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Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 1 Título VII. Crimes contra Família: casamento (art. 235/240), estado de filiação (art. 241/243), assistência familiar (art. 244/247), pátrio poder, tutela ou curatela (art. 248/249). PARTE ESPECIAL TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAPÍTULO I DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO Art. 235 Bigamia Art. 236 Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento Art. 237 Conhecimento prévio de impedimento Art. 238 Simulação de autoridade para celebração de casamento Art. 239 Simulação de casamento Art. 240 Revogado pela Lei 11.106/05 Considerações iniciais A CF/88 trouxe um capítulo específico destinado à proteção da família, da criança e adolescente, bem como dos idosos (Capítulo VII, Título VIII). Além disso, tamanho o interesse na proteção da família, que assim está disposto em seu artigo 226: “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.” Razão esta pela qual as disposições previstas no Título VII do Código Penal foram amparadas e recepcionadas pela CF. BIGAMIA Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena - reclusão, de dois a seis anos. § 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos. § 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime. Conceito Trata-se da conduta do agente que, regularmente casado, contrai novo matrimônio, ou seja, é a situação em que o sujeito possui dois ou mais cônjuges (polígamo). Claro que na hipótese de o agente contrair casamento mais de duas vezes, mesmo assim, para efeitos penais, é considerado bígamo. Da mesma forma, pune-se aquele que mesmo não casado, vem a se casar, sabendo que o parceiro era casado (§ 1º). Trata-se de norma penal em branco homogênea, pois devemos nos utilizar de outra norma para sua complementação, que no caso é de mesma hierarquia (federal), o Código Civil. (L. 10.406, de 10.01.2002). Objetividade Jurídica Visa a proteção da organização da família, em um contexto da proteção do Estado que visa resguardar a regularidade do casamento monogâmico. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 2 Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio praticado tanto pela pessoa casada que contrai novo matrimônio (caput), quanto pela pessoa solteira, viúva ou divorciada que se casa com pessoa que sabe ser casada (§ 1º). Sujeito passivo: primariamente o Estado ante o interesse na proteção do casamento monogâmico, pilar da família. Secundariamente o cônjuge do primeiro matrimônio e o cônjuge do segundo matrimônio, este último quando não saiba que o parceiro era casado. Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “contrair” que significa levar a efeito, realizar, efetuar. Para conformação do tipo, é seu pressuposto que haja um casamento anterior, caso contrário a conduta é atípica. Neste crime, duas são as hipóteses de responsabilização penal: 1. do próprio casado: é a conduta do caput, que pune o próprio sujeito que já era casado. 2. do terceiro que contrai casamento com pessoa casada: é a conduta prevista no § 1º, que atingirá o terceiro desde que conheça a circunstância de casado da pessoa, que exige dolo direito (sabe que era casado). Claro que se a pessoa não sabia que o parceiro com quem se casou já era casado, não responderá por crime algum, inclusive, figurando com vítima também. Ou seja, o que era casado responde pelo caput, onde a pena é de reclusão de 2 a 6 anos, enquanto que o nubente que “sabia” do impedimento, responderá pelo § 1º, onde a pena será de detenção de 1 a 3 anos. Trata-se de hipótese de aplicação da teoria pluralística, que é exceção à teoria unitária do crime reconhecida pelo art. 29 CP. É a mesma conduta (bigamia), mas punida de forma diferente para seus concorrentes (reduzida de metade ao nubente que não é casado). No tocante as testemunhas ou padrinhos do casamento que tem conhecimento do casamento anterior podem ser processados pelo crime em coautoria ou participação, porém, apenas na forma do § 1º, afinal, se aquele que se casa com pessoa já casada, tem pena menor, justo é que os partícipes e coautores também tenham a pena reduzida deste § 1º. Exclusão de crime Em nosso sistema, considera-se o sujeito casado quando o casamento é levado a efeito (registrado) no cartório de registro civil. A CF/88 garantiu os efeitos civis do casamento realizado somente no religioso (§ 2º, art. 226), mas tal não se estende para efeitos penais. Claro que o casamento realizado no religioso pode ser registrado civilmente (art. 1.516, § 2º CC), e, a partir daí o sujeito poderá praticar o crime de bigamia se casar-se novamente. Para efeitos legais, o casamento se dissolve somente com a morte de um dos cônjuges ou com o divórcio (art. 1.571, § 1º, CC), daí sim podendo o sujeito casar-se novamente. Algumas hipóteses em quenão haverá crime: 1. casamento religioso: sujeito era casado somente no religioso, ou, casado regularmente antes (registrado no cartório de registros civis), casa-se a segunda vez, mas apenas no religioso. Quer Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 3 dizer, sendo o primeiro casamento, ou o segundo, realizado apenas no religioso, não há que se falar em crime de bigamia. 2. havendo concubinato ou união estável: hipótese em que o sujeito mantém união estável com alguém e se case com outrem, ou, é casado com alguém e passe a manter união estável ou mesmo concubinato com outrem. É pressuposto do crime em estudo haver um segundo casamento, enquanto o sujeito já era casado. Logo, apesar de se reconhecer os direitos cíveis inerentes à união estável, como em direito penal não se admite interpretação extensiva, não se pode estender o “casamento” exigido pelo Código Penal para a união estável ou “concubinato”, pois vigora a interpretação restritiva. 3. havendo anulação do casamento (art. 235, §2º CP): trata-se de uma causa de exclusão de tipicidade, considerando-se inexistente o casamento. Assim, se o casamento existente à época do crime (segundo casamento) é anulado, torna-se atípica a conduta do agente; da mesma forma, se o segundo casamento foi anulado. Em qualquer caso, passará o sujeito a manter casamento com uma só pessoa. Aliás, se as primeiras núpcias estão sendo discutidas judicialmente, trata-se de causa que suspende o curso do processo criminal por bigamia até desfecho deste processo cível (art. 92 CPP). Apenas a título de observação, as causas de impedimento (art. 1.521), nulidade (art. 1548) e anulabilidade (art. 1550) do casamento estão arroladas no Código Civil. 4. tendo ocorrido o divórcio do casamento anterior ou a morte de um dos cônjuges (art. 1.571, § 1º CC). São as formas de dissolução do casamento válido. Elemento Subjetivo Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de contrair novo matrimônio, sabendo que não poderia fazê-lo, sem um especial fim de agir. Logo, trata-se de dologenérico. Comprovado que o sujeito era leigo e de pouca instrução que contraiu novo casamento enquanto separado judicialmente (e não divorciado), poderá haver isenção ou redução de pena ante o erro de proibição (art. 21 CP). No tocante ao § 1º, que tipifica a conduta do solteiro que contrai casamento sabendo que a pessoa era casada, como o legislador usa a expressão “conhecendo essa circunstância” (casada), cabível somente o dolo direto e nunca o eventual.1 Casamento no exterior Brasileiro que é casado no Brasil e contrair novo casamento no exterior, responderá pelo crime de Bigamia se houver previsão criminal desta conduta no país onde se realizou o segundo casamento por força do art. 7º, inciso II, § 2º, “b” do CP – Princípio da Dupla Tipicidade entre os países. 1“Ausência de dolo. Ré desquitada. A apelada incorreu em erro, ao acreditar que o desquite judicial (realizado em 1974) tornaria-a apta a contrair novo matrimônio. Versão escusatória roborada por prova oral. Ademais, houve falha da serventia extrajudicial, que permitia extração de certidão de nascimento atualizada sem que dela constasse a averbação do casamento ou do desquite. Crime não punível a título culposo. Recurso Ministerial improvido.” (TJSP – Ap. Criminal 428.265-3/9-00 – 1ª C.Criminal – Rel. Des. Péricles Pisa – J. 23.01.2006). Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 4 Consumação e Tentativa Trata-se de crime material, exigindo a celebração do casamento, que é a efetiva ofensa aos laços matrimoniais. Segundo o art. 1.514 do CC o casamento ocorre “no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declare casados” – é o registro civil do casamento, que tanto pode se realizar em cartório, quanto na cerimônia durante a comemoração do casamento na própria festa. A tentativa é admissível, pois a celebração do casamento é composta de etapas (art. 1.533 e seguintes do CC). O processo de habilitação (proclamas e atos anteriores à celebração - art. 1.525 e seguintes do CC) é considerado ato preparatório, logo, não punível pos em nosso sistema punição apenas da fase de execução em diante, por força do art. 14, II CP Falsidade anterior Claro que para ocorrência da bigamia existe uma afirmação falsa no processo de habilitação, que é a declaração do próprio nubente do seu estado civil (art. 1.525, IV CC) e das testemunhas, de que não existem quaisquer impedimentos ao casamento (art. 1.525, III CC), constituindo, assim o crime de falsidade ideológica (art. 299 CP). Porém, este crime anterior ficará absorvido, pois constitui-se “crime meio” para o “crime fim”, que é a bigamia. A tal regra invocamos o Princípio da Consunção ou Absorção2. Prescrição A legislação penal determina que o início do cômputo se dá não com a celebração do casamento, mas no momento em que o fato se tornou conhecido (art. 111, IV CP), justamente porque este delito tende a ser praticado de forma oculta, sendo mais difícil ao Estado punir ao agente. Ação Penal Trata-se de ação penal pública incondicionada. Pena Figura do caput (pessoa casada): reclusão de 2 a 6 anos. Figura do § 1º (terceiro que sabia que noivo era casado): reclusão ou detenção de 1 a 3 anos. 2 “1. O delito de bigamia exige para se consumar a precedente falsidade, isto é: a declaração falsa, no processo preliminar de habilitação do segundo casamento, de que inexiste impedimento legal. 2. Constituindo-se a falsidade ideológica (crime-meio) etapa da realização da prática do crime de bigamia (crime-fim), não há concurso do crime entre estes delitos. 3. Assim, declarada anteriormente a atipicidade da conduta do crime de bigamia pela Corte de origem, não há como, na espécie, subsistir a figura delitiva da falsidade ideológica, em razão do princípio da consunção. 4. Ordem concedida para determinar a extensão dos efeitos quanto ao trancamento da ação penal do crime de bigamia, anteriormente deferido pelo Tribunal ‘a quo’, à figura delitiva precedente da falsidade ideológica.” (STJ – HC 39583/MS – 5ª Turma – Rel. Min. Laurita Vaz – J. 08.03.2005). Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 5 INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. Conceito Trata-se da conduta do agente que casa-se escondendo ou enganando o outro nubente sobre impedimento ao regular casamento. Tal qual o crime anterior, trata-se de norma penal em branco, pois deve obrigatoriamente ser complementada por outra, que no caso é o Código Civil. Objetividade Jurídica Busca a proteção da proteção da família, especialmente o claro interesse do Estado em manter regulares os casamentos realizados. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime comum praticado por pessoa que se case induzindo ao erro ou ocultando impedimento ao nubente. Sujeito passivo: o Estado, que busca manter a regularidade do casamento monogâmico, além do cônjuge enganado. Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “contrair” que significa levar a efeito, realizar, ajustar a união entre o homem e a mulher. Válido relembrar que, segundo o art. 1.514 do CC o casamento ocorre “no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declare casados” (registro civil). Duas são as situações de fraude previstas pelo legislador neste tipo penal: 1. induzindo a erro essencial: induzir significa incutir, levar a, persuadir. Erro essencial constitui hipótese legal de anulação do casamento por vício da vontade do contraente por situações que dizem respeito à pessoa do outro.Trata-se de norma penal em branco, onde as hipóteses de erro são elencadas pelo artigo 1.557 do Código Civil. Configurada qualquer delas pode dar margem à configuração deste crime. Vejamos as hipóteses legais de erro: Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; IV - a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor.6 2. ocultando impedimento que não seja o casamento anterior: ocultar significa esconder. Os impedimentos são situações que vedam (proíbem) a celebração do casamento. Claro que a situação de casado do sujeito é um impedimento a novo casamento, mas, se isso ocorrer, responderá o casado pelo crime de bigamia (art. 235 CP). Os impedimentos estão previstos no art. 1.521 do Código Civil e ocorrendo qualquer destes haverá a configuração deste crime. Vejamos: Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. No tocante ao termo afins, algumas observações. Costumamos chamar parentes de afins.É a ligação que existe entre um cônjuge com os parentes do outro cônjuge. O próprio Código Civil diz em seu art. 1.595: “Cada cônjuge ou companheiro é aliado ao parente do outro pelo vínculo de afinidade”. A afinidade é aquela relação que surge com casamento ou com a união estável entre um dos cônjuges ou conviventes com os parentes do outro. Em linha reta são os sogro e sogra com nora e genro. Segundo o §2º do art. 1.595 CC: “na linha reta a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento”. Ou seja, “uma vez sogra, sempre sogra”, e nunca o sujeito poderá se casar com a sogra, mesmo se divorciando. Elemento Subjetivo Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de contrair matrimônio, induzindo em erro ou ocultado impedimento do outro nubente, sem qualquer fim específico. Trata- se de dolo genérico. Consumação e Tentativa No momento em que o casamento é contraído (art. 1.514 CC), independentemente da dissolução do casamento por conta do erro ou impedimento (crime formal). A tentativa é inadmissível face a regra do parágrafo único. Ação Penal (§ único) Trata-se de ação penal privada, mediante queixa crime do nubente enganado – ação penal privada personalíssima. Importante ressaltar que o legislador trouxe uma especial condição de procedibilidade: a ação penal só pode ser intentada depois de transitar em julgado a sentença que no juízo cível, pelo motivo de erro ou impedimento, anule o casamento. Ou seja, exige-se a anulação do casamento para poder a vítima ingressar com a queixa crime. Assim, o prazo decadencial de 6 meses para interposição da queixa (art. 103 CP) inicia-se no 1º dia após a certidão de trânsito em julgado do processo cível de anulação. Outra importante observação é que não cabe Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 7 a regra da sucessão dos queixosos previstas no art. 100, § 4º CP (No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão), tornando-se, por isso, personalíssima. Pena Detenção de 6 meses a 2 anos. CONHECIMENTO PRÉVIO DE IMPEDIMENTO Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Pena - detenção, de três meses a um ano. Conceito Trata-se da conduta do(s) agente(s) que casa(m)-se conhecendo a existência de impedimento ao casamento que lhe cause a nulidade absoluta. Parecido com o delito anterior, porém, neste não há indução a erro ou a ocultação do impedimento, ou, ainda, neste artigo 237, ambos cônjuges podem ter ciência do impedimento, dando-se o chamado matrimônio ilegal bilateral. Objetividade Jurídica É o interesse Estatal na proteção da organização da família com o regular casamento e sua validade. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, praticado por quem se casou, sabendo do impedimento. Sujeito passivo: o Estado e o nubente que desconhecer do impedimento. Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “contrair” que significa levar a efeito, realizar, efetuar. Vimos que o casamento se realizada quando há manifestação, perante o juiz, da vontade de estabelecer vínculo conjugal – art. 1.514 CC). Para conformação do crime basta o sujeito saber da existência de impedimento que cause a nulidade absoluta do casamento. Vimos as causas de impedimento que causam a nulidade absoluta do casamento: Art. 1.521. Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Crítica Para o caso do sujeito que sabe que o outro contraente é casado não há que se falar no crime descrito no art. 237 posto que há crime especial para esta modalidade de conduta prevista no art. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 8 235, § 1º CP. Ocorre que a pena lá prevista é de detenção de 1 a 3 anos, enquanto que no crime descrito no art. 237 é de detenção de 3 meses a 1 ano. Qual a razão de punir-se mais severamente aquele que sabe que o contraente é casado, em detrimento de outras hipóteses de conhecimento de impedimento ao casamento? Afinal, a proteção é a mesma. Elemento Subjetivo Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de contrair matrimônio, conhecendo causa de impedimento absoluto. A expressão “conhecendo” remete a dolo direto, não havendo qualquer fim especial de agir, trata-se de dolo genérico. Comprovado o erro quanto ao impedimento (o tipo exige dolo direto), o dolo pode ser excluído, e logo, ficaria excluído o crime (art. 20 CP); o erro de proibição pode reduzir ou isentar de pena (art. 21 CP), dependendo do caso. Consumação e Tentativa No momento em que o casamento é contraído, ou seja, no instante em que manifestam a vontade perante o juiz, e este os declara casados (art. 1.514 CC), independentemente da efetiva anulação do casamento (crime formal). A tentativa é admissível, se iniciada a celebração, o casamento não se realiza por motivos alheios à vontade do agente (v.g., na celebração alguém acusa o impedimento), entendemos configurada a tentativa. Ação Penal Trata-se de ação penal pública incondicionada. Pena Detenção de 3 meses a 1 ano. SIMULAÇÃO DE AUTORIDADE PARA CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO Art. 238 - Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento: Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave. Conceito Trata-se da conduta do agente que atribui a si autoridade para celebração de casamento. Objetividade Jurídica É a proteção da ordem jurídica do casamento, especialmente sua regular constituição e colocá-lo a salvo de matrimônios ilegalmente contraídos. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer um pode praticá-lo. Sujeito passivo: o Estado e os cônjuges enganados. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é frutode pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 9 Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “atribuir” que significa imputar-se ou dar a si mesmo. O sujeito dá-se (falsamente, ou seja, contrário à realidade) como autoridade competente para celebração do casamento. Segundo o Código Civil (art. 1.514), autoridade para celebrar o casamento é o juiz de paz (art. 98, II CF e art. 16, disposições transitórias da Constituição do Estado de São Paulo). Como não houve a organização da justiça de paz, alguns Estados não regularizaram isto. No Estado de São Paulo, compete a realização dos matrimônios ao juiz de casamentos, cidadão nomeado pelo secretário de justiça e defesa da cidadania, por meio de ato administrativo. Não existindo este crime se a simulação se faz por autoridade religiosa, pois reconhecido o casamento e cerimonial religioso apesar de não gerar efeitos civis (art. 226, § 2º CF e art. 1516 CC), e também a do realizado em legações estrangeiras, presidido o casamento pela autoridade diplomática ou consular competente (art. 7º, § 2º LICC). Este delito nada mais é do que uma especial forma de punir a usurpação pública (art. 328 CP). Elemento Subjetivo Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de atribuir-se competência para celebração de casamento, sem um fim especial de agir, logo, dolo genérico. O erro poderá excluir o crime. Basta imaginar a hipótese da pessoa que acha encontrar-se investida na função de autoridade civil apta a realização de casamentos, e nessa condição presidir uma cerimônia. Configurada estaria a hipótese de erro sobre elementos constitutivos do tipo penal (art. 20, caput CP) Consumação e Tentativa Trata-se de um crime formal, ou seja, basta a mera simulação, pois a conduta incriminada é atribuir-se. Logo, independentemente do casamento ocorrer, a só falsa atribuição basta à consumação. Deve o agente, todavia, manifestar-se de forma inequívoca no sentido de ele ser competente à celebração. A tentativa, por isso, é inadmissível: ora, atribuindo-se o crime já está consumado. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Detenção de 1 a 3 anos, se o fato não constitui crime mais grave (subsidiariedade expressa). Assim, no caso de uma pessoa se passar por juiz de paz visando auferir vantagem com isso, responderá por crime mais grave: usurpação da função pública qualificada (art. 328, § único CP). Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 10 SIMULAÇÃO DE CASAMENTO Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa: Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. Conceito Trata-se da conduta do agente que finge casamento, enganando outra pessoa mediante alguma fraude. Objetividade Jurídica É a proteção da ordem jurídica do casamento, tutela da entidade familiar e a proteção do cônjuge e mesmo terceiros enganados com a simulação do casamento. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer um pode praticá-lo. Porém, conseguimos imaginar apenas duas hipóteses de realização deste crime: ou um dos noivos engana o outro, ou ambos simulam casamento para enganar terceiros. Em qualquer hipótese, pessoas que não sejam os nubentes, mas participem no engodo, respondem pela participação a este crime (concurso de agentes - art. 29 CP). Sujeito passivo: o Estado e qualquer outro pessoa que foi enganada (contraente ou terceiro de boa fé). Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “simular” que significa representar, fingir. Tal qual dissemos ao crime anterior, a simulação deve recair quanto ao casamento civil por força do art. 1.514 do Código Civil. Assim, se há simulação de casamento religioso, não haverá este crime por falta de qualquer ataque a um bem jurídico (veja-se que o bem jurídico é a ordem jurídica do casamento (civil), onde as regras do CC não se estendem ao casamento religioso.) Elemento Subjetivo Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de simular casamento, com engano de outra pessoa. Segundo a corrente doutrinária, trata-se de dolo genérico. Consumação e Tentativa Trata-se de um crime formal, ou seja, não exige qualquer resultado naturalístico, mas a efetiva simulação, representação do casamento mediante engano de outra pessoa. Enquanto ainda no processo de habilitação para o casamento (art. 1.525 e seguintes do CC), não meros atos preparatórios, impuníveis. Assim, o crime passa a ser punível no momento em que o casamento passa a ser contraído, ou seja, com a manifestação de vontade de casar (art. 1.514 CC). A tentativa é admissível. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 11 Subsidiariede expressa Consoante o preceito secundário (“...se o fato não constitui elemento de crime mais grave.”), se figura típica mais grave ocorrer, esta será absorvida, v.g., sujeito que simula casamento apenas para conseguir obter a entrega da mulher, daí configuraria violação sexual mediante fraude (art. 215 CP). Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Detenção de 1 a 3 anos, se o fato não constitui crime mais grave (subsidiariedade expressa). ADULTÉRIO Art. 240 – Revogado (Lei 11.106/05) A lei 11.106, de 28.3.2005 revogou este crime. A superveniência dessa lei tornou o adultério um fato penalmente irrelevante, deixando de ser crime. A abolito criminis, como sabemos, constitui-se numa das causas extintivas da punibilidade (art. 107, III CP). Realmente, este crime já deveria ter sido extirpado de nosso sistema há longa data. Não pode servir a lei penal par moldar comportamentos, engessar o ser humano moral e eticamente. O adultério não é mais considerado crime em nosso sistema, apesar de que já estava em desuso há anos, sem qualquer notícia de processo criminal por esta conduta. Apesar disso, o adultério constitui infração no direito civil, sendo causa de separação judicial conforme artigo 1.573, II do Código Civil. PARTE ESPECIAL TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAPÍTULO II DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO Art. 241 Registro de nascimento inexistente Art. 242 Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém nascido Art. 243 Sonegação de estado de filiação Considerações gerais Este capítulo II trata do estado de filiação, que é o vínculo existente entre os pais e filhos ou a relação se parentesco em linha reta do primeiro grau entre juma pessoa e seus descendentes (filiação natural) ou, ainda, a relação socioafetiva entre pais e filhos adotivos ou advindos de inseminação artificial ou fertilização in vitro (filiação civil). Juridicamente falando, não há qualquer distinção entre os filhos resultantes de elo consangüíneo ou civil. Nossa CF, aliás, declara no art. 227, § 6º que “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibidaa reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 12 proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.” Da mesma forma prevê o CC (art. 1596). Com isso, o CP dedicou este capítulo não para preservar o estado de família, mas visando a proteção do vínculo jurídico e socioafetivo entre os pais e seus filhos, independentemente da origem dessa relação. Ademais, a condição de filho relaciona-se com a dignidade da pessoa humana, seu direito à intimidade, à sua identidade social, biológica e cultural. REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente: Pena - reclusão, de dois a seis anos. Conceito Trata-se da conduta do agente que provoca inscrição de nascimento inexistente. Objetividade Jurídica É a proteção do estado de filiação. Afinal, a certidão do termo de nascimento, segundo a lei civil faz prova da filiação (art. 1.603 CC), gerando, claro, os direitos da filiação, especialmente os hereditários. Busca-se a confiabilidade do registro civil. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer um pode praticá-lo. Sujeito passivo: o Estado e as pessoas prejudicadas pelo registro, v.g., herdeiros. Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “promover” que significa provocar, requerer, dar origem. A conduta do agente visa a inscrição (registro) de nascimento inexistente, ou seja, nascimento que nunca existiu ou nascimento de natimorto (feto pré morto ao nascimento). O tipo faz menção à nascimento inexistente, logo, se o registro é de filho alheio (portanto, nascimento existente), o crime se deslocará para o art. 242 CP. Elemento Subjetivo Trata-se de crime doloso traduzido pela vontade livre e consciente de promover a inscrição, sabendo o agente que o nascimento inexistiu ou foi natimorto. Segundo a corrente doutrinária dominante, trata-se de dolo genérico. Consumação e Tentativa Trata-se de um crime formal, ou seja, não exige um efetivo prejuízo com a inscrição do falso registro. A tentativa é admissível. Interessante analisar que a falsidade ideológica praticada (art. 299 CP) fica absorvida princípio da consunção. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 13 Prescrição O início do cômputo da prescrição dá-se na data em que o fato tornou-se conhecido - art. 111, IV CP. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Reclusão de 2 a 6 anos. PARTO SUPOSTO. SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE AO ESTADO CIVIL DE RECÉM-NASCIDO Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: Pena - reclusão, de dois a seis anos. Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. Conceito Trata-se da conduta do agente que altera ou suprime direito inerente ao estado civil de recém nascido, ensejando parto alheio como próprio, registrando como seu filho de outrem, ou, ocultando recém nascido ou substituindo-o. Objetividade Jurídica É a proteção do estado de filiação., no contexto de proteção à condição de filho, direito inerente a todo ser humano de saber sua real origem, além de proteger a fé pública, ou seja, a confiabilidade e regularidade de todos os dados relativos ao registro civil. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio quanto a primeira figura prevista (dar parto alheio como próprio),pois somente a mulher pare. No tocante às demais figuras previstas, se trata de crimecomum, qualquer um pode praticá-lo. Sujeito passivo: o Estado e as pessoas prejudicadas pelo registro, v.g., herdeiros, o próprio recém nascido, os pais biológicos etc. Elemento Objetivo O tipo, em seu caput, trouxe 4 (quatro) condutas delituosas (dar, registrar, ocultar ou substituir). Vejamos: 1. dar parto alheio como próprio (parto suposto): duas situações configuram este crime: a) há simulação de gravidez e parto, com apresentação de recém nascido alheio como próprio; b) há parto real, mas o feto é natimorto, substituído por filho de outrem. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 14 Não há necessidade de ocorrer o registro civil do recém nascido, mas não se contenta o legislador com a só afirmativa que um recém nascido é seu filho, deve existir uma efetiva situação que altere o estado civil do recém nascido. Ocorrendo o registro civil, haverá a segunda figura criminosa prevista neste caput. 2. registrar como seu filho de outrem: “registrar” significa declarar o nascimento, promover sua inscrição no registro civil. A ação punida é registrar filho de outrem, ou seja, o sujeito declara-se pai ou mãe de criança, que não é seu filho. Tal conduta é conhecida como “adoção a brasileira”. 3. ocultarou substituir recém nascido: “ocultar” significa esconder, encobrir, sonegar. “Substituir” significa trocar. Em ambas as hipóteses impede-se o verdadeiro estado civil. Recém nascido é o neonato, aquele que acabou de nascer (com no máximo 30 dias de vida). Em todas as hipóteses, não basta a mera conduta (dar, registrar, ocultar ou substituir), deve estar acompanhada da privação dos direitos do recém nascido, isto é, que seja suprimido ou alterado direito inerente ao estado civil do recém nascido. Elemento Subjetivo Nestas quatro modalidades previstas no caput, o crime é doloso, traduzido pela vontade livre e consciente de promover qualquer das condutas ensejando a supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil do recém nascido. Face à esta finalidade inerente a todas as condutas (supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil), trata-se de dolo específico. Não há previsão de forma culposa. Consumação e Tentativa Trata-se de um crime material, ou seja, exige a efetiva alteração ou supressão de direito inerente ao estado civil que se dará dependendo a conduta prevista no caput. Na segunda figura (registrar como seu filho de outrem), exige-se, ainda, o efetivo registro falso. Em todas as modalidades é admitida a tentativa. Figura privilegiada e perdão judicial (§ único) Trata-se de hipótese de causa de redução de pena (privilégio) ou sua não aplicação (perdão judicial), com base na motivação nobre do agente ao praticar o crime. Privilégio: constitui-se, como o próprio nome já diz, uma medida benéfica ao sujeito. No caso, é a pena reduzida, mais branda (detenção de 1 a 2 anos). Perdão judicial: é a hipótese de causa extintiva da punibilidade (art. 107, IX CP) onde o sujeito é “perdoado” com a não aplicação de pena alguma. Assim, “pode o juiz deixar de aplicar a pena”. Nobreza: significa generosidade, humanidade ou solidariedade. Hipótese do sujeito que tem intenção de salvar a criança abandonada, ou registrar um recém nascido entregue por uma parteira cuja verdadeira mãe iria abandoná-lo etc. Alguns sustentam que nestas causas não haveria Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento,cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 15 antijuridicidade nestas condutas pois seriam causas supralegais de exclusão da antijuridicidade (art. 23 CP). Prescrição Por força do art. 111, IV CP, o prazo terá início quando o fato tornar-se conhecido da autoridade pública. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Figuras previstas no caput: reclusão de 2 a 6 anos. Causa de privilegio de pena (§ único): detenção de 1 a 2 anos; ou perdão judicial. SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando- lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Conceito Trata-se da conduta do agente que abandona em asilo ou outra instituição de assistência, o próprio filho ou filho alheio, ocultando a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente a estado civil. Objetividade Jurídica É a proteção do estado de filiação. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio no caso do abandono de filho próprio (só os pais o praticam),e crime comum no caso de abandono de filho alheio. Sujeito passivo: o Estado (a conduta coloca em risco a regularidade do estado de filiação da criança) e as pessoas prejudicadas, v.g., criança lesada pelo estado de filiação, o genitor ou genitora que não tiveram participação neste crime etc. Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “deixar”, que significa abandonar, largar. No caso, o filho próprio (havido ou não do casamento ou mesmo por adoção) ou alheio, é deixado em asilo de expostos (de amparo, orfanato ou semelhante) ou outra instituição de assistência, seja pública ou particular. Logo, fica excluído o crime se o abandono se deu em casa de parentes ou amigos por força da forma Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 16 vinculada eleita pelo legislador ao enumerar os locais de abandono. Além de deixar, deve o sujeito ocultar-lhe a filiação (não dizer) ou atribuir-lhe outra. Se meramente deixar o filho ou filho de outrem poderá haver o crime de abandono de incapaz (art. 133 CP). Elemento Subjetivo O crime é doloso, existindo um especial fim de agir consistente no “fim de prejudicar direito inerente ao estado civil”. Logo, há dolo específico. Não presente esta finalidade, haverá o crime de abandono de incapaz (art. 133 CP). Consumação e Tentativa Trata-se de um crime material, ou seja, exige resultado naturalístico que ocorre com a efetiva ocultação de filiação ou atribuição de outra. A tentativa é admitida. É desnecessário que a criança tenha sido registrada por seus pais. Ou seja, subsistirá a infração, ainda sem a lavratura do registro do menor. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Reclusão de 1 a 5 anos, e multa. PARTE ESPECIAL TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAPÍTULO III DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR Art. 244 Abandono material Art. 245 Entrega de filho menor a pessoa inidônea Art. 246 Abandono intelectual Art. 247 Abandono moral ABANDONO MATERIAL Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide*, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. * onde lê-se “ilide”, leia-se elide. O texto legal trouxe esse erro na grafia. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 17 Considerações gerais Tal conduta criminosa demanda de expressa orientação da Constituição Federal de 1.988, visando exatamente compelir aos parentes à mutua assistência. Reza o art. 229 CF: “Os pais têm o dever de assistir, educar e criar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.” Como sabemos, há diferentes formas de sanções no Direito e todas são independentes entre si. Além da penal, temos a civil e a administrativa. Nosso Código Civil vigente trouxe em seus dispositivos uma série de normas que visam compelir aos cônjuges e companheiros ao auxílio mútuo: art. 1.566, III, os artigos 1.694 a 1.710 tratam dos alimentos entre parentes. Outra forma de obrigar a essa assistência é a prisão civil por débito de pensão alimentícia de 1 a 3 meses, prevista pelo artigo 733, § 1º do Código de Processo Civil (Lei 5.869, de 11.01.973). Aliás, prisão esta amparada constitucionalmente (art. 5º, LXVII). Porém, é de suma importância observar que, mesmo podendo ocorrer a prisão pelo débito de pensão alimentícia, tal não tem caráter penal, inclusive, esta última é chamada de prisão civil. Os alimentos, o auxílio, devem ser cobrados precipuamente por essas regras de direito civil, restando ao direito penal a ultimaratio (última razão), o último dos instrumentos a ser usado por uma consequência expressa do princípio da ofensividade e proporcionalidade do direito penal. Ou seja, em situações onde o sujeito ativo age com ingerência, total desprezo e desmazelo à subsistência do parente necessitado, causando perigo à sanidade física e mental daquele. Ademais, cumpre-nos salientar que o Estatuto do Idoso – Lei 10.741/03 alterou a redação deste artigo. Conceito Trata-se da conduta do agente que deixa de colaborar para subsistência (recursos necessários, pensão alimentícia, socorro) do parente (cônjuge, filho, pais) ante uma situação de comprovada necessidade fixada pelo próprio legislador (menor de 18 anos, inapto ao trabalho, ascendente inválido ou maior de 60 anos, gravemente enfermo). O nomem juris do crime (abandono material) significa a omissão quanto alimentação, remédios, médicos, vestimenta, enfim, todo e qualquer tipo de cuidado imprescindível aos assistidos. Objetividade Jurídica É a proteção da família, especialmente aquilo que se refere à assistência familiar. Logo, não se aplica este crime para pensão alimentícia derivada de ato ilícito, v.g., acidente de trânsito levando à invalidez da vítima com condenação a pensão vitalícia para o causador do acidente. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio. O praticam somente os cônjuges, pais, ascendentes ou descendentes. Sujeito passivo: cônjuge, filhos (menor de 18 anos ou inapto ao trabalho), ascendente (inválido ou maior de 60 anos), ascendentes ou descendentes (gravemente enfermos). Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor.18 Elemento Objetivo Três são as figuras delitivas previstas neste dispositivo. Este tipo penal, ao contrário da maioria prevista no CP, retrata a ordem de agir do agente. Ou seja, existem no CP ordens proibitivas (vedam determinada ação) e as preceptivas (são ordenadas determinadas ações). O art. 244 trata-se de uma norma preceptiva. Válido observar que existem vítimas específicas, e em situações também específicas, onde, se estas não preenchem estes requisitos (v.g., filho maior e apto ao trabalho), não há este crime. 1. deixar de prover a subsistência: segundo o texto legal, a conduta do agente deve recair sobre cônjuge, filho menor de 18 anos ou inapto ao trabalho, ou ascendente inválido ou maior de 60 anos. Subsistência significa manutenção, independentemente de qualquer pensão arbitrada, pois é dever dos pais. 2. faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada: para configurar o crime é imprescindível que a pensão tenha sido determinada judicialmente, provisória ou definitiva, em razão de acordo, fixação ou majoração. O art. 1.695 do CC define quando devido os alimentos: “São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.” 3. deixar de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: o abandono recai sobre descendentes (filhos, netos, bisnetos) ou ascendentes (pais, avós, bisavós) gravemente enfermos, ou seja, com enfermidade física ou mental. Observe-se que, no caso de idoso abandonado, mas sem qualquer relação (ascendência) com o sujeito, o crime será o do Estatuto do Idoso (L. 10.741/03): “Art. 97.Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.” Elementos normativos do tipo Elemento normativo do tipo trata-se de uma valoração de alguns tipos penais que deve ser feita fora do campo do direito. 1. sem justa causa: como o próprio nome da diz, significa uma ausência de justificativa para omissão do agente, que não encontra amparo no direito. Por exemplo, a prisão do sujeito por algum crime justifica a ausência de assistência; o desemprego do agente também pode ser uma justificativa para uma justa causa, pois torna a sua própria subsistência prejudicada, etc. 2. não lhes proporcionando os recursos necessários: se refere aos recursos estritamente necessários à sobrevivência: remédios, alimentação, roupas ou moradia. Quer dizer, aqueles mínimos para sobreviver o necessitado. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 19 Figura equiparada (§ único) Segundo o parágrafo único, incidirá nas mesmas penas “quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.” Visa incriminar aquele que embora tenha condições (solvente), engana (frustra) ou suprime (elide) de qualquer modo o pagamento de pensão, inclusive, abandonando o emprego sem justificativa. Ou seja: 1. engana (frustra ou suprime) pagamento de pensão. 2. abandona o emprego sem justificativa. Elemento Subjetivo O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de deixar de prover à subsistência, falta ao pagamento da pensão ou deixar de socorrer. Não há um fim especial de agir, logo, o dolo é genérico. Comprovado que o sujeito não socorreu a vítima materialmente em razão de suas parcas condições econômicas, ou, se proveu parcialmente a subsistência do ofendido, não pode se falar em crime3. Consumação e Tentativa Trata-se de um crime formal, ou seja, o só ato omissivo basta para consumar o crime. Porém, deve-se comprovar o risco que o bem jurídico tutelado (assistência familiar). Trata-se de crime omissivo puro. Claro que, em havendo prazos e determinações judiciais para pagamento de pensão, estes deverão ser respeitados. Cumprindo-os o agente, não há crime algum. A tentativa não é admitida por tratar-se de crime omissivo puro, ou seja, havendo a omissão que coloque em risco a integridade física ou mental do abandonado, o crime já se consuma. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. 3“Abandono material. Crime omissivo - Pensão alimentícia -Justa causa que deve ser provada pela acusação - Ausência de dolo – Atipicidade da conduta - Impossibilidade justificada - Recurso provido” (TJSP – Apelação 993.08.020429-2 – Rel. Des. Newton Neves – J. 02.06.2009); “Abandono material. Mãe jovem de numerosa prole com limitada capacidade de discernimento e ação. Dolo não comprovado. Absolvição decretada.” (TJSP – Apelação 1101107 – Rel. Des. Evandro Renato Pereira – J. 28.08.2008); “Menor deficiente mental. Inadimplemento do dever legal de prestar a subsistência material (alimentação, higiene, vestuário etc) e prover educação escolar e tratamento médico adequado reconhecimento. Configura-se abandono material e intelectual de menor deficiente mental que perambula nas ruas, faminto e cheirando cola desapateiro, sem ser provida a sua subsistência, educação escolar e tratamento médico adequado.” (TJSP - Apelação 831.564.3-9 – Rel. Des. William Campos – J. 08.04.2008.”; “Se a prova dos Autos dá conta de que o acusado é diarista, sem vínculo permanente de emprego, daí, quiçá, suas dificuldades financeiras para cumprir com regularidade, modo contínuo, a obrigação alimentar, no montante de 20% do salário-mínimo, à filha menor, não se oferece adequado juízo penal condenatório, visto que o tipo penal exige, mais do que o simples não provimento da subsistência, que tal se dê sem justa causa. Subsistência, aliás, para a qual, de uma forma ou outra, mesmo que de forma esparsa e não constante, o acusado contribuía. Apelo provido para o fim de absolvição por falta de provas. (TJRS - 7ª Câm. Criminal; ACr nº 70025895020- Rel. Des. Marcelo Bandeira Pereira; J. 30.4.2009; v.u.); “Acusada comprovou existência de sério motivo para saí da do lar conjugal e que tomou os cuidados que lhe eram possíveis para subsistência dos filhos. Absolvição decretada.” (TJRS – 5ª Câm. Criminal; Apel. Cr. 70039099981 – Rel. Des. Amilton Bueno de Carvalho – J. 17.11.2010). Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 20 Pena Detenção de 1 a 4 anos, e multa de um a dez vezes o salário mínimo vigente no País (exceção a regra do dia multa previsto no art. 49 CP). ENTREGA DE FILHO MENOR A PESSOA INIDÔNEA Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. § 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior. § 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivaçãode ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro. Conceito É a conduta do agente que coloca em risco a integridade física ou moral do filho menor de 18 anos de idade o entregando a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber ficaria o menor moral ou materialmente em perigo. Objetividade Jurídica É a proteção da família, especialmente quanto aos filhos menores. Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, o praticam somente os pais (legítimos, naturais ou aditivos). Sujeito passivo: filhos menores de 18 anos (legítimos, naturais ou adotivos). Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “entregar” que significa deixar sob o cuidado ou guarda de outrem, tanto podendo ser uma ação (entrega propriamente dita) como uma omissão (pais se ausentam do local deixando o filho menor), desde que num tempo relevante. Exige-se ainda que a entrega se dê a uma pessoa cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo. Se a pessoa não coloca em risco (material ou moralmente o filho), não há crime. Exemplos risco material: criança junto a pessoas exercendo atividades arriscadas, insalubres, temerárias ou ilícitas; risco moral: pessoas viciadas em álcool ou drogas, dedicadas à prostituição ou crimes, etc. Elemento Subjetivo O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de entregar o filho a quem sabia (dolo direto) ou deveria saber (dolo eventual) ser a pessoa moral ou materialmente perigosa ao filho. Em ambas as hipóteses não há um especial fim de agir, logo, dolo genérico. A expressão “deveria saber” não pode ser interpretada como conduta culposa, pois não há previsão de crime culposo de forma expressa neste crime, e o art. 18, § único CP assim o exige; seria desproporcional prever a Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 21 mesma pena da conduta dolosa (“sabe”) para a culposa. Assim, a negligência, imprudência ou imperícia no entregar o filho excluirá o crime por falta de previsão legal. Na qualificadora do § 1º e na regra da participação autônoma (§ 2º) há elemento subjetivo específico (“fim de lucro), logo, dolo específico. Figuras qualificadas (§ 1º) As circunstâncias qualificadoras tem uma direta ligação com a figura do caput, tendo apenas o legislador inserido alguma circunstância mais reprovável, de modo a aumentar a pena. Assim, o tipo ainda será entregar filho menor de 18 anos a pessoa cuja companhia o menor fica moral ou materialmente em perigo, mas, qualificará o crime se existir, nesta mesma situação: 1. fim de lucro: o tipo qualificado contenta-se com a mera finalidade do lucro, independentemente deste ocorrer, incidirá esta qualificadora. 2. envio do menor ao exterior: ante a leitura deste parágrafo, exige-se o efetivo envio do menor ao exterior. Caso o menor não chegue a sair do país, não incide essa qualificadora. No ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente – L. 8.069/90), o art. 238 pune aquele que “prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou promessa de paga ou recompensa”. Assim, incidirá essa lei especial (ECA) quando o filho for entregue a pessoa que não coloque o menor moral ou materialmente em perigo. Participação autônoma (§ 2º) Trata-se de uma regra de extensão da pena do parágrafo § 1º, onde, responderá por esta o sujeito que auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior com o fim de lucro, mesmo que não traga qualquer perigo moral ou material ao menor. Conforme se verifica, haverá este crime com o mero auxílio, o prestar ajuda independentemente da efetiva obtenção de lucro. Ex.: auxilia comprando passagens, regularizando passaporte ou documentação, embarque do menor, etc. Consumação e Tentativa Na forma básica (caput) e na qualificadora do § 1º (fim de lucro) e regra de participação autônoma do § 2º, trata-se de um crime formal, ou seja, consuma-se com a só entrega do menor, não sendo exigível qualquer prejuízo moral ou material ao filho menor, tampouco a efetiva obtenção de lucro. Porém, deve-se comprovar o risco (perigo concreto) ao bem jurídico tutelado (integridade moral ou material do menor). A tentativa é admitida em todas as hipóteses. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 22 Pena: Figura simples (caput): detenção de 1 a2 anos. Figura qualificada (§ 1º) e regra de participação autônoma (§ 2º): reclusão de 1 a 4 anos. ABANDONO INTELECTUAL Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Conceito É a conduta do agente que, sem qualquer justificação (justa causa), deixa de tomar as providências referentes à instrução primária do filho em idade escolar. Objetividade Jurídica É a proteção da família, especialmente no tocante a instrução dos filhos menores. Aliás, ordem esta de caráter Constitucional - art. 205 da CF: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, o praticam somente os pais (legítimos, naturais ou aditivos). No caso de pais separados, divorciados ou União Estável, onde a do filho compete a apenas um, entendemos, assim como Delmanto, que aquele que não detém a guarda, apesar de ser obrigado a deveres inerentes a criação e fiscalização do filho, não pratica este crime. Assim, a responsabilidade criminal recairá sobre o cônjuge-guardião somente. Sujeito passivo: filhos em idade escolar (instrução primária) Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “deixar” que significa uma omissão (crime omissivo próprio), um não fazer. No contexto deste crime (deixar de prover à instrução primária) pune-se a omissão de não tomar providências em relação ao estudo primário dos filhos. Exige o tipo a verificação de elementos normativos: 1. instrução primária: hoje, significa ensino fundamental. 2. idade escolar: aquela própria ao ensino fundamental. Ensino fundamental é uma das etapas da educação básica no Brasil, regulado pela lei de diretrizes e bases da educação (L. 9.394/96). Tem duração de nove anos, sendo a matrícula obrigatória para todas as crianças, iniciando-se aos 6 anos de idade (art. 32). A obrigatoriedade da matrícula nessa faixa etária implica na responsabilidade conjunta: dos pais ou responsáveis, pela matrícula dos filhos; do Estado pela garantia de vagas nas escolas públicas; da sociedade, por fazer valer a própria obrigatoriedade. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 23 Elemento Subjetivo O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de não cumprir o dever de educação pra com os filhos, sem qualquer especial fim de agir. Logo, dolo genérico. Inexiste forma culposa por fatal de previsão legal4. Consumação eTentativa É verificada no momento em que o agente, de forma inequívoca, e depois de transcorrer um tempo relevante, deixar de tomar as providências voltadas à instrução primária do filho menor, em idade escolar. A tentativa não é admitida, pois, ou a vítima está em idade escolar, sem prover-se o seu estudo primário devido, ou não está nestas condições e não haverá o crime. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Detenção de 15 dias a 1 mês. ABANDONO MORAL Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância: I - freqüente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida; II - freqüente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza; III - resida ou trabalhe em casa de prostituição; IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública; Pena - detenção de 1 a 3 meses, ou multa. Conceito É a conduta do agente que possui sob a sua custódia pessoa menor de 18 anos, permitindo a frequência, convivência, residência ou trabalho, com locais e pessoas, que a coloquem em situação de risco. Objetividade Jurídica É a proteção da família, especialmente no tocante a preservação moral do menor. Aliás, ordem esta de caráter Constitucional - art. 227 da CF: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. 4 “Indemonstrado o elemento subjetivo do tipo penal, qual seja, o dolo de deixar, sem justa causa, de prover a instrução primária do filho, sem o qual não se concretiza a conduta incriminada, impositiva a absolvição da ré. Recurso desprovido.” (TJRS - T. Recursal Criminal dos Juizados Especiais Criminais; RC nº 71002050086 - Des. Rel. Cristina Pereira Gonzáles - J. 11.5.2009). Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 24 Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime próprio, o praticam somente os pais (legítimos, naturais ou aditivos) ou aquele a quem foi confiada a vigilância do menor. Sujeito passivo: pessoa menor de 18 anos de idade a que tenha sujeição a poder de outrem. Isso porque existem hipóteses onde, mesmo ao menor de idade, podem extinguir o poder de alguém sobre si, chamada emancipação, que extingue o poder familiar (art. 1.635, II CC). As hipóteses de emancipação estão arroladas no art. 5º do Código Civil:A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;II - pelo casamento;III - pelo exercício de emprego público efetivo;IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Elemento Objetivo A conduta, o verbo é “permitir” que significa dar licença, liberdade, consentir, anuir. Revela poder praticar-se mediante ação como omissão. Assim, o sujeito consente que o menor de 18 anos confiado ao seu poder ou guarda tenha qualquer destes comportamentos: I - frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida: - casa se jogo: local onde se pratica jogo de azar (bilhar, sinuca). Claro que casa de jogo autorizada pelo Estado não configura este crime, v.g., frequentar lotéricas. - casa mal afamada: de péssima reputação (prostíbulo). - pessoa viciosa e de má vida: aquela desregrada, moralmente imperfeita ou inadequada. II - frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza: são os espetáculos envolvendo cenas ou questões de sexo inapropriadas ou violência excessiva. Se o menor trabalhar diretamente no espetáculo, aplicaremos o princípio da especialidade (art. 12 CP) e o sujeito será processado pelo art. 240 do ECA. III - resida ou trabalhe em casa de prostituição: casa de prostituição é o local onde há mercancia de práticas sexuais habitualmente. Claro que havendo o exercício da prostituição poderá haver o crime de estupro de vulnerável se for menor de 14 anos (art. 217-A CP) ou, se maior de 14 e menor de 18 anos, o crime de favorecimento a prostituição (art. 218-B CP). IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública: mendigo é o pedinte. Excitar a comiseração significa utilizar-se do menor para ensejar a compaixão dos transeuntes pelo infortúnio de quem mendigue. Havia a contravenção penal por mendicância (art. 60, LCP – dec. lei 3.688/41) que previa aumento de pena se era praticada em companhia de “alienado ou menor de 18 anos”, o que, entendemos, estava em conflito com esta conduta do art. 247 CP. Porém a Lei 11.983, de 06.07.2009 revogou essa contravenção penal. Todas as condutas praticadas a partir dessa permissão (frequencia, conviva, resida, trabalhe, mendigue ou sirva) importam em reiteração, sendo necessária a prova da permissão para sua Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 25 habitualidade. Ou seja, uma só permissão (uma única vez), v.g., leva o filho uma vez a um prostíbulo, não tipificará este crime. Elemento Subjetivo O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de permitir que o menor de 18 anos, sujeito ao seu poder, guarda ou vigilância, pratique alguma das conduta elencadas. Presente o dolo genérico. Claro que, comprovado que o menor assim age contra a oposição do sujeito que detém o poder, guarda ou vigilância, não há que se falar neste crime. No tocante à hipótese nº IV (mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública), requer dolo específico (vontade de mendigar – pedir esmolas, dinheiro). Consumação e Tentativa É verificada no momento em que o agente permite ao menor a prática das condutas elencadas nos incisos I a IV. Mas, salientando-se que tal permissão, ante os verbos redigidos, devem exigir autorização para reiteração (habitualidade). Daí que comprovada a só permissão para tais práticas, consumado está o crime. A tentativa é admitida se a permissão é anterior à prática elencada, pois, uma vez praticados o ato, o crime já se consumou. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Detenção de 1 a 3 meses, ou multa. PARTE ESPECIAL TÍTULO VII DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA CAPÍTULO IV DOS CRIMES CONTRA O PATRIO PODER, TUTELA E CURATELA Art. 248 Induzimento a fuga, entrega arbitrária ou sonegação de incapazes Art. 249 Subtração de incapazes Considerações iniciais Neste Capítulo, onde se lê “pátrio poder”, leia-se “poder familiar”, daí ficando em consonância com as alterações advindas na legislação civil, ante o novo Código Civil (art. 1.630 e seguintes),sendo certo que o poder familiar hoje compete a ambos (pai e mãe), e não somente poder inerente ao pai (pátrio poder), que era o retrato de uma época machista prevalecente quando da edição do CC/1.916. Assim, verificamos neste Capítulo condutas que ferem este direito dos pais, tutores ou Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 26 curadores de dirigir a criação e educação dos filhos, tê-los em sua companhia e guarda, confiá-los a terceiros somente mediante sua autorização, enfim, exigir que lhes prestem obediência e respeito. INDUZIMENTO A FUGA, ENTREGA ARBITRÁRIA OU SONEGAÇÃO DE INCAPAZES Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Conceito Trata-se da conduta do agente que induz a fuga, confia a terceiro sem ordem do responsável, ou deixar de entregar sem justa causa ao responsável, menor de 18 anos ou interdito. Objetividade Jurídica É a proteção da família, especialmente no tocante a preservação dos direitos referentes de guarda inerentes ao poder familiar, tutela ou curatela. Tais direitos são regulados pelo CC: arts. 1.630 a1.638 (poder familiar); arts. 1.728 a 1.766 (tutela); arts. 1.767/1.783 (curatela). Deve-se observar no caso de pais separados, aquele que tem direito de visitas ao menor, e não o entrega ao eu tem a guarda, pratica o crime do art. 249 CP (subtração de incapazes). Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo. Sujeito passivo: pai, mãe, tutor ou curador que foi preterido m sua autoridade, além do menor induzido. Elemento Objetivo Três são as condutas delituosas. Válido ressaltar, tal qual o crime anterior, se o menor for emancipado (art. 5º CC) o crime deixa de subsistir. 1. induzir(menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial): significa aconselhar, persuadir, incitar o menor a se afastar do local sem o consentimento dos responsáveis. 2. confiar(a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito): significa entregar, transmitir arbitrariamente, sem autorização dos responsáveis. 3. deixar(sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame): significa sonegar o menor ou interdito a quem, de acordo com a lei, o reclame. Nesta última hipótese há elemento normativo do tipo (sem justa causa) que remonta a idéia de que a conduta comissiva não esteja legitimada, pois, havendo justa causa para não entregar (v.g., motivo de doença do menor), não há crime. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 27 Elemento Subjetivo O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de praticar uma das condutas previstas ao tipo penal (induzir a fuga, cofiar a outrem e deixar de entregar), sem qualquer fim especial de agir, por isso, o é dolo genérico. Consumação e Tentativa Depende da forma de conduta praticada. Na primeira (induzir) com a efetiva fuga, pois somente com esta é que se comprova a efetiva indução; na segunda (confiar), com a entrega; na terceira (deixar) com a demonstração inequívoca de não entregar, sem justa causa. A tentativa é admitida nas condutas de induzir e confiar, pois na “deixar de entregar”, uma vez fazendo isso o crime já está consumado. Ação Penal Trata-se de ação pública incondicionada. Pena Detenção de 1 mês a 1 ano, ou multa. SUBTRAÇÃO DE INCAPAZES Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime. § 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda. § 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena. Conceito Trata-se da conduta do agente que subtrai pessoa incapaz daquele que detém sobre esta o poder de guarda. Objetividade Jurídica É a proteção da família, especialmente no tocante a preservação dos direitos referentes de guarda inerentes ao poder familiar, tutela ou curatela. Tais direitos são regulados pelo CC: arts. 1630 a 1638 (poder familiar); arts. 1728 a 1766 (tutela); arts. 1767/1783 (curatela). Sujeitos do delito Sujeito ativo: trata-se de crime comum, qualquer pessoa pode praticá-lo, inclusive os pais, tutores ou curadores destituídos temporariamente ou privados do poder familiar, tutela ou curatela (§1º). Sujeito passivo: pai, mãe, tutor ou curador, além do menor subtraído. Direito Penal Prof. Danilo Pereira Este material é fruto de pesquisa e trabalho intelectual de Danilo Pereira. Foi encaminhado aos alunos com fins de complementação de estudos. É proibida a reprodução, comercialização, utilização, encaminhamento, cópia, uso ou disponibilização por quaisquer meios sem autorização do Autor. 28 Elemento Objetivo A conduta, o núcleo é “subtrair” que tem sentido de tirada ou retirada, afastamento, tomada do menor de 18 anos ou interdito (tutelado ou curatelado) daquele que tem o menor sob sua guarda: 1. em virtude de lei: poder dos pais em relação aos filhos menores (art. 1.634, II CC), poder do tutor em relação ao tutelado (art. 1.728 CC), poder do curador em relação aos curatelados (art. 1767 CC) etc. 2. ordem judicial: guarda do menor decidida pelo juiz em ação de separação judicial ou divórcio (art. 1.584 CC). Tal qual observado nos crimes anteriores, sendo o menor emancipado (art. 5º CC), não há que se falar neste crime. Da mesma forma, se a pessoa que detém o menor com guarda precária, ou seja, apenas o cria, sem ter a guarda ou determinação judicial, não há configuração deste crime. Elemento Subjetivo O crime é doloso, consistente na vontade livre e consciente de subtrair o menor ou interdito de quem tenha sua guarda, sem qualquer fim especial de agir, por isso, o é dolo genérico. Como subtrair remonta a “tomada”, ou seja, intenção de não devolver, se o menor é levado para passar um dia, dar um passeio, e devolvê-lo, não se configura este crime. O sujeito que subtrai menor abandonado (morador de rua) não pratica este crime por faltar-lhe a vontade de retirar o menor da guarda de responsável, posto que, se na rua, o responsável não encontra-se em situação de guarda. Norma explicativa (§ 1º) Este parágrafo primeiro foi alocado apenas para não gerar dúvidas que o pai (inclua-se também a mãe), tutor, ou curador, se destituídos ou privados temporariamente do poder familiar, tutela ou curatela, podem praticar este crime. Perdão judicial (§ 2º) Perdão judicial é causa de extinção da punibilidade do agente (art. 107, IX CP) onde o juiz poderá deixar de aplicar a pena. Possível sua aplicação a este crime desde que: 1. haja a restituição do menor de 18 anos ou interdito: restituição significa devolução,
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