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01 [V MATIAS] Da Ideologia (Contra os Acadêmicos)

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É apenas à ignorância que se devem debitar 
tais coisas, ou aliam-se a ela a má fé e segundas 
intenções? Será produto de uma deficiência do 
espírito, ou obedece a uma intencionalidade que 
não pode ser confessada?[1] 
Há algum tempo, o termo ideologia vem 
sendo evocado em discussões de cunho político, 
notavelmente desde o advento das grandes 
manifestações e das simultâneas crises 
governamentais desde 2013. A partir disso, 
especialmente entre os jovens envoltos num mar 
de suposta responsabilidade política e assediados 
por partidos em busca de influência, inicia-se a 
corrida ideológica e a proliferação de vários 
centros e grupos de “estudo” em busca de uma 
razão para acreditar que o país ainda pode salvar-
se. O tempo passou, e após certo período de 
instabilidade, outro problema surgiu: o embate 
entre os membros de vários grupos e o 
crescimento da agressividade entre os 
normalmente menos habilitados a falar sobre 
alguma coisa, carinhosamente apelidados de pão-
com-ovo pela direita e mortadela pela esquerda. 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn1
 
 
Ideologias e seus tentáculos à parte, este 
não é um tema novo, embora o Brasil 
normalmente seja atrasado até neste tipo de 
discussão. Ideologia é um termo cunhado até 
onde se sabe na época de Napoleão Bonaparte, e 
significava um sistema de idéias abstratas que 
busca o aperfeiçoamento da sociedade 
(direcionado pelo gosto dos governantes). John 
Adams (1735-1826), com razão, chamou-a de 
“ciência da idiotice”. Mais tarde, Karl Marx (1818-
1883) associou o termo à expressão dos interesses 
de uma determinada classe, definidos segundo 
sua relação com a economia. Sendo assim, 
ideologia é apenas uma apologia de interesses. 
Dentro do sistema materialista, a ideologia nos 
termos marxistas é a máscara perfeita para a 
política. 
Falamos de um sistema que interpreta a 
realidade com o fim de confortar o homem e não 
de descobrir a verdade. Como sistemas não 
metafísicos, as escolas de pensamento derivadas 
do materialismo negam a verdade enquanto 
absoluta e transcendente, e tendem a colocá-la 
como uma espécie de conluio – este que dá a 
validade objetiva da verdade nesse sistema – e 
 
 
 ela não faria mais que favorecer as classes 
dominantes. Não há fatos, apenas interpretação 
ideológica; não há verdade, apenas os interesses 
de classe. Este ponto foi bem observado por 
Russel Kirk (1918-1994): 
“Kenneth Minogue, no livro Alien Powers: 
The Pure Theory of Ideology [Poderes 
Estrangeiros: A Teoria Pura da Ideologia], utiliza o 
termo “ideologia” para “denotar qualquer doutrina 
que apresente a verdade salvífica e oculta do 
mundo sob a forma de análise social. É 
característica de todas essas doutrinas a 
incorporação de uma teoria geral dos erros de 
todas as outras.” Essa “verdade salvífica e oculta” é 
uma fraude – um complexo de “mitos” artificiais e 
falsos, disfarçado de história, sobre a sociedade 
por nós herdada”[2] 
Muitos outros autores atentaram ao exame 
do conceito de ideologia. Mesmo aqueles que 
defendem sua razão de ser necessariamente irão 
admitir um ponto fundamental: ela é falsa, ou, 
como disse Althusser (1918-1990) em 
seu Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado, é 
pura ilusão, puro sonho, um nada cuja realidade 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn2
 
 
reside em si própria enquanto construção 
imaginária.[3] 
É curioso observar que um sistema assim só 
pode existir num meio onde não é admitida a 
existência da verdade em sentido absoluto – o 
que peremptoriamente exclui as religiões, 
eminentemente transcendentes enquanto 
pregam um fim externo ao homem baseados na 
verdade absoluta revelada. Em um sistema que 
não admite a existência de verdades fora de sua 
própria construção, sobra apenas a falsificação 
voluntária em torno do interesse. Podemos, 
agora, começar a sintetizar o termo. 
Ideologia é um construto teórico ilusor que 
direciona seus fins à reforma da sociedade 
segundo sua imagem, excluindo qualquer 
transcendência ou verdade para além de seu 
próprio sistema e objetivo longínquo. O cerne das 
ideologias é a imanentização do eschaton, a 
redução dos fins a si mesma, o que normalmente 
desemboca em utopias. A felicidade do homem, 
ou qualquer outro fim, devem estar sempre 
englobados pelos ditames do sistema. Russel Kirk 
bem chamou a ideologia de religião invertida[4]. 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn3
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn4
 
 
É curioso apontar que essa definição 
aproxima-se muito do que se conheceu como 
movimento gnóstico, que, ao contrário do que 
alguns pregam, não foi apenas uma deturpação 
do cristianismo em seus primeiros anos, mas uma 
modalidade de religião secular que procura 
alcançar a transcendência no tempo. Um bom 
exemplo do pensamento gnóstico foi Joaquim de 
Fiore (1135-1202). Segundo Eric Voegelin (1901-
1985) em A Nova Ciência da Política — obra 
absolutamente indispensável para tratar do tema 
— Fiore reduziu a salvação à história através do 
simbolismo da trindade. 
“Joaquim rompeu com a concepção 
agostiniana da sociedade cristã ao aplicar o 
símbolo da Trindade ao curso da história. Em sua 
especulação, a história da humanidade teve três 
períodos, correspondente às três pessoas da 
Trindade. O primeiro foi a era do Pai; com o 
surgimento de Cristo teve início a era do Filho. 
Mas esta não será a última, devendo a ela seguir-
se a era do Espírito.”[5] 
Atentemos que por seu 
aspecto imanentista, constantemente a ideologia 
se refere a um fim da história ou um fim na 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn5
http://contraosacademicos.com.br/a-crenca-cancerigena/
 
 
história – precisamente o tema da escatologia – 
como foi descrito na mesma obra: 
“Em sua escatologia trinitária, Joaquim criou 
o conjunto de símbolos que preside, até hoje, a 
auto-interpretação da sociedade política moderna. 
O primeiro desses símbolos é a concepção da 
história como uma sequência de três eras, das 
quais a última é claramente o Terceiro Reino final. 
É possível reconhecer-se como variações desse 
símbolo a divisão da história em antiga, medieval e 
moderna; a teoria de Turgot e de Comte acerca da 
sequência das fases teológica, metafísica e 
científica; a dialética hegeliana dos três estágios de 
liberdade e realização espiritual auto-reflexiva; a 
dialética marxista dos três estágios do comunismo 
primitivo, sociedade de classes e comunismo final; 
e por último, o símbolo nacional-socialista do 
Terceiro Reino – embora este seja um caso 
especial, que exige maior atenção.”[6] 
Um aspecto da relação do gnosticismo com 
a ideologia é sua propagação, que, como pode-se 
presumir e confirmar pela observação, possui 
rápida adesão pelos jovens secularizados. A 
salvação não depende mais de um Deus 
transcendente, mas sim dos ditames da ideologia 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn6e seus fins imanentes, como a felicidade terrena, 
o fim da desigualdade, o fim do estado, a 
acumulação de donuts ou dinheiro numa vida 
vazia. Há ideologias ao gosto do freguês, mas, 
indiscutivelmente, todas compartilham do 
mesmo vácuo espiritual. 
A destituição da autoridade de uma verdade 
exterior imutável produz outro fenômeno 
interessante: os princípios éticos, retirados da 
transcendência em que depositam sua validade 
universal,são colocados dentro do sistema 
ideológico. O sistema, por sua vez, passa a ditar o 
que é correto ou não, com ditames 
acentuadamente relativos. O justo, destituído de 
seu referencial eterno, aceitaria o favorecimento 
dos amigos como razão suficiente de sua 
qualidade. O ponto foi duramente criticado por 
Platão no livro I de A República. 
“Portanto, ele diz que a justiça consiste em 
fazer bem aos amigos e mal aos inimigos?”[7] 
Nesse aspecto os fins realmente justificam 
os meios, mesmo que os meios sejam um 
holocausto. É um pensamento extremamente 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn7
 
 
cômodo para partidos políticos, dominados pelas 
ideologias.. 
Assim como religiões que possuem 
dissidentes heréticos, a ideologia costuma “botar 
alguns ovos” e se ramificar, mantendo a premissa 
central intacta ou levemente alterada, como os 
galhos que crescem a partir do tronco. Dentro de 
uma ideologia formam-se correntes. O todo 
eventualmente se tornará uma subcultura, como 
bem observado por Olavo de Carvalho neste 
trecho: 
“Investigando durante décadas a natureza do 
marxismo, acabei concluindo que ele não é só uma 
teoria, uma “ideologia” ou um movimento político. 
É uma “cultura”, no sentido antropológico, um 
universo inteiro de crenças, símbolos, valores, 
instituições, poderes formais e informais, regras de 
conduta, padrões de discurso, hábitos conscientes 
e inconscientes, etc. Por isso é autofundante e 
auto-referente, nada podendo compreender exceto 
nos seus próprios termos, não admitindo uma 
realidade para além do seu próprio horizonte nem 
um critério de veracidade acima dos seus próprios 
fins autoproclamados. Como toda cultura, ele tem 
na sua própria subsistência um valor que deve ser 
 
 
defendido a todo preço, muito acima das 
exigências da verdade ou da moralidade, pois ele 
constitui a totalidade da qual verdade e 
moralidade são elementos parciais, motivo pelo 
qual a pretensão de fazer-lhe cobranças em nome 
delas soa aos seus ouvidos como uma intolerável e 
absurda revolta das partes contra o todo, uma 
violação insensata da hierarquia ontológica.”[8] 
Enquanto subcultura, mesmo aqueles que 
não compartilham dos mesmos objetivos ou 
valores das ideologias acabam sendo infectados 
por ela numa espécie de simbiose à qual 
contribuem mesmo sem intenção. Este é 
notavelmente o caso do feminismo. A grande 
maioria das mulheres que diz repudiá-lo age 
como a mais radical das feministas — ou pior. 
Isto pode ainda ser observado nos trejeitos dos 
seguidores de uma ideologia ou pessoas próximas 
a ela, como o tom de voz e o jeito de andar. 
Ainda que possuam o mesmo cerne, os 
integrantes da dita subcultura formada debaixo 
das asas do dogma costumam procurar meios de 
diferenciação e eventualmente guerreiam entre 
si. Daí surge uma gradação, dos “extremos” aos 
“moderados”, diferenciando-se pelo tempo 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn8
 
 
estimado para alcançar o objetivo – quantas 
semanas se passarão até que o rei seja levado à 
forca? Tal oposição pode ser simulada, como 
acontece na conhecida “estratégia das 
tesouras”.[9] 
Os métodos e a linguagem mudam, mas o 
cerne permanece, funcionando como uma igreja 
de fé única e características ritualísticas diversas. 
O fenômeno é visível na doutrina do Feminismo. 
As participantes de algumas correntes criticam 
outras, mesmo que desejem a mesma coisa — às 
vezes inconscientemente. A fim de forçar tal 
confusão, algumas ideologias procuram mesclar-
se com outras e parasitar doutrinas. São casos 
notórios a Teologia da Libertação, que procura 
interpretar o cristianismo à luz do materialismo 
histórico-dialético, e o próprio feminismo, que 
deturpa a milenar doutrina do jusnaturalismo 
jurídico. 
A este fenômeno convém chamar 
mimetismo ideológico. A doutrina assume formas 
variadas, embora seus cânones se mantenham. 
Ele ocorre pela falácia da composição: o ideólogo 
acusa o adversário de atacar um valor legítimo 
quando o que ele ataca, em verdade, é apenas a 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn9
 
 
ideologia. É o caso, por exemplo, de o marxista 
relacionar com o fascismo tudo o que se opõe ao 
socialismo. Do mesmo modo, a feminista acusa 
seus oponentes de violar a igualdade de direitos. 
Algo a se observar é que dentre as premissas 
centrais das ideologias há o aspecto mitológico. 
Mitos são alegorias utilizadas na história sagrada 
para contar acontecimentos primordiais e revelar 
o mistério da criação de modo que o homem 
possa contemplá-lo ainda que 
setorialmente.[10] Dentro da ideologia, funciona 
como fundamentação e exemplificação da ideia 
que se procura induzir, como o clássico trecho 
do Manifesto do Partido Comunista: 
A história de todas as sociedades até hoje 
existentes é a história da luta de classes[11] 
Dependendo do grau de verossimilhança, 
isso se reflete em grandes falsificações da história 
(algumas vezes com anacronismos grosseiros, 
como o Jesus socialista[12], o Platão Fascista ou o 
Aristóteles individualista), procurando adequar 
os fatos às ideias. É uma interessante inversão da 
definição de verdade. A verdade é a adequação do 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn10
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn11
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn12
 
 
intelecto à realidade; a Ideologia é a adequação 
da realidade ao intelecto. 
A mencionada Teologia da Libertação é o 
caso mais notório de um empreendimento levado 
à cabo pelos ideólogos com o objetivo de 
coadunar a ideologia e a religião, num 
sincretismo comparável a sentar Baal à direita de 
Cristo na Santa Ceia. Ignorando o fato da 
ideologia imanente não poder englobar a 
transcendência, – característica capital da religião 
– alguns ideólogos procuram sincretiza-lá 
afirmando que os postulados encontrados nos 
livros sagrados são idênticos ou no mínimo 
identificáveis com os postulados da ideologia. 
Um caso notório é a tentativa hercúlea de alguns 
partidários do anarquismo de livre mercado (ou 
anarcocapitalismo), que tentam espremer a bíblia 
dentro do sistema da ética de autopropriedade ou 
ainda da praxeologia, o que dá origem a pequenas 
aberrações. Basta atentar ao fato de que os 
pseudo-religiosos dessa vertente não amam sua 
religião, mas seguem sua religião pois esta 
“concorda” com sua ideologia, e assim não 
servem a um Deus, mas a si mesmos. 
 
 
E servir a si mesmo – neste sentido – é 
imanentizar oeschaton. 
O modo mais prático de se adequar a 
realidade ao que se quer é corromper sua 
interpretação. Assim surge o aspecto linguístico 
da ideologia, a corrupção de termos: o significado 
das palavras sofre um processo de sofisma e 
ganha o significado desejado segundo os 
interesses “do partido”. A esmagadora maioria 
dos termos ideológicos é composta de palavras 
com notória pobreza de significado, denotando 
grave deficiência dialética e grave deficiência 
moral. 
Isso remonta a uma questão notória na 
filosofia, rastreável, pelo menos, até o século XV: 
o vasto problema das definições, em que dez 
autores possuem dez significados diferentes para 
a mesma palavra em dez cosmovisões 
conflitantes. O termo “liberdade” é um dos 
exemplos mais conhecidos. 
Há ainda uma consequência linguística do 
mimetismo: usar os termos corrompidos como se 
fossem os originais e acusar-se ataques desferidos 
contra o primeiro como se fossem pelo segundo. 
 
 
 Um exemplo notório é o anarco-capitalismo, ao 
corromper os conceitos de vida, propriedade, 
liberdade e etc. 
Essa corrupção terminológica contribui para 
o anacronismo grosseiro cometido pelas 
ideologias. 
Assim, não nos é estranha a massiva 
confusão em discussões de cunho ideológico, 
quando há partes realmente contrárias Num 
estado normal, a massa mais inculta dos 
integrantes do “partido” tende a se tornar cada 
vez mais agressiva a detratores e perder a 
capacidade de raciocínio não-ideológico. Neste 
aspecto, a ideologia se torna uma cosmovisão 
deformada. Toda ideologia é uma cosmovisão, 
mas nem toda cosmovisão é uma ideologia. 
Negando constantemente tudo que contraria sua 
amada crença e procurando auto justificação, o 
círculo ideológico cria um campo fértil a doenças 
psicológicas. É bem conhecido o surto de 
depressão pelo qual passamos, boa parte com raiz 
na constante não-aceitação da realidade. Há 
ainda a “aberração da compreensão” identificada 
por Bernard Lonergan (1904-1984): 
 
 
“Chamemos escotose a tal aberração da 
compreensão, e escotoma ao ponto cego 
resultante. Fundamentalmente, a escotose é um 
processo inconsciente. Não surge em atos 
conscientes, mas na censura que governa a 
emergência dos conteúdos psíquicos. Apesar de 
tudo, o processo integral não nos está oculto, 
porque a exclusão meramente espontânea de 
intelecções indesejadas não é igual à série total de 
eventualidades. Sobrevém intelecções antagônicas. 
Podem ser aceitas como corretas, mas apenas para 
sofrerem o eclipse que a distorção origina, ao 
excluir as ulteriores questões relevantes. E ainda, 
Podem ser rejeitadas como incorretas, como meras 
ideias brilhantes sem uma sólida fundamentação 
nos fatos; e essa rejeição tende a estar associada à 
racionalização da escotose e a um esforço por 
acumular provas a seu favor.”[13] 
Aqui se encerram as considerações acerca 
da definição de ideologia e alguns de seus efeitos. 
É comum a confusão entre ideologia e 
cosmovisão, ou a exaltação da ideologia como 
parte necessária da vida. Nada disso é verdade. 
Há vida sem ideologias, como a vida religiosa. A 
ideologia é uma cópia apodrecida da religião e 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftn13
 
 
procura aproximar-se desta de modo parasitário, 
mas nunca será como ela, visto sua essencial 
diferença de propósito. A religião é transcendente 
e a ideologia imanente; não há paridade entre 
ambas, e, enquanto a religião procura salvar 
almas, a ideologia explicitamente as planta na 
terra, tentando transformar carne em espírito 
numa alquimia medonha. 
Subsumir o pensamento aos termos de uma 
jaula ideológica é assassinar a própria capacidade 
cognitiva, e não verificar suas premissas é colocar 
grilhões em si mesmo. Muitas pessoas não 
abandonam a ideologia apenas por não 
conseguirem se livrar de suas definições 
primárias. 
Tomemos o ensinamento dos antigos como 
exemplo, e não nos deixemos perverter por 
discursos ideológicos. Tomemos apenas a 
verdade como substrato das ações, pois ela 
mesmo prometeu nos libertar. 
 
 
 
 
 
[1] Origem dos grandes problemas filosóficos p.4 
[2] A Política da Prudência p.94 
[3] Na Ideologia Alemã, esta fórmula figura num 
contexto francamente positivista. A ideologia é então 
concebida como pura ilusão, puro sonho, isto é, nada. 
Toda a sua realidade está fora de si própria. É pensada 
como uma construção imaginária cujo estatuto é 
exatamente semelhante ao estatuto teórico do sonho nos 
autores anteriores a Freud. Para estes autores, o sonho 
era o resultado puramente imaginário, isto é, nulo, de 
“resíduos diurnos”, apresentados numa composição e 
numa ordem arbitrárias, por vezes «invertidas», numa 
palavra, “na desordem”. Para eles, o Sonho era o 
imaginário vazio e nulo “construído” arbitrariamente, ao 
acaso, com resíduos da única realidade cheia e positiva, a 
do dia. Tal é, na Ideologia Alemã, o estatuto exato da 
filosofia e da ideologia (pois que nesta obra a filosofia é a 
ideologia por excelência). Ideologia e Aparelhos Ideológicos 
do Estado p.73 
[4] A ideologia é uma religião invertida, negando a 
doutrina cristã de salvação pela graça, após a morte, e 
pondo em seu lugar a salvação coletiva, aqui na Terra, por 
meio da revolução e da violência. A ideologia herda o 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref1
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref2
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref3
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref4
 
 
fanatismo que, algumas vezes, afetou a fé religiosa e aplica 
essa crença intolerante a preocupações seculares. A 
Política da Prudência p.95 
[5] A Nova Ciência da Política p.87 
[6] Ibidem, 87-88 
[7] A República 332d 
[8] Olavo de Carvalho, “A Natureza do Marxismo”, 
Jornal da Tarde, 18 de dezembro de 2003 
[9] Estratégias das tesouras é uma tática partidária 
onde um mesmo partido ramifica-se em dois afim de criar 
uma oposição simulada, onde não importando em quem o 
eleitorado vote, a agenda permanece intacta. 
[10] Para uma boa introdução aos mitos e a história 
sagrada, ver Mircea Eliade, “O Sagrado e o Profano”, 
Tradução de Rogério Fernandes. 4º edição, São Paulo, 
Martins Fontes, 2013. 
[11] Karl Marx, “O Manifesto do Partido Comunista”, 
Álvaro Pitta. 5º edição, São Paulo, Boitempo Editorial, 2007. 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref5
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref6
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref7
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref8
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref9
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref10
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref11
 
 
[12] Para uma refutação do mito do Jesus Socialista, 
ver Eric Voegelin, “Helenismo, Roma e Cristianismo 
Primitivo – História das Idéias Políticas – Volume 1”. 
Traduçãode Mendo Castro Henriques. 1º edição, São 
Paulo, É Realizações Editora, 2012. 
[13] INSIGHT – Um Estudo do Conhecimento 
Humano p.204 
 
 
 
 
 
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref12
http://contraosacademicos.com.br/da-ideologia/#_ftnref13

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