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Apostila 9 - artigo 235-249 CP

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Prévia do material em texto

Direito Penal 
Prof. Danilo Pereira 
Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É 
proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
1
Título VII. Crimes contra Família: casamento (art. 235/240), estado de filiação (art. 
241/243), assistência familiar (art. 244/247), pátrio poder, tutela ou curatela (art. 
248/249). 
 
 PARTE ESPECIAL 
 TÍTULO VII 
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA 
CAPÍTULO I 
DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO 
 
Art. 235 Bigamia 
Art. 236 Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento 
Art. 237 Conhecimento prévio de impedimento 
Art. 238 Simulação de autoridade para celebração de casamento 
Art. 239 Simulação de casamento 
Art. 240 Revogado pela Lei 11.106/05 
 
Considerações iniciais 
A CF/88 trouxe um capítulo específico destinado à proteção da família, da criança e adolescente, 
bem como dos idosos (Capítulo VII, Título VIII). Além disso, tamanho o interesse na proteção da 
família, que assim está disposto em seu artigo 226: “a família, base da sociedade, tem especial 
proteção do Estado.” Razão esta pela qual as disposições previstas no Título VII do Código Penal 
foram amparadas e recepcionadas pela CF. 
 
BIGAMIA 
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é 
punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. 
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, 
considera-se inexistente o crime. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que, regularmente casado, contrai novo matrimônio, ou seja, é a 
situação em que o sujeito possui dois ou mais cônjuges (polígamo). Claro que na hipótese de o 
agente contrair casamento mais de duas vezes, mesmo assim, para efeitos penais, é considerado 
bígamo. Da mesma forma, pune-se aquele que mesmo não casado, vem a se casar, sabendo que o 
parceiro era casado (§ 1º). Trata-se de norma penal em branco homogênea, pois devemos nos 
utilizar de outra norma para sua complementação, que no caso é de mesma hierarquia (federal), o 
Código Civil. (L. 10.406, de 10.01.2002). 
 
Objetividade Jurídica 
Visa a proteção da organização da família, em um contexto da proteção do Estado que visa 
resguardar a regularidade do casamento monogâmico. 
Direito Penal 
Prof. Danilo Pereira 
Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É 
proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
2
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio praticado tanto pela pessoa casada que contrai novo 
matrimônio (caput), quanto pela pessoa solteira, viúva ou divorciada que se casa com pessoa que 
sabe ser casada (§ 1º). 
Sujeito passivo: primariamente o Estado ante o interesse na proteção do casamento monogâmico, 
pilar da família. Secundariamente o cônjuge do primeiro matrimônio e o cônjuge do segundo 
matrimônio, este último quando não saiba que o parceiro era casado. 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “contrair” que significa levar a efeito, realizar, efetuar. Para conformação do 
tipo, é seu pressuposto que haja um casamento anterior, caso contrário a conduta é atípica. Neste 
crime, duas são as hipóteses de responsabilização penal: 
1. do próprio casado: é a conduta do caput, que pune o próprio sujeito que já era casado. 
2. do terceiro que contrai casamento com pessoa casada: é a conduta prevista no § 1º, que 
atingirá o terceiro desde que conheça a circunstância de casado da pessoa, que exige dolo direito 
(sabe que era casado). Claro que se a pessoa não sabia que o parceiro com quem se casou já era 
casado, não responderá por crime algum, inclusive, figurando com vítima também. Ou seja, o que 
era casado responde pelo caput, onde a pena é de reclusão de 2 a 6 anos, enquanto que o nubente 
que “sabia” do impedimento, responderá pelo § 1º, onde a pena será de detenção de 1 a 3 anos. 
Trata-se de hipótese de aplicação da teoria pluralística, que é exceção à teoria unitária do crime 
reconhecida pelo art. 29 CP. É a mesma conduta (bigamia), mas punida de forma diferente para 
seus concorrentes (reduzida de metade ao nubente que não é casado). No tocante as testemunhas 
ou padrinhos do casamento que tem conhecimento do casamento anterior podem ser 
processados pelo crime em coautoria ou participação, porém, apenas na forma do § 1º, afinal, se 
aquele que se casa com pessoa já casada, tem pena menor, justo é que os partícipes e coautores 
também tenham a pena reduzida deste § 1º. 
 
Exclusão de crime 
Em nosso sistema, considera-se o sujeito casado quando o casamento é levado a efeito (registrado) 
no cartório de registro civil. A CF/88 garantiu os efeitos civis do casamento realizado somente no 
religioso (§ 2º, art. 226), mas tal não se estende para efeitos penais. Claro que o casamento realizado 
no religioso pode ser registrado civilmente (art. 1.516, § 2º CC), e, a partir daí o sujeito poderá 
praticar o crime de bigamia se casar-se novamente. Para efeitos legais, o casamento se dissolve 
somente com a morte de um dos cônjuges ou com o divórcio (art. 1.571, § 1º, CC), daí sim 
podendo o sujeito casar-se novamente. Algumas hipóteses em quenão haverá crime: 
1. casamento religioso: sujeito era casado somente no religioso, ou, casado regularmente antes 
(registrado no cartório de registros civis), casa-se a segunda vez, mas apenas no religioso. Quer 
Direito Penal 
Prof. Danilo Pereira 
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proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
3
dizer, sendo o primeiro casamento, ou o segundo, realizado apenas no religioso, não há que se falar 
em crime de bigamia. 
2. havendo concubinato ou união estável: hipótese em que o sujeito mantém união estável com 
alguém e se case com outrem, ou, é casado com alguém e passe a manter união estável ou mesmo 
concubinato com outrem. É pressuposto do crime em estudo haver um segundo casamento, 
enquanto o sujeito já era casado. Logo, apesar de se reconhecer os direitos cíveis inerentes à união 
estável, como em direito penal não se admite interpretação extensiva, não se pode estender o 
“casamento” exigido pelo Código Penal para a união estável ou “concubinato”, pois vigora a 
interpretação restritiva. 
3. havendo anulação do casamento (art. 235, §2º CP): trata-se de uma causa de exclusão de 
tipicidade, considerando-se inexistente o casamento. Assim, se o casamento existente à época do 
crime (segundo casamento) é anulado, torna-se atípica a conduta do agente; da mesma forma, se o 
segundo casamento foi anulado. Em qualquer caso, passará o sujeito a manter casamento com uma 
só pessoa. Aliás, se as primeiras núpcias estão sendo discutidas judicialmente, trata-se de causa que 
suspende o curso do processo criminal por bigamia até desfecho deste processo cível (art. 92 CPP). 
Apenas a título de observação, as causas de impedimento (art. 1.521), nulidade (art. 1548) e 
anulabilidade (art. 1550) do casamento estão arroladas no Código Civil. 
4. tendo ocorrido o divórcio do casamento anterior ou a morte de um dos cônjuges (art. 
1.571, § 1º CC). São as formas de dissolução do casamento válido. 
 
Elemento Subjetivo 
Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de contrair novo matrimônio, 
sabendo que não poderia fazê-lo, sem um especial fim de agir. Logo, trata-se de dologenérico. 
Comprovado que o sujeito era leigo e de pouca instrução que contraiu novo casamento enquanto 
separado judicialmente (e não divorciado), poderá haver isenção ou redução de pena ante o erro de 
proibição (art. 21 CP). No tocante ao § 1º, que tipifica a conduta do solteiro que contrai casamento 
sabendo que a pessoa era casada, como o legislador usa a expressão “conhecendo essa 
circunstância” (casada), cabível somente o dolo direto e nunca o eventual.1 
 
Casamento no exterior 
Brasileiro que é casado no Brasil e contrair novo casamento no exterior, responderá pelo crime de 
Bigamia se houver previsão criminal desta conduta no país onde se realizou o segundo casamento 
por força do art. 7º, inciso II, § 2º, “b” do CP – Princípio da Dupla Tipicidade entre os países. 
 
 
1“Ausência de dolo. Ré desquitada. A apelada incorreu em erro, ao acreditar que o desquite judicial (realizado em 1974) tornaria-a 
apta a contrair novo matrimônio. Versão escusatória roborada por prova oral. Ademais, houve falha da serventia extrajudicial, que 
permitia extração de certidão de nascimento atualizada sem que dela constasse a averbação do casamento ou do desquite. Crime não 
punível a título culposo. Recurso Ministerial improvido.” (TJSP – Ap. Criminal 428.265-3/9-00 – 1ª C.Criminal – Rel. Des. Péricles 
Pisa – J. 23.01.2006). 
Direito Penal 
Prof. Danilo Pereira 
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proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
4
Consumação e Tentativa 
Trata-se de crime material, exigindo a celebração do casamento, que é a efetiva ofensa aos laços 
matrimoniais. Segundo o art. 1.514 do CC o casamento ocorre “no momento em que o homem e a 
mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declare 
casados” – é o registro civil do casamento, que tanto pode se realizar em cartório, quanto na 
cerimônia durante a comemoração do casamento na própria festa. A tentativa é admissível, pois a 
celebração do casamento é composta de etapas (art. 1.533 e seguintes do CC). O processo de 
habilitação (proclamas e atos anteriores à celebração - art. 1.525 e seguintes do CC) é considerado 
ato preparatório, logo, não punível pos em nosso sistema punição apenas da fase de execução em 
diante, por força do art. 14, II CP 
 
Falsidade anterior 
Claro que para ocorrência da bigamia existe uma afirmação falsa no processo de habilitação, que é a 
declaração do próprio nubente do seu estado civil (art. 1.525, IV CC) e das testemunhas, de que não 
existem quaisquer impedimentos ao casamento (art. 1.525, III CC), constituindo, assim o crime de 
falsidade ideológica (art. 299 CP). Porém, este crime anterior ficará absorvido, pois constitui-se 
“crime meio” para o “crime fim”, que é a bigamia. A tal regra invocamos o Princípio da 
Consunção ou Absorção2. 
 
Prescrição 
A legislação penal determina que o início do cômputo se dá não com a celebração do casamento, 
mas no momento em que o fato se tornou conhecido (art. 111, IV CP), justamente porque este 
delito tende a ser praticado de forma oculta, sendo mais difícil ao Estado punir ao agente. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação penal pública incondicionada. 
 
Pena 
Figura do caput (pessoa casada): reclusão de 2 a 6 anos. 
Figura do § 1º (terceiro que sabia que noivo era casado): reclusão ou detenção de 1 a 3 anos. 
 
 
 
 
2 “1. O delito de bigamia exige para se consumar a precedente falsidade, isto é: a declaração falsa, no processo preliminar de 
habilitação do segundo casamento, de que inexiste impedimento legal. 2. Constituindo-se a falsidade ideológica (crime-meio) etapa 
da realização da prática do crime de bigamia (crime-fim), não há concurso do crime entre estes delitos. 3. Assim, declarada 
anteriormente a atipicidade da conduta do crime de bigamia pela Corte de origem, não há como, na espécie, subsistir a figura 
delitiva da falsidade ideológica, em razão do princípio da consunção. 4. Ordem concedida para determinar a extensão dos efeitos 
quanto ao trancamento da ação penal do crime de bigamia, anteriormente deferido pelo Tribunal ‘a quo’, à figura delitiva precedente 
da falsidade ideológica.” (STJ – HC 39583/MS – 5ª Turma – Rel. Min. Laurita Vaz – J. 08.03.2005). 
Direito Penal 
Prof. Danilo Pereira 
Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É 
proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
5
INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO 
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe 
impedimento que não seja casamento anterior: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão 
depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que casa-se escondendo ou enganando o outro nubente sobre 
impedimento ao regular casamento. Tal qual o crime anterior, trata-se de norma penal em branco, 
pois deve obrigatoriamente ser complementada por outra, que no caso é o Código Civil. 
 
Objetividade Jurídica 
Busca a proteção da proteção da família, especialmente o claro interesse do Estado em manter 
regulares os casamentos realizados. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime comum praticado por pessoa que se case induzindo ao erro ou 
ocultando impedimento ao nubente. 
Sujeito passivo: o Estado, que busca manter a regularidade do casamento monogâmico, além do 
cônjuge enganado. 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “contrair” que significa levar a efeito, realizar, ajustar a união entre o homem 
e a mulher. Válido relembrar que, segundo o art. 1.514 do CC o casamento ocorre “no momento 
em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo 
conjugal, e o juiz os declare casados” (registro civil). Duas são as situações de fraude previstas pelo 
legislador neste tipo penal: 
1. induzindo a erro essencial: induzir significa incutir, levar a, persuadir. Erro essencial constitui 
hipótese legal de anulação do casamento por vício da vontade do contraente por situações que 
dizem respeito à pessoa do outro.Trata-se de norma penal em branco, onde as hipóteses de erro são 
elencadas pelo artigo 1.557 do Código Civil. Configurada qualquer delas pode dar margem à 
configuração deste crime. Vejamos as hipóteses legais de erro: 
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: 
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne 
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; 
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; 
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou 
herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 
IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao 
cônjuge enganado. 
 
 
Direito Penal 
Prof. Danilo Pereira 
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proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor.6
2. ocultando impedimento que não seja o casamento anterior: ocultar significa esconder. Os 
impedimentos são situações que vedam (proíbem) a celebração do casamento. Claro que a situação 
de casado do sujeito é um impedimento a novo casamento, mas, se isso ocorrer, responderá o 
casado pelo crime de bigamia (art. 235 CP). Os impedimentos estão previstos no art. 1.521 do 
Código Civil e ocorrendo qualquer destes haverá a configuração deste crime. Vejamos: 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. 
 
No tocante ao termo afins, algumas observações. Costumamos chamar parentes de afins.É a 
ligação que existe entre um cônjuge com os parentes do outro cônjuge. O próprio Código Civil diz 
em seu art. 1.595: “Cada cônjuge ou companheiro é aliado ao parente do outro pelo vínculo de 
afinidade”. A afinidade é aquela relação que surge com casamento ou com a união estável entre um 
dos cônjuges ou conviventes com os parentes do outro. Em linha reta são os sogro e sogra com 
nora e genro. Segundo o §2º do art. 1.595 CC: “na linha reta a afinidade não se extingue com a 
dissolução do casamento”. Ou seja, “uma vez sogra, sempre sogra”, e nunca o sujeito poderá se 
casar com a sogra, mesmo se divorciando. 
 
Elemento Subjetivo 
Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de contrair matrimônio, 
induzindo em erro ou ocultado impedimento do outro nubente, sem qualquer fim específico. Trata-
se de dolo genérico. 
 
Consumação e Tentativa 
No momento em que o casamento é contraído (art. 1.514 CC), independentemente da dissolução 
do casamento por conta do erro ou impedimento (crime formal). A tentativa é inadmissível face a 
regra do parágrafo único. 
 
Ação Penal (§ único) 
Trata-se de ação penal privada, mediante queixa crime do nubente enganado – ação penal 
privada personalíssima. Importante ressaltar que o legislador trouxe uma especial condição de 
procedibilidade: a ação penal só pode ser intentada depois de transitar em julgado a sentença 
que no juízo cível, pelo motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. Ou seja, exige-se a 
anulação do casamento para poder a vítima ingressar com a queixa crime. Assim, o prazo 
decadencial de 6 meses para interposição da queixa (art. 103 CP) inicia-se no 1º dia após a certidão 
de trânsito em julgado do processo cível de anulação. Outra importante observação é que não cabe 
Direito Penal 
Prof. Danilo Pereira 
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a regra da sucessão dos queixosos previstas no art. 100, § 4º CP (No caso de morte do ofendido ou de ter 
sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, 
ascendente, descendente ou irmão), tornando-se, por isso, personalíssima. 
 
Pena 
Detenção de 6 meses a 2 anos. 
 
CONHECIMENTO PRÉVIO DE IMPEDIMENTO 
Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do(s) agente(s) que casa(m)-se conhecendo a existência de impedimento ao 
casamento que lhe cause a nulidade absoluta. Parecido com o delito anterior, porém, neste não há 
indução a erro ou a ocultação do impedimento, ou, ainda, neste artigo 237, ambos cônjuges 
podem ter ciência do impedimento, dando-se o chamado matrimônio ilegal bilateral. 
 
Objetividade Jurídica 
É o interesse Estatal na proteção da organização da família com o regular casamento e sua validade. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, praticado por quem se casou, sabendo do impedimento. 
Sujeito passivo: o Estado e o nubente que desconhecer do impedimento. 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “contrair” que significa levar a efeito, realizar, efetuar. Vimos que o 
casamento se realizada quando há manifestação, perante o juiz, da vontade de estabelecer vínculo 
conjugal – art. 1.514 CC). Para conformação do crime basta o sujeito saber da existência de 
impedimento que cause a nulidade absoluta do casamento. Vimos as causas de impedimento que 
causam a nulidade absoluta do casamento: 
Art. 1.521. Não podem casar: 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
II - os afins em linha reta; 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
V - o adotado com o filho do adotante; 
VI - as pessoas casadas; 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. 
 
Crítica 
Para o caso do sujeito que sabe que o outro contraente é casado não há que se falar no crime 
descrito no art. 237 posto que há crime especial para esta modalidade de conduta prevista no art. 
Direito Penal 
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235, § 1º CP. Ocorre que a pena lá prevista é de detenção de 1 a 3 anos, enquanto que no crime 
descrito no art. 237 é de detenção de 3 meses a 1 ano. Qual a razão de punir-se mais severamente 
aquele que sabe que o contraente é casado, em detrimento de outras hipóteses de conhecimento de 
impedimento ao casamento? Afinal, a proteção é a mesma. 
 
Elemento Subjetivo 
Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de contrair matrimônio, 
conhecendo causa de impedimento absoluto. A expressão “conhecendo” remete a dolo direto, não 
havendo qualquer fim especial de agir, trata-se de dolo genérico. Comprovado o erro quanto ao 
impedimento (o tipo exige dolo direto), o dolo pode ser excluído, e logo, ficaria excluído o crime 
(art. 20 CP); o erro de proibição pode reduzir ou isentar de pena (art. 21 CP), dependendo do caso. 
 
Consumação e Tentativa 
No momento em que o casamento é contraído, ou seja, no instante em que manifestam a vontade 
perante o juiz, e este os declara casados (art. 1.514 CC), independentemente da efetiva anulação do 
casamento (crime formal). A tentativa é admissível, se iniciada a celebração, o casamento não se 
realiza por motivos alheios à vontade do agente (v.g., na celebração alguém acusa o impedimento), 
entendemos configurada a tentativa. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação penal pública incondicionada. 
 
Pena 
Detenção de 3 meses a 1 ano. 
 
SIMULAÇÃO DE AUTORIDADE PARA CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO 
Art. 238 - Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento: 
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que atribui a si autoridade para celebração de casamento. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da ordem jurídica do casamento, especialmente sua regular constituição e colocá-lo a 
salvo de matrimônios ilegalmente contraídos. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer um pode praticá-lo. 
Sujeito passivo: o Estado e os cônjuges enganados. 
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Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “atribuir” que significa imputar-se ou dar a si mesmo. O sujeito dá-se 
(falsamente, ou seja, contrário à realidade) como autoridade competente para celebração do 
casamento. Segundo o Código Civil (art. 1.514), autoridade para celebrar o casamento é o juiz de 
paz (art. 98, II CF e art. 16, disposições transitórias da Constituição do Estado de São Paulo). 
Como não houve a organização da justiça de paz, alguns Estados não regularizaram isto. No Estado 
de São Paulo, compete a realização dos matrimônios ao juiz de casamentos, cidadão nomeado pelo 
secretário de justiça e defesa da cidadania, por meio de ato administrativo. Não existindo este crime 
se a simulação se faz por autoridade religiosa, pois reconhecido o casamento e cerimonial religioso 
apesar de não gerar efeitos civis (art. 226, § 2º CF e art. 1516 CC), e também a do realizado em 
legações estrangeiras, presidido o casamento pela autoridade diplomática ou consular competente 
(art. 7º, § 2º LICC). Este delito nada mais é do que uma especial forma de punir a usurpação 
pública (art. 328 CP). 
 
Elemento Subjetivo 
Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de atribuir-se competência para 
celebração de casamento, sem um fim especial de agir, logo, dolo genérico. O erro poderá excluir 
o crime. Basta imaginar a hipótese da pessoa que acha encontrar-se investida na função de 
autoridade civil apta a realização de casamentos, e nessa condição presidir uma cerimônia. 
Configurada estaria a hipótese de erro sobre elementos constitutivos do tipo penal (art. 20, caput 
CP) 
 
Consumação e Tentativa 
Trata-se de um crime formal, ou seja, basta a mera simulação, pois a conduta incriminada é 
atribuir-se. Logo, independentemente do casamento ocorrer, a só falsa atribuição basta à 
consumação. Deve o agente, todavia, manifestar-se de forma inequívoca no sentido de ele ser 
competente à celebração. A tentativa, por isso, é inadmissível: ora, atribuindo-se o crime já está 
consumado. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Detenção de 1 a 3 anos, se o fato não constitui crime mais grave (subsidiariedade expressa). Assim, 
no caso de uma pessoa se passar por juiz de paz visando auferir vantagem com isso, responderá por 
crime mais grave: usurpação da função pública qualificada (art. 328, § único CP). 
 
 
Direito Penal 
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proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
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SIMULAÇÃO DE CASAMENTO 
Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa: 
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que finge casamento, enganando outra pessoa mediante alguma 
fraude. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da ordem jurídica do casamento, tutela da entidade familiar e a proteção do cônjuge e 
mesmo terceiros enganados com a simulação do casamento. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer um pode praticá-lo. Porém, conseguimos 
imaginar apenas duas hipóteses de realização deste crime: ou um dos noivos engana o outro, ou 
ambos simulam casamento para enganar terceiros. Em qualquer hipótese, pessoas que não sejam os 
nubentes, mas participem no engodo, respondem pela participação a este crime (concurso de 
agentes - art. 29 CP). 
Sujeito passivo: o Estado e qualquer outro pessoa que foi enganada (contraente ou terceiro de boa 
fé). 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “simular” que significa representar, fingir. Tal qual dissemos ao crime 
anterior, a simulação deve recair quanto ao casamento civil por força do art. 1.514 do Código Civil. 
Assim, se há simulação de casamento religioso, não haverá este crime por falta de qualquer ataque a 
um bem jurídico (veja-se que o bem jurídico é a ordem jurídica do casamento (civil), onde as regras 
do CC não se estendem ao casamento religioso.) 
 
Elemento Subjetivo 
Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de simular casamento, com 
engano de outra pessoa. Segundo a corrente doutrinária, trata-se de dolo genérico. 
 
Consumação e Tentativa 
Trata-se de um crime formal, ou seja, não exige qualquer resultado naturalístico, mas a efetiva 
simulação, representação do casamento mediante engano de outra pessoa. Enquanto ainda no 
processo de habilitação para o casamento (art. 1.525 e seguintes do CC), não meros atos 
preparatórios, impuníveis. Assim, o crime passa a ser punível no momento em que o casamento 
passa a ser contraído, ou seja, com a manifestação de vontade de casar (art. 1.514 CC). A tentativa é 
admissível. 
Direito Penal 
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Subsidiariede expressa 
Consoante o preceito secundário (“...se o fato não constitui elemento de crime mais grave.”), se 
figura típica mais grave ocorrer, esta será absorvida, v.g., sujeito que simula casamento apenas para 
conseguir obter a entrega da mulher, daí configuraria violação sexual mediante fraude (art. 215 CP). 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Detenção de 1 a 3 anos, se o fato não constitui crime mais grave (subsidiariedade expressa). 
 
ADULTÉRIO 
Art. 240 – Revogado (Lei 11.106/05) 
 
A lei 11.106, de 28.3.2005 revogou este crime. A superveniência dessa lei tornou o adultério um 
fato penalmente irrelevante, deixando de ser crime. A abolito criminis, como sabemos, constitui-se 
numa das causas extintivas da punibilidade (art. 107, III CP). Realmente, este crime já deveria ter 
sido extirpado de nosso sistema há longa data. Não pode servir a lei penal par moldar 
comportamentos, engessar o ser humano moral e eticamente. O adultério não é mais considerado 
crime em nosso sistema, apesar de que já estava em desuso há anos, sem qualquer notícia de 
processo criminal por esta conduta. Apesar disso, o adultério constitui infração no direito civil, 
sendo causa de separação judicial conforme artigo 1.573, II do Código Civil. 
 
 PARTE ESPECIAL 
 TÍTULO VII 
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA 
CAPÍTULO II 
DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO 
 
Art. 241 Registro de nascimento inexistente 
Art. 242 Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém nascido 
Art. 243 Sonegação de estado de filiação 
 
Considerações gerais 
Este capítulo II trata do estado de filiação, que é o vínculo existente entre os pais e filhos ou a 
relação se parentesco em linha reta do primeiro grau entre juma pessoa e seus descendentes (filiação 
natural) ou, ainda, a relação socioafetiva entre pais e filhos adotivos ou advindos de inseminação 
artificial ou fertilização in vitro (filiação civil). Juridicamente falando, não há qualquer distinção 
entre os filhos resultantes de elo consangüíneo ou civil. Nossa CF, aliás, declara no art. 227, § 6º 
que “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, 
Direito Penal 
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proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.” Da mesma forma prevê o CC (art. 
1596). Com isso, o CP dedicou este capítulo não para preservar o estado de família, mas visando a 
proteção do vínculo jurídico e socioafetivo entre os pais e seus filhos, independentemente da 
origem dessa relação. Ademais, a condição de filho relaciona-se com a dignidade da pessoa humana, 
seu direito à intimidade, à sua identidade social, biológica e cultural. 
 
REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE 
Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que provoca inscrição de nascimento inexistente. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção do estado de filiação. Afinal, a certidão do termo de nascimento, segundo a lei civil faz 
prova da filiação (art. 1.603 CC), gerando, claro, os direitos da filiação, especialmente os 
hereditários. Busca-se a confiabilidade do registro civil. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer um pode praticá-lo. 
Sujeito passivo: o Estado e as pessoas prejudicadas pelo registro, v.g., herdeiros. 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “promover” que significa provocar, requerer, dar origem. A conduta do 
agente visa a inscrição (registro) de nascimento inexistente, ou seja, nascimento que nunca existiu 
ou nascimento de natimorto (feto pré morto ao nascimento). O tipo faz menção à nascimento 
inexistente, logo, se o registro é de filho alheio (portanto, nascimento existente), o crime se 
deslocará para o art. 242 CP. 
 
Elemento Subjetivo 
Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de promover a inscrição, 
sabendo o agente que o nascimento inexistiu ou foi natimorto. Segundo a corrente doutrinária 
dominante, trata-se de dolo genérico. 
 
Consumação e Tentativa 
Trata-se de um crime formal, ou seja, não exige um efetivo prejuízo com a inscrição do falso 
registro. A tentativa é admissível. Interessante analisar que a falsidade ideológica praticada (art. 299 
CP) fica absorvida princípio da consunção. 
 
Direito Penal 
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Prescrição 
O início do cômputo da prescrição dá-se na data em que o fato tornou-se conhecido - art. 111, IV 
CP. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Reclusão de 2 a 6 anos. 
 
PARTO SUPOSTO. SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE AO ESTADO 
CIVIL DE RECÉM-NASCIDO 
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou 
substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: 
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que altera ou suprime direito inerente ao estado civil de recém 
nascido, ensejando parto alheio como próprio, registrando como seu filho de outrem, ou, ocultando 
recém nascido ou substituindo-o. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção do estado de filiação., no contexto de proteção à condição de filho, direito inerente a 
todo ser humano de saber sua real origem, além de proteger a fé pública, ou seja, a confiabilidade e 
regularidade de todos os dados relativos ao registro civil. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio quanto a primeira figura prevista (dar parto alheio como 
próprio),pois somente a mulher pare. No tocante às demais figuras previstas, se trata de 
crimecomum, qualquer um pode praticá-lo. 
Sujeito passivo: o Estado e as pessoas prejudicadas pelo registro, v.g., herdeiros, o próprio recém 
nascido, os pais biológicos etc. 
 
Elemento Objetivo 
O tipo, em seu caput, trouxe 4 (quatro) condutas delituosas (dar, registrar, ocultar ou substituir). 
Vejamos: 
1. dar parto alheio como próprio (parto suposto): duas situações configuram este crime: 
a) há simulação de gravidez e parto, com apresentação de recém nascido alheio como próprio; 
b) há parto real, mas o feto é natimorto, substituído por filho de outrem. 
Direito Penal 
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Não há necessidade de ocorrer o registro civil do recém nascido, mas não se contenta o legislador 
com a só afirmativa que um recém nascido é seu filho, deve existir uma efetiva situação que altere o 
estado civil do recém nascido. Ocorrendo o registro civil, haverá a segunda figura criminosa 
prevista neste caput. 
2. registrar como seu filho de outrem: “registrar” significa declarar o nascimento, promover sua 
inscrição no registro civil. A ação punida é registrar filho de outrem, ou seja, o sujeito declara-se pai 
ou mãe de criança, que não é seu filho. Tal conduta é conhecida como “adoção a brasileira”. 
3. ocultarou substituir recém nascido: “ocultar” significa esconder, encobrir, sonegar. 
“Substituir” significa trocar. Em ambas as hipóteses impede-se o verdadeiro estado civil. Recém 
nascido é o neonato, aquele que acabou de nascer (com no máximo 30 dias de vida). 
Em todas as hipóteses, não basta a mera conduta (dar, registrar, ocultar ou substituir), deve estar 
acompanhada da privação dos direitos do recém nascido, isto é, que seja suprimido ou 
alterado direito inerente ao estado civil do recém nascido. 
 
Elemento Subjetivo 
Nestas quatro modalidades previstas no caput, o crime é doloso, traduzido pela vontade livre e 
consciente de promover qualquer das condutas ensejando a supressão ou alteração de direito 
inerente ao estado civil do recém nascido. Face à esta finalidade inerente a todas as condutas 
(supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil), trata-se de dolo específico. Não há 
previsão de forma culposa. 
 
Consumação e Tentativa 
Trata-se de um crime material, ou seja, exige a efetiva alteração ou supressão de direito inerente 
ao estado civil que se dará dependendo a conduta prevista no caput. Na segunda figura (registrar 
como seu filho de outrem), exige-se, ainda, o efetivo registro falso. Em todas as modalidades é 
admitida a tentativa. 
 
Figura privilegiada e perdão judicial (§ único) 
Trata-se de hipótese de causa de redução de pena (privilégio) ou sua não aplicação (perdão judicial), 
com base na motivação nobre do agente ao praticar o crime. 
Privilégio: constitui-se, como o próprio nome já diz, uma medida benéfica ao sujeito. No caso, é a 
pena reduzida, mais branda (detenção de 1 a 2 anos). 
Perdão judicial: é a hipótese de causa extintiva da punibilidade (art. 107, IX CP) onde o sujeito é 
“perdoado” com a não aplicação de pena alguma. Assim, “pode o juiz deixar de aplicar a pena”. 
Nobreza: significa generosidade, humanidade ou solidariedade. Hipótese do sujeito que tem 
intenção de salvar a criança abandonada, ou registrar um recém nascido entregue por uma parteira 
cuja verdadeira mãe iria abandoná-lo etc. Alguns sustentam que nestas causas não haveria 
Direito Penal 
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antijuridicidade nestas condutas pois seriam causas supralegais de exclusão da antijuridicidade (art. 
23 CP). 
 
Prescrição 
Por força do art. 111, IV CP, o prazo terá início quando o fato tornar-se conhecido da autoridade 
pública. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Figuras previstas no caput: reclusão de 2 a 6 anos. 
Causa de privilegio de pena (§ único): detenção de 1 a 2 anos; ou perdão judicial. 
 
SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO 
Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-
lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que abandona em asilo ou outra instituição de assistência, o próprio 
filho ou filho alheio, ocultando a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito 
inerente a estado civil. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção do estado de filiação. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio no caso do abandono de filho próprio (só os pais o 
praticam),e crime comum no caso de abandono de filho alheio. 
Sujeito passivo: o Estado (a conduta coloca em risco a regularidade do estado de filiação da 
criança) e as pessoas prejudicadas, v.g., criança lesada pelo estado de filiação, o genitor ou genitora 
que não tiveram participação neste crime etc. 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “deixar”, que significa abandonar, largar. No caso, o filho próprio (havido ou 
não do casamento ou mesmo por adoção) ou alheio, é deixado em asilo de expostos (de amparo, 
orfanato ou semelhante) ou outra instituição de assistência, seja pública ou particular. Logo, 
fica excluído o crime se o abandono se deu em casa de parentes ou amigos por força da forma 
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vinculada eleita pelo legislador ao enumerar os locais de abandono. Além de deixar, deve o sujeito 
ocultar-lhe a filiação (não dizer) ou atribuir-lhe outra. Se meramente deixar o filho ou filho de 
outrem poderá haver o crime de abandono de incapaz (art. 133 CP). 
 
Elemento Subjetivo 
O crime é doloso, existindo um especial fim de agir consistente no “fim de prejudicar direito 
inerente ao estado civil”. Logo, há dolo específico. Não presente esta finalidade, haverá o crime de 
abandono de incapaz (art. 133 CP). 
 
Consumação e Tentativa 
Trata-se de um crime material, ou seja, exige resultado naturalístico que ocorre com a efetiva 
ocultação de filiação ou atribuição de outra. A tentativa é admitida. É desnecessário que a criança 
tenha sido registrada por seus pais. Ou seja, subsistirá a infração, ainda sem a lavratura do registro 
do menor. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Reclusão de 1 a 5 anos, e multa. 
 
 
 PARTE ESPECIAL 
 TÍTULO VII 
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA 
CAPÍTULO III 
DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR 
 
Art. 244 Abandono material 
Art. 245 Entrega de filho menor a pessoa inidônea 
Art. 246 Abandono intelectual 
Art. 247 Abandono moral 
 
ABANDONO MATERIAL 
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos 
ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes 
proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente 
acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente 
enfermo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no 
País. 
Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide*, de qualquer modo, 
inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente 
acordada, fixada ou majorada. 
* onde lê-se “ilide”, leia-se elide. O texto legal trouxe esse erro na grafia. 
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Considerações gerais 
Tal conduta criminosa demanda de expressa orientação da Constituição Federal de 1.988, visando 
exatamente compelir aos parentes à mutua assistência. Reza o art. 229 CF: “Os pais têm o dever de 
assistir, educar e criar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, 
carência ou enfermidade.” Como sabemos, há diferentes formas de sanções no Direito e todas são 
independentes entre si. Além da penal, temos a civil e a administrativa. Nosso Código Civil vigente 
trouxe em seus dispositivos uma série de normas que visam compelir aos cônjuges e companheiros 
ao auxílio mútuo: art. 1.566, III, os artigos 1.694 a 1.710 tratam dos alimentos entre parentes. Outra 
forma de obrigar a essa assistência é a prisão civil por débito de pensão alimentícia de 1 a 3 meses, 
prevista pelo artigo 733, § 1º do Código de Processo Civil (Lei 5.869, de 11.01.973). Aliás, prisão 
esta amparada constitucionalmente (art. 5º, LXVII). Porém, é de suma importância observar que, 
mesmo podendo ocorrer a prisão pelo débito de pensão alimentícia, tal não tem caráter penal, 
inclusive, esta última é chamada de prisão civil. Os alimentos, o auxílio, devem ser cobrados 
precipuamente por essas regras de direito civil, restando ao direito penal a ultimaratio (última razão), 
o último dos instrumentos a ser usado por uma consequência expressa do princípio da ofensividade 
e proporcionalidade do direito penal. Ou seja, em situações onde o sujeito ativo age com ingerência, 
total desprezo e desmazelo à subsistência do parente necessitado, causando perigo à sanidade física 
e mental daquele. Ademais, cumpre-nos salientar que o Estatuto do Idoso – Lei 10.741/03 alterou 
a redação deste artigo. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que deixa de colaborar para subsistência (recursos necessários, 
pensão alimentícia, socorro) do parente (cônjuge, filho, pais) ante uma situação de comprovada 
necessidade fixada pelo próprio legislador (menor de 18 anos, inapto ao trabalho, ascendente 
inválido ou maior de 60 anos, gravemente enfermo). O nomem juris do crime (abandono material) 
significa a omissão quanto alimentação, remédios, médicos, vestimenta, enfim, todo e qualquer tipo 
de cuidado imprescindível aos assistidos. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da família, especialmente aquilo que se refere à assistência familiar. Logo, não se 
aplica este crime para pensão alimentícia derivada de ato ilícito, v.g., acidente de trânsito levando à 
invalidez da vítima com condenação a pensão vitalícia para o causador do acidente. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio. O praticam somente os cônjuges, pais, ascendentes ou 
descendentes. 
Sujeito passivo: cônjuge, filhos (menor de 18 anos ou inapto ao trabalho), ascendente (inválido ou 
maior de 60 anos), ascendentes ou descendentes (gravemente enfermos). 
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Elemento Objetivo 
Três são as figuras delitivas previstas neste dispositivo. Este tipo penal, ao contrário da maioria 
prevista no CP, retrata a ordem de agir do agente. Ou seja, existem no CP ordens proibitivas 
(vedam determinada ação) e as preceptivas (são ordenadas determinadas ações). O art. 244 trata-se 
de uma norma preceptiva. Válido observar que existem vítimas específicas, e em situações também 
específicas, onde, se estas não preenchem estes requisitos (v.g., filho maior e apto ao trabalho), não 
há este crime. 
1. deixar de prover a subsistência: segundo o texto legal, a conduta do agente deve recair sobre 
cônjuge, filho menor de 18 anos ou inapto ao trabalho, ou ascendente inválido ou maior de 60 
anos. Subsistência significa manutenção, independentemente de qualquer pensão arbitrada, pois é 
dever dos pais. 
2. faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou 
majorada: para configurar o crime é imprescindível que a pensão tenha sido determinada 
judicialmente, provisória ou definitiva, em razão de acordo, fixação ou majoração. O art. 1.695 do 
CC define quando devido os alimentos: “São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens 
suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, 
sem desfalque do necessário ao seu sustento.” 
3. deixar de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: o abandono recai 
sobre descendentes (filhos, netos, bisnetos) ou ascendentes (pais, avós, bisavós) gravemente 
enfermos, ou seja, com enfermidade física ou mental. Observe-se que, no caso de idoso 
abandonado, mas sem qualquer relação (ascendência) com o sujeito, o crime será o do Estatuto do 
Idoso (L. 10.741/03): “Art. 97.Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, 
em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não 
pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, 
se resulta a morte.” 
 
Elementos normativos do tipo 
Elemento normativo do tipo trata-se de uma valoração de alguns tipos penais que deve ser feita 
fora do campo do direito. 
1. sem justa causa: como o próprio nome da diz, significa uma ausência de justificativa para 
omissão do agente, que não encontra amparo no direito. Por exemplo, a prisão do sujeito por 
algum crime justifica a ausência de assistência; o desemprego do agente também pode ser uma 
justificativa para uma justa causa, pois torna a sua própria subsistência prejudicada, etc. 
2. não lhes proporcionando os recursos necessários: se refere aos recursos estritamente 
necessários à sobrevivência: remédios, alimentação, roupas ou moradia. Quer dizer, aqueles 
mínimos para sobreviver o necessitado. 
 
Direito Penal 
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proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
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Figura equiparada (§ único) 
Segundo o parágrafo único, incidirá nas mesmas penas “quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer 
modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente 
acordada, fixada ou majorada.” Visa incriminar aquele que embora tenha condições (solvente), engana 
(frustra) ou suprime (elide) de qualquer modo o pagamento de pensão, inclusive, abandonando o 
emprego sem justificativa. Ou seja: 
1. engana (frustra ou suprime) pagamento de pensão. 
2. abandona o emprego sem justificativa. 
 
Elemento Subjetivo 
O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de deixar de prover à subsistência, 
falta ao pagamento da pensão ou deixar de socorrer. Não há um fim especial de agir, logo, o dolo é 
genérico. Comprovado que o sujeito não socorreu a vítima materialmente em razão de suas parcas 
condições econômicas, ou, se proveu parcialmente a subsistência do ofendido, não pode se falar em 
crime3. 
 
Consumação e Tentativa 
Trata-se de um crime formal, ou seja, o só ato omissivo basta para consumar o crime. Porém, 
deve-se comprovar o risco que o bem jurídico tutelado (assistência familiar). Trata-se de crime 
omissivo puro. Claro que, em havendo prazos e determinações judiciais para pagamento de pensão, 
estes deverão ser respeitados. Cumprindo-os o agente, não há crime algum. A tentativa não é 
admitida por tratar-se de crime omissivo puro, ou seja, havendo a omissão que coloque em risco a 
integridade física ou mental do abandonado, o crime já se consuma. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
 
 
 
3“Abandono material. Crime omissivo - Pensão alimentícia -Justa causa que deve ser provada pela acusação - Ausência de dolo – 
Atipicidade da conduta - Impossibilidade justificada - Recurso provido” (TJSP – Apelação 993.08.020429-2 – Rel. Des. Newton Neves – 
J. 02.06.2009); “Abandono material. Mãe jovem de numerosa prole com limitada capacidade de discernimento e ação. Dolo não 
comprovado. Absolvição decretada.” (TJSP – Apelação 1101107 – Rel. Des. Evandro Renato Pereira – J. 28.08.2008); “Menor deficiente 
mental. Inadimplemento do dever legal de prestar a subsistência material (alimentação, higiene, vestuário etc) e prover educação escolar e 
tratamento médico adequado reconhecimento. Configura-se abandono material e intelectual de menor deficiente mental que perambula 
nas ruas, faminto e cheirando cola desapateiro, sem ser provida a sua subsistência, educação escolar e tratamento médico adequado.” 
(TJSP - Apelação 831.564.3-9 – Rel. Des. William Campos – J. 08.04.2008.”; “Se a prova dos Autos dá conta de que o acusado é diarista, 
sem vínculo permanente de emprego, daí, quiçá, suas dificuldades financeiras para cumprir com regularidade, modo contínuo, a 
obrigação alimentar, no montante de 20% do salário-mínimo, à filha menor, não se oferece adequado juízo penal condenatório, visto que 
o tipo penal exige, mais do que o simples não provimento da subsistência, que tal se dê sem justa causa. Subsistência, aliás, para a qual, de 
uma forma ou outra, mesmo que de forma esparsa e não constante, o acusado contribuía. Apelo provido para o fim de absolvição por 
falta de provas. (TJRS - 7ª Câm. Criminal; ACr nº 70025895020- Rel. Des. Marcelo Bandeira Pereira; J. 30.4.2009; v.u.); “Acusada 
comprovou existência de sério motivo para saí da do lar conjugal e que tomou os cuidados que lhe eram possíveis para subsistência dos 
filhos. Absolvição decretada.” (TJRS – 5ª Câm. Criminal; Apel. Cr. 70039099981 – Rel. Des. Amilton Bueno de Carvalho – J. 
17.11.2010). 
Direito Penal 
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Pena 
Detenção de 1 a 4 anos, e multa de um a dez vezes o salário mínimo vigente no País (exceção a 
regra do dia multa previsto no art. 49 CP). 
 
ENTREGA DE FILHO MENOR A PESSOA INIDÔNEA 
Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o 
menor fica moral ou materialmente em perigo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. 
§ 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o 
menor é enviado para o exterior. 
§ 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, 
auxilia a efetivaçãode ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro. 
 
Conceito 
É a conduta do agente que coloca em risco a integridade física ou moral do filho menor de 18 anos 
de idade o entregando a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber ficaria o menor moral ou 
materialmente em perigo. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da família, especialmente quanto aos filhos menores. 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, o praticam somente os pais (legítimos, naturais ou 
aditivos). 
Sujeito passivo: filhos menores de 18 anos (legítimos, naturais ou adotivos). 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “entregar” que significa deixar sob o cuidado ou guarda de outrem, tanto 
podendo ser uma ação (entrega propriamente dita) como uma omissão (pais se ausentam do local 
deixando o filho menor), desde que num tempo relevante. Exige-se ainda que a entrega se dê a uma 
pessoa cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em 
perigo. Se a pessoa não coloca em risco (material ou moralmente o filho), não há crime. Exemplos 
risco material: criança junto a pessoas exercendo atividades arriscadas, insalubres, temerárias ou 
ilícitas; risco moral: pessoas viciadas em álcool ou drogas, dedicadas à prostituição ou crimes, etc. 
 
Elemento Subjetivo 
O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de entregar o filho a quem sabia (dolo 
direto) ou deveria saber (dolo eventual) ser a pessoa moral ou materialmente perigosa ao filho. 
Em ambas as hipóteses não há um especial fim de agir, logo, dolo genérico. A expressão “deveria 
saber” não pode ser interpretada como conduta culposa, pois não há previsão de crime culposo de 
forma expressa neste crime, e o art. 18, § único CP assim o exige; seria desproporcional prever a 
Direito Penal 
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mesma pena da conduta dolosa (“sabe”) para a culposa. Assim, a negligência, imprudência ou 
imperícia no entregar o filho excluirá o crime por falta de previsão legal. Na qualificadora do § 1º e 
na regra da participação autônoma (§ 2º) há elemento subjetivo específico (“fim de lucro), logo, 
dolo específico. 
 
Figuras qualificadas (§ 1º) 
As circunstâncias qualificadoras tem uma direta ligação com a figura do caput, tendo apenas o 
legislador inserido alguma circunstância mais reprovável, de modo a aumentar a pena. Assim, o tipo 
ainda será entregar filho menor de 18 anos a pessoa cuja companhia o menor fica moral ou 
materialmente em perigo, mas, qualificará o crime se existir, nesta mesma situação: 
1. fim de lucro: o tipo qualificado contenta-se com a mera finalidade do lucro, independentemente 
deste ocorrer, incidirá esta qualificadora. 
2. envio do menor ao exterior: ante a leitura deste parágrafo, exige-se o efetivo envio do menor 
ao exterior. Caso o menor não chegue a sair do país, não incide essa qualificadora. No ECA 
(Estatuto da Criança e do Adolescente – L. 8.069/90), o art. 238 pune aquele que “prometer ou 
efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou promessa de paga ou 
recompensa”. Assim, incidirá essa lei especial (ECA) quando o filho for entregue a pessoa que não 
coloque o menor moral ou materialmente em perigo. 
 
Participação autônoma (§ 2º) 
Trata-se de uma regra de extensão da pena do parágrafo § 1º, onde, responderá por esta o sujeito 
que auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior com o fim de lucro, mesmo que não traga 
qualquer perigo moral ou material ao menor. Conforme se verifica, haverá este crime com o mero 
auxílio, o prestar ajuda independentemente da efetiva obtenção de lucro. Ex.: auxilia comprando 
passagens, regularizando passaporte ou documentação, embarque do menor, etc. 
 
Consumação e Tentativa 
Na forma básica (caput) e na qualificadora do § 1º (fim de lucro) e regra de participação autônoma 
do § 2º, trata-se de um crime formal, ou seja, consuma-se com a só entrega do menor, não sendo 
exigível qualquer prejuízo moral ou material ao filho menor, tampouco a efetiva obtenção de lucro. 
Porém, deve-se comprovar o risco (perigo concreto) ao bem jurídico tutelado (integridade moral 
ou material do menor). A tentativa é admitida em todas as hipóteses. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
 
 
Direito Penal 
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Pena: 
Figura simples (caput): detenção de 1 a2 anos. 
Figura qualificada (§ 1º) e regra de participação autônoma (§ 2º): reclusão de 1 a 4 anos. 
 
ABANDONO INTELECTUAL 
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 
 
Conceito 
É a conduta do agente que, sem qualquer justificação (justa causa), deixa de tomar as providências 
referentes à instrução primária do filho em idade escolar. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da família, especialmente no tocante a instrução dos filhos menores. Aliás, ordem 
esta de caráter Constitucional - art. 205 da CF: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da 
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, 
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, o praticam somente os pais (legítimos, naturais ou 
aditivos). No caso de pais separados, divorciados ou União Estável, onde a do filho compete a 
apenas um, entendemos, assim como Delmanto, que aquele que não detém a guarda, apesar de ser 
obrigado a deveres inerentes a criação e fiscalização do filho, não pratica este crime. Assim, a 
responsabilidade criminal recairá sobre o cônjuge-guardião somente. 
Sujeito passivo: filhos em idade escolar (instrução primária) 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “deixar” que significa uma omissão (crime omissivo próprio), um não fazer. 
No contexto deste crime (deixar de prover à instrução primária) pune-se a omissão de não tomar 
providências em relação ao estudo primário dos filhos. Exige o tipo a verificação de elementos 
normativos: 
1. instrução primária: hoje, significa ensino fundamental. 
2. idade escolar: aquela própria ao ensino fundamental. 
Ensino fundamental é uma das etapas da educação básica no Brasil, regulado pela lei de diretrizes 
e bases da educação (L. 9.394/96). Tem duração de nove anos, sendo a matrícula obrigatória para 
todas as crianças, iniciando-se aos 6 anos de idade (art. 32). A obrigatoriedade da matrícula nessa 
faixa etária implica na responsabilidade conjunta: dos pais ou responsáveis, pela matrícula dos 
filhos; do Estado pela garantia de vagas nas escolas públicas; da sociedade, por fazer valer a própria 
obrigatoriedade. 
Direito Penal 
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Elemento Subjetivo 
O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de não cumprir o dever de educação 
pra com os filhos, sem qualquer especial fim de agir. Logo, dolo genérico. Inexiste forma culposa 
por fatal de previsão legal4. 
 
Consumação eTentativa 
É verificada no momento em que o agente, de forma inequívoca, e depois de transcorrer um tempo 
relevante, deixar de tomar as providências voltadas à instrução primária do filho menor, em idade 
escolar. A tentativa não é admitida, pois, ou a vítima está em idade escolar, sem prover-se o seu 
estudo primário devido, ou não está nestas condições e não haverá o crime. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Detenção de 15 dias a 1 mês. 
 
ABANDONO MORAL 
Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou 
vigilância: 
I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; 
II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de 
igual natureza; 
III - resida ou trabalhe em casa de prostituição; 
IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública; 
Pena - detenção de 1 a 3 meses, ou multa. 
 
Conceito 
É a conduta do agente que possui sob a sua custódia pessoa menor de 18 anos, permitindo a 
frequência, convivência, residência ou trabalho, com locais e pessoas, que a coloquem em situação 
de risco. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da família, especialmente no tocante a preservação moral do menor. Aliás, ordem 
esta de caráter Constitucional - art. 227 da CF: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de 
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. 
 
 
4 “Indemonstrado o elemento subjetivo do tipo penal, qual seja, o dolo de deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária do 
filho, sem o qual não se concretiza a conduta incriminada, impositiva a absolvição da ré. Recurso desprovido.” (TJRS - T. Recursal 
Criminal dos Juizados Especiais Criminais; RC nº 71002050086 - Des. Rel. Cristina Pereira Gonzáles - J. 11.5.2009). 
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Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, o praticam somente os pais (legítimos, naturais ou 
aditivos) ou aquele a quem foi confiada a vigilância do menor. 
Sujeito passivo: pessoa menor de 18 anos de idade a que tenha sujeição a poder de outrem. Isso 
porque existem hipóteses onde, mesmo ao menor de idade, podem extinguir o poder de alguém 
sobre si, chamada emancipação, que extingue o poder familiar (art. 1.635, II CC). As hipóteses de 
emancipação estão arroladas no art. 5º do Código Civil:A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando 
a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:I - 
pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação 
judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;II - pelo casamento;III - pelo exercício 
de emprego público efetivo;IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou 
pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
Elemento Objetivo 
A conduta, o verbo é “permitir” que significa dar licença, liberdade, consentir, anuir. Revela poder 
praticar-se mediante ação como omissão. Assim, o sujeito consente que o menor de 18 anos 
confiado ao seu poder ou guarda tenha qualquer destes comportamentos: 
I - frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida: 
- casa se jogo: local onde se pratica jogo de azar (bilhar, sinuca). Claro que casa de jogo autorizada 
pelo Estado não configura este crime, v.g., frequentar lotéricas. 
- casa mal afamada: de péssima reputação (prostíbulo). 
- pessoa viciosa e de má vida: aquela desregrada, moralmente imperfeita ou inadequada. 
II - frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de 
representação de igual natureza: são os espetáculos envolvendo cenas ou questões de sexo 
inapropriadas ou violência excessiva. Se o menor trabalhar diretamente no espetáculo, aplicaremos 
o princípio da especialidade (art. 12 CP) e o sujeito será processado pelo art. 240 do ECA. 
III - resida ou trabalhe em casa de prostituição: casa de prostituição é o local onde há 
mercancia de práticas sexuais habitualmente. Claro que havendo o exercício da prostituição poderá 
haver o crime de estupro de vulnerável se for menor de 14 anos (art. 217-A CP) ou, se maior de 14 
e menor de 18 anos, o crime de favorecimento a prostituição (art. 218-B CP). 
IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: mendigo é o pedinte. 
Excitar a comiseração significa utilizar-se do menor para ensejar a compaixão dos transeuntes pelo 
infortúnio de quem mendigue. Havia a contravenção penal por mendicância (art. 60, LCP – dec. lei 
3.688/41) que previa aumento de pena se era praticada em companhia de “alienado ou menor de 18 
anos”, o que, entendemos, estava em conflito com esta conduta do art. 247 CP. Porém a Lei 
11.983, de 06.07.2009 revogou essa contravenção penal. 
Todas as condutas praticadas a partir dessa permissão (frequencia, conviva, resida, trabalhe, 
mendigue ou sirva) importam em reiteração, sendo necessária a prova da permissão para sua 
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habitualidade. Ou seja, uma só permissão (uma única vez), v.g., leva o filho uma vez a um 
prostíbulo, não tipificará este crime. 
 
Elemento Subjetivo 
O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de permitir que o menor de 18 anos, 
sujeito ao seu poder, guarda ou vigilância, pratique alguma das conduta elencadas. Presente o dolo 
genérico. Claro que, comprovado que o menor assim age contra a oposição do sujeito que detém o 
poder, guarda ou vigilância, não há que se falar neste crime. No tocante à hipótese nº IV (mendigue 
ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública), requer dolo específico (vontade de 
mendigar – pedir esmolas, dinheiro). 
 
Consumação e Tentativa 
É verificada no momento em que o agente permite ao menor a prática das condutas elencadas nos 
incisos I a IV. Mas, salientando-se que tal permissão, ante os verbos redigidos, devem exigir 
autorização para reiteração (habitualidade). Daí que comprovada a só permissão para tais práticas, 
consumado está o crime. A tentativa é admitida se a permissão é anterior à prática elencada, pois, 
uma vez praticados o ato, o crime já se consumou. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Detenção de 1 a 3 meses, ou multa. 
 
 PARTE ESPECIAL 
 TÍTULO VII 
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA 
CAPÍTULO IV 
DOS CRIMES CONTRA O PATRIO PODER, TUTELA E CURATELA 
 
Art. 248 Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes 
Art. 249 Subtração de incapazes 
 
Considerações iniciais 
Neste Capítulo, onde se lê “pátrio poder”, leia-se “poder familiar”, daí ficando em consonância 
com as alterações advindas na legislação civil, ante o novo Código Civil (art. 1.630 e seguintes),sendo certo que o poder familiar hoje compete a ambos (pai e mãe), e não somente poder inerente 
ao pai (pátrio poder), que era o retrato de uma época machista prevalecente quando da edição do 
CC/1.916. Assim, verificamos neste Capítulo condutas que ferem este direito dos pais, tutores ou 
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curadores de dirigir a criação e educação dos filhos, tê-los em sua companhia e guarda, confiá-los a 
terceiros somente mediante sua autorização, enfim, exigir que lhes prestem obediência e respeito. 
 
INDUZIMENTO A FUGA, ENTREGA ARBITRÁRIA OU SONEGAÇÃO DE INCAPAZES 
Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de 
quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, 
do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a 
quem legitimamente o reclame: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que induz a fuga, confia a terceiro sem ordem do responsável, ou 
deixar de entregar sem justa causa ao responsável, menor de 18 anos ou interdito. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da família, especialmente no tocante a preservação dos direitos referentes de guarda 
inerentes ao poder familiar, tutela ou curatela. Tais direitos são regulados pelo CC: arts. 1.630 
a1.638 (poder familiar); arts. 1.728 a 1.766 (tutela); arts. 1.767/1.783 (curatela). Deve-se observar no 
caso de pais separados, aquele que tem direito de visitas ao menor, e não o entrega ao eu tem a 
guarda, pratica o crime do art. 249 CP (subtração de incapazes). 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo. 
Sujeito passivo: pai, mãe, tutor ou curador que foi preterido m sua autoridade, além do menor 
induzido. 
 
Elemento Objetivo 
Três são as condutas delituosas. Válido ressaltar, tal qual o crime anterior, se o menor for 
emancipado (art. 5º CC) o crime deixa de subsistir. 
1. induzir(menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele 
exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial): significa aconselhar, persuadir, incitar o menor a 
se afastar do local sem o consentimento dos responsáveis. 
2. confiar(a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito): significa 
entregar, transmitir arbitrariamente, sem autorização dos responsáveis. 
3. deixar(sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame): significa sonegar o menor ou 
interdito a quem, de acordo com a lei, o reclame. Nesta última hipótese há elemento normativo do 
tipo (sem justa causa) que remonta a idéia de que a conduta comissiva não esteja legitimada, pois, 
havendo justa causa para não entregar (v.g., motivo de doença do menor), não há crime. 
 
 
Direito Penal 
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proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
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Elemento Subjetivo 
O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de praticar uma das condutas previstas 
ao tipo penal (induzir a fuga, cofiar a outrem e deixar de entregar), sem qualquer fim especial de 
agir, por isso, o é dolo genérico. 
 
Consumação e Tentativa 
Depende da forma de conduta praticada. Na primeira (induzir) com a efetiva fuga, pois somente 
com esta é que se comprova a efetiva indução; na segunda (confiar), com a entrega; na terceira 
(deixar) com a demonstração inequívoca de não entregar, sem justa causa. A tentativa é admitida 
nas condutas de induzir e confiar, pois na “deixar de entregar”, uma vez fazendo isso o crime já 
está consumado. 
 
Ação Penal 
Trata-se de ação pública incondicionada. 
 
Pena 
Detenção de 1 mês a 1 ano, ou multa. 
 
SUBTRAÇÃO DE INCAPAZES 
Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de 
lei ou de ordem judicial: 
Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. 
§ 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se 
destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda. 
§ 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz 
pode deixar de aplicar pena. 
 
Conceito 
Trata-se da conduta do agente que subtrai pessoa incapaz daquele que detém sobre esta o poder de 
guarda. 
 
Objetividade Jurídica 
É a proteção da família, especialmente no tocante a preservação dos direitos referentes de guarda 
inerentes ao poder familiar, tutela ou curatela. Tais direitos são regulados pelo CC: arts. 1630 a 1638 
(poder familiar); arts. 1728 a 1766 (tutela); arts. 1767/1783 (curatela). 
 
Sujeitos do delito 
Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo, inclusive os pais, tutores 
ou curadores destituídos temporariamente ou privados do poder familiar, tutela ou curatela (§1º). 
Sujeito passivo: pai, mãe, tutor ou curador, além do menor subtraído. 
 
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proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 
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Elemento Objetivo 
A conduta, o núcleo é “subtrair” que tem sentido de tirada ou retirada, afastamento, tomada do 
menor de 18 anos ou interdito (tutelado ou curatelado) daquele que tem o menor sob sua guarda: 
1. em virtude de lei: poder dos pais em relação aos filhos menores (art. 1.634, II CC), poder do 
tutor em relação ao tutelado (art. 1.728 CC), poder do curador em relação aos curatelados (art. 1767 
CC) etc. 
2. ordem judicial: guarda do menor decidida pelo juiz em ação de separação judicial ou divórcio 
(art. 1.584 CC). 
Tal qual observado nos crimes anteriores, sendo o menor emancipado (art. 5º CC), não há que se 
falar neste crime. Da mesma forma, se a pessoa que detém o menor com guarda precária, ou seja, 
apenas o cria, sem ter a guarda ou determinação judicial, não há configuração deste crime. 
 
Elemento Subjetivo 
O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de subtrair o menor ou interdito de 
quem tenha sua guarda, sem qualquer fim especial de agir, por isso, o é dolo genérico. Como 
subtrair remonta a “tomada”, ou seja, intenção de não devolver, se o menor é levado para passar 
um dia, dar um passeio, e devolvê-lo, não se configura este crime. O sujeito que subtrai menor 
abandonado (morador de rua) não pratica este crime por faltar-lhe a vontade de retirar o menor da 
guarda de responsável, posto que, se na rua, o responsável não encontra-se em situação de guarda. 
 
Norma explicativa (§ 1º) 
Este parágrafo primeiro foi alocado apenas para não gerar dúvidas que o pai (inclua-se também a 
mãe), tutor, ou curador, se destituídos ou privados temporariamente do poder familiar, tutela ou 
curatela, podem praticar este crime. 
 
Perdão judicial (§ 2º) 
Perdão judicial é causa de extinção da punibilidade do agente (art. 107, IX CP) onde o juiz poderá 
deixar de aplicar a pena. Possível sua aplicação a este crime desde que: 
1. haja a restituição do menor de 18 anos ou interdito: restituição significa devolução,

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