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ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL

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Disciplina: Auditoria Financeira
Autor: Sérgio Rafacho
Unidade de Educação a Distância
ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
Autor: Júlio Flávio de Figueiredo Fernandes
Belo Horizonte / 2012
ESTRUTURA FORMAL DA UNIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÃNCIA
REITOR
LUÍS CARLOS DE SOUZA VIEIRA
PRÓ-REITOR ACADÊMICO
SUDÁRIO PAPA FILHO
COORDENAÇÃO GERAL
AÉCIO ANTÔNIO DE OLIVEIRA
COORDENAÇÃO TECNOLÓGICA
EDUARDO JOSÉ ALVES DIAS
COORDENAÇÃO DE CURSOS GERENCIAIS E ADMINISTRAÇÃO 
HELBERT JOSÉ DE GOES
COORDENAÇÃO DE CURSOS LICENCIATURA/ LETRAS 
LAILA MARIA HAMDAN ALVIM
COORDENAÇÃO DE CURSOS LICENCIATURA/PEDAGOGIA 
LENISE MARIA RIBEIRO ORTEGA
INSTRUCIONAL DESIGNER
DÉBORA CRISTINA CORDEIRO CAMPOS LEAL
KELLY DE SOUZA RESENDE
PATRICIA MARIA COMBAT BARBOSA
EQUIPE DE WEB DESIGNER
CARLOS ROBERTO DOS SANTOS JÚNIOR
GABRIELA SANTOS DA PENHA
LUCIANA REGINA VIEIRA
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
FERNANDA MACEDO DE SOUZA ZOLIO
RIANE RAPHAELLA GONÇALVES GERVASIO
AUXILIAR PEDAGÓGICO
ARETHA MARÇAL DE MACÊDO SILVA
MARÍLIA RODRIGUES BARBOSA
REVISORA DE TEXTO
MARIA DE LOURDES SOARES MONTEIRO RAMALHO
SECRETARIA
LUANA DOS SANTOS ROSSI 
MARIA LUIZA AYRES
MONITORIA
ELZA MARIA GOMES
AUXILIAR ADMINISTRATIVO
THAYMON VASCONCELOS SOARES
MARIANA TAVARES DIAS RIOGA
AUXILIAR DE TUTORIA
FLÁVIA CRISTINA DE MORAIS
MIRIA NERES PEREIRA
RENATA DA COSTA CARDOSO
Sumário
5Unidade 1: Vivendo a Ética Empresarial
25Unidade 2: A Ética como Responsabilidade Social
Ícones
	Comentários
	
	Reflexão
	
	Dica
	
	Lembrete
	
Unidade 1: Vivendo a Ética Empresarial
1. Nosso Tema 
Nesta unidade, abordamos os conceitos básicos da Ética Empresarial, inserida nas várias dimensões das empresas, tais como a estrutura, os processos e a cultura organizacional. Entendemos que é fundamental para você, ao lidar com a gestão estratégica dos negócios, ter clareza da importância das organizações empresariais na construção de uma vida mais digna e mais justa para todos. 
Esperamos que possa desenvolver ao longo desta unidade, uma reflexão sobre as maneiras de vivência dos princípios éticos no dia-a-dia das empresas e sobre as principais dificuldades de implementação de estratégias que tornem essa vivência possível. Para isso, discutiremos os seguintes aspectos:
· A noção clássica de Ética e a posição Ética das empresas contemporâneas;
· Os padrões tangíveis e intangíveis de responsabilidade das organizações;
· Os impasses e as oportunidades de uma Ética Empresarial na era do capitalismo;
· As empresas como lugar de desenvolvimento das pessoas e como referência dos parceiros;
· A integração da Ética Empresarial aos cuidados com a saúde financeira das empresas.
A unidade 1 tem como objetivos de aprendizagem:
· Compreender o que é Ética Empresarial;
· Perceber e lidar com os problemas das empresas na implementação de valores éticos;
· Identificar possibilidades de uma gestão baseada em valores;
· Aproximar os conceitos de Ética das preocupações financeiras das empresas. 
Nosso tema, nesta unidade, visa integrar ao seu aprendizado no curso alguns elementos a partir dos quais você possa definir maneiras éticas de viver, nas empresas. 
Vamos começar?
Para Refletir
A presente disciplina tem como objetivo colocá-lo em contato com as discussões atuais sobre as possibilidades de trazer às empresas e seus gestores consciência sobre o papel social dos negócios.
Como forma de você se predispor de maneira positiva ao tema, sugerimos-lhe que reflita sobre as perguntas a seguir e que, ao final da unidade, possa encontrar suas próprias respostas para elas:
· O que chamamos de Ética? 
· Qual a relação do que chamamos hoje de Ética com a noção clássica sobre esse tema?
· É possível, no nosso tempo, constituir os negócios sob uma Ética Empresarial ou isso se resume a um discurso para tornar as empresas “politicamente corretas”? 
Os tópicos a seguir servirão de subsídio para que você se introduza nessa reflexão com informações básicas para responder a essas e a outras questões.
2. Conteúdo Didático
3.1. A noção clássica de ética e a ética nas organizações empresariais
O termo Ética, que conceituaremos mais adiante, aparece hoje nos meios de comunicação, nos artigos de revistas, nas reuniões de negócios, nos treinamentos internos, na publicidade das empresas. Ao mesmo tempo, a idéia de que vivemos uma crise ética, isto é, uma crise de valores, uma crise de responsabilidade, tem ganhado extrema relevância nos artigos, livros e outras manifestações sobre as condições da vida humana em nossa época. 
Os dois fenômenos (falar de Ética e duvidar da nossa Ética) estão interligados. Falamos muito em Ética justamente por termos dúvidas de que poderíamos chamar de ‘”éticos” os hábitos, os costumes, os valores e as representações que permeiam esses mesmos meios de comunicação, essas mesmas reuniões de negócios, treinamentos, publicidade nas quais o termo Ética é apregoado como uma nova “moeda” e muitas vezes sem uma referência ao que se poderia entender realmente por Ética.
Na década de 80, nos E.U.A, surge o Journal of Business Ethics. Na década de 90, formam-se redes acadêmicas de estudo nos EUA (Society for Business Ethics) e Europa (European Business Ethics Network) e outras revistas, Business Ethics Quarterly (1991) e Business Ethics: a European Review (1992), importantes instrumentos para a globalização do conceito de Ética Empresarial. 
O primeiro problema a gerar a discussão sobre a Ética foi o da irresponsabilidade com os efeitos da produção (setor primário), lançando nos ecossistemas os dejetos industriais. Isso gerou a preocupação com a responsabilidade ecológica das indústrias e, depois, tornou-se um movimento mundial. 
Paralelamente a isso, com o avanço do capitalismo pós-industrial, esgota-se o modelo de gestão de pessoas centrado na idéia de “recursos humanos” das organizações. A nova resposta é considerar as organizações como um complexo cultural e social que vai desde a comunidade interna à empresa até a rede social na qual esta está inserida. Nisso reside um elemento da Ética e, mais especificamente, ao se pensar a empresa como conjunto de pessoas, evoca-se a necessidade de uma Ética Empresarial. 
É em função desse movimento que o mundo corporativo recorre à tradição clássica de reflexão Ética. A intenção é a de buscar nos fundamentos filosóficos da reflexão ética uma aplicabilidade ao dia-a-dia das organizações. 
A primeira contribuição a ser obtida da ética em sua forma filosófica, iniciada entre os gregos antigos, é que ela nos fornece clareza quanto ao que é Ética. Buscamos não somente uma “definição formal de Ética”, o que seria bastante reducionista para nossos objetivos. Em geral, nas referências à questão ética é justamente tomá-la como algo que se define e se aplica, como se aplica uma técnica, etc. que a reduz em amplitude. Em vez disso, apresentamos alguns elementos da reflexão ética que permitem defini-la ao longo do percurso. 
A preocupação ética remonta à Grécia, onde temos notícia de que desde antes do século XIII a.C. já se usava os termos ethos e, derivado deste, o termo ethica e já se tinha uma preocupação com o futuro do ser humano, considerando este como fruto de sua própria ação, individual e coletivamente. 
Veremos as relações entre esses dois conceitos a seguir.
3.1.1. Ethos e Ética, Mores e Moral – a intenção ética e a norma
O termo Ethos, que dá origem à Ethica, é exatamente uma síntese de aspectos que para nós, hoje, são difíceis de unificar. Em nosso tempo, usamos os termos “costumes”, “hábitos”, “atitudes” e “comportamentos” como termos separados. Além disso, nos usos que fazemos hoje da palavra Ética praticamente esquecemos a abrangência e a unidade do conceito de ethos. 
Etmologicamente, o substantivo ethos quer dizer, de uma só vez, entrelaçamento entre, de um lado, os “hábitos repetidos quase sempre” e, de outro lado o “abrigo protetor do homem” (VAZ, 1993, 1999). No conceito de ethos se resume a idéia de conservação de um “lugar para o ser humano” (tradição) e a constante reinvenção desse lugar (transformações).Cada um de nós, cada grupo social, cada equipe de trabalho, somente existe no contraste entre valores que queremos que sejam duradouros e os motivos que a vida nos apresenta para mudarmos esses valores. Essa aparentemente disparidade (permanência e dissolução) caracteriza o ethos humano.
Ética, por sua relação direta com o ethos, tem também dois sentidos. Primeiro, refere-se ao exercício efetivo da invenção do lugar do ser humano, como resultado do conjunto das suas ações e, então, Ética é exatamente a invenção do ethos (da tradição, do abrigo) sempre como provisório.
Segundo, Ética ainda por sua relação direta com o ethos, se refere ao nível de consciência que temos do efeito de nossas ações em conjunto sobre nosso lugar futuro no mundo. Nesse segundo sentido, a Ética é desde a “sabedoria prática no agir” até uma “ciência da ação humana”. 
Em resumo, nas reflexões dos filósofos desde os gregos, segundo Vaz (1993, 1999), Ética se define como 
o exercício constante das virtudes morais, e o exercício da investigação e da reflexão metódicas sobre os costumes (ethea), os hábitos (hexis), o modo de agir (trópos), ações (praxis)
Note que Ethos e Ética, em sua origem, não se separam do esforço de educação formativa e de educação continuada que visavam fazer de cada sujeito humano um “cidadão”, isto é, um elemento consciente de sua plena inserção nos destinos da cidade (Polis). 
Os termos mores e moral, criado pelos latinos, logo depois dos gregos (ainda na Antiguidade,) tem, na etimologia, a mesma preocupação com a invenção – unificada – de um “lugar para os seres humanos” criado pelo conjunto de suas ações (VAZ, 1999). 
Todavia, alguns autores atuais fazem uma sutil diferença entre ethos e mores e, em conseqüência, entre Ética e Moral. Os gregos, por sua cultura, acreditavam que toda ação humana tende para um Bem e que a soma de todos as intenções de chegar a esse Bem seria garantida pela educação dos mais jovens. Já os romanos (latinos), logo depois, acentuam a necessidade de uma coerção social para garantir que as ações humanas sigam esse objetivo de buscar um Bem. 
Disso resulta, então, uma distinção entre a “intenção ética” e a “normatização” que visa à Ética. Na tradição filosófica, essa distinção chega a justificar que, baseados no sentido de ethos, falemos em uma “ética finalista” (ARISTÓTELES, 1985), que credita à intenção ética um papel fundamental, e, baseados no sentido de mores, uma “ética do dever” (KANT, 1984) que credita à norma, principalmente a norma moral racional, o papel preponderante na consecução dos fins éticos.
A inexistência entre nós de uma racionalidade tão luminosa como a pretendida pelos gregos, e herdada pelos autores romanos, faz de suas propostas um conjunto de ideais aparentemente inatingíveis. Mas a idealidade da Ética dos gregos não impede sua profundidade na delimitação dos reais problemas que até hoje são os problemas dos seres humanos com a Ética e que tem sido resgatado no mundo corporativo.
3.1.2. As virtudes e a responsabilidade organizacional dos indivíduos
Nas sociedades antigas, como a dos gregos, a formação recaia sobre a apreensão, pelos educandos, das virtudes (justiça, temperança, coragem, etc.) a serem usadas em todas as situações, desde a família, passando pelos outros grupos até o trabalho, as relações sociais, etc. (ARISTOTELES, 1985). 
Atualmente, as organizações, para formar seu capital intelectual (ou inteligência corporativa) buscam deliberadamente talentos que podem ser descritos como virtudes. Originalmente, as virtudes não são um atributo subjetivo, inalcançável à observação (ARISTOTELES, 1985). Elas se revelam na ação, nas situações reais. 
Virtude, em síntese, é uma habilidade ou uma competência específica pela qual não incorremos em nenhum dos vícios a que ela se refere, mas, ao contrário, conseguimos criar uma ação mediana pela qual os vícios são evitados. Por exemplo, a virtude da “temperança”, ou como diríamos hoje a habilidade de julgar de forma justa para tomar decisões, é um meio termo entre a “atitude apressada” e a “lentidão nas decisões” (dois vícios sempre ao alcance dos seres humanos, sem que se os consideremos “anormais”). 
A Ética nas organizações trata das virtudes nos diferentes níveis de constituição, como, por exemplo, a “estrutura da empresa”, seus “processos” de trabalho pelos quais algo se produz (serviços, produtos), sua “cultura” e um contexto social. 
3.1.3. Cultura organizacional e posição ética
As condições de uma Ética empresarial situam-se na confluência dos três níveis internos da empresa com seus correspondentes externos. Os fatores do sistema social mais amplo incidem sobre a estrutura, os processos e a cultura da empresa (VARGAS, 2005), como ilustra o esquema a seguir: 
A empresa, em determinada época, cria seu próprio lugar (ethos) a partir da intervenção das pessoas que nela trabalham e estas, por sua vez, vivem a cultura de sua época. Por exemplo, o hiperconsumismo, o hiperindividualismo, etc., em nossa época, não estão somente no seio das empresas, esses valores permeiam as representações sociais em todos os níveis.
As sociedades atuais se estruturam pelo modo de produção capitalista e isso influencia diretamente as relações de produção e os modos de estruturação das organizações. Toda a infra-estrutura de uma empresa (capital e trabalho) é sempre montada pelos padrões vigentes da infra-estrutura da sociedade. 
A infra-estrutura das empresas no mundo capitalista dispõe seus recursos em torno dos objetivos que o capital determina, por exemplo, o objetivo irrevogável do lucro. Não há como exigir, na infra-estrutura, outro cuidado do empresário que não o de dispor os seus recursos na direção de obter lucros. Isto se aplica inclusive à compra de trabalho daqueles que, por não serem donos dos meios de produção, tem como única forma de inserir-se no sistema produtivo vender sua força de trabalho (GORZ, 1980, p. 40). 
A infra-estrutura de um sistema social é o nível mais concreto, mais material ao qual podemos dirigir nossa análise. Trata-se do arranjo das forças produtivas (capital e trabalho) que em conjunto garantem a produção dos serviços e produtos de que necessitamos para viver. Esse arranjo é sempre estrutural e não contingente.
No nível dos processos, as relações entre as empresas e o ambiente externo se dão de maneira mais flexível. Os avanços da tecnologia, completamente distintos para cada uma das várias áreas de empreendimento em nosso mundo contemporâneo, geram uma diversidade de padrões externos e internos às empresas, de acordo com sua vocação e de acordo com as necessidades de processos para a produção de seus serviços ou produtos. 
Os padrões gerais, tecnológicos e teóricos, gerados nos campos de investigação e nas agências educativas (escolas e faculdades, etc.) chegam de maneira muito diversa nas empresas. Na medida em que as pessoas são inseridas na organização já trazem consigo esses padrões, que são adaptados ou “calibrados” ao ambiente interno com alguns esforços de treinamento e desenvolvimento. 
É no nível da cultura organizacional que mais se tem discutido a possibilidade de implementação de uma Ética empresarial (VARGAS, 2005; ARRUDA et al, 2001; MARTINELLI, 1997). Certamente, podemos afirmar que a cultura de uma empresa funciona como abrigo protetor às mudanças do mundo em geral. Se os processos e a estrutura são sempre mais flexíveis, se a tecnologia, por exemplo, pode ameaçar a segurança quanto aos procedimentos, ela não necessariamente ameaça os padrões culturais que a empresa forjou ao longo dos anos. Disso decorre a maior durabilidade da cultura em relação aos processos (VARGAS, 2005) e às adaptações da empresa aos vários estágios da estrutura capitalista, que exige reestruturações sistematicamente. 
3.2. Padrões tangíveis e intangíveis de responsabilidade social
O mais instigante problema da instituição de uma Ética empresarial tem sido a dificuldade de adotar indicadores considerados intangíveis, dando a eles a mesma importância dada aos indicadorestangíveis de sucesso, como o resultado financeiro. 
É em função disso que se tem discutido, de forma condenatória, a distorção da “intenção ética” propiciada por algumas empresas que, baseadas apenas na lógica dos padrões tangíveis, como o balanço financeiro, anunciam como sua Ética empresarial algumas “ações desenvolvidas na comunidade”. 
Logicamente essas medidas podem ser parte de uma projeto mais amplo e que implica desde cedo uma mudança da visão que se tem da empresa na comunidade. Entretanto, não basta parecer correto em sua responsabilidade social. Como veremos a seguir é possível desenvolver uma Ética empresarial levando em conta tanto os padrões tangíveis quanto os intangíveis. 
3.2.1. A relação empresa-ambiente baseada em padrões tangíveis
As principais estratégias das empresas para se manterem competitivas e assumirem seu papel social tem sido buscar, ao máximo, oferecer produtos e serviços de qualidade cada vez mais aceitável. A conduta ética da empresa, assim, é negociada internamente como forma de contribuição para os excelentes resultados, servindo até mesmo para comparar investimentos da mesma natureza feitos por concorrentes (TACHIZAWA, 2007).
Em vários países, o ambiente jurídico tem sido adaptado a propiciar a exigência de pelo menos esse nível de implementação de uma Ética empresarial. Os resultados são os cuidados em não violar as regras morais e os padrões legais, como forma de se proteger e garantir espaço no mercado específico de cada empresa. Nesse sentido, os investimentos em novas tecnologias e estratégias agressivas deixaram de ser um caminho cego, visando apenas aos interesses dos investidores das organizações e seu fortalecimento no mercado. 
A absorção dos avanços tecnológicos passa a ser parte de um plano mais amplo de sustentabilidade do negócio. Como efeito desse movimento, surge no mercado financeiro um tipo de investimento que atrela ações éticas a valores tangíveis. 
Somente como ilustração, podemos citar os fundos denominados de fundos de Ação Social, lançados no setor bancário com aplicações de até R$300.000,00 de limite mínimo. Parte das taxas cobradas para administração se destina a ajudar entidades carentes apoiadas por programas sociais desenvolvidas pelos próprios bancos, como escolas, creches e asilos (JORNAL O GLOBO, 2002). 
Essa nova geração de fundos privilegia os investimentos em projetos éticos e socialmente responsáveis como outros investimentos. A novidade é a de que esses fundos trazem aos investidores rentabilidade até mesmo superior à de mercado. Alia-se, então, à responsabilidade ética maior credibilidade no mercado, conseguindo atrair mais investidores que procuram além da rentabilidade, segurança e liquidez nos seus investimentos.
Ainda que os meios de comunicação, alguns setores das instituições financeiras e alguns investidores avaliem as organizações por suas demonstrações contábeis, têm ganhado destaque aquelas organizações que possuem um discurso social e ético. Casos exemplares de falência de grandes empresas, cujos valores eram apregoados sem relação com as demonstrações contábeis, serviram para divulgar mais amplamente a dificuldade de basear o julgamento da efetivação de uma Ética empresarial apenas por fatores tangíveis.
É nesse contexto que se passa a dar atenção aos fatores intangíveis, como veremos no item a seguir. 
3.2.2. Marca, prestígio e confiabilidade como escolha moral
O primeiro estágio de uma atenção ao nível dos fatores intangíveis de construção de uma responsabilidade pelo ethos da empresa pode ser ilustrado pela adoção, em várias empresas, da figura do deontologista (deontologia é o estudo dos efeitos das normas morais e legais sobre o comportamento ético) como consultor nas tomadas de decisões. Esse é o caso, por exemplo, da Price Waterhouse Coopers, empresa francesa, para a qual a Deontologia está se transformando em um elemento fundamental da gestão para o sucesso das empresas numa nova etapa do desenvolvimento capitalista, que sem dúvida é uma forma de implantar práticas voltadas para ética (FERREIRA, 2004). 
O cuidado com a norma moral, expresso na adoção dos códigos deontológicos da empresa, baseia-se em instrumentos para “premiar” ou “condenar” práticas éticas e responsáveis desenvolvidas pelas empresas. A esperança com isso e a de que os investidores passem a considerar, em suas análises, cada vez mais a forma (e não somente o resultado) como as empresas estão realizando seus lucros e oferecendo o retorno aos acionistas e investidores.
A imagem institucional, em consonância com esses princípios, torna-se, assim, um bem adquirido pelas empresas na medida em que promovem a aceitação pública de sua atuação e propostas. Os ativos intangíveis são forças que aproximam a perpetuidade das organizações, tornam as marcas fortes e, pelo respeito que inspiram, atraem investidores e proporcionam retorno para os acionistas.I
3.2.3. Imagem organizacional e identidade empresarial
No mundo globalizado, o problema da imagem da empresa e da sua identidade junto aos envolvidos não é apenas quantitativo, isto é, não se trata apenas de estratégias de comunicação para atingir maior número de pessoas. 
A adoção de princípios éticos na organização exige uma outra compreensão da própria função interna da comunicação na empresa. Única instância capaz de atingir a cultura organizacional, a comunicação não pode se reduzir a formas de veicular mensagens. Comunicar, com a intenção de efetivar a Ética empresarial, implica escutar todos os envolvidos na maneira de construir a sustentabilidade do negócio.
Um das estratégias mais eficientes para a efetivação de uma Comunicação de mão dupla nas empresas é o incentivo às formas de “investigação” e de criação de “estudos internos” sobre a empresa, ligados à formação continuada dos funcionários. Esses estudos podem gerar relatórios setoriais ou gerais que sirvam de veiculação da informação sobre a compreensão que os funcionários têm da empresa.
Para dar mais consistência a essa estratégia algumas empresas se alinham aos setores do conhecimento ligados ao seu ramo de atividades. Essas iniciativas vão desde o convênio com centros educacionais (faculdades, escolas técnicas, etc.) para estágios dos alunos em formação profissional até a adoção de uma universidade corporativa. 
Em ambos os casos, a formação das pessoas envolvidas com a empresa pode se exercer com vistas aos princípios de que a verdadeira dimensão garantidora de uma ética empresarial é a formação humana continuada das pessoas.
A transparência gerada com esse esforço pode se refletir na inserção mais efetiva das pessoas nos objetivos da empresa. Na medida em que conhecem melhor e participam diretamente da criação de idéias que moldam a identidade da empresa e as qualidades simbólicas atreladas à marca, podem fornecer elementos fundamentais para a comunicação externa. 
Como você associa a sua formação profissional em um curso superior, a sua entrada no mundo do trabalho e o esforço feito por você depois da graduação? Qual o nível de continuidade e quais as rupturas havidas nesse processo? Como as empresas poderiam integrar o conhecimento produzido por seus funcionários aos processos e à cultura organizacional? 
3.3. A ética empresarial e o capitalismo
O efeito mais direto do debate sobre a Ética empresarial nas empresas é a correção da projeção pessimista quanto aos rumos do capitalismo. Se na infra-estrutura, como definia Marx, nada se modificou quanto à divisão de classes, na discussão ideológica, com a emergência nos últimos anos de relatórios mais severos quanto ao resultado da ganância para o esgotamento dos recursos naturais, têm surgido sinais de um alerta importante. 
A chamada “economia pura”, assim, é invadida por uma preocupação que pretende enfrentar os desafios do capitalismo, ao menos exigindo daqueles que antes somente pensavam em maximizar a riqueza, que se justifiquem do ponto de vista de sua contribuição para a invenção de um ethos humano do futuro. O que a ética empresarial preconiza é a reflexão levadaa efeito em formas objetivas de inserir a empresa em seu ethos, levando em conta o bem a ser garantido como abrigo protetor (como é o sentido do termo ethos para os gregos) a todos. 
Trata-se de resgatar, no seio do modo de produção capitalista, qual a melhor forma de evitar que a marca da vida econômica do nosso tempo continue sendo a negação do ser humano em sua essência. A Ética empresarial faz com que as empresas deixem de ser apenas o alvo de críticas por seu objetivo de lucro desenfreado e assumam sua responsabilidade cultural e ética de garantia de um futuro promissor para todos. 
O fator primordial para essa posição é a criação da consciência interna de que a invenção do ethos humano é feita ao longo de muito tempo. Mas que é no dia-a-dia e nas atitudes simples que se propiciam condições objetivas para uma percepção mais elevada do lugar de cada um. O trabalho pela Ética é coletivo e para ele não há uma instância reguladora senão a própria consciência da condição humana, da multidependência e, enfim, da condição de “sociedade global” da qual toda empresa participa. 
3.3.1. O conflito “Global versus Local” refazendo valores
A empresa tem grande responsabilidade na comunidade global justamente por ser ela, ao mesmo tempo, a instância local que pode permitir uma resistência ao aniquilamento dos valores humanos. Para isso, basta percebermos, para além da mera análise dos negócios no mundo globalizado, como uma resposta a pressões sociais e econômicas criadas pela globalização. 
É necessário reconhecer que a pressão exercida pelos vários mercados que compõem a globalização força as empresas e suas equipes a se auto-analisarem continuamente. E é exatamente esse auto-exame, principalmente se ele for baseado em padrões de crítica racional, a exemplo daquela que os filósofos gregos fizeram de seu tempo, que cria a consciência necessária de que no movimento global contemporâneo se constrói um novo Ethos. 
Para essa construção, contribui imensamente a maneira como as empresas, em todo o mundo, propiciam a suas equipes o acesso a um nível de compreensão mais profundo do lugar da empresa. As empresas, assim como o Estado, têm seu papel alterado nos últimos anos. É bem mais amplo o papel da empresa e, em contraste a isso, as dificuldades em funções costumeiras auto-atribuídas pelo Estado têm forçado os representantes deste a redimensionarem seu papel. 
3.3.2. Os mercados e a responsabilidade empresarial
No mundo globalizado, a organização empresarial ganha um intenso papel de instância de transformação (ou de estagnação) das sociedades. Aquilo que ela lança aos mercados do qual participa tem efeitos não somente financeiros. Se ela coloca no mercado negociantes com capacidade limitada de análise da realidade isso se reverte em um conjunto de relações sociais alienantes. Se ela estrutura sua produção, seu gerenciamento e a relação com a sociedade de maneira mais consciente, o efeito é um aumento da consciência em geral sobre a realidade. 
A diversidade dos mercados e a diversidade de soluções que eles exigem não podem obscurecer a unidade do papel da empresas na instituição do ethos contemporâneo. Essa pode ser uma boa forma de responder à provocação de Friedman, nos anos setenta: “Se homens de negócios têm outra responsabilidade social que não a de obter o máximo de lucro para seus acionistas, como poderão saber qual seria ela? Podem os indivíduos decidir o que constitui o interesse social?” (FRIEDMAN, 1984, p. 123). 
Em resumo, teríamos que acrescentar a esse objetivo a consciência do efeito da empresa, como forma contemporânea de ordenamento da vida humana e responsabilidade pela efetivação criativa dos novos elementos do ethos humano para os próximos séculos. A empresa, mais do que o papel defensivo, de não causar prejuízo, deverá ter em sua cultura e seus objetivos fornecer condições deliberadas para a invenção desse ethos.
3.3.3. As lideranças éticas e o capital intelectual 
A influência desse novo papel da empresa sobre os sujeitos humanos nas organizações empresariais é notória. A desestabilização das funções estanques criou a exigência de um novo tipo de formação, alinhado ao novo papel das empresas. As habilidades e competências que capacitam para o contexto globalizado dependem da inserção das pessoas nas exigências feitas à empresa (DANIELS, 1996, p. XXXI). 
As seguintes características ou habilidades são necessárias ao novo administrador: Formação humanística e visão global; Formação técnica e científica; Internalização de valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional; Competência para empreender ações e para analisar criticamente as organizações; Compreensão da necessidade do contínuo aperfeiçoamento profissional e do desenvolvimento de autoconfiança; Atuação de forma interdisciplinar. 
Mais do que lideranças técnicas ou de referências operacionais, esse perfil indica uma exigência de a empresa obter em seus quadros lideranças éticas. Isto é, líderes com percepção suficiente do lugar da empresa na construção do ethos e com capacidade de traduzir essas exigências para os negócios da empresa, para a crítica de seus processos e com capacidade de agir sobre a cultura da empresa influenciando-a na direção da atualização. 
3.4. Ética e Relações Humanas nas organizações
Somente há seres humanos na relação com outros. Não somente outros seres humanos mas qualquer interesse ligado à realidade das empresas presentificam, hoje, uma dimensão relacional para o trabalho. Na empresa como também na família, na escola, na sociedade, os valores se criam e se modificam por meio das relações. Nesse conjunto de relações, podem-se definir dois tipos de posição, a depender do lugar do outro com o qual nos relacionamos: 
- A ética do interesse próprio;
- A ética orientada para o outro.
3.4.1. A vantagem econômica e a ética do interesse próprio
Na ética do interesse próprio, o agente se guia, inclusive, naquilo que proporciona ao outro, pela máxima de que “é interesse fazê-lo”. Nessa concepção, a empresa cumpriria seu papel social mantendo-se viva e com o máximo de saúde (financeira, econômica, administrativa) e obtendo lucros que possibilitem melhorar cada vez mais sua posição. 
A ideologia do laissez-faire (saber fazer), há mais tempo, ou , mais recentemente as ideologias liberal e neo-liberal colocam como central na responsabilidade social da empresa aumentar o lucro e maximizar os retornos. 
Todas as ações feitas pelos outros, cuidado dos empregados, bem estar social e qualidade dos produtos ou serviços tem como fio condutor a maximização dos resultados econômicos da empresa ou do negócio. Nesse caso, resume-se a preocupação ética ao cumprimento da legislação específica e geral que impliquem as atividades da empresa. 
3.4.2. Stakeholders e a ética voltada para o outro
Stakeholders é uma expressão inglesa que designa as partes interessadas em um negócio ou empreendimento. Qualquer individuo ou grupo cuja ação, opinião ou atitude que possa afetar o negócio ou ser por ele afetado. Os stakeholders são “o público interno”, “os fornecedores”, “os consumidores”, “a comunidade”, “o governo”, “os acionistas”, etc. É comum nas empresas, inseridas na preocupação com a Ética empresarial, a preocupação, o mapeamento das stakeholders a ela atrelados (NBR 16001).
Por essa noção, são importantes desde as questões trabalhistas (que interessam os funcionários) até as instituições do meio ambiente (que interessam à vida no planeta). A ética orientada para os outros visa exatamente, como ponto de referência da empresa, à valorização do benefício do todo. 
Em uma analogia às relações pessoais, podemos dizer que a ética voltada para o outro tem, por princípio, que “é fazendo o outro feliz que eu vou me realizar, sentir-me bem e feliz”. 
No crescimento dos outros, pela implicação deles com o negócio da empresa, esta pode crescer, por meio de suas equipes. Como preconizava a ética kantiana, os outros não são meios para a realização dos objetivos do agente e sim fins em si mesmos que se atrelam,socialmente, aos objetivos da empresa. 
Na perspectiva dos negócios, o valor agregado pelos serviços é, em primeiro lugar, a referência da posição da empresa. Seguindo-se a isso se pode esperar a obtenção de ganhos financeiros, mas estes serão a médio e longo prazos, efeitos do posicionamento ético da empresa. 
Essa “riqueza simbólica” da empresa não se resume a uma qualificação sem efeitos em seu objetivo de obter resultados. Para Peter Drucker, o sucesso de uma empresa se inicia pela acumulação de conhecimentos tecnológicos e de conhecimentos organizacionais somente depois, como conseqüência, tem-se a acumulação de capitais (DRUCKER, 1993). 
3.4.3. A organização como comunidade de pessoas
A empresa dispõe de muitos recursos para gerir seu conjunto de valores, fundamentos de sua Ética empresarial, tais como os códigos deontológicos, as cartas de valores, as políticas de gestão. A cada realidade se pode encontrar mais vantagens do entrelaçamento entre esses documentos, mas, o importante é que, em todos eles, a empresa seja vista como um conjunto de pessoas. 
Isso implica admitir que as tomadas de decisão são de pessoas sobre pessoas, visando aos objetivos da empresa; que os instrumentos de regulação são instrumentos de ordenamento da ação de pessoas, com todas suas características habilidosas e de falibilidade; que as políticas de gestão não são somente gestão das pessoas, são políticas para gestão com as pessoas, sujeitos com capacidade de analisar e criticar a realidade a sua volta. 
O envolvimento das pessoas no contexto de criação do sentido do ethos da empresa depende de criar, para cada um, um elemento de sentido de sua vida na empresa. Trata-se de optar por uma noção de liderança que implica muito mais fazer surgir o sentido da ação para as equipes do que fornecer a elas modelos prontos e arcaicos, cujos efeitos terão apenas o valor formal. 
É necessário admitir as diferenças internas entre as pessoas como diferenças que tocam a liberdade. As várias intencionalidades que a empresa abarca se mantêm ao longo do tempo como a tensão estrutural que faz dela uma comunidade de seres humanos. Assim, o empresário não terá o mesmo interesse no lucro do que o funcionário que dele participa somente em pequena parcela. O esforço voluntário de inserção dos funcionários nos objetivos da empresa, a auto-motivação e as resistências a determinados aspectos da cultura da empresa dependem da absorção ou não dos diversos objetivos de vida das pessoas. 
Note que mais do que um dos aspectos em jogo na Ética Empresarial, a dimensão humana, tanto na instância interna como externa à empresa, é o fator primordial. Das pessoas em suas relações se sedimentam os elementos (hábitos, costumes, interditos) que formam o ethos humano, do qual a empresa participa.
3.5. Ética e Finanças
Conforme já discutimos, a insistência nos indicadores tangíveis pode se tornar crônica nas empresas, mesmo em meio ao movimento mundial de retomada da questão ética da contemporaneidade. Nesse caso, é importante ressaltar qual seria a lógica dessa estagnação e que expedientes se poderia inventar para superá-lo. 
3.5.1. O lucro como finalidade (o bottom line)
É uma direção possível a de que os líderes de uma empresa mantenham-se alinhados ao discurso da eficiência, em detrimento da consideração da Ética empresarial. Na verdade, a tomada de decisões pela conhecida equação da relação custo-benefício (o bottom line para os americanos), não está absolutamente superada. 
Há uma pequena passagerm na qual se diz que o lendário Alfred Sloane, presidente executivo da General Motors, nos anos trinta, ao ser colocado diante do vidro de segurança, quando ia ser colocado no pára-brisas dos automóveis produzidos pela sua empresa, rechaçou a idéia com a seguinte frase: “Se eu aceitar todas as bobagens que me são propostas, onde vai parar o dividendo dos acionistas?” (NADAS, 2007). 
Logicamente, não temos mais empresários com esse discurso oficial, mas como saber se o elemento central de decisão sobre os assuntos que remetem à Ética não se resume a esse princípio? 
A empresa, então, pode criar transparência nas suas ações ligadas à responsabilidade com a construção do seu ethos. A consonância com a retomada dos valores éticos pode ser exposta se a empresa mostrar como ela se insere no modo de produção de seu setor. De que forma esse setor e, nele as ações concretas da empresa, poderia, por exemplo, visar à justiça social e manter-se em seus objetivos empresariais?
É necessário esclarecer muito bem que a discussão da posição ética de uma empresa não elimina seu objetivo de lucro. Isso seria pensar uma situação ideal e fazer do esforço ético uma utopia como as muitas que já foram enterradas. 
A orientação, portanto, de uma discussão do modo de implementar a Ética empresarial de uma organização se inicia pela transparência de sua saúde financeira e exige não perceber que há distintos modos e participação das empresas na constituição de valores éticos, segundo sua natureza.
3.5.2. A pressão do balanço financeiro
A discussão sobre a liderança em estratégias de constituição de uma Ética empresarial exige distinguir as diferenças entre as empresas, como, por exemplo, entre sociedades de capital aberto e empresas de capital fechado. 
As empresas de capital fechado tem sua lista de stakeholders diferente daquelas de capital aberto. Isso não elimina o debate da publicidade e da transparência quanto aos resultados financeiros como estratégia ética. A chamada “boa governança corporativa” é também tema que interessa às empresas de capital fechado, ao menos na medida em que dependem de autofinanciamento, de operações de private equity (investimento em valores mobiliários de empresas com expressivo potencial de investimento) ou, ainda, de financiamento do sistema bancário. 
Para ambos os casos, passa-se a estudar as influências das variações patrimoniais não apenas nas entidades, mas também na sociedade e no meio-ambiente. A efetivação e êxito desses recursos exigem da empresa uma atenção especial aos stakeholders cuja participação se torna decisiva para a obtenção de uma visão ampla dos efeitos dos investimentos nas referências éticas. 
O objetivo desse envolvimento da área de controle financeiro e contábil com os objetivos da responsabilidade social é compreender a empresa como uma relação entre pessoas, produção e o ambiente externo. A entrada desde área na discussão ética é significativa uma vez que ela representa, historicamente, o “último reduto” da recusa em considerar a abrangênica dos esforços pela construção de um lugar social para a empresa. 
A tendência assim surgida, em vez de tomar a pressão do balanço financeiro como impedimento à Ética empresarial cria o fato de algumas empresas conseguirem sistematizar, com ou sem consultoria especializada, critérios para um balanço que inclua os iniciadores intangíveis. 
Esse é o caso do chamado “balanço social”, que veremos no último item desta unidade, a seguir. 
3.5.3. O balanço social
Balanço social é um tipo de relatório implantado em algumas empresas, a partir do qual elas mostram, por critérios verificáveis, o quanto valorizam as pessoas, o trabalho, a dignidade humana e a participação das pessoas na modificação da cultura organizacional. 
O demonstrativo indica a relação dos recursos e investimentos específicos da empresa, em sua interligação com o ambiente externo, e com a influencia direta e indireta de uma sobre a outra dessas duas dimensões. O balanço procura mostrar em que medida há uma responsabilidade social inequívoca entre a empresa e a sociedade (LOPES DE SÁ, 1998; 1999). Nesse tipo de balanço, a verdade dos impactos é tratada como campo de estudo sobre a circulação da riqueza entre a entidade e a sociedade, buscando determinar relações de causa e efeito. 
Certamente, como veremos na unidade seguinte, há vários problemas para auferir os impactos entre empresa e sistema social. Os impasses metodológicos, entretanto, não sucumbem ao ideal de fornecer à empresa e à sociedade mecanismospelos quais seja possível comunicar os esforços e problemas das empresas com uma “Contabilidade Social”, até então apenas suposta como possível. 
Os princípios da Ética empresarial, assim, ganham um cunho de ações efetivas, disponíveis ao exame histórico dentro da empresa, visando acompanhar a mudança a médio e longo prazos. Ganham, também, um expediente afeito às tradições de controle financeiro, mas incluindo-se os valores intangíveis, tais como o significado dos seres humanos, da credibilidade, das referências criadas pela empresa para constituir seu lugar com responsabilidade social. 
Na próxima unidade, voltaremos a esse assunto, dando maior ênfase aos modos de implementação da responsabilidade social da empresa. 
3. Teoria na Prática
Para que você se informe sobre a prática no Brasil do que estudou nesta unidade, apresentamos a seguir trechos retirados da segunda edição (2006) da pesquisa realizada pelo IPEA, denominada “Iniciativa Privada e o Espírito Público - A evolução da ação social das empresas privadas no Brasil”. De 2000 (primeira edição) para 2004 (segunda edição) houve um crescimento significativo na proporção de empresas privadas brasileiras que realizaram ações sociais em benefício das comunidades, 59% para 69% do total pesquisado. 
Dados gerais sobre os resultados finais
· 600 mil empresas atuam voluntariamente; 
· Em 2004, houve investimento de R$ 4,7 bilhões - 0,27% do PIB brasileiro naquele ano;
· Apenas 2% das empresas que atuaram no social fizeram uso de incentivos ficais, cerca e 40% dos empresários alegaram que o valor do incentivo era muito pequeno e não compensava seu uso, para 16% as isenções permitidas não se aplicavam às atividades desenvolvidas e outros 15% nem mesmo sabiam da existência de tais benefícios; 
Crescimento da participação das empresas segundo as regiões
· Na região Sul, houve o maior incremento na proporção de empresas atuantes, que passou de 46%, em 2000, para 67%, em 2004;
· No Nordeste, aumentou a atuação de 55% para 74%;
· No Sudeste em 2004, houve 71% de participação;
· Na região Norte, houve expansão de 49% para 64%;
· No Centro-Oeste, houve um crescimento de 50% para 61%; 
· As grandes empresas apresentaram a maior taxa de participação em ações comunitárias (94%)
· Entre as micro-empresas (até 10 empregados) o crescimento foi de 54% para 66%; 
· Entre as empresas de médio porte (101 a 500 empregados), cresceu de 67% para 87%. 
Crescimento da participação das empresas segundo os setores econômicos
· O setor de agricultura registrou um aumento de 45% para 80%;
· O setor de construção civil passou de 35% para 39%; 
· Os demais setores oscilaram entre 69% e 72% das empresas. 
Áreas de atuação com maior número de ações 
· Ações voltadas para alimentação, área prioritária de atendimento com 52%;
· Ações voltadas para assistência social 41%.
Público alvo das ações
· Atendimento à criança, foco principal das empresas com 63% das empresas;
· Ações em prol de idosos com 40%;
· Ações em prol de portadores de doenças graves 17%. 
Dificuldade ou impedimentos para o desenvolvimento de ações sociais comunitárias
· Falta de dinheiro - 62% das empresas;
· Ausência de incentivos governamentais - 11%; 
· Empresa que nunca pensou nessa possibilidade - 5%;
· Empresa acredita que este não seja seu papel - 5%.
A Pesquisa ouviu, também, a percepção dos empresários sobre o seu papel na realização de ações voluntárias em benefício das comunidades. A grande maioria (78%) acredita que é obrigação do Estado cuidar do social e que a necessidade de atuar para as comunidades é maior hoje do que há alguns anos (65%). Há, portanto, uma compreensão, no mundo empresarial, de que a atuação privada não deve substituir o poder público, tendo um caráter muito maior de complementaridade da ação estatal. 
Ranking 
Embora a Pesquisa não pretenda estabelecer um ranking dos estados que têm ações voluntárias para a comunidade, apresenta a seguinte ordem: Minas Gerais (81%) continua em primeiro lugar, sendo seguido por Santa Catarina (78%), Bahia (76%), Ceará (74%), Pernambuco (73%) e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (72%). 
4. Recapitulando
A partir dos temas indicados e discutidos nesta unidade, você pôde formular sua própria opinião sobre o lugar da Ética Empresarial na gestão das empresas. 
Você deve ter percebido que a noção de Ética adotada nas iniciativas empresariais, discutidas ao longo da unidade, tem grande relação com a noção clássica de Ética, para a qual Ética é, ao mesmo tempo, “inventar o lugar do ser humano no mundo” e “valer-se da luz da racionalidade” para fazer desse lugar o “melhor possível”.
Vimos, ainda, que, diferentemente da “ética profissional”, a Ética Empresarial envolve toda a organização, em sua estrutura, em seus processos e em sua cultura e não se restringe à adoção de normas de comportamento. 
No sentido amplo que a Ética Empresarial implica para a participação das pessoas é importante a presença na empresa de lideranças éticas e, ainda, de uma comunicação com as equipes que privilegie o modo singular de cada integrante da empresa na invenção de uma inserção desta no ethos contemporâneo. 
Percebemos, também, que há dificuldades das empresas em se dispor para essa mudança e que o balanço financeiro exerce uma grande pressão sobre essa recusa. Entretanto, a idéia de um balanço social, a ser tornado público, ajuda a envolver a área financeira na discussão ética. 
Esperamos, também, que você tenha compreendido que a própria vivência de uma Ética Empresarial é um sinal da possibilidade de um esforço geral, que implique a empresa, para minimizar os efeitos nocivos do modo de produção capitalista sobre as pessoas.
5. Amplie seus Conhecimentos 
Para ampliar seus conhecimentos com uma verificação prática, visite o site das empresas listadas no quadro a seguir, que atuam no Brasil, e leia seus documentos procurando compreender a forma específica que elas adotaram para implementar uma Ética. Veja no quadro os dados de receita líquida, lucro e patrimônio e compare esses números com os que você encontrar sobre os investimentos em ações de responsabilidade social. 
· Valores em R$ milhões:
	Empresa
	Receita Líquida
	Patrimônio Líq.
	Lucro Líquido
	Ativo Total
	1
	Petrobras
	85.574,40
	64.253,60
	17.754,20
	137.635,90
	2
	Cia. Vale do Rio Doce (CVRD)
	13.088,00
	18.170,00
	6.460,00
	35.339,00
	3
	Usiminas
	6.683,10
	6.010,00
	3.053,70
	11.271,10
	4
	Gerdau Açominas
	10.036,40
	4.766,00
	2.483,50
	9.590,00
	5
	CSN
	8.134,50
	6.844,50
	2.145,00
	25.724,00
	6
	CST
	4.788,00
	6.760,00
	1.624,40
	10.281,90
	7
	Embraer
	9.245,30
	4.606,60
	1.278,10
	13.921,70
	8
	Cimento Rio Branco
	1.792,60
	4.439,80
	1.160,80
	5.045,40
	9
	Belgo-Mineira
	1.661,00
	3.463,60
	1.059,90
	4.669,20
Fonte: www.ipib.com.br (disponível em 21 de agosto de 2007).
Unidade 2: A Ética como Responsabilidade Social
1. Nosso Tema
Na presente unidade, vamos tratar mais especificamente a abordagem da Ética nas empresas como Responsabilidade Social Empresarial. 
Pretendemos que você entenda os negócios, aos quais você oferecerá sua visão estratégica para o gerenciamento, como oportunidades de efetivar os princípios da responsabilidade empresarial que, claramente, tem um papel fundamental na invenção do ethos humano a médio e longo prazos. 
Os temas a serem discutidos são:
· Dívida social do estado e papel social das empresas;
· Indicadores da responsabilidade social empresarial;
· A responsabilidade social no planejamento estratégico;
· Responsabilidade social, publicidade e marketing;
· Responsabilidade socioambiental.
A unidade 2 tem como objetivos de aprendizagem:
· Compreender o que é Responsabilidade Scioambiental Empresarial;
· Visualizar possíveis formas de inserção das empresas no movimento mundial pela sustentabilidade;
· Integrar a perspectivas de gestão estratégica de negócios a função social das empresas.
Esta segunda e última unidade visa complementar e especificar a maneira pela qual a Ética empresarial desemboca na responsabilidadesocial. 
Bom trabalho!
Para Refletir 
A intenção ética sem dúvida está presente nas organizações empresariais. O desafio quanto a isso será o de, em alguns anos, vermos efetivadas mudanças profundas na consciência do homem de negócios, quanto à natureza das ações objetivas que introduzem as empresas em seu lugar de destaque na invenção de uma vida mais digna para os seres humanos. 
Pretendemos, como já foi anunciado na unidade anterior, que você construa suas próprias respostas para as perguntas fundamentais que esse assunto gera. Como sugestão de orientação para sua leitura e para que você acompanhe esta unidade, propomos-lhe as seguintes indagações:
· A Ética como reflexão sobre o lugar dos seres humanos (ethos) pode se transformar em ações corporativas visando à implementação de uma economia sustentável? 
· As utopias de uma vida melhor para todos poderiam ser adotadas pelas empresas ou isso seria mais uma forma de cooptar os discursos que apregoam essa vida melhor e acusam os empresários de impedi-la por pensarem somente em lucros? 
· Existem propostas definidas para a inserção das empresas em um movimento mundial pela qualidade e pela preservação das relações sociais e do meio ambiente? 
Nos tópicos desta unidade, esperamos que você encontre subsídios para inventar uma resposta aplicável à sua atuação como profissional da gestão de negócios. 
2. Conteúdo Didático
3.1. Dívida social do estado e papel social das empresas
As organizações empresariais ganharam uma participação mais efetiva na construção do ethos humano desde o surgimento do capitalismo. É no modo de produção capitalista, mais do que nos modos anteriores (escravismo e feudalismo), que a vida humana se desenvolve em torno da vida das empresas. 
A ética empresarial estabelece, nos vários níveis da empresa (estrutura, processos e cultura), a inserção das organizações no ethos humano. A responsabilidade social e ambiental situa a posição ética em relação a dois fatores dos sistemas sociais contemporâneos: os grupos sociais e o meio ambiente. 
Responsabilidade Social Empresarial se define como compromisso com o resgate das desigualdades sociais e no comprometimento contra as possíveis catástrofes ambientais que resultariam do descuido. É o que temos no seguinte enunciado: 
Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (ETHOS, 2007, p.1)
Nessas duas perspectivas – do cuidado com os grupos humanos e do cuidado com o meio ambiente – a invenção do ethos humano, como tarefa também empresarial, se transforma em Responsabilidade socioambiental da Empresa. 
No item a seguir, veremos com mais detalhes esses elementos.
3.1.1. Liberdade, justiça e desenvolvimento social
Os mesmos grupos sociais que são clientes das organizações empresariais são também grupos de interesse do Estado. Entretanto, ao Estado cabe o cuidado desses grupos quando o interesse não é o lucro. São várias as instâncias governamentais atreladas ao “trabalho social” como esforço de resgate de uma suposta “dívida” que as sociedades contemporâneas teriam para com uma grande parte da população. 
Os conflitos estruturais da sociedade capitalista e as ações concretas das organizações empresariais podem não distinguir entre, de um lado, o objetivo da responsabilização, bastante amplo e calculado a médio e longo prazos, e, de outro lado, as ações localizadas e de curto prazo, sem efetividade estrutural. 
Como veremos a seguir, a perspectiva contemporânea tem sido a de buscar maior clareza sobre o quanto a liberdade das empresas, em decidir sua forma de inserção na temática socioambiental, pode promover a justiça social (resgate da “dívida social”) e, ao mesmo tempo, proporcionar a sustentação de um efetivo desenvolvimento social, que não se resume à filantropia. 
3.1.2. Filantropia versus desenvolvimento sustentável
São tradicionais, em todos os setores produtivos, a ajuda esporádica das empresas a eventos e campanhas filantrópicas. Mais recentemente, essa prática sistematizou-se a ponto de várias organizações terem em sua estrutura setores ligados ao “marketing social” (TACHIZAWA, 2007). 
A efetiva mudança na direção da responsabilidade socioambiental somente se efetivará se, além de perseguir uma cultura da responsabilidade social e de manter em sua estrutura lugar para esse esforço, as empresas inserirem esse cuidado em seus processos de produção de produtos e serviços. 
Sobre isso, diz Tachizawa (2007) que o conceito de responsabilidade social e ambiental deve se expressar como:
compromisso com a adoção e a difusão de valores, conduta e procedimentos que induzam e estimulem o contínuo aperfeiçoamento dos processos empresariais, para que também resultem em preservação e melhoria da qualidade de vida da sociedade do ponto de vista ético, social e ambiental. (TACHIZAWA, 2007, p. 86)
A peça fundamental desse raciocínio é o direcionamento da empresa para a pesquisa de formas responsáveis de transformar subsídios e de agrupar esforços humanos visando ao desenvolvimento e não apenas aos resultados imediatos. 
Um dos pontos essenciais do juízo que o novo consumidor estará habituado a fazer das empresas é a inserção desta no esforço pelo desenvolvimento sustentável. Cada vez mais se divulgará que essa condição é atingida pelo investimento na transformação da própria “forma de fazer” em um processo continuado de responsabilização, desde os processos empresariais, distinto de uma atenção esporádica ou pontual a ações filantrópicas. 
As possibilidades desse projeto radical de inserção na responsabilidade socioambiental, depende em grande medida da ética dos administradores. 
3.1.3. Responsabilidade Socioambiental Empresarial e Ética dos Administradores
A responsabilidade socioambiental exige dos gestores e líderes das empresas não um conhecimento especializado em sociologia e em ecologia e sim um posicionamento ético, como o que discutimos na primeira unidade. 
É nesse sentido que se pode distinguir o administrador preparado para a simples “economia pura” (maximizar a riqueza), valendo-se da prerrogativa da liberdade sem limites, daquele cuja ética pessoal permite uma “ética empresarial”, para quem o lucro não exigiria nenhuma justificativa ética (LEISINGER e SCHIMITT, 2001). 
Nessa perspectiva, a justificativa social do lucro é a contrapartida objetiva à escolha que os consumidores fazem da empresa. A chance sempre renovada para a sustentabilidade da empresa vem exatamente da renovação da confiança. 
 Retome, na unidade 1, nossa discussão da Ética empresarial, principalmente visando À pergunta que fizemos no início da unidade: “É possível, no nosso tempo, constituir os negócios sob uma Ética Empresarial ou isso se resume a um discurso para tornar as empresas ‘politicamente corretas’?”
3.2. Indicadores da Responsabilidade Social Empresarial (RSE)
A fase embrionária da responsabilidade social é aquela na qual não há ações diretas de responsabilidade social. Na fase mais sofisticada, “a organização, além de ter procedimentos internos corretos, participa de ações não lucrativas em áreas como cultura, assistência social, educação, saúde, ambientalismo e defesa dos direitos” (TACHIZAWA, 2007, p.86). 
O primeiro dos indicadores internacionais de responsabilidade social (1997) é o Social Accountability (SA 8000). Fornece um padrão global da garantia dos direitos dos trabalhadores inseridos em processos produtivos nos vários setores econômicos (da Social Accountability International - SAI).
Outra base de indicadores da responsabilidade social, ainda em implementação, é a norma Accountability (AA 1000), que prioriza a efetivação de um padrão internacional de gestão da responsabilidade corporativa.AA 1000, de 1999, é do Institute of Social and Ethical Accountability (ISEA), de Londres. Acréscimos mais recentes a esses parâmetros são: Garantia da Qualidade e Verificação Externa (2002), Medição e Comunicação da Qualidade do Engajamento de Partes Interessadas (stakeholders), Integração de Processos de Accountability (responsabilidade pública), Governança e Gerenciamento de Risco e Gestão de Accountability para Pequenas Organizações (2003). 
Os indicadores gerais e setoriais de Responsabilidade Social ganham tradução numérica na Contabilidade Social, área da contabilidade que nos últimos anos ganha maior relevância. A contabilidade social dá visibilidade ao processo de responsabilização social das empresas e permite o planejamento passo a passo da seqüência escolhida como estratégia de implementação dessa sistemática. 
Essa especificação contábil tem o intuito de criar “inventariar, classificar, registrar, demonstrar, avaliar e explicar os dados sobre a atividade social e ambiental da entidade [das organizações], de modo que no final de cada exercício ou a qualquer momento, se possa preparar informes como o Balanço Social e a Demonstração do Valor Adicionado” (KROETZ, 2007, p.56). 
3.2.1. Indicadores gerais de Responsabilidade Social Empresarial
No Brasil, os parâmetros da responsabilidade social são indicados como tradução prática da decisão e assimilação das formas de gestão consideradas socialmente responsáveis (TINOCO, 1984, 1994; TACHIZAWA, 2007). É com base neles que se torna possível envolver as várias áreas no diagnóstico, na implantação, no monitoramento e na avaliação dos resultados das práticas de gestão da responsabilidade social. 
Os indicadores gerais da responsabilidade social usados no Brasil, apesar de não haver certificações, alinham-se aos parâmetros mundiais. O acompanhamento e avaliação das relações com a comunidade e relações com os empregados segue a seguinte especificação (ETHOS, 2007; TACHIZAWA, 2007): 
 Processos produtivos: 
· relações trabalhistas contratação de mão-de-obra, inclusive de fornecedores; 
· respeito aos direitos humanos, gestão ambiental; 
· natureza do produto ou serviço. 
Relações com a comunidade: 
· natureza das ações desenvolvidas, problemas sociais solucionados; 
· beneficiários, parceiros; 
· foco das ações. 
Relações com os empregados: 
· benefícios concedidos, inclusive às famílias; 
· clima organizacional; 
· qualidade de vida no trabalho; 
· ações para aumento da empregabilidade. 
3.2.2. Indicadores setoriais de Responsabilidade Social Empresarial
Algumas estratégias de gestão ambiental e de responsabilidade social adotadas são idênticas para os vários tipos de empresas: industriais, comerciais, financeiras, de serviços especializados, de educação, de serviço público. Segundo vários autores (IOSCHPE, 1997; PINTO, 2002; COSTA FILHO, 2004; TACHIZAWA, 2007), as estratégias comuns são:
· Redução e controle do uso de recursos (água, energia elétrica, matéria prima) visando apoiar iniciativa de fornecedores integrados à responsabilidade social; 
· Apoio e desenvolvimento de projetos sociais e ambientais, de educação popular e promoção da saúde, em atividades relacionados aos negócios da empresa;
· Projetos específicos de incentivo ao trabalho legalizado e combate ao trabalho infantil e ao trabalho exploratório de adolescentes sem definição de percurso formativo na empresa;
· Treinamento e incentivo à participação dos funcionários em projetos sociais e educacionais populares; 
Além disso, especialmente as empresas industriais (concentradas e semi-concentradas) adotam ainda outras estratégias mais diretamente voltadas às atividades de seu setor, tais como:
· Controle tecnológico de emissão de material poluente ou nocivo tais como gases, resíduos, lixo industrial envolvendo os funcionários e a comunidade;
· Desenvolvimento e aperfeiçoamento de sistemas de auditoria ambiental e habilitação da empresa para a “rotulagem ambiental”. 
Outros critérios específicos têm sido criados para cada setor, como é o caso dos estudos feitos pela Fundação Getúlio Vargas (em parceria com o instituto ETHOS) Indicadores de Responsabilidade Social nas Empresas Varejistas (FGV/ETHOS, 2007).
3.2.3. Auto-diagnóstico do estágio de Responsabilidade Social Empresarial
A primeira expectativa na adoção de parâmetros é o auto-controle da empresa em relação a suas ações. Os indicadores permitem um auto-diagnóstico a ser levado em conta como ponto de partida para o planejamento. A estrutura adotada para verificação inicial do estágio da empresa servirá para posteriores reavaliações e, mais tarde, para a divulgação das informações ao público externo (TINOCO, 1984). 
O programa de auto-avaliação da empresa deve necessariamente envolver todos os setores, áreas e pessoas, mas tem maior eficácia quando se inicia pelas áreas de gestão das pessoas. Os processos de gestão de pessoas, tais como recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento, planos de crescimento na empresa, etc. geram, em seu dia a dia, informações diagnósticas de grande importância. 
A comparação dos motivos da empresa para ofertas de vagas ao mercado (complementação de quadros já existentes, aquisição de talentos específicos ausentes na empresa, etc.) com os motivos declarados pelos candidatos (mesmo os não admitidos) pode fornecer o diferencial ideológico da empresa em relação à expectativa criada com ela por parte do mercado de trabalho. 
Nos motivos para eliminação de candidatos no processo seletivo se pode identificar o nível de padronização e de especificação já adotados pela empresa para prover equipes responsáveis. 
O contato direto e pormenorizado com as formas de pensar dos funcionários durante os processos de treinamento revelam os elementos integrados à cultura organizacional e que deverão ser considerados como ponto de partida para a compreensão das metas de responsabilidade social. 
A avaliação das diferenças e compatibilidades entre as expectativas de ascensão funcional dos empregados e as diretrizes traçadas pela empresa para o crescimento na empresa mostra a distância atual entre a intenção ética (intenção de responsabilidade social) e as possibilidades a médio e longo prazo de implementação das metas nessa área. 
A avaliação da sistemática de benefícios, obrigações trabalhistas, política de participação nos lucros, planos educacionais internos, programas de saúde e segurança no trabalho indica o envolvimento com o público interno. 
Assim, a auto-avaliação, iniciada com o suporte das atividades já existentes na área de gestão de pessoas, pode evoluir para o levantamento específico de cada relacionamento da empresam (fornecedores, com a comunidade, com o meio ambiente, com clientes e consumidores). Nesse ponto são de grande utilidade os indicadores fixados no balanço social.
 Outro fator de grande importância na inserção da empresa na responsabilização social e ambiental é a inclusão de metas no planejamento estratégico (ou plano de ações estratégicas) da empresa. 
3.3. A responsabilidade social no planejamento estratégico
As organizações empresariais que se inserem no processo de responsabilidade social tomam as ações relativas a esse esforço como parte integrante de seus planos estratégicos, dos quais fazem derivar projetos específicos. 
A presença das metas de responsabilidade social e ambiental no planejamento estratégico visa não somente à disponibilidade de recursos mas também à expansão da visão socioambiental da empresa a todo o seu conjunto de pessoas.
3.3.1. Planejamento e Responsabilidade Social
A sucessão das metas a serem adotadas a cada momento estará na dependência da correta auto-avaliação (ETHOS, 2007). Todavia, as estratégias para a inserção das organizações empresariais no processo de responsabilidade social serão mais bem sucedidas na medida em que se iniciarem com a menor pretensão possível. 
Para as organizações empresariais sem nenhuma prática de programas de responsabilidade social, é preferível instituir no planejamento estratégicoações localizadas. 
Por exemplo, seria decisivo o esforço da empresa para a mudança do estilo de vida das pessoas da empresa, visando dar a elas oportunidade de auto-avaliação das relações do estilo de sua vida com a saúde presente e futura. Na mesma direção, o incentivo ao lazer e aos esportes com ações de apoio direto aos projetos de baixo custo e com efeitos paradigmáticos (como a adoção de ginástica laborial, etc.) seriam um excelente começo. 
Essa meta (mudança do estilo de vida dos funcionários) é bem mais realista do que, por exemplo, pretender iniciar pela definição da responsabilização da empresa (como um todo) pela melhoria das relações sociais com a comunidade local. 
A primeira opção, ainda que restrita, é bem mais passível de avaliação em médio prazo e tem maior chance de mostrar a todos, internamente à empresa, o tipo de resultado possível quando se procura deliberadamente tornar e empresa cidadã. Cuidar dos seus funcionários a partir do conceito ampliado de saúde (do qual se retira a noção de “estilo de vida”) é um modo de mostrar aos próprios funcionários sua importância social. 
A outra opção de meta para inserção da empresa em um processo de responsabilização social (cuidar da comunidade local vizinha à empresa) teria maior chance de sucesso em um segundo momento, no qual os funcionários da empresa, por já terem vivido uma mudança no seu estilo de vida, fossem aliados na meta de expandir o cuidado à comunidade. 
Em resumo, a responsabilização social da empresa é uma meta de longo alcance e como tal precisa ser, inicialmente, bem sedimentada internamente, como veremos no item a seguir. 
3.3.2. Validação interna das práticas de RSE
O maior problema enfrentado pelas empresas ao se decidirem por adotar as práticas da responsabilidade social é tornar seus projetos validados pelo público interno. Por um lado, subsiste em várias empresas a idéia de que a alta gerência seria o maior obstáculo sempre que houver perspectiva de gastos com os projetos de responsabilidade social. Por outro lado, nestas mesmas empresas há também a convicção dos gestores de que na visão dos integrantes da equipe sobre o envolvimento da empresa com a responsabilidade empresarial estariam os maiores obstáculos para o processo se desenvolver. 
Essa suposição, ainda que válida em alguns casos, é na verdade um enorme preço que as empresas cidadãs pagam.
 Mesmo instituindo práticas precisas para a inserção da responsabilidade social em sua estrutura, em seus processos e em sua cultura organizacional, o descrédito na intenção ética da empresa capitalista continua sendo uma tônica (SEN, 2000).
A estratégia mais sensível ao progresso da mudança interna é, como veremos a seguir, a instituição de uma gestão participativa da responsabilidade social empresarial. 
3.3.3. Gestão participativa da responsabilidade social 
A cidadania somente se constrói “de baixo para cima”, isto é, com a participação efetiva dos “setores excluídos, exigindo o ‘direito de ter direitos’ ” (DAGNINO, 1994). O princípio central dessa proposta, em geral feita no campo das utopias sociais, é de que a sociedade cuja economia seja sustentável terá obrigatoriamente uma estrutura democrática na qual a liberdade de escolha caiba tanto aos empreendedores (ao capital) quanto aos sujeitos sociais com os quais as empresas têm relação direta ou indireta, iniciando-se por suas equipes. 
Na mesma direção, Acselrad (1992) indica que, desde a pesquisa da melhoria dos processos da empresa até a sedimentação de uma cultura, são necessários valores tais como:
· a igualdade no usufruto dos recursos naturais e na distribuição dos custos ambientais do desenvolvimento; 
· a liberdade de acesso aos recursos naturais, respeitados os limites físicos e biológicos da capacidade de suporte da natureza; 
· a solidariedade das populações que compartilham o meio ambiente comum; 
· o respeito à diversidade da natureza e aos diferentes tipos de relação que as populações com ela estabelecem; a participação da sociedade no controle das relações entre os indivíduos e a natureza.
O aclaramento de que a empresa partilha desses valores pode se mostrar aos seus integrantes como um sinal de que toda a alta gerência sabe que a responsabilidade social e ambiental implica o reconhecimento dos direitos fundamentais dos seres humanos. 
3.4. Responsabilidade social, publicidade e marketing 
A publicidade dos estágios de responsabilidade social e ambiental são comunicados por meio do balanço social e por meio de estratégias publicitárias comuns ao dia a dia da empresa (TACHIZAWA, 2007).
Além da publicidade externa e das ações de marketing externo são importantes, também, ações de divulgação e conscientização interna e mesmo ações internas de marketing (endomarketing) para o acompanhamento dos processos de responsabilidade socio-ambiental.
O endomarketing é, hoje, um fator de diferenciação. É o mecanismo pelo qual as empresas podem alinhar o seu discurso (série de mensagens enviadas a clientes e outros stakeholders pelos mais diversos meios: comerciais, anúncios, entrevistas à imprensa etc.) com as suas ações. Aquelas ações que são praticadas pelos seus funcionários no dia-a-dia de trabalho (CRESCENTE, 2007).
Somente na medida em que os funcionários e os outros grupos de interesse acompanharam, em algum grau, o surgimento das propostas de instituição de estratégias de responsabilidade social é que eles se sentirão menos surpresos e menos propensos a atitudes negativas diante da divulgação destas pela empresa. 
A publicidade das ações da empresa e o marketing social são formas de dar visibilidade aos valores adotados pela empresa e às formas pelas quais as organizações empresariais se sentem construindo uma posição ética diante dos negócios que realizam. 
3.4.1. A ética nos negócios 
No sentido amplo, a responsabilidade social e ambiental é a tradução prática para os ideais de uma ética do empresário nos negócios. As negociações feitas por integrantes das empresas são atos humanos, mas representam, em todos os níveis, a posição ética da empresa. 
A estrutura da empresa expressa a sua condição de responsabilidade social (com o público interno e externo) e sua forma de responsabilização com as condições de vida para as comunidades humanas (no sentido ambiental). 
No que tange à cultura organizacional, instância de mais demorada mudança, como dissemos, há dois aspectos que merecem destaque na discussão da responsabilidade social e ambiental. 
Primeiro, as ações de responsabilidade social e ambiental somente tem efeito sobre a cultura organizacional a médio e longo prazos e isso pode ser um fator de resistência entre os integrantes da empresa. Nesse sentido a validação interna das estratégias sócio-ambientais tem enorme importância. 
Segundo, a cultura organizacional para a responsabilidade socioambiental se mostra nas ações dos “homens de negócio” das empresas, aspecto que merece uma observação específica, como faremos a seguir. 
3.4.2. O vínculo comercial e a posição ética do comerciante
O ponto de chegada dos esforços da organizações empresariais é sempre a comercialização de seus produtos ou serviços. 
Nesse sentido, as empresas contemporâneas geram um tipo social que é o “homem de negócios” ligados aos vários modos de ofertar produtos e serviços aos mercados de cada setor. Cabe a esses elementos a criação e a recriação do vínculo comercial da empresa com o mundo externo. 
Podemos dizer, nesse sentido, que a posição ética do homem de negócios, na confecção do vinculo comercial da empresa com seu público, expressa o que, de forma mais ampla, se encontra na cultura organizacional dessa instituição. 
Dessa forma, se a responsabilidade social e ambiental exige a integração de todos os setores, essa exigência é redobrada para aqueles setores da empresa onde estão seus “homens de negócios” (setor comercial, mas não apenas ele). 
3.4.3. A organização empresarial como agente de transformação
Na direção do resgate do homem de negócios responsável, a ONU lançou a idéiade um pacto empresarial pela sustentabilidade (ONU, 2007). Por esse instrumento, convoca-se a comunidade internacional e, explicitamente, as organizações empresariais a inserirem em suas diretrizes de negócios também as diretrizes da responsabilidade social e ambiental, resumidas nos seguintes princípios: 
Ao seguir e fazer seguir efetivamente essas orientações, segundo o documento da ONU, as empresas estarão dando um grande passo para promover o desenvolvimento social. Isso implica reconhecer a liberdade das empresas e os direitos dos cidadãos cujas vidas terão impacto (direto ou indireto) das ações daquela. 
Para isso, resta, ainda, examinarmos a maneira pela qual a empresa pode traduzir sua responsabilidade em inclusão do meio ambiente no seu escopo de sobrevivência social. É o que veremos no próximo e último item desta unidade.
3.5. Responsabilidade socioambiental
A Ética empresarial, ao se tornar responsabilidade social interna e externa, capacita a empresa a uma visão ecológica (holística) sobre sua inserção na realidade. 
Principalmente em 2007, os motivos para uma reflexão da empresa sobre a responsabilização social e ambiental são retirados da ampla divulgação do quarto Relatório de Avaliação de Mudanças Climáticas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). 
A posição decisiva para a compreensão da inserção da empresa no cuidado com seu lugar no mundo é a de que o aquecimento global observado por esse mesmo grupo científico nos últimos cinqüenta anos é claro e patente e se deve às atividades humanas (IPCC, 2007). Os indícios desse fenômeno, de difícil apreensão intuitiva, estão nos detalhados estudos da média global das temperaturas do ar e dos oceanos, do derretimento das calotas polares e do aumento na média global do nível do mar. 
O IPCC foi estabelecido pela Organização Metereológica Mundial (OMM ou WMO, em inglês) e pelo Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente (UNEP), em 1988.
A responsabilidade ambiental, se não for confundida com as antigas ações “apaga incêndio” nessa área, é o grau mais elevado de clareza do papel da empresa em um sistema social. Os mecanismos de controle da gestão da responsabilidade social e ambiental, internos e externos à empresa, tendem a se estabelecer com cada vez mais rigor. 
Todos os mecanismos, entretanto, dependem de informações da empresa. Desse modo, as informações são mecanismos de estruturação da responsabilidade socioambiental e, como veremos, se atrelam ao avanço tecnológico.
3.5.1. Gestão socioambiental, informação e tecnologia
A gestão socioambiental, conforme já discutimos até aqui, implica o tratamento preciso de informações internas e externas às organizações empresariais. Não é por acaso que os países indicados como os de melhores práticas de governança corporativa são também os países com políticas mais claras de tratamento das informações sobre os resultados das empresas (accountability), como é o caso do Reino Unido em 2006 (apontado pelo Corporate Governance Index). 
A noção de “accountability” empresarial (distinta de “responsability” pessoal) surgiu no Reino Unido, em 1975. Na França, o “bilan social” é de 1972. Pioneiros da “contabilidade social” estes termos fornecem a lógica da aferição e da cobrança de responsabilidade até então encontrados apenas na imprensa investigava moderna (FERREIRA, 2000).
A transparência das ações da empresa é um fator constitutivo da responsabilidade socioambiental. Temos exemplos desastrosos da ausência de clareza nas situações embaraçosas dos casos clássicos da ENRON e da PARMALAT. Segundo o parlamento europeu, “o caso Parmalat revela a falta de transparência e os conflitos de interesses na relação entre bancos, sociedades de auditoria e empresas” (EUROPARL, 2007, p.2). 
Ainda que alguns setores específicos da economia mundial não tenham relação direta com os mercados de todas as outras empresas, a existência neles de um montante tecnológico de ponta (informática, microeletrônica, biotecnologia) cria a idéia de que estamos todos em uma aldeia tecnológica. Essa impressão, como indica Noguchi (1983), é bastante viva em três direções fundamentais do avanço tecnológico dos últimos vinte anos:
· as novas máquinas de “síntese” que correspondem às atividades produtivas da indústria nuclear, da aeronáutica, indústria espacial e indústria marítima; 
· a “mecatrônica” que compreende a produção automóvel com automatismos numéricos, as máquinas-ferramentas de comando numérico, as máquinas-ferramentas de controle e programação informática, a robótica (“robots” industriais, “robots” com comando numérico e “robots” inteligentes); 
· a telemática, nomeadamente na transmissão da informação, da comunicação visual e aplicação nas novas formas industriais de energia, engenharia genética e produção química.
A idéia de aldeia global tecnológica é também reforçada pela circulação de novos materiais que invadem a vida diária das pessoas no trabalho e em sua casas. Alguns deles, segundo Ferreira (2007), são: 
· plástico, cerâmica pura, novas ligas metálicas, aço de alta tensão,aço não magnetizado, 
· materiais compósitos (química sintética, cerâmica têxtil, têxtil carbônico etc.), formas de energia (eólica, solar, hidráulica etc.) em paralelo ao petróleo, à eletricidade e à energia nuclear;
· materiais eletrônicos (fibra óptica, dispositivo óptico, silicone amorfo etc.).
Dentro do espírito da aldeia global tecnológica, criou-se, nos últimos anos, uma verdadeira “corrida” pela divulgação de compromissos de responsabilidade social pelas empresas. Neste contexto é necessário situar, de um lado, o que se configura somente como divulgação externa visando “dar a entender” que há responsabilização social e ambiental nas empresas e, de outro lado, programas reais de envolvimento com a responsabilização empresarial (FERREIRA, 2000). No item a seguir faremos referência a uma ocorrência do segundo caso. 
3.5.2. As grades de pesquisa humanitária e as empresas
O fenômeno do avanço tecnológico faz parte do processo histórico que acompanha a racionalidade instrumental do capitalismo. Paralelamente a isso, não se desenvolve uma racionalidade humanitária. Ao contrário, no modo de produção capitalista, todos os humanismos têm encontrado dificuldades para se manter como ideologia alternativa. Contra as ideologias que consideram o ser humano como um “fator” ou um “recurso” cujo controle visa “não oferecer problemas” criam-se redes de resgate do sentido da vida humana. 
Em consonância a esse princípio foi lançado por um grupo de universidades, fundações, em conjunto com a IBM, uma proposta de interligação de computadores em uma rede mundial em benefício da pesquisa e das ações sociais. Oo World Community Grid pretende usar o "tempo ocioso" de computadores pessoais de milhões de casas, escolas e escritórios para auxiliar na resolução de problemas humanitários globais, como: 
· Pesquisa de doenças infecciosas novas e existentes: Buscando a cura para HIV e AIDS, SARS (Severe Acute Respiratory Syndrome), malária e outras. 
· Pesquisa de doenças e do genôma: O projeto Human Proteome Folding - o primeiro do World Community Grid - procura ajudar a identificar as funções das proteínas que são codificadas pelos genes humanos. 
· Desastres naturais e fome: As aplicações do World Community Grid podem ajudar os pesquisadores e cientistas com a previsão de terremotos, melhorando as colheitas e avaliando o fornecimento de recursos naturais críticos, como a água.
A infra-estrutura desse projeto, de uso gratuito, visa, segundo seus idealizadores “oferecer uma maneira eficiente de fazer diferença nos problemas que afetam a humanidade, enriquecendo o espírito do projeto e demonstrando a importância de ajudar” (WCG, 2007, p.1). Um resultado apresentado exemplifica o intuito do projeto. Foi realizado em 2003 um importante estudo sobre a varíola valendo-se da computação em grade que utilizou supercomputadores que estavam a disposição conforme controle do próprio programa. Economizaram-se

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