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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/270791622 Da Cartografia do Danúbio à Construção de um Itinerário Turístico: Uma Leitura de Danúbio de Claudio Magris Chapter · January 2014 CITATIONS 2 READS 394 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: LIT&TOUR View project lit&tour project View project Rita Baleiro Universidade do Algarve 27 PUBLICATIONS 40 CITATIONS SEE PROFILE Sílvia Quinteiro Universidade do Algarve 14 PUBLICATIONS 9 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Rita Baleiro on 30 January 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/270791622_Da_Cartografia_do_Danubio_a_Construcao_de_um_Itinerario_Turistico_Uma_Leitura_de_Danubio_de_Claudio_Magris?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/270791622_Da_Cartografia_do_Danubio_a_Construcao_de_um_Itinerario_Turistico_Uma_Leitura_de_Danubio_de_Claudio_Magris?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/LIT-TOUR?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/lit-tour-project?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Rita_Baleiro?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Rita_Baleiro?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_do_Algarve?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Rita_Baleiro?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Silvia_Quinteiro2?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Silvia_Quinteiro2?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade_do_Algarve?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Silvia_Quinteiro2?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Rita_Baleiro?enrichId=rgreq-3ac4a6053d0e8871fffde76dfe719cf7-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MDc5MTYyMjtBUzoxOTExMjYyNTYzMTY0MTZAMTQyMjU3OTQ1ODExOA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Da Cartografia do Danúbio à Construção de um Itinerário Turístico: Uma Leitura de Danúbio de Claudio Magris RITA BALEIRO | ESGHT – Universidade do Algarve | rbaleiro@ualg.pt SÍLVIA QUINTEIRO | ESGHT – Universidade do Algarve / CEC– FLUL | smoreno@ualg.pt 1. Literatura e turismo, leitura literária e viagem Na reflexão sobre literatura e turismo, a partir da leitura de Danúbio de Claudio Magris (1986), sobressaem desde logo dois pontos de contacto. O primeiro diz respeito ao facto de a literatura “transportar” as memórias e as descobertas da viagem (Magris, 2010 [1986]: 18). O segundo, intimamente associado ao primeiro, prende-se com a recuperação e (re)construção de uma memória do espaço no texto literário e a sua transformação por essa via em espaço turístico. Sendo a experiência da viagem turística difícil de transmitir na sua totalidade, uma vez “que há qualquer coisa, como em qualquer mudança, que se perde […]” (ibidem), a literatura permite apresentar as marcas visíveis dessa experiência que se caracteriza por ser “imprevisível”, “intri- cada”, “dispersa” e “incerta” (Magris, 2010 [1986]: 14). Neste prisma, e como referimos, a literatura funciona como um “transporte” (idem: 18) das “peripécias indefinidas do viajar” (ibidem), ao mesmo tempo que, tal como refere o narrador de Danúbio, “colmata os espaços em branco da existência” (Magris, 2010 [1986]: 40) e acalma a ansiedade própria do ser humano: “Quando o caderno fica cheio de gatafunhos, a alma sente-se mais tran- quila, trauteando despreocupadamente o tempo que passa” (idem: 113). Quer a literatura quer o ato de viajar edificam-se sobre algo exterior e, por esse motivo, obrigam a uma reconstrução do passado, ou, tal como afirma o narrador de Danúbio: a viagem “orienta para a origem” (idem: 364), e a literatura é a “arqueologia da vida” (idem: 329). Sucede, porém, CEC-Literatura e Turismo.indd 31CEC-Literatura e Turismo.indd 31 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 32 LI T& TO U R En sa io s so br e Li te ra tu ra e T ur is m o que nem a imobilidade desenhada do mapa ou da página do livro, nem a rigidez do itinerário ou das palavras do autor servem em absoluto ao via- jante e ao leitor que permanentemente sentem a compulsão de se inscrever nos espaços físicos ou imaginários que percorrem quando questionam o que observam e leem. Assim, na viagem, tal como no ato de leitura literária, o sujeito constrói o sentido do que vai visitando e conhecendo, a partir da bagagem de conhecimentos e experiências prévios que carrega e na qual se incluem os conhecimentos e as experiências linguísticas, textuais, enciclo- pédicas e de vida. Essa bagagem de conhecimentos e experiências, ou seja, o “linguistic-experiential reservoir” (Rosenblatt, 1994: 6-7), caracteriza-se por não ser estanque e por sofrer modificações constantes, uma vez que se constrói dialética e permanentemente. Encontramos a este propósito um dos paralelismos entre a leitura literária e o ato de viajar. Na primeira, o leitor é, desde o início, acompanhado por uma expectativa, uma ideia, um sentimento ou um objectivo que, à medida que a leitura evolui, orienta a sua atenção, através de impulsos não lineares e auto-corretores, de modo a fazer emergir a síntese e a organização da informação. No segundo, o viajante convoca as suas memórias visuais, históricas e culturais, enquanto cumpre a incursão turística, ou seja, quando se desloca para fora do seu ambiente quotidiano com um determinado objetivo (OMT, 1995) e vai ris- cando no itinerário os sítios por onde passa. Neste processo, as expectativas do viajante são confirmadas ou, pelo contrário, são modificadas por novas associações criadas na relação que estabelece com os locais visitados e, no caso específico do narrador de Danúbio, também com as personagens reais ou fictícias que o narradorencontra, associa e/ou coloca nos diferentes espaços visitados. Fica deste modo claro que a viagem, tal como o ato da leitura de um texto literário, é complementada pela miríade de pensamen- tos, reflexões, interrogações e emoções que acompanha o sujeito. Será por este motivo que este narrador-viajante afirma que a literatura “verdadeira” é aquela que, tal como a viagem, “não lisonjeia quem lê, confirmando-o nos seus preconceitos e nas suas certezas”, mas sim aquela que coloca o leitor em dificuldades, obrigando-o “a refazer as suas contas com o mundo e com as suas certezas.” (Magris, 2010 [1986]: 203). Na verdade, tanto a desorientação do leitor perante a contingência semântica do texto literário, como a desambientação do viajante quando sai do seu espaço quotidiano, são fulcrais para que se inicie o processo de questionamento, uma vez que CEC-Literatura e Turismo.indd 32CEC-Literatura e Turismo.indd 32 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 33 D A C A RT O G R A FI A D O D A N Ú B IO À C O N ST R U ÇÃ O D E U M IT IN ER Á R IO T U R ÍS TI CO R it a B al ei ro e S ílv ia Q ui nt ei ro “sem desorientação e perda, sem errância pelos atalhos que se confundem na floresta não há chamamento, [e] não é possível ouvir-se a fala autêntica do Ser.” (idem: 56. Maiúscula no original). A viagem, tal como refere o narrador-viajante de Danúbio, é pluridi- mensional, incluindo não apenas a dimensão supostamente factual e obje- tiva dos livros de História ou dos guias turísticos, mas também a dimensão subjetiva que consegue assombrar as certezas e convicções do viajante que pode demorar algum “tempo a orientar-se entre tantas afirmações contrárias mas não contraditórias.” (idem: 329). De facto, a novidade e a indeterminação que caracterizam a viagem, não obstante a presença do mapa e das linhas que definem o itinerário, forçam o viajante a estabelecer novas associações entre os elementos que julgava ir encontrar e os elementos que encontra e que sobejas vezes o desorientam pelo artificialismo que as caracteriza ou pelo esforço que implica a recuperação de informações que “a História enfiara já no quarto de arrumos.” (idem: 221). Será este grau de indeterminação ou, por vezes, de desorientação, o fundamento da surpresa que a viagem constantemente proporciona, impossibilitando a existência de duas viagens iguais. O relato escrito da viagem é o resultado dessa interação dinâmica entre o viajante e os espaços que percorre, do “distribuir os volumosos cadernos de apontamentos” (idem: 18) que para além de descrições, contêm os pen- samentos do viajante sobre a “superfície plana do mapa” (ibidem). E, por esse motivo, nesse texto é tão nítida a inscrição do sujeito que é forçado a dar unidade e sentido ao que vive durante o percurso. Deste modo, tal como temos vindo a afirmar, não obstante a certeza do mapa e do traçado do itinerário, este narrador-viajante é constantemente surpreendido e forçado a criar sentidos a partir da interação das suas idiossincrasias emocionais, temporais e espaciais (traços de personalidade, memórias de eventos pas- sados, necessidades e preocupações presentes, uma disposição emocional e uma condição física particulares) e a informação que lhe é oferecida nos locais que visita ou nos guias turísticos que lê. Retomando o que referimos no início, a relação entre literatura e turismo passa não só pela capacidade que o texto literário tem de fixar memórias e experiências de viagens, mas também pela potencialidade do texto literário de recuperar e (re)construir memórias de espaços e de trans- formar, por essa via, o espaço em espaço turístico, ou seja, “a physically or CEC-Literatura e Turismo.indd 33CEC-Literatura e Turismo.indd 33 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 34 LI T& TO U R En sa io s so br e Li te ra tu ra e T ur is m o socially demarcated area arranged for touristic visits.”. (Cohen, 2000: 591). Uma das autoras que sublinha esta capacidade transformadora da litera- tura é Patrícia Cunha (2006: 1), para quem o texto literário tem o poder de construir e de perpetuar a imagem de um espaço turístico. Esta autora ilustra a sua tese oferecendo o exemplo da Carta de Pêro Vaz de Caminha a El-Rei D. Manuel (1500) que, a seu ver, determinou a associação entre o destino turístico, Brasil, e a ideia de Paraíso (2006: 2) potencializando a criação de uma visão paradisíaca do espaço brasileiro que se perpetuou até ao presente. Deste modo, a forma como o espaço é referido num dado texto literário afeta decisivamente a construção da imagem desse espaço como espaço turístico, podendo mesmo constituir uma espécie de protocolo para a sua leitura. É claramente o que sucede após a leitura de Danúbio. Não é possível reter a perceção que se tinha desse espaço antes da leitura da obra de Magris ou visitar os países que compõem o painel dos países centro-europeus sem a interferência do relato da viagem do narrador de Danúbio. A imagem do espaço que o leitor de Danúbio construirá a partir da leitura do texto de Magris, também este já uma construção do espaço realizada pelo autor, vai determinar a transformação desse espaço em produto turístico, i.e., um recurso natural ou cultural, ao qual se associa um valor simbólico, e que foi assinalado por um determinado sistema de turismo (Leiper, 2000: 589). De facto, não podendo ser experienciado pelo consumidor antes da sua aquisição, o espaço turístico é sempre um produto cuja valorização depende na íntegra das memórias evocadas por outros e das descrições que esses outros fazem do espaço. Esta valorização depende da criação, no potencial turista, de uma espécie de memória virtual ou de uma memória do não-vivido, que lhe permite antecipar a sua própria experiência e que em Danúbio assume duas formas distintas: a memória virtual que a sua narração cria no leitor e a memória virtual do narrador. 2. O narrador-viajante de Danúbio O narrador-viajante de Danúbio retrata física e culturalmente os países centro-europeus que atravessa, e é retratado por nós e por ele mesmo, como um turista ao qual não basta o saber enciclopédico sendo, por essa razão, imperativo o conhecimento da realidade e o confronto com essa mesma realidade que eventualmente poderá abalar as suas convicções e alterar as CEC-Literatura e Turismo.indd 34CEC-Literatura e Turismo.indd 34 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 35 D A C A RT O G R A FI A D O D A N Ú B IO À C O N ST R U ÇÃ O D E U M IT IN ER Á R IO T U R ÍS TI CO R it a B al ei ro e S ílv ia Q ui nt ei ro suas interrogações. Por esse motivo, e numa referência a Johannes Keppler, o matemático que no século XVII descobriu que os planetas desenhavam elipses em torno do Sol, sublinha a importância de sair do espaço familiar que se conhece: “A alma é tacanha […], e refugia-se nos esconsos da lite- ratura em vez de investigar na criação os desígnios divinos. Quem se fia apenas no papel pode acabar por descobrir não ser mais do que uma mera silhouette recortada no papel de seda que treme e se encolhe ao soprar o vento.” (Magris, 2010 [1986]: 28. Itálico no original). O escritor-viajante, que encontramos em Danúbio, embora não esteja à procura do novo ou do desconhecido, uma vez que conhece muito bem o espaço físico, cultural e político que percorre, quer arriscar uma viagem a partir do traçado car- tográfico do rio Danúbio que se inicia no interior, espaço definido como seguro, como “um poderoso refúgio” (idem: 201), em direção ao mar, que é apresentado como o espaço de aventura, de “abandono ao novo e ao desconhecido” (ibidem). Efetivamente, ainda que realize um percurso em direção ao incerto, um percurso aparentemente contrário à confirmação da sua identidade, o narrador de Danúbio não abandona em momento algum a segurança que lhe é dada pela certeza, pela organização possível dentro da imprevisibilidade da viagem.Assim, o narrador afirma ser “reconfortante que a viagem tenha uma arquitectura e que seja possível contribuir com algumas pedras para esta última embora o viajante pareça ser não tanto alguém que constrói paisagens […] como alguém que as desmonta e desfaz […].” (Magris, 2010 [1986]: 15). Esta desconstrução não é, no entanto des- regrada ou aleatória, mas sim, “uma arte de decompor e recompor, ou seja, de criar uma outra ordem” (ibidem). Estamos pois perante um narrador-via- jante para quem a ordem e o mapeamento são fundamentais. Na realidade, durante esse estado transitório do homem que é a viagem, a ordem conforta o viajante: “o viajante lê e anota nomes nas estações que deixa para trás […] satisfeito com essa ordem” (Magris, 2010 [1986]: 40-41), até porque “só o reconhecimento preciso do visível nos permite alcançar as margens e aventurarmos um olhar para lá das fronteiras” (idem: 121). Não obstante, a ordem e o mapeamento – o “método [que] é a construção da experiência” (idem: 15) – servem frequentemente apenas para que o indivíduo saia dessa ordem e construa a experiência turística à sua margem. Logo, o facto de ao mapa físico definido pelo percurso do Danúbio se sobrepor o mapa mental e intelectual do narrador, construindo e des- CEC-Literatura e Turismo.indd 35CEC-Literatura e Turismo.indd 35 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 36 LI T& TO U R En sa io s so br e Li te ra tu ra e T ur is m o construindo paisagens, surge como algo natural. É, aliás, a inscrição do narrador-viajante no percurso que lhe confere a identidade e singulari- dade. Assim, num primeiro plano, seguimos o percurso cartográfico do Danúbio e, num segundo plano, acompanhamos o curso intelectual do narrador cujos conhecimentos e expectativas são, ou não, confirmados. Ou seja, por um lado, o afastamento do espaço de origem dá ao viajante a possibilidade de confirmar “as suas raízes e os seus hábitos” (idem: 58) e, por outro, oferece-lhe a possibilidade de questionar aquilo que observa. É exatamente nesse questionamento da realidade que surge uma das face- tas mais nítidas do narrador-viajante de Danúbio: a sua imensa bagagem cultural que molda a observação dos locais visitados e que transforma este narrador num tipo específico de turista. 2.1 O narrador-viajante de Danúbio enquanto turista O narrador-viajante revela um conhecimento prévio do lugar visitado, um olhar informado e crítico que aproxima a sua prática enquanto turista da do turista cultural, uma figura cujas experiências estão “centradas na cultura ou no ambiente cultural, incluindo por isso as paisagens do destino, os valores e os estilos de vida, o património, artes visuais e representações, indústrias culturais, tradições e atividades de lazer das populações ou comunidades visitadas. Pode incluir a assistência a espetáculos, visita a museus e monumentos, e ainda interação com os locais.” (Hammond, 2004: 6).[1] Tudo isto são atividades que podemos observar em Danúbio. E, nesta perspetiva, a atitude do narrador justapõe-se à do turista cultu- ral, na medida em que é instruído, independente e ativo, no modo como constrói o seu percurso e como reflete sobre a sua experiência turística (ver Magris, 2010 [1986]: 74). A experiência turística do narrador não consiste apenas em riscar sucessivamente monumentos e atrações de uma 1 Muito embora a definição de turista cultural, tal como a do conceito de turismo cultural, não seja una nem consensual (cf. Alzua, O’Leary & Morrison, 1998: 3; McKercher & Cros, 2001: 3), o turista cultural é frequentemente caracterizado como sendo bem informado, crítico e ativo, como alguém que viaja com motivações de ordem cultural, nomeadamente, para visitar locais de interesse histórico, etnográfico, literário, entre outros, como alguém que dá importância à qualidade e à autenticidade da experiência, e que aprecia o contacto com os habitantes do local que visita (Crinion, Leader-Elliot & Tourism South Australia. Cultural Tourism Committee, 1991; Dewar, 2000; DGOTDU, 2005). CEC-Literatura e Turismo.indd 36CEC-Literatura e Turismo.indd 36 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 37 D A C A RT O G R A FI A D O D A N Ú B IO À C O N ST R U ÇÃ O D E U M IT IN ER Á R IO T U R ÍS TI CO R it a B al ei ro e S ílv ia Q ui nt ei ro lista elencada por outrem, nem corresponde propriamente a uma viagem de descoberta, ainda que essa dimensão esteja implícita no próprio ato de viajar. A viagem descrita em Danúbio traduz sobretudo a ambição de pro- curar e identificar conhecimentos anteriores, eventualmente dispersos, que são convocados, no seu conjunto, no momento de articular o pensamento sobre aquilo que é vivido. Esta pretensão transparece no tipo de olhar adotado pelo narrador que realiza o percurso com o propósito de “reconhe- cer”, aquilo que é já conhecido. Podemos confirmar a presença deste tipo de olhar no momento em que o narrador se compara a Victor Bérard que “levava consigo a Odisseia ao navegar pelo Mediterrâneo, para reconhecer os lugares e o seu segredo” (Magris, 2010 [1986]: 328. Itálico nosso). Ou seja, o tipo de olhar do narrador de Danúbio é projetado para observar os objetos em função de um discurso que lhe era previamente familiar (cf. Westover, 2009: 13). De facto, o narrador procura este discurso familiar e fá-lo escolhendo como pontos de visita (e assinalando-os como atrações turísticas[2]), os lugares que já lhe são conhecidos, ainda que a partir de um saber enciclopédico. Neste processo de “reconhecimento”, o narrador faz a viagem questionando, selecionando, ordenando, hierarquizando, ou seja, construindo o seu próprio discurso sobre os lugares que visita num reflexo de uma atitude que não se limita a descrever, mas que, pelo contrário, revela um entendimento profundo e sustentado sobre o obser- vado, como é próprio do turista cultural. Neste caso, trata-se de um turista cultural, munido de “uma máquina fotográfica espácio-temporal capaz de reproduzir, […] de modo sucessivo” um conjunto de acontecimentos/ episódios que “ao longo dos séculos e dos milénios existiu na porção de espaço enquadrada pela objectiva” (Magris, 2010 [1986]: 329). E é esta máquina espácio-temporal, ou seja, este conhecimento privilegiado do espaço visitado e da sua História, que faz deste narrador-viajante um turista com uma capacidade excepcional para apreender, destruir e (re)construir o que observa ao longo do seu percurso. Podemos ainda relacionar o narrador-viajante de Magris com um dos perfis subsidiários do turista cultural, o do turista literário (cf. Stiebel, 2004: 32) ou com o do peregrino literário, como eram designados os primeiros turistas literários. À semelhança do narrador de Danúbio, os 2 A “atração turística” refere-se a um espaço que detém um interesse especial e que, por esse motivo, foi assinalado por um dado sistema de turismo (Lew, 2000: 35-37). CEC-Literatura e Turismo.indd 37CEC-Literatura e Turismo.indd 37 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 38 LI T& TO U R En sa io s so br e Li te ra tu ra e T ur is m o primeiros turistas literários distinguiam-se por serem instruídos, conhe- cedores dos clássicos e terem a formação necessária para apreciarem o património com que se deparavam (Herbert, 2001: 313). No entanto, como refere David Herbert (2001: 313), a figura do peregrino literário tem sido progressivamente substituída pela do turista que visita os espaços literários somente por curiosidade e interesse geral e não com a dedicação informada do primeiro, razão pela qual, entendemos que o narrador de Danúbio, enquanto turista, está mais próximo dos peregrinos literários do que da generalidade dos atuais turistas literários. Um dos pontos de contacto entre o narrador criado por Magris e a figura do peregrino literário é a recuperação intencional da memória, uma vez que a viagem descrita em Danúbio reconstrói a memória dosmomentos históricos que mais marcaram a Europa Central e das pessoas (intelectuais, artistas e políticos) que os protagonizaram. Outro dos pontos de contacto é a procura de uma experiência de proximidade relativamente aos espaços, às paisagens, aos monumentos, mas sobretudo aos autores – aos escritores, filósofos, artistas e políticos –, que se faz visitando as suas casas, os locais onde trabalharam ou morreram, os seus túmulos, as estátuas construídas em sua homenagem, as bibliotecas a que deram os seus nomes e/ou contêm o seu espólio, percorrendo as ruas que estes calcorrearam ou, simplesmente, indo aos cafés que frequentavam. Este processo de evocação da memória de personalidades com dimensões muito distintas (internacionais, nacionais, locais) é motivado pelo facto de a maioria destas figuras ter contribuído para a construção da identidade desses espaços. Ao seguir o percurso do Danúbio, descrevendo os lugares e acompanhando essas descrições com comentários, reflexões, citações e histórias daqueles cujas vidas, obras ou mortes estão ligadas a esses lugares, o narrador cria um itinerário ordenado geograficamente, mas não cronologicamente, uma vez que na sua narrativa coexistem várias épocas num mesmo momento e num mesmo lugar, como bem nota Kristian Gerner (1999: 3). É a forma como o narrador evoca as suas memórias, ignorando a ordem cronológica, porque, segundo afirma, “Não há um comboio único do tempo, seguindo numa direcção única a uma velocidade constante; por vezes cruzamos um outro comboio, que vem ao nosso encontro do sentido oposto, do passado, e por um momento esse passado fica ao nosso lado, junto a nós, no nosso presente.” (Magris, 2010 [1986]: 46), que enforma e confere CEC-Literatura e Turismo.indd 38CEC-Literatura e Turismo.indd 38 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 39 D A C A RT O G R A FI A D O D A N Ú B IO À C O N ST R U ÇÃ O D E U M IT IN ER Á R IO T U R ÍS TI CO R it a B al ei ro e S ílv ia Q ui nt ei ro uma identidade própria aos lugares visitados – as memórias do narrador transformam-se em memórias do espaço. A recuperação da memória individual registada (do autor, do narrador, da personagem, do próprio turista) tem ainda outro efeito: transforma-se em memória coletiva. De acordo com Harald Hendrix (2007: 3), a depura- ção da memória individual, a sua simplificação, faz com que permaneçam as linhas mais fortes e mais comuns, os elementos-chave, aqueles que sendo mais consensuais são a base da memória cultural. De resto, todo o processo de memorização, tal como todo o processo de esquecimento, é sempre uma questão de escolha, de seleção do que lembrar e do que esque- cer (mesmo que inconscientemente). A memória, em qualquer das formas que pode assumir (individual, coletiva, cultural) é sempre um construto, o que está em perfeita sintonia com a ideia de “criação” do espaço turístico, ou seja, da modificação de um espaço através de um processo subjetivo que condiciona o próprio genius loci, por via de um conjunto de conexões e de sentidos que nele são inscritos. Assim, entendemos que a memória literária é, neste contexto, algo que reflete e gera outros lugares – lugares transformados pelo narrador e desse modo veiculados ao leitor. E é desta maneira que este homem de letras, que “prefere divagar, moralizar sobre as presunções da exactidão científica”, se inscreve na paisagem, se acrescenta ao traçado exacto do mapa, nele refletindo o seu próprio sentido: “observo a casa, rodeio-a, inspecciono-a, comparo-a com a sua descrição epistolar.” (Magris, 2010 [1986]: 29). Em suma, não obstante a proximidade que verificamos existir entre o narrador de Danúbio e a figura do peregrino literário, constatamos que seria redutor identificá-lo apenas como tal, do mesmo modo que seria redutor e inadequado classificá-lo simplesmente como um turista literário. Trata-se claramente de um turista cultural, categoria que, englobando as outras duas, não se esgota nestas definições. No próximo ponto, destacamos uma das categorias dos traços da expe- riência turística: a valorização da autenticidade. 3. A construção do espaço e a questão da autenticidade Tal como referimos previamente, em Danúbio, o leitor acompanha o pro- cesso de construção da identidade do narrador-viajante, sendo que esta é CEC-Literatura e Turismo.indd 39CEC-Literatura e Turismo.indd 39 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 40 LI T& TO U R En sa io s so br e Li te ra tu ra e T ur is m o tanto “feita de lugares, das ruas onde vivemos e deixámos parte de nós” (Magris, 2010 [1986]: 281) como dos espaços por onde passa. Este pro- cesso de construção é um mecanismo que confere amplamente unidade à dispersão provocada pelo caráter “fluido”, “contínuo” e “indistinto” do rio (idem: 365). Neste processo de construção simultânea do espaço e da sua própria identidade, o narrador-viajante segue as pistas cartográficas ao mesmo tempo que deixa um trilho nítido das suas pistas culturais e intelectuais. Como afirma Manfred Pfister (2006: 25), os viajantes seguem e deixam pistas que se inscrevem na memória cultural de um determinado lugar. No caso de Danúbio, estas pistas contribuem de modo decisivo para a construção do espaço percorrido enquanto espaço turístico, um espaço em tudo adequado à prática do turismo cultural e, portanto, no qual a questão da autenticidade é fundamental. A relevância que o caráter indistinto do autêntico adquire no espaço turístico ganha destaque em diversos momentos da narrativa, mas há um episódio inicial no qual a imperiosa necessidade de justificar a autentici- dade ganha um tom jocoso. Referimo-nos à indispensabilidade da presença da tabuleta onde se marca a “verdadeira” origem do rio “Hier entspringt die Donau” (Magris, 2010 [1986]: 20. Itálico no original). E se este episódio remete para uma disputa entre autoridades locais, para as quais afirmar que na sua localidade se situa a nascente do Danúbio é sobretudo uma questão de rentabilização turística de um elemento geográfico, para o narrador de Magris o que sobrevém é uma genuína preocupação com a questão da autenticidade. Uma necessidade quase obsessiva de encontrar a verdade e a origem que o leva mesmo a testar a hipótese absurda de a fonte deste rio ser uma torneira mal fechada (ver Magris, 2010 [1986]: 29). Efetivamente, e como afirmámos, para o narrador de Danúbio a viagem constitui uma forma de chegar ao autêntico: de verificar no lugar o que se aprendeu nos livros e nos mapas e de encontrar “um sopro ou uma corrente de ar vindos da vida verdadeira” (idem: 28). Uma procura da verdade que o leva mesmo a colocar a questão do autêntico como uma questão de dignidade e de respeito por si próprio, opondo-a à indignidade da farsa que refere a propósito do funeral de Rommel (idem: 78) e da encenação da ostentação nazi: “Este respeito por si próprio e pela própria dignidade […] faz surgir os uniformes SS, ou das autoridades nazis de visita ao Lager, em toda a sua miséria de farpelas de carnaval” (idem: 188). CEC-Literatura e Turismo.indd 40CEC-Literatura e Turismo.indd 40 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 41 D A C A RT O G R A FI A D O D A N Ú B IO À C O N ST R U ÇÃ O D E U M IT IN ER Á R IO T U R ÍS TI CO R it a B al ei ro e S ílv ia Q ui nt ei ro O narrador-viajante de Magris questiona passo a passo todos os objetos da sua visita e todos os testemunhos e factos concernentes, assim cons- truindo e desconstruindo meticulosamente as paisagens, lendas, mitos e até a própria História. Assumindo que para construir é preciso desconstruir (idem: 15), o narrador produz um itinerário único, assente na sua noção de autenticidade, na sua verdade dos lugares, dos homens e dos factos. Em Danúbio, o narrador assume simultaneamente as funções de turista e guia, leitor e escritor das suas paisagens, experiências e até da História.É ele quem distingue o que é autêntico do que é encenação, o que é essencial do acessório e que define um itinerário próprio, marcado pela subjetividade das suas múltiplas referências ao património cultural (tangível e intangível) da Europa Central e por reflexões a seu respeito. De facto, o narrador- -viajante de Danúbio, tal como o turista cultural, ou tal como o peregrino literário, tem um pré-conhecimento da reprodução, constituindo a viagem uma forma de se aproximar do original, de confirmar a autenticidade, tal como refere Paul Westover (2009: 13, cf. Herbert, 2001: 313). No fundo, é como se todo o património material e imaterial presente ao longo do Danúbio só se concretizasse no momento em que o narrador realiza esse percurso, quando é confrontado com as evidências físicas e as confronta com o seu conhecimento. A sua visita e a sua confirmação ou não dos factos anteriormente conhecidos por via dos livros constituem a forma de autenticação. É o que sucede por exemplo quando chegado a Viena afirma: “O Danúbio não é azul, como querem os versos de Karl Isidor Beck, que sugeriram a Strauss o título sedutor e mentiroso da sua valsa.” (Magris, 2010 [1986]: 228) e, perante a mentira repõe a (sua) verdade, afirmando que “O Danúbio é louro […]. Amarelo lodoso” (ibidem). Este processo de confirmação ou da afirmação da autenticidade é em tudo semelhante ao que refere a propósito de Martin Heidegger. O filósofo só considerava autênticos os bosques diante da sua casa e os camponeses cujos nomes e gestos conhecia (Magris, 2010 [1986]: 54). Para ele os res- tantes “camponeses, florestas, falas, costumes […] tornavam-se abstractos, ideológicos, irreais, como se apenas existissem em estatísticas áridas e fossem uma invenção” (idem: 55), carecendo da observação direta que os concretiza e autentica. Tal como Heidegger, o narrador-viajante-turista cultural também constrói a sua realidade com base no que lhe é dado observar diretamente, refletir e opinar no local. O itinerário da nascente CEC-Literatura e Turismo.indd 41CEC-Literatura e Turismo.indd 41 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 42 LI T& TO U R En sa io s so br e Li te ra tu ra e T ur is m o à foz do Danúbio é aquele cujas pistas segue e no qual inscreve as suas próprias pistas. Um itinerário irrepetível, mas que o seu leitor poderá seguir geograficamente, percorrendo o trilho do narrador e inscrevendo os seus vestígios num novo e único itinerário, como é apanágio daqueles que viajam munidos da sua própria “máquina fotográfica espácio-tempo- ral” (idem: 329). Conclusões Em suma, podemos afirmar que o texto literário é um meio privilegiado para a construção de espaços turísticos. As palavras dos autores cristalizam as memórias dos lugares. As experiências vividas pelos autores e/ou perso- nagens geram lugares turístico-literários, na medida em que condicionam a imagem veiculada por esses espaços. Literatura e turismo estabelecem uma relação privilegiada que em Danúbio pode ser entendida a partir de pelo menos três pontos de vista distintos: o primeiro atende ao modo como o texto literário permite orde- nar e perpetuar a experiência turística que, caso não fosse registada em palavras, se perderia no ato transitório da viagem; o segundo consiste no modo como um texto pode ser um propulsor de turismo cultural, ao criar nos leitores o desejo de percorrer o mesmo itinerário do protagonista, e o último funda-se na constituição do texto literário enquanto ponto de partida para a estruturação de itinerários. Texto, paisagem, lugar literário e destino turístico têm na sua génese a interseção do olhar com o mundo. Todos eles são construtos, adquirindo sentidos diversos em tempos e espaços diferentes. Daí a possibilidade de, por um lado, a literatura construir lugares turísticos e, por outro, de estes serem matéria-prima na construção dos textos literários. CEC-Literatura e Turismo.indd 42CEC-Literatura e Turismo.indd 42 15-06-2014 10:36:0915-06-2014 10:36:09 43 D A C A RT O G R A FI A D O D A N Ú B IO À C O N ST R U ÇÃ O D E U M IT IN ER Á R IO T U R ÍS TI CO R it a B al ei ro e S ílv ia Q ui nt ei ro Referências Bibliográficas ALZUA, A., JOSEPH, T. O. & MORRISON, A. (1998). Cultural and heritage tourism: Identifying niches for international travelers. The Journal of Tourism Studies, 9(2), 2-13. COHEN, E. (2000). Tourist space. In J. Jafari (Ed.), Encyclopedia of tourism (pp. 591-592). Londres: Routledge. CRINION, D., LEADER-ELLIOT, L. & TOURISM SOUTH AUSTRALIA. 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