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LIVRO UNIDADE 1 Economia Política Ricardo Cintra de Almeida Contexto histórico da obra de Marx © 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2018 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Sumário Unidade 1 | Contexto histórico da obra de Marx Seção 1.1 - Socialistas e liberais pré-Marx Seção 1.2 - Ideologia e Metodologia Marxista Seção 1.3 - Difusão do Marxismo 8 10 30 44 Palavras do autor A atividade econômica, em qualquer de suas etapas, não ocorreria sem a participação das pessoas, seja por seus esforços individuais ou em grupos. As sociedades têm se organizado de diferentes maneiras ao longo do tempo e, para diferentes formas de organização, a história nos tem mostrado diversos pensamentos, e pontos de vista. Estes, por sua vez, influenciaram, diferentemente, a atividade econômica. Justifica-se, assim, a importância de se compreender as relações do processo produção-distribuição- consumo com as diversas formas de organização social. A busca de tal compreensão é o grande objeto de estudo da Economia Política e recebe merecido destaque em cursos de Economia, Relações Internacionais, Serviço Social e Sociologia, para citar alguns exemplos. Esta disciplina busca ir além da finalidade que se evidencia. Sua leitura poderá, desde que você assim o deseje, propiciar diversas oportunidades de conhecer diferentes pontos de vista dos pensadores acerca de trabalho, de valorização do capital e de sua acumulação. Dentre essas diferentes visões, a de Karl Marx merecerá maior aprofundamento, haja vista o impacto singular de seus estudos sociológicos e econômicos, a despeito do passar dos dias. Em seu conjunto, o pensamento marxista, bem como o de seus apoiadores e discordantes, permitirá a você compreender muito do que é visto diariamente nos noticiários, a partir do movimento de suas discordâncias e concordâncias, que deverão resultar em reflexões sobre ideologias. Você é convidado especial para protagonizar esse maravilhoso processo de crescimento. O presente texto foi organizado em quatro unidades de ensino. Com a primeira, você conhecerá o contexto histórico que abrigou a obra de Marx, compreendendo algumas das ideias do pensador alemão e alguns dos caminhos e personagens que as levaram para muito longe de suas mãos, mas ainda muito perto de sua influência. A segunda unidade virá apresentar percepções de trabalho e valorização do capital, como conceitos que se constituiriam em duas das colunas do pensamento marxista. O processo de acumulação do capital e a Lei Geral da Acumulação Capitalista serão, nessa mesma ordem, os temas das duas últimas unidades de ensino. Agora, você já sabe como foi organizado o nosso material e pode dele desfrutar. Isso mesmo, desfrutar! Como já dito, será sua a responsabilidade de ampliar os efeitos do texto sobre você ou aceitar, tão somente, o que as letras permitem entender diretamente, sem maiores análises e reflexões. Parece pouco, não? Fica, aqui, a expectativa de que você aprecie o conteúdo ora oferecido. Leia, mas não se restrinja a isso! Pense, analise, releia, pesquise e, certamente, deitará olhos diferentes sobre a Economia Política e sobre muitos acontecimentos que nos cercam. Bons estudos! U1 - Contexto histórico da obra de Marx 7 Unidade 1 Contexto histórico da obra de Marx Convite ao estudo Nesta primeira unidade, você conhecerá alguns dos pensadores que influenciaram Karl Marx, o que não significa que mereceram seu apoio. A divergência também nos influencia, na medida em que analisamos os argumentos contrários aos nossos, o que é muito positivo para a nossa construção intelectual. Em nossos dias, por exemplo, há diversas discussões sobre liberalismo e presença maior ou menor do Estado. Só para citar uma situação, você acha que as negociações entre empregadores e empregados, diretamente ou representados, mostram divergências inéditas? Não. A grande diferença histórica é a presença da palavra “negociação”, o que não garante sucesso para qualquer das partes. Capitalismo ou Socialismo? É uma outra questão histórica e ainda atual, em algumas partes do mundo, com diferentes intensidades. Todos esses são assuntos deverão ficar mais esclarecidos para você, a partir do estudo desta primeira unidade. Esta unidade oferecerá a você uma visão geral do ambiente intelectual e político que precedeu o trabalho de Marx. Da mesma forma, à medida que avançar em seus estudos, você entenderá o cenário que abrigou o filósofo – cenário, aliás, nem sempre amistoso. Dessa forma, gradativamente e sempre a partir de seu empenho, você conhecerá e poderá entender o conceito marxista de trabalho. Valorização, outra palavra forte para o filósofo prussiano, também merecerá especial atenção. Em Marx, nada se compara, em complexidade e aprofundamento, a seu estudo sobre o capital, esta, sim, uma palavra de brilho solar na obra marxiana. Assim, espera-se que você venha a conhecer os tópicos da economia política clássica que mereceram a crítica de Karl Max e a compreensão de seus argumentos. As três seções desta primeira unidade são intituladas “Socialistas U1 - Contexto histórico da obra de Marx8 e Liberais pré-Marx” (Seção 1.1), “Ideologia e Metodologia Marxista” (Seção 1.2) e, finalmente, “Difusão do Marxismo” (Seção 1.3). Inicialmente, você conhecerá os socialistas chamados de “utópicos” e suas ideias, as bases do pensamento liberal e de diversos teóricos. Também irá entender o processo pelo qual as Revoluções Burguesas provocaram o fim do absolutismo e a consolidação do capitalismo. A Seção 1.2 trará à luz, as colunas essenciais do pensamento de seu patrono. Na Seção 1.3, conheceremos algumas das vias que levaram as ideias de Marx a longas distâncias, geográficas ou temporais, por assim dizer. Para nos ajudar a entender esses conceitos, nesta unidade, conheceremos a professora Sofia. Ainda criança, ela mostrava especial interesse em leituras, para seu entretenimento, instrução ou preparação para um período de sono. Adolescente, não se afastou das letras, mostrando progressivo e particular interesse nos temas História e ficção científica. Encantava-a conhecer os caminhos trilhados pelos indivíduos e seus respectivos grupos, a cada época; as diversas crenças, novas proposições, consequentes discussões e ações a fascinavam. Lazer especialmente prazeroso proporcionavam-lhe os textos científicos ficcionais. Graduou-se em História e aprofundou estudos em História do Pensamento Econômico, muito relacionada à Sociologia, Filosofia e Política, além da evidente proximidade com História e Economia. Em tempos atuais, por força de seu trabalho e estudos, a professora Sofia convive com historiadores, sociólogos, cientistas políticos e economistas. Em vários momentos de descontração, declarou a amigos seu tema preferido, no âmbito da ficção científica: as viagens no tempo, pois presenciar fatos históricos que estudou é o pensamento que, não raramente, a conduz do mundo real ao imaginário. Ela não é capaz de lembrar a quantidade de vezes que, em seus sonhos, testemunhou e até participou, desempenhando diferentes papéis, de fatos históricos, muito distantes de nosso tempo. O modelo da “sociedade ideal”, tal como concebida lá no século XIX, teria espaçoem nossos dias? Você está pronto para acompanhar as incursões de Sofia pela história? Então, mãos à obra! U1 - Contexto histórico da obra de Marx 9 Seção 1.1 Socialistas e liberais pré-Marx Olá, aluno! Tudo bem? Pronto para começar nossa disciplina de Economia Política? Então, vamos lá! Scar (2016) diz que “o que define um conceito é justamente isso: sua adaptação. Conceitos são aquilo que a mentalidade das pessoas, dentro de seu tempo, pode compreender de uma ideia. Socialismo é um conceito que se modificou com o tempo. Liberalismo também.” Podem-se destacar dois aspectos acerca do trecho: a atualidade do tema e a lembrança de que os conceitos são modificáveis com o tempo. Quanto ao primeiro destaque, tem-se uma evidência de que temas desta primeira seção são discutidos há muitos anos. O segundo, por sua vez, pode ser uma justificativa do que se depreende do primeiro, pois como os conceitos mudam com o tempo, a discussão sobre seus objetos não cessa. Essa relação entre tempo e conceitos será marcante neste material. Pensando assim, não fica difícil entender o gosto que tem a professora Sofia em estudar suas ciências preferidas, atenta aos efeitos do tempo sobre o conhecimento. Certa tarde, ela se preparava para assistir a um evento que reuniria 11 palestrantes célebres, predominantemente de economistas e políticos. Nos dois dias de evento, presentes e espectadores on-line totalizariam 37.700 pessoas, um recorde, em 30 anos, segundo os organizadores! Primeiro a falar, o prefeito de São Paulo usou seus 30 minutos para apresentar, entre outras ideias, suas propostas de privatização e melhoria do ambiente de negócios. Um economista e ex-presidente do Banco Central, que estava presente, declarou que “o cidadão quer liberdade para empreender, ganhar a vida e não ser achacado pelo Estado”. Outro notável presente, ex-ministro da Fazenda, opinou que “para a esquerda, faltou o entendimento de que o sistema de mercado é uma descoberta humana com imensos defeitos, mas o Diálogo aberto U1 - Contexto histórico da obra de Marx10 único que pode conciliar a liberdade com a igualdade”. Cada um dos pontos de vista foi apresentado por seus autores, no exercício da liberdade de expressão. A cada minuto, uma ansiosa prof.ª Sofia fazia anotações, ávida por muitas outras. Em balões desenhados rapidamente e com poucos cuidados, Sofia anotou os nomes de John Locke e Adam Smith, sem estabelecer qualquer relação entre esses últimos e as demais inscrições. Ao lado de Sofia, estava sentado um curioso jovem, que, após muitos rodeios, pede-lhe o favor de explicar a presença dos dois nomes inscritos nos balões. Feliz com a oportunidade de compartilhar informações sobre um tema tão apreciado, ela o atende prontamente. Que explicação Sofia teria oferecido a seu interlocutor? Ao longo desta seção, encontraremos as respostas para esse questionamento. Pronto para esse desafio? Não pode faltar O caráter coletivo de uma sociedade está na raiz do socialismo e mereceu algumas visões diferentes. Como introdução, é importante que você considere a existência de diferentes tipos de socialismo, como: o Utópico, o Científico ou Marxista, o Estatal, o Cristão, o Anarquismo e o Comunismo. Como forma de ilustração, vamos entender um pouco de cada um deles? O socialismo utópico será apresentado logo à frente. O socialismo científico (ou marxismo) merecerá especial atenção em várias seções (incluindo esta), pois é o principal tema deste material. Algumas informações sobre o pensamento anarquista, ou comunismo libertário — absolutamente contrário à presença do Estado, mas apoiador do marxismo em seu objetivo final —, e o comunismo também serão tratadas nesta seção. Aliás, o comunismo, resultado do que os marxistas chamaram de evolução socialista, também será explicado aqui. Já a expressão “socialismo estatal” designa a variante socialista adotada por Karl Marx, enquanto o socialismo cristão faz a defesa simultânea de ideologias cristãs e socialistas. Este último, em parte, foi impulsionado pela encíclica Rerum Novarum (das coisas novas, em português), que tratou da questão operária e foi assinada pelo Papa Leão XIII, em 1891. U1 - Contexto histórico da obra de Marx 11 Agora que diferenciamos os tipos de socialismo, seria interessante iniciar nosso estudo sobre os socialistas e liberais pré-Marx, não é mesmo? No entanto, antes, precisamos entender o contexto histórico em que viviam esses estudiosos. Vamos compreendê-lo? As Revoluções Burguesas passaram com esse nome à história, porque, com o vitorioso objetivo de extinguir o poder absoluto dos monarcas, promoveram os burgueses, antes apenas detentores de poder econômico, a detentores do poder político. As Revoluções Burguesas foram compostas: (a) da Revolução Inglesa (século XVII), que foi integrada pelas Revoluções Puritana (1640) e Gloriosa (1688) (ambas compuseram um processo revolucionário, por isso, são consideradas, em seu conjunto, a Revolução Inglesa); (b) da Revolução Americana (séculos XVIII e XIX), que foi um processo revolucionário de colônias inglesas, objetivando sua independência da Inglaterra, resultando na Declaração de Independência dos Estados Unidos; (c) da Revolução Francesa (1789), cujos efeitos ultrapassaram fronteiras e alcançaram diversas nações europeias; e (d) da Revolução Industrial (final do século XVIII e início do século XIX), que descobriu o carvão como fonte de energia e a aplicação do vapor em locomotivas e máquinas industriais, causando grande impacto no parque industrial inglês, com efeitos sociais não menos fortes. Com relação a essas revoluções, vale destacarmos os impactos das duas últimas. A Revolução Francesa, de importância política equiparável ao impacto econômico da Revolução Industrial, assinalou o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. Já a Revolução Industrial aumentou os efeitos do capitalismo sobre a vida dos trabalhadores ingleses, enquanto a deposição do regime absolutista francês (causada pela Revolução Francesa) e a expectativa popular francesa de que suas condições de trabalho viessem a melhorar, a partir das promessas revolucionárias, inspirou as lideranças operárias inglesas em sua organização. Dessa forma, o sentimento popular chegou a níveis de gravidade, não só naqueles dois países, como em muitos outros pontos da Europa. U1 - Contexto histórico da obra de Marx12 Pesquise mais Para mais informações sobre a Revolução Francesa, pesquise mais em: CANAL USP. 1789-1814: a revolução francesa e as guerras napoleônicas (Aula 11, Parte 2). Publicado em 24 de agosto de 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fRk24QOlFnI>. Acesso em: 17 set. 2017. A ascensão burguesa consolidou o capitalismo e, com ele, o distanciamento entre classes sociais e toda a gama de questões consequentes que mobilizam a Sociologia, a Economia, a Política e outras ciências até os dias atuais. Em termos práticos, a acumulação de dinheiro passou a ser um grande objetivo a atingir, a despeito da moralidade dos meios, onde o dinheiro assumiu a posição de ser o grande símbolo de poder, em lugar das coroas e dos castelos em tempos idos. Mas, você deve estar se perguntando: nesse contexto, como aparecem os socialistas e liberais pré-Marx? O primeiro movimento socialista do mundo contemporâneo nasceu na França, no início do século XIX, a partir das ideias de pessoas interessadas nas questões sociais e muito insatisfeitas com as péssimas condições a que a maioria da população era exposta, a exemplo de Saint-Simon, Charles Fourier e outros que você logo conhecerá. A classe operária vivenciava piores condições a cada dia. A liberdade prometida pelo lema da Revolução Francesa (“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”) e que se referia à garantia de direitoshumanos considerados inquestionáveis, concretizara-se, tão somente, na forma de estímulo ao livre mercado, ao liberalismo econômico, favorecendo apenas os que já detinham poder consequente de sua riqueza. O povo vivia em miséria profunda, fruto de condições hostis de trabalho, a exemplo das jornadas de 14 a 18 horas diárias e do abusivo trabalho infantil e feminino, atingindo, neste último caso, a brutalidade física. Aos trabalhadores faltavam moradia, mínima atenção à saúde, alimento, dignidade. Enquanto isso, na outra extremidade da sociedade francesa, os nobres desfrutavam de suas vidas de luxo e ociosidade e custeadas por impostos. Alguns privilegiados não pertencentes à nobreza, mantinham seus negócios valendo-se de mão de obra miserável e, assim, aumentavam suas fortunas. A cada dia, crescia o abismo que separava a sociedade em ricos e miseráveis. U1 - Contexto histórico da obra de Marx 13 Pense no que você conhece a respeito de condições de trabalho difíceis, reivindicações de melhoria que a imprensa noticia e coisas assim. Você pode imaginar, agora, as condições de vida de uma família trabalhadora francesa na época descrita? Naquele cenário social terrível, alguns intelectuais supracitados imaginaram um processo transformador das atitudes daqueles que estavam à frente do terror social que se apresentava. Eles acreditavam que os detentores de poderes econômico e político poderiam ser sensibilizados, mesmo que a longo prazo, quanto à necessidade de propiciar melhores condições de vida aos desvalidos, isto é, aos trabalhadores. De fato, eles atribuíam à razão, o potencial de superar influências externas. Seus críticos comentavam, frequentemente, de forma irônica, sua crença na bondade humana, na capacidade dos dominantes de refletir e se arrepender do indigno tratamento aos dominados. Assim, a sociedade ideal em que acreditavam seria atingível, sendo apenas uma questão de tempo, diante de estímulos à reflexão. Essas pessoas eram consideradas pelos discordantes como sonhadoras e românticas, até porque apresentavam sua proposta de “sociedade ideal”, mas não traziam essa pauta ao debate para uma implementação efetiva. Ou seja, elas simplesmente mostravam sua crença, sem sugestão para comprová-la, defendendo que a revolução, que reequilibraria a sociedade, seria pacífica, a partir da espontânea garantia a direitos humanos considerados básicos. Neste ponto, pode-se fazer uma ligação com o pensamento liberal do filósofo britânico John Locke (1632-1704), defensor da liberdade individual, essência do liberalismo político. Com base no livro Utopia, escrito em 1516, por Thomas Morus (ou Thomas More), aqueles intelectuais, crentes no poder superior da razão, passaram a ser chamados de utópicos (mais precisamente de socialistas utópicos). Relevante entender que Morus descreveu um reino constituído, unicamente, pela ilha homônima do livro, em que não havia concentração de riqueza e perseguição religiosa. Todos comporiam a força de trabalho, o que reduziria a jornada de cada morador, e onde a individualidade dos bens seria vencida pelo caráter coletivo desses mesmos bens. Você consegue imaginar uma sociedade que trabalharia dessa forma? Você conhecerá, já nas próximas linhas, três dos expoentes do U1 - Contexto histórico da obra de Marx14 Socialismo Utópico: Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen. A propósito, não deixe de estar situado no tempo. Tão importante quanto conhecer ideias é considerar as épocas em que foram defendidas, pois isso fará a diferença. O francês Claude-Henri de Rouvroy, ou Conde de Saint-Simon (1760-1825), um dos socialistas utópicos pioneiros, idealizou uma sociedade integrada por “produtores” e ”ociosos”, em que os primeiros comporiam a maioria. Nela, a existência das empresas capitalistas não seria problema, desde que exercessem sua responsabilidade social, junto aos trabalhadores. Outro francês, François Marie Charles Fourier (1772-1837), frequentemente citado como Charles Fourier, foi entusiasta do associativismo e cooperativismo. Ele idealizou os falanstérios, que seriam comunidades destinadas à produção, compostas por pouco menos de 2.000 trabalhadores, organizadas de forma descentralizada e onde cada pessoa trabalharia com aquilo para o qual tivesse vocação. Essas comunidades jamais saíram do papel, pois não conseguiram mobilizar investidores para a sua implementação. Havia também Robert Owen (1771-1858), natural do País de Gales que, por ter sido um dos mais ativos socialistas utópicos, merece algumas palavras a mais. Sua experiência de administrador permitiu-lhe conhecer, detalhadamente, as impiedosas condições vividas pelos trabalhadores. Baseado nessa experiência, ele criou cooperativas, onde, por definição, o individualismo e a visão social capitalista de sociedade não teriam espaço. Inovador, ele estabeleceu uma jornada de trabalho de dez horas e ofereceu escolarização a seus funcionários de uma indústria escocesa de algodão, sendo vitorioso em suas iniciativas. Mas, o que você pensa que esse sucesso provocou em seus pares nos negócios e em seus adversários no campo das ideias? Se você pensou em algo na direção dos problemas, acertou! Owen sofreu duras manifestações contrárias às suas atitudes, o que foi forte inspiração de sua ida para os Estados Unidos, onde criou a New Harmony, uma outra cooperativa. No retorno à sua pátria, ele deparou-se com a total falência de suas organizações. Ele não venceu nos negócios, por assim dizer, mas plantou ideias cooperativistas que floresceriam tempos depois, ou seja, ele deixou uma semente que germinaria anos à frente. U1 - Contexto histórico da obra de Marx 15 Neste ponto, você pode estar pensando que leu as últimas informações sobre Robert Owen. Está? Não, ainda temos mais. Com seu insucesso empresarial, ele apenas redirecionou seus esforços para a criação de organizações que foram consideradas distantes antepassadas dos sindicatos: as trade-unions, que representavam os interesses dos trabalhadores, usando a greve como sua principal ação. Dentro do socialismo utópico, temos também Pierre Joseph Proudhon (1809-1865). Ele foi um filósofo francês, tido como um dos nomes mais exponenciais do anarquismo, tendo sido pioneiro em se declarar anarquista, o que foi uma atitude corajosa, pois o termo era pejorativo no âmbito revolucionário. Esse adjetivo ele não aceitou. Seu livro, O que é a propriedade? Pesquisa sobre o princípio do direito e do governo (Qu’est-ce que la propriété? Recherche sur le principe du droit et du gouvernement - 1840), atraiu a atenção das autoridades e de Karl Marx. Eles chegaram a se encontrar, mas se indispuseram porque Marx respondeu ao seu texto Sistema das contradições econômicas(também conhecido como A filosofia da miséria), com uma provocação em forma de texto: A miséria da filosofia. Pesquise mais Para mais informações interessantes e bem organizadas acerca das bases do Anarquismo, pesquise mais em: CANCIAN, Renato. Anarquismo: origens da ideologia anarquista. Publicado em 22 de maio de 2007. Disponível em: <https://educacao. uol.com.br/disciplinas/sociologia/anarquismo-origens-da-ideologia- anarquista.htm>. Acesso em: 30 ago. 2017. Louis Auguste Blanqui (1805-1881) foi um teórico e revolucionário republicano socialista francês. Defendeu o sufrágio universal, a igualdade dos direitos dos homens e das mulheres e a supressão do trabalho infantil. Foi apelidado de L’enfermé (“O Encarcerado”), por ter passado a metade de sua vida na cadeia. Talvez tenha sido o maior revolucionário francês. Há muitas referências a Blanqui, qualificando-o de “Socialista utópico”. Isso não faz sentido algum, porque ele foi partidário da revolução violenta. Também não cabe considerá-lo marxista porque nunca atribuiu nenhum papel U1 - Contextohistórico da obra de Marx16 histórico diferenciado à classe operária. Como economista crítico do capitalismo, ele se simpatizava com as ideias do subconsumo. Para ele, as mercadorias se vendiam, uniformemente, acima de seu valor, portanto a acumulação capitalista não vinha da exploração da classe operária (a mais-valia extorquida no processo de produção), mas ao “excesso” que os capitalistas cobravam dos consumidores. O lucro do capital, para Blanqui, não se originava na esfera da produção (a fábrica), mas na esfera da circulação (o comércio). Ele chegou à conclusão da necessidade de uma economia desmonetizada (sem moeda), em que os produtores trocariam seus bens pelo valor de seu custo. Seu nome deu origem ao termo “blanquistas”, para se referir a uma minoria de intelectuais que, após obterem a República, iniciariam o processo de organização do socialismo e do comunismo. O sucesso desse grupo faria com que o fim da exploração dos assalariados não viesse por meio da luta de classes. (COGGIOLA, 2011). Blanqui foi um socialista só por meio de sentimentos, por meio de sua simpatia para com o sofriment\o do povo, mas não teve nenhuma teoria socialista, tampouco sugestões práticas e definitivas para soluções sociais. Em sua atividade política, era ativo e energético. Acreditava que uma pequena minoria bem organizada iria tentar um golpe de força política, quando oportuno, e poderia levar a massa do povo com eles, por meio de alguns êxitos, e assim dar início a uma revolução vitoriosa. Seu principal livro, Crítica social (1885), que trazia seus artigos, foi publicado após sua morte (COGGIOLA, 2011). Outro teórico socialista é Mikhail Alexandrovich Bakunin (1814- 1876), filósofo, sociólogo e revolucionário russo do século XIX, que é considerado um dos pais do anarquismo (ao lado de Proudhon e Kropotkin). Bakunin também foi um defensor do ateísmo e do coletivismo, além de ser contrário à politização das organizações. Depois de ter abandonado a carreira militar, ele se dedicou ao estudo da filosofia e passou a frequentar, em Moscou, um grupo de intelectuais e pensadores. Nessa época, tornou-se um admirador dos ideais socialistas, tendo participado do movimento revolucionário de 1848, que atingiu várias cidades europeias, sendo que, por participar do movimento, Bakunin foi condenado e preso (SUA PESQUISA, [s.d.]). U1 - Contexto histórico da obra de Marx 17 Por fim, vamos conhecer Ferdinand Lassalle (1825-1864), um precursor da social-democracia alemã, que foi contemporâneo de Karl Marx, de quem se aproximou durante a Revolução Prussiana de 1848, até romper com ele em 1864. A propósito, a social- democracia é uma corrente de pensamento político segundo a qual o socialismo tende a ganhar espaço, gradativamente, pelo exercício do voto, pelo exercício consciente da política. Seria, portanto, uma vitória do socialismo, sem imposição, e seus adeptos consideravam o princípio de que essa conquista poderia vir no longo prazo. Combativo e ativo propagandista da democracia, Lassalle proferiu, em 16 de abril de 1862, em uma associação liberal-progressista de Berlim, a conferência que serviu de base para um livro importante para o estudo do direito constitucional, traduzido para o português com o título A essência da constituição. Ele cunhou o conhecido conceito sociológico de Constituição ao estabelecer que tal documento deve descrever, rigorosamente, a realidade política do país, sob pena de não ter efetividade, tornando-se mera folha de papel. Esse conceito nega que a Constituição possa mudar a realidade. A tese de Lassale foi contraposta por Konrad Hesse, que trouxe o conceito concretista da Constituição, por considerar que ela não é um simples livro descritivo da realidade. A esse Socialismo Utópico contrapunha-se o Socialismo Científico, ou o próprio Marxismo, iniciado por Karl Marx (1818- 1883) e Friedrich Engels (1820-1895), em 1848, com a publicação de O manifesto comunista, mas essa conversa é para depois. Por enquanto, vamos tratar do liberalismo, suas bases e seus pontos criticados pelos socialistas. Vamos falar agora sobre liberalismo político e liberalismo econômico? O trabalho do britânico John Locke (1632-1704), um dedicado defensor da liberdade individual, nos leva às raízes do liberalismo (nesse caso, o liberalismo político). Para ele, o direito à propriedade era um princípio elementar, porque os bens de cada um seriam resultado do próprio trabalho, portanto, deveriam pertencer a quem se empenhou para obtê-lo. Esse princípio tem origem religiosa, pois o homem e o mundo pertencem a Deus, segundo os que assim creem, porque são frutos de trabalho divino. Locke não admitia interferências nas leis naturais e esse era um ponto U1 - Contexto histórico da obra de Marx18 norteador em sua intelectualidade. O direito à vida era, portanto, uma forte bandeira de Locke e o poder divino dos reis era uma ideia inaceitável para ele e merecedora de grande atenção, o que fica claramente mostrado em seu livro Dois tratados sobre o governo (1689). Mas, você percebeu que, em se tratando de John Locke, nada foi dito sobre liberalismo econômico. Por que isso acontece? Porque a atenção desse filósofo inglês esteve direcionada para o liberalismo político, o que lhe valeu o título de Pai do Liberalismo Político. Entretanto, é necessário considerar que o Liberalismo Econômico está contido no Liberalismo Político, o que demonstra o maior alcance da visão de John Locke. A defesa dos ideais liberais desempenharia papel relevante no combate ao Ancien Régime (Antigo Regime dos franceses). Na Europa, do século XV ao XVIII, vigoravam a economia mercantilista e o poder absolutista dos reis, o que compunha o mercantilismo monárquico ou mercantilismo absolutista, característico do Antigo Regime. Neste, as nações europeias buscavam o poder econômico acumulando capitais por meio do comércio de metais preciosos, produtos agrícolas ou industriais, dependendo do país, sendo que o poder político estava nas mãos dos monarcas que legislavam, julgavam e gerenciavam seus países, muitas vezes controlando, também, o clero. Contra essas práticas, levantou-se a ideia de que o Estado não deveria intervir na atividade econômica (liberalismo econômico). Essa liberdade econômica era tratada por duas Escolas: a Fisiocrata e a Liberal. A primeira, muito bem representada pelo francês François Quesnay (1694-1774), entendia que a terra era a principal fonte de riqueza, não a indústria de transformação. Quesnay é autor de um livro referencial intitulado Tableau économique (1758) e da frase “Laissez faire, laissez passer, lê monde va de lui même” (“Deixai fazer, deixai ir/passar, o mundo se move por ele mesmo”, em tradução livre), que adquiriu status de lema fisiocrata. Já o segundo grupo de pensadores favoráveis à economia livre da interferência estatal, o Liberal, considerava que o trabalho é a principal fonte de riqueza e seus integrantes eram favoráveis U1 - Contexto histórico da obra de Marx 19 à concorrência, ao livre comércio. Neste segundo grupo estava o economista escocês Adam Smith (1723-1790), o grande nome do Liberalismo Econômico, que, por sua vez, constitui a base teórica do capitalismo. Para Smith, autor de A riqueza das nações (1776), e seus colegas liberais, cada cidadão utilizava sua propriedade a seu gosto; cada empresário gerenciava seu negócio conforme suas preferências e, havendo algum desequilíbrio, o mercado acionaria um mecanismo de autorregularização que traria o equilíbrio de volta, pela ação de uma “mão invisível do mercado”. Assimile Enquanto o Liberalismo Político refere-se às liberdades individuais e aos direitos naturais, a exemplo do direito à propriedade e do direito à vida, o Liberalismo Econômico está relacionado à liberdade dos mercados, apartir da menor participação do Estado na economia, devendo predominar a livre concorrência entre os agentes privados. Essa visão liberal foi a predominante entre os gestores de grande parte dos países do mundo até que um evento econômico trágico levou ao descrédito de boa parte do contingente de liberais: a quebra da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929. Você já ouviu falar na “Crise de 29”? Ou na “Grande Depressão dos Anos 1930”? As informações são impressionantes! Pelo valor para os estudos, valerá a pena conferir. Pesquise mais Para mais informações sobre a Crise de 1929, pesquise mais em: GURGEL, Rodrigo. Crise de 1929: do crash da Bolsa de Valores ao New Deal. Publicado em 28/10/2008. Disponível em: <https://educacao.uol. com.br/disciplinas/historia/crise-de-1929-do-crash-da-bolsa-de-valores- ao-new-deal.htm>. Acesso em: 25 set. 2017. Você lembra de que os Socialistas Utópicos se opunham ao liberalismo, consequente da Revolução Francesa? Então, para melhor entender as diferenças entre defensores e opositores do liberalismo, leia atentamente o que será mostrado a seguir, acerca de alguns atores liberalistas que se notabilizaram. Serão apresentadas as ideias básicas defendidas por Edmund Burke, Benjamin Constant, Alexis de Tocqueville, John Stuart Mill, Thomas Robert Malthus, Henry Thoreau U1 - Contexto histórico da obra de Marx20 e Herbert Spencer. Vamos a elas? Edmund Burke (irlandês; 1729-1797) defendeu a limitação do poder monárquico, e, em atuação no parlamento, inovou os conceitos de partido e de parlamentar; que passariam a representar os interesses da comunidade e não os próprios. Henri-Benjamin Constant de Rebecque (franco-suíço; 1767-1830), em atividade parlamentar na França, destacou-se por seu discurso liberal. A defesa da imprensa livre recebeu sua especial atenção, tendo deixado muitos trabalhos escritos, entre romances e textos políticos. No campo político, escreveu e organizou diversos textos acerca de governo representativo e a constituição da França, sendo que esse trabalho, por sua qualidade e abrangência, foi comparado a um curso de política constitucional e produziu efeitos na redação de nossa 1ª Constituição, a Constituição Política do Império do Brasil, de 1824. Outro renomado liberal foi Alexis Charles Henri Clérel, ou Viscount de Tocqueville (francês; 1805-1859), que foi deputado na França, em 1848, ano turbulento naquele país, tendo sido um forte opositor dos movimentos socialistas, que muito movimentaram as ruas parisienses naquele ano. Lembranças de 1848 foi o livro que ele escreveu, apresentando sua experiência naquela etapa da vida europeia. Escreveu, ainda mais, sobre revolução, individualismo, liberdade e democracia, tudo relevante para a compreensão das instituições políticas que sucederam à Independência dos Estados Unidos (1776) e à Revolução Francesa (1789). John Stuart Mill (inglês; 1806-1873) foi um personagem tão complexo quanto valioso, apaixonante para muitos interessados em Filosofia, Política, Lógica, Direito, Economia, Sociologia e Psicologia. Seu pai concordava com John Locke, quanto à mente humana ser uma “folha de papel em branco”, e essa ideia fez com que a educação de Mill fosse totalmente voltada para os estudos, mantendo-o afastado das demais crianças e com outras características que poderiam ser consideradas obsessivas por alguns. A ligação ideológica de seu pai com Locke chegou a ele com duas consequências. A primeira, uma grande preocupação com garantias e exercício de direitos naturais, como era o caso de seu inconformismo com a submissão feminina nas relações matrimoniais, negativa de acesso aos direitos financeiros e da propriedade para as mulheres; e a segunda era sua identificação U1 - Contexto histórico da obra de Marx 21 com a pensamento utilitarista, que o levava ao objetivo de oferecer máxima felicidade ao maior número de pessoas possível. Mas, como alcançar isso diante de flagrantes agressões aos direitos individuais que aconteciam à época? No campo do liberalismo econômico, Mill mostrou ainda mais complexidade. Ao mesmo tempo em que combatia a centralização da economia pelo governo, ele não aprovava a concentração de riqueza presente em modelosl iberais. Ao contrário, defendia a inexistência de privilégios e desequilíbrios sociais. Por isso, é recorrente encontrar referências a ele, adjetivando-o de socialista, ou liberal-socialista. Reflita Na linha de raciocínio de Mill, hoje em dia e apesar de ter havido evolução nas condições sociais apresentadas às mulheres, ainda existe disparidade de tratamento em relação aos homens? Exemplificando Na Figura 1.1, vemos um exemplo das diferenças salariais entre homens e mulheres no Brasil, de acordo com pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para os anos de 2011 e 2012: Figura 1.1 | Homem x mulher no mercado de trabalho Fonte: Andrade (2013). U1 - Contexto histórico da obra de Marx22 Thomas Robert Malthus (inglês; 1766-1834) foi sacerdote, economista, professor e escritor de economia política. Aos dezoito anos, já recebera sólida educação liberal. Entre suas obras, Ensaio sobre a população (1798) o celebrizou. Influenciou David Ricardo, emérito liberal, e propôs algumas ideias econômicas que viriam a ser desenvolvidas pelo inglês John Maynard Keynes, opositor do liberalismo. Teve relevante atuação em demografia, pelo que se destaca até nossos dias, a despeito das retificações impostas pelo desenvolvimento do conhecimento a algumas de suas conclusões, tendo enunciado uma teoria catastrófica: a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética, enquanto a população tenderia a aumentar em progressão geométrica, advindo miséria e fome contínuas, até que epidemias e conflitos armados, em atividade providencial, reduziriam, drasticamente, a população. Seu perfil liberal o tornava contrário a qualquer tentativa do Estado de resolver a miséria; seria suficiente negar atendimento médico e acolhimento às populações, além de sugerir a abstinência sexual para diminuir a natalidade. No entanto, progressos tecnológicos na agricultura e a intensificação do comércio internacional mostraram equívocos em algumas expectativas malthusianas. Henry David Thoreau (estadunidense; 1817-1862) é mais um personagem interessantíssimo da teoria liberal. Apesar de ter sido fortemente influente no pensamento liberal dos Estados Unidos, sua pátria, ele se empenhou muito na difusão da ideia de desobediência civil, aliás, por isso notabilizou-se. Ele concluiu que, estando seu país em guerra (e estava mesmo, em embate contra o México, em 1846), se ele (ou qualquer outro cidadão) cumprisse sua obrigação de pagar impostos, o governo utilizaria esse dinheiro no custeio da guerra. Então, ele preferiu não pagar os impostos, ou seja, incorreu em desobediência civil, totalmente justificada, sob o ponto de vista ético, em sua interpretação. Dessa maneira, ele dizia que era possível influenciar uma autoridade, no sentido de modificar uma lei injusta. Esse conceito exerceu influência sobre grandes líderes mundiais, a exemplos de Gandhi e Martin Luther King. O pensamento de Thoreau de que se a lei não era justa, não deveria ser cumprida pelo cidadão foi explicitada no seu livro, escrito em 1849 sob o título Desobediência civil, ainda hoje muito procurado. E você, como vê essa questão? U1 - Contexto histórico da obra de Marx 23 Por fim, Herbert Spencer (inglês; 1820-1903) tinha múltiplas formações profissionais, sendo que ele, entre outros interesses, dedicou-se à Biologia, ao estudo da evolução, em particular e em tempos anteriores a Charles Darwin (1809-1882). Spencer considerava a liberdade “a chave”, pois o mercado sem a presença estatal fazia com que as pessoas fossem estimuladas a tornarem suasvidas melhores, em processo contínuo. Ele criou o "sistema de filosofia sintética", em que organizaria a produção científica e de filosofia de sua época, mas centrada no tema evolução. Ele conseguiu o aparentemente improvável em sua época: a partir de princípios liberais e da biologia, interpretou fenômenos sociais e econômicos e concluiu que existe uma relação íntima e permanente entre os meios biológico e o sociológico. Expressões como “evolucionismo spenceriano” e “darwinismo social” se impuseram. No primeiro caso, da Biologia à Sociologia: a sociedade sob o modelo de funcionamento de um organismo individual; no segundo, com a seleção natural e a evolução, descritas por Darwin, aplicadas à Sociologia, onde os mais fracos tendem a desaparecer. Nesta seção, você conheceu as bases históricas e filosóficas do liberalismo e do socialismo, em tempos anteriores à contribuição de Karl Marx. Na próxima, você estará em contato com a ideologia marxista e com sua metodologia, pensamentos que têm atravessado tempos e fronteiras. Há muito o que aprender à frente, com tópicos muito interessantes. Até breve! Sem medo de errar Olá, aluno! Conseguiu entender os conceitos apresentados na Seção 1.1? Esperamos que sim, pois eles ajudarão a professora Sofia a responder o questionamento feito por um interlocutor. Aliás, você se lembra do caso? A professora Sofia assistia a um evento que reuniu palestrantes célebres. Nos discursos, o prefeito de São Paulo trouxe propostas de privatização e melhoria do ambiente de negócios. Um ex- presidente do Banco Central declarou que “o cidadão quer liberdade para empreender, ganhar a vida e não ser achacado pelo Estado”. Já, um ex-ministro da Fazenda disse “para a esquerda, faltou o U1 - Contexto histórico da obra de Marx24 entendimento de que o sistema de mercado é uma descoberta humana com imensos defeitos, mas o único que pode conciliar a liberdade com a igualdade”. Enquanto eles discursavam, a professora fazia anotações em balões, como “John Locke” e “Adam Smith”. Ao lado de Sofia, um jovem pediu-lhe que explicasse a presença dos dois nomes em suas marcações. Que explicação Sofia teria oferecido a seu interlocutor? Sofia deveria dizer ao seu interlocutor que, naquele evento em que estavam, discutia-se sobre privatizações, isto é, menor presença do Estado na economia, onde o tema “Liberalismo” estava sendo apresentado. Entretanto, pode ser feita uma reflexão sobre os dois alcances da palavra, isto é: o Liberalismo Político e o Liberalismo Econômico. No primeiro caso, o nome referencial é o de John Locke (que aparece nas anotações da professora Sofia), defensor dos direitos naturais, ou seja, o direito à vida, o direito à propriedade e o direito da liberdade individual. Tais conceitos apareceram na cabeça de Sofia quando ela ouviu o ex-presidente do Banco Central dizer que “o cidadão quer liberdade para empreender, ganhar a vida e não ser achacado pelo Estado”, pois tal declaração valoriza a apropriação do indivíduo, como fruto do seu trabalho, ou seja, mostra o exercício do direito à propriedade que é uma das bases do pensamento do liberalismo político. No segundo, a referência é Adam Smith, que, tempos depois de Locke, e por ele inspirado, defendeu a liberdade nos mercados, deixando-os livres, da interferência do Estado. Essa anotação foi feita por Sofia quando ela ouviu os ex-ministro da Fazenda dizer que “para a esquerda, faltou o entendimento de que o sistema de mercado é uma descoberta humana com imensos defeitos, mas o único que pode conciliar a liberdade com a igualdade”, pois essa defesa do “sistema de mercado", feita pelo ex-ministro, expõe sua afinidade com o liberalismo econômico, já que nele, as forças atuantes são aquelas exercidas por fornecedores e compradores, e proporcionais a seus interesses. Dessa forma, chegamos ao fim deste tema. Na Seção 1.2, você iniciará uma aproximação de conceitos e metodologias elaborados por Karl Marx. Certamente serão leituras e atividades interessantes e, principalmente, relevantes. Até a próxima! U1 - Contexto histórico da obra de Marx 25 Avançando na prática Socialdemocracia é Romantismo? Descrição da situação-problema Uma emissora de TV, especializada em temática político- econômica, organiza uma série de debates entre entusiastas de diversas ideologias. Certo dia, havia dois debatedores com notórios saberes em ciência política, e o programa começou com a exibição de uma charge, em que um político socialista diz a seu interlocutor que “a época do romantismo já passou”, e que “sonhar política não resolve, há que se fazer política”. O outro personagem da charge, um social-democrata, retruca “o tempo está a nosso favor”, “temos muito tempo”. O intermediador diz que o argumento “o tempo está a nosso favor”, usado pelo social-democrata, foi significativo; assim como o termo “romantismo”, usado com ironia, não foi menos importante. Diante dessa imagem, um dos debatedores convidados é questionado pelo apresentador: os termos “romantismo” (com uso irônico) e a menção ao fato de o passar do tempo poder ser realizador de uma vontade, se referem a que tipo de discussão histórica? Resolução da situação-problema O cientista político deve dizer ao apresentador do programa de TV que os termos “romântico” e “sonhar política”, que trazem a noção de que o passar do tempo é positivo para atingimento de objetivos, conduzem à época em que os socialistas ditos “utópicos” eram de certa forma ridicularizados por acreditarem na implantação pacífica do socialismo. A social-democracia é um modelo que permite aos simpatizantes do socialismo, imaginar seus representantes chegando ao poder por meio de eleições e, gradativamente, com o passar do tempo, aumentando sua participação nas decisões políticas. U1 - Contexto histórico da obra de Marx26 Faça valer a pena 1. O Movimento dos Sem Terra (MST) divide opiniões. Há os que consideram seus ativistas como meros invasores da propriedade alheia, ou seja, ocupantes das terras improdutivas. Entretanto, uma grande quantidade de pessoas pensa diferente. Para essas pessoas, dado que a ocupação se deu por famílias que empreenderam pequenas plantações de subsistência, não houve transgressão ao direito do proprietário, mas exercício do direito, pelos membros do MST. Assinale a alternativa correta, diante da situação apresentada: a) Charles Fourier aprovaria a atitude do MST, de forma irrestrita, porque a terra é um bem comum. b) Saint-Simon aprovaria a atitude do MST, desde que o(s) lote(s) estivesse(m) sem qualquer pertence do proprietário, porque a terra é um bem comum. c) Henry Thoreau aprovaria a atitude do MST, de forma irrestrita, porque o chamado “invasor” não pode ser impedido de se instalar, mesmo que tenha que aplicar força progressiva. d) Saint-Simon aprovaria a atitude do MST, irrestritamente, porque todos têm direito à terra. e) Sendo a terra improdutiva, Henry Thoreau aprovaria a atitude do MST, desde que ela não utilizasse de força. 2. Nos séculos XVII e XVIII, Europa e Estados Unidos vivenciaram momentos de grande turbulência civil, a partir de movimentos reivindicatórios, alguns extremamente violentos, o que se comprova com os registros históricos de mortos e feridos. Os principais movimentos, segundo aspectos políticos, letalidade e duração são conhecidos por Revoluções Burguesas. Sobre esse assunto apresentado, assinale a única alternativa correta: a) Nos Estados Unidos, 25 colônias britânicas se insurgiram contra a subordinação política à Inglaterra e buscaram sua independência. O movimento não foi vitorioso em seus objetivos. b) A Inglaterra enfrentou dois momentos de instabilidade extrema, em solo próprio, que compuseram a Revolução Inglesa: a Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa, em que as expectativasforam frustradas. c) Na França, o capitalismo foi estimulado por um processo de consolidação, com a extinção do d) A Revolução Industrial que aconteceu na Inglaterra, com efeitos em outros países, foi uma revolução tecnológica, mas, sobretudo, de reação da nobreza contra os operários insurgentes. e) A Revolução Francesa mereceu longo período de preparação, sendo U1 - Contexto histórico da obra de Marx 27 extremamente violenta, mas, infelizmente, teve seus resultados limitados ao território nacional. 3. O pensamento político e o pensamento econômico sempre estiveram ligados. As tentativas de explicar ou “controlar” processos econômicos estão na gênese de sistemas políticos. Sobre esse assunto, considere as afirmações I a IV, a seguir: I – Os mercados têm a capacidade de se ajustarem, independentemente da presença regulatória do Estado. O Estado não deveria intervir na atividade econômica. II – Os meios de produção em mãos privilegiadas economicamente, certamente, serão empregados de forma a aumentar de forma indefinida esse privilégio; melhor que assim não seja. O Estado é o melhor distribuidor de riqueza. III – Uma sociedade com ausência de autoridade, com inexistência de propriedade privada e o cooperativismo como princípio gestor de riquezas. IV – Não é legítima qualquer ação hostil à propriedade conquistada pelo trabalho individual, pois a propriedade é um direito natural. Se “a” equivale a socialismo, “b” equivale a anarquismo, “c” equivale a liberalismo político e “d” equivale a liberalismo econômico, a sequência correta de associação desses termos com as afirmações apresentadas é: a) I c; II a; III b; IV d. b) I d; II a; III b; IV c. c) I d; II a; III c; IV b. d) I c; II b; III a; IV d. e) I b; II c; III d; IV a. U1 - Contexto histórico da obra de Marx28 U1 - Contexto histórico da obra de Marx 29 Seção 1.2 Ideologia e Metodologia Marxista Nesta seção, você conhecerá alguns dos mais importantes pontos do pensamento marxista. Essa importância diferenciada se justifica pelo fato de que, desconhecendo as ideias que lhe serão apresentadas, não seria possível prosseguir com os estudos propostos neste material. Estamos certo de que você já recebeu muitas notícias sobre greves de diversas categorias profissionais. Também tem sido observada, nos últimos anos, uma intensa mobilização popular na direção de uma ou outra preferência partidária ou, ainda, de uma atitude do Poder Judiciário, dos outros dois Poderes da República, ou, especificamente, de alguns de seus representantes. A imprensa divulga e discute, com alguma frequência, as reclamações de um determinado sindicato acerca de direitos reconhecidos, mas não respeitados ou, pior, sequer reconhecidos pelos empregadores. E dos debates entre candidatos a cargos eletivos na política, você lembra? Dois ou mais candidatos questionam-se mutuamente para que os eleitores, baseados nas ideias apresentadas e eventualmente combatidas, possam elaborar conclusões e definir seus respectivos votos. Essas interações sociais não são novas. E quanto ao ânimo ou desânimo para desempenhar as atividades profissionais, você já conversou com alguém? Teria essa pessoa dito a você que não gosta do que faz e que a única razão de insistir é a necessidade de obter meios para honrar compromissos financeiros? É outro tema comum em nossos dias, não é mesmo? Nesta seção, você terá a oportunidade de compreender essas ações citadas e muitas outras. Pronto? Então, vamos lá! A professora Sofia convive com historiadores, sociólogos, cientistas políticos e economistas. Ela adora História, tanto que se graduou na área, e aprofundou estudos em História do Pensamento Econômico. Os aspectos econômicos que têm composto cenários à volta das sociedades, historicamente, se constituem em pontos de Diálogo aberto U1 - Contexto histórico da obra de Marx30 grande interesse para Sofia. Dessa vez, ela dirigia sua atenção à obra de Karl Marx. O que, afinal, estaria ela estudando? Em suas mãos estão estudos empreendidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, notadamente a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, em sua edição de 2015. O extenso Relatório reúne diversas categorias de documentos de menor volume, organizados segundo seus objetos de pesquisa. Recentemente, Sofia desejou conhecer os resultados referentes à categoria “Acesso à Internet e à Televisão e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal 2015”. No documento lido, o IBGE divulga comentários analíticos sobre os principais resultados do levantamento feito em 2015, fornecendo informações sobre os diferentes tipos de aparelhos eletrônicos utilizados para acesso à Internet (microcomputador, telefone móvel celular, tablet e outros), os domicílios com tablets, assim como aqueles nos quais os moradores realizaram o acesso via banda larga, tanto com tecnologias fixas (DSL, cabo de televisão por assinatura, cabo de fibra óptica, satélite e rádio) quanto móveis (3G e 4G), bem como aqueles com televisão de tela fina, serviço de televisão por assinatura, televisão com recepção de sinal digital de televisão aberta e antena parabólica (ACESSO, 2015). Essas informações, além de insumos para as políticas públicas referentes ao desenvolvimento tecnológico de nosso país, são úteis para a elaboração dos diversos perfis sociais dos brasileiros, ficando claro, nesse caso, a relevância estatística das diferentes possibilidades de acesso a bens e serviços. A partir de dados como esses que Sofia está estudando, você pode obter informações, como a porcentagem de brasileiros enquadrados na classe A, na classe B etc. Que aspecto do pensamento marxista estaria sob a atenção de Sofia? Que importância teriam, para ela, dados referentes a 2015, passado tanto tempo, portanto, da época em que o próprio Marx defendeu seus pontos de vista? Bons estudos! U1 - Contexto histórico da obra de Marx 31 Não pode faltar Em seus estudos sobre as ideias de Karl Marx e dos impactos que têm provocado ao longo dos anos, você verá muitas referências à palavra práxis. Aliás, desde já, é necessário considerar que essa palavra nos traz um conceito-chave da obra de Marx. Conceito de tamanha importância que nos obriga a conhecer mais os significados dela, que resiste a milhares de anos e chega aos nossos dias. Vamos a eles? Embora a tenha notabilizado na era contemporânea, o filósofo e economista alemão não inaugurou a aplicação ostensiva e intensiva da palavra, pequena em extensão, mas gigante em significado. O filósofo grego Aristóteles (384 a.C - 322 a.C.) já dedicara especial atenção à praxis, que, em seu idioma, significava prática, atividade. Para Aristóteles, a felicidade (Eudaimonia) era o bem supremo, o fim último do homem. Diferentemente de seu mestre Platão (427 a.C. - 347 a.C.), que acreditava vir o conhecimento humano de uma outra dimensão, o mundo das ideias, Aristóteles defendia que o conhecimento está aqui mesmo, em nosso mundo, e esperando por nós. Pela experiência, pela prática, isto é, pela praxis, o homem acumula conhecimento e prudência (Frónesis). Dessa maneira, mais prudente a cada dia, o homem teria experiências progressivamente melhores e adquiriria mais prudência e, assim, por diante. Uma frase atribuída a Aristóteles resume bem essa ideia: “O homem é pura práxis!” Neste ponto do texto, você já será capaz de associar a práxis aristotélica à atividade (ao movimento), entendendo que homem e o movimento são indissociáveis. Avançando muito no tempo e chegando ao século XIX, encontraremos um jovem alemão, inconformado com a ação maldosa do capital sobre o bem-estar dos trabalhadores. Mais à frente, veremos que Marx, inspirado por Aristóteles, via na práxis (atividade prática do homem que o permite transformar a naturezae a sociedade, gerando, por conseguinte, a sua própria transformação) a solução para o grande problema que era o avanço do capitalismo. Ou seja, para Marx, a tomada do poder pelos trabalhadores, explorados que eram pelos burgueses, seria a práxis, a ação transformadora, o movimento transformador, a revolução. U1 - Contexto histórico da obra de Marx32 Assimile Práxis Revolucionária é a solução para os problemas gerados pelo capitalismo. É a ação, o movimento em busca da solução. No pensamento de Marx, o proletariado assumindo o poder, pela revolução. Poder é palavra forte na obra marxista. Em alguns momentos, você perceberá o interesse pelo poder; em outros, o que verá serão críticas a ele. Marx notou que os grupos sociais dominantes acabavam por enunciar algumas verdades aceitas e até defendidas pelos grupos dominados, mas que não eram verdades em si. Nos dias de hoje, um exemplo disso é o mito brasileiro de que manga e leite, se ingeridos simultaneamente, provocam mal-estar. Essa crença foi desenvolvida pelos senhores de engenho e outros abastados do Brasil-Colônia, com o objetivo de evitar que escravos consumissem leite, muito caro à época. Temerosos, os empregados consumiam somente mangas, fartamente disponíveis. Esse mito chegou a tempos recentes, quando os profissionais nutricionistas nos ensinaram o total descabimento da referida crença. Sob o ponto de vista de Marx, essas falsas verdades, capazes de criar consciências igualmente falsas, eram deliberadamente utilizadas como meio de dominação e constituíam a ideologia – mais um ponto da teoria marxista ao qual você deve especial atenção. E você sabe o que é ideologia? A palavra “ideologia” é utilizada, normalmente, como sendo um conjunto de ideias, um ideário. Em Marx, entretanto, o conceito é bem diferente! A ideologia marxista (materialismo dialético) é um conjunto de proposições e ideias elaborado pela sociedade burguesa, com a finalidade de fazer aparentar os interesses da classe dominante com o interesse coletivo, construindo uma hegemonia daquela classe. Isso permitia a manutenção da ordem social, com menor uso de força. Ou seja, a ideologia, na visão marxista, acabava por mascarar a realidade, por meio de um conjunto de ideias disseminadas pelos burgueses, para que eles se mantivessem como classe hegemônica. Para Marx, a afirmação de que “com esforço, todos serão ricos”, se fosse pronunciada em ambiente capitalista, era mentirosa, porque a desigualdade é considerada um pressuposto do capitalismo. Pela religião, registra Marx, também era possível colocar a ideologia a U1 - Contexto histórico da obra de Marx 33 serviço da classe dominante; com esse pensamento, na introdução de seu livro Crítica da filosofia do direito de Hegel (1843), ele escreveu “a religião é o ópio do povo” (tendo os operários ingleses sob análise, Marx soube que alguns consumiam uma substância alucinógena produzida, a partir do ópio, um vegetal oriental, para superar dificuldades impostas por rigorosas condições de trabalho). Portanto, a apresentação de ideologia, na visão marxista, permitia, por exemplo, questionar a ideia de que “a liberdade era para todos”. Para todos? Marx acreditava que não, afinal, com mais dinheiro, a independência era maior, ao contrário do que aconteceria àquele com menos dinheiro, mais dependentes, portanto. Não menos interessantes, as palavras de Marx sobre ordem e rebelião, dentro do estudo de ideologia, questionavam, exatamente, os seus significados. Que ordem seria praticada, na Alemanha do século XIX? Fome e desigualdade constituíam ordem? E quanto à rebelião? Seria ela sempre ruim? Como ser ruim, com objetivo nobre, como o de restituir direitos retirados dos mais pobres, dos dominados? Na ótica marxista, mais dominação significa mais ideologia. Assimile A ideologia marxista (materialismo dialético) é um conjunto de proposições e ideias elaborado pela sociedade burguesa. Esse conjunto tem finalidade de fazer aparentar os interesses da classe dominante com o interesse coletivo, construindo uma hegemonia daquela classe, o que permitia a manutenção da ordem social, com menor uso de força. Ou seja, a ideologia, na visão marxista, acabava por mascarar a realidade, por meio de um conjunto de ideias disseminadas pelos burgueses, para que eles se mantivessem como classe hegemônica. Quando falamos em ideologia, não podemos nos esquecer de Hegel. Ele morreu quando Marx tinha apenas 13 anos, mas sua obra alcançou a construção e a maturidade intelectual do mais jovem. Você não deverá esperar que, por considerar ideias de Hegel, Marx as endosse plenamente, pois, de fato, isso não se verifica. Hegel é apresentado como idealista (daí a conhecida expressão “idealismo hegeliano”), em oposição frontal ao materialismo de Marx. U1 - Contexto histórico da obra de Marx34 Pesquise mais Hegel e Marx têm merecido muitas horas e muitos volumes de atenção. O materialismo histórico de Marx não é difícil de ser compreendido e a literatura é farta. Hegel, por sua vez, é tema mais complexo e, estranhamente, menos privilegiado pelo volume de literatura disponível. Estudar o idealismo hegeliano, portanto, exige atenção diferenciada. Nos textos indicados, você encontrará valioso apoio para prosseguir em seus estudos. RODRIGUES, Lucas de Oliveira. Materialismo histórico. Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/materialismo- historico.htm> Acesso em: 27 set. 2017. LOBO, Saulo Maurício Silva. Racionalismo moderno e fé. Brasil Escola. Disponível em <http://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/ racionalismo-moderno-fe.htm> Acesso em: 27 set. 2017. O primeiro (Hegel) concluiu que a ideia forma o mundo, a matéria, ou seja, tudo o que é feito, desde uma casa até um utensílio, tem origem em ideias. Qualquer ideia (chamada de tese) tem sempre um pensamento contrário (chamado de antítese). Segundo Hegel, após o debate dessas formas de se pensar sobre algo (ou seja, tese versus antítese), o indivíduo seria levado a uma conclusão sobre o assunto (chamada de síntese). Essa conclusão sobre o assunto (síntese), em algum momento, seria a ideia (tese) de uma nova discussão, reiniciando o ciclo de debates no mundo das ideias (isso é o idealismo Hegeliano). Já Marx relaciona mundo e ideias no sentido inverso, ou seja, do mundo, das experiências (da práxis) advirão as conclusões, as novas teorias etc. Esse antagonismo, aliás, não é inédito. Dois mil anos antes, Platão defendia o mundo das ideias como origem de tudo à nossa volta, enquanto Aristóteles, seu discípulo, defendia a atividade, a prática transformadora, a práxis, como a grande responsável pelas realizações humanas. Marx apoiava suas afirmações na história e reconhecia a dialética dos gregos clássicos. Isto é, o debate entre contrários, sem a intenção de vencer e querendo construir a partir da diferença, como a maneira adequada de interpretar e solucionar questões sociais, políticas e econômicas. Assim, a dialética (a arte de debater) marxista identifica a burguesia como tese, o proletariado como antítese e o comunismo U1 - Contexto histórico da obra de Marx 35 como a síntese, pois seria a superação do grande desafio (as lutas de classes) pela reunificação da sociedade, extinguindo-se as classes sociais. Exemplificando Como exemplo de idealismo Hegeliano podemos dizer que, na Idade Média, o sistema de produção era o feudalismo. Os atores eram: os servos, que trabalhavam pela subsistência e o senhor das terras, que eram os beneficiários do trabalho no campo. A dialética, nesse caso, encontra a tese no senhor da terra, a antítese no servo e a síntese na relação entre eles, isto é, o feudalismo. Mas, como usar essa dialética no mundo estudado por Marx? O proprietário dos meios de produção (ou seja,os empresários), pela exploração da mão de obra (ou seja, dos trabalhadores), consegue mover o trabalho, de uma positiva condição de realização (e até de humanização) para outra de mera ação pela sobrevivência, sem prazer, distante da cooperação e, muitas vezes, causadora de sofrimento. Você tem, aqui, o resultado de um processo de alienação, mais um problema do modelo capitalista, segundo Marx, mais uma vez apoiado em letras de Hegel. Como resultado desse processo, o trabalhador não mais se reconhece como produtor do bem, mas como participante de um trabalho fragmentado, muitas vezes limitado diante de sua real capacidade. Assimile Em busca de maiores lucros, as empresas (os proprietários dos meios de produção) foram ampliando a divisão do trabalho, que aumentava a produtividade dos trabalhadores. Com a intensa divisão do trabalho, o trabalhador deixou de dominar todas as etapas de fabricação de uma mercadoria. Dessa forma, seu esforço laboral deixou de ser algo que estimulasse sua criatividade e seu raciocínio, tornando-se algo mecânico. Isso fez com que com o trabalhador deixasse de se reconhecer no processo de produção de um produto. Assim, quando o homem perdeu o controle do seu trabalho, ele entrou em um processo que conduziu a sociedade a uma ordem social alienada, com desigualdade crescente e antagonismo social. U1 - Contexto histórico da obra de Marx36 Muito ligado ao termo alienação, temos outro conceito chave na obra marxiana: o fetichismo da mercadoria. Você sabe o que ele significa? A partir do termo francês fétiche (feitiço, em português), já utilizado por portugueses (grafado fetiche) nos séculos XVI e XVII, ele veio a ser utilizado por Marx em referência ao poder atribuído à mercadoria de ocultar a carga social do trabalho dispendido em sua produção. O encanto pela mercadoria seria capaz de fazer com que seus demandantes (pessoas que queriam comprá- la) ignorassem o custo social imposto pelo processo produtivo implementado. Assim, prejuízos ambientais de toda ordem e danos à saúde dos trabalhadores envolvidos passam a ficar totalmente fora do interesse de uma pessoa que quer uma mercadoria. Hoje em dia, por exemplo, o apelo de ter, de ostentar e, muitas vezes, de colecionar, é capaz de levar multidões a enfrentar intempéries e longas permanências em filas, para obter um telefone celular ou outro bem de marcas famosas, sem qualquer interesse em eventuais danos, de quaisquer naturezas, causados durante a produção do item. Ou seja, o fetichismo da mercadoria se caracteriza pelo fato dos produtos ocultarem, dentro do sistema capitalista, as relações sociais de exploração do trabalho. Exemplificando O trailer do filme The True Cost retrata o conceito de fetichismo da mercadoria, por meio da demonstração das péssimas condições de trabalho oferecidas a trabalhadores da indústria da moda. FASHIONREVOLUTION Brasil. The True Cost Official Trailer (Legendado Português). Disponível em: < https://www.youtube.com/ watch?v=DjncKUmpOZk>. Acesso em: 19 set. 2017. Pesquise mais O vídeo O Fetiche da Mercadoria contém boa representação da ocultação do caráter social do trabalho, descrita por Marx. Agressão ambiental (desmatamento, poluição do ar, de rios, etc.) e tratamento humano reprovável ignorados, em nome da admiração pelo produto resultante do agressivo processo. Para conhecê-lo, pesquise mais em: STÉLLIO VISSARIONOVICH. O fetiche da mercadoria. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=wHcT0l-QcSA&t=132s>. Acesso em: 19 set. 2017. U1 - Contexto histórico da obra de Marx 37 Você percebe como os conceitos negativos vão minando, deteriorando, progressiva e intensamente os sentimentos de Marx em relação ao modelo capitalista? Isso acaba levando Marx a concluir que a alienação seria exterminada com a implantação do comunismo, isto é, em uma sociedade sem classes, não haveria dominantes e dominados. Antes, porém, o capitalismo deveria dar lugar ao socialismo. Aliás, “dar lugar” não é a melhor expressão a ser usada aqui. O mais correto, sob a visão revolucionária de Marx, seria dizer que o capitalismo deveria “perder” seu lugar para o socialismo, pois, no mundo marxista, não havia a possibilidade de que os mais ricos compreendessem os mais pobres, para ajudá-los em suas necessidades. Uma tomada de consciência nesse sentido era considerada uma plena impossibilidade. Dessa forma, a única maneira de que dispunham os trabalhadores para conquistarem as pretendidas melhores condições, seria sua imposição pela força, ou seja, não haveria vitória sem a revolução. Marx se refere à “classe revolucionária” em diversas épocas. Na antiguidade grega, havia os escravos e seus proprietários; para os romanos não foi diferente; no mundo feudal, os donos da terra e os camponeses que nela trabalhavam em troca da sobrevivência; aristocratas e burgueses se enfrentariam pelo poder político; burgueses e trabalhadores – os proletários, para Marx – seriam opositores, já no século XIX; mais dois séculos chegariam e o embate entre opressores e oprimidos permaneceria ativo, como vemos em nossos dias, com nomes atualizados batizando as classes, mas o antagonismo entre classes sociais, entre dominadores e dominados, esteve e está vivo. Marx observou e registrou isso, em seu tempo, pelo que afirmou serem as lutas de classes “o motor da história”, ideia claramente apresentada nas páginas iniciais do Manifesto Comunista, que você conhecerá mais à frente. Já em seu parágrafo inicial, o Manifesto diz que a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Reflita Decorridos quase duzentos anos da criação da frase que relaciona história da humanidade com lutas de classes, quais suas impressões sobre isso? Para você, essa ideia permanece válida ou não? U1 - Contexto histórico da obra de Marx38 Desde 1847, a França e outras nações centrais e orientais da Europa enfrentavam diversos focos de levantes antimonárquicos, alguns com traços socialistas. Muitos destes viriam a se consolidar, a partir de fevereiro de 1848, em uma série de movimentos revolucionários registrados pela história como aPrimavera dos Povos. Naquele mesmo mês/ano, em Londres, Karl Marx, aos 30 anos, e Friedrich Engels, aos 28, viram publicado o seu inédito Manifesto do Partido Comunista, também conhecido como Manifesto Comunista. Elaborado por encomenda da Liga dos Comunistas, ex-Liga dos Proscritos e ex-Liga dos Justos, no contexto de um congresso ocorrido em novembro de 1847, era um livreto de aproximadamente 20 páginas, escrito em alemão. Depois, foi traduzido para outros idiomas, tornando-se um dos mais poderosos e notórios documentos políticos. Qual teria sido a influência do Manifesto nessas ou em algumas dessas revoluções na França e em outras nações centrais e orientais da Europa? A resposta é: nenhuma. Os movimentos já eram iminentes quando o texto foi entregue pelos autores. Os efeitos do documento seriam profundos, mas não naquele momento. O texto do Manifesto Comunista foi organizado em partes (I a IV), precedidas por breve e eficaz Introdução, que, em linguagem simples, — afinal, seus leitores seriam pouco escolarizados —, trazia mensagens fortes e, sobretudo, de alto poder mobilizador. Pesquise mais O Manifesto do Partido Comunista tem importância histórica ímpar, sendo um conhecimento obrigatório para os interessados em política. Extremamente rico, merece leitura atenta, seguida de reflexão sobre seus tópicos. Você perceberá, muito rapidamente, a importância do documento para que você compreenda, ainda melhor, muito do que estudou até aqui. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0103-40141998000300002>. Acessoem: 28 set. 2017. U1 - Contexto histórico da obra de Marx 39 Esse manifesto é leitura obrigatória, independentemente de preferências político-partidárias, para todos os interessados em eventos sociais e políticos, relevantes para a história. Convido você a fazer essa leitura, ao menos por duas vezes, considerando, necessariamente, o perfil do operariado inglês, francês, alemão e de outras vnacionalidades, à época. O propósito de internacionalização do movimento revolucionário fica claro no encerramento do texto, com sentença que, de fato, ganhou o mundo: "Proletários de todos os países, uni-vos!". Sem medo de errar Olá, aluno! Conseguiu entender os conceitos apresentados nesta seção 1.2? Espero que sim, pois eles vão nos ajudar a entender de que forma os estudos de Sofia estão alinhados com o pensamento marxista. Você se lembra do caso? A professora Sofia estava lendo os resultados de uma pesquisa do IBGE, denominada “Acesso à Internet e à Televisão e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal 2015”. Ao longo da leitura, ela lembrou de alguns princípios da teoria de Marx. Que aspecto do pensamento marxista estaria sob a atenção de Sofia? Que importância teriam para ela dados referentes a 2015, passado tanto tempo, portanto, da época em que o próprio Marx defendeu seus pontos de vista? Você já teve oportunidade de responder (ou ver algum familiar seu responder) a questões como: quantos aparelhos de TV há na sua casa?; e quantos aparelhos de telefone celular há no seu endereço residencial? Perguntas como essa, são por entrevistadores a serviço de agências de pesquisa, por sua vez contratadas por empresa interessada em lançar novo produto (muitas vezes um eletrodoméstico para cozinha, um automóvel, um modelo de telefone celular ou de computador pessoal). Estas perguntas têmprincipal: conhecer o potencial de consumo do novo produto, a renda de sua família, sua classe social, etc. Opa, alguém falou em classes sociais? Sim! Ela mostra a sociedade dividida em categorias, segundo as diversas possibilidades de acesso a bens de consumo mais caros ou mais baratos, atividades de lazer mais ou menos sofisticadas, serviços mais essenciais ou mais supérfluos. U1 - Contexto histórico da obra de Marx40 Bem, esta era uma das maiores preocupações de Karl Marx. É pouco provável que você não tenha notado que sua família tem acesso a algumas facilidades inatingíveis para outras famílias; da mesma forma, deve haver alguns bens e serviços por você conhecidos, mas fora de seu alcance, por questões econômicas. Para Marx, esse distanciamento entre pessoas de uma mesma sociedade, a partir de maior ou menor possibilidade de “ter”, tenderia a ser cada vez maior, mais cruel e só poderia ser eliminado a partir de ação revolucionária dos mais pobres. A luta de classes é, sem dúvidas, um pilar do pensamento marxista. Por isso, com os dados tratados pelo IBGE e referentes a 2015, Sofia estaria constatando, mais uma vez, a estratificação da sociedade brasileira em classes sociais (assim como o pensamento de Marx). Será verdadeiro no caso brasileiro, que ao pobre cabe ser cada vez mais pobre, enquanto o rico se torna ainda mais rico? Avançando na prática A poderosa mercadoria Descrição da situação-problema Leopoldo fazia arrumação periódica em seu armário de roupas. Cuidadoso com sua apresentação pessoal, possui roupas, calçados e acessórios de diversas marcas famosas. Manuseando essas peças, por força de sua tarefa, lembrou-se de diversas reportagens sobre condições desumanas, enfrentadas por trabalhadores de algumas empresas de confecções, para a elaboração de peças semelhantes às suas. Você poderia auxiliar Leopoldo a relacionar o episódio da moderna e famosa indústria de vestuário com a base do pensamento de Karl Marx? Quais seriam suas sugestões para fundamentar essa relação? Resolução da situação-problema A mercadoria está na base do capitalismo, segundo o pensamento de Marx. Nessa condição, ou por essa condição, ela tem um enorme potencial de influência sobre o comportamento humano. Na visão U1 - Contexto histórico da obra de Marx 41 marxiana, a mercadoria tem o poder de relegar o caráter social do trabalho a uma posição de menor importância. Para o consumidor do produto, adorador da marca, o que importa é ter os produtos. Leopoldo passou por algum desconforto ao considerar que, independentemente do turbilhão de notícias sobre desumanas condições de trabalho impostas aos colaboradores da empresa cuja marca estava presente em seu armário, ele continuou a adquirir os itens, sem se dar conta disso. O fetichismo da mercadoria, objeto da observação (e reprovação) de Marx fizera mais uma vítima, quase 150 anos após sua descrição pelo filósofo alemão. Faça valer a pena 1. O cantor e compositor Cazuza, falecido em 1990, deixou uma lacuna na música brasileira. Em um de seus sucessos, o refrão traz: “Ideologia, eu quero uma prá [sic] viver! ” O contexto da música é de sofrimento, frustração política e saúde fragilizada. Por isso, o cantor pede um motivo para viver, uma ideologia. Em contexto da obra de Karl Marx, essa situação (a de desejar uma ideologia que estimulasse o viver) seria inconcebível. Considerando fundamentos do pensamento marxista, assinale a única explicação correta: a) Uma nova ideologia devolveria a Cazuza sua vontade de viver, construindo suas próprias verdades, o que, no contexto de Marx, seria perfeito. b) Em contexto marxista, a ideologia seria apoio importante, por implicar maior e real consciência a quem a segue. c) Da mesma forma que Marx, Cazuza via na ideologia somente um conjunto de ideias, um ideário libertador naqueles momentos difíceis. d) Marx via na ideologia um meio de controle de um grupo por outro, a partir de verdades deliberadamente distorcidas. e) Cazuza procurava razão para viver, por isso buscava uma ideologia. Segundo Marx, seria um caminho libertador para o doente e amigos que o acompanhassem na “nova” ideologia. 2. Em sua crítica ao capitalismo, Marx se sensibiliza com a relação opressor- oprimido, mais atento ao oprimido, sempre o mais fraco. O trabalho tem valor extraordinário na vida humana. Ele realiza, ele permite o acesso a conquistas materiais, ele é agregador. Quando esses sentimentos não advêm do trabalho, este passa a ser motivo de sofrimento, para muitos. A única alternativa em que você encontra a caracterização de um problema, decorrente da produção em escala e da ampliação da divisão do trabalho, U1 - Contexto histórico da obra de Marx42 sobre o moral do trabalhador é: a) O trabalhador se realiza menos no trabalho, sem chegar a ser escravizado por ele. b) O trabalhador não reconhece o produto como sendo um resultado de seu trabalho. c) O trabalhador aumenta sua percepção de participação no processo produtivo. d) O homem sente-se incapaz de mudar e passa a ser lento em sua mutação, como percebido por Engels. e) O empregado é levado a desejar o bem que produz, por meio do encantamento pelo produto. 3. O Manifesto Comunista é um marco na história da política. Certamente, conquistou seu lugar glorioso na galeria da história. Redigido em um momento de enorme turbulência social, não chegou a produzir efeitos imediatos, pois regiões da Europa já estavam prestes a explodir em revoluções e guerras civis, como ocorreu. O Manifesto Comunista é um documento que possui como características: a) Ter discurso moderado e presumida rejeição regional. b) Ter discurso incisivo e presumida rejeição regional. c) Ter discurso incisivo e presumida aceitação internacional. d) Ter discurso moderado e presumida rejeição internacional. e) Ter discurso revolucionário e pretendida aceitação, exclusivamente, regional. U1 - Contexto histórico da obra de Marx 43 Seção 1.3 Difusão do Marxismo
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