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Gramaticalhas dos vestibulandos O que os estudantes de ensino médio mais erram quanto à Gramática do Português! Roberto Gandulfo Paralelismo Gramaticalhas dos Vestibulandos Roberto Gandulfo @portuguescombetinho Introdução Olá, meu nome é Roberto e sou estudante do ensino médio. Este guia de Português Instrumental – mas talvez não tão instrumental assim – é direcionado aos estudantes que se estejam preparando para vestibulares, principalmente em relação à banca Cespe. Usou- se, ao longo destas obras, a gramática de Celso Cunha e de Lindley Cintra, que é a em que a UnB geralmente se baseia. Falou-se, ao longo das apostilas, sobre os assuntos mais recorrentes, não nas questões de gramática, mas sim na redação. Com notas de rodapé e com explicações detalhadas, tentei mostrar os principais equívocos gramaticais cometidos nas redações afora, como crase e vírgula. Gramaticalhas dos Vestibulandos Roberto Gandulfo @portuguescombetinho Paralelismo I- Introdução O paralelismo é a harmonia existente entre termos ou orações coordenados. Caso seja necessário, releiam as conjunções da seção IV do capítulo sobre a vírgula, elas serão importantes agora. Há três tipos de paralelismo: sintático, morfológico e semântico. Eu, por questões didáticas, prefiro “fundir” os dois primeiros em um só. Portanto, estudaremos dois tipos de paralelismo: o morfossintático e o semântico. O paralelismo, na verdade, é um conjunto de regras que definem as repetições que devem existir entre elementos coordenados. II- Paralelismo morfossintático A regra do paralelismo morfossintático é esta: numa enumeração de elementos de mesma função sintática: 1- Usa-se artigo em todos ou em nenhum; 2- A preposição, se houver, deve ser repetida em todos; 3- A conjunção subordinativa ou o pronome, se houver, devem aparecer em todos, mesmo que sejam iguais; 4- Os nexos coordenativos vêm em pares e não podem ser separados (ou seja, só se usa “seja” com “seja”, e “ou” com “ou, e “não só” com “mas/como também”) 5- Esses elementos devem ter mesma natureza morfossintática. Quanto à regra (3), ela quer dizer que só se coordena ou termo com termo, ou oração desenvolvida com oração desenvolvida, ou oração reduzida com oração reduzida. Vamos agora a cinco exemplos incorretos quanto ao paralelismo: (a) Eu me referia aos professores, alunos e coordenadores. (b) É necessário estudar e que vocês se ajudem. (c) Eles sofrem seja pela violência, ou pelo descaso. (d) Preciso de suporte e conselhos. (e) Eu amo os meus pais, meus irmãos e meu namorado. Como se corrigiriam essas frases? Eu me referia aos professores, alunos e coordenadores. Perceba que há um objeto indireto composto (sublinhado), porém só se usaram o artigo e a preposição no primeiro elemento, mas não nos outros. A preposição deve ser repetida em todos os elementos, indiscutivelmente, mas o artigo pode aparecer em todos ou em nenhum. Portanto, há duas formas de corrigir essa frase: Gramaticalhas dos Vestibulandos Roberto Gandulfo @portuguescombetinho Eu me referia a professores, a alunos e a coordenadores. Eu me referia aos professores, aos alunos e aos coordenadores. É necessário estudar e que vocês se ajudem. Aqui coordenou-se uma oração reduzida com uma desenvolvida. Há duas formas de corrigir: ou ambas desenvolvidas, ou ambas reduzidas. É necessário que vocês estudem e que se ajudem. É necessário vocês estudarem e ajudarem-se. A repetição do “que” na primeira frase também é obrigatória, por ser conjunção subordinativa. Eles sofrem seja pela violência, ou pelo descaso. Aqui não se usou adequadamente o nexo coordenativo. Usa-se “seja” com “seja” e “ou” com “ou”. Assim, há duas maneiras de corrigir: Eles sofrem ou pela violência, ou pelo descaso. Eles sofrem seja pela violência, seja pelo descaso. Preciso de suporte e conselhos. Aqui não se repetiu a preposição do objeto indireto composto. Corrige-se assim: Preciso de suporte e de conselhos. Eu amo os meus pais, meus irmãos e meu namorado. Esse caso deve gerar confusões. No capítulo em que se falava sobre crase, eu disse explicitamente que o artigo antes de pronomes possessivos adjetivos é facultativo. Sim, ele o é, mas não neste caso. Por influência do paralelismo, ou se usa o artigo em todos, ou em nenhum. Há duas maneiras de corrigir a frase, portanto: Eu amo meus pais, meus irmãos e meu namorado. Eu amo os meus pais, os meus irmãos e o meu namorado. Por fim, vale ressaltar que erros de paralelismo podem alterar a função sintática de alguns termos. Darei aqui um exemplo simples: (f) Sei que você não está bem e que precisa de ajuda. (g) Sei que você não está bem e precisa de ajuda. Não há erro em nenhuma das frases, mas a análise é diferente. Perceba que, em ambos os períodos, há três orações (já que há três verbos: saber, estar e precisar). Em (f), a oração “Sei” é principal para a segunda e para a terceira. As orações “que você não está bem” e “e que precisa de ajuda” são subordinada substantivas objetivas diretas para a primeira e coordenadas entre si. Em (g), as orações “Sei” e “e precisa de ajuda” são coordenadas entre si, enquanto “que você não está bem” é subordinada substantiva objetiva direta para a primeira. Gramaticalhas dos Vestibulandos Roberto Gandulfo @portuguescombetinho Antes de passarmos ao próximo tema, preciso falar sobre o nexo prepositivo de...a. Eis a questão: ele é comumente utilizado para indicar horas, porém, caso o use para isso, deve haver paralelismo sintático. Perceba: (h) Eu atendo de 9h a 11h. (i) Eu atendo das 9h às 11h. É comum virmos “Eu atendo de 9h ‘às’ 11h”, mas isso é inadequado, já que, se houve artigo em um, deve haver no outro; se não houve artigo em um, não deve haver com outro. Caso haja dúvidas, use “meio-dia” – única hora masculina do dia –, para substituir. (j) Eu atendo de 7h a meio-dia. (k) Eu atendo das 7h ao meio-dia. III- Alguns detalhes do paralelismo morfológico Há, ainda, mais algumas regras essenciais para a construção das frases. 1- Deve haver correlação temporal entre as orações de um período; 2- Só se coordenam verbos que tenham mesma transitividade e que rejam a mesma preposição, se necessária; 3- Se um termo preposicionado estiver sujeito a outros nomes, aquele deve possuir a mesma função sintática para estes, além de eles regerem a mesma preposição. Essa parte talvez tenha sido mais complexa. Tentarei explicar melhor cada regra. A primeira regra fala sobre correlação temporal, que é uma noção instintiva de nós falantes. Veja esta frase que esquisita: Se eu ganhar uma bicicleta, andei muito com ela. Talvez, para você, ela nem sequer faça sentido. Isso acontece porque “ganhar” é um verbo no futuro do subjuntivo e, é claro, coordena-se futuro com futuro. Então, o adequado seria isto: Se eu ganhar uma bicicleta, andarei muito com ela. Perceba que os tempos de um período estão sempre correlacionados: (a) Quando eu te tiver, ficarei realizado. (b) Quando eu te tive, fiquei realizado. A segunda regra fala sobre verbos coordenados; a terceira, sobre nomes coordenados. Darei aqui uma dica: se houver nomes ou verbos coordenados, separe-os e veja como ficariam isolados. Eu entrei e saí da sala. Há dois verbos. Agora, dividi-los-ei em duas orações diferentes: Eu entrei na sala. Gramaticalhas dos Vestibulandos Roberto Gandulfo @portuguescombetinho Eu saí da sala. Perceberam que as preposições são diferentes? Pois é. Só se podem coordenar verbos de mesma transitividade e de mesma regência. Os verbos “entrar” e “sair” não têm mesma regência, pois pedem preposições diferentes. A correção da frase, então, fica assim: Eu entrei na sala e saí dela. Veja mais um exemplo: Não arraste nem suba nas mesas.Separando as orações, temos isto: Não arraste as mesas. Não suba nas mesas. Não têm mesma regência, já que um pede preposição; o outro, não. A correção é esta: Não arraste as mesas, nem suba nelas. Agora vejamos um exemplo adequado: Eu preciso e gosto de você. Veja que, separando as frases, temos isto: Eu preciso de você. Eu gosto de você. Como a regência é a mesma, a coordenação é adequada: Eu preciso e gosto de você. Com nomes, vale a mesma regra. Com nomes que regem complemento nominal, é necessário que as preposições sejam as mesmas. O gerente deve promover o cumprimento e o seguimento das regras. Vale aqui a mesma dica: separe os nomes e veja se a preposição é a mesma: O gerente deve promover o cumprimento das regras. O gerente deve promover o seguimento das regras. Como a preposição é a mesma, a coordenação é adequada. O gerente deve promover o cumprimento e o seguimento das regras. Um exemplo equivocado seria este: Ele é diferente e igual a mim simultaneamente. Se se separarem os nomes, obtém-se isto: Ele é diferente de mim. Gramaticalhas dos Vestibulandos Roberto Gandulfo @portuguescombetinho Ele é igual a mim. Para que não se repita o oblíquo tônico, uma opção é apenas separar os adjetivos. Ele é igual a mim e diferente simultaneamente. Ou, até mesmo, passar o pronome à forma átona: Ele me é igual e diferente simultaneamente. A quarta e última regra fala sobre os termos preposicionado. Basicamente, um termo preposicionado não pode ser adjunto adnominal e complemento nominal simultaneamente. Veja isto: O surgimento e a entrega da comida alegraram minha casa! Separando as frases, temos isto: O surgimento da comida. A entrega da comida. As preposições são iguais, mas, na primeira, o termo “da comida” é adjunto adnominal (a comida surgiu); na segunda, é complemento nominal (a comida foi entregue). Por isso, não é permitida a coordenação. A correção é esta: A entrega da comida e o seu surgimento alegraram minha casa! IV- Paralelismo semântico Estabelecido, então, o paralelismo morfossintático, vamos ao semântico. Na verdade, este é mais simples: não se coordenam elementos que não pertençam a um mesmo grupo semântico. Veja a frase abaixo: Eu visitei a França, a Inglaterra, a Espanha e o papa. Aqui fica clara a interferência do termo “o papa”. Tratava-se de um grupo semântico, em que estavam países. A inserção do termo interferente causa quebra na linha de pensamento. Uma maneira de corrigir é esta: Eu visitei não só a França, a Inglaterra, a Espanha, como também o papa. A separação clara entre esses termos evita a confusão semântica que se faz entre eles.
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