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Dinamicas e Geneses de Grupos Mailhiot

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CAPÍTULO QUINTO 
COMUNICAÇÃO HUMANA E RELAÇÕES 
INTERPESSOAIS 
Os quatro primeiros capítulos foram consagrados .exclusi­
vamente a Kurt Lewin. Até aqui o leitor pode seguir a evolu­
ção do seu pensamento e das suas pesquisas, constatar a que 
ponto seus trabalhos e seus experimentos em psicologia social 
marcam uma ruptura com o passado e um progresso decisivo 
na História das Ciências Sociais. Por outro lado, tomamos 
conhecimento de como Kurt Lewin, desde sua chegada à Amé­
rica, preocupou-se em definir cientificamente aquilo que ele foi 
o primeiro a chamar de "dinâmica dos grupos'". Com esta fi­
nalidade questionou e redefiniu as metodologias e as teorias
tradicionais em psicologia social. Uma vez definidos de modo
operacional as exigências de validade e os esquemas de expe­
rimentação, Kurt Lewin lançou-se, simultaneamente, à explora­
ção de três problemas-chaves que o levaram a descobertas sobre
a gênese e a dinâmica dos agrupamentos humanos, considerados
atualmente geniais (65), (71), (86), (92) (94), (99).
Os três próximos capítulos tratarão sucessivamente destes 
três problemas. De início estabeleceremos a colaboração dada 
por Lewin à compreensão de cada um destes problemas. Des­
tacaremos, depois, os progressos realizados a partir de Lewin. 
O leitor poderá, então, descobrir como um grande número das 
hipóteses de Kurt Lewin continuam a inspirar os pesquisadores 
em psicologia social. Algumas de suas hipóteses foram explici­
tadas posteriormente, outras sofreram modificações ou foram 
reformuladas, mas na maioria dos casos elas foram verificadas. 
Os três capítulos seguintes tentarão mostrar que as descobertas 
mais definitivas em psicologia social após a morte de Lewin 
foram realizadas a partir de esquemas guestaltistas e no interior 
de projetos de pesquisas-ações sobre os micro-fenômenos de 
grupo. O balanço dos dados adquiridos desde Lcwin sobre estes 
três problemas-chaves, à saber: a comunicação humana, o apren-
64 GÉRALD BERNARD MAJLHIOT 
dizado da autenticidade, o exercício da autoridade em grupo de 
trabalho; estabelecerá concretamente para o leitor a que ponto 
as intuições de Lewin foram geniais e os caminhos por ele aber­
tos, ricos em promessas de descobertas. 
UMA INTUIÇÃO DE GtNIO 
As descobertas de Kurt Lewin sobre a comunicação humana 
ocorreram quase por acaso. Situações semelhantes já haviam 
se apresentado muitas e muitas vezes desde que seres humanos 
tentam trabalhar em grnpo. Foi preciso o gênio de Lewin, sua 
capacidade de atenção, de vigilância e seu acompanhamento dos 
processos em causa no grupo de trabalho, para identificar com 
tanta perspicácia e penetração o obstáculo fundamental à inte­
gração dos agrupamentos humanos e à sua criatividade. 
Vejamos agora, refeitas e reconstituídas, as circunstâncias 
concretas desta descoberta de Lewin, tal como foram evocadas 
por seus colaboradores bem próximos, testemunhas oculares do 
acontecimento ( 14), ( 114). Kurt Lewin conseguira desde há 
algum tempo agrupar em tomo dele urna equipe de pesquisado­
res e organizar com eles seu Centro de Pesquisas em Dinâmica 
dos Grupos, no M.I.T. Os projetos de pesquisas em curso eram 
numerosos, os recursos financeiros abundantes, o ardor e o 
fervor ao trabalho evidentes. Todos pareciam altamente mo­
tivados e aparentemente sem restrição adeptos das hipóteses de 
Lewin sobre a gênese e a dinâmica dos grupos que, em con­
junto, tentavam então verificar experimentalmente. Todavia, nos 
momentos de auto-avaliação de seu trabalho, realizado perio­
dicamente, tinham deplorado por diversas vezes a falta de in­
tegração real da equipe, o ritmo lento e artificial do encami­
nhamento de seus trabalhos, os parcos recursos inventivas e a 
fraca engenhosidade manifestados na exploração dos problemas 
estudados. Kurt Lewin, que participava fielmente destes encon­
tros de auto-crítica, havia falado pouco até aquela data e, se­
gundo seu hábito, escutara com uma atenção constante a ex­
pressão de descontentamento dos colaboradores. Um dia, en­
tretanto, no momento em que a auto-avaliação parecia uma vez 
mais encaminhar-se para uma constatação negativa, Kurt Lewin, 
em tom modesto, quase se desculpando, a título de sugestão, 
enunciou a seguinte hipótese: "s,e . ..aj11tggração entre nós 11ão se 
realiz.a .. e se, paralelamente, nossas pesquisas progrid.em tão pou­
C:Q, tal. fato pode ocorrer em razão de bloqueios· que existiriam 
entre _nós ao nível de nossas comunicações". A hipótese e o 
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 65 
diagnóstico podem parecer banais em nossos dias. Mas na época 
ela foi formulada pela primeira vez, desde que seres humanos 
se aplicavam a trabalhar cm grupo. Desta hipótese Kurt Lewin 
quis extrapolar uma implicação imediata. "Se minha hipótese 
é válida, teremos que consentir em questionar nossos modos 
atuais de comunicação e, se preciso, aprender modos mais fun­
cionais de comunicar entre nós. E isto só será possível, em 
minha opinião, se paralelamente às nossas sessões de trabalho, 
mantivermos encontros nos quais nos reencontraríamos todos 
juntos, fora de todo contexto de trabalho, preocupados tão so­
mente em nos comunicar de modo autêntico. Para que este 
aprendizado seja válido e favoreça realmente a evolução de 
nossa equipe ú trabalho uma condição me parece essencial: 
todos devem esta. de acordo em participar e com vontade de 
aprender a comunicar de modo autêntico". 
Pela primeira vez, na história da humanidade, um grup_ode pessoas, implicadas na realização de uma mesma tarefa,. di­rigiam a auto-avaliação de seu trabalho de grupo não sobre o 
conteúdo de suas discussões e de suas decisões, mas, segundo 
a expressão de Lewin, sobre os processos de suas trocas. Como 
o capítulo seguinte será sobre "o aprendizado da autenticidade",
torna-se mais funcional então destacar tudo o que esta primeira
experiência, nunca antes tentada, de sensibilização para as re­
lações humanas, comportava de implicações para a psicopeda­
gogia do trabalho em grupo. No momento lembraremos que
Lewin t' seus colaboradores, desde que consentiram em dialogar
tomaram consciência de que suas relações interpessoais, aparen­
temente confiantes e positivas, eram de fato inautênticas pelo
fato de não terem como base comunicações abertas entre eles.
Não somente existia entre eles e neles fontes insuspeitáveis de
bl9queios, mas estes bloqueios, criando zonas de silêncio, com­
prometiam as próprias comunicações que chegavam a estabe­
lecer-se entre eles. Estas corriam constantemente o risco de
serem filtradas em virtude de não serem preparadas num clima
de-.confiança,
Desde que conseguiram assinalar as fontes de bloqueio e 
de filtragem em suas comunicações, suas relações interpessoais 
evoluíram, tornando-se mais autênticas, e deu-se a integração 
entre eles no plano do trabalho. A coesão e a solidariedade 
resultantes mudaram profundamente a atmosfera de suas ses­
sões de trabalho. Estas conseguiram, a partir deste momento, 
ritmos crescentes de produtividade e de criatividade. 
66 GÉRALD BERNARD MAILHIOT 
NECESSIDADES INTERPESSOAIS 
A experiê"lcia preparada por Lewin e tentada por ele no 
M.I.T. com seus colaboradores mostrou-se concludente. Eles
descobriram que a produtividade, de um grupo e sua eficiênci� ·
e�tão estreitamente relacionadas não somente com a compêtên­
cia de seus membros, mas.sobretuoo com ?olitja(iedade de .. suas 
relações interpessoais. 
., 
Mais adiante, o próprio Lewin (92) e alguns de seus dis­
cípulos (17), (31), (33), (42), tentarão fazer novas experiên­
cias sobre este fenômeno e destacar as implicações desta desco­
berta. Mas quem levará mais longe a exploração e a análise 
da dinâmica dos grupos de trabalho será um psicólogo america­
no, professor em Harvard, W. C. Schutz. O resultado de seus 
trabalhos é publicado em 1958 em um livro que inclui ao 
mesmo tempo uma teoria dos comportamentos interpessoais e 
1:m instru�ento por ele preparado que permite avaliar a qua­
lidade func10nal da teoria (137). 
O que devemos reter aqui e que marca umprogresso no­
tável sobre as teorias esboçadas por Lewin e que repousavam 
apenas sobre dados forçosamente provisórios naquele momento 
são as luzes trazidas por Sçh:utz sobre a interdependência e � 
estreita correlação que existe em todo grupo de trabalho entre 
seu grau de integração e seu nível de criatividade. Mas onde 
Schutz inova realmente é através de sua teoria das "uecess.ida­
�es_. Últerpess?,t;1is". Com este conceito Schutz pretende espe­
�1i;car o segumte: os membros.de um.grupo não. consentem em 
mtegrar-se senão a partir da. momento .eni que .cértas necessida­
des fundamentais s.ão satisfeitas .pelo grupo. .g�tªli nec�ssjq.ª,des, 
para ,schutz, são fundamentai& porque todo ser. humano., quese.nmn� em um.grupo..-qualqu.�t •.. as experimex1Ja .ainda que em g�aus dwer,.o<, .. Por outro lado, estas necessidades, segundo ele, sao mterpessoai.s no sentido de que somente. em.grupo,s} pelo
grupo elas podem ser. s.atis.feitas adequa!fair!I:nte.
Ao l?ngo. �le demoradas e sistemáticas pesquisas, Schutzconsegue 1dent1flcar como fundamentais três necessidades inter­
;,�:,soais. Estas necessidades seriam: a necessidade de inclusão 
a necessidade de controle e a necessidade de afeição. Que en� 
tende ele por estes três termos'! 
1 . Schutz define a neces.s_idade.de inclusão como a neces­
s1dr,de que experimenta 'tõdo ��;:brn �0\/.() de um grupo em 
DINÂMICA E GêNESE OOS GRUPOS 67 
se perceber e em se sentir aceito, integrado, valorizado total­
mente por aqueles aos quais se junta. Tentará também, segun­
do modalidades determinadas pela série de variáveis individuais,
verificar seu grau de aceitação, procurando provas de que não é 
ignorado, isolado ou rejeitado por aqueles que percebe como 
os preferidos do grupo. É sobre-tudo no momento das tomadas 
de decisão, nuta Schutz, que e&La necessidade procura ser sa­
tisfeita da maneira mais imperiosa. Um membro sente-se defi­
nitivamente incluído no grupo ao se perceber como um partici­
pante integral de cada uma das fases do processo de tomada 
de decisão. Esta necessidade é, portanto, a expressão do desejo
que experimenta todo membro de um grupo de possuir um 
status positivo e permanente no interior do grupo, em não se 
sentir em nenhum momento marginalizado pelo grupo. 
Segundo o grau de maturidade social de cada indivíduo,
segundo seu nível de socialização, a necessidade de inclusão 
condicionará e determinará atitudes em grupo mais ou menos 
adultas, mais ou menos evoluídas. Os indivíduos menos sociali­
zados procuram integrar-se ao grupo adotando atitudes de de­
pendência, sobretudo em relação àqueies membros que possuem 
um status privilegiado. É o caso dos membros socialmente in­
fantis. Por outro lado, aqueles que não superaram a fase da 
revolta típica da adolescência tentam impor-se ao grupo através 
de atitudes de contra-dependência e forçar assim sua inclusão 
no grupo. Enfim, os indivíduos melhor socializados, segundo
Schutz, são os únicos que encontram em suas relações interpes-
. soais cada vez mais positivas, uma satisfação adequada à sua 
necessidade de inclusão, adotando para com os outros membros 
do grupo atitudes ao mesmo tempo de autonomia e de interde­
pendência. 
2 . Para Schutz, a necessidade de __ c;.antmle consiste, para 
cada membro, em se definir para si mesmo suas próprias res­
ponsabilidades no grupo e também as de cada um que com ele 
forma o grupo. Em outras palavras, é a necessidade que expe­
rimenta cada novo membro de se sentir totalmente responsável
por aquilo que constitui o grupo: suas estruturas, suas ativida­
des, seus objetivos, seu crescimento, seus progressos. O grupo 
ao qual ele adere, do qual participa, está sob controle · e de 
quem? Quem tem autoridade sobre quem, em quê e por que? 
Todo membro novo busca índices e critérios que lhe permitam 
responder estas questões e, pouco a pouco, sentir-se seguro à 
68 GÉRALD BERNARD MAILHIOT 
medida que consegue delinear de modo articulado as estruturas 
do grupo e as linhas de autoridade. 
Todo membro de um grupo deseja e sente a necessidade 
que a existência e a dinâmica do grupo não escapem total­
mente a seu controle. Também aqui, conforme seu grau de 
socialização, esta necessidade se expressará e tentará satisfazer­
-se de modo mais ou menos evoluído. Os menos socializados, 
aqueles que há pouco, no plano da inclusão, mostravam-se de­
pendentes, adotarão atitudes infantis ao exprimir sua necessidade 
de controle. Tenderão a demitir-se de toda responsabilidade e 
a delegá-la a outros, àqueles que percebem como dotados de 
poder carismático. Em conseqüência, adotam aquelas atitudes 
que Schutz qualifica de qbdicadoras. Aqueles que . se sentem 
rejeitados e mantidos à margem das responsabilidades no grupo, 
tenderão a cobiçar o poder e a querer, se preciso, assumir sozi­
nhos o controle do grupo. Estes últimos adotam em grupo, 
cada vez que lhes são confiadas responsabilidades, atitudes de 
autocratas. Alguns chegam mesmo a ambicionar a responsabili­
dade primeira e absoluta do grupo. Os mais socializados, enfim, 
os possuidores de maior maturidade social, têm tendência a se 
mostrar democratas, isto é, a pensar e a querer o controle do 
grupo em termos de responsabilidades partilhadas. 
3 . A terceira e última necessidade interpessoal, conside­
rada como fundamental por Schutz em toda dinâmica de grupo, 
Este termo não é muito feliz. Tem-se 
prestado, muitas vezes, a ambigüidades e equívocos. A necessi­
dade de afeição que sentem em graus diversos e segundo moda­
lidades diferentes, por vezes opostas, os indivíduos que devem 
ou querem viver ou trabalhar em grupo, consiste, segundo Schutz, 
em querer obter provas de ser totalmente valorizados pelo 
grupo. Em outras palavras, é o secreto desejo de todo indiví­
duo em grupo de ser percebido como insubstituível no grupo: 
cada um procura recolher sinais concludentes ou convergentes 
de que os outros membros não poderiam imaginar o grupo sem 
ele. Não somente aquele que se junta a um grupo aspira a ser 
respeitado ou estimado por sua competência ou por seus recur­
sos, mas a ser aceito como pessoa humana, não apenas pelo 
que tem, mas também pelo que é. 
Para Schutz, a expressão desta necessidade de afeição é for­
temente condicionada e determinada pelo grau de maturidade 
social do indivíduo. Alguns, os mesmos que há pouco mostra­
vam-se dependentes no plano da inclusão, e abdicadores em 
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 69 
relação ao controle, tentam satisfazer suas necessidades de afeto 
através de relações privilegiadas, exclusivas e geralmente posses­
sivas. Adotam então atitudes infantis, esperando ser percebidos 
e aceitos no papel de criança mimada do grupo, não desejando 
senão receber. Desejam .secretamente estabelecer em grupo re­
lações hiperpessoais. Aqueles que, ao contrário, se sentem rejei­
tados ou ignorados pelo grupo, cedem a mecanismos que os 
psicanalistas chamariam de bom grado, mecanismos de for­
mação reacional. Estes adotam, como uma reaçãq de defesa 
contra as necessidades de afeição que experimentam, atitudes 
adolescentes de aparente indiferença ou frieza calculada. Pre­
conizam, quando não reclamam, relações unicamente formais e 
estritamente funcionais entre os membros. Não querem ou não 
podem dar nem receber. Furtam-se assim a toda tentativa de 
estabelecer a solidariedade interpessoal sobre uma base mais 
profunda de amizade. Ocultam sistematicamente sua necessidade 
de afeição e mostram-se como hipopessoais. Enfim, os mais 
altruístas, os mais socializados, não obedecem nem a mecanis­
mos de defesa nem a mecanismos de compensação. Desejam 
ser aceitos totalmente e afeiçoados ao grupo pelo que são. Mas 
neles esta necessidade de afeição encontra plena satisfação nos 
laços de solidariedade e de fraternidade que se estabelecem entre 
eles e os outros membros do grupo. Somente estes, porque tor­
naram-se capazes de dar e de receber afeição, estabelecem suas 
relações em nível autenticamente interpessoal. 
EXPRESSÃO DE SI E TROCAS COM O OUTRO 
As teorias de Schutzsobre as necessidades interpessoais 
marcam um evidente progresso sobre algumas das descobertas 
de Lewin. Schutz, entre outros, conseguiu explicar-nos expe­
rimentalmente o que Lewin havia percebido de modo intuitivo, 
a saber: como e porque um grupo que não concluiu sua inte­
gração é incapaz de criatividade duradoura. Por outro lado 
Schutz não conseguiu ir além do nível das relações interpessoais. 
Com a ajuda de instrumentos validados por ele, diagn0sticou 
com muito acerto e não sem mérito, que há uma equação entre a 
integração de um grupo, a solidariedade interpessoal de seus 
membros e a satisfação em grupo e pelo grupo das necessidades 
de inclusão, de controle e de afeição de seus membros. Mas 
eis o que lhe escapou e que Lewin havia pressentido antes dele: 
as relações interpessoais não podem tornar-se mais positivas, 
mais socializadas e o grupo integrar-se de modo definitivo, en-
70 GÉRALD BERNARD MAILHIOT 
quanto subsistirem entre os membros fontes de bloqueios e de 
filtragens em suas comunicações. A &?f!�.�� .d.� µm ,grupo e sua 
.dinâmica são determinadas.,. em última análise, pelo grau de 
aut�JJ.ticidade das. comul}icações que se iniciam e se estabelecem
1:ntre seus .membros. Já se aceita como um dado de realidade 
que somente em um clima de grupo em que as comunicações
são abertas e autênticas, as necessidades interpessoais podem
encontrar satisfações adequadas. Lewín teve o grande mérito 
de, a partir desta descoberta, orientar suas próprias pesquisas
no M.I.T. para a comunicação humana (86), (89), (90), 
(92), (95), (105). Desde então os teóricos e os práticos da 
dinâmica dos grupos não cessaram de orientar sistematicamente 
seus trabalhos e suas observações sobre este problema a fim 
de conhecê-lo de modo sempre mais científico ( 3), ( 5), (12), 
(17), (33), (116), (121), (126), (136). Graças a este es­
forço combinado e prolongado, os dados adquiridos são nume­
rosos. Todos têm centrado o estudo sob;e a expressão de si 
na troca com o outro: C.Qffi.o..com1mkar .. com.o,.outr� para que 
() .diálogo se estabeleç�. Eis aquí os dados: 
1 . A explicação científica da natureza da comunicação
humana data das descobertas da cibernética. Foi no M.LT. 
que elas se realizaram em estreita colaboração com o "Research
center for group dynamics". Haviam sido iniciados quando
Lewin ainda vivià e prosseguiram após sua morte com a ajuda
de um dos mais dedicados de seus discíoulos: A. Bavelas. 
Pouco a pouco tornou-se possível definir o q�c é, essencialmente,
a comunicação humana. Ela só existe realmente, quando se 
estabelece entre duas ou mais pessoas um contato psicológico.
Não é suficiente que as pessoas com desejo de comunicação se 
falem, se escutem ou mesmo se compreendam. B preciso mais. 
A comunicação humana entre elas existirá quando e todo o 
tempo em que conseguirem se reencontrar. 
2. As pesquisas assinaladas acima permitiram distinguir
entre vários tipos de comunicação humana, A comunicação
varia segundo os instrumentos utilizados para estabelecer o con­
tato com o outro, segundo as pessoas em processo de comuni­
cação, enfim, segundo os objetivos em vista. 
A. Os instrumentos.
Quanto aos instrumentos empregados, a comunicação pode
ser verbal se alguém utiliza a linguagem oral ou escrita para
DINÂMICA E GtNESE DOS GRUPOS 
iniciar e estabelecer o contato com o outro. A comunicação
verbal é a mais freqüente, a mais habitual, pelo menos no 
Ocidente. Entre os povos latinos, sobretudo, ela tem tendência 
a tornar-se o instrumento preferido, senão exclusivo, de comu­
nicação com o outro. 
Todo recurso a outro instrumento que permita ou favoreça
o contato com o outro, é classificado pelo termo genérico de
comunicação não verbal. Pertencem a este tipo de comunicação
os gestos, as expressões faciais, as posturas. Mesmo es silên­
cios e as ausências no interior de certos contextos podem tornar­
-se significativos e carregados de mensagens para o outro e,
segundo as situações, ora podem ser percebidos pelo outro
como expressões de coragem, ora como omissões ou covardias.
Comunicação verbal e comunicação não verbal não estão 
sempre sincronizadas e sintonizadas no mesmo indivíduo. As 
vezes o não-verbal está em dissonância com o verbal, trai o 
eu íntimo que o verbal tenta camuflar. Talleyrand já aconse­
lhava aos diplomatas: "as palavras nos foram dadas para en­
cobrir nossos ,pensamentos". Gestos bruscos, cortantes, acom­
panham muitas vezes palavras melosas, doces, que dissinmlam 
mal um estado de irritação interior. 
Então, como integrar o verbal e o não-verbal em uma 
mesma comunicação'! Sobre este ponto descobertas recentes 
mostraram-se decisivas para a compreensão da autenticidade 
nas comunicações humanas. A comunicação humana que pre­
tende ser exclusivamente verbal corre o risco de intelectualizar­
-se, de se tornar ccrcbrína. Por outro lado, a comunicação 
que pretendesse dissociar-se de todo recurso à linguagem seria 
dificilmente inteligível ao outro, pelo fato de não recorrer a 
uma simbolização na expressão de si. No Ocidente, a partir
de Lewin, a dinâmica dos grupos tem contribuído muito para 
revalorizar a comunicação não-verbal e a expressão corporal do 
indivíduo. Ela pode estabelecer que somente uma comunicação
que seja verbal e não-verbal ao mesmo tempo tem condições
de ser adequada.· A integração funcional e orgânica destes dois
modos de expressão do eu choca-se, sobretudo no plano não 
verbal, contra tabus e proibições coletivas ou ainda contra re­
sistências emotivas cuja fonte é geralmente a personalidade pro­
funda do indivíduo em causa. O capítulo seguinte tentará ana­
lisar como cada um deve descobrir por si mesmo, e adotar 
modos de expressão não verbal do cu que sejam, neste momen­
to de seu processo de transformação de suas relações com o 
72 BERNARD MAILHIOT 
outro, aceitáveis tanto para ele como para o outro e aceitáveis 
no contexto cultural . em que este relacionamento interpessoal 
se insere e se atualiza. Esta integração não poderá nunca ser 
considerada definitivamente adquirida. Para permanecer funcio­
nal ela exige questionamentos contínuos e uma capacidade jamais 
atrofiada de aprendizagem, de flexibilidade, de autonomia e 
uma grande liberdade interior. 
B. As pessoas.
Quanto às pessoas implicadas é preciso distinguir entre 
comunicação a dois ou comunicação de grupo. As comunica­
ções a dois podem ser pessoais, quando constituem um encon­
tro entre dois seres que se percebem em relação de reciproci­
dade ou de complementariedade, como na amizade, no amor 
ou na fraternidade. Esta comunicação, se autêntica, tende a 
durar e aspira à permanência. Mas as comunicações a dois 
podem ser autênticas mesmo quando provisórias. f: o caso das 
comunicações a dois chamadas profissionais. O profissional con­
sultado e a pessoa consultante estabelecem entre eles comuni­
cações verticais: o profissional dá, o consultante recebe. O 
meiro deve dar provas de competência e de consciência, o se­
gundo possui direitos a serviços profissionais adequados. Este 
tipo de comunicação entre duas pessoas, por sua própria na­
tureza, não poderia ser senão temporária e provisória pela boa 
razão de que tende a fazer evoluir o consultante e a torná-lo 
autônomo em relação ao profissional consultado. 
As comunicações de grupo podem ser distinguidas entre 
comunicações intra-grupo, quando se estabelecem entre os mem­
bros de um mesmo grupo, e comunicações inter-grupos, quando 
constituem contatos e trocas entre dois ou vários grupos. 
C. Os objetivos.
Quanto aos objetivos, podemos distinguir entre comunica­
ção consumatória e comunicação instrumental. A comunicação 
ccmsumatória tem por fim exclusivo a troca com o outro. Ela 
pode apresentar-se sob formas prosaica, "falar por falar", ou 
adotar formas evoluídas, como o caso do espírito criativo que, 
habitado por um sonhO constante, sente a imperiosa necessidade 
de comunicar ao outro seu universo pessoal. Mas sejam quais 
forem as modalidades pelas quais ela se manifesta, a comuni-
E GÊNESE DOS GRUPOS73 
cação consumatóría é sempre acompanhada de gratuidade e de 
espontaneidade. 
A comunicação instrumental, ao contrário, é sempre utili­
tária e comporta sempre segundas-intenções. A troca com o 
outro é procurada, preparada e estabelecida para fins de mani­
pulação, mais ou menos confessáveis. Estão neste caso as men­
sagens publicitárias ou ainda os slogans da propaganda política. 
Na comunicação consumatória o outro é percebido como um 
sujeito ao encontro de quem se vai e com quem se deseja co­
municar; na comunicação instrumental, o outro é percebido como 
um objeto a explorar, a seduzir ou a enganar, com o objetivo 
de assegurar certos ganhos e satisfazer alguns interesses. 
Algumas implicações podem desde logo serem destacadas 
sob forma de teoremas: 
1 . Quanto mais o contato psicológico se estabe­
ce em profundidade, mais a comunicação humana 
terá possibilidades de ser autêntica. 
2. Quanto mais a expressão de si conseguir in­
tegrar a comunicação verbal e a não-verbal, mais a 
troca com o outro terá condições de ser autêntica. 
3 . Quanto mais a comunicação se estabelecer 
de pessoa a pessoa para além dos personagens, das 
máscaras, dos status e das funções, mais terá possi­
bilidade de ser autêntica. 
4. Quanto mais as comunicações intra-grupo
forem abertas, positivas e solidárias, mais as comu­
nicações inter-grupos terão possibilidade, cm conse­
qüência, de serem ,.'lutênticas e de não servirem de 
evasão ou de compensação a uma falta de comuni­
cações internas em seu próprio grupo. 
5. Quanto mais as comunicações humanas fo­
rem consumatórias ( isto é, encontros de sujeito a 
sujeito), menos elas serão instrumentais (isto é, ma­
nipulações do outro) e mais possibilidades terão de 
se tornarem alocêntricas e autênticas. 
VIAS DE ACESSO AO OUTRO. 
As distâncias físicas entre os seres e entre os agrupamentos 
humanos foram quase abolidas pela técnica moderna, sobretudo 
74 GÉRALD BERNARD MAILHIOT 
após as descobertas inesperadas da eletrónica. Tornou-se possí­
vel em nossos dias entrar em comunicação com o outro a dis­
tância, graças aos media de comunicação. Estes últimos torna­
ram-se cada vez mais possantes, cada vez mais adequados ao 
ponto de, presentemente, sobre o planeta Terra existirem cada 
vez mais seres humanos em proximidade física uns dos outros. 
Mas a comunicação humana não pode se iniciar nem se 
estabelecer, enquanto subsistirem distâncias psicológicas a trans­
por entre aqueles que querem entrar em comunicação. Sobre 
este ponto a dinâmica dos grupos, durante e após o tempo de 
Lewin, multiplicou suas pesquisas. Os dados adquiridos então 
permitiram definir operacionalmente os requisitos e os pressu­
postos de toda comunicação humana. Constitui um pré-requisito 
para todos que queiram entrar em comunicação, assinalar e 
identificar as vias de acesso ao outro, aceitá-las e nelas se en­
gajar. As vhs de acesso ao outro são chamadas canais de co­
municação. Entretanto não é suficiente saber como ter acesso 
ao outro, mas também quando ele pode ser ou tornar-se recep­
tivo às mensagens que lhes são dirigidas. Perceber objetivamente 
os momentos psicológicos e as ocasiões de receptividade do 
outro é uma arte que poucos seres humanos conseguem dominar 
definitivamente e que supõe capacidades de empatia excepcionais. 
Alguns canais de comunicações são formais, oficiais, arti­
culados. Nestes casos, o outro não se torna acessível senão 
através de caminhos mtidamente definidos, cujas entradas são 
reguladas por um processo mais ou menos rígido. :É o caso 
do protocolo que precisamos respeitar para entrar em contato 
com os grandes deste mundo ou os personagens-chaves de certos 
meios organizados. Quanto maior for a disparidade de status 
existente entre dois interlocutores, mais aquele cujo status é 
inferior deverá preocupar-se em descobrir as vias formais atra­
vés das quais poderá aproximar-se daquele cujo status é privi­
legiado. Outros canais de comunicação são espontâneos. B, o 
caso de interlocutores entre os quais as comunicações são aber­
tas, confiantes e que se percebem acessíveis constantemente, um 
ao outro. Enfim podem existir canais de comunicaçôes clandes­
tinos. Eles aparecem nos meios organizados onde a autoridade 
se exerce de modo autocrático. Cedo ou tarde, para sobreviver 
às arbitrarieda,des do poder, aqueles que devem viver ou tra­
balhar em contextos semelhantes, tentam descobrir ou estabe­
lecer com a autoridade absoluta contatos não oficiais a fim de 
se manterem nas boas graças ou com vida, 
DINÂMICA E GÊNESE OOS GRUPOS 75 
Canais e media de comunicação constituem uma rede de co­
municação cada vez que são estruturados e articulados de modo 
a tornar aqueles que estão agrupados no interior de um deter­
minado meio, acessíveis uns aos outros. Em uma rede, media 
e canais estão ligados entre si, interdependentes. Segundo o 
grau de organização ou de estratificação do meio, aqueles que 
aí trabalham ou vivem ter ão uma consciência mais ou menos 
explícita dos caminhos e das direções que devem seguir para 
atingir o outro e comunicar-se uns com os outros. 
RELAÇOES IGUALITÁRIAS E RELAÇOES 
HIERARQUIZADAS 
Quanto mais forem expontâneas as vias de acesso ao outro 
e menos formais os canais de comunicação, mais a comunicação 
com ele têm possibilidade de tornar-se adequada e autêntica. 
Esta conclusão está na origem dos trabalhos do especialista etn 
dinâmica dos grupos, A. Bavelas, já citado, sobre os diversos 
tipos de redes de comunicação ( 12). 
Bavelas conseguiu isolar quatro tipos distintos de redes de 
comunicação, definir cada um deles operacionalmente e, assim, 
determinar exatamente em que situações de grupo eles se ori­
ginam e se articulam. De fato estes quatro tipos de redes não 
podem ser observados senão cm grupo e cm grupo de trabalho. 
1 . Duas destas quatro redes são definidas como horizon­
tais. Elas têm de especifico o seguinte: estes dois tipos de redes 
não podem aparecer, nem se estabelecer, senão em clima de 
grupo igualitário, isto é, unicamente no interior de grupos em 
que cada indivíduo se percebe como membro participanh:, go­
zando de um status de perfeita igualdade em relação aos outros 
membros. 
A. Bavclas denomina a primeira destas duas
redes horizomais de rede. cm círculo. Segundo ele, 
esta constitui uma rede perfeita que não pode existir 
senão cm grupo ou estruturas de trabalho e de poder 
que sejam realmente democráticas. Eis as razões. 
Com efeito, para o líder democrático. exercer a 
autoridade consiste essencialmente em tornar-se ao 
mesmo tempo um catalizador e um coordenador 
para o grupo, isto é, cm estar constantemente preo-
76 GÉRALD BERNARD MAILHIOT 
cupado em abrir e manter abertas as comunicações 
entre todos os membros. Assim, pouco a pouco, 
todos se tornam acessíveis a todos e a integração 
dos membros pode realizar-se sobre uma base de 
complementariedade e não de subordinação. 
B . A segunda rede horizontal é chamada rede
em cadeia. Ela é típica dos grupos "laissez-faire"
em que a autoridade se exerce de modo bonachão. 
O líder é passivo, recusa-se a assumir seus papéis e 
suas responsabilidades, as comunicações não se esta­
belecem senão ao nível das afinidaêles ou das atra­
ções aparentadas entre os membros. Fatalmente al­
guns membros se encontram excluídos ou se tornam 
marginalizados das interações que ocorrem no grupo. 
Não podendo concluir-se a integração do grupo, nem 
existir a solidariedade entre os membros, as comu­
nicações não conseguem tornar-se funcionais e estão 
sempre acompanhadas de equívocos e ambigüidades, 
tornando, por este motivo, falsas as relações 
interpessoais e comprometendo a criatividade do 
grupo. 
2 . As outras duas redes são chamadas por Bavelas de 
redes verticais. Podem ser observadas nos grupos de trabalho 
em que as relações interpessoais são hierarquizadas, as linhas 
de autoridade definidas de modo piramidal: no alto da pirâmide, 
a autoridade primeira se exerce de modo absoluto. As relações 
entre os membros são hierarquizadasna medida em que se tra­
duzem em termos de subordinação e de dominação. Os status 
respectivos dos membros estabelecem mtidamente em termos de 
funções, de direitos, de previlégios, de prestígio, quem tem auto­
ridade sobre quem, em quê e porque. 
A. Bavelas chama a primeira rede vertical, a
rede em y. Este tipo de rede caracteriza as comu­
nicações no interior' de um grupo aparentemente de­
mocrático em vias de tornar-se autocrático. As co­
municações antes abertas e espontâneas, tornam-se 
fechadas e artificiais com a tomada de consciência 
de alguns membros de que um dentre eles esforça-se 
em tomar o controle do grupo, cobiçando para ele 
o poder absoluto.
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 77 
B. Enfim, existe uma segunda rede vertical
denominada rede em roda. Esta rede é específica 
dos grupos autocráticos no interior dos quais a au­
toridade está concentrada entre as mãos de apenas 
um, que a exerce de modo arbitrário e segundo seu 
bel prazer. Todas as comunicações entre os mem­
bros são controladas por ele. A comunicação não 
somente se estabelece de modo vertical entre a au­
toridade e os membros, mas muito cedo tenderá a 
traduzir-se através de mensagens em sentido único, 
e a comunicação não se estabelecerá geralmente se 
não de cima para baixo. 
O que concluir e destacar como implicações? :e preciso 
não esquecer que os dados adquiridos por Bavelas não são vá­
lidos senão para os grupos de trabalho. Por outro lado, parece 
demo.nstrado que, neste contexto muito preciso, quanto mais a
autondade se exerce de modo democrático, mais o clima de 
grupo !orna-se e se mantém igualitário e, em conseqüência, as 
comumcações tornam-se e permanecem mais abertas. Enfim 
parece definitivamente adquirido que somente em um clima de 
comunicações abertas pode realizar-se a integração de um grupo 
de trabalho e seus membros conseguirem ritmos de criatividade 
duradouros. 
COMPONENTES ESSENCIAIS 
Para quem quer entrar em comunicação com o outro, cons­
titui um requistito que ele tenha sabido assinalar e identificar 
as vias de acesso mais seguras e, se preciso, haja reduzido ou 
abolido, graças aos meios funcionais e adequados, as distâncias 
físicas entre ele e o outro. Mas a comunicação só se estabele­
cerá em seguida, se um emissor e um receptor conseguem trans­
mitir uma mensagem com a ajuda de um código e segundo 
modalidades adaptadas aos fins em vista. A partir de Kurt 
Lewin a dinâmica dos grupos define assim as cinco componen­
tes essenciais de toda comunicação humana (25), (101), (106), 
(136). 
1 . O emissor é aquele que toma a iniciativa da comuni­
cação. Ele deve ser capaz de perceber e de discernir quando, 
em quê e como o outro lhe é acessível . Enfim, ele deve poder 
transmitir sua mensagem em termos que sejam inteligíveis para 
84 GÉRALD BERNARD MAILHIOT 
DISTANCIAS SOCIAIS E BARREIRAS PSICOLóGICAS
Os bloqueios e as filtragens na comunicação humana tor­
nam-se permanentes e tendem a se cristalizar cada vez que as 
relações inter-pessoais são prejudicadas pelos preconc.eiíos. As 
distâncias sociais e psicológicas entre interlocutores tendem então 
a se acentuar e a ser percebidas como irredutíveis. Cavam-se, 
entre eles, valas que paiccem intransponíveis; elevam-se barrei­
ras e fronteiras ,-psicológicas que parecem insuperáveis. O outro 
é percebido como inacessível, isto é, aquilo que se sabe, que 
se pen,sa, que se sente como incomunicável. 
Em que consiste a distância social? Primeiro é preciso 
distingui-la com nitidez da di,stâJtcia. psicológica. Esta última é 
um {t'.flÔI:Qeno inti:a-grupo e pode .ser desctito assim: .o outro é 
percebido. como. incompatível. Por �sta razão é mantido à dis­
tância e a comunicação com ele é considerada como impossível 
de ser estabelecida. 
A disttJl.lcia.social, ao contrário, é umienômenoJnter .• grupo. 
Q.,outt:o é .m.antido à distância, a uma distância .intransponível, 
pelo simples fato de pertencer a um gr.upo diferente. Pode 
tratar-se, segundo os casos, de diferenças culturais, diferenças 
de classe, de afastamentos seja de níveis educacionais, seja de 
níveis intelectuais, seja de níveis de escolarização. O outro é 
então percebido como estando situado socialmente a uma dis­
tância inacessível. De fato ele só é percebido em termos estatís­
ticos: não é um indivíduo irredutível, mas o representante de 
uma classe, de um grupo, de uma camada, possuindo determi­
nado status, ocupando determinada função, despojado assim de 
seu mistério pessoal. 
A distância social, além de ser o resultado de um processo 
de despersonalização do outro, resulta sempre de uma percepção
vertical do outro. Segundo o sistema de valores que prevalece 
no meio, certas funções sociais ou certas atividades humanas 
são valorizadas. Aqueles que ocupam estas funções, ou se de­
dicam a estas atividades, são percebidos de baixo para cima.
Eles aparecem ao seu meio aureolados de atributos, de privilé­
gios ou de carismas, que desencadeiam no meio o êxtase ou o 
encantamento, quando não o temor reverencioso. Quando, ao 
contrário, uma função social ou uma atividade humana são jul­
gadas desvalorizadas em um contexto cultural, os representantes 
deste nível ocupacionai são percebidos pelo meio de cima para 
baixo, com menosprezo, arrogância ou condescendência. Os 
DINÂMICA E GÊNESE DOS GRUPOS 85 
membros das outras camadas passam a consíderar que seria 
rebaixar-se consentir em comunicar de modo adequado com 
eles e é fácil imaginar a parte determinante de esnobismo em 
suas percepções verticais e desvalorizantes do outro ( 31 ) . 
Distâncias sociais, bloqueios e filtragens permanentes, co­
municação humana prejudicada ou rompida de modo definitivo 
são outros tantos fenômenos que encontram sua origem em nos­
sos preconceitos. Dos preconceitos nascem os conformismos e 
a incapacidade de dialogar com o outro. Os teóricos e os prá­
ticos da dinâmica dos grupos foram os primeiros a revelar o 
fato. Graças a pesquisas astuciosas refizeram por sua conta 
descobertas recentes da psicologia social sobre a natureza dos 
preconceitos. Preocuparam-se sobretudo em verificar e em des­
tacar as múltiplas implicações destes dados científicos para a 
inteligência dos obstáculos fundamentais à autenticidade das co­
municações humanas (2), (3), (14), (16), (42), (130). Sobre 
este ponto as intuições de Lewin, se por um lado foram supe­
radas, por outro mostraram-se em grande parte de uma justeza 
notável e forneceram à pesquisa experimental suas hipóteses mais 
fecundas ( 99), (1 O 1). 
Já se tornara aceito que os preconceitos consistiam em 
idéias preconcebidas sobre o outro, idéias falsas, fixas, geralmen­
te estranhamente simplistas com relação a certos indivíduos, a 
certos grupos que os fazem classificar, de antemão, em termos 
sempre excessivos. Quando são favoráveis, os preconceitos che­
gam à enfatuação, quando são desfavoráveis, degeneram em in­
tolerância em relação ou outro. 
Os preconceitos não são inatos mas adquiridos. Como então 
explicar que mesmo em um clima democrático, os seres mais 
adultos, mais evoluídos sejam tão pouco capazes de trocas au­
tênticas com o outro ? É necessário reconhecer de início que os 
preconceitos existem num grau impressionante e espantoso. Os 
me!hores, os mais lúcidos, os mais preocupados com a justiça 
social, os mais dedicados ao respeito pelo outro surpreendem-se 
ao ceder a preconceitos sob a pressão e a coerção do meio. Por 
outro lado, é um fato que certos seres humanos são mais pre­
dispostos que outros a adquirir preconceitos, mais vulneráveis 
que outros ao contágio e à contaminação sociais. Sua perso­
nalidade parece estruturada por determinismos tais que estes 
seres, uma vez os preconceitos adquiridos, tomam-se incapazes 
de se liberar dos mesmos. Seus preconceitos satisfazem neles 
necessidades tão mórbidas que, mesmo em seus momentos de

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