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DIREITO CIVIL V caso 9

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DIREITO CIVIL V
Caso Concreto 9
Questão objetiva 1:
Em relação à união estável, assinale a alternativa correta.
(C) Não há presunção legal de paternidade no caso de filho nascido na constância da união estável.
Questão objetiva 2:
(A) em momento algum se configurou uma união estável.
Questão subjetiva: 
Tício, residente na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, vive em união estável, nessa cidade, com Maria Antonia, desde o ano de 2002. A união apresenta todos os requisitos constantes na lei civil. Toda a sociedade local reconhece a existência da entidade familiar, tratando os companheiros como se casados fossem. Todavia, Tício é viajante e, desde o ano de 2003, encontra-se com Maria Figueiredo todas as segundas-feiras, na cidade de Franca, onde mantém um escritório. A relação também se enquadra nos termos do art. 1.723 do CC/2002. Tício e Maria Figueiredo têm um filho comum: João Henrique, de um ano de idade. Tício mantém ainda uma união pública, notória e contínua com Maria Augusta, na cidade de Batatais, para onde vai todas as quintas-feiras vender seus produtos. Aliás, Maria Augusta é dona de um estabelecimento comercial em que Tício consta como sócio. Ambos têm um negócio lucrativo naquela cidade do interior paulista. O relacionamento amoroso existe desde 2004. Por fim, Tício tem um apartamento montado na cidade de São Paulo, onde vai ocasionalmente, de quinze em quinze dias, a fim de comprar produtos para vender no interior paulista. Nesse apartamento reside Maria Carmem, com quem Tício tem um relacionamento desde o final do ano de 2004. Essa sua convivente está grávida e espera um filho seu. No caso hipotético, uma Maria não sabe da existência da outra como convivente de seu companheiro, até que, um dia, o pior acontece e o mundo desaba. Cada um destes relacionamentos constitui uma união estável, nos termos do que consta do Código Civil e da Constituição? (TARTUCE, 2017, p. 354-355)
 No caso hipotético, uma Maria não sabe a existência da outra como convivente de seu companheiro, até que, um dia, o pior acontece e o mundo desaba. Por mais incrível que possa parecer, a situação descrita pode ocorrer na prática. A primeira dúvida que surge é: constituem todos os relacionamentos união estável, nos termos do que consta do Código Civil e da Constituição Federal? Três posicionamentos podem surgir quanto ao caso em questão.
Um primeiro entendimento poderá apontar que nenhum dos relacionamentos constitui união estável. A encabeçar essa corrente está Maria Helena Diniz, para quem a fidelidade ou lealdade constitui um dos requisitos da união estável, sem o qual não há a referida entidade familiar. [32]
Entretanto, diante do desrespeito à boa-fé, as Marias poderão pleitear que Tício indenize-as por danos materiais e morais, pela caracterização do abuso de direito, por desrespeito à boa-fé objetiva, que também ser espera na união estável. Esse primeiro entendimento pode ser afastado pela conclusão de que a fidelidade ou o respeito mútuos não constitui elemento essencial para a caracterização da união estável, mas apenas um dever dela decorrente, constante do art. 1.724 do novo Código Civil. [33]
Já para uma segunda corrente, deveriam ser aplicadas, para o caso em questão, as regras previstas para o casamento putativo. Assim sendo, as Marias que ignorassem a existência da primeira união constituída – com Maria Antonia -, poderiam pleitear a aplicação analógica do que consta do já transcrito art. 1.561 do atual Código Civil. Filia-se a esse entendimento Euclides de Oliveira. [34]
Esse segundo entendimento também apresenta alguns problemas.
O primeiro é que a união estável não se iguala ao casamento, conclusão retirada do próprio Texto Constitucional. Ora, como o art. 226, § 3º, da Lei Maior prevê que a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento, tais institutos não são iguais, porque institutos semelhantes não são convertidos um no outro. Por certo, o conceito e os requisitos do casamento são diferentes dos da união estável.
O segundo problema reside na necessidade de provar o início dos relacionamentos, a fim de ordenar as uniões paralelas no tempo e apontar qual é a união estável e quais são as uniões putativas.De qualquer forma, essa parece ser a posição mais justa dentro dos limites do princípio da socialidade, com vistas a proteger aquele que, dotado de boa-fé subjetiva, ignorava um vício a acometer a união. Assim sendo, merecerá aplicação analógica o dispositivo que trata do casamento putativo também para a união estável putativa. No caso descrito, como todas as Marias ignoravam a situação, poderão pleitear a aplicação das regras decorrentes da união estável, como o pagamento de alimentos no caso de dissolução. Sem prejuízo disso, por ter o convivente agido com má-fé, as Marias poderão ainda pleitear dele indenização por danos morais, se os mesmos estiverem configurados, diante do desrespeito à boa-fé objetiva. A responsabilidade objetiva de Tício tem fundamento o abuso de direito cometido, previsto no mesmo art. 187 do novo Código Civil, bem como a quebra dos deveres anexos decorrentes da boa-fé.
De qualquer forma, se uma Maria não ignorar a existência da união plúrima do seu convivente, não terá a mesma direito à aplicação das regras da união estável putativa, já que não ignorava o impedimento. Também não poderá requerer indenização, pois não há que se falar em abuso de direito quando ambas as partes agem de má-fé no negócio jurídico celebrado. Após a análise dessa segunda corrente, repita-se, para nós a mais justa, abordemos um terceiro entendimento, pelo qual todas as uniões constituem entidade familiar, devendo ser reconhecido os direitos de todas as Marias, independente de qualquer coisa. Essa corrente é encabeçada por Maria Berenice Dias. [35]
De qualquer forma, também há problemas nesse entendimento: primeiro, por desprezar a fidelidade como fator essencial ou quase essencial à união estável; depois, por desprezar os próprios requisitos da sua caracterização, pois a união deve ser exclusiva. De qualquer modo, a visão dessa corrente também tem um cunho social relevante pela relação com a boa-fé objetiva. Para concluir, percebe-se que surgem vários problemas práticos decorrentes da união estável plúrima. Em casos tais, a boa-fé objetiva pode também ser útil para resolver a problemática decorrente dessa entidade familiar bastante freqüente na realidade. De qualquer modo, recomenda-se prudência na análise casual das questões fáticas que a envolvem.
Doutrina: Numa primeira compreensão, Álvaro Villaça acredita que quando um sujeito está inserido em duas ou mais uniões estáveis, nenhum dos relacionamentos pode ser considerado união estável. Isto porque, como já explicado anteriormente, o professor entende que tal comportamento é classificado como concubinato impuro desleal. Ou seja, para ele a deslealdade nos relacionamentos múltiplos impede a caracterização da união estável, uma vez que o artigo 1.724 do Código Civil impõe o dever de lealdade aos companheiros. 
Pensamento similar é o de Maria Helena Diniz65 que entende a fidelidade ou lealdade como um dos requisitos para a constituição de uma unidade familiar. Significa dizer que quando não preenchidos os requisitos, não há de se falar em união estável. Em contrapartida, cabe dizer que a fidelidade e a lealdade não fazem parte do rol dos requisitos essenciais para a existência da união estável. A lealdade é um dever inerente a esta, porém não constitui elemento fundamental, pois o que caracteriza uma união estável está apreciado no artigo 1.723 do CC/02, para a criação de um núcleo familiar. Em Acórdão, o Relator Desembargador Oswaldo Luiz Palu66 discursou que: Ressalta-se que é vedado o reconhecimento de duas uniões estáveis concomitantes, sendo vedada a poligamia. No caso dos autos, sem me comprometer com a tese, mas procurando dirimir difícil situação de fato, ao que tudo indica as companheiras desconheciam a existência uma da outra. E se do lado da autora existem a sentença reconhecendo a união estável e a numerosaprole em comum e de outro lado, da ré, as inúmeras fotografias da vida em comum com o extinto, a melhor solução é, realmente, aquela da r. sentença, que fica mantida.
Jurisprudência:
Confirmando esse pensamento, a afirmação n. 4, da edição n. 50 da ferramenta “Jurisprudências em Teses do STJ”, o Relator Ministro Luis Felipe Salomão87 também se pronunciou sobre as uniões simultâneas: [...] 1. Para a existência jurídica da união estável, extrai-se, da exegese do § 1º do art. 1.723 do Código Civil de 2002, fine, o requisito da exclusividade de relacionamento sólido. Isso porque, nem mesmo a existência de casamento válido se apresenta como impedimento suficiente ao reconhecimento da união estável, desde que haja separação de fato, circunstância que erige a existência de outra relação afetiva factual ao degrau de óbice proeminente à nova união estável. 2. Com efeito, a 86 STJ, REsp 1.157.273-RN, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 18/5/2010 apud TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v.5: Direito de Família. – 12. Ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 359-360. 87 STJ, REsp 912926 / RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 22.02.2011 DJe 07.06.2011. Disponível em: Acesso em: 03 de novembro de 2017. 48 pedra de toque para o aperfeiçoamento da união estável não está na inexistência de vínculo matrimonial, mas, a toda evidência, na inexistência de relacionamento de fato duradouro, concorrentemente àquele que se pretende proteção jurídica, daí por que se mostra inviável o reconhecimento de uniões estáveis simultâneas. É importante comentar que apesar de prevalecer nos Tribunais Superiores o entendimento da impossibilidade de relações concomitantes, ainda existem algumas resistências nos Tribunais Estaduais. É o exemplo do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que em um julgado concluiu pelo reconhecimento de união dúplice, onde concorria um casamento com uma união estável. Na decisão foi usada a palavra “triação” para designar a divisão igualitária dos bens do de cujus entre a esposa e a companheira: Apelação. União estável concomitante ao casamento. Possibilidade. Divisão de bem. “TRIAÇÃO”. Viável o reconhecimento de união estável paralela ao casamento. Precedentes jurisprudenciais. Caso em que a prova dos autos é robusta em demonstrar que a apelante manteve união estável com o falecido, mesmo antes dele se separar de fato da esposa. Necessidade de dividir o único bem adquirido no período em que o casamento foi concomitante à união estável em três partes. “Triação”. Precedentes jurisprudenciais. Deram provimento, por maioria88 . Na mesma linha, em 2014 o Tribunal de Justiça do Maranhão também reconheceu a simultaneidade de uniões entre um casamento e uma união estável. Direito de família. Apelação cível. Ação declaratória de união estável post mortem. Casamento e união estável simultâneos. Reconhecimento. Possibilidade. Provimento. 1. Ainda que de forma incipiente, doutrina e jurisprudência vêm reconhecendo a juridicidade das chamadas famílias paralelas, como aquelas que se formam concomitantemente ao casamento ou à união estável. 2. A força dos fatos surge como situações novas que reclamam acolhida jurídica para não ficarem no limbo da exclusão. Dentre esses casos, estão exatamente as famílias paralelas, que vicejam ao lado das famílias matrimonializadas. 3. Para a familiarista Giselda Hironaka, a família paralela não é uma família inventada, nem é família imoral, amoral ou aética, nem ilícita. E continua, com esta lição: Na verdade, são famílias estigmatizadas, socialmente falando. O segundo núcleo ainda hoje é concebido como estritamente adulterino, e, por isso, de certa forma perigoso, moralmente reprovável e até maligno. A concepção é generalizada e cada caso não é considerado por si só, com suas peculiaridade próprias. É como se todas as situações de simultaneidade fossem iguais, malignas e inseridas num único e exclusivo contexto. O triângulo amoroso sub-reptício, demolidor do relacionamento número um, sólido e perfeito, é o quadro que sempre está à frente do pensamento geral, quando se refere a famílias paralelas. O preconceito - ainda que amenizado nos dias atuais, sem dúvida - ainda existe na roda social, o que também dificulta o seu reconhecimento na roda judicial. 4. Havendo nos autos elementos suficientes ao reconhecimento da existência de união estável entre a apelante e o de cujus, o caso 88 TJRS, Acórdão 70024804015, Guaíba, 8.ª Câmara Cível, Rel. Des. Rui Portanova, j. 13.08.2009, DJERS 04.09.2009, p.49 apud TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v.5: Direito de Família. – 12. Ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 352. 49 é de procedência do pedido formulado em ação declaratória.

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