlamentares são deferidas aos membros dos parlamentos em todos os seus níveis, federal, estadual e municipal, pelos crimes de palavra ou opinião. Frise-se que a Emenda Constitucional nº 35/01 conferiu aos deputados federais e estaduais, bem como aos senadores, a imunidade civil, ou seja, esses parlamentares também não respondem pelos danos materiais e morais advindos de suas manifestações (art. 53, CF). 
Imunidade Material (art. 53, Constituição Federal)
Em tempos distantes de operações como a “Lava Jato”, discorrendo sobre o tema, assim se expressou Tourinho Filho: “A atividade dos parlamentares não se cinge e se restringe à elaboração de leis. Ela é muito mais ampla, mais complexa. Cumpre-lhes zelar pela República e da sua tribuna divulgar a toda a Nação as notícias que possam alegrá-la e encantá-la e, também, aquelas que entristecem porque reveladoras de fatos que humilham, aviltam, envilecem e enodoam as instituições democráticas, pouco importando quem os tenha cometido”. 
Imunidade Processual
Os Deputados Federais e Senadores da República somente serão processados e julgados, em quaisquer infrações penais, pelo STF; Deputados e Senadores da República, desde a diplomação não poderão ser presos, salvo em flagrante delito de crime inafiançável; Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. Nada impede, contudo, que seja instaurado Inquérito Policial perante o STF. 
Prerrogativa de Funções 
Há ainda outros mecanismos que podem ser tidos como hipóteses de exclusão de incidência da lei processual penal, que são (a) as prerrogativas constitucionais de função e (b) a chamada jurisdição política exercida pelo Senado nos caos de crimes de responsabilidade, se bem que nesses dois casos não seria rigorosamente correto falar-se em imunidade, já que processo criminal será instaurado normalmente, modificando-se apenas a competência ou o juiz natural para o julgamento”.
As prerrogativas constitucionais são deferidas àquelas pessoas que, em razão do cargo que ocupam não se submetem aos mesmos termos da norma processual penal tal como ocorre com as demais pessoas. São, por exemplo as prerrogativas do Presidente da República, do Vice, dos Ministros de Estado que nos crimes comuns, serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal (art. 102, CF). 
Jurisdição política é aquela exercida pelo Senado, no julgamento dos crimes de responsabilidade praticados pelo Presidente da República, Vice e Ministros, Comandantes das Forças Armadas, Ministros do Supremo Tribunal Federal, Procurador Geral da República, Advogado Geral da União e Presidentes dos Tribunais Superiores (arts. 52, 86 e 102, CF).

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