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ROUSSEAU E O DISCURSO SOBRE A ORIGEM E OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS

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J.-J. ROUSSEAU E O ​DISCURSO SOBRE A ORIGEM E 
OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS​. 
 
 
Adivaldo Sampaio de Oliveira 
adivaldooliveira@ig.com.br 
Formado em História pela Universidade de São Paulo 
https://www.unicamp.br/~jmarques/cursos/2001rousseau/aso.htm 
 
INTRODUÇÃO 
Tendo consciência de que não possuo conhecimento suficiente para criticar um 
filósofo da grandeza de Rousseau, objetivo apenas realizar reflexões sobre o texto ​Discurso 
sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens à luz principalmente 
das apresentações realizadas durante o curso. 
A escolha do ​Discurso deve-se ao fato de acreditar que esta obra, que causou uma 
reviravolta na vida de Rousseau, é também a porta de entrada para o desenvolvimento de 
seu pensamento. Após alcançar sucesso e fama com a publicação do ​Discurso sobre as 
ciências e as artes​, Rousseau voltou a escrever para a Academia de Dijon, porém desta vez 
sem almejar prêmios, pois como escreveu em ​Confissões "...não é para obras dessa 
categoria que são instituídos os prêmios das Academias". 
Rousseau tem a convicção de que o homem é bom por natureza, e em seu primeiro 
discurso afirma que os costumes degeneram à medida que os povos desenvolvem o gosto 
pelos estudos e pelas letras, neste novo trabalho procurará mostrar as causas desta 
degeneração. Segundo Jean Jacques o homem natural é bom, e no isolamento é igual a 
todo homem. É a partir do momento que resolve viver em sociedade que as desigualdades 
aparecem. 
 
DESENVOLVIMENTO 
O ​Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens é 
dividido em 3 partes, sobre as quais apresentarei uma síntese a seguir: a primeira é a 
Dedicatória, seguida do Prefácio e por último o próprio Discurso, . 
 
Dedicatória​: O ​Discurso foi publicado em 1750, período em que Rousseau ainda contava 
com grande prestígio na sociedade - pois é a partir da publicação desta obra que começa a 
formar-se "o grande complô" do qual Rousseau sentia-se vítima – portanto sua dedicatória 
aos cidadãos de Genebra e aos representantes do Estado é natural e aparentemente 
sincera, pois para ele sua pátria era "...a imagem mais aproximada do que pode ser um 
Estado virtuoso e feliz, democrático e solidamente estabelecido..." (pág. 21). 
A louvação a seu pai e uma exaltação do papel das mulheres dentro da sociedade 
completam o contido na dedicatória. 
 
Prefácio​: Neste item Rousseau nos apresenta o método que irá utilizar para desenvolver o 
pensamento que servirá de resposta à pergunta da Academia: a priori tem-se que descobrir 
o que é o homem; "Como conhecer, pois, a origem da desigualdade entre os homens, a não 
ser começando por conhecer o próprio homem?" (pág. 40). Para realizar tal empreitada é 
https://www.unicamp.br/~jmarques/cursos/2001rousseau/aso.htm
necessário se chegar ao homem natural, e neste ponto surge um paradoxo, pois para se 
alcançar o homem natural é necessário despir-se do conhecimento do homem civilizado, ou 
seja, quanto mais utilizamos a razão para entender o homem natural mais distante nos 
colocamos dele. Para resolver este problema Rousseau propõe uma meditação "...sobre as 
mais simples realizações da alma humana," (pág. 44). Através desta meditação Rousseau 
chega a conclusão de que mesmo antes da razão, dois princípios básicos regem a alma 
humana: um é o sentimento de autopreservação e o outro é o sentimento de comiseração. 
 
O ​Discurso – 1​a parte​: Rousseau inicia o discurso fazendo uma distinção das duas 
desigualdades existentes: a desigualdade natural ou física e a desigualdade moral ou 
política. A desigualdade natural (sexo, idade, força, etc.) não é o objetivo dos estudos de 
Rousseau, pois como o próprio nome já afirma, esta desigualdade tem uma origem natural 
e não foi ela que submeteu um homem a outro. A origem da desigualdade moral ou política 
é o que interessa para Rousseau. 
 
Jean-Jacques trata em toda a primeira parte do ​Discurso sobre o homem natural 
rebatendo as teses de Hobbes, Buffon e outros que tratam do mesmo assunto, mas que 
enxergavam o homem natural a partir da visão do homem social (o homem do homem). 
Partindo de sua teoria dos dois princípios básicos que regem a alma humana, Rousseau 
descreve o homem natural como um ser solitário, possuidor de um instinto de 
autopreservação, dotado de sentimento de compaixão por outros de sua espécie, e 
possuindo a razão apenas potencialmente. O sentimento de comiseração pode ser visto 
também como instinto ou um mecanismo de autopreservação da espécie. 
Rousseau não vê na vida do homem natural, motivos que o levem à vida em 
sociedade. O homem natural vive o presente, é robusto e bem organizado, apesar de não 
possuir habilidades específicas, pode aprendê-las todas, é inocente não possuindo noções 
do bem e do mal e possui duas características que o distingue dos outros animais que são a 
liberdade e a perfectibilidade. A perfectibilidade é um neologismo criado por Rousseau para 
exprimir a capacidade que o homem possui de aperfeiçoar-se. 
Utilizando como exemplo o estudo sobre a origem da linguagem, Rousseau tenta 
demonstrar a falta de ligação entre o homem natural e o homem social. Termina esta parte 
afirmando que a passagem do homem natural ao homem social, que é a origem das 
desigualdades, não pode ser obra do próprio homem, mas sim de algum fator externo. 
 
O ​Discurso – 2​a parte​: Após descrever o homem natural, Rousseau utiliza uma história 
hipotética para descrever como se deu à passagem do estado natural para o estado social, 
mostrando desta forma como surgiu a desigualdade entre os homens. A idéia de 
perfectibilidade está na base de todo esta transformação. 
 
O homem natural tinha como única preocupação sua subsistência, contudo à 
medida que as dificuldades do meio se apresentavam ele era obrigado a superá-las 
adquirindo, portanto novos conhecimentos. O homem natural aprendeu a pescar, caçar e 
por vezes a associar-se a outros homens, tanto para defender-se como para caçar, mas 
estas associações eram sempre aleatórias. Neste ponto é que surge a primeira "revolução": 
a construção de abrigos. O surgimento das casas faz com que o homem natural permaneça 
mais tempo em um mesmo lugar e na companhia de seus companheiros, nascendo assim 
as famílias e com elas os "...sentimentos mais ternos que são conhecidos dos homens, o 
amor conjugal e o amor paterno."(pág. 88)*. Ao passo que as pessoas passam a viver por 
mais tempo juntas começa a surgir formas de linguagem. Uma noção precária de 
propriedade passa a fazer parte deste novo universo. Por motivos de segurança, hábitos 
alimentares e influência do clima, as famílias passam a conviver próximas surgindo as 
primeiras comunidades. 
Para Rousseau este era o estágio no qual o homem deveria ter parado. Vivendo em 
sociedade, com poucas necessidades e com condições de atendê-las o homem teria tudo 
para ser feliz. Mas a perfectibilidade não o permitiu. A pequena comunidade sentada a volta 
da fogueira cantando e dançando começa a se enxergar. Os homens passam a se 
compararem: o melhor caçador,o mais forte, o mais bonito, o mais hábil começa a se 
destacar, e o ser e o parecer tornam-se diferentes. Os homens agrupados ainda sem 
nenhuma lei ou líder têm como único juiz a sua própria consciência. E cada qual sendo juiz 
a sua maneira tem início o estado de guerra de todos contra todos. Paralelamente surge a 
agricultura e a metalurgia, evento ao qual Rousseau nomeia de "a grande Revolução". Com 
estes eventos surge a divisão do trabalho, a noção de propriedade se enraíza e passa a 
existir homens ricos e homens pobres, que dependeram doravante uns dos outros. É dentro 
desta situação caótica que os homens resolveram estabelecer leis para se protegerem; uns 
para protegerem suas propriedades e outros para se protegerem das arbitrariedades dos 
mais poderosos. 
Rousseau passa a indagar que tipos de governos podem ter surgido. De antemão 
descarta a possibilidade de um governo despótico ter sido o iniciador do processo, pois o 
sentimento de liberdade do homem não o permitiria. Jean-Jacques diz que os governantes 
devem ter surgido de forma eletiva, isto é, se em uma comunidade uma única pessoa era 
considerada digna e capacitada para governá-la surgiria um estado monárquico; se várias 
pessoas gozavam ao mesmo tempo de condições para tal surgiria um estado aristocrático, 
porém se todos as pessoas possuíam qualidades homogêneas e resolvessem administrar 
conjuntamente surgiria uma democracia. O desvirtuamento dessas formas de governo pela 
ambição de alguns é que deram origem a estados autoritários e despóticos. 
Rousseau conclui mostrando como os acontecimentos citados deram origem as 
desigualdades entre os homens. O surgimento da propriedade divide os homens entre ricos 
e pobres, o surgimento de governos divide entre governantes (poderosos) e governados 
(fracos) e o surgimento de estados despóticos divide os homens entre senhores e escravos. 
 
CONCLUSÃO 
Como homem de seu tempo (século XVIII), Rousseau procura realizar uma análise 
científica da sociedade, e a exemplo dos físicos que criaram a teoria dos gases perfeitos, 
que em natureza não existe, mas servem para o estudo de todos os outros gases através 
do método de comparação, Rousseau utiliza a "noção de estado de natureza", que nunca 
existiu efetivamente, mas que serve de patamar de comparação para verificarmos o quão 
distante uma sociedade está do estado natural. 
Rousseau tem uma preocupação lateral no ​Discurso que está ligada a sua 
religiosidade. Em alguns pontos lembra que o homem natural é uma ficção criada por ele 
para explicar sua teoria, que tal homem não existiu em época alguma da história, portanto 
seu texto não estaria desta forma contrariando as escrituras sagradas. 
Durante todo o nosso curso, nos foi apresentado um Rousseau controverso, 
polêmico, uma pessoa que nasceu protestante, converteu-se ao catolicismo e mais tarde 
retorna ao protestantismo; um autor de peças teatrais que combate o teatro; um crítico dos 
romances que escreve uma obra como ​Julia ou A Nova Heloísa​. Contudo ao avaliar sua 
obra e teoria, o que se vê é muita coerência. No ​Discurso sobre a origem e os fundamentos 
da desigualdade entre os homens Rousseau nos mostra um problema – a degeneração 
social provocada pelo distanciamento que o homem social está do homem natural. No 
Contrato Social ele nos apresenta uma solução – já que não podemos viver como o homem 
natural, pois a evolução da sociedade é inevitável (perfectibilidade), que constituamos uma 
sociedade harmoniosa, que tenha como ponto de partida uma relação entre governantes e 
governados baseada na liberdade. E em ​Emilio Rousseau nos mostra como chegar a tal 
sociedade - através da educação por um método bem específico que deve formar cidadãos 
livres. A educação de Emílio visa a construção do governante ideal, resolvendo um dos 
problemas da sociedade cujos vícios "...não pertencem tanto ao homem, mas 
fundamentalmente ao homem mal governado."(pág. 8). 
 
Bibliografia: 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. ​Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade 
entre os homens Editora Universidade de Brasília – Brasília/DF; Editora Ática – São 
Paulo/SP – 1989.

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