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NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 1 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA ____ VARA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. PAJ: 2020/038-01751 GILENE JORGE LASARO, 70 anos, brasileira, solteira, portadora do RG nº 671.335 – SDS/PE, inscrita no CPF sob nº 955.659.498-15, residente e domiciliada na Rua Jangadeiro, 586, Apt. 201, Edf. Azul Mar, Piedade, Jaboatão dos Guararapes/PE, CEP: 54430- 315, vem, perante Vossa Excelência, assistida pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por intermédio do Defensor Público Federal signatário, nos termos da Lei Complementar nº 80/94, ajuizar a presente: AÇÃO PREVIDENCIÁRIA VISANDO A CONCESSÃO DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL AO IDOSO em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, autarquia previdenciária federal com Superintendência neste Estado e sede administrativa situada na Av. Mario Melo, n° 343, 3° andar, Santo Amaro, Recife/PE, pelas razões fáticas e jurídicas adiante expendidas. I – DO DETALHAMENTO DO ENDEREÇO Endereço: Rua Jangadeiro, 586, apt. 201 CEP: 54430-315 - Candeias, Jaboatão dos Guararapes - PE Ponto de referência: O imóvel localiza-se de esquina no edifício Azul Mar. Segue pela Av. Ayrton Senna da Silva, dobrando-se à direita na Rua do Jangadeiro. Segue em frente na rua do Jangadeiro até o cruzamento com a Rua Felipe Manuel Santiago. O edifício se localiza de esquina, gasto, de cor branca e amarela, apt. 201– vide trajeto em azul destacado no mapa. NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 2 Telefones para contato: (81) 99503-1060 – contato do Sra. Cida (Irmã da parte autora); (81) 98888-1490 – contato da Sra. Gilene, parte autora. * Mapa de localização da Rua do Jangadeiro, 586 - Candeias, Jaboatão dos Guararapes - PE, CEP: 54430-315: II - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA Inicialmente, afirma a parte Demandante não possuir meios para arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio e de sua família, razão pela qual requer a concessão do benefício da justiça gratuita, nos termos dos arts. 98 e 99 do Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), conforme declaração de pobreza em anexo, e indica a Defensoria Pública da União para o patrocínio de seus interesses. NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 3 III – DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO O presente feito deve ter tramitação prioritária, uma vez que a parte autora conta com mais de 60 anos de idade, conforme previsto no art. 1.048, I, do novo Código de Processo Civil. IV. DA NÃO REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO (ART. 334, PARÁGRAFO QUARTO, INCISO II, DO NCPC) Cuida-se de ação visando à condenação do Instituto Nacional do Seguro Social na obrigação de conceder o benefício assistencial à pessoa com deficiência em favor da parte demandante. A ação envolve, portanto, direito de cunho nitidamente alimentar, indisponível, e a Administração Pública apenas pode dele dispor em caso de existir disposição normativa nesse sentido. Como inexiste permissivo legal a admitir a autocomposição, requer a Demandante, com base no Art. 334, parágrafo quarto, inciso II, do NCPC, que não seja designada audiência de conciliação ou de mediação, e que a parte demandada seja citada para, querendo, apresentar contestação. V – DOS FATOS Diante de sua situação socioeconômica, a autora protocolou pedido de concessão do Benefício de Prestação Continuada junto ao INSS – NB 704.430.256-5 (DER 28/08/2018), mas teve o seu pleito indeferido, sob o fundamento de nº 43, em que não houve o “cumprimento de exigências”. Entretanto, conforme se verificará ao longo desta exordial, o motivo do indeferimento administrativo do benefício pelo INSS não merece prosperar. Assim, para ver garantidos os seus direitos, solicita a prestação jurisdicional. VI – DA NÃO CONVOCAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE EXIGÊNCIA O benefício em análise foi requerido em 28/08/2018, com seu atendimento presencial apenas em 26/12/2018. Ou seja, o requerimento do benefício pressupõe um estado de vulnerabilidade vivenciada pelo administrado, ainda assim, por mora da Autarquia, o primeiro atendimento se deu cerca de 04 meses após seu agendamento. Discrente de qualquer análise por NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 4 parte da Autarquia previdenciária, a parte autora buscou assistência jurídica através da Defensoria Pública da União – Recife, para que pudesse pleitear a favor de seu direito, ora reconhecido e ao longo da peça comprovado. Visando prestar uma correta orientação jurídica ao autor e tentando evitar a seara judicial, enviou em 28 de agosto de 2019 o ofício “OFÍCIO – Nº 47/2019 – DPU PE/6ºOFPREV”, solicitando informações sobre o andamento do pedido protocolado em favor da parte autora e destinado à obtenção de LOAS – Idoso. Em 05 de dezembro de 2019, o INSS envia o Ofício Nº 231/2019 – APS/AREIAS em referência ao Ofício nº047/2019 enviado pela Defensoria. Tal ofício apresenta a análise do requerimento com o indeferimento do benefício através do motivo de não cumprimento de exigência. Porém, o que ocorre é que não houve o recebimento de nenhuma carta e nenhum contato com a parte autora solicitando o comparecimento à Agência para cumprimento da exigência necessária. Ficando a cargo do INSS comprovar que tal convocação, de fato, foi realizada. Nesse sentido, pela norma que disciplina os processos administrativos em âmbito federal, a Lei 9.784/99, em seu Art. 36, há a previsão de que: Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto no art. 37 desta Lei.”. Traz, então, no Art. 37 desta Lei que: Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão registrados em documentos existentes na própria Administração responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o órgão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos documentos ou das respectivas cópias. Ou seja, tal distribuição dinâmica do ônus da prova para que o INSS seja responsável por apresentar o registro de convocação da parte autora ao cumprimento da exigência – que levou ao indeferimento por não cumprimento, também se coaduna com o dispositivo do CPC- 15, prevendo que: NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 5 “Art. 373, § 1º. Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.” VII – DO DIREITO O direito à assistência Social é garantido pelo art. 203, caput e inciso V da Constituição Federal pátria. A Lei 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social) regulamentou a previsão constitucional e estabeleceu, em seu artigo 20, os requisitos objetivos para a concessão do benefício, a saber: (i) impedimentos de longo prazo ou a idade mínima de 65 anos (caput) e (ii) miserabilidade do grupo familiar (§§ 3º e 11). Analisemos a presença de cada um destes requisitos no caso sub examine. a) Da idade A autora faz jus ao LOAS Idoso, por contar com 70 anos de idade - situação comprovada por seus documentos pessoais em anexo. b) Da miserabilidade do grupo familiar Conforme se observa no “Formulário de Composição de Renda Familiar”, em termos gerais, o grupo familiar é composto da seguinte forma: Membros Renda Observação Gilene Jorge Lasaro (Autora) - 70 anos de idade (Nascida em 11/05/1949) Depende integralmente de ajuda voluntária de familiares, nãohá nenhum meio de renda. Reside sozinha em imóvel de sua filha, que sofre de transtornos psicóticos e é cuidada por sua tia, que também presta ajuda à parte autora. NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 6 Embora seja flagrante a condição de hipossuficiência da Autora conforme acima descrito, o seu benefício assistencial foi indeferido porque não houve o cumprimento de exigências. Ocorre que, como já visto, e através da boa-fé da Sra. Gilene, não houve nenhuma convocação realizada pela Autarquia, ficando a cargo desta comprovar tal fato. Ademais, na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (Rcl 4374 e REs 567985 e 580963), o § 11, do art. 20, da Lei Orgânica da Assistência Social, acrescentado pela Lei n. 13.146/2015, dispõe que “para concessão do benefício de que trata o caput deste artigo, poderão ser utilizados outros elementos probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da situação de vulnerabilidade, conforme regulamento”. A fim de não restar dúvidas quanto ao direito pretendido, o caso foi levado para a perícia social da Defensoria Pública da União, elaborado laudo de lavra da assistente social Simone Guerra de Castro Medeiros, CRESS-PE nº 6156, datado de 30 de novembro de 2019, com conclusão: Com base nos dados colhidos, entendemos que a usuária preenche os requisitos de idade e de renda para fins de recebimento do BPC. Sua miserabilidade parece evidente, uma vez que não exerce qualquer atividade remunerada nem possui qualquer fonte fixa de sustento, dependendo integralmente da ajuda voluntária prestada por seus irmãos, Gercides Gomes Lasaro e Jimmy Jorge Lasaro. É o parecer. Ante o exposto, a miserabilidade da parte autora é manifesta pelo fato da demandante possuir RENDA ZERO, sendo visível o cumprimento do requisito para fins de concessão do BPC. Ademais, a análise social das circunstâncias específicas do caso concreto demonstra a notória dificuldade de inserção da parte autora no mercado de trabalho, por sua condição de idoso. Com efeito, a inexistência de renda do grupo familiar a impossibilita de arcar com as despesas básicas e com medicamentos, dependendo da ajuda humanitária de terceiros. Logo, evidenciada a vulnerabilidade da Sra. Gilene, faz jus a Autora ao benefício assistencial. VIII - DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA A tutela de urgência está prevista no artigo 300 do CPC (Lei n. 13.015/2015), que estabelece, para concessão da medida requerida, a presença de elementos que evidenciem a NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 7 “probabilidade do direito” conjugada com o “perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”. A probabilidade do direito é manifesta pela idade e comprovação da miserabilidade, conforme previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/93. Por sua vez, o perigo de dano exsurge do caráter de verba alimentar, imprescindível para o provimento o sustento do autor. Válido destacar que a vigente Súmula 51/TNU estabelece que: “Os valores recebidos por força de antecipação dos efeitos de tutela, posteriormente revogada em demanda previdenciária, são irrepetíveis em razão da natureza alimentar e da boa-fé no seu recebimento”. Nesse sentido, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal assentou que “o benefício previdenciário recebido de boa-fé pelo segurado, em decorrência de decisão judicial, não está sujeito à repetição de indébito, em razão de seu caráter alimentar. Precedentes.”. (ARE 734242 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, julgado em 04/08/2015) Portanto, deve ser concedida tutela de urgência em sentença para imediata implantação do benefício requestado. IX – DO PREQUESTIONAMENTO Para fins de prequestionamento, pugna-se pela apreciação do tema à luz do art. 203, V, da Constituição da República, com menção expressa ainda ao art. 20, da Lei 8.742/93. X – DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer a Vossa Excelência: 1) A concessão da gratuidade de justiça, tendo em vista que a Demandante não dispõe de recursos suficientes para arcar com as despesas decorrentes do processo, nos termos dos arts. 98 e 99 do Novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015); 2) A concessão da tramitação prioritária, uma vez que a parte autora conta com mais de 60 anos de idade, conforme previsto no art. 1.048, I, do novo Código de Processo Civil. NÚCLEO REGIONAL RECIFE E JABOATÃO DOS GUARARAPES 8 3) Que não seja designada audiência de conciliação ou de mediação com base no art. 334, parágrafo quarto, inciso II, do NCPC; 4) A citação da ré para, querendo, contestar a presente ação no prazo legal, sob pena de revelia; 5) A procedência do pedido, para condenar o INSS a conceder o benefício assistencial de prestação continuada ao idoso desde o primeiro requerimento administrativo (DER: 28/08/2018), com o pagamento das parcelas vencidas e vincendas, todas acrescidas de juros e correção monetária incidentes até o efetivo pagamento; 6) A concessão de tutela de urgência após perícia ou em sentença, nos termos do art. 300, NCPC; 7) A produção de todos os meios de prova em direito admitido, especialmente a perícia social em conformidade com as Sumulas 79 e 80 da TNU; 8) Em caso de dúvidas a respeito da miserabilidade da Autora, requer a designação de audiência para produção de prova testemunhal. Dá-se à presente causa o valor de R$ 62.340,00 (sessenta e dois mil, trezentos e quarenta reais). Termos em que, Pede deferimento. Recife, 9 de março de 2020. FERNANDA MARQUES CORNÉLIO Defensora Pública Federal
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