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Desigualdade étnico-racial

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SOCIOLOGIA 
CONTEMPORÂNEA
Aline Michele 
Nascimento 
Augustinho 
Desigualdades étnico-raciais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Refletir sobre a desigualdade simbólica por preconceito e discrimi-
nação racial.
  Reconhecer o fator biológico e o fator social na construção do con-
ceito de raça.
  Identificar diferentes formas de ações afirmativas e suas justificativas.
Introdução
Neste capítulo, você vai ver como se formou a desigualdade simbólica 
que dá origem à discriminação e ao racismo. Desde a Antiguidade, a 
expansão territorial era perseguida pelas nações. Assim, foram criados os 
contextos de dominação. Como você sabe, o processo expansionista dei-
xou marcas tanto nas sociedades colonizadas quanto nas colonizadoras. 
No Brasil, último país ocidental a abolir a escravatura, as raízes históricas 
de dominação do povo negro deixaram um legado de marginalização 
social. Por isso, as ações afirmativas e as políticas públicas se voltam, no 
século XXI, a resgatar a dívida histórica e devolver as possibilidades que 
são devidas a esse povo.
Ao longo deste capítulo, você vai conhecer trabalhos da sociologia 
brasileira sobre o tema e ver como diferenciar os conceitos de raça a 
partir das perspectivas biológica e sociológica. Além disso, vai ver como 
as ações afirmativas podem ser úteis na busca por uma sociedade justa.
Desigualdades simbólicas e estruturais à luz 
da sociologia brasileira
Os estudos de Fernandes (1978) datados da década de 1960 colocaram em 
xeque as leituras anteriores das relações raciais no Brasil. Nas décadas de 1940 
e 1950, havia a ideia de que o Brasil era um país miscigenado, composto por 
inúmeras raças e etnias e que, portanto, não existiriam por aqui comportamen-
tos racistas ou excludentes. Para Fernandes (1978), contudo, as falas sobre o 
tema não condiziam com a realidade. Filho de uma lavadeira, esse sociólogo 
tivera experiências de vida que indicavam que os trabalhadores braçais, mais 
pobres, eram em sua maioria negros ou descendentes de famílias negras. As 
classes mais abastadas, no entanto, aquelas que contratavam os serviços de 
sua mãe, eram compostas por uma maioria branca. Se havia tanta diferença 
racial entre as classes, como não havia racismo? Fernandes (1978) entendeu 
que as relações de raça no Brasil tinham um recorte de classe: as classes mais 
baixas eram negras, e as mais altas, brancas. Para ele, o termo “racismo” 
aparece como “preconceito de cor” (FERNANDES, 1978).
A leitura da democracia racial era estimulada especialmente por duas 
obras de Gilberto Freyre: Casa-Grande & Senzala e Sobrados e Mucambos. 
Freyre (1981) produziu ensaios sociológicos de extrema importância, narrando 
as formas de vida e a relação entre os núcleos sociais brancos e negros no 
Brasil pós-colonial. A análise desse sociólogo, no entanto, é mais suave no 
tocante aos conflitos e problemas vividos pelo povo negro após a abolição da 
escravatura, já que não houve qualquer política de auxílio para aqueles que, 
longe de seu continente natal, não tinham empregos ou moradia. Em 1955, 
a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(UNESCO) financiou um projeto desenvolvido por Florestan Fernandes e 
Roger Bastide sobre as possibilidades de harmonia racial.
De acordo com Nogueira (2007), as leituras sobre as relações raciais no 
Brasil e a condição do negro na estrutura social brasileira se iniciaram a 
partir de três perspectivas: a interpretação afro-brasileira iniciada por Nina 
Rodrigues, que tinha foco nas contribuições de africanos escravizados e seus 
descendentes na cultura brasileira; a análise histórica de como o negro passa a 
fazer parte da cultura brasileira, cujo principal expoente seria Gilberto Freyre; 
e a vertente sociológica, que se preocuparia com a interpretação das relações 
sociais entre brancos e negros na sociedade brasileira.
As duas perspectivas iniciais citadas por Nogueira (2007) tinham a tendência a 
romantizar a presença do negro na sociedade e na história brasileiras, salientando 
as cores trazidas por sua cultura, sua música, sua culinária. Mas, embora não o 
negassem, tais perspectivas não refletiam sobre o fato de que essa contribuição 
se deu forçadamente, já que o povo negro nunca foi convidado a povoar terras 
brasileiras, mas foi forçado via escravidão. A dimensão da violência e da segre-
gação econômica vividas nos períodos pré e pós-abolição não era mencionada.
A perspectiva das relações sociais entre brancos e negros se inicia no Brasil, 
ainda de acordo com Nogueira (2007), em 1935, por meio de estudos conduzidos 
Desigualdades étnico-raciais2
na Bahia por Donald Pierson, publicados em São Paulo na Revista do Arquivo 
Municipal e na Revista Sociologia. Durante as décadas de 1940 e 1950, a presença 
do negro nos “sertões” brasileiros foi o foco dos estudos, com olhar voltado para 
seu trabalho nos campos de cana-de-açúcar e nas usinas. Criava-se o estereótipo 
do negro sertanejo. Mas foi entre 1950 e 1960 que, financiados pelos projetos da 
UNESCO, sociólogos brasileiros e estrangeiros debruçaram-se sobre as formas 
de relacionamento e os trânsitos sociais do negro no Brasil.
Se você considerar que no mesmo período, nos Estados Unidos, havia as 
lutas pelos direitos civis da população negra, vai perceber que esse movimento 
despertou o interesse de outros países em compreender as suas “relações 
raciais”. Por isso, a questão da “situação racial” se torna preponderante: como 
o negro se encontra nas sociedades pós-escravocratas? Como a raça que o 
dominava se comportava então? Assim, há um deslocamento: do olhar roman-
tizado sobre as contribuições culturais do negro para o sangue e a violência 
envolvidos nessa contribuição forçada. Além disso, passam a ser considerados 
os resultados negativos para os descentes dos escravizados, em contraponto 
ao lucro e à acumulação de quem os mantinha cativos.
Fernandes (1978) , avaliando esse quadro, indica que a situação racial no 
Brasil seria ainda de dominação; não uma dominação inteiramente baseada 
na raça, mas na classe. Observe que, com isso, o sociólogo afirma que 
ainda havia dominação: ocorrera uma transferência de poder simbólico de 
dominação após a abolição da escravidão, uma vez que o povo negro não 
tinha retido a sua liberdade, mas também não tinha espaço para ascender 
socialmente. Afinal, não havia políticas sociais que os acolhessem como 
cidadãos tais quais os brancos, deixando-os à própria sorte. Entre 1920 e 1940, 
a intensa migração europeia para o Brasil encontrou aqui uma estrutura de 
acolhimento e de respeito à dignidade humana e social que os negros nunca 
encontraram, especialmente por meio do trabalho formal e da possibilidade 
de educação, o que, numa sociedade capitalista, pode significar a manutenção 
ou a ascensão social. 
Nogueira (2007, p. 291) afirma:
De um modo geral, tomando-se a literatura referente à “situação racial” 
brasileira, produzida por estudiosos ou simples observadores brasileiros e 
norte-americanos, nota-se que os primeiros, influenciados pela ideologia de 
relações raciais característica do Brasil, tendem a negar ou a subestimar o 
preconceito aqui existente, enquanto os últimos, afeitos ao preconceito, tal 
como se apresenta este em seu país, não o conseguem “ver”, na modalidade 
que aqui se encontra. Dir-se ia que o preconceito, tal como existe no Brasil, 
cai abaixo do limiar de percepção de quem formou sua personalidade na 
atmosfera cultural dos Estados Unidos.
3Desigualdades étnico-raciais
A baixa “percepção” do racismo no Brasil se deve a um elemento principal: 
haveria no País uma distinção entre o preconceito de marca e o preconceito de 
origem. O preconceito de marca seria o racismo mais facilmente observado na 
América do Norte, onde pessoas negras e seus descendentes são segregados por 
pertencerem a essa etnia, independentemente de serem birraciais ou “mestiços”.
No Brasil, esse preconceito estaria firmementeassociado também à con-
dição social e à classe do sujeito: um negro que ascende socialmente seria 
“aceito” mais facilmente pela sociedade branca, “quase” como um igual. 
Mas um homem negro pobre não teria qualquer privilégio ou passibilidade. 
Haveria ainda algumas diferenças na questão do colorismo: no Brasil, indi-
víduos com ascendência multirracial com pele clara e fenótipos próximos aos 
brancos teriam mais “passibilidade” social, ou seja, se passariam por brancos 
e sofreriam menos racismo. Países como os Estados Unidos mantêm a política 
da “única gota”: uma única gota de sangue negro tornaria a pessoa também 
negra, independentemente da cor da pele e dos fenótipos. Com isso, Nogueira 
(2007) diz que ainda existem preconceito e racismo no Brasil, mas que eles 
são velados quando o indivíduo ascende socialmente, porque seria vantajoso 
manter o trânsito social livre entre as classes abastadas.
Embora o conceito de raça seja utilizado para os estudos sobre racismo e discriminação 
étnica, não deve ser utilizado fora desse contexto. Afinal, o termo de fundamento 
biológico não diz respeito a um cenário verdadeiro para humanos. Ou seja: biologi-
camente, não existem raças humanas. Por isso, utilize o termo “raça” apenas quando 
surgir o debate adequado, e não para apontar culturas que você ainda desconhece, 
pois elas são tão importantes quanto a sua.
O fator biológico e o fator social 
no conceito de raça
Você provavelmente já viu um mapa-múndi, certo? Já reparou que nas re-
presentações cartográfi cas o continente europeu está sempre centralizado? 
O planeta Terra é redondo e não tem “centro”. Se um astronauta observar 
o planeta do espaço, a parte central vai depender da localização do próprio 
viajante espacial. As representações da Europa como central nos mapas não 
são acidentais. Elas estão ali porque representam a visão dos povos que em-
Desigualdades étnico-raciais4
preenderam as grandes expansões marítimas a partir do século XIV. Para os 
expansionistas, conquistadores de territórios, o centro do mundo era a própria 
terra natal, e o restante, adjacência, territórios “descobertos”.
O problema dessa visão é que boa parte dos territórios descobertos nessas 
jornadas eram novos apenas para os europeus, mas, por vezes, mantinham 
sociedades centenárias e até milenares. Então, a descoberta só podia pertencer 
aos povos europeus por meio da conquista e do domínio. Assim, houve a 
imposição da cultura, das estruturas e até da constituição física do que seria 
“central”. Peles claras e provenientes da Europa eram o centro, e o que não 
condizia com essa descrição, periférico. Nas lutas pelo espaço social ao longo 
dos períodos de dominação de um povo por outros, constituiu-se a ideia de que 
uma raça poderia ser superior a outra. O nazismo, modelo político de extrema 
direita que precedeu a Segunda Guerra Mundial na Alemanha, se constituiu 
baseado na ideia de superioridade física, intelectual e moral da raça ariana, 
subjugando outros povos, especialmente os judeus. 
Os europeus não foram os únicos povos a empreender jornadas de con-
quista e dominação de territórios. Muitas sociedades o fizeram, incluindo 
sociedades orientais, árabes e africanas. Porém, a expansão imperialista do 
Velho Continente, especialmente a partir do século XV, fez com que houvesse 
ali centralização política e de poder econômico. Com os territórios dominados 
tornando-se independentes, a partir do século XIX, houve a manutenção dos 
valores imperialistas, criando uma leitura eurocêntrica de mundo. Os conflitos 
étnicos tampouco se baseiam apenas na relação entre países centrais e peri-
féricos, mas o racismo se estabelece essencialmente por meio dessa relação. 
Afinal, ele foi a motivação da escravização de sociedades negras diversas 
com vistas ao lucro dos países colonizadores.
O racismo e os conflitos étnicos são derivados da ideia de que um povo 
é central, superior, e que outros povos, com peles, fenótipos, culturas ou 
religiões diferentes, devem ser inferiorizados. Mas, como você vai ver, há na 
interpretação racista também um viés econômico, já que normalmente as raças 
e etnias que se tentam subjugar passam a ser economicamente dominadas e 
exploradas.
O racismo e os conflitos étnicos, portanto, se constituem no exercício da 
dominação e da violência, bem como da subjugação simbólica pautada na 
exclusão e no apagamento da individualidade. No Brasil, o mito da democracia 
racial vem constantemente sendo negado, e o racismo, apontado — especial-
mente pela geração de brasileiros negros nascida a partir de fins dos anos 
1980 e início dos anos 1990. O racismo se mostra especialmente pela violência 
policial e pela marginalização social da população negra, assim como pelo 
5Desigualdades étnico-raciais
encarceramento sumário do povo negro. Religiões de matriz africana são 
discriminadas, a ponto de sofrerem atentados em seus prédios, como apedre-
jamento e incêndios criminosos, especialmente no Rio de Janeiro, onde fiéis 
não estão seguros para expressar livremente sua religião (o que é garantido 
pela Constituição), correndo o risco de sofrer represálias.
Conflitos étnicos são disputas culturais. Normalmente, acontecem em asso-
ciação a uma disputa também territorial. Pode não haver a intenção de domínio 
da outra cultura, mas de legitimação religiosa, cultural ou ancestral. Quando 
os conflitos étnicos se associam a disputas territoriais, pode haver movimentos 
separatistas, em que a comunidade pretende formar um novo Estado, pautado 
em suas próprias características culturais e/ou religiosas. Quando essa intenção 
separatista é completamente refutada pelo Estado em que a comunidade em 
conflito se encontra, o desgaste pode evoluir para uma guerra.
O conflito entre Israel e Palestina pode ser considerado um conflito étnico 
por disputa de território. Em 1947, a Organização das Nações Unidas (ONU) 
delimitou um Estado duplo israelense e palestino, mas em 1948 foi criado o 
Estado de Israel, que recebeu judeus de todo o mundo após o holocausto. Porém, 
a região era previamente habitada por palestinos, árabes de cultura majorita-
riamente islâmica. A disputa cultural se inicia especialmente por Jerusalém, 
a chamada Terra Santa, território importante para cristãos e muçulmanos. 
Para palestinos, Jerusalém ainda é árabe, e para israelenses, pertence aos 
hebreus. Os Estados tomaram a frente do conflito, gerando ataques e ofensivas 
constantes, com períodos de paz e outros mais violentos.
O racismo, por sua vez, é a inferiorização de uma raça associada à 
supervalorização de outra. Existem novas abordagens sociológicas que 
indicam que o racismo só acontece quando há a possibilidade de dominação 
estrutural ou hegemônica da raça discriminada. Essa nova leitura indica que 
no Brasil, por exemplo, o racismo se dá pela marginalização e pela inferio-
rização de pessoas negras ou indígenas por brancos, porque os brancos são 
estruturalmente dominantes, sendo maioria na arena política e na detenção 
de recursos financeiros. 
Quando um indivíduo de cultura não dominante discrimina outra cultura 
ou indivíduo de grupo social distinto, haveria então episódio de preconceito 
ou injúria racial. Isso porque sua discriminação, embora possa ter impactos 
emocionais negativos no indivíduo ofendido, não pode causar cerceamentos 
políticos ou econômicos, porque ele não tem o poder estrutural. Vertentes 
sociológicas tradicionais, por sua vez, indicam que racismo é toda e qualquer 
Desigualdades étnico-raciais6
ação de inferiorização, discriminação ou segregação de um grupo sociocultural 
baseada em elementos culturais, religiosos ou fenotípicos, independentemente 
do grupo que ofende ou que é ofendido.
O escopo biológico indica que a utilização do termo “raça” para seres huma-
nos é inadequada. Isso porque a raça seria a determinação de uma subespécie, 
ou de várias subespécies, atreladas a uma espécie. Ou seja, ela identificaria 
diferenças genéticas significativas entre grupos diversos, porém pertencentesà 
mesma espécie. Seres humanos não possuem diferenças genéticas significativas 
entre si a ponto de formar subgrupos. Pelo contrário, as estruturas dos códigos 
genéticos são praticamente indistintas, independentemente dos fenótipos, 
como cor da pele, cabelos e olhos e estrutura física. Por isso, a determinação 
do termo “raça” a partir dos pressupostos biológicos é errônea.
Do ponto de vista sociológico, o termo “raça” tende a ser utilizado para 
a identificação de grupos sociais com traços culturais, sociais e religiosos 
específicos, havendo ou não características fenotípicas associadas (BOBBIO 
et al., 1998). No caso da sociologia brasileira, esse termo é utilizado para iden-
tificar o racismo, ação discriminatória vivida por indivíduos afro-brasileiros. 
Contudo, não é adequado, considerando a leitura biológica, identificar grupos 
culturais quaisquer como raças.
Compreenda mais sobre o conceito de raça na perspectiva sociológica com o artigo 
Como trabalhar com "raça" em sociologia (GUIMARÃES, 2003), disponível no link a seguir.
https://goo.gl/XWHdd9
Ações afirmativas
As ações afi rmativas são políticas públicas que visam a diminuir os impactos 
sociais causados por confl itos étnicos ou racismo. Seu objetivo maior é ofe-
recer equidade, a fi m de que a sociedade atinja um panorama de igualdade. 
A equidade diz respeito a tratar grupos sociais distintos de forma diferente, a 
partir de suas necessidades específi cas, para que então eles possam desenvolver 
ferramentas e travar contato com outros grupos sociais de forma igualitária.
7Desigualdades étnico-raciais
Um projeto de ação afirmativa conhecido no Brasil é o de cotas raciais para 
o acesso a universidades públicas. Ele busca garantir o acesso da população 
negra ao ensino universitário, acesso este que foi historicamente impedido 
devido à escravização e às suas consequências. Há ainda universidades que 
oferecem cotas sociais para estudantes de baixa renda e provenientes de 
escolas públicas, corrigindo o ciclo de quase nulidade na ascensão social das 
classes D e E, cuasado pela estrutura capitalista neoliberal adotada pelo País 
a partir da década de 1990. 
A temática das ações afirmativas chegou ao Brasil no princípio dos anos 
2000, a partir da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação 
e Xenofobia da ONU, realizada em 2001 na África do Sul. Na conferência, 
salientou-se que as desigualdades sociais e econômicas e os conflitos étnico-
-culturais eram uma responsabilidade dos Estados para com seus cidadãos. 
Saná-los dependeria da observância das particularidades dos impactos gerados 
em cada grupo social (SCHWARCZ, 2001).
Posteriormente, no Brasil, alguns projetos de ação afirmativa contra o 
racismo foram elaborados, como a Lei nº 10.639, de 2003, que prevê a obri-
gatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas nas 
escolas públicas e privadas do ensino fundamental e médio, uma vez que 
mais da metade dos estudantes são afro-brasileiros. Há também a Lei nº 
11.096, de 2005, que coloca em prática o Programa Universidade para Todos 
(PROUNI), plataforma de acesso à universidade para pessoas de baixa renda 
que teve grande impacto nos padrões de mobilidade social brasileiros nos 10 
anos subsequentes à sua promulgação.
Das ações afirmativas podem derivar projetos especiais que auxiliem o 
grupo em questão. Considere, por exemplo, as cotas sociais para estudantes 
de escolas públicas. Reconhecidamente, as escolas públicas brasileiras não 
têm os melhores índices de aproveitamento, salvo algumas escolas-modelo. 
Algumas universidades públicas, então, contam com projetos de auxílio e 
tutoria nos estudos para quem encontra dificuldades. 
Alunos de escolas particulares podem chegar às universidades com bom 
conhecimento em outros idiomas, fator que facilita os estudos de ponta e abre 
oportunidades no mercado de trabalho, mas essa não é uma realidade para 
alunos provenientes de escola pública, em geral. Por isso, há projetos de exten-
são que oferecem cursos de idiomas, dos básicos aos aprofundados. Assim, ao 
deixar a universidade, alunos cotistas e ingressantes por ampla concorrência 
terão os mesmos conhecimentos, as mesmas bases e, consequentemente, as 
Desigualdades étnico-raciais8
mesmas oportunidades. As políticas para provimento de equidade resultarão, 
algum tempo depois, num contexto de igualdade. 
As políticas públicas voltadas para ações afirmativas podem receber crí-
ticas que salientam a desigualdade no tratamento de grupos sociais. As cotas 
raciais, por exemplo, são constantemente questionadas, e um dos argumentos 
erroneamente utilizados é o de que elas seriam uma forma de discriminação 
social. No entanto, elas são extremamente necessárias, porque não se pode 
oferecer as mesmas oportunidades para grupos sociais com possibilidades 
tão distintas. Fazê-lo seria compactuar com a manutenção das estruturas de 
marginalização das classes sociais mais pobres, compostas em sua maioria 
por afrodescendentes.
Se, no caso das cotas sociais, um aluno cotista precisa trabalhar para viver 
e essa é sua prioridade, como ele pode manter o mesmo nível de aprendizagem 
que um aluno de escola privada, que se dedica apenas aos estudos? Apenas 
o tempo disponível para as atividades escolares já se torna um princípio de 
desigualdade. A qualidade das escolas frequentadas, outro. A possibilidade 
de permanência na universidade pública, especialmente em cursos de período 
integral, sem suporte da universidade ou de programas sociais, outro desnível. 
Nesse cenário, sem as ações afirmativas e os projetos de auxílio delas 
derivados, mesmo que esse aluno chegue à universidade, as possibilidades de 
ele se manter nela são pequenas. Se conseguir finalizar o curso e se formar, 
ficaria, ainda assim, em uma posição inferior. Afinal, a bagagem cultural 
e o capital simbólico adquiridos por aqueles que têm melhores condições 
financeiras lhes ofereceriam mais e melhores portas de emprego, fomentando 
as desigualdades sociais. 
As ações afirmativas podem ser destinadas a qualquer grupo social que, 
por algum motivo, seja lesado em suas oportunidades de vida. Pessoas com 
deficiência têm atualmente seu direito de estudar em escolas públicas comuns, 
o que favorece a interação e o desenvolvimento social. Porém, podem precisar 
de equipamentos, recursos ou atenção especial, dependendo da deficiência. 
Esse auxílio, elemento da equidade, auxiliará o aluno com deficiência a ter os 
mesmos estímulos e possibilidades que os outros, aprendendo e se desenvol-
vendo tanto quanto eles, gerando, assim, uma situação de equidade.
Portanto, as ações afirmativas se baseiam na elaboração de ferramentas 
que favoreçam a equidade, para depois se chegar à igualdade. As diferenças 
precisam ser observadas e compreendidas na ação do Estado pelo bem de seus 
cidadãos. Como você viu, ao longo da trajetória das civilizações ocidentais, as 
9Desigualdades étnico-raciais
diferenças foram ainda mais aprofundadas. Quem tinha as melhores oportuni-
dades conseguia provê-las também para seus descendentes. Nesse sentido, as 
ações afirmativas permitem ainda que a etnia marginalizada ocupe os espaços 
necessários para que possa reificar seu valor.
No caso do povo negro no Brasil, as políticas de cotas raciais permitem 
que o negro saia da condição de estudante para ocupar espaços e posições 
que lhes eram negados, como o comando de uma sala de aula universitária, 
a chefia de uma equipe médica e a responsabilidade por um grande projeto 
de engenharia civil. Ou seja, todo e qualquer espaço de que os brancos e des-
cendentes europeus usufruíram quase com exclusividade por séculos. Essas 
políticas públicas não privilegiam um grupo, mas fornecem ferramentas para 
que seus componentes tenham tantas oportunidades quanto qualquer cidadão, 
inclusive aqueles beneficiados pelo privilégio branco. No panorama contem-
porâneo das estruturas e das formas de relacionamento social, considerando 
os legados históricos para osgrupos dominantes e os que foram dominados, 
a justiça social se dá pela observância das diferenças.
No link a seguir, você encontra a Lei n.º 12.288, de 20 de julho de 2010, que instituiu o 
Estatuto da Igualdade Racial, que direciona as políticas públicas para a promoção da 
equidade e da igualdade racial no Brasil. Acesse e faça o download!
https://goo.gl/U4sWs1
 BOBBIO, N. et al. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: UnB, 1998. v. 1.
BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro 
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no 
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura 
Afro-Brasileira", e dá outras providências. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.639.htm>. Acesso em: 18 out. 2018.
BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade para 
Todos - PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social no 
Desigualdades étnico-raciais10
ensino superior; altera a Lei no 10.891, de 9 de julho de 2004, e dá outras providências. 
2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/
L11096.htm>. Acesso em: 18 out. 2018.
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes. 3. ed. São Paulo: Ática, 
1978. v. 2.
FREYRE, G. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento 
do urbano. 6. edição. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1981.
NOGUEIRA, O. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão 
de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no 
Brasil. Tempo Social, São Paulo, v. 19, n. 1, p. 287-308, 2007.
SCHWARCZ, L. M. Racismo no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2001.
Leitura recomendada
DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 1981.GUIMARÃES, A. S. A. Como 
trabalhar com "raça" em sociologia. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 93-107, 
jan./jun. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v29n1/a08v29n1.pdf>. 
Acesso em: 18 out. 2018.
11Desigualdades étnico-raciais
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