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Teorias de Direito Divino e Maquiavel

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Filosofia
Direito Divino de Governar
Teoria
↪Ao longo da Idade Média e em parte da Moderna, ocorreu uma aliança entre o poder religioso e o poder político. A partir da ideia da Igreja católica de que todo poder pertencia a Deus, surgiu a ideia de que os governantes seriam representantes de Deus na Terra. O rei passou a ter o direito divino de governar.
↪Com essa ideia, a monarquia seria a forma política mais natural e adequada à realização do bem comum: um só Deus, um só rei. 
↪Jacques Bossuet (1627 – 1704)e Jean Bodin (1530 – 1596) são os maiores defensores da teoria do direito divino de governar. 
Jacques Bossuet
↪Bossuet foi bispo e teólogo francês, defensor do absolutismo. Na política, desenvolveu a doutrina do direito divino, na qual afirmava que qualquer governo formado legalmente, expressa a vontade de Deus, que sua autoridade é sagrada e que qualquer rebelião contra ela é criminosa.
↪Partindo do pressuposto de que o poder real era também o poder divino, pois os monarcas eram representantes de Deus na Terra, Bossuet relacionou política e religião. Assim, os reis possuíam o controle total da sociedade e não poderiam ser questionados. O súdito que se voltasse contra o rei estaria questionando as verdades eternas de Deus.
↪O pensador destacou que o soberano deveria se comportar como a imagem de Deus e governar para os súditos como um bom pai e não cometer abusos. Embora fosse um religioso, Bossuet formulou ideias favoráveis ao poder do rei, chegando a defender que o Papa só deveria ter poder em questões religiosas, devendo isentar-se do poder secular.
Jean Bodin
↪Jurista e filósofo francês, Jean Bodin defendeu em sua obra, A república, o conceito de soberano perpétuo e absoluto, cuja autoridade representa “a imagem de Deus na Terra”. Apesar de usar a expressão “república”, no sentido etimológico de “coisa pública”, defendeu a monarquia como a forma mais adequada de governo.
↪Na mesma linha de São Tomás de Aquino, Bodin afirmava ser a monarquia o regime mais adequado à natureza das coisas. Assim como só existe um chefe na família, o pai; como o céu tem apenas um sol e o universo só um Deus criador, a soberania do Estado só pode ser realizada plenamente na monarquia.
↪Para Bodin, a soberania do monarca não significava a existência de um governo tirânico. O monarca não podia desprezar as leis da natureza, como a liberdade e a propriedade, e abusar de pessoas livres ou de escravos, nem se apropriar dos bens de seus súditos.
Luís XIV
↪O monarca é representado como a divindade do Sol. A ligação entre a figura do rei e o sagrado é antiga, mas foi com o absolutismo europeu do século XV ao XVIII que a teoria do direito divino de governar alcançou seu apogeu.
 
Maquiavel
Quem foi Nicolau Maquiavel?
↪Em 1498 tornou-se secretário de Florença, com 29 anos. No ano de 1512 os Médici retornam ao poder e Maquiavel é demitido de seu cargo. O livro o Príncipe foi escrito em 1513, em algumas semanas (dedicado a Lourenço de Médici). Foi publicado em 1531.
↪Maquiavel teve uma vida curta. Viveu 58 anos. Foi secretário de Florença, sob o governo de Piero Soderini, que sucedeu o monge Savonarola (1452-1498), mas perdeu o posto quando a poderosa família Médici reassumiu o poder. Disposto a retomar a carreira política, escreveu O Príncipe como um agrado a Lourenço de Médici, que não entendeu o recado e Nicolau Maquiavel passou seus últimos anos no campo, no “inferno” (sem realizar o que mais sabia e gostava de fazer).
A Itália de Maquiavel 
↪A Itália na época de Nicolau Maquiavel era uma região dividida entre inúmeras cidades autônomas, sujeitas a disputas internas e a hostilidade das cidades vizinhas. A ausência de unificação política expunha a Itália à ganância de outros países, como a Espanha e a França, que reivindicavam territórios e afligem a península com ocupações.
↪Uma Itália dividida “A República de Veneza e o Ducado de Milão ao norte, o Reino de Nápoles ao sul, os Estados papais e a República de Florença no centro formavam ao final do século XV o que se pode chamar de mosaico da Itália sujeita a constantes invasões estrangeiras e conflitos internos. Nesse cenário, o florentino Maquiavel desenvolveu reflexões sobre como aplacar o caos e instaurar a ordem necessária para a unificação e a regeneração da Itália”. O sonho de Maquiavel era a unificação da Itália, fato que ocorreu somente após a sua morte.
César Bórgia
↪Filho do papa Alexandre VII, César Bórgia nomeou Remirro de Orco para governar a província de Romanha, para apaziguar a região, que usou de métodos violentos para conter os ânimos – com o aval de Bórgia. Depois da missão cumprida, Bórgia achou que a população se voltaria contra Remirro de Orco e, por tabela, contra ele. Então, mandou matá-lo e expor seu corpo partido ao meio em uma praça. Com a estratégia, Bórgia mostrou que não compactuava com as ações de Remirro de Orco e ao ser extremamente violento, intimidou qualquer oposição a ele.
↪Maquiavel via Bórgia como um líder virtuoso, mas sem sorte, pois adoeceu e, sem forças para se defender, acabou assassinado aos 31 anos. A atitude do nobre mostrava que ele não media esforços para manter a paz. Para Maquiavel, isso era bom mesmo que custasse algumas vidas. Numa época em que não havia democracia, a estabilidade era o valor mais importante. Na verdade, era assim que a política funcionava na prática, só que ninguém admitia. 
A verdade efetiva
↪Para Nicolau Maquiavel, o governante, na época chamado de príncipe, pode se encontrar em condições de ter que aplicar métodos extremamente cruéis e desumanos. Quando são necessários remédios extremos para males extremos, deve-se adotar tais remédios extremos.
Pai da política enquanto ciência
↪O Príncipe, livro de Nicolau Maquiavel, operou uma revolução no pensamento político do século XVI. Pela primeira vez na história, a política foi pensada como algo à parte da religião e destituída de valores elevados, como a justiça. Por isso, Maquiavel é o pai da política enquanto ciência, pois separou a política da ética e da religião, dando autonomia à mesma. A virtude do príncipe é a de governar eficazmente o Estado, resistindo à má sorte, aos infortúnios.
A política e o bem comum
↪Desde os gregos, passando pelos romanos, pelos medievais e chegando até nossos dias, a política sempre foi entendida como a esfera da realização do bem comum, mesmo colocada como um ideal a ser alcançado.
A descoberta de Maquiavel
↪Maquiavel percebeu que a política atende à lógica do poder e não a do bem comum, pois ela tem como objetivo a conquista e a manutenção do poder. O mérito do filósofo foi ter percebido que, no início da Idade Moderna, a política desvinculou-se das esferas da moral e da religião, constituindo-se em uma esfera autônoma.
A lógica do poder
↪Maquiavel afastou-se da concepção idealizada de política, como a arte de buscar o bem comum e centralizou sua reflexão na constatação de que o poder político tem como fundamento as lutas e tensões entre dois grupos: os poderosos e o povo. Para Maquiavel, devido a tais lutas e tensões, seria uma ilusão buscar o bem comum. 
Mas se a política não tem como objetivo o bem comum, qual seria então seu objetivo?
Maquiavel respondeu:
↪A política tem como objetivo a manutenção do poder do Estado. E, para manter o poder, o governante deve lutar com todas as armas possíveis. Isso significa que a ação política não cabe nos limites do juízo moral. Assim, o governante deve fazer aquilo que, a cada momento, se mostra necessário para conservar seu poder. Não é uma decisão moral, mas uma decisão que atende à lógica do poder.
O realismo político
↪O florentino refletiu não sobre como as coisas deveriam ser, mas como ocorrem de fato. Assim, chegou ao realismo político, que é a reflexão da “verdade efetiva das coisas”. Trata-se da distinção entre o “ser” e o “dever ser”, isto é, entre o como se vive e o como se deveria viver.
• A reflexão de Maquiavel não é sobre como a política deveria ser, mas como é de fato. 
• Rejeita tradição idealista de Platão e Aristóteles. 
• Parte da experiência realde seu tempo. 
• Procura a verdade efetiva, a verdade das coisas, reflete como o homem age de fato, na realidade. 
• Não admite um fundamento exterior à política, que preexiste e transcende a autoridade do Estado. Não é uma concepção metafísica.
Política autônoma
↪A avaliação moral não deve ser feita antes da ação política, mas a partir de uma situação específica que é avaliada em função de seu resultado real. O príncipe que aplicar de forma inflexível o código moral que rege sua vida pessoal à política, sem dúvida colherá fracassos sucessivos, tornando-se um político incompetente – a ética rege o espaço privado.
Imoralismo?
• Não se trata de imoralismo, mas de uma nova moral, centrada em critérios de avaliação do que é útil à comunidade – a conquista e manutenção do poder. 
• A política não é a lógica racional da justiça e da ética, mas a lógica da força transformada em lógica do poder e da lei.
Uma injustiça histórica?
↪Nicolau Maquiavel ganhou uma conotação injusta. Os termos maquiavélico ou maquiavelismo correspondem àquilo que é considerado perverso, ardiloso, enganador, relacionado a condutas desleais, hipócritas, perversas e cruéis. Representa o uso de meios imorais para conseguir o que deseja.
↪Os fins justificam os meios é uma frase falsamente atribuída a Nicolau Maquiavel. Significa que os governantes devem estar acima da ética dominante para manter ou aumentar seu poder. Foi um erro de tradução. Maquiavel teria escrito que os fins devem ser perseguidos e não que os fins justificam os meios.
A questão da virtú
• Virilidade, força, coragem, ousadia, vigor, astúcia, energia, capacidade de prever. 
• É a capacidade do príncipe para ser flexível às circunstâncias, mudando com elas para agarrar e dominar a fortuna (sorte, destino).
• O príncipe virtuoso é aquele que tem a capacidade de perceber o jogo de forças que caracteriza a política para agir com energia a fim de conquistar e manter o poder.
A questão da fortuna 
• Fortuna era uma Deusa romana, que representava a abundância e movia a roda da sorte (fortuna). 
• É a sorte no sentido de destino, fatalidade – ocasião, acaso, circunstâncias favoráveis ou não, a partir das quais o príncipe age. Oportunidade – possibilidade de controlar a fortuna, através da virtù (coragem).
• O príncipe (governante) não deve deixar escapar a fortuna; de nada adiantaria a um príncipe virtuoso, se não soubesse ser ousado ou precavido.
A questão da Guerra 
↪ “Um príncipe não deve ter outro fito ou outro pensamento, nem cultivar outra arte, a não ser a da guerra, juntamente com as regras e a disciplina que ela requer; porque só essa arte se espera de quem manda, e é tão útil que, ao conservar no poder os príncipes de nascimento, com frequência eleva a tal altura simples cidadãos. Em contraste, os príncipes que cultivaram mais das delícias da vida do que das armas perderam os seus Estados. E como o desprezo da arte da guerra determina essa perda, assim o estar nela bem adestrado determina aquela ascensão”. 
Ser amado ou ser temido? 
↪ “Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens que se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se”.
A natureza humana 
↪Maquiavel é um pensador que tem uma visão pessimista do ser humano: o homem não é bom nem mau, mas tende a ser mau. Assim, o político deve levar em consideração essa tendência negativa do ser humano e não hesitar em ser temido e a tomar as medidas necessárias para tornar-se temido. O ideal a um príncipe seria ser ao mesmo tempo amado e temido, o que é difícil. Por isso, deve tomar uma medida funcional para ser eficaz.
↪ “Sendo, portanto, um príncipe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da raposa e do leão, pois este não tem defesa alguma contra os laços, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos. Os que se fizerem unicamente de leões não serão bem sucedidos. Por isso um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. Se os homens todos fossem bons, este preceito seria mau. Mas dado que são pérfidos [desleais, infiéis ou traiçoeiros] e que não a observariam a teu respeito, também não és obrigado a cumpri-la para com eles”.
Astúcia e força 
↪Astúcia da raposa e a força do leão, virtudes necessárias ao príncipe para escapar das armadilhas e defender-se dos perigos. Porque é somente com essas duas qualidades, isto é, força e a astúcia, que um príncipe poderá superar as dificuldades em seu governo: evitar as armadilhas políticas (como uma raposa escapa dos laços) e derrotar pela força os inimigos (como o leão faz ao espantar os lobos). A força sem astúcia é frágil e astúcia sem força é fraca. Apenas a combinação das duas garante ao príncipe a qualidade necessária ao comando. 
Não manter a palavra 
↪Um príncipe não pode manter sua palavra quando ela lhe causar prejuízo ou quando os motivos que o levaram a empenhar a sua palavra deixarem de existir. O príncipe pode agir dessa maneira pelo fato de seus interlocutores – homens que não são bons em sua totalidade – agirem segundo o mesmo princípio. A honra da palavra, simulação e dissimulação devem ser utilizadas conforme a necessidade. O mais importante é o “parecer ser” (piedoso, sincero, íntegro, humanitário, religioso).
↪ “Um Príncipe não deve agir sempre da mesma maneira e de acordo com os mesmos princípios sob pena de fracassar. Para ser senhor da sorte ou das circunstâncias, o governante deve mudar com elas, e, como elas, ser volúvel e inconstante, pois somente assim saberá agarrá-las e vencê-las. Em certas circunstâncias, deverá ser cruel, em outras, generoso; em outras deverá mentir, ou ser honrado; em certos momentos, deverá ceder à vontade alheia, em algumas, ser inflexível. Mesmo a força pode e deve ser usada, porém com sabedoria, de forma virtuosa”.
Os dois fundamentos do Estado 
↪Para Maquiavel, boas leis e boas armas são os dois fundamentos de um Estado. As leis regulamentam as ações dos cidadãos dentro do Estado e as armas, no que diz respeito à política internacional, proporciona respeito frente às outras nações. 
Algumas conclusões 
• Maquiavel inaugura a ideia de valores políticos medidos pela eficácia prática e pela utilidade social, afastados dos padrões que regulam a moralidade privada dos indivíduos.
• A lógica política nada tem a ver com as virtudes éticas dos indivíduos em sua vida privada – o que pode ser imoral do ponto de vista da ética privada pode ser virtù política.
A antiga República romana 
↪O livro Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio são os comentários feitos por Maquiavel, a partir da obra de Tito Lívio, historiador que viveu no século I A.C., e escreveu sobre Roma. Neste livro, Nicolau Maquiavel desenvolveu ideias republicanas, onde o poder não está a serviço dos desejos e interesses de um particular ou de um grupo de particulares.
↪As ideias contidas no Príncipe são importantes para a conquista e a manutenção do poder, fruto de uma necessidade histórica, mas alcançada a 
estabilidade, é possível e desejável a instalação de um governo republicano. O ideal político de Maquiavel é o da República romana, fundada na liberdade e nos bons costumes. 
A necessidade do príncipe 
↪Quando a nação se encontra ameaçada, quando a corrupção se alastrou, é necessário um governo forte, que crie e coloque seus instrumentos de poder para inibir a vitalidade das forças desagregadoras. O príncipe é um ditador, um fundador do Estado, um agente de transição numa fase em que a nação seacha ameaçada de decomposição. 
A necessidade da República 
↪Quando a sociedade já encontrou formas de equilíbrio, o poder político cumpriu sua função regeneradora e “educadora”, ela está preparada para a República. Neste regime, o povo é virtuoso, as instituições são estáveis e contemplam a dinâmica das relações sociais. Os conflitos são fontes de vigor, sinal de uma cidadania ativa e, portanto, desejáveis. 
Os Contratualistas
A criação do Estado
↪Um problema que ocupou os filósofos dos séculos XVII e XVIII foi a justificação racional para a existência das sociedades humanas e para a criação do Estado. Assim, passou-se a refletir sobre a natureza humana e como o ser humano vivia no estado de natureza, que antecede a sociedade civil. 
↪O ponto de partida de tais pensadores foi a ideia de que todos os homens são livres e iguais, mas que em um dado momento e devido a determinadas circunstâncias, foram obrigados a abandonar essa liberdade e estabelecer entre si um contrato, que teria dado origem ao Estado. Tais explicações ficaram conhecidas como teorias contratualistas.
Thomas Hobbes
O Estado soberano 
↪Para Hobbes, o ser humano, embora vivendo em sociedade, não possui o instinto natural de sociabilidade, como defendeu Aristóteles. Em sua obra o Leviatã, buscou responder a seguinte pergunta: por que os seres humanos aceitam livremente viver submetidos a um governo, abrindo mão da liberdade?
O estado de natureza 
↪O estado de natureza é a situação em que os seres humanos se encontram antes do aparecimento do poder político. Nesse estado, todos têm o máximo de liberdade e cada um busca alcançar a autopreservação e o prazer.
O jus naturale ou jusnaturalismo 
↪Hobbes defende que no estado de natureza todo homem tem direito a tudo: “O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam de jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida”.
↪Quando competem entre si pelas mesmas coisas, surge a discórdia, pois apenas um pode possuir determinado bem. Três fatores complicam esse estado de discórdia entre as pessoas: todas são competitivas, desconfiam uma das outras e desejam a glória.
A guerra de todos contra todos 
↪Os homens, quando em estado de natureza, compartilhavam do direito a tudo o que existe, em razão de não haver limitação legal, agiam para conseguir o que desejavam, o que provocaria uma guerra de todos contra todos. O indivíduo hobbesiano não almeja tanto os bens, mas a honra. 
↪Entre as causas da violência, uma das principais reside na busca da glória, que faz os homens se agredirem por ninharias e até mesmo, uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião ou qualquer sinal de desprezo. O homem não possui o interesse maior em produzir riquezas, o mais importante para ele é ter sinais de honra, entre os quais a própria riqueza.
↪Para Thomas Hobbes, a liberdade absoluta deixa de ser uma característica benéfica, pois ninguém está em segurança. A vida é curta e o medo é constante. Nesta situação de guerra de todos contra todos, o homem torna-se o lobo do homem e tenta dominar os demais pela força ou pela astúcia. 
↪Nesta situação, ninguém pode ser considerado mau, pois antes do surgimento das leis e do Estado, não há critério para definir a maldade e a bondade, o justo e o injusto. A violência é a maneira de as pessoas preservarem a própria vida quando não existe poder soberano que lhes imponha uma lei. 
↪Para Hobbes, o homem natural não é um selvagem, mas o mesmo que vive em sociedade. A natureza do homem não muda conforme o tempo ou a história (“o homem é o lobo do homem”). Por isso, se não há um Estado controlando e reprimindo, fazer a guerra contra os outros é a atitude mais racional a ser feita. O homem hobbesiano em seu estado de natureza não é uma anormal, suas ações são racionais e calculadas.
↪Por que os seres humanos aceitam livremente viver submetidos a um governo, abrindo mão da liberdade? 
O surgimento do Estado 
↪No estado de natureza, não há convívio social nem sociabilidade entre os indivíduos. Como as pessoas se veem em constante ameaça, elas aceitam abrir mão da liberdade absoluta em favor de uma força capaz de, sob o temor, impedi-las de viver num estado de guerra de todos contra todos. 
↪Para controlar a si mesmos e garantir o bem-estar físico e material, os indivíduos realizam um contrato social, regulado por uma autoridade soberana. Assim, transferem e concentram no Estado ou no soberano o poder que estava distribuído entre todas as pessoas, surgindo o estado de sociedade. 
↪Na sociedade civil, para garantir que as leis sejam seguidas e evitar o retorno do estado de guerra de todos contra todos, é preciso que o Estado possa usar a violência, pois “os pactos sem a espada não passam de palavras”, afirma Hobbes. Na sociedade civil também reina um certo medo, o medo de ser punido quando infringe as leis.
↪A monarquia absolutista defendida por Hobbes não se justifica pela teoria do direito divino dos reis, defendida por Jean Bodin e Jacques Bossuet, mas pela transferência dos direitos dos indivíduos ao soberano. É em nome desse contrato que o poder é exercido e não pela realização da vontade pessoal do soberano. 
Uma sutil mudança 
↪Thomas Hobbes não estabeleceu uma teoria que limitava o poder dos governantes, apenas concebe uma nova justificação à monarquia absolutista, não mais divina, mas humana (pelo contrato/pacto social). 
O poder absoluto 
↪Os contratantes passam a ser súditos do soberano, que possui em suas mãos todo o poder (temporal e espiritual). O soberano, tido por Leviatã, de preferência deve ser um só indivíduo, mas também pode ser uma assembleia de pessoas. O importante é ser único perante a multidão dos súditos (sem divisões de poderes).
A questão da justiça 
↪Depois da formalização do contrato, surge a justiça e a injustiça. A justiça é o cumprimento das regras do contrato e a injustiça é a violação de tais regras. Os súditos transferem para o soberano a responsabilidade de julgar e punir todos aqueles que cometem injustiças. 
O poder e a liberdade 
↪No Estado ou sociedade civil, os súditos gozam de dois tipos de liberdade. Primeiro, os súditos são livres para fazer o que a lei silencia, podendo exercer livremente todos os aspectos da vida social que o soberano não regulamentou. 
Segundo tipo de liberdade 
↪Os súditos são, de forma absoluta, detentores do direito de preservação da própria vida, que é um direito natural. Não importam quais sejam as ordens do soberano (suicídio, ferir-se, lutar em guerras), nenhum súdito é obrigado a praticar atos que atentem contra a sua própria vida.
↪Para Hobbes, um soberano perde sua soberania se deixar de proteger a vida de determinado indivíduo, que não lhe deve mais sujeição. No Estado absolutista hobbesiano, o indivíduo conserva o direito à vida, que é um direito natural. 
A propriedade privada 
↪No estado de natureza, a propriedade privada é de quem a apanha e conserva pela força. Após o contrato social, o soberano, que representa o Estado, que nada faz a não ser em vista da paz e da segurança, distribui as terras. O Estado instituiu e pode suprimir a propriedade privada. A distribuição que se faz em prejuízo dessa paz e dessa segurança é contraria a vontade de todos. 
↪Hobbes é, com Maquiavel e em certa medida Rousseau, um dos pensadores mais “malditos” da história. Não só porque apresenta o Estado como monstruoso, rompendo com a imagem aristotélica do bom governante e do indivíduo de boa natureza, mas também porque nega um direito natural ou sagrado do indivíduo à sua propriedade.
↪No tempo de Hobbes e ainda hoje, a burguesia procurou fundamentar o direito à propriedade anterior e superior ao Estado. Por isso, endossará a proposta de Locke, que defendeu a tese de que a propriedade é um direito natural e que a finalidade do poder público é protegê-la. 
↪Hobbes nos deixou dois legados: Primeiro, o homem é o artífice de seu destino e não Deus ou a natureza. Segundo, o homem pode conhecertanto a sua presente condição miserável quanto os meios de alcançar a paz e a prosperidade. Tais legados continuam inspirando o pensamento sobre o poder e as relações sociais.
John Locke
A concepção liberal 
A necessidade do Estado 
↪Assim como Hobbes, Locke também refletiu sobre a origem do poder político e a necessidade de união dos seres humanos, que, em estado de natureza, viviam isolados. Para Locke, o estado de natureza é um paraíso perdido. Trata-se de uma condição na qual, pela falta de uma normatização geral, cada um seria juiz de sua própria causa, o que levaria ao surgimento de problemas entre os indivíduos. 
A necessidade do Estado 
↪Para Locke, o governante é um escolhido pelo povo para assegurar os direitos naturais. Assim, defendeu a democracia representativa. “Considero o poder político como o direito de fazer leis com pena de morte, e consequentemente todas as penalidades menores para regular e preservar a propriedade”. A palavra propriedade designa simultaneamente a vida, a liberdade e os bens. 
O estado de natureza 
↪O estado de natureza era, segundo Locke, uma situação real e historicamente determinada pela qual passara, ainda que em épocas diversas, a maior parte da humanidade na qual se encontravam alguns povos, como as tribos norte-americanas. No estado de natureza os homens são dotados de razão e desfrutam de direitos naturais: vida, liberdade e propriedade privada. 
↪De acordo com John Locke, as pessoas são livres e iguais no estado de natureza, não havendo hierarquia entre elas. Apenas com a instituição da sociedade civil é que os seres humanos passam a se diferenciar em superiores e inferiores. Para o filósofo, no estado de natureza, os indivíduos possuem consciência de que não devem atentar contra a vida, a propriedade e a liberdade dos outros (os três direitos naturais). 
A propriedade privada 
↪Para Locke, os seres humanos não violam a posse no estado de natureza, apesar de o direito de propriedade não estar garantido. Como a terra é patrimônio de todos, o único elemento que assegura a posse de um território é o trabalho, que concede o direito natural de se apropriar do que é capaz de produzir ou usufruir. 
↪No estado de natureza o direito de propriedade é concedido apenas para a parte de terra que o indivíduo e sua família podem efetivamente cultivar. Assim, os peixes do rio são de todos, mas os que pesquei são meus.
A perfectibilidade 
↪A perfectibilidade é uma característica ligada à natureza humana, como sendo uma potencialidade a ser atualizada e, ao mesmo tempo, um elemento vinculado à determinações externas, tais como os eventos naturais (terremotos, secas e inundações), que fazem o ser humano evoluir. 
↪ “O homem é uma espécie de ser bastante singular e muito diferente daquilo que vemos na natureza, seja vivo ou inanimado. A principal característica que o distingue de todas as outras criaturas do universo é a perfectibilidade ou faculdade que ele recebeu para tornar-se mais perfeito, faculdade que opera continuamente as revoluções mais surpreendentes em seu ser e em toda a natureza. Todos os outros animais conservaram o mesmo grau de perfeição em que estavam após aprendermos a sua história”.
A sociedade civil 
↪No estado de natureza, os direitos naturais são conhecidos por todos, mas não há garantia de que serão respeitados. Sempre pode surgir alguém mais poderoso interessado em desrespeitar os direitos naturais de uma pessoa, que não é forte para impedir a usurpação. Devido a abusos e para garantir os direitos naturais, as pessoas decidem instituir o Estado. 
O contrato social 
↪O contrato social é elaborado pelos súditos, que transmitem a um poder central (Estado) a autoridade para julgar e decidir com imparcialidade conflitos que possam surgir entre os contratantes e proteger e até ampliar a propriedade privada. 
↪Há diferenças entre o contrato social em Locke e em Hobbes. Em Hobbes, os homens firmam entre si um pacto de submissão pelo qual, visando a preservação de suas vidas, transferem a um terceiro (homem ou assembleia) a força coercitiva da comunidade, trocando voluntariamente sua liberdade pela segurança do Estado-Leviatã.
↪Em Locke, o contrato social é um pacto de consentimento em que os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para preservar os direitos naturais, que passam a ser protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum de um corpo político unitário. 
A sociedade civil 
↪O livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do governo, a proteção dos direitos naturais pelo governo, o controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade, são os principais fundamentos da sociedade civil. 
Resistência ao soberano 
↪Para John Locke, o governante estava submetido a regras, pois tinha feito parte do contrato social (direitos e deveres) e não podia, por exemplo, criar impostos sem o consentimento dos cidadãos e deveria elaborar leis para todos e voltadas para o bem do povo e não para o próprio benefício. 
↪Se o governante quebrasse as regras estabelecidas no contrato social, perdia a confiança dos contratantes, o que justificava a rebelião da população, que podia destituí-lo do poder que foi confiado. “Aquilo que foi feito podia ser desfeito”, dizia Locke. A transferência dos direitos naturais para o Estado é parcial. Ao ingressar no estado civil, os indivíduos renunciam a um único direito: o de fazer justiça pelas suas próprias mãos, mas conservam todos os outros. 
↪A teoria de Locke influenciou a independência dos EUA. O direito de resistência, em que o governante pode ser deposto se descumprisse o contrato social foi bem recebida pelos líderes estadunidenses, que se rebelaram contra o governo inglês.
↪ “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade”. Declaração de independência dos EUA - 04 de julho de 1776
A influência de Locke 
↪A partir da concepção de direitos naturais que existem antes do Estado, de um Estado que surge pelo consenso, da subordinação do executivo ao legislativo, de um poder limitado, do direito a resistir à tirania, Locke fundamentou as principais diretrizes do Estado liberal. 
↪Locke forneceu a justificativa a posteriori para a Revolução Gloriosa, influenciou a Revolução norte-americana pela independência e os filósofo iluministas e através deles, a Revolução Francesa.
Jean-Jacques Rousseau
O bom selvagem 
↪O conceito de estado de natureza também foi importante em Rousseau, que trouxe interpretações novas ao tema, pois via com bons olhos a situação dos indivíduos antes do surgimento das instituições sociais. Para ele, o ser humano é bom, mas é a sociedade que o corrompe. 
↪O estado de natureza, descrito pelo suíço Rousseau, não é o de guerra generalizada. Neste estágio, as pessoas são capazes de compaixão e consideração pelo seu semelhante, de se colocar no lugar do outro, de se condoer dele, de compartilhar o sofrimento que qualquer ser vivo sentisse. 
A compaixão 
↪ “É esta compaixão que nos leva, sem reflexão, a socorrer aqueles que vemos sofrer, é ela que no estado de natureza ocupa o lugar das leis, dos costumes e da virtude, com a vantagem de que ninguém é tentado a desobedecer a sua doce voz. É ela que fará um selvagem robusto não tirar de uma criança fraca, ou de um velho inválido, sua subsistência adquirida com dificuldade, se ele mesmo espera poder encontrar a sua noutra parte”.↪A passagem do estado de natureza para o estado de sociedade civil não foi brusca. Uma sequência de fatos conduziu os indivíduos de seu isolamento para formas iniciais de organização social, como as associações familiares e a divisão do trabalho. O contrato social surgiu no momento em que os grupos humanos se viram ameaçados em sua segurança e perceberam a necessidade de instituir um corpo político para os proteger. 
A instituição da propriedade privada 
↪ “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu, e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditar”. Assim, surgiu a sociedade civil e as leis, que deram novos entraves ao fraco e novas forças ao rico, destruiu a liberdade natural, fixou para sempre a lei da propriedade e da desigualdade social. 
A desigualdade social 
↪Para Rousseau, a desigualdade causada pelo advento da propriedade privada seria a causa de todos os sentimentos ruins do ser humano. No contrato social seria preciso definir a questão da igualdade e do comprometimento entre todos. Se a vontade individual é particular, a do cidadão deve visar o bem comum.
↪O contrato social Com o contrato social, a liberdade natural é substituída pela civil. Os contratantes, ao instituírem o poder ao soberano, se tornam súditos e cidadãos. Como cidadãos, exercem a soberania e como súditos, obedecem as leis. 
A democracia direta 
↪Enquanto que, para Locke, o contrato social cria a sociedade civil e o Estado, para Rousseau, o contrato social gera só a sociedade civil, na qual o povo detém a soberania. O próprio Rousseau denunciou o caráter utópico de sua proposta: “a democracia da qual eu falo não existe, nunca existiu e talvez nunca existirá”. 
↪A participação política é o ato de deliberação pública que organiza a vontade geral, ou seja, traduz os elementos comuns a todas as vontades individuais. Em seu livro Do contrato social, Rousseau afirma que a democracia só pode existir se for diretamente exercia pelos cidadãos, sem representação política, pois a vontade geral não pode ser representa, apenas exercida diretamente.
A vontade geral 
↪A vontade geral visa o bem comum e a particular, o bem do indivíduo. A vontade geral, instituída pelo contrato social, é maior do que a vontade de todos. Enquanto que a vontade de todos está vinculada aos interesses particulares, sendo mera soma das vontades particulares, a vontade geral está voltada ao interesse comum e expressa a vontade de toda a sociedade. 
↪A vontade da maioria pode errar na busca do bem público, por isso não pode ser confundida com a vontade geral, que é infalível e sempre está voltada para o interesse comum. Para Rousseau, os grupos sociais que sustentam interesses privados e não o interesse público, deveriam ser abolidos. Além disso, propôs a 
formação de plebiscitos para se alcançar a vontade geral. 
Governo e soberania 
↪Por meio de plebiscitos, os cidadãos elaboram e votam as leis a que devem se submeter. A soberania é sempre democrática, mas não se confunde com o governo, que é o mero exercício e cumprimento da lei. Assim, o governo pode ser democrático, aristocrático ou mesmo monárquico e mesmo assim a soberania, expressa pela vontade geral, continuaria sendo democrática.
↪O filósofo Jean-Jacques Rousseau desenvolveu uma filosofia política inovadora ao distinguir o conceito de soberania do conceito de governo, atribuindo, dessa maneira, ao povo, uma soberania inalienável.
		A teoria dos três poderes
Montesquieu
A liberdade civil ou política
↪Para o francês Montesquieu, a liberdade e a lei não se opõem, mas é a lei que dá a medida da liberdade, pois a liberdade civil ou política do cidadão é a capacidade de fazer o que as leis permitem.
Os quatro tipos de crimes
↪Como a liberdade do cidadão depende da brandura das leis criminais, então é necessário cautela durante a definição dos tipos de crimes. Tudo precisa estar de acordo com a natureza do crime cometido e a pena deve ser favorável à liberdade do cidadão, ou seja, a mais branda possível. Sobre o crime contra religião (primeiro tipo de crime) deve-se ter em mente que a penalidade pelo crime de sacrilégio nunca será uma vingança em nome da Divindade. A pena para este tipo de crime deverá, portanto, ser a privação das vantagens da religião.
↪Do mesmo modo, os crimes de segundo tipo (contra os costumes), de terceiro (contra a tranquilidade) e quarto (contra a segurança) também possuem as suas penalidades derivadas de sua natureza. O criminoso contra os costumes 
de sua natureza. O criminoso contra os costumes será penalizado com a privação das vantagens de se manter a integridade do costume – ele será multado, desonrado, sofrerá com a infâmia pública, etc.; assim será em relação à tranquilidade – prisão, exílio, etc.; e ultimamente em relação à segurança – pena corporal, incluindo a pena de morte.
Formas de governo
↪O governo pode assumir a forma de república, monarquia ou despotismo. A república pode ser exercida pelo conjunto da população (república democrática) ou por uma minoria (república aristocrática). Na forma republicana, o princípio que a orienta é a virtude e o respeito às leis.
A monarquia e o despotismo
↪A monarquia é o governo de um só por meio do respeito às leis e às demais instituições sociais, sendo a honra o princípio que a orienta. Assim como a monarquia, o despotismo também é o governo de um só, mas é comandado pelo princípio do medo e do desprezo pelas leis.
A monarquia
↪Das três formas de governo, o francês Barão de Montesquieu era mais inclinado para a monarquia. Apesar de defender a liberdade e a lei e de opor-se às monarquias absolutistas e a toda forma de despotismo, ele desconfiava da democracia popular e preferia o governo representativo, em que pessoas esclarecidas assumissem a condução dos assuntos públicos.
Como frear o poder político?
↪Para Montesquieu, uma vez que os indivíduos são propensos a abusar do poder quando o possuem, a instituição da monarquia e o respeito às leis não era suficiente para impedir abusos dos governantes. Eis a razão dos três poderes, pois “só o poder freia o poder”.
Os três poderes
↪A teoria dos três poderes foi criada pelo Barão de Montesquieu, em sua obra O espírito das leis, em que o Estado deve ser dividido em três poderes independentes. Poder Legislativo (elabora as leis), poder Executivo (executa as normas e decisões relativas à administração pública), é o único que tem poder de veto e o poder Judiciário (julga os conflitos entre as partes).
O espírito das leis (1748)
↪ “Quando os poderes legislativo e executivo ficam reunidos numa mesma pessoa ou instituição do Estado, a liberdade desaparece [...]. Não haverá também liberdade se o poder judiciário se unisse ao executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. E tudo estaria perdido se uma mesma pessoa ou instituição do Estado exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de ordenar a sua execução e o de julgar os conflitos entre os cidadãos”.
A separação dos poderes
↪Ao estabelecer a divisão do corpo político e preservar a autonomia de cada um de seus poderes, cria-se um modo de limitar o poder pelo próprio poder. Cada um dos poderes exerce uma função diferente e fiscaliza as atividades do outros poderes, impedindo que ocorram abusos e excessos.
Kant e o imperativo categórico
A fonte das normas morais
↪Na Crítica da razão prática e na Fundamentação da metafísica dos costumes, Kant coloca a razão humana como legisladora, isto é, capaz de elaborar normas universais. Para Kant, a razão é a fonte das normas morais. 
↪A moral kantiana é estabelecida na forma de um dever, imposto aos indivíduos pela própria razão e procura responder a uma das questões primordiais da filosofia: O que devo fazer? Assim, percebemos que o ser humano não é apenas um ser que conhece, mas um ser que também age. Para Kant, o ser humano é um ser livre, isto é, possui liberdade, mas isso não significa que pode fazer tudo o que quer. Há um dever a ser cumprido, imposto pela razão. 
O que é ser livre? 
↪ParaKant, a razão é a fonte da ética e da própria liberdade humana. Em outras palavras, o ser humano livre é aquele que consciente e voluntariamente segue sua própria razão, que determina a si mesmo um dever a ser seguido. Para que isso fique mais claro, temos que conhecer alguns conceitos essenciais na moral kantiana: as noções de heteronomia e de autonomia.
A heteronomia
↪A palavra heteronomia vem do grego: “heteros” (outro) + “nomos” (lei). Trata-se da condição em que o indivíduo obedece as leis ou normas que vem de fora ou do outro. A religião, a ciência, a filosofia, são formas de heteronomia.
A autonomia 
↪A palavra autonomia também vem do grego: “autós” (aquele que dá a si mesmo) + “nomos” (lei). Trata-se de uma situação em que o sujeito age dando a si mesmo a lei ou norma. Assim, quando espero que a religião ou as regras política e sociais me sinalizem o que é o bem moral e como devo agir, estou na heteronomia. A norma da minha ação está vindo de fora, do outro. 
A autonomia e a razão 
↪A autonomia está em seguir o dever determinado pela razão. Para Immanuel Kant, a razão determina de forma a priori a forma do dever, que é o imperativo categórico. Quando o indivíduo segue o imperativo categórico, tem autonomia, pois está dando a si mesmo a norma de seu agir.
Os imperativos kantianos 
↪O objetivo de Kant era definir uma forma de avaliar as motivações para a ação humana em todos os momentos da vida. Um imperativo seria qualquer proposição que declara uma determinada ação como necessária, a partir desta noção Kant divide os imperativos em duas categorias: categóricos e hipotéticos. 
O imperativo categórico 
↪“Age de tal forma que o seu agir possa ser considerado lei universal”, eis a fórmula do dever. Significa que a minha ação deve ser de tal forma que pode ser realizada por todas as pessoas, sem qualquer prejuízo para a humanidade. 
↪Kant não propõe uma lista de regras com conteúdo previamente determinado - como é o caso dos mandamentos religiosos -, mas formula uma regra para orientar nossa ação, que é o imperativo categórico.
↪O assassinato vai contra o imperativo categórico. Se eu matar alguém, estou tirando essa vida com algum propósito, ou porque sou um assassino contratado ou estou dominado pela raiva ou pela paixão. Assim, eu tenho algum interesse, algum propósito particular em nome do qual estou usando essa pessoa como um meio. O assassinato viola o imperativo categórico, pois é uma ação que, se for universalizada, causa sérios prejuízos à humanidade. 
↪O suicídio também fere o imperativo categórico. O imperativo categórico afirma que a ação das pessoas deve poder ser realizada por todos, sem prejuízo para a humanidade. Ora, se o suicídio passasse a ser uma ação feita por todos (universalizada), adeus humanidade, pois todas as pessoas iriam se suicidar, o que causaria prejuízo à humanidade, que deixaria de existir.
↪Por esse motivo, Kant, ao contrário da tradição filosófica, desvinculou a ética da busca da felicidade. Segundo Kant, a moral “não é propriamente dita a doutrina que nos ensina como devemos nos tornar felizes, mas como devemos nos tornar dignos da felicidade”.
Agir por dever 
↪Para Kant, quem age de maneira justa porque espera encontrar a felicidade eterna ou só é honesto porque pode ser preso ou ainda, ajuda ao próximo por que isso faz bem aos negócios, apesar de fazer a coisa certa, não age moralmente, pois agiu conforme ao dever e não por dever. 
↪A razão prática, para Kant, tem o poder para criar normas e fins morais e, por isso, tem também o poder para impô-los a si mesma. Essa imposição que a razão prática faz a si mesma daquilo que ela própria criou é o dever. Por dever, damos a nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e por isso somos autônomos. Agir conforme ao dever é agir dentro da heteronomia e agir por dever é agir dentro da autonomia, é seguir a própria razão (o imperativo categórico). Para Immanuel Kant, o ser humano tem liberdade para agir, podendo assumir, ou não, a razão como guia prático da ação.
Liberdade, direito e a paz perpétua em Kant
A vida de Immanuel Kant
↪Nasceu em Königsberg, na Prússia Oriental (Alemanha), atualmente a cidade chama-se Kaliningrado e pertence à Rússia. Consta que saiu de sua cidade somente uma vez na vida, para ir ao funeral de seu pai. 
↪Kant foi um filósofo de hábitos. A população de Königsberg acertava seus relógios de acordo com os passeios vespertinos do filósofo, ritual interrompido somente uma vez: quando Kant leu a obra de Rousseau. 
↪A primeira leitura da obra de Rousseau foi feita com o coração acelerado e a segunda, com a calma da razão. A importância de Kant para a História da Filosofia, principalmente no que diz respeito à Teoria do Conhecimento, é tão decisiva que se pode dizer que a Filosofia está dividida em antes e depois de Kant. 
O direito em Kant 
↪A reflexão política de Kant foi influenciada pelos acontecimentos da Revolução Francesa. A fase do terror (1793-1794), em que jacobinos instituíram um governo ditatorial e perseguiram os acusados de traição, causou um impacto negativo em Kant, que entendeu que o movimento havia se tornado violento e arbitrário. 
↪Sobre a liberdade, a preocupação do filósofo era em torno da seguinte questão: como é possível que indivíduos livres convivam em comunidade? Para Kant, é preciso estabelecer como metas sociais tanto a liberdade quanto a paz. 
↪Para Kant, como o ser humano é naturalmente egoísta, é necessário instituir normas legais para garantir que a realização das liberdades de todos os cidadãos não comprometa a paz da sociedade. O respeito às normas jurídicas é a condição para alcançar essas duas metas sociais.
Paz perpétua 
↪As reflexões políticos de Kant não se limitaram à relação entre paz e liberdades individuais no interior de um Estado, mas também abordaram as relações entre os diversos Estados, as chamadas relações internacionais.
↪Para Kant, as relações internacionais devem ser fundadas no ideal de uma paz perpétua entre as nações, sem que cada Estado esteja submetido a um Estado maior, o que comprometeria a independência de cada um. Dessa forma, o filósofo propôs que a ordem internacional estivesse fundada no ideal federativo.
O ideal de federação 
↪Em uma federação, os Estados associados mantêm sua independência e autonomia políticas, preservam os costumes e a cultura de seus povos, mas compartilham o ideal de paz e concórdia entre as nações. 
↪Além de evitar o domínio e o controle de um Estado sobre outro, os membros da federação não podem ser entidades despóticas, pois esses governos têm maior tendência para a guerra. É preciso que os governos sejam republicanos, cujo direito concilia o poder do Estado com as liberdades individuais de seus cidadãos.
Os níveis de direito 
↪Há o direito interno a cada Estado, fundado na constituição republicana, regula a relação entre o Estado e seus cidadãos. Há o direito internacional, fundado na associação federativa, que deve normatizar as relações entre os Estados federativos. 
O direito cosmopolita. 
↪Kant cita ainda o direito cosmopolita, voltado para as relações entre Estados e cidadãos estrangeiros. De acordo com tal direito, um cidadão estrangeiro deve ser acolhido com hospitalidade. Assim, o filósofo pretendia atingir uma paz que não se limitasse a um território, mas que pudesse abranger todo o planeta Terra.

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