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Prévia do material em texto

LIVRO
UNIDADE 1
Economia 
Política
Ricardo Cintra de Almeida
Contexto histórico da 
obra de Marx
© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer 
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo 
de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1 | Contexto histórico da obra de Marx
Seção 1.1 - Socialistas e liberais pré-Marx
Seção 1.2 - Ideologia e Metodologia Marxista
Seção 1.3 - Difusão do Marxismo
8
10
30
44
Palavras do autor
 A atividade econômica, em qualquer de suas etapas, não 
ocorreria sem a participação das pessoas, seja por seus esforços 
individuais ou em grupos. As sociedades têm se organizado de 
diferentes maneiras ao longo do tempo e, para diferentes formas de 
organização, a história nos tem mostrado diversos pensamentos, e 
pontos de vista. Estes, por sua vez, influenciaram, diferentemente, 
a atividade econômica. Justifica-se, assim, a importância de se 
compreender as relações do processo produção-distribuição-
consumo com as diversas formas de organização social. A busca 
de tal compreensão é o grande objeto de estudo da Economia 
Política e recebe merecido destaque em cursos de Economia, 
Relações Internacionais, Serviço Social e Sociologia, para citar 
alguns exemplos.
Esta disciplina busca ir além da finalidade que se evidencia. 
Sua leitura poderá, desde que você assim o deseje, propiciar 
diversas oportunidades de conhecer diferentes pontos de vista dos 
pensadores acerca de trabalho, de valorização do capital e de sua 
acumulação. Dentre essas diferentes visões, a de Karl Marx merecerá 
maior aprofundamento, haja vista o impacto singular de seus estudos 
sociológicos e econômicos, a despeito do passar dos dias. Em seu 
conjunto, o pensamento marxista, bem como o de seus apoiadores 
e discordantes, permitirá a você compreender muito do que é 
visto diariamente nos noticiários, a partir do movimento de suas 
discordâncias e concordâncias, que deverão resultar em reflexões 
sobre ideologias. Você é convidado especial para protagonizar esse 
maravilhoso processo de crescimento.
O presente texto foi organizado em quatro unidades de ensino. 
Com a primeira, você conhecerá o contexto histórico que abrigou 
a obra de Marx, compreendendo algumas das ideias do pensador 
alemão e alguns dos caminhos e personagens que as levaram para 
muito longe de suas mãos, mas ainda muito perto de sua influência. 
A segunda unidade virá apresentar percepções de trabalho e 
valorização do capital, como conceitos que se constituiriam 
em duas das colunas do pensamento marxista. O processo de 
acumulação do capital e a Lei Geral da Acumulação Capitalista serão, 
nessa mesma ordem, os temas das duas últimas unidades de ensino.
Agora, você já sabe como foi organizado o nosso material e 
pode dele desfrutar. Isso mesmo, desfrutar! Como já dito, será sua 
a responsabilidade de ampliar os efeitos do texto sobre você ou 
aceitar, tão somente, o que as letras permitem entender diretamente, 
sem maiores análises e reflexões. Parece pouco, não? Fica, aqui, a 
expectativa de que você aprecie o conteúdo ora oferecido. Leia, mas 
não se restrinja a isso! Pense, analise, releia, pesquise e, certamente, 
deitará olhos diferentes sobre a Economia Política e sobre muitos 
acontecimentos que nos cercam.
Bons estudos!
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 7
Unidade 1
Contexto histórico da obra de 
Marx
Convite ao estudo
Nesta primeira unidade, você conhecerá alguns dos pensadores 
que influenciaram Karl Marx, o que não significa que mereceram 
seu apoio. A divergência também nos influencia, na medida em 
que analisamos os argumentos contrários aos nossos, o que é 
muito positivo para a nossa construção intelectual. Em nossos dias, 
por exemplo, há diversas discussões sobre liberalismo e presença 
maior ou menor do Estado. Só para citar uma situação, você 
acha que as negociações entre empregadores e empregados, 
diretamente ou representados, mostram divergências inéditas? 
Não. A grande diferença histórica é a presença da palavra 
“negociação”, o que não garante sucesso para qualquer das partes. 
Capitalismo ou Socialismo? É uma outra questão histórica e ainda 
atual, em algumas partes do mundo, com diferentes intensidades. 
Todos esses são assuntos deverão ficar mais esclarecidos para 
você, a partir do estudo desta primeira unidade. 
Esta unidade oferecerá a você uma visão geral do ambiente 
intelectual e político que precedeu o trabalho de Marx. Da mesma 
forma, à medida que avançar em seus estudos, você entenderá 
o cenário que abrigou o filósofo – cenário, aliás, nem sempre 
amistoso. Dessa forma, gradativamente e sempre a partir de 
seu empenho, você conhecerá e poderá entender o conceito 
marxista de trabalho. Valorização, outra palavra forte para o filósofo 
prussiano, também merecerá especial atenção. Em Marx, nada 
se compara, em complexidade e aprofundamento, a seu estudo 
sobre o capital, esta, sim, uma palavra de brilho solar na obra 
marxiana. Assim, espera-se que você venha a conhecer os tópicos 
da economia política clássica que mereceram a crítica de Karl Max 
e a compreensão de seus argumentos. 
As três seções desta primeira unidade são intituladas “Socialistas 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx8
e Liberais pré-Marx” (Seção 1.1), “Ideologia e Metodologia Marxista” 
(Seção 1.2) e, finalmente, “Difusão do Marxismo” (Seção 1.3). 
Inicialmente, você conhecerá os socialistas chamados de “utópicos” 
e suas ideias, as bases do pensamento liberal e de diversos teóricos. 
Também irá entender o processo pelo qual as Revoluções Burguesas 
provocaram o fim do absolutismo e a consolidação do capitalismo. 
A Seção 1.2 trará à luz, as colunas essenciais do pensamento de seu 
patrono. Na Seção 1.3, conheceremos algumas das vias que levaram 
as ideias de Marx a longas distâncias, geográficas ou temporais, por 
assim dizer. 
Para nos ajudar a entender esses conceitos, nesta unidade, 
conheceremos a professora Sofia. Ainda criança, ela mostrava 
especial interesse em leituras, para seu entretenimento, instrução 
ou preparação para um período de sono. Adolescente, não se 
afastou das letras, mostrando progressivo e particular interesse 
nos temas História e ficção científica. Encantava-a conhecer os 
caminhos trilhados pelos indivíduos e seus respectivos grupos, a 
cada época; as diversas crenças, novas proposições, consequentes 
discussões e ações a fascinavam. Lazer especialmente prazeroso 
proporcionavam-lhe os textos científicos ficcionais. Graduou-se 
em História e aprofundou estudos em História do Pensamento 
Econômico, muito relacionada à Sociologia, Filosofia e Política, além 
da evidente proximidade com História e Economia. Em tempos 
atuais, por força de seu trabalho e estudos, a professora Sofia convive 
com historiadores, sociólogos, cientistas políticos e economistas. 
Em vários momentos de descontração, declarou a amigos seu 
tema preferido, no âmbito da ficção científica: as viagens no tempo, 
pois presenciar fatos históricos que estudou é o pensamento que, 
não raramente, a conduz do mundo real ao imaginário. Ela não 
é capaz de lembrar a quantidade de vezes que, em seus sonhos, 
testemunhou e até participou, desempenhando diferentes papéis, 
de fatos históricos, muito distantes de nosso tempo. O modelo da 
“sociedade ideal”, tal como concebida lá no século XIX, teria espaçoem nossos dias? 
Você está pronto para acompanhar as incursões de Sofia pela 
história? Então, mãos à obra!
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 9
Seção 1.1
Socialistas e liberais pré-Marx
Olá, aluno! Tudo bem? Pronto para começar nossa disciplina de 
Economia Política? Então, vamos lá! 
Scar (2016) diz que “o que define um conceito é justamente 
isso: sua adaptação. Conceitos são aquilo que a mentalidade 
das pessoas, dentro de seu tempo, pode compreender de uma 
ideia. Socialismo é um conceito que se modificou com o tempo. 
Liberalismo também.” Podem-se destacar dois aspectos acerca do 
trecho: a atualidade do tema e a lembrança de que os conceitos são 
modificáveis com o tempo. Quanto ao primeiro destaque, tem-se 
uma evidência de que temas desta primeira seção são discutidos há 
muitos anos. O segundo, por sua vez, pode ser uma justificativa do 
que se depreende do primeiro, pois como os conceitos mudam com 
o tempo, a discussão sobre seus objetos não cessa. Essa relação 
entre tempo e conceitos será marcante neste material. Pensando 
assim, não fica difícil entender o gosto que tem a professora Sofia 
em estudar suas ciências preferidas, atenta aos efeitos do tempo 
sobre o conhecimento. 
Certa tarde, ela se preparava para assistir a um evento que reuniria 
11 palestrantes célebres, predominantemente de economistas e 
políticos. Nos dois dias de evento, presentes e espectadores on-line 
totalizariam 37.700 pessoas, um recorde, em 30 anos, segundo os 
organizadores!
Primeiro a falar, o prefeito de São Paulo usou seus 30 minutos 
para apresentar, entre outras ideias, suas propostas de privatização e 
melhoria do ambiente de negócios. Um economista e ex-presidente 
do Banco Central, que estava presente, declarou que “o cidadão quer 
liberdade para empreender, ganhar a vida e não ser achacado pelo 
Estado”. Outro notável presente, ex-ministro da Fazenda, opinou 
que “para a esquerda, faltou o entendimento de que o sistema de 
mercado é uma descoberta humana com imensos defeitos, mas o 
Diálogo aberto 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx10
único que pode conciliar a liberdade com a igualdade”. Cada um 
dos pontos de vista foi apresentado por seus autores, no exercício 
da liberdade de expressão. 
A cada minuto, uma ansiosa prof.ª Sofia fazia anotações, ávida por 
muitas outras. Em balões desenhados rapidamente e com poucos 
cuidados, Sofia anotou os nomes de John Locke e Adam Smith, 
sem estabelecer qualquer relação entre esses últimos e as demais 
inscrições. Ao lado de Sofia, estava sentado um curioso jovem, 
que, após muitos rodeios, pede-lhe o favor de explicar a presença 
dos dois nomes inscritos nos balões. Feliz com a oportunidade 
de compartilhar informações sobre um tema tão apreciado, ela o 
atende prontamente. Que explicação Sofia teria oferecido a seu 
interlocutor?
Ao longo desta seção, encontraremos as respostas para esse 
questionamento. Pronto para esse desafio?
Não pode faltar
O caráter coletivo de uma sociedade está na raiz do socialismo e 
mereceu algumas visões diferentes. Como introdução, é importante 
que você considere a existência de diferentes tipos de socialismo, 
como: o Utópico, o Científico ou Marxista, o Estatal, o Cristão, o 
Anarquismo e o Comunismo. Como forma de ilustração, vamos 
entender um pouco de cada um deles? O socialismo utópico será 
apresentado logo à frente. O socialismo científico (ou marxismo) 
merecerá especial atenção em várias seções (incluindo esta), pois 
é o principal tema deste material. Algumas informações sobre o 
pensamento anarquista, ou comunismo libertário — absolutamente 
contrário à presença do Estado, mas apoiador do marxismo em 
seu objetivo final —, e o comunismo também serão tratadas 
nesta seção. Aliás, o comunismo, resultado do que os marxistas 
chamaram de evolução socialista, também será explicado aqui. 
Já a expressão “socialismo estatal” designa a variante socialista 
adotada por Karl Marx, enquanto o socialismo cristão faz a defesa 
simultânea de ideologias cristãs e socialistas. Este último, em parte, 
foi impulsionado pela encíclica Rerum Novarum (das coisas novas, 
em português), que tratou da questão operária e foi assinada pelo 
Papa Leão XIII, em 1891. 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 11
Agora que diferenciamos os tipos de socialismo, seria interessante 
iniciar nosso estudo sobre os socialistas e liberais pré-Marx, não 
é mesmo? No entanto, antes, precisamos entender o contexto 
histórico em que viviam esses estudiosos. Vamos compreendê-lo? 
As Revoluções Burguesas passaram com esse nome à história, 
porque, com o vitorioso objetivo de extinguir o poder absoluto dos 
monarcas, promoveram os burgueses, antes apenas detentores de 
poder econômico, a detentores do poder político. As Revoluções 
Burguesas foram compostas: (a) da Revolução Inglesa (século 
XVII), que foi integrada pelas Revoluções Puritana (1640) e Gloriosa 
(1688) (ambas compuseram um processo revolucionário, por isso, 
são consideradas, em seu conjunto, a Revolução Inglesa); (b) da 
Revolução Americana (séculos XVIII e XIX), que foi um processo 
revolucionário de colônias inglesas, objetivando sua independência 
da Inglaterra, resultando na Declaração de Independência dos 
Estados Unidos; (c) da Revolução Francesa (1789), cujos efeitos 
ultrapassaram fronteiras e alcançaram diversas nações europeias; 
e (d) da Revolução Industrial (final do século XVIII e início do século 
XIX), que descobriu o carvão como fonte de energia e a aplicação 
do vapor em locomotivas e máquinas industriais, causando grande 
impacto no parque industrial inglês, com efeitos sociais não menos 
fortes. 
Com relação a essas revoluções, vale destacarmos os impactos 
das duas últimas. A Revolução Francesa, de importância política 
equiparável ao impacto econômico da Revolução Industrial, 
assinalou o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. 
Já a Revolução Industrial aumentou os efeitos do capitalismo 
sobre a vida dos trabalhadores ingleses, enquanto a deposição do 
regime absolutista francês (causada pela Revolução Francesa) e a 
expectativa popular francesa de que suas condições de trabalho 
viessem a melhorar, a partir das promessas revolucionárias, inspirou 
as lideranças operárias inglesas em sua organização. Dessa forma, o 
sentimento popular chegou a níveis de gravidade, não só naqueles 
dois países, como em muitos outros pontos da Europa.
U1 - Contexto histórico da obra de Marx12
Pesquise mais
Para mais informações sobre a Revolução Francesa, pesquise mais em: 
CANAL USP. 1789-1814: a revolução francesa e as guerras napoleônicas 
(Aula 11, Parte 2). Publicado em 24 de agosto de 2017. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=fRk24QOlFnI>. Acesso em: 17 set. 
2017.
A ascensão burguesa consolidou o capitalismo e, com ele, o 
distanciamento entre classes sociais e toda a gama de questões 
consequentes que mobilizam a Sociologia, a Economia, a Política e 
outras ciências até os dias atuais. Em termos práticos, a acumulação 
de dinheiro passou a ser um grande objetivo a atingir, a despeito da 
moralidade dos meios, onde o dinheiro assumiu a posição de ser o 
grande símbolo de poder, em lugar das coroas e dos castelos em 
tempos idos. Mas, você deve estar se perguntando: nesse contexto, 
como aparecem os socialistas e liberais pré-Marx? 
O primeiro movimento socialista do mundo contemporâneo 
nasceu na França, no início do século XIX, a partir das ideias de 
pessoas interessadas nas questões sociais e muito insatisfeitas com 
as péssimas condições a que a maioria da população era exposta, 
a exemplo de Saint-Simon, Charles Fourier e outros que você logo 
conhecerá. A classe operária vivenciava piores condições a cada dia. 
A liberdade prometida pelo lema da Revolução Francesa (“Liberdade, 
Igualdade e Fraternidade”) e que se referia à garantia de direitoshumanos considerados inquestionáveis, concretizara-se, tão somente, 
na forma de estímulo ao livre mercado, ao liberalismo econômico, 
favorecendo apenas os que já detinham poder consequente de sua 
riqueza. O povo vivia em miséria profunda, fruto de condições hostis 
de trabalho, a exemplo das jornadas de 14 a 18 horas diárias e do 
abusivo trabalho infantil e feminino, atingindo, neste último caso, a 
brutalidade física. Aos trabalhadores faltavam moradia, mínima atenção 
à saúde, alimento, dignidade. Enquanto isso, na outra extremidade 
da sociedade francesa, os nobres desfrutavam de suas vidas de luxo 
e ociosidade e custeadas por impostos. Alguns privilegiados não 
pertencentes à nobreza, mantinham seus negócios valendo-se de 
mão de obra miserável e, assim, aumentavam suas fortunas. A cada 
dia, crescia o abismo que separava a sociedade em ricos e miseráveis. 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 13
Pense no que você conhece a respeito de condições de trabalho 
difíceis, reivindicações de melhoria que a imprensa noticia e coisas 
assim. Você pode imaginar, agora, as condições de vida de uma 
família trabalhadora francesa na época descrita?
Naquele cenário social terrível, alguns intelectuais supracitados 
imaginaram um processo transformador das atitudes daqueles que 
estavam à frente do terror social que se apresentava. Eles acreditavam 
que os detentores de poderes econômico e político poderiam ser 
sensibilizados, mesmo que a longo prazo, quanto à necessidade 
de propiciar melhores condições de vida aos desvalidos, isto é, aos 
trabalhadores. De fato, eles atribuíam à razão, o potencial de superar 
influências externas. Seus críticos comentavam, frequentemente, 
de forma irônica, sua crença na bondade humana, na capacidade 
dos dominantes de refletir e se arrepender do indigno tratamento 
aos dominados. Assim, a sociedade ideal em que acreditavam seria 
atingível, sendo apenas uma questão de tempo, diante de estímulos à 
reflexão. Essas pessoas eram consideradas pelos discordantes como 
sonhadoras e românticas, até porque apresentavam sua proposta 
de “sociedade ideal”, mas não traziam essa pauta ao debate para 
uma implementação efetiva. Ou seja, elas simplesmente mostravam 
sua crença, sem sugestão para comprová-la, defendendo que a 
revolução, que reequilibraria a sociedade, seria pacífica, a partir da 
espontânea garantia a direitos humanos considerados básicos. 
Neste ponto, pode-se fazer uma ligação com o pensamento liberal 
do filósofo britânico John Locke (1632-1704), defensor da liberdade 
individual, essência do liberalismo político.
Com base no livro Utopia, escrito em 1516, por Thomas Morus 
(ou Thomas More), aqueles intelectuais, crentes no poder superior 
da razão, passaram a ser chamados de utópicos (mais precisamente 
de socialistas utópicos). Relevante entender que Morus descreveu 
um reino constituído, unicamente, pela ilha homônima do livro, 
em que não havia concentração de riqueza e perseguição religiosa. 
Todos comporiam a força de trabalho, o que reduziria a jornada de 
cada morador, e onde a individualidade dos bens seria vencida pelo 
caráter coletivo desses mesmos bens. Você consegue imaginar uma 
sociedade que trabalharia dessa forma? 
Você conhecerá, já nas próximas linhas, três dos expoentes do 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx14
Socialismo Utópico: Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen. 
A propósito, não deixe de estar situado no tempo. Tão importante 
quanto conhecer ideias é considerar as épocas em que foram 
defendidas, pois isso fará a diferença.
O francês Claude-Henri de Rouvroy, ou Conde de Saint-Simon 
(1760-1825), um dos socialistas utópicos pioneiros, idealizou uma 
sociedade integrada por “produtores” e ”ociosos”, em que os primeiros 
comporiam a maioria. Nela, a existência das empresas capitalistas 
não seria problema, desde que exercessem sua responsabilidade 
social, junto aos trabalhadores. Outro francês, François Marie Charles 
Fourier (1772-1837), frequentemente citado como Charles Fourier, 
foi entusiasta do associativismo e cooperativismo. Ele idealizou 
os falanstérios, que seriam comunidades destinadas à produção, 
compostas por pouco menos de 2.000 trabalhadores, organizadas 
de forma descentralizada e onde cada pessoa trabalharia com aquilo 
para o qual tivesse vocação. Essas comunidades jamais saíram 
do papel, pois não conseguiram mobilizar investidores para a sua 
implementação. Havia também Robert Owen (1771-1858), natural do 
País de Gales que, por ter sido um dos mais ativos socialistas utópicos, 
merece algumas palavras a mais. Sua experiência de administrador 
permitiu-lhe conhecer, detalhadamente, as impiedosas condições 
vividas pelos trabalhadores. Baseado nessa experiência, ele criou 
cooperativas, onde, por definição, o individualismo e a visão social 
capitalista de sociedade não teriam espaço. Inovador, ele estabeleceu 
uma jornada de trabalho de dez horas e ofereceu escolarização a 
seus funcionários de uma indústria escocesa de algodão, sendo 
vitorioso em suas iniciativas. 
Mas, o que você pensa que esse sucesso provocou em seus 
pares nos negócios e em seus adversários no campo das ideias? Se 
você pensou em algo na direção dos problemas, acertou! Owen 
sofreu duras manifestações contrárias às suas atitudes, o que foi 
forte inspiração de sua ida para os Estados Unidos, onde criou a 
New Harmony, uma outra cooperativa. No retorno à sua pátria, ele 
deparou-se com a total falência de suas organizações. Ele não venceu 
nos negócios, por assim dizer, mas plantou ideias cooperativistas que 
floresceriam tempos depois, ou seja, ele deixou uma semente que 
germinaria anos à frente.
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 15
Neste ponto, você pode estar pensando que leu as últimas 
informações sobre Robert Owen. Está? Não, ainda temos mais. Com 
seu insucesso empresarial, ele apenas redirecionou seus esforços 
para a criação de organizações que foram consideradas distantes 
antepassadas dos sindicatos: as trade-unions, que representavam 
os interesses dos trabalhadores, usando a greve como sua principal 
ação.
Dentro do socialismo utópico, temos também Pierre Joseph 
Proudhon (1809-1865). Ele foi um filósofo francês, tido como um dos 
nomes mais exponenciais do anarquismo, tendo sido pioneiro em se 
declarar anarquista, o que foi uma atitude corajosa, pois o termo era 
pejorativo no âmbito revolucionário. Esse adjetivo ele não aceitou. 
Seu livro, O que é a propriedade? Pesquisa sobre o princípio do direito 
e do governo (Qu’est-ce que la propriété? Recherche sur le principe 
du droit et du gouvernement - 1840), atraiu a atenção das autoridades 
e de Karl Marx. Eles chegaram a se encontrar, mas se indispuseram 
porque Marx respondeu ao seu texto Sistema das contradições 
econômicas(também conhecido como A filosofia da miséria), com 
uma provocação em forma de texto: A miséria da filosofia.
Pesquise mais
Para mais informações interessantes e bem organizadas acerca das bases 
do Anarquismo, pesquise mais em: 
CANCIAN, Renato. Anarquismo: origens da ideologia anarquista. 
Publicado em 22 de maio de 2007. Disponível em: <https://educacao.
uol.com.br/disciplinas/sociologia/anarquismo-origens-da-ideologia-
anarquista.htm>. Acesso em: 30 ago. 2017.
Louis Auguste Blanqui (1805-1881) foi um teórico e revolucionário 
republicano socialista francês. Defendeu o sufrágio universal, a 
igualdade dos direitos dos homens e das mulheres e a supressão 
do trabalho infantil. Foi apelidado de L’enfermé (“O Encarcerado”), 
por ter passado a metade de sua vida na cadeia. Talvez tenha sido 
o maior revolucionário francês. Há muitas referências a Blanqui, 
qualificando-o de “Socialista utópico”. Isso não faz sentido algum, 
porque ele foi partidário da revolução violenta. Também não 
cabe considerá-lo marxista porque nunca atribuiu nenhum papel 
U1 - Contextohistórico da obra de Marx16
histórico diferenciado à classe operária. Como economista crítico 
do capitalismo, ele se simpatizava com as ideias do subconsumo. 
Para ele, as mercadorias se vendiam, uniformemente, acima de seu 
valor, portanto a acumulação capitalista não vinha da exploração da 
classe operária (a mais-valia extorquida no processo de produção), 
mas ao “excesso” que os capitalistas cobravam dos consumidores. O 
lucro do capital, para Blanqui, não se originava na esfera da produção 
(a fábrica), mas na esfera da circulação (o comércio). Ele chegou 
à conclusão da necessidade de uma economia desmonetizada 
(sem moeda), em que os produtores trocariam seus bens pelo 
valor de seu custo. Seu nome deu origem ao termo “blanquistas”, 
para se referir a uma minoria de intelectuais que, após obterem a 
República, iniciariam o processo de organização do socialismo e 
do comunismo. O sucesso desse grupo faria com que o fim da 
exploração dos assalariados não viesse por meio da luta de classes. 
(COGGIOLA, 2011).
Blanqui foi um socialista só por meio de sentimentos, por 
meio de sua simpatia para com o sofriment\o do povo, mas não 
teve nenhuma teoria socialista, tampouco sugestões práticas e 
definitivas para soluções sociais. Em sua atividade política, era ativo 
e energético. Acreditava que uma pequena minoria bem organizada 
iria tentar um golpe de força política, quando oportuno, e poderia 
levar a massa do povo com eles, por meio de alguns êxitos, e assim 
dar início a uma revolução vitoriosa. Seu principal livro, Crítica 
social (1885), que trazia seus artigos, foi publicado após sua morte 
(COGGIOLA, 2011).
Outro teórico socialista é Mikhail Alexandrovich Bakunin (1814-
1876), filósofo, sociólogo e revolucionário russo do século XIX, que 
é considerado um dos pais do anarquismo (ao lado de Proudhon 
e Kropotkin). Bakunin também foi um defensor do ateísmo e do 
coletivismo, além de ser contrário à politização das organizações. 
Depois de ter abandonado a carreira militar, ele se dedicou 
ao estudo da filosofia e passou a frequentar, em Moscou, um 
grupo de intelectuais e pensadores. Nessa época, tornou-se um 
admirador dos ideais socialistas, tendo participado do movimento 
revolucionário de 1848, que atingiu várias cidades europeias, sendo 
que, por participar do movimento, Bakunin foi condenado e preso 
(SUA PESQUISA, [s.d.]).
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 17
Por fim, vamos conhecer Ferdinand Lassalle (1825-1864), um 
precursor da social-democracia alemã, que foi contemporâneo de 
Karl Marx, de quem se aproximou durante a Revolução Prussiana 
de 1848, até romper com ele em 1864. A propósito, a social-
democracia é uma corrente de pensamento político segundo a qual 
o socialismo tende a ganhar espaço, gradativamente, pelo exercício 
do voto, pelo exercício consciente da política. Seria, portanto, uma 
vitória do socialismo, sem imposição, e seus adeptos consideravam 
o princípio de que essa conquista poderia vir no longo prazo. 
Combativo e ativo propagandista da democracia, Lassalle proferiu, 
em 16 de abril de 1862, em uma associação liberal-progressista de 
Berlim, a conferência que serviu de base para um livro importante 
para o estudo do direito constitucional, traduzido para o português 
com o título A essência da constituição. Ele cunhou o conhecido 
conceito sociológico de Constituição ao estabelecer que tal 
documento deve descrever, rigorosamente, a realidade política 
do país, sob pena de não ter efetividade, tornando-se mera folha 
de papel. Esse conceito nega que a Constituição possa mudar a 
realidade. A tese de Lassale foi contraposta por Konrad Hesse, que 
trouxe o conceito concretista da Constituição, por considerar que 
ela não é um simples livro descritivo da realidade. 
A esse Socialismo Utópico contrapunha-se o Socialismo 
Científico, ou o próprio Marxismo, iniciado por Karl Marx (1818-
1883) e Friedrich Engels (1820-1895), em 1848, com a publicação 
de O manifesto comunista, mas essa conversa é para depois. Por 
enquanto, vamos tratar do liberalismo, suas bases e seus pontos 
criticados pelos socialistas. 
Vamos falar agora sobre liberalismo político e liberalismo 
econômico? O trabalho do britânico John Locke (1632-1704), um 
dedicado defensor da liberdade individual, nos leva às raízes do 
liberalismo (nesse caso, o liberalismo político). Para ele, o direito à 
propriedade era um princípio elementar, porque os bens de cada um 
seriam resultado do próprio trabalho, portanto, deveriam pertencer 
a quem se empenhou para obtê-lo. Esse princípio tem origem 
religiosa, pois o homem e o mundo pertencem a Deus, segundo 
os que assim creem, porque são frutos de trabalho divino. Locke 
não admitia interferências nas leis naturais e esse era um ponto 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx18
norteador em sua intelectualidade. O direito à vida era, portanto, 
uma forte bandeira de Locke e o poder divino dos reis era uma ideia 
inaceitável para ele e merecedora de grande atenção, o que fica 
claramente mostrado em seu livro Dois tratados sobre o governo 
(1689). 
Mas, você percebeu que, em se tratando de John Locke, nada 
foi dito sobre liberalismo econômico. Por que isso acontece? 
Porque a atenção desse filósofo inglês esteve direcionada para o 
liberalismo político, o que lhe valeu o título de Pai do Liberalismo 
Político. Entretanto, é necessário considerar que o Liberalismo 
Econômico está contido no Liberalismo Político, o que demonstra 
o maior alcance da visão de John Locke. A defesa dos ideais liberais 
desempenharia papel relevante no combate ao Ancien Régime 
(Antigo Regime dos franceses).
Na Europa, do século XV ao XVIII, vigoravam a economia 
mercantilista e o poder absolutista dos reis, o que compunha 
o mercantilismo monárquico ou mercantilismo absolutista, 
característico do Antigo Regime. Neste, as nações europeias 
buscavam o poder econômico acumulando capitais por meio do 
comércio de metais preciosos, produtos agrícolas ou industriais, 
dependendo do país, sendo que o poder político estava nas mãos 
dos monarcas que legislavam, julgavam e gerenciavam seus países, 
muitas vezes controlando, também, o clero. 
Contra essas práticas, levantou-se a ideia de que o Estado não 
deveria intervir na atividade econômica (liberalismo econômico). 
Essa liberdade econômica era tratada por duas Escolas: a Fisiocrata 
e a Liberal. A primeira, muito bem representada pelo francês 
François Quesnay (1694-1774), entendia que a terra era a principal 
fonte de riqueza, não a indústria de transformação. Quesnay é autor 
de um livro referencial intitulado Tableau économique (1758) e 
da frase “Laissez faire, laissez passer, lê monde va de lui même” 
(“Deixai fazer, deixai ir/passar, o mundo se move por ele mesmo”, 
em tradução livre), que adquiriu status de lema fisiocrata. 
Já o segundo grupo de pensadores favoráveis à economia 
livre da interferência estatal, o Liberal, considerava que o trabalho 
é a principal fonte de riqueza e seus integrantes eram favoráveis 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 19
à concorrência, ao livre comércio. Neste segundo grupo estava o 
economista escocês Adam Smith (1723-1790), o grande nome do 
Liberalismo Econômico, que, por sua vez, constitui a base teórica 
do capitalismo. Para Smith, autor de A riqueza das nações (1776), e 
seus colegas liberais, cada cidadão utilizava sua propriedade a seu 
gosto; cada empresário gerenciava seu negócio conforme suas 
preferências e, havendo algum desequilíbrio, o mercado acionaria 
um mecanismo de autorregularização que traria o equilíbrio de 
volta, pela ação de uma “mão invisível do mercado”.
Assimile
Enquanto o Liberalismo Político refere-se às liberdades individuais e aos 
direitos naturais, a exemplo do direito à propriedade e do direito à vida, 
o Liberalismo Econômico está relacionado à liberdade dos mercados, apartir da menor participação do Estado na economia, devendo predominar 
a livre concorrência entre os agentes privados. 
Essa visão liberal foi a predominante entre os gestores de grande 
parte dos países do mundo até que um evento econômico trágico 
levou ao descrédito de boa parte do contingente de liberais: a 
quebra da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929. Você já ouviu 
falar na “Crise de 29”? Ou na “Grande Depressão dos Anos 1930”? As 
informações são impressionantes! Pelo valor para os estudos, valerá 
a pena conferir.
Pesquise mais
Para mais informações sobre a Crise de 1929, pesquise mais em: 
GURGEL, Rodrigo. Crise de 1929: do crash da Bolsa de Valores ao New 
Deal. Publicado em 28/10/2008. Disponível em: <https://educacao.uol.
com.br/disciplinas/historia/crise-de-1929-do-crash-da-bolsa-de-valores-
ao-new-deal.htm>. Acesso em: 25 set. 2017.
Você lembra de que os Socialistas Utópicos se opunham ao 
liberalismo, consequente da Revolução Francesa? Então, para melhor 
entender as diferenças entre defensores e opositores do liberalismo, 
leia atentamente o que será mostrado a seguir, acerca de alguns 
atores liberalistas que se notabilizaram. Serão apresentadas as ideias 
básicas defendidas por Edmund Burke, Benjamin Constant, Alexis de 
Tocqueville, John Stuart Mill, Thomas Robert Malthus, Henry Thoreau 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx20
e Herbert Spencer. Vamos a elas? 
Edmund Burke (irlandês; 1729-1797) defendeu a limitação do poder 
monárquico, e, em atuação no parlamento, inovou os conceitos de 
partido e de parlamentar; que passariam a representar os interesses 
da comunidade e não os próprios. Henri-Benjamin Constant de 
Rebecque (franco-suíço; 1767-1830), em atividade parlamentar na 
França, destacou-se por seu discurso liberal. A defesa da imprensa 
livre recebeu sua especial atenção, tendo deixado muitos trabalhos 
escritos, entre romances e textos políticos. No campo político, 
escreveu e organizou diversos textos acerca de governo representativo 
e a constituição da França, sendo que esse trabalho, por sua qualidade 
e abrangência, foi comparado a um curso de política constitucional e 
produziu efeitos na redação de nossa 1ª Constituição, a Constituição 
Política do Império do Brasil, de 1824.
Outro renomado liberal foi Alexis Charles Henri Clérel, ou Viscount 
de Tocqueville (francês; 1805-1859), que foi deputado na França, em 
1848, ano turbulento naquele país, tendo sido um forte opositor dos 
movimentos socialistas, que muito movimentaram as ruas parisienses 
naquele ano. Lembranças de 1848 foi o livro que ele escreveu, 
apresentando sua experiência naquela etapa da vida europeia. 
Escreveu, ainda mais, sobre revolução, individualismo, liberdade 
e democracia, tudo relevante para a compreensão das instituições 
políticas que sucederam à Independência dos Estados Unidos (1776) 
e à Revolução Francesa (1789).
John Stuart Mill (inglês; 1806-1873) foi um personagem tão 
complexo quanto valioso, apaixonante para muitos interessados em 
Filosofia, Política, Lógica, Direito, Economia, Sociologia e Psicologia. 
Seu pai concordava com John Locke, quanto à mente humana ser 
uma “folha de papel em branco”, e essa ideia fez com que a educação 
de Mill fosse totalmente voltada para os estudos, mantendo-o afastado 
das demais crianças e com outras características que poderiam ser 
consideradas obsessivas por alguns. A ligação ideológica de seu pai 
com Locke chegou a ele com duas consequências. A primeira, uma 
grande preocupação com garantias e exercício de direitos naturais, 
como era o caso de seu inconformismo com a submissão feminina 
nas relações matrimoniais, negativa de acesso aos direitos financeiros 
e da propriedade para as mulheres; e a segunda era sua identificação 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 21
com a pensamento utilitarista, que o levava ao objetivo de oferecer 
máxima felicidade ao maior número de pessoas possível. Mas, como 
alcançar isso diante de flagrantes agressões aos direitos individuais 
que aconteciam à época? 
No campo do liberalismo econômico, Mill mostrou ainda mais 
complexidade. Ao mesmo tempo em que combatia a centralização da 
economia pelo governo, ele não aprovava a concentração de riqueza 
presente em modelosl iberais. Ao contrário, defendia a inexistência 
de privilégios e desequilíbrios sociais. Por isso, é recorrente encontrar 
referências a ele, adjetivando-o de socialista, ou liberal-socialista.
Reflita
Na linha de raciocínio de Mill, hoje em dia e apesar de ter havido evolução 
nas condições sociais apresentadas às mulheres, ainda existe disparidade 
de tratamento em relação aos homens?
Exemplificando
Na Figura 1.1, vemos um exemplo das diferenças salariais entre homens e 
mulheres no Brasil, de acordo com pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística) para os anos de 2011 e 2012:
Figura 1.1 | Homem x mulher no mercado de trabalho
Fonte: Andrade (2013).
U1 - Contexto histórico da obra de Marx22
Thomas Robert Malthus (inglês; 1766-1834) foi sacerdote, 
economista, professor e escritor de economia política. Aos dezoito 
anos, já recebera sólida educação liberal. Entre suas obras, Ensaio 
sobre a população (1798) o celebrizou. Influenciou David Ricardo, 
emérito liberal, e propôs algumas ideias econômicas que viriam a 
ser desenvolvidas pelo inglês John Maynard Keynes, opositor do 
liberalismo. Teve relevante atuação em demografia, pelo que se 
destaca até nossos dias, a despeito das retificações impostas pelo 
desenvolvimento do conhecimento a algumas de suas conclusões, 
tendo enunciado uma teoria catastrófica: a produção de alimentos 
cresceria em progressão aritmética, enquanto a população tenderia 
a aumentar em progressão geométrica, advindo miséria e fome 
contínuas, até que epidemias e conflitos armados, em atividade 
providencial, reduziriam, drasticamente, a população. Seu perfil 
liberal o tornava contrário a qualquer tentativa do Estado de resolver 
a miséria; seria suficiente negar atendimento médico e acolhimento 
às populações, além de sugerir a abstinência sexual para diminuir a 
natalidade. No entanto, progressos tecnológicos na agricultura e a 
intensificação do comércio internacional mostraram equívocos em 
algumas expectativas malthusianas. 
Henry David Thoreau (estadunidense; 1817-1862) é mais um 
personagem interessantíssimo da teoria liberal. Apesar de ter sido 
fortemente influente no pensamento liberal dos Estados Unidos, sua 
pátria, ele se empenhou muito na difusão da ideia de desobediência 
civil, aliás, por isso notabilizou-se. Ele concluiu que, estando seu 
país em guerra (e estava mesmo, em embate contra o México, em 
1846), se ele (ou qualquer outro cidadão) cumprisse sua obrigação 
de pagar impostos, o governo utilizaria esse dinheiro no custeio da 
guerra. Então, ele preferiu não pagar os impostos, ou seja, incorreu 
em desobediência civil, totalmente justificada, sob o ponto de vista 
ético, em sua interpretação. Dessa maneira, ele dizia que era possível 
influenciar uma autoridade, no sentido de modificar uma lei injusta. 
Esse conceito exerceu influência sobre grandes líderes mundiais, 
a exemplos de Gandhi e Martin Luther King. O pensamento de 
Thoreau de que se a lei não era justa, não deveria ser cumprida pelo 
cidadão foi explicitada no seu livro, escrito em 1849 sob o título 
Desobediência civil, ainda hoje muito procurado. E você, como vê 
essa questão? 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 23
Por fim, Herbert Spencer (inglês; 1820-1903) tinha múltiplas 
formações profissionais, sendo que ele, entre outros interesses, 
dedicou-se à Biologia, ao estudo da evolução, em particular e 
em tempos anteriores a Charles Darwin (1809-1882). Spencer 
considerava a liberdade “a chave”, pois o mercado sem a presença 
estatal fazia com que as pessoas fossem estimuladas a tornarem 
suasvidas melhores, em processo contínuo. Ele criou o "sistema 
de filosofia sintética", em que organizaria a produção científica 
e de filosofia de sua época, mas centrada no tema evolução. 
Ele conseguiu o aparentemente improvável em sua época: a 
partir de princípios liberais e da biologia, interpretou fenômenos 
sociais e econômicos e concluiu que existe uma relação íntima e 
permanente entre os meios biológico e o sociológico. Expressões 
como “evolucionismo spenceriano” e “darwinismo social” se 
impuseram. No primeiro caso, da Biologia à Sociologia: a sociedade 
sob o modelo de funcionamento de um organismo individual; no 
segundo, com a seleção natural e a evolução, descritas por Darwin, 
aplicadas à Sociologia, onde os mais fracos tendem a desaparecer. 
Nesta seção, você conheceu as bases históricas e filosóficas do 
liberalismo e do socialismo, em tempos anteriores à contribuição 
de Karl Marx. Na próxima, você estará em contato com a ideologia 
marxista e com sua metodologia, pensamentos que têm atravessado 
tempos e fronteiras. Há muito o que aprender à frente, com tópicos 
muito interessantes. 
Até breve!
Sem medo de errar
Olá, aluno! Conseguiu entender os conceitos apresentados na 
Seção 1.1? Esperamos que sim, pois eles ajudarão a professora Sofia 
a responder o questionamento feito por um interlocutor. Aliás, você 
se lembra do caso? 
A professora Sofia assistia a um evento que reuniu palestrantes 
célebres. Nos discursos, o prefeito de São Paulo trouxe propostas 
de privatização e melhoria do ambiente de negócios. Um ex-
presidente do Banco Central declarou que “o cidadão quer liberdade 
para empreender, ganhar a vida e não ser achacado pelo Estado”. 
Já, um ex-ministro da Fazenda disse “para a esquerda, faltou o 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx24
entendimento de que o sistema de mercado é uma descoberta 
humana com imensos defeitos, mas o único que pode conciliar a 
liberdade com a igualdade”. Enquanto eles discursavam, a professora 
fazia anotações em balões, como “John Locke” e “Adam Smith”. 
Ao lado de Sofia, um jovem pediu-lhe que explicasse a presença 
dos dois nomes em suas marcações. Que explicação Sofia teria 
oferecido a seu interlocutor?
Sofia deveria dizer ao seu interlocutor que, naquele evento em 
que estavam, discutia-se sobre privatizações, isto é, menor presença 
do Estado na economia, onde o tema “Liberalismo” estava sendo 
apresentado. Entretanto, pode ser feita uma reflexão sobre os dois 
alcances da palavra, isto é: o Liberalismo Político e o Liberalismo 
Econômico. No primeiro caso, o nome referencial é o de John 
Locke (que aparece nas anotações da professora Sofia), defensor dos 
direitos naturais, ou seja, o direito à vida, o direito à propriedade e o 
direito da liberdade individual. Tais conceitos apareceram na cabeça 
de Sofia quando ela ouviu o ex-presidente do Banco Central dizer 
que “o cidadão quer liberdade para empreender, ganhar a vida e não 
ser achacado pelo Estado”, pois tal declaração valoriza a apropriação 
do indivíduo, como fruto do seu trabalho, ou seja, mostra o exercício 
do direito à propriedade que é uma das bases do pensamento do 
liberalismo político. No segundo, a referência é Adam Smith, que, 
tempos depois de Locke, e por ele inspirado, defendeu a liberdade 
nos mercados, deixando-os livres, da interferência do Estado. 
Essa anotação foi feita por Sofia quando ela ouviu os ex-ministro 
da Fazenda dizer que “para a esquerda, faltou o entendimento 
de que o sistema de mercado é uma descoberta humana com 
imensos defeitos, mas o único que pode conciliar a liberdade com 
a igualdade”, pois essa defesa do “sistema de mercado", feita pelo 
ex-ministro, expõe sua afinidade com o liberalismo econômico, já 
que nele, as forças atuantes são aquelas exercidas por fornecedores 
e compradores, e proporcionais a seus interesses.
Dessa forma, chegamos ao fim deste tema. Na Seção 1.2, você 
iniciará uma aproximação de conceitos e metodologias elaborados 
por Karl Marx. Certamente serão leituras e atividades interessantes e, 
principalmente, relevantes. Até a próxima!
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 25
Avançando na prática 
Socialdemocracia é Romantismo?
Descrição da situação-problema
Uma emissora de TV, especializada em temática político-
econômica, organiza uma série de debates entre entusiastas de 
diversas ideologias. Certo dia, havia dois debatedores com notórios 
saberes em ciência política, e o programa começou com a exibição 
de uma charge, em que um político socialista diz a seu interlocutor 
que “a época do romantismo já passou”, e que “sonhar política não 
resolve, há que se fazer política”. O outro personagem da charge, 
um social-democrata, retruca “o tempo está a nosso favor”, “temos 
muito tempo”. O intermediador diz que o argumento “o tempo está 
a nosso favor”, usado pelo social-democrata, foi significativo; assim 
como o termo “romantismo”, usado com ironia, não foi menos 
importante.
Diante dessa imagem, um dos debatedores convidados é 
questionado pelo apresentador: os termos “romantismo” (com 
uso irônico) e a menção ao fato de o passar do tempo poder ser 
realizador de uma vontade, se referem a que tipo de discussão 
histórica? 
Resolução da situação-problema
O cientista político deve dizer ao apresentador do programa de 
TV que os termos “romântico” e “sonhar política”, que trazem a noção 
de que o passar do tempo é positivo para atingimento de objetivos, 
conduzem à época em que os socialistas ditos “utópicos” eram de 
certa forma ridicularizados por acreditarem na implantação pacífica 
do socialismo. A social-democracia é um modelo que permite aos 
simpatizantes do socialismo, imaginar seus representantes chegando 
ao poder por meio de eleições e, gradativamente, com o passar do 
tempo, aumentando sua participação nas decisões políticas.
U1 - Contexto histórico da obra de Marx26
Faça valer a pena
1. O Movimento dos Sem Terra (MST) divide opiniões. Há os que consideram 
seus ativistas como meros invasores da propriedade alheia, ou seja, 
ocupantes das terras improdutivas. Entretanto, uma grande quantidade de 
pessoas pensa diferente. Para essas pessoas, dado que a ocupação se deu 
por famílias que empreenderam pequenas plantações de subsistência, não 
houve transgressão ao direito do proprietário, mas exercício do direito, 
pelos membros do MST. 
Assinale a alternativa correta, diante da situação apresentada:
a) Charles Fourier aprovaria a atitude do MST, de forma irrestrita, porque a 
terra é um bem comum.
b) Saint-Simon aprovaria a atitude do MST, desde que o(s) lote(s) 
estivesse(m) sem qualquer pertence do proprietário, porque a terra é um 
bem comum.
c) Henry Thoreau aprovaria a atitude do MST, de forma irrestrita, porque 
o chamado “invasor” não pode ser impedido de se instalar, mesmo que 
tenha que aplicar força progressiva.
d) Saint-Simon aprovaria a atitude do MST, irrestritamente, porque todos 
têm direito à terra. 
e) Sendo a terra improdutiva, Henry Thoreau aprovaria a atitude do MST, 
desde que ela não utilizasse de força.
2. Nos séculos XVII e XVIII, Europa e Estados Unidos vivenciaram momentos 
de grande turbulência civil, a partir de movimentos reivindicatórios, alguns 
extremamente violentos, o que se comprova com os registros históricos de 
mortos e feridos. Os principais movimentos, segundo aspectos políticos, 
letalidade e duração são conhecidos por Revoluções Burguesas.
Sobre esse assunto apresentado, assinale a única alternativa correta:
a) Nos Estados Unidos, 25 colônias britânicas se insurgiram contra a 
subordinação política à Inglaterra e buscaram sua independência. O 
movimento não foi vitorioso em seus objetivos.
b) A Inglaterra enfrentou dois momentos de instabilidade extrema, em solo 
próprio, que compuseram a Revolução Inglesa: a Revolução Puritana e a 
Revolução Gloriosa, em que as expectativasforam frustradas.
c) Na França, o capitalismo foi estimulado por um processo de consolidação, 
com a extinção do 
d) A Revolução Industrial que aconteceu na Inglaterra, com efeitos em 
outros países, foi uma revolução tecnológica, mas, sobretudo, de reação 
da nobreza contra os operários insurgentes.
e) A Revolução Francesa mereceu longo período de preparação, sendo 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 27
extremamente violenta, mas, infelizmente, teve seus resultados limitados 
ao território nacional. 
3. O pensamento político e o pensamento econômico sempre estiveram 
ligados. As tentativas de explicar ou “controlar” processos econômicos 
estão na gênese de sistemas políticos.
Sobre esse assunto, considere as afirmações I a IV, a seguir:
I – Os mercados têm a capacidade de se ajustarem, independentemente da 
presença regulatória do Estado. O Estado não deveria intervir na atividade 
econômica. 
II – Os meios de produção em mãos privilegiadas economicamente, 
certamente, serão empregados de forma a aumentar de forma indefinida 
esse privilégio; melhor que assim não seja. O Estado é o melhor distribuidor 
de riqueza. 
III – Uma sociedade com ausência de autoridade, com inexistência de 
propriedade privada e o cooperativismo como princípio gestor de riquezas. 
IV – Não é legítima qualquer ação hostil à propriedade conquistada pelo 
trabalho individual, pois a propriedade é um direito natural.
Se “a” equivale a socialismo, “b” equivale a anarquismo, “c” equivale a 
liberalismo político e “d” equivale a liberalismo econômico, a sequência 
correta de associação desses termos com as afirmações apresentadas é:
a) I c; II a; III b; IV d.
b) I d; II a; III b; IV c.
c) I d; II a; III c; IV b.
d) I c; II b; III a; IV d.
e) I b; II c; III d; IV a. 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx28
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 29
Seção 1.2
Ideologia e Metodologia Marxista
Nesta seção, você conhecerá alguns dos mais importantes 
pontos do pensamento marxista. Essa importância diferenciada 
se justifica pelo fato de que, desconhecendo as ideias que lhe 
serão apresentadas, não seria possível prosseguir com os estudos 
propostos neste material. 
Estamos certo de que você já recebeu muitas notícias sobre 
greves de diversas categorias profissionais. Também tem sido 
observada, nos últimos anos, uma intensa mobilização popular na 
direção de uma ou outra preferência partidária ou, ainda, de uma 
atitude do Poder Judiciário, dos outros dois Poderes da República, 
ou, especificamente, de alguns de seus representantes. A imprensa 
divulga e discute, com alguma frequência, as reclamações de um 
determinado sindicato acerca de direitos reconhecidos, mas não 
respeitados ou, pior, sequer reconhecidos pelos empregadores. E 
dos debates entre candidatos a cargos eletivos na política, você 
lembra? Dois ou mais candidatos questionam-se mutuamente para 
que os eleitores, baseados nas ideias apresentadas e eventualmente 
combatidas, possam elaborar conclusões e definir seus respectivos 
votos. Essas interações sociais não são novas. E quanto ao ânimo 
ou desânimo para desempenhar as atividades profissionais, você 
já conversou com alguém? Teria essa pessoa dito a você que não 
gosta do que faz e que a única razão de insistir é a necessidade de 
obter meios para honrar compromissos financeiros? É outro tema 
comum em nossos dias, não é mesmo? Nesta seção, você terá a 
oportunidade de compreender essas ações citadas e muitas outras. 
Pronto? Então, vamos lá! 
A professora Sofia convive com historiadores, sociólogos, 
cientistas políticos e economistas. Ela adora História, tanto que se 
graduou na área, e aprofundou estudos em História do Pensamento 
Econômico. Os aspectos econômicos que têm composto cenários 
à volta das sociedades, historicamente, se constituem em pontos de 
Diálogo aberto 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx30
grande interesse para Sofia. Dessa vez, ela dirigia sua atenção à obra 
de Karl Marx. O que, afinal, estaria ela estudando?
Em suas mãos estão estudos empreendidos pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, notadamente a Pesquisa 
Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, em sua edição de 
2015. O extenso Relatório reúne diversas categorias de documentos 
de menor volume, organizados segundo seus objetos de pesquisa. 
Recentemente, Sofia desejou conhecer os resultados referentes 
à categoria “Acesso à Internet e à Televisão e Posse de Telefone 
Móvel Celular para Uso Pessoal 2015”. No documento lido, o IBGE 
divulga comentários analíticos sobre os principais resultados do 
levantamento feito em 2015, fornecendo informações sobre os 
diferentes tipos de aparelhos eletrônicos utilizados para acesso 
à Internet (microcomputador, telefone móvel celular, tablet e 
outros), os domicílios com tablets, assim como aqueles nos quais 
os moradores realizaram o acesso via banda larga, tanto com 
tecnologias fixas (DSL, cabo de televisão por assinatura, cabo de 
fibra óptica, satélite e rádio) quanto móveis (3G e 4G), bem como 
aqueles com televisão de tela fina, serviço de televisão por assinatura, 
televisão com recepção de sinal digital de televisão aberta e antena 
parabólica (ACESSO, 2015).
Essas informações, além de insumos para as políticas públicas 
referentes ao desenvolvimento tecnológico de nosso país, são 
úteis para a elaboração dos diversos perfis sociais dos brasileiros, 
ficando claro, nesse caso, a relevância estatística das diferentes 
possibilidades de acesso a bens e serviços. A partir de dados como 
esses que Sofia está estudando, você pode obter informações, 
como a porcentagem de brasileiros enquadrados na classe A, na 
classe B etc.
Que aspecto do pensamento marxista estaria sob a atenção de 
Sofia? Que importância teriam, para ela, dados referentes a 2015, 
passado tanto tempo, portanto, da época em que o próprio Marx 
defendeu seus pontos de vista?
Bons estudos!
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 31
Não pode faltar
Em seus estudos sobre as ideias de Karl Marx e dos impactos que 
têm provocado ao longo dos anos, você verá muitas referências 
à palavra práxis. Aliás, desde já, é necessário considerar que essa 
palavra nos traz um conceito-chave da obra de Marx. Conceito de 
tamanha importância que nos obriga a conhecer mais os significados 
dela, que resiste a milhares de anos e chega aos nossos dias. Vamos 
a eles? 
Embora a tenha notabilizado na era contemporânea, o filósofo e 
economista alemão não inaugurou a aplicação ostensiva e intensiva 
da palavra, pequena em extensão, mas gigante em significado. O 
filósofo grego Aristóteles (384 a.C - 322 a.C.) já dedicara especial 
atenção à praxis, que, em seu idioma, significava prática, atividade. 
Para Aristóteles, a felicidade (Eudaimonia) era o bem supremo, o 
fim último do homem. Diferentemente de seu mestre Platão (427 
a.C. - 347 a.C.), que acreditava vir o conhecimento humano de uma 
outra dimensão, o mundo das ideias, Aristóteles defendia que o 
conhecimento está aqui mesmo, em nosso mundo, e esperando 
por nós. Pela experiência, pela prática, isto é, pela praxis, o homem 
acumula conhecimento e prudência (Frónesis). Dessa maneira, mais 
prudente a cada dia, o homem teria experiências progressivamente 
melhores e adquiriria mais prudência e, assim, por diante. Uma frase 
atribuída a Aristóteles resume bem essa ideia: “O homem é pura 
práxis!” Neste ponto do texto, você já será capaz de associar a práxis 
aristotélica à atividade (ao movimento), entendendo que homem e 
o movimento são indissociáveis.
Avançando muito no tempo e chegando ao século XIX, 
encontraremos um jovem alemão, inconformado com a ação 
maldosa do capital sobre o bem-estar dos trabalhadores. Mais 
à frente, veremos que Marx, inspirado por Aristóteles, via na 
práxis (atividade prática do homem que o permite transformar a 
naturezae a sociedade, gerando, por conseguinte, a sua própria 
transformação) a solução para o grande problema que era o avanço 
do capitalismo. Ou seja, para Marx, a tomada do poder pelos 
trabalhadores, explorados que eram pelos burgueses, seria a práxis, 
a ação transformadora, o movimento transformador, a revolução.
U1 - Contexto histórico da obra de Marx32
Assimile
Práxis Revolucionária é a solução para os problemas gerados pelo 
capitalismo. É a ação, o movimento em busca da solução. No pensamento 
de Marx, o proletariado assumindo o poder, pela revolução.
Poder é palavra forte na obra marxista. Em alguns momentos, 
você perceberá o interesse pelo poder; em outros, o que verá 
serão críticas a ele. Marx notou que os grupos sociais dominantes 
acabavam por enunciar algumas verdades aceitas e até defendidas 
pelos grupos dominados, mas que não eram verdades em si. Nos 
dias de hoje, um exemplo disso é o mito brasileiro de que manga 
e leite, se ingeridos simultaneamente, provocam mal-estar. Essa 
crença foi desenvolvida pelos senhores de engenho e outros 
abastados do Brasil-Colônia, com o objetivo de evitar que escravos 
consumissem leite, muito caro à época. Temerosos, os empregados 
consumiam somente mangas, fartamente disponíveis. Esse mito 
chegou a tempos recentes, quando os profissionais nutricionistas 
nos ensinaram o total descabimento da referida crença.
Sob o ponto de vista de Marx, essas falsas verdades, capazes 
de criar consciências igualmente falsas, eram deliberadamente 
utilizadas como meio de dominação e constituíam a ideologia 
– mais um ponto da teoria marxista ao qual você deve especial 
atenção. E você sabe o que é ideologia? 
A palavra “ideologia” é utilizada, normalmente, como sendo um 
conjunto de ideias, um ideário. Em Marx, entretanto, o conceito é bem 
diferente! A ideologia marxista (materialismo dialético) é um conjunto 
de proposições e ideias elaborado pela sociedade burguesa, com a 
finalidade de fazer aparentar os interesses da classe dominante com 
o interesse coletivo, construindo uma hegemonia daquela classe. 
Isso permitia a manutenção da ordem social, com menor uso de 
força. Ou seja, a ideologia, na visão marxista, acabava por mascarar 
a realidade, por meio de um conjunto de ideias disseminadas pelos 
burgueses, para que eles se mantivessem como classe hegemônica. 
Para Marx, a afirmação de que “com esforço, todos serão ricos”, se 
fosse pronunciada em ambiente capitalista, era mentirosa, porque 
a desigualdade é considerada um pressuposto do capitalismo. Pela 
religião, registra Marx, também era possível colocar a ideologia a 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 33
serviço da classe dominante; com esse pensamento, na introdução 
de seu livro Crítica da filosofia do direito de Hegel (1843), ele 
escreveu “a religião é o ópio do povo” (tendo os operários ingleses 
sob análise, Marx soube que alguns consumiam uma substância 
alucinógena produzida, a partir do ópio, um vegetal oriental, para 
superar dificuldades impostas por rigorosas condições de trabalho). 
Portanto, a apresentação de ideologia, na visão marxista, permitia, 
por exemplo, questionar a ideia de que “a liberdade era para todos”. 
Para todos? Marx acreditava que não, afinal, com mais dinheiro, a 
independência era maior, ao contrário do que aconteceria àquele 
com menos dinheiro, mais dependentes, portanto. 
Não menos interessantes, as palavras de Marx sobre ordem e 
rebelião, dentro do estudo de ideologia, questionavam, exatamente, 
os seus significados. Que ordem seria praticada, na Alemanha do 
século XIX? Fome e desigualdade constituíam ordem? E quanto 
à rebelião? Seria ela sempre ruim? Como ser ruim, com objetivo 
nobre, como o de restituir direitos retirados dos mais pobres, dos 
dominados? Na ótica marxista, mais dominação significa mais 
ideologia.
Assimile
A ideologia marxista (materialismo dialético) é um conjunto de proposições 
e ideias elaborado pela sociedade burguesa. Esse conjunto tem finalidade 
de fazer aparentar os interesses da classe dominante com o interesse 
coletivo, construindo uma hegemonia daquela classe, o que permitia 
a manutenção da ordem social, com menor uso de força. Ou seja, a 
ideologia, na visão marxista, acabava por mascarar a realidade, por meio 
de um conjunto de ideias disseminadas pelos burgueses, para que eles se 
mantivessem como classe hegemônica.
Quando falamos em ideologia, não podemos nos esquecer de 
Hegel. Ele morreu quando Marx tinha apenas 13 anos, mas sua obra 
alcançou a construção e a maturidade intelectual do mais jovem. 
Você não deverá esperar que, por considerar ideias de Hegel, Marx 
as endosse plenamente, pois, de fato, isso não se verifica. Hegel é 
apresentado como idealista (daí a conhecida expressão “idealismo 
hegeliano”), em oposição frontal ao materialismo de Marx. 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx34
Pesquise mais
Hegel e Marx têm merecido muitas horas e muitos volumes de atenção. 
O materialismo histórico de Marx não é difícil de ser compreendido 
e a literatura é farta. Hegel, por sua vez, é tema mais complexo e, 
estranhamente, menos privilegiado pelo volume de literatura disponível. 
Estudar o idealismo hegeliano, portanto, exige atenção diferenciada. Nos 
textos indicados, você encontrará valioso apoio para prosseguir em seus 
estudos. 
RODRIGUES, Lucas de Oliveira. Materialismo histórico. Brasil Escola. 
Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/materialismo-
historico.htm> Acesso em: 27 set. 2017.
LOBO, Saulo Maurício Silva. Racionalismo moderno e fé. Brasil Escola. 
Disponível em <http://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/
racionalismo-moderno-fe.htm> Acesso em: 27 set. 2017.
O primeiro (Hegel) concluiu que a ideia forma o mundo, a matéria, 
ou seja, tudo o que é feito, desde uma casa até um utensílio, tem 
origem em ideias. Qualquer ideia (chamada de tese) tem sempre 
um pensamento contrário (chamado de antítese). Segundo Hegel, 
após o debate dessas formas de se pensar sobre algo (ou seja, tese 
versus antítese), o indivíduo seria levado a uma conclusão sobre 
o assunto (chamada de síntese). Essa conclusão sobre o assunto 
(síntese), em algum momento, seria a ideia (tese) de uma nova 
discussão, reiniciando o ciclo de debates no mundo das ideias 
(isso é o idealismo Hegeliano). Já Marx relaciona mundo e ideias 
no sentido inverso, ou seja, do mundo, das experiências (da práxis) 
advirão as conclusões, as novas teorias etc. Esse antagonismo, aliás, 
não é inédito. Dois mil anos antes, Platão defendia o mundo das 
ideias como origem de tudo à nossa volta, enquanto Aristóteles, 
seu discípulo, defendia a atividade, a prática transformadora, a 
práxis, como a grande responsável pelas realizações humanas. Marx 
apoiava suas afirmações na história e reconhecia a dialética dos 
gregos clássicos. Isto é, o debate entre contrários, sem a intenção de 
vencer e querendo construir a partir da diferença, como a maneira 
adequada de interpretar e solucionar questões sociais, políticas e 
econômicas. Assim, a dialética (a arte de debater) marxista identifica 
a burguesia como tese, o proletariado como antítese e o comunismo 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 35
como a síntese, pois seria a superação do grande desafio (as lutas de 
classes) pela reunificação da sociedade, extinguindo-se as classes 
sociais. 
Exemplificando
Como exemplo de idealismo Hegeliano podemos dizer que, na Idade 
Média, o sistema de produção era o feudalismo. Os atores eram: os 
servos, que trabalhavam pela subsistência e o senhor das terras, que eram 
os beneficiários do trabalho no campo. A dialética, nesse caso, encontra 
a tese no senhor da terra, a antítese no servo e a síntese na relação entre 
eles, isto é, o feudalismo.
Mas, como usar essa dialética no mundo estudado por Marx? O 
proprietário dos meios de produção (ou seja,os empresários), pela 
exploração da mão de obra (ou seja, dos trabalhadores), consegue 
mover o trabalho, de uma positiva condição de realização (e até 
de humanização) para outra de mera ação pela sobrevivência, 
sem prazer, distante da cooperação e, muitas vezes, causadora 
de sofrimento. Você tem, aqui, o resultado de um processo de 
alienação, mais um problema do modelo capitalista, segundo Marx, 
mais uma vez apoiado em letras de Hegel. Como resultado desse 
processo, o trabalhador não mais se reconhece como produtor do 
bem, mas como participante de um trabalho fragmentado, muitas 
vezes limitado diante de sua real capacidade. 
Assimile
Em busca de maiores lucros, as empresas (os proprietários dos meios 
de produção) foram ampliando a divisão do trabalho, que aumentava a 
produtividade dos trabalhadores. Com a intensa divisão do trabalho, o 
trabalhador deixou de dominar todas as etapas de fabricação de uma 
mercadoria. Dessa forma, seu esforço laboral deixou de ser algo que 
estimulasse sua criatividade e seu raciocínio, tornando-se algo mecânico. 
Isso fez com que com o trabalhador deixasse de se reconhecer no 
processo de produção de um produto. Assim, quando o homem perdeu 
o controle do seu trabalho, ele entrou em um processo que conduziu a 
sociedade a uma ordem social alienada, com desigualdade crescente e 
antagonismo social.
U1 - Contexto histórico da obra de Marx36
Muito ligado ao termo alienação, temos outro conceito chave 
na obra marxiana: o fetichismo da mercadoria. Você sabe o que ele 
significa? A partir do termo francês fétiche (feitiço, em português), 
já utilizado por portugueses (grafado fetiche) nos séculos XVI e XVII, 
ele veio a ser utilizado por Marx em referência ao poder atribuído 
à mercadoria de ocultar a carga social do trabalho dispendido 
em sua produção. O encanto pela mercadoria seria capaz de 
fazer com que seus demandantes (pessoas que queriam comprá-
la) ignorassem o custo social imposto pelo processo produtivo 
implementado. Assim, prejuízos ambientais de toda ordem e danos 
à saúde dos trabalhadores envolvidos passam a ficar totalmente 
fora do interesse de uma pessoa que quer uma mercadoria. Hoje 
em dia, por exemplo, o apelo de ter, de ostentar e, muitas vezes, 
de colecionar, é capaz de levar multidões a enfrentar intempéries 
e longas permanências em filas, para obter um telefone celular ou 
outro bem de marcas famosas, sem qualquer interesse em eventuais 
danos, de quaisquer naturezas, causados durante a produção do 
item. Ou seja, o fetichismo da mercadoria se caracteriza pelo fato 
dos produtos ocultarem, dentro do sistema capitalista, as relações 
sociais de exploração do trabalho.
Exemplificando
O trailer do filme The True Cost retrata o conceito de fetichismo da 
mercadoria, por meio da demonstração das péssimas condições de 
trabalho oferecidas a trabalhadores da indústria da moda. 
FASHIONREVOLUTION Brasil. The True Cost Official Trailer 
(Legendado Português). Disponível em: < https://www.youtube.com/
watch?v=DjncKUmpOZk>. Acesso em: 19 set. 2017. 
Pesquise mais
O vídeo O Fetiche da Mercadoria contém boa representação da ocultação 
do caráter social do trabalho, descrita por Marx. Agressão ambiental 
(desmatamento, poluição do ar, de rios, etc.) e tratamento humano 
reprovável ignorados, em nome da admiração pelo produto resultante do 
agressivo processo. Para conhecê-lo, pesquise mais em:
STÉLLIO VISSARIONOVICH. O fetiche da mercadoria. Disponível em 
<https://www.youtube.com/watch?v=wHcT0l-QcSA&t=132s>. Acesso 
em: 19 set. 2017.
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 37
Você percebe como os conceitos negativos vão minando, 
deteriorando, progressiva e intensamente os sentimentos de Marx 
em relação ao modelo capitalista? Isso acaba levando Marx a 
concluir que a alienação seria exterminada com a implantação do 
comunismo, isto é, em uma sociedade sem classes, não haveria 
dominantes e dominados. Antes, porém, o capitalismo deveria dar 
lugar ao socialismo. Aliás, “dar lugar” não é a melhor expressão a 
ser usada aqui. O mais correto, sob a visão revolucionária de Marx, 
seria dizer que o capitalismo deveria “perder” seu lugar para o 
socialismo, pois, no mundo marxista, não havia a possibilidade de 
que os mais ricos compreendessem os mais pobres, para ajudá-los 
em suas necessidades. Uma tomada de consciência nesse sentido 
era considerada uma plena impossibilidade. Dessa forma, a única 
maneira de que dispunham os trabalhadores para conquistarem as 
pretendidas melhores condições, seria sua imposição pela força, ou 
seja, não haveria vitória sem a revolução.
Marx se refere à “classe revolucionária” em diversas épocas. Na 
antiguidade grega, havia os escravos e seus proprietários; para os 
romanos não foi diferente; no mundo feudal, os donos da terra e 
os camponeses que nela trabalhavam em troca da sobrevivência; 
aristocratas e burgueses se enfrentariam pelo poder político; 
burgueses e trabalhadores – os proletários, para Marx – seriam 
opositores, já no século XIX; mais dois séculos chegariam e o embate 
entre opressores e oprimidos permaneceria ativo, como vemos em 
nossos dias, com nomes atualizados batizando as classes, mas o 
antagonismo entre classes sociais, entre dominadores e dominados, 
esteve e está vivo. Marx observou e registrou isso, em seu tempo, 
pelo que afirmou serem as lutas de classes “o motor da história”, 
ideia claramente apresentada nas páginas iniciais do Manifesto 
Comunista, que você conhecerá mais à frente. Já em seu parágrafo 
inicial, o Manifesto diz que a história de todas as sociedades que 
existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes.
Reflita
Decorridos quase duzentos anos da criação da frase que relaciona história 
da humanidade com lutas de classes, quais suas impressões sobre isso? 
Para você, essa ideia permanece válida ou não?
U1 - Contexto histórico da obra de Marx38
Desde 1847, a França e outras nações centrais e orientais da Europa 
enfrentavam diversos focos de levantes antimonárquicos, alguns 
com traços socialistas. Muitos destes viriam a se consolidar, a partir 
de fevereiro de 1848, em uma série de movimentos revolucionários 
registrados pela história como aPrimavera dos Povos. Naquele mesmo 
mês/ano, em Londres, Karl Marx, aos 30 anos, e Friedrich Engels, aos 
28, viram publicado o seu inédito Manifesto do Partido Comunista, 
também conhecido como Manifesto Comunista. Elaborado por 
encomenda da Liga dos Comunistas, ex-Liga dos Proscritos e ex-Liga 
dos Justos, no contexto de um congresso ocorrido em novembro 
de 1847, era um livreto de aproximadamente 20 páginas, escrito em 
alemão. Depois, foi traduzido para outros idiomas, tornando-se um 
dos mais poderosos e notórios documentos políticos.
 Qual teria sido a influência do Manifesto nessas ou em algumas 
dessas revoluções na França e em outras nações centrais e orientais 
da Europa? A resposta é: nenhuma. Os movimentos já eram iminentes 
quando o texto foi entregue pelos autores. Os efeitos do documento 
seriam profundos, mas não naquele momento.
O texto do Manifesto Comunista foi organizado em partes (I a 
IV), precedidas por breve e eficaz Introdução, que, em linguagem 
simples, — afinal, seus leitores seriam pouco escolarizados —, trazia 
mensagens fortes e, sobretudo, de alto poder mobilizador. 
Pesquise mais
O Manifesto do Partido Comunista tem importância histórica ímpar, 
sendo um conhecimento obrigatório para os interessados em política. 
Extremamente rico, merece leitura atenta, seguida de reflexão sobre 
seus tópicos. Você perceberá, muito rapidamente, a importância do 
documento para que você compreenda, ainda melhor, muito do que 
estudou até aqui. 
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0103-40141998000300002>. Acessoem: 28 set. 2017.
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 39
Esse manifesto é leitura obrigatória, independentemente de 
preferências político-partidárias, para todos os interessados em 
eventos sociais e políticos, relevantes para a história. Convido 
você a fazer essa leitura, ao menos por duas vezes, considerando, 
necessariamente, o perfil do operariado inglês, francês, alemão e de 
outras vnacionalidades, à época. 
O propósito de internacionalização do movimento revolucionário 
fica claro no encerramento do texto, com sentença que, de fato, 
ganhou o mundo: "Proletários de todos os países, uni-vos!".
Sem medo de errar
Olá, aluno! Conseguiu entender os conceitos apresentados nesta 
seção 1.2? Espero que sim, pois eles vão nos ajudar a entender de 
que forma os estudos de Sofia estão alinhados com o pensamento 
marxista. Você se lembra do caso?
A professora Sofia estava lendo os resultados de uma pesquisa 
do IBGE, denominada “Acesso à Internet e à Televisão e Posse de 
Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal 2015”. Ao longo da leitura, 
ela lembrou de alguns princípios da teoria de Marx. Que aspecto 
do pensamento marxista estaria sob a atenção de Sofia? Que 
importância teriam para ela dados referentes a 2015, passado tanto 
tempo, portanto, da época em que o próprio Marx defendeu seus 
pontos de vista?
Você já teve oportunidade de responder (ou ver algum familiar 
seu responder) a questões como: quantos aparelhos de TV há 
na sua casa?; e quantos aparelhos de telefone celular há no seu 
endereço residencial? Perguntas como essa, são por entrevistadores 
a serviço de agências de pesquisa, por sua vez contratadas por 
empresa interessada em lançar novo produto (muitas vezes um 
eletrodoméstico para cozinha, um automóvel, um modelo de 
telefone celular ou de computador pessoal). Estas perguntas 
têmprincipal: conhecer o potencial de consumo do novo produto, 
a renda de sua família, sua classe social, etc. Opa, alguém falou em 
classes sociais? Sim! Ela mostra a sociedade dividida em categorias, 
segundo as diversas possibilidades de acesso a bens de consumo 
mais caros ou mais baratos, atividades de lazer mais ou menos 
sofisticadas, serviços mais essenciais ou mais supérfluos. 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx40
Bem, esta era uma das maiores preocupações de Karl Marx. É 
pouco provável que você não tenha notado que sua família tem 
acesso a algumas facilidades inatingíveis para outras famílias; 
da mesma forma, deve haver alguns bens e serviços por você 
conhecidos, mas fora de seu alcance, por questões econômicas. 
Para Marx, esse distanciamento entre pessoas de uma mesma 
sociedade, a partir de maior ou menor possibilidade de “ter”, tenderia 
a ser cada vez maior, mais cruel e só poderia ser eliminado a partir 
de ação revolucionária dos mais pobres. A luta de classes é, sem 
dúvidas, um pilar do pensamento marxista. Por isso, com os dados 
tratados pelo IBGE e referentes a 2015, Sofia estaria constatando, 
mais uma vez, a estratificação da sociedade brasileira em classes 
sociais (assim como o pensamento de Marx). 
Será verdadeiro no caso brasileiro, que ao pobre cabe ser cada 
vez mais pobre, enquanto o rico se torna ainda mais rico?
Avançando na prática 
A poderosa mercadoria
Descrição da situação-problema
Leopoldo fazia arrumação periódica em seu armário de roupas. 
Cuidadoso com sua apresentação pessoal, possui roupas, calçados 
e acessórios de diversas marcas famosas. Manuseando essas peças, 
por força de sua tarefa, lembrou-se de diversas reportagens sobre 
condições desumanas, enfrentadas por trabalhadores de algumas 
empresas de confecções, para a elaboração de peças semelhantes 
às suas.
Você poderia auxiliar Leopoldo a relacionar o episódio da 
moderna e famosa indústria de vestuário com a base do pensamento 
de Karl Marx? Quais seriam suas sugestões para fundamentar essa 
relação?
Resolução da situação-problema
A mercadoria está na base do capitalismo, segundo o pensamento 
de Marx. Nessa condição, ou por essa condição, ela tem um enorme 
potencial de influência sobre o comportamento humano. Na visão 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 41
marxiana, a mercadoria tem o poder de relegar o caráter social do 
trabalho a uma posição de menor importância. Para o consumidor 
do produto, adorador da marca, o que importa é ter os produtos.
Leopoldo passou por algum desconforto ao considerar que, 
independentemente do turbilhão de notícias sobre desumanas 
condições de trabalho impostas aos colaboradores da empresa cuja 
marca estava presente em seu armário, ele continuou a adquirir os 
itens, sem se dar conta disso. O fetichismo da mercadoria, objeto 
da observação (e reprovação) de Marx fizera mais uma vítima, quase 
150 anos após sua descrição pelo filósofo alemão. 
Faça valer a pena
1. O cantor e compositor Cazuza, falecido em 1990, deixou uma lacuna 
na música brasileira. Em um de seus sucessos, o refrão traz: “Ideologia, 
eu quero uma prá [sic] viver! ” O contexto da música é de sofrimento, 
frustração política e saúde fragilizada. Por isso, o cantor pede um motivo 
para viver, uma ideologia. Em contexto da obra de Karl Marx, essa situação 
(a de desejar uma ideologia que estimulasse o viver) seria inconcebível. 
Considerando fundamentos do pensamento marxista, assinale a única 
explicação correta:
a) Uma nova ideologia devolveria a Cazuza sua vontade de viver, 
construindo suas próprias verdades, o que, no contexto de Marx, seria 
perfeito. 
b) Em contexto marxista, a ideologia seria apoio importante, por implicar 
maior e real consciência a quem a segue. 
c) Da mesma forma que Marx, Cazuza via na ideologia somente um 
conjunto de ideias, um ideário libertador naqueles momentos difíceis.
d) Marx via na ideologia um meio de controle de um grupo por outro, a 
partir de verdades deliberadamente distorcidas.
e) Cazuza procurava razão para viver, por isso buscava uma ideologia. 
Segundo Marx, seria um caminho libertador para o doente e amigos que o 
acompanhassem na “nova” ideologia. 
2. Em sua crítica ao capitalismo, Marx se sensibiliza com a relação opressor-
oprimido, mais atento ao oprimido, sempre o mais fraco. O trabalho tem 
valor extraordinário na vida humana. Ele realiza, ele permite o acesso a 
conquistas materiais, ele é agregador. Quando esses sentimentos não 
advêm do trabalho, este passa a ser motivo de sofrimento, para muitos.
A única alternativa em que você encontra a caracterização de um problema, 
decorrente da produção em escala e da ampliação da divisão do trabalho, 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx42
sobre o moral do trabalhador é: 
a) O trabalhador se realiza menos no trabalho, sem chegar a ser escravizado 
por ele.
b) O trabalhador não reconhece o produto como sendo um resultado de 
seu trabalho.
c) O trabalhador aumenta sua percepção de participação no processo 
produtivo.
d) O homem sente-se incapaz de mudar e passa a ser lento em sua 
mutação, como percebido por Engels. 
e) O empregado é levado a desejar o bem que produz, por meio do 
encantamento pelo produto. 
3. O Manifesto Comunista é um marco na história da política. Certamente, 
conquistou seu lugar glorioso na galeria da história. Redigido em um 
momento de enorme turbulência social, não chegou a produzir efeitos 
imediatos, pois regiões da Europa já estavam prestes a explodir em 
revoluções e guerras civis, como ocorreu.
O Manifesto Comunista é um documento que possui como características:
a) Ter discurso moderado e presumida rejeição regional.
b) Ter discurso incisivo e presumida rejeição regional.
c) Ter discurso incisivo e presumida aceitação internacional.
d) Ter discurso moderado e presumida rejeição internacional.
e) Ter discurso revolucionário e pretendida aceitação, exclusivamente, 
regional. 
U1 - Contexto histórico da obra de Marx 43
Seção 1.3
Difusão do Marxismo

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