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1 Complementação Pedagógica Coordenação Pedagógica – IBRA 3 SUMÁRIO OBJETIVOS DO CURSO UNIDADE I Gestão da Escola - Diretor de Escola: Administrador ou Gestor? - Ensino de qualidade: direito do cidadão; - A escola eficaz; - Com a mão na massa. UNIDADE II Gestão Escolar: Guia do diretor em 10 Lições - Fundamentos; - Lição 1: A escola como sistema; - Lição 2: A liderança como serviço; - Lição 3: A escola tem uma responsabilidade social; - Lição 4: Ações de Planejamento: - Lição 5: Trabalho Cooperativo; - Lição 6: Educação e Treinamento: - Lição 7: Comunicação; - Lição 8: A aliança com o Professor; - Lição 9: A parceria com a família; - Lição 10: A sintonia com a realidade. UNIDADE III Diretrizes, Parâmetros e Pilares da Educação operacionalizados na sala de aula. - Aprender a ser; - Aprender a conhecer; - Aprender a Fazer; - Aprender a Conviver. UNIDADE IV O projeto Político-Pedagógico das Escolas: A retomada da prática do planejar num processo de gestão-participativa - A avaliação na LDB UNIDADE V Regimento Escolar: das gavetas da secretaria escolar para a vida da escola. - Compreendendo o sistema educacional e a sua finalidade; - Eventos escolares: Como organiza-los? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 4 OBJETIVOS DO CURSO Oferecer subsídios para a formação contínua dos gestores da educação, direcionando a instituição educacional para o alcance de resultados positivos e duradouros. Trazer à tona o novo conceito de liderança educacional, indispensável ao Diretor Escolar. Oferecer aos líderes educacionais um novo ângulo de visão do trabalho, buscando conferir profissionalismo e técnica, mas também uma perspectiva mais sintonizada com as tendências contemporâneas. Redefinir a educação, vendo - a não mais como “um processo de longo prazo”, mas como um “sistema produtivo”, passível, portanto, de ser administrado com o uso das melhores práticas e ferramentas propiciadas pela Gestão de Qualidade. 5 UNIDADE I GESTÃO DA ESCOLA DIRETOR DE ESCOLA: ADMINISTRADOR OU GESTOR? Há bem pouco tempo, dirigir uma escola era considerado uma tarefa rotineira. Cabia ao diretor zelar pelo bom funcionamento da escola, centralizando em si todas as decisões, e administrar com prudência os eventuais imprevistos. Atualmente, essa situação mudou muito. As grandes e contínuas transformações sociais, científicas e tecnológicas passaram a exigir um novo modelo de escola e, consequentemente, um novo perfil de dirigente, com formação e conhecimentos específicos para o cargo e a função de diretor-gestor. A expressão gestão escolar, em substituição à "administração escolar", não é apenas uma questão semântica. Ela representa uma mudança radical de postura, um novo enfoque de organização, um novo paradigma de encaminhamento das questões escolares, ancorado nos princípios de participação, de autonomia, de autocontrole e de responsabilidade. Segundo Heloísa Luck, "a gestão não deprecia a administração, mas supera as suas limitações de enfoque simplificado e reduzido, para atender às exigências de uma realidade cada vez mais complexa e dinâmica". Esse novo enfoque traz à tona o conceito de liderança educacional, indispensável a um bom diretor escolar. O diretor-líder desperta o potencial de cada pessoa da instituição, transformando a escola em oficina de trabalho, onde todos cooperam, aprendem e ensinam o tempo todo. Assim como a essência da gestão é fazer a 6 instituição operar com eficiência, a eficácia da gestão depende, em grande parte, do exercício efetivo da liderança. O diretor-gestor imprime em suas ações, especialmente nas reuniões que coordena, três características que favorecem a obtenção dos resultados almejados: Simplicidade nos procedimentos, para não confundir os integrantes; Objetividade na comunicação, para evitar perda de tempo e imprimir rumo às ações; Transparência nas decisões, para merecer a confiança de todos. Tudo isso exige a sabedoria de ouvir mais e falar menos, para ser um bom negociador. Para que a escola cumpra o seu papel social hoje, é necessário que a direção supere o enfoque de administração e construa o de gestão, marcado por transformações, especialmente no que se referem a algumas concepções e aspectos básicos, passando: - Da ótica fragmentada para a globalizadora, em que todos participam da organização escolar, de forma interativa. - Da limitação de responsabilidade pelos resultados para a sua expansão, promovendo a redefinição de responsabilidades, centradas no todo, independentemente das funções diferenciadas. - Da ação episódica para o processo contínuo, porque a ação centrada em eventos é vazia de resultados, e a educação é um processo longo e contínuo. - Da hierarquização e burocratização para a coordenação, pois a organização coletiva depende da contribuição individual, mas em ações coordenadas. 7 - Da ação individual para a coletiva, porque o espírito de equipe, a participação e a democracia são o grande desafio da gestão educacional. O novo conceito de gestão escolar associa-se, pois, à democratização e à participação consciente e responsável de toda a comunidade escolar no processo decisório, em ações articuladas e conjuntas, visando a um ensino de qualidade. ENSINO DE QUALIDADE: DIREITO DO CIDADÃO Para Piaget (1988), o Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem - "Todo homem tem direito à educação. A instrução elementar será obrigatória, gratuita, acessível a todos" ... - não se refere apenas ao direito a uma vaga na escola, mas a um ensino de qualidade, que respeite as diferenças culturais e individuais e o direito à justa distribuição dos bens culturais e materiais, conforme o Art. 27 da mesma Declaração: "Todo homem tem direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, do progresso científico e de seus benefícios e de fruir as artes". Tudo isso será viabilizado pelo desenvolvimento das competências que possibilitam a inclusão do sujeito na sociedade letrada e na era da informação do mundo pós-moderno, como cidadão, consciente de seu compromisso com a coletividade, disposto a lutar por direitos e deveres iguais para todos. É esse conceito de ensino, como forma fundamental de integração do homem na sociedade, que se quer tornar acessível a todos na escola. E este é o compromisso e a função da escola eficaz: 8 garantir que os alunos aprendam a pensar, a fazer, a ser e a conviver, tendo acesso a todo o tipo de informação e conhecimento, no momento certo, com prazer e facilidade. Para isso, é preciso rever a dinâmica da escola, de sua gestão aos currículos e às práticas pedagógicas, visando a uma escola de qualidade, alegre e democrática. A ESCOLA EFICAZ Uma escola com qualidade e eficácia é gerida com competência, agilidade, criatividade e entusiasmo, de forma participativa e colegiada, sendo que a direção deve estar: - Aberta às necessidades da comunidade. - Empenhada em planejar, coordenar e avaliar a dinâmica da escola diante da realidade atual. - Atenta à atualização dos professores e de sua prática pedagógica. - Pronta para resolver os desafios da gestão escolar, numa visão democrática de projeto global da escola, para atender às contínuas exigências e às novas demandas da sociedade. - Conectada aos avanços científicos e tecnológicos. - Comprometida com a formação integral e o sucesso dos alunos. Tudo isso deve estar definido no projeto pedagógico, que é a chave da gestão escolar, devendo ser revisto a cada ano e reformulado naquilo que for necessário. Uma escola eficaz tem um diferencial que a distingue, que pode ser a sua capacidade de 9 adaptação aos novos tempos, atendendo às novas exigências da sociedade. Isso exige que a direção tenha uma visãoestratégica global, que lhe permita gerar mudanças positivas e respostas rápidas, com flexibilidade e eficiência. O final do ano letivo é um bom momento para a direção da escola, junto com a sua equipe, rever a sua gestão e buscar soluções inovadoras e criativas para os desafios do cotidiano escolar. É também um momento de revisão de sua postura na liderança escolar, nas dimensões política, administrativa e pedagógica, com a intenção de revitalizar suas ações educacionais e gerenciais. É um momento de reflexão para compreender sua responsabilidade como gestora, animadora e agente de transformação e de desenvolvimento, para garantir a identidade de sua instituição escolar. Para melhor organizar o seu trabalho e a sua escola, a direção pode começar agrupando e classificando os desafios nas três dimensões que, entrelaçadas, constituem o espaço escolar: 1. Dimensão administrativa e humana (questões de infra- estrutura e de pessoal). 2. Dimensão sociopolítica e cultural (relações interpessoais com a comunidade e com a cultura). 3. Dimensão pedagógica (questões relativas ao processo de ensino e aprendizagem, como o currículo e as práticas pedagógicas). Periodicamente, os desafios elencados deverão ser revistos, avaliando-se em que dimensão a atuação da direção tem sido mais significativa, ou menos eficaz, fazendo uma "correção de rota" e buscando ajuda, se necessário, para reelaborar a rotina de funcionamento da escola, junto com os professores e os funcionários. 10 COM A MÃO NA MASSA Uma boa estratégia para renovar a escola pode ser a organização de times ou Grupos de Trabalho (GT) temporários, para repensar a escola, com tarefas determinadas, como: 1. Fazer um diagnóstico da escola, utilizando um questionário aplicado ao corpo docente, aos funcionários, alunos e famílias, para levantar as principais necessidades e expectativas da comunidade escolar, interna e externamente, nas três dimensões do espaço escolar. 2. Elaborar um planejamento estratégico trienal, com metas a curto, a médio e a longo prazo, para atender às exigências levantadas no diagnóstico (com assessoria externa, se necessário). 3. Fazer previsão orçamentária anual, para alocação de verbas necessárias à execução das metas prioritárias (em curto prazo) do planejamento estratégico, definidas participativamente, a partir da tabulação dos dados do questionário aplicado (primeira tarefa). 4. Levantar as necessidades de manutenção e atualização do patrimônio escolar. 5. Rever os principais documentos da escola (Organograma, Regimento Escolar, Projeto Pedagógico, Proposta Curricular), para atualizá-Ios e adequá-Ios à contribuição significativa dos modernos pensadores da educação, às orientações legais (Diretrizes Curriculares Nacionais [LDB], Parâmetros Curriculares Nacionais [PCN] e Resoluções Curriculares Nacionais [RCN]) e às novas exigências e necessidades emergentes da comunidade. 11 6. Criar instâncias de gestão participativa, como Conselho Consultivo, Grêmio Estudantil e Associações (de pais, de professores e funcionários, de ex-alunos). 7. Organizar um programa de desenvolvimento profissional do corpo docente, a partir de necessidades percebidas e de solicitações dos professores. 8. Elaborar um projeto para acompanhamento dos alunos com desempenho insatisfatório ou dificuldades de aprendizagem, com monitoria, tutoria e recuperação paralela. Esse projeto, a ser desenvolvido ao longo do ano letivo, definindo-se a conveniência de buscar consultoria psicopedagógica externa, poderá ser subdividido em etapas ou subprojetos: * 1º subprojeto: diagnóstico e avaliação da prática pedagógica; - Levantamento das principais dificuldades apresentadas pelos alunos e suas causas prováveis. - Criação de Grupos de Estudo (GE); - Listagem dos componentes curriculares em que aparecem mais dificuldades, por série, para análise com os respectivos professores, à luz das novas propostas de ensino e aprendizagem. - Elaboração das diretrizes e dos parâmetros para as competências a serem desenvolvidas. * 2º subprojeto: desenvolvimento profissional dos professores; - Elaboração e implementação de um programa de atualização para o corpo docente, visando à dinamização e à ressignificação dos conceitos, das posturas e das práticas docentes. para cercar-se de uma equipe competente e com ela estabelecer um 12 - Seleção de referencial teórico, para reflexão, estudo e sensibilização, relatos de experiência para intercâmbio e atividades pedagógicas para os professores vivenciarem em oficinas e com os alunos em sala de aula. - Criação de Grupos de Estudo (GE), para aprofundamento e revisão de aspectos específicos, por segmento escolar ou área de conhecimento. * 3º subprojeto: implementação do processo de recuperação da aprendizagem; - Preparação dos professores para coordenação e desenvolvimento desse subprojeto. - Elaboração conjunta do planejamento (justificativa, objetivos, cronograma, carga horária, etapas, dinâmica de trabalho, estratégias, acompanhamento e avaliação). - Elaboração de um programa anual de reuniões, palestras e orientação para pais, para suporte e acompanhamento escolar dos filhos. Os próprios grupos poderão encarregar-se de coordenar e de implementar as propostas elaboradas, depois de terem sido revistas, aprovadas e hierarquizadas em plenária, de modo que se comece pelo prioritário, visando ao beneficio dos alunos. RESUMINDO: Na complexidade do contexto atual, é muito difícil para o diretor assumir sozinho a direção de uma escola. Ele deve ter discernimento 13 processo de gestão colegiada, pautada num planejamento estratégico aberto às inovações necessárias, com foco no sucesso dos alunos. Essa equipe, assim como o diretor, precisará investir continuamente em seu crescimento pessoal e profissional, para garantir as três competências indispensáveis a um bom profissional hoje: - Competência humana, para trabalhar com pessoas, sabendo colocar-se no lugar do outro e ter atitudes favoráveis a um bom ambiente de trabalho. - Competência política, para ver a escola, a sociedade e o sistema educacional como um todo, presumindo as implicações de suas decisões para a escola e para a comunidade. - Competência técnica, para buscar os subsídios necessários à sua função, atento às exigências legais e às inovações científicas e tecnológicas indispensáveis ao bom desempenho da instituição. As novas estruturas familiares, sociais, econômicas, empresariais e políticas, nacionais e mundiais, requerem um novo modelo de escola, com responsabilidade social, que forme um novo tipo de cidadão. E isto só será possível com um novo estilo de gestão escolar, para o qual o diretor deve sensibilizar-se e preparar-se. Exercícios: 1. O que significa uma escola eficaz? 2. Descreva as três competências indispensáveis a um bom profissional, hoje. 14 UNIDADE II Gestão Escolar: Guia do Diretor em Dez Lições FUNDAMENTOS Lição 1: A Escola como Sistema “Eu era um bom professor de língua portuguesa. Tal fato teve como consequência o convite para coordenar o departamento de língua portuguesa do sistema no qual trabalhava. Como coordenador, também me saí bem, e me tomei vice-diretor de uma das unidades da instituição. Na vice-diretoria, tive também um bom desempenho, e a consequência foi tomar-me diretor de uma escola da instituição. Acredito que esse caminho foi trilhado por muitos daqueles que estão na direção de escolas brasileiras. Basta mudar o nome da disciplina. Tenho colegas de matemática, história, educação física, química, biologia, inglês, geografia que são ou foram diretores de escola. Sabe-se, no entanto, que dirigir uma instituição educacional é muito diferente de ser professor, e que, embora haja algumas coincidências, ser diretor exige competências ehabilidades distintas daquelas que são necessárias para o exercício do magistério”. Acontece, com certa frequência, de um ótimo professor tomar-se um diretor medíocre. Há excelentes vice-diretores que, ao se tomarem diretores, "metem os pés pelas mãos". E também ocorre, embora menos frequentemente, de professores medianos se tomarem ótimos diretores. 15 A direção de uma escola, por menor que esta seja, não é uma função apenas pedagógica. Sei que ser professor, principalmente nos dias de hoje, também não é uma função só pedagógica, mas há uma diferença, não de natureza, mas de grau. Tanto o professor quanto o diretor têm uma função administrativa muito importante, mas, enquanto aquele administra a sala de aula, este se responsabiliza pela escola como um todo. O diretor é professor de professores, ele cuida de um sistema bem mais complexo, com vários subsistemas - partes inter-relacionadas que constituem a escola. O contato permanente com vários tipos de escolas, na maioria das regiões brasileiras, mostra que as instituições educativas bem- sucedidas têm, inevitavelmente, um equilíbrio permanente entre o pedagógico e o administrativo, e essa harmonia decorre, quase sempre, da compreensão de que a escola é um sistema. No entanto, o conhecimento de que a escola é um sistema nem sempre permeia o dia-a-dia das instituições educativas e as perdas que daí decorrem são enormes. Segundo Deming, um sistema é um conjunto de funções ou atividades que interagem em um organismo em prol do objetivo desse organismo. As partes mecânicas e elétricas que funcionam juntas, em um automóvel ou um aspirador de pó, constituem um sistema. Há três idéias fundamentais que Deming coloca em destaque na sua visão do que é um sistema: 1. Sem objetivo não se pode dizer que existe um sistema. 2. Existe, em quase todos os sistemas, interdependência entre os múltiplos componentes. 16 3. Os componentes de um sistema são necessários, mas não suficientes por si mesmos para realizar o objetivo do sistema, e por isso precisam ser administrados. O primeiro passo de um diretor é definir, ou redefinir, com bastante precisão, o objetivo da escola. Embora isso pareça óbvio, na maioria das vezes, a escola não sabe o que quer, não sabe o porquê de sua existência. Ao conversar separadamente com alunos, pais, funcionários, professores, diretores, tem-se, com muita frequência, a impressão de estar-se tratando de diversas escolas. Cada segmento acredita que os seus objetivos são os da escola; como não há clareza em relação ao que se pretende, surgem muitos conflitos desnecessários e perde-se muita energia. Algumas escolas, em sintonia com os ensinamentos da Gestão da Qualidade, buscaram definir a visão, a missão, os valores, mas muita coisa ficou apenas no papel. Em alguns casos, houve incoerência entre o escrito e o que se vivia no cotidiano da escola. Poucas instituições conseguiram identificar o que estava errado e buscar as soluções, aprimorando os processos da escola e melhorando as condições de trabalho. O segundo passo é considerar, em todas as decisões, a interdependência entre os múltiplos componentes do sistema, pois é quase impossível mexer com uma peça só. A imagem que me ocorre é a do horário de aulas. Com ele pronto, qualquer alteração pedida por um professor desencadeia uma avalanche de mudanças. Um professor, quando pune um aluno, mexe com todos os alunos, com as famílias, com a escola toda. Uma instituição, quando escolhe o seu 17 diretor dá muitos sinais. A demissão de um professor quase sempre mexe muito com o grupo que fica, não apenas com o demitido. Um diretor que não compreende a interdependência entre os componentes do sistema passa grande parte do seu tempo apagando incêndios e corre o risco de levar a escola ao fracasso. Vendo apenas árvores isoladas, sem competência para ver a floresta, cria insatisfações, focos de resistência, desgastes desnecessários. Cada solução sua origina outros problemas. O desempenho de cada componente deve ser avaliado em termos de sua contribuição para o alcance do objetivo do sistema. É o critério menos pessoal e, nas escolas, esse critério raramente é considerado. Tanto para o bem quanto para o mal, as simpatias, os apelos emocionais, o medo dos conflitos, os laços familiares, o tempo de casa falam mais alto que qualquer contribuição para o objetivo do sistema. O terceiro e último passo é reconhecer que as falhas de um sistema decorrem fundamentalmente das ações administrativas. Se uma escola não vai bem, é possível encontrar muitas justificativas, mas nenhuma exime a direção da responsabilidade. O diretor precisa pensar suas ações, mas não deve ter medo de agir. A administração é que permite o exercício de todas as profissões. Para que o professor realize o seu trabalho, é necessário que alguém esteja administrando a escola, criando condições para que as pessoas possam ser produtivas. Encontrar culpados para as mazelas da escola não revela competência alguma. Quanto maior o poder de uma pessoa, maior a sua responsabilidade pelos resultados. O salário de um diretor deve recompensar não o seu trabalho, mas a 18 responsabilidade pelos resultados da instituição. Chegar à escola às seis horas da manhã e sair às dez da noite não é o que importa na avaliação de um diretor. Em resumo, não é a quantidade de trabalho que distingue o diretor, mas a qualidade de sua administração. Compreender a escola como um sistema facilita a abordagem de determinados aspectos. Como melhorar a escola é um desses aspectos. Numa visão mais superficial, pode-se afirmar que quase todo sistema apresenta três componentes principais: 1. Parte física - instalações, materiais, equipamentos que constituem a infra-estrutura do sistema. 2. Tecnologia, o "como fazer" - conjunto de procedimentos operacionais (especificação de tarefas, atividades, rotinas), próprio de cada sistema. 3. Elemento humano - pessoas que operam o sistema. As escolas apresentam esses componentes. Nem sempre os procedimentos operacionais estão explicitados, mas eles existem. Prova disso é o fato de dizer-se, com frequência, para os novatos: "Aqui, fazemos assim; aqui, isto não é possível". Na melhoria de uma escola, há possibilidade de duas ações distintas: investimentos na parte física, ou investimentos em educação, no desenvolvimento das pessoas. 1. Investimentos na parte física: Por meio desses investimentos, pode-se melhorar prédios, instalações, equipamentos, materiais de trabalho. Essa ação tem retomo imediato - a parte física sofre uma melhoria visível com as novas aquisições ou construções. Quando há um desequilíbrio entre o administrativo e o pedagógico, com predominância daquele sobre 19 este, a escola se transforma num canteiro de obras. Ainda quando os recursos são parcos, acontecem melhorias, porque todos os investimentos são canalizados para a parte física. A experiência demonstra que essa ação sozinha não implica o aperfeiçoamento da escola como um todo. Isto significa que grandes melhorias nas instalações escolares, sem treinamento e capacitação de funcionários e professores, não resultam, necessariamente, em maior qualidade de ensino, em garantia de aprendizagem. 2. Investimentos em educação: Essa ação tem retomo somente a longo prazo, mas o seu alcance é profundo e duradouro, resultando em ganhos visíveis na qualidade e na produtividade. Educação e treinamento melhoram o desempenho das pessoas e, consequentemente, os procedimentos operacionais (estes dependem diretamente da eficiência do elemento humano e de seus conhecimentos). Para que a pessoa assimile os resultados dessa ação, é necessário que esteja motivada e que seu potencial mental seja explorado no sentido do pleno aproveitamento e desenvolvimento. Paraos investimentos na parte física, não há barreiras, mas, para os investimentos no desenvolvimento de pessoas, há dois obstáculos a serem considerados: o potencial intelectual e a motivação. Pode-se criar o melhor programa de desenvolvimento e nada funcionar, se as pessoas não estiverem motivadas, ou se o programa não levar em conta o potencial intelectual delas. Nas situações de vida real, o cargo de diretor de escola tem funções e características bem diferentes de uma instituição para outra. 20 Em alguns casos, ainda que se compreenda que a escola é um sistema, é muito difícil que a prática reflita essa compreensão. Ocorre-me a lembrança de escolas que têm como mantenedoras cooperativas educacionais, nas quais o diretor cuida apenas (como se isso fosse possível) do pedagógico, sem autonomia até mesmo para mudar a cantina de lugar. Lembro-me, ainda, de escolas de alguns sistemas de ensino ou de congregações religiosas em que há um diretor pedagógico e outro administrativo no mesmo nível de poder. Se se trata de pessoas imaturas, vaidosas, com ambição de poder, competitivas (e isto acontece com muita frequência), quase toda a energia dessas pessoas é gasta na competição e pouco se realiza em prol do objetivo do sistema. A escola corre risco, quando cada parte pensa ser o todo, e isto acontece frequentemente quando se fragmenta a função do diretor. As mantenedoras podem e devem ter o controle das decisões e das ações do diretor, mas tão somente no nível estratégico, nunca no nível operacional. Os instrumentos para esse controle são os planejamentos, os orçamentos e os resultados. Lição 2: A Liderança como Serviço A liderança pode ser considerada sob vários ângulos. Pretendemos abordá-Ia como serviço, porque as palavras que fazem parte do campo semântico de serviço, tais como servidor, servente, serventia, têm uma carga pejorativa muito grande. Nas organizações autoritárias, aqueles que ocupam os cargos mais importantes têm, com frequência, os demais a seu serviço. Em muitas escolas, ainda hoje, supervisores, coordenadores, orientadores educacionais, secretárias escolares vivem em função do diretor; a 21 serviço dos técnicos, estão os professores; estes têm como súditos os alunos. É bem verdade que essa situação vem sendo modificada e, às vezes, de maneira desastrosa. Ao colocar o aluno no centro do processo educacional, numa sociedade mais democrática, algumas escolas passaram do autoritarismo para o anarquismo; equivocadamente destruíram a hierarquia, contribuindo para a falta de respeito nas relações, para o caos na rotina de trabalho, para a baixíssima produtividade no ambiente escolar. Não se passou da heteronomia para a autonomia, mas para a anomia; não se passou do medo para a compreensão, mas para o desrespeito; não se passou da submissão para a liberdade, mas para a agressividade; não se passou do silêncio para a participação, mas para a revolta ou para a indiferença; não se passou da dominação para o serviço, mas para a subserviência. A compreensão do que é servir talvez seja a única possibilidade de evitar tantos equívocos. Há um poema de Gabriela Mistral, poetisa e educadora chilena laureada com o Prêmio Nobel de Literatura de 1945, em que se lê: (...) Uns criticam, outros constroem. Seja você o que serve. Servir não é faina de seres inferiores. Seja você o que remove a pedra do caminho, o ódio entre os corações e as dificuldades do problema. Há a alegria de ser puro e a de ser justo. Mas há, sobretudo, a maravilhosa e imensa alegria de servir. Servir não é trabalho de gente pequena, de seres inferiores. O bom diretor é aquele que não precisa do cargo de diretor; é aquele 22 que não fica preso a uma posição, a um título. O cargo de diretor lhe cai bem, porque ele pode viver sem ele. Há uma alegria no servir que só os seres superiores conseguem usufruir. Os fracos, os pequenos, os incompetentes, quando podem, são autoritários; quando não podem, tomam-se subservientes, jamais servidores. Na convivência com muitos grupos de educadores, foi possível perceber que o poder maior não é o que emana do cargo, mas o que procede da capacidade de servir. Entre os professores, são aqueles que servem, os mais considerados, os mais respeitados pelo grupo. Nem sempre são os diretores. A capacidade de servir é a verdadeira fonte do poder. No evangelho de São Mateus, capítulo 20, versículo 25 e seguintes, pode- se ler: Mas Jesus os chamou a si, e lhes disse: Sabeis que os príncipes das gentes dominam os seus vassalos; e que os que são maiores exercitam o seu poder sobre eles. Não será assim entre vós outros. Entre vós, todo o que quiser ser o maior, esse seja o que vos sirva, e o que entre vós quiser ser o primeiro, esse seja o vosso servo. A lição é antiga, mas a vaidade e a ambição exacerbada cegam, e os mais famintos são levados cada vez para mais longe daquilo que tanto querem. Robert Lamp, educador norte-americano, dizia que o diretor deve ser extremamente forte, para se tomar suficientemente fraco, para que o professor possa ser forte. Só o maior é capaz de se tomar o menor; a recíproca jamais é possível. Para servir, procure ser grande: não há outro caminho. 23 E o que é ser grande? As exigências, as necessidades, as expectativas são próprias de cada época, de cada lugar. Há, no entanto, um conjunto de características e de habilidades que garante um desempenho, no mínimo, razoável de alguém que esteja à frente de uma escola. Quanto maior o desenvolvimento tecnológico, maior a necessidade de líderes verdadeiramente humanos. Eles é que fazem a diferença. O acesso às inovações tecnológicas não é privilégio de nenhuma empresa. O líder capaz de criar esperanças, de ter valores e crenças que empolguem as pessoas, de fazer com que as pessoas queiram fazer, esse líder é que faz a diferença e que dá uma dimensão transcendental à organização a que pertence. Em um artigo de Marco Aurélio Ferreira Vianna, sócio-diretor do Instituto Marco Vianna de Estudo e Humanismo, sobre os programas de qualidade, lemos no prefácio: Estamos começando uma pesquisa sobre as características de liderança na ótica de cerca de 15 autores (Crosby, Gardnes, Bennis, Kouzes, Handdy, Motomura, Vianna, Fischer e outros) e, ainda que de maneira preliminar, conclui-se que 85% dos atributos colocados por esses estudiosos são de natureza humana, e não empresarial. A título de exemplo cabe citar as "características dos líderes" indicadas por Philip B. Crosby: ansiosos por aprender, éticos, disponíveis, determinados, cheios de energia, confiáveis, sensatos, humildes, intensos, agradáveis. Vale também exemplificar um conjunto de carac- terísticas dos "líderes superiores" pesquisados por Kouses/Posner. Em um estudo feito com base na visão de quem é liderado, estes esperam de seu líder o seguinte conteúdo de atributos: honesto, competente, 24 olhar para adiante, inspirador, inteligente, justo, liberal, direito e fidedigno. A grandeza de uma pessoa é determinada pelo equilíbrio entre três fatores: 1. Natureza de caráter. 2. Relacionamento humano. 3. Conhecimento. Crosby diz que a integridade do indivíduo determina o seu sucesso com antecedência. Os líderes são responsáveis pela ética das instituições; eles devem assumir um papel de destaque no desenvolvimento e na defesa de princípios e de valores. Não há como desempenhar esse papel sem honestidade, sem o desejo de ser justo, sem decência, sem nobreza de caráter. Dar poder a um mau-caráter, principalmente quando se trata de alguém competente, é arruinar a vida de muitas pessoas. Felizmente, no meio educacional, quando acontece de um mau-caráter assumir uma diretoria, frequentemente seu mandato tem sido transitório. Os líderes, segundo o grego Tucídides, são conscientes de seus deverese honrados no agir. Uma dada situação se modifica quando as relações existentes nessa situação se modificam. O autoritarismo e a democracia se expressam principalmente nos relacionamentos, pois falar de relações é tratar da essência. É no campo das relações que mais aumentaram as exigências em relação ao trabalho do diretor de escola. A função de representar a escola, interna e externamente, como cabeça da instituição, é uma responsabilidade cada vez mais necessária e crítica. Trata-se de uma função importantíssima que não pode apenas ser tolerada ou delegada a outra pessoa. 25 A visibilidade e a acessibilidade são inerentes ao cargo de diretor. Muitos infortúnios são evitados, quando o diretor se toma visível, presente entre os alunos, os professores, os funcionários, os pais. Muito se aprende, muita dúvida é eliminada, quando o diretor é uma pessoa a que se pode chegar, quando as portas da diretoria se encontram frequentemente abertas. É preciso que o diretor tenha gosto pelo relacionamento humano, que não tenha medo de atritos, que veja nos embates oportunidades de aprimoramento. Minha opinião é de que a demanda por visibilidade e contatos diretos crescerá muito. O exercício de uma diretoria será um tormento, uma tarefa altamente desgastante, para quem não tiver uma expectativa positiva em relação aos relacionamentos humanos. "Para ir adiante dos demais, é necessário ver mais que eles" são palavras do cubano José Martí. Um diretor de escola precisa ter convicções, idéias, projetos. O conhecimento técnico é imprescindível, mas não é suficiente para que se garanta uma gestão proficiente. Respeitadas as exigências legais, o melhor processo de escolha de um diretor seria o de pedir a todos os interessados que apresentassem propostas para a administração da escola nas quais falassem de suas convicções, idéias, projetos. Esse processo vale para escolas públicas e particulares, para escolas confessionais e laicas. Tenho presenciado muitos equívocos na nomeação de diretores. Poucos, por falta de nobreza de caráter dos escolhidos; muitos, por carência de habilidade nos relacionamentos humanos; e a maioria, por falta de conhecimento, pela ausência de convicções, de idéias, de 26 projetos, de capacidade de ver adiante, de enxergar mais que os liderados. E o que é servir? Posso ser um servidor sem perder a autoridade, sem me tomar subserviente? É possível inverter a pirâmide organizacional sem provocar o caos? É possível ter um modelo participativo sem perder agilidade nas decisões? É possível solicitar a contribuição das pessoas sem mostrar fraqueza, indecisão? Sim é a resposta para as questões colocadas no parágrafo anterior, mas é preciso lembrar que o conhecimento sobre o grupo de liderados é que permitirá ao diretor definir acertadamente o ritmo e as prioridades. Nada substitui o conhecimento da realidade e da cultura de cada escola, pois não basta o desejo de servir, não é suficiente a convicção de que o exercício do cargo de diretor é instrumento de desenvolvimento do grupo. Em situações reais, as características mais importantes para um líder estão intimamente relacionadas com o grupo de liderados. Para o cumprimento de uma tarefa, para a consecução de um objetivo, dois fatores são muito importantes: competência e comprometimento. O papel da liderança varia dependendo do nível dos liderados em relação a esses fatores. 27 Níveis dos Liderados Papel da Liderança Grupo componente, sem comprometimento; Grupo comprometido, sem competência. Grupo sem competência, sem comprometimento. O líder cobra, fiscaliza, exige. O líder treina, ensina, acompanha. Se houver tempo, o líder educa, treina, cobra; não havendo tempo, demite o grupo ou se demite. Grupo competente e comprometido Situação ideal. O líder delega e cuidará do crescimento da organização e das pessoas que nela trabalham. É importante ressaltar que, em situações reais, não se encontram grupos bem-definidos, como o esboçado. Nenhum grupo é totalmente competente ou incompetente, comprometido ou não- comprometido. Um grupo pode ter predominantemente pessoas comprometidas ou não, profissionais competentes ou não; o papel da liderança é conhecer bem o grupo, trabalhar as suas necessidades e inspirá-lo. Vale a observação de Sergiovanni e Carver: É preciso conhecer em que nível estão os professores e os funcionários de uma escola. Não faz sentido querer motivá-Ios ao nível de autonomia, se eles estão inseguros, ou querer motivá-Ios ao nível de segurança, quando professores e funcionários buscam autonomia. Se superestimamos o nível de necessidade de operação de 28 professores e de funcionários, e os amedrontamos com uma administração ultraparticipativa e auto-realizadora, somos tão ineficientes quanto os que negam satisfação significativa aos professores e funcionários, subestimando os níveis de necessidade de operação. De modo geral, pode-se dizer que o papel principal de um líder não é o de controlar, mas o de liberar energias, o de apoiar e orientar. O líder exerce três papéis fundamentais: 1. De projetista. 2. De professor. 3. De administrador. Como projetista ele cria a realidade a partir dos anseios, dos objetivos pessoais seus e de seus liderados. O líder tem obrigação de introduzir mudanças que melhorem a qualidade de vida do grupo; precisa ter visão, inspirar o grupo. Como professor, prepara o grupo e se prepara para mudanças. Uma das principais preocupações do líder deve ser a de educar e treinar. O treinamento é que garante, na prática, os resultados das grandes idéias. As pessoas trabalham mal, na maioria das vezes, não por falta de motivação, preguiça ou deslealdade, mas por falta de competência. Os componentes de um sistema são necessários, mas não suficientes por si mesmos para realizar o objetivo de um sistema, e por isso precisam ser administrados. O líder tem um compromisso com as pessoas que lidera e com a missão da empresa em termos de resultados práticos. Uma administração incapaz traz prejuízos econômicos, emocionais e espirituais para as pessoas e para as organizações. Ter consciência disso desperta, naturalmente, uma maior responsabilidade nos líderes. 29 Tenho percebido que o professor, talvez, seja a pessoa mais parecida com o aluno. E um ser paradoxal: ele é a instituição (principalmente na relação com o aluno), mas ele a desafia constantemente; tem uma relação conflituosa com o aluno, mas é o seu maior aliado; exige do aluno respeito à sua autoridade, mas é quem lhe ensina o questionamento, o desafio; é forte quando se toma fraco e permite que seus alunos sejam fortes; quanto mais compartilha seus conhecimentos mais se toma sábio; é adulto na relação com crianças e adolescentes e, na relação com adultos, preserva a criança que há em cada um de nós. Com essas características, o "bom" professor precisa de um ambiente: - Sem muita formalidade, sem muita burocracia. - Democrático, sem opressão. - Aberto, que lhe permita ousar, errar sem culpa. - Instigante, de diálogo, de troca. - De trabalho sério, mas sem casmurrice. O professor espera e quer de seu diretor: - Lucidez, clareza de objetivos. - Coerência, lealdade. - Alegria, bom humor, capacidade de rir dos próprios erros. - Compreensão, apoio, orientação. - Capacidade de formar uma equipe. - Abertura, diálogo. - Paciência, mas não complacência, tolerância. O diretor deve ser um bom ouvinte. Precisa escutar as idéias, conhecer as necessidades e expectativas de seus professores, 30 funcionários, estar sintonizado com as aspirações de seus alunos e, para que não se perca no meio da diversidade de desejos e convicções, o diretor precisa de lucidez, de firmeza nos objetivos e constância de propósito. Servir não é fazer o que o outroquer, mas empenhar-se na realização do que é necessário para o bem de todos. A arte da liderança, segundo Max De Pree, consiste em libertar as pessoas para fazerem o que lhes cabe, da maneira mais eficiente e humana possível. O líder é o servidor dos seus seguidores, pois afasta os obstáculos que os impedem de executar tarefas. Os líderes que sobrecarregam as pessoas, em vez de capacitá-Ias, não estão a serviço, mas se servindo da liderança. Lição 3: A Escola Tem uma Responsabilidade Social Assumir a responsabilidade social é um dos indicadores da qualidade de uma organização. Uma escola realiza as suas atividades dentro de uma sociedade composta por seres humanos. Ela interage com pessoas, quer sejam alunos, pais, funcionários, fornecedores, vizinhos, acionistas, outras escolas, a comunidade. Não há como não ter responsabilidade social. Assumir consciente e competentemente essa responsabilidade é que é a maior necessidade de nossos dias. A educação, por si mesma, não tem sentido. Educação é meio, e não fim, pois a escola não trabalha para si mesma. Em As novas realidades, Peter Drucker afirma que a educação moderna rejeitou os valores morais, e essa rejeição trouxe como consequência a transmissão de valores errados: indiferença, irresponsabilidade, cinismo. Não há educação sem valores morais. O trabalho mais significativo, em nossos dias, diz ele, será definir quais são os valores 31 morais da educação numa sociedade instruída, educar com esses valores e estar fortemente comprometido com eles. Escola para todos e sucesso de todos na escola não darão garantia de uma sociedade justa, fraterna, democrática, se a educação não tiver um propósito social. Os grandes corruptos deste país não são analfabetos. São pessoas instruídas, "competentes", que estudaram em "boas" escolas e foram bem-sucedidos como alunos. Formar pessoas competentes não é suficiente; é necessário que sejam também íntegras. Mas ainda não é suficiente; é preciso que sejam competentes, íntegras e socialmente responsáveis. Bernardo Toro, educador colombiano, enumera sete aprendizagens básicas para a convivência social: 1. Aprender a não agredir o semelhante - Fundamento de todo modelo de convivência social. 2. Aprender a comunicar-se - Base da auto-afirmação pessoal e grupal. 3. Aprender a interagir - Base dos modelos de relação social. 4. Aprender a decidir em grupo - Base da política e da economia. 5. Aprender a cuidar-se - Base dos modelos de saúde e de seguridade social. 6. Aprender a cuidar do ambiente - Fundamento da sobrevivência. 7. Aprender a valorizar o saber social - Base da evolução social e cultural. Se se quiser ter novas formas de convivência social, em que a proteção da vida e a felicidade sejam possíveis, deve-se construí-Ias. satisfação das pessoas. 32 A convivência se aprende, se constrói e se ensina. É uma tarefa de toda a vida de uma pessoa e de uma sociedade. O Dr. Humberto Maturana - médico da Universidade do Chile, biólogo graduado na Inglaterra e nos Estados Unidos, em Biología deI fenômeno social - afirma: O ser humano é, na sua constituição, social. Não existe o humano fora do social. O genético não determina o humano, somente fundamenta o que é humanizável. Para ser humano, é preciso crescer humano entre humanos. Ainda que isso pareça óbvio, esquece-se de que se é humano somente na maneira de ser humano das sociedades a que se pertence. Se pertencemos a sociedades que valorizam, com a conduta diária de seus membros, o respeito aos mais velhos, a honestidade consigo mesmo, a serenidade na ação e a verdade na linguagem, esse será nosso modo de ser humano e o de nossos filhos. Pelo contrário, se pertencemos a uma sociedade cujos membros valorizam, com uma conduta cotidiana, a hipocrisia, o abuso, a mentira e o auto-engano, esse será nosso modo de ser humano e o de nossos filhos. Mais do que aquilo que fala, a escola ensina aquilo que faz. Os alunos não apenas ouvem o que dizem os professores, mas observam como se relacionam, o que valorizam, como trabalham, como se organizam, como vivem, quais são seus valores, suas crenças. Aprendem como a escola resolve os problemas, como trata seus funcionários, que importância dá às disciplinas, aos setores, aos eventos, ao trabalho, à disciplina, ao lucro, ao bem-estar e à 33 Educar é mais que instruir, transmitir conhecimentos, dar competência. Educar é dar um sentido ao conhecimento, é inspirar projetos de vida, é despertar o projeto de viver em fraternidade, é humanizar, é formar cidadãos, e, para isso, é preciso direcionar esforços, ter lucidez em relação ao que se quer e ao melhor caminho para chegar lá. Finalidade da Educação Em março de 1990, em conferência mundial realizada na Tailândia, sob coordenação da UNESCO, 155 países colocaram como missão da escola: Satisfazer às necessidades básicas de aprendizagem das pessoas por meio de instrumentos e de conteúdos. A missão é a razão de ser, a finalidade da instituição. Por que existe? A resposta a essa pergunta nos dá a missão da organização, mas não o seu propósito, a sua finalidade. Não é na missão, mas no propósito que uma escola se diferencia de outra. Para que e como satisfazer às necessidades básicas de aprendizagem das pessoas? Por que por meio de instrumentos e de conteúdos? Uma resposta, muitas vezes, deve ser apenas o ponto de partida para outras perguntas. "A grande preocupação com os aspectos didáticos é uma forma de evadir-se dos verdadeiros problemas da educação: para que trabalhamos? A quem servimos? Para que serve o que estamos fazendo?", nos alerta Maria Teresa Nildecoff, em Uma escola para o povo. 34 Qual é a finalidade da educação? Muitos se manifestaram em relação a essa pergunta e é pouco provável que se chegue a uma resposta única, válida para todo tempo e lugar. Cada instituição deve buscar, reinventar, criar uma resposta, sabendo que deve ser uma resposta presente, sem que esteja circunscrita ao momento presente. O início da Missão Educacional de um grupo de escolas do Estado de Minas Gerais diz o seguinte: Missão Educacional A missão educacional pressupõe crença na vida, crença na capacidade de o homem compreender a realidade e nela atuar, tomando-se melhor e melhorando a qualidade de vida de toda a sociedade. É, pois, nossa responsabilidade como instituição educacional entender o passado, viver o presente e vislumbrar o futuro, para afirmar, com coragem e lucidez, os valores que fundamentam a vida, criando condições para que as pessoas se desenvolvam integralmente. ...entender o passado, viver o presente e vislumbrar o futuro... Cícero disse que a finalidade da educação é libertar o homem da tirania do presente, e André Gide definiu a melhor educação como sendo aquela que vai na direção contrária ao indivíduo. Atualmente, dentre as possíveis finalidades colocadas para a educação, nenhuma alcança tão facilmente o consenso quanto a formação da cidadania. Contribuir para a formação de pessoas conscientes de seus direitos e deveres, criar um estado de felicidade para as pessoas são propósitos de quase todas as escolas. Para a 35 vivência plena de direitos e o cumprimento de deveres de modo autônomo, há, no entanto, a necessidade de o indivíduo desenvolver certas competências. No início desta lição, viu-se as aprendizagens básicas para a convivência social. O exercício da cidadania, além dessas aprendizagens, exige as seguintes competências: motora, cognitiva, estética, ética, afetiva. Se não se trabalhar objetivamente no desenvolvimento dessas competências, corre-se o risco de continuar falando sobre cidadania sem chegar a formar cidadãos. A escola deve harmonizar o desenvolvimento da pessoa nessas competências, sem privilegiar nenhuma delas. Segundo PeterDrucker: "Ela (a educação) não pode dar-se ao luxo de permitir nem o bárbaro letrado que ganha bem a vida mas cuja vida não vale ser vivida, nem o erudito amador que carece de compromisso e de eficácia". Uma escola, se quiser realizar um trabalho de qualidade, precisa explicitar com clareza a sua finalidade, e, se quiser ser presente, necessita assumir a sua responsabilidade social. Assumir a responsabilidade social, em nosso país, tem a ver com o aprimoramento de uma ordem social de convivência democrática e com a construção de um país com equidade interna, isto é, sem miseráveis, excluídos, marginalizados. Muitos entendem por responsabilidade social a realização de campanhas (de agasalhos, de calçados, de alimentos...) em prol dos mais necessitados, de visitas a orfanatos, a asilos, a prisões, de trabalhos comunitários. Algumas escolas inovaram assumindo a responsabilidade pela preservação de rios, matas ou pelo cuidado de 36 praças, avenidas ou outras áreas públicas. Tudo isto é importante e pode fazer parte da formação para o exercício pleno da cidadania, mas não reside aí a essência da responsabilidade social que deve ser assumida pela escola. Em um de seus melhores artigos para a revista Veja, em 3 de novembro de 1999, o economista Cláudio de Moura Castro afirma: "Nossas escolas estão melhorando. O momento é bom para pedir-Ihes mais ênfase na responsabilidade social. Mas hoje sabemos que adicionar cursos do estilo 'moral e cívica' é uma parte muito pequena da tarefa. Os alunos não aprendem civismo em aulas de civismo, mas em uma escola que pratica justiça, tolerância, equidade e generosidade. Os alunos aprendem pelo que a escola pratica muito mais que pelos sermões em aula. A escola tem de ensinar pelo exemplo. Se o professor trata o aluno rico diferente da forma que trata o pobre, falece o aprendizado da equidade. Se o professor chega atrasado, a lição de pontualidade vai na direção oposta". O desenvolvimento da responsabilidade social não pode ser uma atividade paralela ao currículo escolar. Os alunos não aprendem civismo em aulas de civismo, assim como não aprendem a ser socialmente responsáveis visitando esporadicamente asilos, orfanatos, hospitais, prisões, ou levando de casa para as campanhas ocasionais aquilo que lhes sobra, aquilo que já não querem mais, os entulhos. É preciso compreender que a responsabilidade social está na essência de uma educação de qualidade hoje. A maior responsabilidade social da escola é garantir a formação de pessoas que tenham responsabilidade social. Esta é a sua contribuição 37 específica. Muita gente anda fazendo o resto em função de suas convicções ou de necessidades de marketing. O trabalho na sala de aula e na direção de escola me ensinou que é muito difícil aprender a interagir. Nas ações de caráter social, empreendidas com alunos de escolas particulares, a interação com os mais carentes corria sempre o risco de se tomar uma ação sobre os mais pobres. Raramente encontrei pessoas, mesmo entre os educadores, que percebiam que toda ação social é sempre uma troca, que não há lado sem carência nessa relação, que não existe quem sabe tudo e quem nada sabe. Não existe um problema que seja só do outro; os problemas são sempre nossos. Considerar a pessoa e respeitar a sua dignidade é compreender que toda a solução é sempre de dentro para fora, é entender que só a interação é o caminho para a promoção humana. É complicado dialogar com o diferente, mas é fácil definir, direcionar, resolver a vida do outro, principalmente quando ele é o mais fraco. Aprendi também que, em termos de responsabilidade social, parece ser mais frequente olhar para fora que para dentro de nossas escolas. Quantos funcionários analfabetos, quantas famílias passando necessidades, quantos doentes, quantos professores que deram tanto pelo sucesso da escola, com quantas mazelas se continua convivendo dentro das instituições, mas é sempre lá fora que se buscam os carentes, os necessitados. Duvido daqueles que só fazem o bem na casa dos outros. Uma escola deve começar a exercer a sua responsabilidade social junto a seus alunos, funcionários, professores. Esta é a melhor forma de educá-Ios para a cidadania. 38 ESTRATÉGIAS Lição 4: Ações de Planejamento O fundamental não é a escola ter um planejamento estratégico, mas ter a cultura do planejar, sem a qual a organização estará, inevitavelmente, fadada ao fracasso. Assim como não se constrói um prédio ou uma estrada sem projeto, não se deve construir uma escola sem planejamentos. "Não há vento a favor para quem não sabe para onde vai", já dizia Sêneca. O que parece óbvio nem sempre é levado em consideração na vida das escolas. Excetuando-se as grandes organizações educacionais e as escolas que buscam a excelência, localizadas principalmente nas capitais e nas grandes cidades, as pequenas e médias empresas voltadas para a educação não têm, na maioria das vezes, nem mesmo um orçamento elaborado com um mínimo de competência técnica. Não é de se estranhar que seja assim, porque embora a elaboração de planejamentos seja uma prática comum na indústria há um bom tempo, o seu surgimento como atividade das mais importantes nas instituições educacionais é bastante recente. A capacidade de planejar o seu futuro, definindo as suas metas, organizando sistematicamente os recursos e os esforços necessários para realizá-Ias e medindo os resultados em confronto com as expectativas, é uma estratégia que nenhuma escola pode ignorar ou desprezar, sem correr o risco de perder o rumo e não ter futuro. A falta de um projeto dificulta e, às vezes, até impede o crescimento de uma escola. Uma organização sem visão de futuro perde tempo, energia e dinheiro. 39 Tenho presenciado o drama de algumas escolas de Educação Infantil que, em virtude de seu trabalho sério e competente, tiveram de estender, por exigência dos pais, o seu atendimento para outros segmentos, e que, nos dias atuais, tiveram de destruir física e culturalmente muito do que tinham feito, porque não vislumbraram que o futuro pudesse ser maior e mais rico de possibilidades que o presente. Algumas perderam até mesmo o nome. É difícil um aluno das séries finais do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio contentar-se em estudar em uma escola com o nome infantilizado ou no diminutivo. O amadorismo na administração das escolas está com os dias contados. Por menor que seja a escola, ela precisa de algumas peças de planejamento para garantir a sua sobrevivência, para dar segurança a seus professores e funcionários, e estimulá-Ios, para obter resultados consistentes, para satisfazer as necessidades e expectativas das famílias, enfim para ser competitiva e crescer. A escola é um organismo vivo e, como todo ser dessa natureza, se não cresce, murcha e morre. Uma escola minimamente organizada deve apresentar: - Calendário escolar. - Calendário de eventos. - Orçamento anual. - Programa anual de educação e de treinamento. - Planejamento estratégico. - Planos operacionais. 40 É claro que o nível de sofisticação desses instrumentos gerenciais depende do tamanho e da complexidade da operação escolar. Uma organização precisa deixar claros os seguintes pontos: qual é o seu propósito, qual é a sua finalidade ou missão, qual a sua visão, os seus sonhos e quais as estratégias que irá utilizar para realizar os seus ideais e dar conta de seus propósitos. A definição dessas questões gera um ambiente adequado, porque permite selecionar as pessoas adequadas, cria sinergia, facilita a identificação de prioridades, permite a delegação de responsabilidades e de auto- ridade, oferece critérios objetivos para a avaliação de desempenho, clareia a relação com as famílias, dá segurança, evita grandes turbulências, dá unidade às ações, possibilitafocalizar a essência. Dar rumo à escola é a maior responsabilidade do diretor. Essa responsabilidade pode ser compartilhada com a equipe técnica, com os professores, com os funcionários, com os alunos, mas quem responde por ela é o diretor. Como diretor, posso pedir ao vice-diretor que elabore um projeto para a realização de eventos, mas não é o vice-diretor que responde pelo fato de a escola ter ou não ter um projeto dessa natureza. Um gerente administrativo pode ser responsável por cem por cento da elaboração do orçamento, mas é o diretor que responde pelos acertos e desacertos do que foi orçado. O que pretendo, nesta lição, é mostrar a importância do planejamento como estratégia para o crescimento harmônico de uma escola. De um modo geral, gasta-se pouco tempo para decidir o que fazer, pouco tempo para educar e treinar as pessoas para fazer e muito tempo fazendo. Decorre daí que muitas escolas vivem numa 41 "fazeção" extenuante e sem tréguas, realizando ações sem sentido e, quase sempre, malfeitas. Nas escolas, há muita coisa sem sentido que continua sendo feita, porque sempre foi assim. É comum o fato de diretores apresentarem grandes dificuldades na execução de algumas tarefas e, quando questionadas por que realizam aquelas tarefas, ou por que as realizam daquele modo, levam um susto porque nunca pensaram nessa questão. Quando se estabelece um ciclo de planejamentos, passa-se a escola a limpo. É no nível estratégico que as questões operacionais ganham significado. Se os planejamentos são feitos de modo participativo, assegura-se a compreensão e o comprometimento das pessoas. Este é o melhor caminho, quando o diretor tem a lucidez para não se eximir da responsabilidade pelos rumos e resultados da escola. É bastante claro para mim que o planejamento e os seus modelos devem ser específicos de cada escola, mas acredito que a experiência de quem já fez pode contribuir como fonte de inspiração para quem está começando. LIÇÃO 5: Trabalho Cooperativo A educação formal não é tarefa para indivíduos, mas para equipes. Isoladamente, ainda que haja competência e comprometimento, os resultados do trabalho educacional são quase sempre insignificantes. Em termos de produtividade, uma escola se distingue de outra, em virtude do maior ou menor grau de sintonia entre professor e 42 escola, entre professor e aluno, entre escola e família, entre alunos, entre professores. Quando essas relações são desafinadas, por melhor que seja o desempenho de cada indivíduo, sempre há prejuízos. Mais do que de energia, o trabalho educacional precisa de sinergia. Cuidar do crescimento das pessoas é um dos caminhos mais efetivos para a formação de uma equipe. Por maior que seja o esforço, é muito difícil constituir uma equipe, quando as pessoas do grupo, em sua maioria, são egoístas, mesquinhas, agressivas, desleais, competitivas, duras, irônicas, permissivas, autoritárias. O talento individual, embora imprescindível, não é suficiente para que se forme uma equipe. É necessário que os talentos se unam em torno de um objetivo comum, é preciso que tenham uma visão compartillhada. Quando há uma única direção para as energias individuais, cria-se uma sinergia. A falta de um objetivo comum gera perda de energia. Um objetivo compartilhado ou comum, não é uma idéia, mas uma força inculcada no coração das pessoas, uma força de poder impressionante. O objetivo comum deve ser construído dentro do grupo, considerando os objetivos pessoais. Um objetivo imposto pela liderança, ainda que honesta e competentemente, não alcança o nível de comprometimento das pessoas. Estas só comprometem com aquilo que ajudaram a criar, que definiram em conjunto. LIÇÃO 6: Educação e Treinamento Não é possível continuar fazendo as mesmas coisas e esperar que os resultados sejam diferentes daqueles que se tem obtido. Não é possível, embora se tenha mudado os objetivos sonhar com resultados diferentes, se se continua realizando, com o mesmo 43 espírito, as mesmas tarefas no trabalho de cada dia. Novas realidades exigem novas aprendizagens. É lógico que não basta só treinamento. A escola não é um mundo estável, a educação é dinâmica. As relações interpessoais, essenciais no trabalho educacional, a todo momento apresentam situações inéditas e exigem competências que vão além das adquiridas com o exercício e o treino. Segundo Perrenoud, os diretores devem, assim como os professores, saber agir em uma situação de crise que rompe subitamente com um trabalho de rotina. Mais do que eficiente ou eficaz, a educação precisa ser efetiva, para que dê conta das necessidades presentes. Um programa de educação e treinamento deve considerar os seguintes pressupostos: As pessoas são diferentes umas das outras; aprendem de maneira diferente em ritmos diferentes; As pessoas nascem com uma inclinação natural para aprender e inovar; não precisam de recomendações para crescer; o crescimento é natural e orgânico; O mundo do trabalho não deve ser fonte de esgotamento, mas lugar privilegiado de realização e criatividade; O papel das lideranças é criar condições para que as pessoas tenham uma vida o mais enriquecedora possível; Uma instituição tem o dever social de implementar ações que dêem às pessoas oportunidades de externarem e desenvolverem as suas potencialidades; Os gastos com educação e treinamento não são custos, mas investimentos; o fato de eles pensarem é suficiente para que os outros saibam o que 44 Atualmente as decisões importantes são, quase sempre, tomadas em grupo; pessoas que dependem umas das outras para decidir e agir precisam aprender em grupo; o aprendizado individual não é suficiente para a instituição. Um programa de educação e treinamento deve ser capaz de: Criar possibilidades de aprimoramento contínuo nos níveis pessoal e profissional; Propiciar às pessoas satisfação no trabalho e contribuir para o enriquecimento de suas vidas; Permitir delegação e universalizar o autocontrole e a auto- inspeção; Contribuir para a unidade da equipe, criando sinergia e melhoramento de resultados; Dar sustentação ao trabalho de realização dos objetivos da escola; Propiciar embasamento teórico para as mudanças necessárias nos processos de aprendizagem e de ensino; Sistematizar o processo de educação e treinamento na escola, tornando-o relevante e efetivo para as pessoas e para a instituição. LIÇÃO 7 - COMUNICAÇÃO Uma das regras básicas da boa comunicação é dizer ao outro, com clareza, objetividade e gentileza, o que se espera, o que se quer dele. Um diretor não tem o direito de exigir que professores, funcionários, famílias adivinhem o que ele quer. Alguns acreditam que 45 deve ser feito. Não dizer, não explicitar, sonegar informações são atitudes antiéticas, porque desrespeitam o outro, e pouco inteligentes porque fomentam a fofoca. A boa comunicação requer credibilidade. O diretor precisa fazer o que diz; é preciso que haja coerência entre suas palavras e suas ações. Para que isso aconteça, dois fatores são importantes: Firme convicção quanto aos valores; Integridade. A falta de constância em relação aos objetivos, aos propósitos da instituição, às mudanças oportunistas quanto aos rumos da escola geram desconfiança, descomprometimento, descrença e confusão entre os empregados. Sem integridade não há confiança. A boa comunicação não se restringe à troca de informações. Ela cria laços, energiza as pessoas, reforça a confiança. Havendo integridade, há respeito pelas pessoas, há escuta, há consideração pelas idéias divergentes. A experiência mostra que a falta de objetividade é sintoma de falta de preparação e de comando. É bom que, na rotina de seu trabalho, o diretor tenha certos cuidados,traduzidos, a seguir em algumas proibições: Não permita que secretária, supervisores, coordenadores, gerentes administrativos, vice-diretor sejam obstáculos para o seu contato direto com os alunos, professores, funcionários e famílias; Não transforme os membros da equipe técnica em moleques de recado; não é muito difícil de definir quem é o responsável por uma comunicação; nunca fuja de sua responsabilidade; 46 Não permita que a comunicação daquilo que deve ser feito chegue aos funcionários e aos professores como se fosse um desejo, um capricho do diretor ( a não ser que isto seja verdade). Não prometa o que você não tem certeza de poder cumprir; se perder a sua credibilidade, será muito difícil continuar diretor; Não sonegue informação, as pessoas têm o direito de saber as coisas; a informação é poder, mas se torna um poder inútil, se não for compartilhada; Não doure a pílula, mas também não seja deselegante; verdade e gentileza são preciosidades numa comunicação; Não culpe os outros pela não-compreensão de uma mensagem; procure melhorar a sua capacidade de comunicação. LIÇÃO 8 – A Aliança com o Professor Na convivência com professores, percebe-se com facilidade, quando há comunhão entre os objetivos pessoais e os da instituição. Percebe-se também o contrário, com a mesma facilidade. Sem comprometimento, sob pressão, é quase impossível realizar um bom trabalho em qualquer área, e muito menos em educação. Qualquer realização, numa escola, depende da contribuição das pessoas; na maioria das vezes, depende da participação do professor. Quando um professor se torna um problema maior do que a contribuição que ele pode dar, é hora de se fazer alguma coisa por ele. Quando a rotina se torna um peso, quando desaparece a alegria de fazer o que se está fazendo, está na hora de fazer alguma coisa por si mesmo. Uma das funções do diretor é cuidar do 47 desenvolvimento dos seus professores. Se os professores são preguiçosos, se não se comprometem, se são intransigentes, sem espírito de cooperação, a única coisa de quem o diretor poderá cobrar alguma coisa é de si mesmo. O diretor precisa ter o professor como parceiro e batalhar arduamente para que esse parceiro tenha as melhores condições de trabalho. Melhorar as condições de trabalho do professor (dar-lhe dignidade) é o caminho mais curto para uma educação de qualidade. O professor infeliz, amargurado, incompetente, aviltado, submisso, dependente, sufocado pela carga de trabalho, doente, inseguro é e será sempre incapaz de educar pessoas de modo significativo. Se quiser que a educação seja mesmo um ponto de alavancagem para o desenvolvimento do país, está na hora de cuidar, com mais seriedade, do bem-estar e da satisfação dos professores. E se os professores quiserem realmente contribuir para a construção de um país produtivo, com equidade interna, isto é, sem pobreza, e para a construção de uma ordem social de convivência democrática, é necessário que sonhem, que tenham altas expectativas em relação a seus alunos, que desafiem e que despertem neles a força da aspiração. LIÇÃO 9: A Parceria com a Família A relação família/escola tem sido na maioria das vezes, uma fonte de desgastes para as duas instituições. Tem sido uma relação marcada quase sempre pela desconfiança, pelo medo, pelo autoritarismo, pela transferência de responsabilidade, pela imposição 48 de culpa, pelo desinteresse, pela superficialidade, pela incapacidade de ouvir, pela competição. Precisa ser assim? É claro que não. Sendo assim, só há prejuízos, nenhum ganho para as pessoas. Por que é assim? Penso que uma das razões é o tradicional autoritarismo das escolas, embora se fale muito na importância da integração família/escola, grande parte de diretores ficaria extremamente feliz se as famílias os deixassem em paz. Para o autoritaritarismo, qualquer forma de diálogo é perda de tempo, qualquer pensamento divergente é deslealdade. Unidade pressupõe diferenças. Onde não há diferenças, há uniformidade, mas não unidade. Buscar unidade é ter consciência de que as pessoas são diferentes, e de que as diferenças são a riqueza de um grupo, e não obstáculos para o trabalho de equipe. A uniformidade é característica dos ambientes autoritários. O autoritarismo sufoca as diferenças e gera bajulação, insegurança, competição exacerbada, relações superficiais e instrumentalizadas. O autoritarismo se alimenta do medo. Momentaneamente o medo pode provocar mudanças, gerar resultados, mas quase sempre são resultados inconsistentes. A escola, hoje, tem necessidade de falar menos e ouvir mais. Precisa ser menos presunçosa, mais humilde, aprender também e não apenas ensinar. O perigo, se não houver princípios e valores que sustentam a instituição, é perder o rumo, ficar à deriva. É preciso ouvir mais e não demais. Democratizar as relações é o caminho. É preciso compreender que a relação com as famílias se dá por meio de várias pessoas: alunos, funcionários, professores, técnicos educacionais. É preciso educá-los para essa relação. 49 LIÇÃO 10: A Sintonia com a Realidade Uma escola passa por estágios em seu desenvolvimento. Há diferenças entre dirigir uma escola na sua fase de implantação e dirigi- la daí há dez anos, quando premissas, valores e princípios estão sendo, ou já foram construídos pela instituição. Há momentos em que se depende muito da energia, da forte convicção pessoal do diretor para que a escola supere os obstáculos, enfrente com sucesso as dificuldades, os problemas do dia a dia. O diretor, neste momento, deve ter as características de um empresário: criar esperança e gerar estímulo no grupo. Cada etapa de desenvolvimento de uma escola tem exigências específicas, e o bom diretor em uma fase pode ser o diretor incompetente de uma outra. Se em determinado momento é preciso criar e sustentar uma cultura, em outro, é necessário ser um agente de mudança. Às vezes, precisa-se de um empreendedor; às vezes, a carência é de um bom gerente. O diretor deve estar sintonizado com as necessidades e expectativas da situação específica vivida pela escola. Isto parece óbvio, mas é bem mais frequente do que se imagina a ocorrência de diretores que dirigem suas escolas em função de suas características e preferências, negligenciando as necessidades institucionais. As dificuldades existem, ignorá-las é dificultar ainda mais qualquer processo de mudança. Exercício sobre a UNIDADE: 1. Faça um breve resumo sobre as 10 Lições sugeridas nesta Unidade, como guia do Diretor. 50 UNIDADE III DIRETRIZES, PARÂMETROS E PILARES DA EDUCAÇÃO OPERACIONALlZADOS NAS SALAS DE AULA “A hora é de mudar. É hora de estudar, de estudar... É preciso "re"pensar a escola, levando, até às salas de aula, Diretrizes, Parâmetros, Pilares da Educação... É preciso estudar, discutir e refletir muito sobre como tudo isto altera a dinâmica das aulas”... É hora também de os educadores introduzirem, em sua prática e na leitura que fazem da legislação de ensino, os mesmos princípios e diretrizes recomendados e expostos para a abordagem dos conteúdos e das disciplinas. A leitura da lei deve ser feita à luz de aspectos econômicos, históricos e culturais, pois assim todas as interpretações serão contextualizadas com a situação momentânea do país. Ler artigo por artigo, a lei pela lei, como se ela representasse um fim, impede e compromete a sua aplicação. A leitura crítica da sua história e elaboração, até ser aprovada, reforça e possibilita uma interpretação que não se reduz aos aspectos legais. A visão de que uma Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional transcende as questões educacionais, incorporando-as e indo muito além delas, é fundamental. A expressão Educação Nacional conduz,de certo modo, à constatação de que o Estado passa a agir como interventor nas duas 51 redes de ensino - a privada e a pública. Marcada pela ampliação da ação nacional e do aumento do papel do Ministério da Educação, a LDB, com a sua regulamentação, contém aspectos muito positivos, cuja percepção é acentuada com a leitura conjunta da Constituição Federal, de outubro de 1988. A ela compete complementar a Lei Maior, uma vez que a União, pelo previsto no Art. 22, legisla sobre as diretrizes e as bases da educação nacional, de forma geral, sem impossibilitar a legislação estadual. A LDB contém normas gerais, de âmbito nacional, revestindo-se de características de flexibilidade e garantindo aos sistemas de ensino (estadual e municipal) espaços para exercitarem a sua autonomia como sistemas. Essa autonomia também garante às escolas ampla liberdade para definirem seus projetos político-pedagógicos. Todo projeto amplo, como o que define a educação de um país federativo e democrático, desperta sentimentos antagônicos, esperanças por parte de quem se percebe incluído nela e frustração e desconfiança dos que não tiveram os seus interesses incorporados. Após sete anos da sua aprovação, com a sua regulamentação praticamente concluída pelo Conselho Nacional de Educação e pelo Ministério da Educação e Desportos (MEC), com adiamentos oficiais da observância pelas escolas das medidas que representam as mudanças, o que se percebe nas escolas, onde verdadeiramente acontece a educação, é que poucas mudanças foram efetivadas. As mudanças esperadas e mais significativas, que poderiam ser tomadas para transformar a tônica da educação brasileira, são decorrentes, principalmente, da forma como se vê e como se faz a educação em cada sala de aula. 52 Elas dependem muito mais da vontade, do querer e do agir do educador, do que da força da Lei, mesmo sendo de Diretrizes e Bases. O sentido da educação não se altera por decreto. Percebe-se, a cada dia vivido nas escolas, como vem acontecendo a implementação dessas diretrizes. Torna-se fundamental, a todo o momento, apoiar os educadores na sua mudança interna quando se trata de mudar valores e paradigmas, para que depois eles se tomem agentes transformadores. A retomada diária, com os educadores, do teor dos documentos da UNESCO, dos quais o Brasil é signatário, definidos nas últimas décadas, na Tailândia e no Senegal, sobre a Educação para o século XXI, ajuda, sem dúvida, todos os envolvidos com o processo educativo a compreenderem como deve ser a educação que preparará os cidadãos para enfrentar os desafios do terceiro milênio. Ao delinear os desafios, os autores do documento traçaram novos objetivos e outra concepção de educação, na qual todos (crianças, jovens, adultos) descobrissem, reanimassem e fortalecessem o seu potencial criativo - descobrir o tesouro escondido em cada um. Esta visão vem superar a via obrigatória e reducionista, instrumental e pragmática da educação, subordinada, principalmente, à economia, com o fim de se obter resultados - saber fazer para aumentar a produção. Passa-se a considerar todo e qualquer aluno em sua plenitude como pessoa. Decorrente disso, propuseram e delinearam os quatro pilares do conhecimento que devem orientar a educação do presente: 53 Os profissionais da escola, de modo geral, já conhecem esses pilares da educação. Agora, as discussões e a prática devem conduzir à sua inserção e ao seu dimensionamento na sala de aula, no dia-a- dia da escola, associando-os às Diretrizes e aos Parâmetros Curriculares. Trata-se agora de fazê-los acontecer de fato. Como fazê-lo? Eis a questão. Algumas associações propiciam um melhor entendimento e concretizam as diretrizes e os pilares. A discussão sobre cada um deles e a sua associação com as disciplinas e os conteúdos ajuda a entender como eles chegam à sala de aula. Aprender a Ser Ser como? Ser feliz, ser sensível, ser criativo, ser cidadão, ser humano, ser curioso, ser plenamente realizado, ser livre, ser útil, ser sonhador, ser ético, ser completo, ser criança, ser adolescente, ser adulto, ser único, ser homem, ser mulher, ser gente... É angustiante observar como as escolas de educação básica, de modo geral, ignoram totalmente as diferenças entre os alunos. A designação do aluno oculta a origem e a história pessoal de cada um, as questões étnicas, a sexualidade, o meio social, os interesses, os gostos, as preferências e, principalmente, os dons e os talentos. Buscam-se turmas homogêneas, com escolas em que predominam o espírito utilitarista dos conteúdos estudados, que têm maior ou menor valor, ditados pela cobrança no vestibular. As escolas valorizam e reconhecem as características da inteligência lógico-abstrata e não identificam e nem oferecem 54 atividades voltadas para outros potenciais reconhecidos como inteligências múltiplas. Na LDB, art. 26, ao tratar das propostas curriculares do ensino Fundamental e Médio, ficou definido que elas devem ter uma Base Nacional Comum, complementada pelos sistemas de ensino e escolar, por uma parte diversificada, para cobrir as características regionais e locais, da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Posteriormente, nos pareceres delimitadores das DCN (Diretrizes Curriculares Nacionais), o Conselho Nacional de Educação explicitou que a parte diversificada poderia ter até 25% da carga horária anual ou total, de cada período letivo, 200 horas anuais ou 600 horas pelo curso ou grau. Aí está a grande oportunidade de se proporcionar aos jovens e às crianças ocasiões de descoberta, da identificação, de experimentação e do atendimento aos seus dons especiais. O limiar deste novo século indica claramente que a sociedade precisará e muito da diversidade de talentos e de personalidades. Portanto, não dá mais para a escola fingir que essa tarefa não é sua e de que os alunos são iguais quando uniformizados. Aprender a Conhecer De um lado, temos o novo significado do trabalho no contexto da globalização e dos avanços tecnológicos, e, do outro, o sujeito ativo, a pessoa humana, que se apropriará desses conhecimentos para aprimorar-se no mundo do trabalho e na prática social. O 55 conhecimento tornou-se fator de produção, mas não será adquirido em situações mecânicas, desligadas da realidade social, sem envolvimento pessoal. É preciso que o conhecimento seja objeto de interesse do educando, da sua curiosidade e da sua atenção, de modo que sempre se esteja pronto a aproveitar as várias ocasiões da vida, como jogos, estágios, viagens, projetos práticos, visitas, excursões, filmes, debates, entrevistas, seminários, jornais, etc.. Não se trata de um processo teórico; é importante que o constante aprender a aprender ou a conhecer sejam processos dinâmicos e reais, em que o aluno perceba, na sua escola e nos seus professores, um modelo-real de aprender a conhecer, no qual todos busquem a atualização, o domínio da linguagem e da tecnologia própria de sua área e de outras integradas. O aluno deve perceber que o processo nunca está acabado e pode ser enriquecido com as experiências vividas e com a busca constante do conhecer. Na interação do aluno com seus pares, as escolas estarão garantindo a base para que todos estejam sempre mobilizados no processo do conhecimento, por meio da execução de atividades interdisciplinares e contextualizadas. Aprender a Fazer Neste pilar, está uma das maiores demandas da escola. O aprender a fazer é indissociável do aprender a conhecer. Ele não se liga apenas à formação profissional e nem decorre dela. Não se trata de aparelhar trabalhadores para a execução mecânica de atividades práticas mais ou menos rotineiras. É o comuns, como observações de representações das indústrias e dos 56
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