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MURDOCH, J. Networks: a new paradigm of rural development? Journal of Rural Studies, v. 16, p. 407-419, 2000. ______________________________________________________________________ Resumo O texto traz uma discussão sobre o conceito de redes, no sentido de avaliá-lo como um novo paradigma dentro das discussões sobre o desenvolvimento rural. Para isso ele enfoca-se nas teorias sobre redes que são diretamente aplicáveis às àreas rurais – “assentadas não em escala global, mas num nível intermediário” (p. 408). Jonathan Murdoch demonstra, ao longo do texto, como as discussões a respeito do desenvolvimento rural vem modificando seus enfoques de forma constante ao longo do tempo. De maneira mais ampla, a perspectiva teórica, antes focada no Estado, a partir da década de 70 em diante passou a ser analisada à luz dos mercados. E ainda mais recentemente, paralelamente a essas discussões, passou a ser também analisado sob dois aspectos centrais: o desenvolvimento endógeno e exógeno – enquanto estratégias de desenvolvimento (p. 407). Tais enfoques, entretanto, surgiram de certa forma como mutuamente excludentes, aspecto questionado pelo autor. Ele apoia-se na justificativa que, ao invés de termos de escolher entre tais alternativas (Estado/mercado e endógeno/exógeno) ele discute uma nova possibilidade – que corresponderia a uma combinação entre tais perspectivas: o conceito de redes, o qual busca uma avaliação mais complexa em termos de desenvolvimento e ao mesmo tempo transpõe as dificuldades encontradas nos modelos “centrado no Estado” versus “orientado pelo mercado” e “endógeno” versus “exógeno”, que tendem a priorizar determinadas áreas (p. 408; p. 416). Como foi colocado, a preocupação de Murdoch reside no fato de tentar fazer a análise das redes em um nível intermediário. Neste nível estariam as redes que alcançam diretamente a agricultura e outros setores socioeconômicos dos territórios rurais, configurando, desta forma, determinados padrões de articulação dos atores locais e não locais nos processos de desenvolvimento. Neste cenário, existiriam dois principais conjuntos de redes interagindo nas regiões rurais, o que Murdoch denomina “redes horizontais” e “redes verticais”. No texto, ele explora tanto as potencialidades quanto as fragilidades destas duas abordagens. As “redes verticais” (ou formas verticais de desenvolvimento rural, estudadas principalmente por economistas políticos) estariam associadas à ideia de desenvolvimento setorial e referem-se à forma como a agricultura existe além das „áreas rurais propriamente ditas – sendo portanto incorporada em processos mais amplos de produção, transformação, distribuição e consumo de alimentos e matérias primas (tais como as cadeias de comodities). Neste aspecto, ele chama a atenção para várias discussões teóricas sobre as análises focadas nas cadeias de comodities e de que forma elas tem interferido sobre o rural (seja por transformações econômicas, técnicas, ecológicas, ou mudanças nas relações de poder entre atores). Para compreeender melhor tal complexidade das transformações, uma abordagem possível seria a “Teoria do Ator – Rede” (ANT). Sua argumentação é de que essa teoria “potencialmente nos permite considerar como a natureza do rural é incorporada aos estudos do setor alimentar e pode construtivamente demonstrar como os recursos do rural podem interagir com as redes” (p. 409). Ao mesmo tempo, tanto a análise focada tanto nas cadeias de comodities quanto na ANT permitem investigar e compreender a relação entre os recursos rurais de base (sociais, econômicos, técnicos, e naturais) e de que forma eles são afetados pelo arranjo do próprio sistema (p. 412). Neste aspecto, tal enfoque, na literatura, acaba tendendo para uma ênfase nas relações de poder relacionadas a isso (p. 417). Já as “redes horizontais” (ou formas horizontais de desenvolvimento rural) constituem a integração de esferas não agrícolas ao espaço e processos rurais. Estão associadas à ideia de desenvolvimento territorial: fortalecimento das capacidades produtivas locais de maneira a beneficiar a economia rural em sua totalidade (p. 412). Neste aspecto ele enfatiza a questão da inovação e aprendizado e da capacidade de formação de redes sociais; por isso a importância da proximidade espacial (p. 413). Considerando a complexidade com espaço rural, Murdoch argumenta que, mesmo na perspectiva da redes, é importante considerar que distintas abordagens sobre elas evidenciam diferentes aspectos, pois direcionam nosso olhar para espaços rurais específicos. Nesse sentido ele aborda uma preocupação ligada ao desenvolvimento rural desigual, baseado principalmente neste mosaico de diferenças dos espaços de produção. Isso significa que o paradigma das redes não pode ser usado para propor um único modelo de desenvolvimento, uma vez que ele deve estar coerente com a forma de interação com estruturas socio-econômicas locais (p. 416). Isso porque pois há distintos tipos de redes, interagindo em distintas maneiras e com uma variedade de condições pré-existentes, implicando em ajustes a tais contextos. A aproximação teórica das redes permite compreender e conectar aspectos do desenvolvimento rural tanto internos ao espaço rural quanto externos, através de um grande quadro contextual. Entretanto, o que importa mesmo para a análise não são as redes em si, mas sim os elementos e suas interações que fluem através destas redes (p. 417). Comentários críticos O texto traz uma das possibilidades, dentro da abordagem relacional, de análise com foco no conceito de rede. A abordagem relacional, dentro das ciências sociais, propõe- se a dar conta da complexidade das dinâmicas sociais do mundo contemporâneo. Uma delas diz respeito ao conceito dos modos de organização, desenvolvido a partir da Teoria do Ator Rede. Murdoch, em seu texto, traz a proposta da utilização da noção de redes (como foco no que ele chama de nível intermediário das redes) como uma possível “solução” para as lacunas teóricas surgidas a partir dos modelos de desenvolvimento endógeno versus exógeno e dos modelos centrados no Estado versus orientado pelo mercado. Assim, neste nível o cenário estaria configurado por múltiplas articulações entre atores locais e não locais do rural. De acordo com Schmitt (2011) 1 , a Teoria do Ator Rede (ANT) foi incorporada aos estudos rurais sob diferentes concepções, mas como um enfoque alternativo aos estudos mais clássicos da economia sobre cadeias de comodities, sistemas de provisão, ou às abordagens mais “convencionais” sobre as tecnologias na agricultura. Dentro dessa concepção, o conceito de rede permite uma leitura do espaço rural a partir de suas relações entre o local e o global, as redes e o território, o agrícola e o rural, que vai além da análise pontual da questão espacial – o espaço passa a ser visto também por um viés político. Dessa forma, tal proposta permite enxergar os processos no rural por uma perspectiva que englobe a complexidade das dinâmicas sociais e econômicas locais, bem como a sua relação com características externas a elas. Nome do estudante: Andréia Vigolo Lourenço Data e local do fichamento: Porto Alegre, 07 de abril de 2016. 1 SCHMITT, C. J. Redes, atores e desenvolvimento rural: perspectivas na construção de uma abordagem relacional. Sociologias, v. 13, n. 27, p. 82-112, 2011.
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