Buscar

penal1C

Prévia do material em texto

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAPÁ
XX, advogado, inscrito na OAB sob o n.º xx, com endereço profissional à Rua xx, nº xx, Bairro xx, cidade xx – CE, e endereço eletrônico xx, onde receberá intimações, vem respeitosamente perante esse Egrégio Tribunal, com fulcro no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal de 1988 e artigos 647 e 648, ambos do Código de Processo Penal, impetrar o presente
HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR
Em favor do paciente PAULO LAS VEGAS, brasileiro, casado, funcionário público federal (INSS), inscrito no CPF sob nº xx, portador do RG nº xx, endereço eletrônico xx, residente e domiciliado à Rua xx, nº xx, Bairro xx, CEP xx, cidade do Amapá, Amapá, atualmente recolhido na Penitenciária xx, o qual vem sofrendo violenta coação em sua liberdade, por ato ilegal e abusivo do Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 2ª Vara Criminal do Amapá, pelos motivos de fato e de direito a seguir explicitado:
DOS FATOS
Na manhã do dia 10 de maio de 2011 (terça-feira), Paulo Las Vegas foi procurado pela Polícia Civil local em sua residência, sendo-lhe apresentado um mandado de busca e apreensão e outro de prisão preventiva. Informado de que seria alvo de investigação pela morte de seu vizinho, Lucas Califórnia, foi encaminhado preso até a delegacia, tendo sido localizada a faca utilizada no crime no ato do cumprimento dos mandados. 
 Segundo informado pelos policiais, Lucas Califórnia, prefeito da cidade, eleito com 90% dos votos válidos, teria sido morto à facada na noite de quinta-feira (5 de maio de 2011) por Paulo Las Vegas, que praticara o crime de homicídio por motivo fútil (discussão em razão de futebol) e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima. 
Na delegacia, a autoridade policial responsável pela investigação informou a Paulo Las Vegas que, após seu requerimento, o magistrado da 2ª Vara Criminal do Amapá havia expedido mandado de prisão preventiva em seu desfavor, alegando que sua manutenção em liberdade traria grave risco à ordem pública (possibilidade de cometer novos homicídios, em razão do clamor social e da gravidade concreta do crime praticado – homicídio contra prefeito por motivo fútil), pela conveniência da instrução criminal (impossibilitar a destruição de provas) e pela dificuldade de aplicação da lei (haveria risco de fuga), mesmo diante da primariedade e bons antecedentes ostentados por Paulo. 
O delegado de polícia mencionou, também, que pôr o inquérito policial possuir caráter inquisitorial, não havendo processo judicial em andamento, a presença de advogado no ato seria facultativa, ou seja, deixou a cargo de Paulo a possibilidade de comunicar-se com algum advogado de sua confiança. 
Ainda segundo a autoridade policial, Paulo foi avistado por um morador vizinho, cujo nome é Douglas Texas, brigando com Lucas Califórnia e o empurrando para dentro de sua residência, sendo que, desde então, Lucas não mais foi visto por seus familiares. Ainda, o mesmo morador teria informado à polícia que Paulo Las Vegas e Lucas Califórnia discutiram de forma ríspida momentos antes, após encerramento de um jogo de futebol, ocorrido na tarde daquele mesmo dia, vindo o corpo da vítima a ser localizado no dia seguinte, ao lado da residência de Paulo Las Vegas. 
Diante dos fatos apresentados, desacompanhado de advogado, pois Paulo Las Vegas e seus familiares não dispunham do contato com tal tipo de profissional, acabou confessando ter matado Lucas Califórnia. 
Como motivação, ele disse ter matado seu vizinho em razão de tê-lo visto, com um estilete em punho, praticando ato libidinoso com sua filha de 4 anos, que se encontrava na porta de casa aguardando a mãe (esposa de Paulo). Informou, ainda, que, ao ver a cena, imediatamente entrou em luta corporal com Lucas e o empurrou para a garagem de sua casa, quando, imbuído de violenta emoção, alcançou uma faca que se encontrava no local e, para salvar sua própria vida, desferiu um golpe no peito de Lucas, que imediatamente veio a óbito. Ato contínuo, muito rapidamente, arrastou o corpo para um lote vago situado ao lado de sua residência, tudo sem que sua esposa visse o ocorrido. 
Paulo informou ainda que, após os fatos, narrou tudo para sua esposa e que imediatamente levaram a criança para o hospital. Lá, foi constatado pelo médico que ela teria sido violentada sexualmente. 
 Sem a realização de diligências diversas, a fim de, simplesmente, comunicar o cumprimento dos mandados de busca (apreendeu um estilete e a faca utilizada por Paulo) e de prisão, o delegado de polícia encaminhou os autos do inquérito policial ao Poder Judiciário no mesmo dia, ainda desacompanhado do relatório final. 
DO DIREITO
Estamos diante de uma decisão proferida sem amparo legal, constituindo-se de um fato a ser reparado pela medida ora requerida.
O Excelentíssimo Juiz utilizou argumentos que carecem de embasamento legal para manutenção da prisão preventiva do paciente.
Nos termos do art. 312. “A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º)”.
 Não foi considerado pelo Excelentíssimo Juiz os antecedentes criminais do paciente, que se trata de réu primário, ao utilizar o art. 312 do CPP como motivação para manutenção da prisão, apenas fez referência aos requisitos, tais como garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal.
Como Delmanto afirma:
“Sem dúvida, não há como negar que a decretação de prisão preventiva com o fundamento de que o acusado poderá cometer novos delitos baseia-se, sobretudo, em dupla presunção: a primeira, de que o imputado realmente cometeu o delito; a segunda, de que, em liberdade e sujeito aos mesmos estímulos, praticará outro crime, ou, ainda, envidará esforços para consumar o delito tentado”.
Não se pode ponderar com precisão se um agente que já cometeu um crime voltará a cometê-lo. No caso citado, o paciente, para salvar sua vida e tomado pela violenta emoção em presenciar a cena de sua filha de 4 anos sendo molestada por Luis California armado com um estilete.
Sobre o caso temos o entendimento do STF, Moreira e Rosa (2015, [s.p.]) informam que: 
Na sessão do último dia 15 de dezembro, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ao conceder parcialmente o Habeas Corpus nº. 130636, em relação a um dos acusados na chamada Operação Lava-Jato, decidiu "que, por mais graves e reprováveis que sejam as condutas, isso por si só não justifica o decreto de prisão cautelar." No caso julgado, um dos fundamentos para a decretação da prisão preventiva tinha sido exatamente "a gravidade dos crimes imputados ao paciente e o fundado receito de reiteração delitiva." O Ministro Teori Zavascki, relator do Habeas Corpus, votou pela substituição da prisão preventiva imposta pelo juízo da 13ª. Vara Federal de Curitiba, por medidas cautelares alternativas, entre elas a prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de deixar o país. 
Sem ao menos considerar os antecedentes criminais do paciente, que se trata de réu primário, o Excelentíssimo Juiz, ao utilizar o art. 312 do CPP como motivação para manutenção da prisão, apenas fez referência aos requisitos, tais como garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal.
O fundamento de garantia da ordem pública ofende princípios basilares que regem o processo penal tais como o princípio da presunção de inocência quando baseada na periculosidade do agente sem qualquer prova. Ofende, também, o princípio do devido processo legal, pois a liberdade do paciente é retirada sem que haja motivos cautelares justificadores, configurandoaté de puro arbítrio do julgador e os princípios do contraditório e da ampla defesa, já que apresentam argumentos impossíveis de serem refutados, não havendo possibilidade de se fazer qualquer prova em contrário.
DO HABEAS CORPUS
Na nossa Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 há o art. 5º, inciso LXVIII, onde diz que será concedido “habeas corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. 
O Código de Processo Penal contempla em seus artigos 647 e 648: “Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar”.
“Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:
I - quando não houver justa causa; (...)”.
Também mencionamos o Pacto de São José da Costa Rica, recepcionado em nosso ordenamento jurídico brasileiro, que em seu art. 7º, é taxativo ao expor que toda pessoa tem direito a liberdade, sendo que ninguém pode ser submetido ao encarceramento arbitrário.
Para ocorrer assim o cerceamento da liberdade de qualquer cidadão, observamos os princípios e garantias previstos na Carta Magna, que foi violado, além de, no caso em tela, não ocorreram os requisitos do artigo 312 do CPP (prisão preventiva) do paciente que foi determinada com base em suposições que não encontram nenhum amparo em qualquer circunstância. 
Cabe ressaltar também sobre o direito de ser interrogado perante a autoridade policial na presença de advogado, o STJ firmou entendimento no sentido de que o art. 5º, LXIII, da Constituição, deve ser plenamente respeitado, devendo o delegado informar ao interrogado os direitos previstos no inciso citado, cabendo a ele solicitar ou não a presença de seu advogado. Não sendo oportunizado o direito de se ver acompanhado por advogado, o interrogatório será declarado nulo, devendo o advogado requerer tal declaração de nulidade ao juiz responsável pelo inquérito. Sobre o direito de ser acompanhado por advogado, o STJ apresenta: 
Fundamentando! 
PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGA. FLAGRANTE. INQUÉRITO POLICIAL. INTERROGATÓRIO PERANTE AUTORIDADE POLICIAL SEM A PRESENÇA DE ADVOGADO. NULIDADE DO PROCESSO PENAL. NÃO OCORRÊNCIA. 1. Apesar da natureza inquisitorial do inquérito policial, não se pode perder de vista que o suspeito, investigado ou indiciado possui direitos fundamentais que devem ser observados mesmo no curso da investigação, entre os quais o direito ao silêncio, à preservação de sua integridade física e moral e o de ser assistido por advogado. 2. In casu, consta do Auto de Prisão em Flagrante e do Termo de Interrogatório que a então investigada, ora paciente, foi cientificada de seu direito de permanecer em silêncio, de ter assistência de um advogado, de saber a identidade do responsável por sua prisão, de ter sua integridade física/moral respeitadas e de não ser datiloscopicamente identificada se portadora de cédula de identidade, porém não manifestou desejo de ser assistida por advogado, o que denota não existir qualquer nulidade a sanar, até porque o interrogatório judicial deverá ser realizado sob o crivo do contraditório, na instrução processual. 3. Habeas corpus denegado. (HC 382.872/TO, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 09/05/2017, DJe 15/05/2017).
DA MEDIDA LIMINAR
Diante da flagrante ilegalidade da decretação da prisão do paciente, não restam dúvidas que num gesto de estrita justiça, seja concedida liminarmente o direito à liberdade ao paciente.
O “fumus commissi delicti”, significa a fumaça do cometimento do delito, o qual pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à colação não foram capazes de demonstrar a efetiva participação do paciente no crime em comento.
Entretanto, no que diz respeito ao “periculum libertatis”, ou seja, perigo na liberdade do acusado, conforme demonstrado, não vislumbra qualquer justificativa plausível para a prisão cautelar do paciente.
A liminar é o meio de assegurar maior atenção aos remédios heroicos constitucionais, evitando uma coação ilegal ou mesmo impedindo sua ocorrência.
Mirabete assim preleciona:
“Nada impede seja concedida liminar no processo de habeas corpus, preventivo ou liberatório, quando houver extrema urgência”.
DO PEDIDO
Diante todo exposto, não resta duvidas que o paciente sofreu constrangimento ilegal por ato da autoridade coatora, o Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 2ªVara Criminal do Amapá, circunstância que deve ser remediada por esse Colendo Tribunal. 
Isto posto, com base no artigo 5º, LXVIII, da CF, c/c artigos 647 e 648 do CPP, requer: 
a) a concessão da Medida Liminar, ante a existência de fumus boni iuris e periculum in mora, determinando o imediato Relaxamento da Prisão do paciente, sem a imposição a ele de quaisquer restrições de direitos (medidas cautelares), por se tratar da anulação de um ato praticado com violação à lei;
b) a promoção da imediata expedição de Alvará de Soltura em favor do paciente, aguardando em liberdade para que possa responder os termos do processo;
c) a oficialização da autoridade coatora para prestar as informações de praxe, com posterior remessa dos autos à Procuradoria-Geral de Justiça como regular prosseguimento do feito;
d) a requisição de informações ao Meritíssimo Juiz da 2ªVara Criminal do Amapá, ora apontado como autoridade coatora;
e) conhecer o pedido de HABEAS CORPUS, para conceder o pedido de julgado do feito, tornando definitivos os efeitos da liminar concedida.
Com o propósito de colaborar e participar do processo, o paciente promove a juntada de comprovante de residência, certidão de antecedentes criminais e comprovante de trabalho. 
São os termos em que,
Pede deferimento.
Local e data
Nome e assinatura do advogado
Nº da OAB

Continue navegando