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Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 1 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MARANHÃO – IFMA CAMPUS SÃO LUÍS MONTE CASTELO DIRETORIA DE ENSINO SUPERIOR DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE QUÍMICA – DAQ Universidade Aberta do Brasil (UAB-EAD) QUÍMICA ORGÂNICA I Organização: Prof.º Dr. Fernando José Costa Carneiro São Luís 2011 Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 2 SUMÀRIO 1. Introdução à química orgânica................................................................................... 5 1.1. Introdução. ....................................................................................... ......................... 5 1.2. Histórico..................................................................................................................... 7 1.3. Principais Objetivos da Química Orgânica...................................... ......................... 8 1.4. Importância da Química Orgânica. .................................................. ......................... 8 1.5. Formação de Compostos Orgânicos. ............................................... ......................... 9 1.6. Classificação do carbono. ................................................................ ......................... 9 1.7. Divisões da Química Orgânica. ....................................................... ....................... 10 2. Teoria estrutural da química orgânica. .................................................................... 12 2.1. Ligações covalentes mais simples ........................................................................... 12 2.2. Orbitais atômicos e moleculares. ..................................................... ....................... 13 2.3. A regra do octeto.............................................................................. ....................... 15 2.4. Geometria molecular........................................................................ ....................... 15 2.5. Formas espaciais moleculares.......................................................... ....................... 16 2.6. Efeito dos elétrons não ligantes nos ângulos de ligação.................. ....................... 17 2.7. O conceito de hibridização .............................................................. ....................... 18 2.8. Orbitais híbridas: sp3........................................................................ ....................... 18 2.9. Orbitais híbridas: sp2........................................................................ ....................... 19 2.10.Orbitais híbridos: sp........................................................................ ....................... 19 2.11.Ligações π deslocalizadas. .............................................................. ....................... 20 3.1. Escrevendo as estruturas de Lewis .................................................. ....................... 22 3.2. Carga formal. ................................................................................... ....................... 24 3.3. Ligações covalentes polares............................................................. ....................... 25 3.4. Forças intermoleculares. .................................................................. ....................... 27 3.4.1.Dipolo-dipolo......................................................................................................... 27 3.4.2.Ligações de hidrogênio. ....................................................................................... 27 3.4.3.Forças de Van der Waals (London ou de dispersão). ............................................ 28 3.5. Estrutura e propriedades físicas. ...................................................... ....................... 29 3.6. Ponto de fusão. ...................................................................................................... 29 3.7. Ponto de ebulição. ................................................................................................. 30 3.8. Solubilidade. .................................................................................... ....................... 31 3.8.1.Solutos não iônicos. ............................................................................................... 31 Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 3 3.8.2.Solutos iônicos; solventes próticos e apróticos. Pares iônicos. ............................. 32 3.9. Efeitos eletrônicos. Efeitos polares.................................................. ....................... 33 3.9.1.Efeito indutivo: ...................................................................................................... 34 3.9.2.Efeito de ressonância:. ........................................................................................... 34 3.9.3.O papel dos pares não compartilhados................................................................... 37 4. Força das bases e dos ácidos orgânicos. .................................................................. 40 4.1. Ionização. Constante de acidez........................................................ ....................... 40 4.2. Ácidos e bases.................................................................................. ....................... 40 4.3. Álcoois como ácidos ou bases. ........................................................ ....................... 44 4.4. A acidez dos alcinos ........................................................................ ....................... 45 4.5. Acidez dos ácidos carboxílicos........................................................ ....................... 45 4.6. Efeito dos substituintes sobre a acidez. ................................................................. 46 4.7. Acidez dos hidrogênios α................................................................. ....................... 47 4.8. Basicidade das aminas. Constante de basicidade..................................................... 48 4.8.1.Estrutura e basicidade. ........................................................................................... 48 5. Estereoquímica......................................................................................................... 50 5.1. Introdução. ....................................................................................... ....................... 50 5.2. Atividade ótica. Luz polarizada em plano. ...................................... .......................51 5.3. Polarímetro....................................................................................... ....................... 51 5.4. Rotação específica. .......................................................................... ....................... 52 5.5. Enantiomeria e carbono tetraédrico. ................................................ ....................... 52 5.6. Previsão de enantiomeria. Quiralidade. ........................................... ....................... 52 5.7. O centro quiral. ................................................................................ ....................... 52 5.8. Testes de quiralidade: Planos de simetria. ....................................... ....................... 53 5.10.Configuração (R e S). ..................................................................... ....................... 55 5.11.Diastereômeros. .............................................................................. ....................... 56 5.12.Estruturas mesógiras. ...................................................................... ....................... 57 5.13.Designação da configuração: mais de um centro quiral. ................ .......................57 5.14.A síntese de moléculas quirais........................................................ ....................... 58 5.15.Esteroisomerismo de cíclicos.......................................................... ....................... 58 5.16.Resolução............................................................................................................... 59 5.17..... Compostos com centros estereogênicos diferentes do Carbono. ....................... 59 5.18.Moléculas quirais que não possuem um átomo tetraédrico assimétrico. .........................................................................................60 Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 4 5.19.Quiralidade na natureza. ................................................................. ....................... 60 6. Comportamento e mecanismo das reações fundamentais da química orgânica. ............................................................................................................ 62 6.1. Energia de dissociação das ligações. Homólise e heterólise. .......... ....................... 62 6.2. Tipos de reações orgânicas. ............................................................. ....................... 63 6.2.1.Substituição............................................................................................................ 63 6.2.2.Adição. ................................................................................................................... 63 6.2.3.Eliminação. ............................................................................................................ 63 6.2.4.Rearranjo................................................................................................................ 63 6.3. Mecanismos de reação. .................................................................... ....................... 63 6.3.1.Carbocátions. ......................................................................................................... 64 6.3.2.Carbânions. ............................................................................................................ 64 7. Introdução à cinética de reações. ............................................................................. 66 7.1. Efeitos da concentração. .................................................................. ....................... 66 7.2. Mecanismo de reação....................................................................... ....................... 66 7.4. Velocidades de reações em solução................................................. ....................... 69 7.5. Teoria do estado de transição........................................................... ....................... 69 7.6. Catálise............................................................................................. ....................... 70 8. Bibliografia consultada. ........................................................................................... 71 Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 5 1. Introdução à química orgânica 1.1. Introdução. Quando alguém fala em Química, qual a imagem que aparece para a maioria das pessoas? Esta? Ou estas? (a) (b) (b) A química geralmente é taxada como vilã pela maioria das pessoas. Seja por desconhecimento, seja por propagandas equivocadas ou por estereótipos criados ao longo do tempo. Reflita: Existe algum produto sem química??? . Figura 3. Produto sem química. Fonte: http://images03.olx.com.br/ui/9/56/54/128779228 2_126725254_1-Fotos-de--Escova-Carioca-sem- formol-e-sem-quimica-Frete-Gratis- 1287792282.jpg Figura 4. Reflexão. Fonte: http://blog.comunidades.net/galeria/lyne_anjinha126084122 Figura 2: (a) Criação da vida. Fonte: http://img137.imageshack.us/img137/6236/ventrematernovm5.jpg. (b) Avanços da medicina. Fonte: veja.abril.com.br/.../imagens/carta_leitor1.jpg Figura 1: Bomba H. Fonte: http://outrapolitica.files.wordpress.com/2010/08/bomba-h.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 6 Porém, o que é pouco divulgada é a sua função primordial em nossas vidas, seja como produtora de remédios, de utensílios para o nosso dia, bem como responsável pelas nossas ações físicas, pois são das reações químicas que tiramos força para nos locomover. Até de nossos amores e ódios, pois eles nada mais são que reações químicas comandadas por compostos orgânicos como a adrenalina e noradrenalina. Manifestação Conceito Substância mais associada Luxúria Desejo ardente por sexo Testosterona (aumento da libido – desejo sexual) Atração Amor no estágio de euforia, envolvimento emocional e romance Altos níveis de dopamina e norepinefrina (noradrenalina): ligadas à inconstância, exaltação, euforia, e a falta de sono e de apetite. Baixos níveis de serotonina: tendo em vista a ação da serotonina na diminuição de fatores liberadores de gonadotrofinas pela hipófise, quanto mais serotonina menos hormônio sexual. Ligação Atração que evolui para uma relação calma, duradoura e segura. Ocitocina (associada ao aumento do desejo sexual, orgasmo e bem-estar geral) e vasopressina (ADH), associada à regulação cardiovascular, atuando no controle da pressão sangüínea. A disciplina de Química Orgânica tem como princípio fundamental o estudo dos compostos orgânicos. Estes compostos são os responsáveis diretos pela nossa existência e sobrevivência no mundo. Esta disciplina tem como objetivo estudar as classes de compostos orgânicos, suas propriedades físicas e químicas, bem como traçar uma correlação destes compostos com o mundo em que vivemos e fazer com que os alunos, futuros professores, possam passar a entender a Química Orgânica como ela é, como a ciência da origem e manutenção da vida e não da destruição dela. Tabela 1. Paixão X Tempo. Fonte: http://www.afh.bio.br/especial/paixao.asp Figura 5. Paixão Fonte: http://1.bp.blogspot.co m/_l92GJGBs8hI/TPu WKIlTWqI/AAAAAA AAAu0/saZ_g_JLD1I/s 1600/domingo_da_paix ao.gif Figura 6. Polinização. Fonte: http://www.mundoeducaca o.com.br/upload/conteudo_ legenda/19e097d16d11c42 7659e7355ee091df7.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 7 1.2. Histórico Química orgânica é responsável pela origem da vida. Todo ser vivo apresenta em sua composição compostos orgânicos que são responsáveis pela manutenção da vida. Um dos primeiros usos da química orgânica data do uso do fogo pelo homem pré-histórico. Foi a primeira reação orgânica de que se teve notícia. Os Gregos usavam o composto orgânico índigo para tingir roupas. Os Fenícios usavam o “violeta real”, isolado de moluscos, para o mesmo fim. Na bíblia já havia relatos de fermentação de uvas. A Química orgânica como ciência é relativamente nova, tem aproximadamente 200 anos. Seu início data do século XIX. Em 1780 havia uma distinção entre compostos orgânicos e inorgânicos que dizia que compostos orgânicos eram aqueles exclusivamente isolados de organismos vivos, e inorgânicos eram aqueles que provinham de fontes não vivas. Com isso surgiu a teoria do “vitalismo”. Berzelius: Teoria da força vital (Vitalismo). Nos organismos vivos, há uma força especial indispensável à síntese dos compostos orgânicos. Por isso, esses compostos não podem ser sintetizados fora dos organismos vivos (in vitro). Porém em 1828 Friedrich Wohler sintetizou a uréia (composto orgânico) de cianato de amônio (composto inorgânico) dando fim à teoria do vitalismo. Berthelot: Sintetiza muitos compostos orgânicos em laboratório e "enterra" de forma definitiva a teoria da força vital. PESQUISAR: Alimento orgânico, Vitaminaorgânica, Fertilizante orgânico, Vitamina C pura sintética é menos saudável que a Vitamina C pura natural? O que é Química de Produtos Naturais? Figura 7. Uso do fogo Fonte: http://www.prof2000.pt/users/secjeste/MuseuS ecJE/BD/pict02.jpg Figura 8. Índigo: http://www.espacodosol. com/images/Indigo1.jpg Figura 9. Berzelius, Wohler e Berthelot.: Fonte: http://christinasoldan.file s.wordpress.com/2009/11 /jons_jakob_berzelius3.jp Figura 10. Reflexão.: Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_isT5TgigmKg/TCyCjqZLDpI/AAAAAAAAAdY/OfyDB591IQ0/s1600/reflex%C 3%A3o.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 8 Nos séculos XVIII e XIX houve um grande avanço nos métodos qualitativos e quantitativos para analisar as substâncias orgânicas. Em 1784 Antoine Lavoisier confirmou que a maioria dos compostos orgânicos é constituída de C, H e O. Entre 1858 e 1861 três pesquisadores; Kekulé, Couper e Butlerov propuseram a “Teoria Estrutural da Química Orgânica”. Química Orgânica: Química dos compostos de carbono. Compostos orgânicos podem ser sintetizados. Podem-se sintetizar compostos orgânicos partindo-se de inorgânicos (carbonatos e cianetos). Os compostos de carbono são extremamente numerosos e as respectivas moléculas podem atingir grandes dimensões e extraordinária complexidade. 1.3. Principais Objetivos da Química Orgânica. Identificação das reações de formação dos compostos. Estudo do modo como elas se produzem. Determinação das suas aplicações na síntese de compostos. 1.4. Importância da Química Orgânica. É a química dos corantes e produtos farmacêuticos, do papel e da tinta de escrever, das tintas, vernizes e plásticos, da gasolina e da borracha, dos produtos com que nos alimentamos e do nosso vestuário. Fundamental para a farmácia, biologia e para a medicina. Figura 10. Lavoisier Kekulé, Couper e Butlerov.: Fonte: http://en.wikipedia.org/w iki Figura 11. Compostos orgânicos complexos Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bc/Palitoxina.JPG/300px- Palitoxina.JPG Figura 11. Remédios: Fonte: http://2.bp.blogspot.com/ _g8NgZNSACwI/S6WK W3SbCnI/AAAAAAAA Bfc/qFJ6_IK- Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 9 Excluída a água, os organismos vivos estão formados principalmente por compostos orgânicos. As moléculas da “biologia molecular” são moléculas orgânicas. Os processos biológicos são, em última análise, uma questão de química orgânica. 1.5. Formação de Compostos Orgânicos. Os átomos podem ligar-se uns aos outros, numa extensão sem par entre átomos de qualquer elemento. Os átomos de carbono podem formar cadeias com milhares de átomos, ou anéis de qualquer tamanho. Tantos as cadeias, como os anéis se podem ramificar e ligar uns aos outros. Os átomos de carbono podem ligar-se a outros átomos: hidrogênio, flúor, cloro, bromo, iodo, oxigênio, enxofre, fósforo, cobre, magnésio, etc. Cada arranjo diferente de átomos corresponde a um composto diferente e cada composto apresenta seu conjunto, característico, de propriedades físicas e químicas. Propriedade típica do carbono: formação de cadeias. 1.6. Classificação do carbono. Podem ser classificados de acordo com o número de outros átomos de carbono ligado a ele na cadeia. Figura 12. Compostos da biologia molecular: Fonte: http://www.porquebiotec nologia.com.ar/educacion /cuaderno/img_c32/03.gif Figura 13. Clorofilas C1 e C2.: Fonte: http://www.jornalcaicara. com.br/clorofila.jpg Tabela 2. Classificação dos átomos de Carbono. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 10 1.7. Divisões da Química Orgânica. • �Análise orgânica: detecção de produtos naturais, presentes por vezes em quantidades ínfimas, como por exemplo, o taxol. • �Síntese orgânica: imitar a natureza e produzir quantidades úteis de produtos naturais raros, assim como de compostos de interesse puramente acadêmico. • �Mecanismos de reações: permite descobrir novas reações, novas sínteses e degradações, relacionar a estrutura com a reatividade dos compostos orgânicos. A grande maioria dos compostos orgânicos deriva do petróleo. ("O petróleo é demasiado valioso para ser queimado." Carlos Corrêa). Os diferentes compostos orgânicos apresentam similaridades que tornam possível agrupá-los em famílias. A cada família corresponde um grupo característico de átomos que é em grande parte responsável pelo comportamento característico desses compostos. Os compostos orgânicos podem assim ser considerados derivados dos hidrocarbonetos por substituição de átomos de hidrogênio por outros átomos ou grupos de átomos. Por exemplo, os compostos com o grupo carboxila são ácidos, sofrem protólise, reagem com bases formando sais, com halogenetos de fósforo formando halogenetos de acila, etc. Figura 14. HPLC Fonte: http://www.jic.ac.uk/serv ices/metabolomics/image s/hplc_1.jpg Figura 15. Mecanismo de reação. Fonte: http://www.agracadaqui mica.com.br/imagens/arti gos/hidrolise_do_aas.gif/i mages/hplc_1.jpg Tabela 3. Ácidos carboxílicos. Fonte: http://www.prof2000.pt/users/afolhas/acido_carb2.jpg. Tarefa: Procurar anúncios de jornais ou revistas que falem da Química como algo ruim e fazer uma análise deste texto apontando os erros de interpretação dos mesmos. Figura 16. Reflexão. Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_Dlu tXAlK2TY/SwGxz8Xq6bI/A AAAAAAABvU/D626yXsW VBs/s320/macaco_refletindo1 2.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 11 Capítulo 2 Teoria estrutural da Química Orgânica Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 12 2. Teoria estrutural da química orgânica. Para começar a entender a Química Orgânica devemos iniciar pelo estudo do átomo de Carbono e tentar entender como ele pode ser tão versátil em formar os mais variados compostos com as mais variadas formas e tamanho. O que o torna tão versátil assim é a sua valência. Valência: Medida da capacidade de um átomo de formar ligações. Ex: C O H Tetravalente Divalente Monovalente (Forma 4 ligações) (Forma 2 ligações) (Forma 1 ligação) Como pudemos observar cada átomo tem a sua valência. O carbono, por exemplo, pode usar uma ou mais valências para formar ligações. Os tipos de ligações que podem ser formados por ele também são diferentes. Ele pode formar ligações simples, duplas ou triplas. Ex: CH3 C H2 C H2 C H2 C H2 CH3 CH3 C H C H C H2 C H2 CH3 CH3 CH2 CH2 CH3 Ligação simples Ligação dupla Ligação tripla 2.1. Ligações covalentes mais simples Os elétrons que participam da ligação (valência) são chamados de elétrons de Valência. A formação e a estabilidade de moléculas simétricas (H2, Cl2, etc) estão associadas a uma participação igual de elétrons de valência. Esta participação igual (compartilhamento) dá origem à ligação covalente. O elétron se distribui, simetricamente, em torno dos dois núcleos na molécula. Este local onde ele se movimenta é conhecido como orbital e como o orbital pertence a uma dada molécula ele é chamado de orbital molecular. Valência? O que vem a ser isso? Figura 1. Molécula de gás Cloro Fonte: polaridade- quimica.blogspot.com Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 13 Conseqüentemente, dizemos que o elétron se movimenta num orbital molecular, e pertence à molécula como um todo, mais do que a qualquer dos núcleos. Na ligação covalente um elétron é "dividido" entre dois núcleos. Em conseqüência, a energia potencial do sistema, também conhecida como energia armazenada,está no seu nível mais baixo (mais negativo) quando o elétron está muito perto do núcleo ou quando está numa região relativamente perto de ambos os núcleos ao mesmo tempo. Isto acontece quando um elétron ocupa um orbital molecular ligante, mas não ocorre quando o elétron entra num orbital antiligante. A existência da ligação covalente tem sido comumente associada à co-partilha de dois elétrons, cujos spins são opostos ou emparelhados. Para átomos, o Princípio de Exclusão afirma que dois elétrons não podem ter o mesmo conjunto de números quânticos e isto significa que dois elétrons podem ocupar o mesmo orbital atômico somente se tiverem spins diferentes. A conseqüência do Princípio de Exclusão é: só dois elétrons podem ocupar o mesmo orbital molecular e, ainda assim, só se tiverem spins opostos. 2.2. Orbitais atômicos e moleculares. A orbital correspondente ao nível de energia mais baixa é o 1s. Uma esfera com o centro no núcleo do átomo. O próximo orbital em nível de energia é o orbital p. Ele é bilobular, girando nas proximidades e não mais no centro do núcleo. Figura 2. Orbital molecular Fonte: http://reocities.com/Vienna/choir/92 01/diagrama_OM_sigma_ss.gif Figura 3. Orbital s. Fonte:http://images2.wikilingue.com/5/58/Es-Orbital_s.png Figura 4. Orbital molecular s-s Fonte: http://reocities.com/Vienna/choir/92 01/OM_sigma_ss.gif Figura 5. Orbital p. Fonte:http://images2.wikilingue.com/5/58/Es- Orbital_p.png Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 14 Os orbitais d e f são bastante complexos e não muito encontrados nas moléculas orgânicas, daí o fato da não necessidade de um estudo mais aprofundado deles. (a) (b) Quando os orbitais atômicos estão na mesma fase formam ligações e são ditos orbitais moleculares ligantes, quando estão em fases diferentes não formam ligações e são ditos orbitais moleculares antiligantes. (a) (b) Figura 6. Orbitais (a) d e (b) f. Fonte: http://www.cq.ufam.edu.br/historia_orbitais/orbitais.JPG Pesquisar: Quais tipos de átomos apresentam os orbitais d, e os f? Quais destes átomos estão presentes nos organismos dos seres vivos? Figura 7. Orbitais atômicos na mesma fase (a) e em fases diferentes (b). Fonte: http://www.grandinetti.org/Teaching/Chem121/Lectures/MOTheory/assets/PartialInterference.gif Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 15 Os orbitais moleculares que possuem simetria cilíndrica e são ligantes chamam-se orbitais σ; aqueles que são simétricos cilindricamente e são antiligantes são chamados de σ*. Aqueles orbitais que possuem geometria paralela e são ligantes são chamados de π e os que são antiligantes são π*. O número de ligações covalentes que um átomo formará será dado melhor pelo número máximo de orbitais semipreenchidos que o átomo pode possuir do que pelo número efetivo na configuração eletrônica comum. 2.3. A regra do octeto Qualquer átomo, exceto o hidrogênio, tende a formar ligações até que esteja rodeado de oito elétrons. A regra do octeto, muitas vezes, não é obedecida por átomos fora do segundo período da tabela periódica e, assim, o seu valor é algo limitado. 2.4. Geometria molecular Os ângulos de ligação numa molécula representam a condição do mínimo de energia para a molécula, ou do máximo de afastamento Figura 5. Regra do octeto Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_HoaPhQ9 Vmy0/TN0CsJXcKKI/AAAAAAA AF4o/yKJLAkTftY4/s1600/octeto2. Figura 6. Exceções à regra do octeto. Fonte: http://www.brasilescola.com/upload/e/aluminio.jpg; http://3.bp.blogspot.com/_l3poGLVhvho/TLfCMi0wt2I/AAAAAAAAAKA/vFMOz6XdP0s/s1600/lewSf4.gif Figura 7. Orbitais ligantes e antiligantes. Fonte: http://img.sparknotes.com/figures/8/83ce1fb7be648ede5785ea60c96b495c/o21.gif Este assunto foi visto na Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 16 entre os átomos formadores desta molécula. Ao fixar o ângulo entre ligações, na realidade estamos fixando a distância entre as regiões nas quais os elétrons, nos dois orbitais ligantes, passam a maior parte de seu tempo. Os elétrons tentam evitar-se mutuamente tanto quanto possível. Para prevermos a forma molecular, supomos que os elétrons de valência se repelem e, conseqüentemente, a molécula assume qualquer geometria 3D que minimize essa repulsão. Denominamos este processo de teoria de Repulsão do Par de Elétrons no Nível de Valência (RPENV). 2.5. Formas espaciais moleculares Existem cinco geometrias fundamentais para a forma molecular que são: Linear, Trigonal Plana, Tetraédrica, Bipiramidal Trigonal e Octaédrica. A tabela abaixo mostra as formas básicas e suas variações quando se tem 1, 2, 3 ou 4 pares de elétrons solitários (Não compartilhados). Tabela 1. Geometria molecular Fonte: http://pessoal. utfpr.edu.br/e bona/arquivo s/VSEPR_ge ometries.png Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 17 2.6. Efeito dos elétrons não ligantes nos ângulos de ligação. • Determinamos o arranjo observando apenas os elétrons. • Damos nome ao arranjo molecular pela posição dos átomos. • Ignoramos os pares solitários na geometria molecular. • Todos os átomos que obedecem a regra do octeto têm arranjos tetraédricos. Tabela 2. Exemplos de compostos orgânicos e sua geometria molecular Fonte: http://antonionunes4.no.sapo.pt/geometriam.png Figura 7. Geometria molecular. Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_UUQBey0aYFM/S_mcNQoIfVI/AAAAAAAAA4w/TgCVaozUayU/s640/geommolecular.jpg Tabela 3. Arranjo tetraédrico. Fonte: http://www.mundodoquimico.hpg.ig.com.br/VS EPR.3.gif Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 18 O ângulo de ligação H-X-H diminui ao passarmos do C para o N e para o O: Como os elétrons em uma ligação são atraídos por dois núcleos, eles não se repelem tanto quanto os pares solitários. Conseqüentemente, os ângulos de ligação diminuem quando o número de pares de elétrons não-ligantes aumenta. Da mesma forma, os elétrons nas ligações múltiplas se repelem mais do que os elétrons nas ligações simples. 2.7. O conceito de hibridização Os elétrons de valência dos átomos são necessariamente aqueles mais afastados do núcleo, portanto os de maior energia. Em um átomo como o carbono, por exemplo, os elétrons de maior energia são os que ocupam a sub camada 2p, e assim, pelo conceito desenvolvido acima, o carbono deveria formar não mais do que duas ligações covalentes. Como a camada de valência de um átomo geralmente contém mais de um subnível (as únicas exceções são o hidrogênio e o hélio), esses subníveis da camada tendo energias aproximadas (diferentes, mas não tanto), eles poderiam sofrer uma "mistura", se assim forçados pelo campo eletro-magnético dos elétrons dos ligantes que se aproximam. 2.8. Orbitais híbridas: sp3. Ocorre quando um carbono sofre a aproximação de três H. O átomo de carbono possui uma orbital de valência s e três orbitais de valência p. Uma orbital s pode-se combinar com outra orbital s (ou com uma orbital p) para formar uma ligação σ. Só se formarão ligações π se não for possível formar ligações σ. Estas quatro orbitais terão energia inferior à energia das orbitais s e p que lhes deram origem, sendo por isso mais estáveis. Estas quatro orbitais, sendo todas iguais, dispor-se-ão no espaço de Figura 9. Estados normal e excitado do carbono. Fonte: http://www.profpc.com. br/hibrid22.gif Figura 8. Repulsão dos pares não compartilhados. Fonte: http://200.156.70.12/sm e/cursos/EQU/EQ20/mo dulo1/aula0/aula05/img/ image052.gifbr/hibrid22.gif Figura 10. Hibridização SP3. Fonte: http://hilariomoura.com.br/wp-content/uploads/2010/02/im21.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 19 forma a formar ângulos iguais entre si. Essa disposição será tetraédrica, dando origem aos ângulos observados de 109,5 º. Sempre que um átomo de carbono estiver ligado a quatro outros átomos as suas orbitais hibridizarão de forma a criar orbitais sp 3 . 2.9. Orbitais híbridas: sp2. Ocorre quando um carbono sofre a aproximação de dois H. Três orbitais (1 s e 2p) terão de gerar três orbitais híbridos, o que vai deixar o carbono com apenas um orbital p normal. Como esses híbridos são compostos de 1s e 2p, a TLV os denomina sp2. Como o orbital s é esfericamente simétrico, ele vai ser absorvido pelos p de uma forma totalmente equivalente, e essa equivalência se reflete na simetria dos orbitais sp2: eles serão dispostos a ângulos de 120º entre si. Os orbitais p estão na condição geométrica perfeita para um entrelaçamento lado-lado, que convencionamos chamar de ligação pi: 2.10. Orbitais híbridos: sp. Ocorre quando um carbono sofre a aproximação de um H. Com a aproximação do hidrogênio, os orbitais do carbono, o s e o p, começam a se misturar formando um PAR de "novos orbitais", que, a TLV chama de tipo sp. Assim, um carbono “hibridado” sp vai ser constituído de dois orbitais p normais, e de dois híbridos sp. Nesses quatro orbitais entrarão os quatro elétrons do carbono. O carbono tem 4 elétrons de valência, distribuídos, com a hibridação sp, entre dois orbitais híbridos (sp), e dois orbitais p normais que não foram envolvidos no processo de hibridação, um elétron em cada um dos orbitais. Essa é a condição ideal para a formação de ligações pi, onde os orbitais p têm de estar paralelos. Figura 11. Estados normal, excitado e híbrido do carbono sp2. Fonte: http://www.profpc.com.br/hibrid22.gif Figura 12. Ligação sigma sp2 do carbono. Fonte: http://www.profpc.com.br/h ibrid10.jpg Figura 13. Estados normal, excitado e híbrido do carbono sp. Fonte: http://www.profpc.com.br/hibrid22.gif Figura 14. Hibridização sp do carbono. Fonte: http://www.google.com.br/images Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 20 Como o orbital original p é linear com lobos opostos dirigidos segundo o mesmo eixo cartesiano os dois novos orbitais híbridos sp terão necessariamente de manter essa mesma orientação espacial. Logo, um carbono sp hibridado fará, através dos híbridos, ligações lineares, como no caso do etino. 2.11. Ligações π deslocalizadas. No caso do benzene existem 6 ligações σ C-C, 6 ligações σ C- H, cada átomo de C é hibridizado sp2 e existem 6 orbitais p não- hibridizados em cada átomo de C. Quando as estruturas de ressonância são possíveis, a deslocalização também é possível. Figura 15. Ligação sigma sp do carbono. Fonte: http://mazinger.sisib.uchile. cl/repositorio/ap/ciencias_q uimicas_y_farmaceuticas/ap -quimgral- 1/meislich/Images/fig0081. gif Figura 16. Elétrons PI deslocalizados. Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/art igos/benzeno/images/benzeno_pi3.j pg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 21 Capítulo 3. Efeitos eletrônicos Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 22 3. Efeitos eletrônicos Após entendermos como um átomo como o carbono pode formar inúmeros compostos, vamos agora estudar os efeitos que ocorrem a nível intra e intermolecular. Vamos entender o porquê de dois compostos, com a mesma fórmula molecular, poderem possuir propriedades físicas tão distintas entre sí. 3.1. Escrevendo as estruturas de Lewis Este tipo de estrutura é a forma como vamos desenhar os compostos, obedecendo a valência de cada átomo e o seu número de elétrons. Inicialmente mostramos apenas os elétrons de valência, que são aqueles do nível mais externo. Em seguida, por compartilhamento ou transferência de elétrons, fazemos o átomo ser semelhante ao gás nobre. O número de valência é facilmente obtido pelo número da família (grupo) da tabela periódica onde ele se encontra. Ex: C: 4A, F: 7A, Deve-se fazer um somatório da quanidade total de elétrons na molécula, incluindo-se inclusive as cargas dos compostos. Uma ligação simples equivale a 1 par de elétrons. Ex: CH3F 4 + 3(1) + 7 = 14 C 3H F Ex: ClO3- 7 + 3(6) + 1 = 26 Cl 3O e־ C H H H F C H H H F .. : .. Cl O O O Cl O O O 1- Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 23 Figura 1. Exceções à regra do octeto. Fonte: http://www.brasilescola.com/upload/e/aluminio.jpg; http://3.bp.blogspot.com/_l3poGLVhvho/TLfCMi0wt2I/AAAAAAAAAKA/vFMOz6XdP0s/s1600/lewSf4.gif; http://www.chm.davidson.edu/vsepr/PCl5.gif Usam-se também ligações múltiplas para se cumprir a regra do octeto. Ex: CO3 2-, eteno e etino. C O O O 2- C H H C H H CH C H Nem todas as substâncias formadas seguem a regra do octeto. A grande maioria das que seguem a regra do octeto são formadas por átomos do 2 período.Isso se deve ao fato dos átomos do segundo período possuírem apenas os orbitais s e p, que podem ter no máximo 8 elétrons na camada de valência (Regra do octeto). No 3° período em diante, além dos orbitais s e p, surgem os orbitais d e f, aumentando o número de elétrons na camada de valência e fugindo á regra do octeto. Átomos com menos que 8 elétrons também existem. SO4 2- 6 + 4(6) + 2 = 14 S 4O 2e־ S O O O O S O O O O 2- Figura 2: Algumas estruturas de Lewis. Fonte: http://www.fortunecity.com/tattooine/excession/177/image8.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 24 3.2. Carga formal.É a carga de cada átomo em uma molécula. A soma das cargas formais é igual à carga total. Para se calcular a carga formal de um átomo em uma estrutura de Lewis deve-se pegar o número total de valência do elemento, subtrair do número de elétrons não compartilhado e subtrair novamente da metade do número de elétrons compartilhado (Ligação). Figura 3: Carga formal. Fonte: http://ocw.uc3m.es/ciencia-e-oin/quimica-de-los-materiales/Material%20de%20clase/imagenes/enlace/enlace29.gif Figura 4: Carga formal. Fonte: http://qorganica.perruchos.com/sites/default/files/images/cargaf03.jpg; http://qorganica.perruchos.com/sites/default/files/images/cargagf04.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 25 3.3. Ligações covalentes polares. Você já ouviu a expressão “polar dissolve polar”? Mas o que significa uma coisa ser polar ou apolar? Polar vem de pólos. Existem dois tipos de pólos: positivo e negativo. Quando uma molécula pode ser polar ou apolar? Acontece que 2 átomos de eletronegatividades diferentes não compartilham igualmente os elétrons. O átomo mais eletronegativo puxa com mais força os elétrons da ligação para si, tornando a sua vizinhança mais negativa, e afasta os elétrons de ligação do átomo menos eletronegativo, tornando a vizinhança dele mais positiva. Daí há a formação de pólos. Figura 7: Polos da água e metano. Fonte: http://quadrilhaquimica.blogspot.com; http//WWW.geocites.com/leandrox2000/ligacoesq.htm Figura 8: Polos do HCl e CO2.. Fonte: http://agracadaquimica.com.br/index.php?acao=quimica/ms28i=22$id=258 PARA REFLEIR: A água é considerada o solvente universal. Por que? Ela é capaz de dissolver tudo? Existe algum solvente que dissolva tudo? Por que água se mistura com metanol (álcool), mas não semistura com gasolina (hidrocarboneto)? Figura 9: Ligações covalentes polares e apolares.. Fonte: http://200.156.70.12/sme/cursos/EQU/EQ20/modulo1/aula0/aula03/img/image038.gif; Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 26 A polaridade nada mais é do que o somatório dos módulos dos vetores momento dipolar µ. Se a molécula tem átomos de mesma eletronegatividade ela é apolar. Se ela tem átomos de eletronegatividade diferentes ela pode ou não ser polar. Se ela for simétrica é apolar, se for assimétrica é polar. Figura 10: Ligações covalentes polares. Fonte: http://img683.imageshack.us/i/figura2ps.jpg/sr=1; http://3.bp.blogspot.com/_2Pu2wgoT1a4/Sh1BGHXnkYI/AAAAAAAAAds/IzF2QRwWxjI/s200/HCl.gif; http://static.infoescola.com/wp- content/uploads/2009/08/polaridade1.jpg http://200.156.70.12/sme/cursos/EQU/EQ20/modulo1/aula0/aula04/img/image041.gif Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 27 C C H H OH H H H C O H H C H H H H 3.4. Forças intermoleculares. 3.4.1. Dipolo-dipolo. Observa-se em moléculas polares e resulta da atração mútua entre a extremidade positiva de uma molécula e a extremidade negativa da outra. As moléculas polares estão mais fortemente agregadas umas às outras do que as moléculas não polares. 3.4.2. Ligações de hidrogênio. Interações entre átomos de hidrogênio ligados a átomos pequenos, fortemente eletronegativos (O, N, F) e pares de elétrons não ligantes em outros átomos eletronegativos da mesma espécie. Formação de ligação de hidrogênio aumenta o ponto de ebulição. +78° -24,9° Figura 11: moléculas polares. Fonte: http://tudoquimica.atspace.com/pg7.htm Figura 12: Forças intermoleculares. Fonte: http://reocities.com/Vienna/choir/9201/forcas_intermoleculares.gif; Figura 12: Forças intermoleculares. http://4.bp.blogspot.com/_WWaXz2 FWJ_A/SSas9Jg7iHI/AAAAAAAA ACI/NBHJUpr4Ppg/s320/image008 .jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 28 3.4.3. Forças de Van der Waals (London ou de dispersão). Agora que entendemos como as moléculas polares interagem entre si através de força de dipolo vamos tentar compreender o que acontece entre as moléculas apolares. Veja o exemplo ao lado e observe os pontos de ebulição diferentes. Nas moléculas apolares não existem pólos que atraiam uma molécula à outra. Como então uma molécula apolar pode apresentar ponto de ebulição razoavelmente alto e estado físico líquido ou sólido? A explicação está nas chamadas Forças de Van der Waals, London ou de dispersão. O que é isto? São forças intermoleculares fracas existentes entre moléculas apolares. Observe a figura ao lado. Note que aproximação entre as moléculas causa um fraco momento dipolar. Daí o fato das substâncias apolares terem pontos de ebulição menores que as polares, pois quando há um afastamento entre as moléculas cessa o momento de dipolo e as elas se afastam passando ao estado gasoso. Figura 12: Forças intermoleculares. fonte http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/images/intermolecular/inter_dna.jpg PARA PESQUISAR: Por que a água (H2O) é líquida e o H2S, H2Se e H2Te são gases? Se a água não fosse líquida existiria vida? Quais Figura 13: Forças em moléculas apolares.. Fonte http://www.qmc.ufsc.br/qmcwe b/images/intermolecular/inter_n eopentano.gif; Figura 14: Forças de london.. Fonte http://nautilus.fis.uc.pt/cec/teses/salgueiro/CD/Cap3/Image368.gif Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 29 Quanto maiores as forças intermoleculares, mais sólida será uma substância e maior o seu ponto de ebulição e quanto menores as forças intermoleculares, mais gasosa será uma substância e menor o seu ponto de ebulição. No exemplo da figura 13 pudemos observar que duas subsâncias apolares tem PE muito diferentes. Como de explica isso? A explicação é simples “a união faz a força”. Quanto maior a cadeia linear, mais interações de London vão existir e mais fortemente as moléculas interagirão. Quanto mais fortes as interações mais difícil de separa-las e maior o PE. 3.5. Estrutura e propriedades físicas. Além do momento de dipolo, outras propriedades físicas como pontos de fusão e de ebulição e solubilidades revestem-se de igual importância. As propriedades físicas dos compostos dependem em grande parte da natureza das ligações que mantêm os átomos unidos uns aos outros, na molécula. 3.6. Ponto de fusão. Num sólido cristalino, as partículas – íons ou moléculas – que constituem as unidades estruturais dispõe-se de maneira absolutamente regular, simétrica; esta ordenação corresponde à Figura 15: Mudnaças de estado físico.. Fonte http://nautilus.fis.uc.pt/cec/teses/salgueiro/CD/Cap3/Image368.gif Figura 16: A união az a força.. Fonte http:// raulmarinhog.files.wordpress.com/2008/10/a_uniao_faz_a_forca.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 30 Figura 19: Fusão do gelo.. Fonte http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/images/stories/fis_9.png; repetição indefinida de uma célula geométrica unitária. A fusão representa a passagem deste estado altamente ordenado das partículas, segundo uma rede cristalina, à disposição menos ordenada que caracteriza o estado líquido. Produz-se a fusão, quando se atinge a temperatura à qual a energia térmica das partículas vence a ação das forças intercristalinas que as mantém em posição. NaCl funde a 801°C e CH4 a -183°. Isto se deve à elevada intensidade das forças eletrostáticas que ocorrem entre os íons e a baixa intensidade destas forças quando ocorrem entre moléculas. 3.7. Ponto de ebulição. A ebulição implica a libertação de moléculas individuais, ou pares de íons de cargas opostas, do seio do líquido. Produz-se este fenômeno, quando se atinge a temperatura a qual a energia térmica das partículas vence a ação das forças de coesão que tendem a mantê-las no líquido. Figura 17: Sólido cristalino.. Fonte http://www.educarchile.cl/UserFiles/P0001/Image/Mod_2_conte nidos_estudiantes_ciencias_quimica/Quimica_cambio_1.jpg Figura 18: Curva de aquecimento.. Fonte http://3.bp.blogspot.com/_HoaPhQ9Vmy0/TNhmVX4HbWI/A AAAAAAAFfg/f3geDoKgUwE/s1600/estadofisico2.jpg Figura 20: Ponto de ebulição. Fonte; http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/images/stories/Quimica_TD_fig02.pn g Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 31 Figura 20: Ponto de ebulição. Fonte; http://4.bp.blogspot.com/_UUQBey0aYFM/TJUZojPi6xI/AAAAAAAABNQ/OsNMaai0UjM/s1600/figura- 4.jpg Da mesma forma que no ponto de fusão, os compostos iônicos possuem pontos de ebulição mais altos que compostos moleculares. NaCl 1413°C. CH4. -161,5. Fatores que fazem o ponto de ebulição aumentar: polaridade, ligações de hidrogênio e tamanho molecular. Quanto maiores forem as moléculas, mais fortes são as forças de Van der Waals. Um exemplo do uso do ponto de ebulição é a destilação do petróleo. 3.8. Solubilidade. 3.8.1. Solutos não iônicos. Quando se dissolve um sólido num líquido (ou um líquido em outro), as unidades estruturais do primeiro – íon ou molécula – Figura 21: Destilação do petróleo. Fonte; http://4.bp.blogspot.com/_rcJSdmhpIN8/SsI2UuNBYsI/AAAAAAAAAJ8/RH_DroddkuE/s320/Imagem5.png Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 32 Figura 22: Solubilidade. Fonte; http://hermes.ucs.br/ccet/defq/naeq/material_didatico/textos_interativos_33/solubilidade.gif; http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/images/intermolecular/inter_solubilizacao.jpg; http://4.bp.blogspot.com/_HoaPhQ9Vmy0/TN0KpHEoXKI/AAAAAAAAF8Q/YQjiw8_4uvU/s1600/solubilidade.jpg;http://www.daanvanalten.nl/quimica/images_bestanden/naclemagua2.jpg; separam-se umas das outras e o espaço entre elas passa a ser ocupado pelas moléculas do solvente. Os compostos apolares ou fracamente polares são solúveis em solventes apolares ou fracamente polares; os compostos altamente polares são solúveis em solventes altamente polares. “Polar dissolve polar, apolar dissolve apolar”. 3.8.2. Solutos iônicos; solventes próticos e apróticos. Pares iônicos. Apenas a água ou outros solventes polares são capazes de dissolver compostos iônicos em apreciável extensão. Existem atrações eletrostáticas entre os íons positivos e as extremidades negativas das moléculas do solvente e entre os íons negativos e as extremidades positivas dessas moléculas. (Ligações íons-dipolo). Nas soluções, cada íon do soluto encontra-se rodeado de diversas moléculas do solvente, e diz-se por isso solvatado (água – hidratado). Figura 23: Solvatação. Fonte; http://200.156.70.12/sme/cursos/ EQU/EQ17/modulo1/aula0/img/a ula5/nota1.gif Figura 24: Ciclo de Born-Haber. Fonte; http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422004000600029; Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 33 Solventes Próticos: Solventes que contém hidrogênio ligado a oxigênio ou a nitrogênio e por conseqüência, apreciavelmente acídico. água etanol ácido acético. Solventes Apróticos: Solventes polares com constantes dielétricas moderadamente elevadas que não contém hidrogênio acídico. Ex: 3.9. Efeitos eletrônicos. Efeitos polares. Quando um Carbono perde um átomo e os elétrons de uma ligação ele se transforma em um átomo positivo (Cátion) denominado Carbocátion. A estabilidade relativa de um carbocátion é determinada principalmente pela maneira melhor ou pior como ele acomoda a carga positiva. A estabilidade de um sistema carregado é tanto maior quanto maior for a dispersão de carga. Qualquer fator que tenda a espalhar a carga positiva no carbono falto de elétrons e a distribuição pelo resto do íon deve, por conseqüência, estabilizar um carbocátion. Isto pode ser feito por efeito indutivo ou ressonância. Comparado com o hidrogênio, um substituinte G pode ceder ou sacar elétrons. Este efeito é chamado de “efeito polar”. Um substituinte doador de elétrons tende a reduzir a carga positiva no carbono falto de elétrons; ao fazê-lo o substituinte torna-se ele próprio em certa medida positivo. Esta dispersão de carga positiva estabiliza o carbocátion. Figura 26: Solventes apróticos. Fonte; http://1.bp.blogspot.com/_8xWGBX1SLbQ/SfhabAvK02I/AAAAAAAAACk/QW5kLZEvYBI/s400/10.bmp Figura 26: Solventes próticos. Fonte; http:// www.profcupido.hpg.ig.com.br/substnucleof12.gif Figura 27: Efeito indutivo. Fonte; http://reocities.com/Vienna/choir/9201/estabilidade_dos_carbocations.gif Figura 27: Carbocátion. Fonte; http://reocities.com/Vienna/c hir/9201/ruptura_heterolitica. gif Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 34 Ordem de estabilidade dos carbocátions: terciário>secundário>primário>metila. Quanto maior o número de grupos alquila, tanto mais estável será o carbocátion. A doação de elétrons dispersa a carga, estabiliza o íon. Grupos alquilo cedem elétrons. Um substituinte retirador de elétrons tende a intensificar a carga positiva no carbono falto de elétrons e, por conseguinte torna o carbono mais instável. Segundo Ingold, os grupos alquilo, destituídos de tendências polares fortes próprias, podem fazer praticamente o que lhes é pedido por outros grupos na molécula. Podem estabilizar tanto cátions como ânions. O saque ou a cedência de elétrons são resultantes de 2 fatores: “efeito indutivo” e “efeito de ressonância”. 3.9.1. Efeito indutivo: Depende da tendência intrínseca de um substituinte para ceder ou sacar elétrons – por definição a sua eletronegatividade – atuando quer através da cadeia molecular, quer através do espaço. O efeito enfraquece progressivamente com o aumento da distância a que se encontra o substituinte. A maioria dos substituintes do hidrogênio exerce efeitos indutores sacadores de elétrons por serem mais eletronegativos que ele; por exemplo, -F, -Cl, -OH, -NH2, -NO2. 3.9.2. Efeito de ressonância: . Acontece entre moléculas que apresentam várias estruturas diferentes, mas equivalentes. Ex: C O O O C O O O C O O O I II III Figura 28: Efeito indutivo. Fonte; http://reocities.com/Vienna/choir/9201/efeit o_indutivo.gif + + + C O O O1/2 1/2 1/2 Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 35 Como regra básica observa-se que todos os átomos têm a configuração de um gás nobre. Pode-se converter uma estrutura em outra se trocando a posição dos elétrons. C O O O transforma-se C O O O transforma-se I II Nenhuma estrutura sozinha representa corretamente o íon carbonato, mas sim as 3 em conjunto. A molécula é representada por híbrido (média). As ligações não são nem dupla nem simples e sim uma mistura das 2. Uma dupla parcial apresenta como valor 1,28Ǻ, que é intermediária entre uma simples (1,43 Ǻ) e uma dupla (1,20 Ǻ). As estruturas de ressonância só existem no papel. São representações gráficas. • Só é permitido mover elétrons π e não ligantes. CH3 CH OH CH3 CH OH Só devem ser estruturas de Lewis apropriadas. CH3 CH2 OH Essa não é uma estrutura de Lewis apropriada porque o carbono CH2 tem 5 ligações. • Ocorre estabilização por ressonância. • Quanto mais estável uma estrutura maior sua contribuição para o híbrido. (a) Quanto mais ligações covalentes, mais estável a estrutura. Figura 5: Estruturas de ressonância. Fonte: http://images2.wikilingue.com/thumb/5/5f/Resonance_examples.png/400px- Resonance_examples.png III C O O O Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 36 CH2 CH CH CH2 CH2 CH CH CH2 IV V A estrutura IV é mais estável porque possui mais ligações covalentes. (b) Estruturas com octeto completo são mais estáveis. CH2 O CH3 CH2 O CH3 VI VII A estrutura VII é mais estável, pois tem todos os carbonos com 8 elétrons enquanto que a VI tem um Carbono com 6 elétrons. (c) Separação de cargas diminui a estabilidade. CH2 CH Cl ClCH2 CH VIII IX A estrutura VIII é mais estável porque, diferentemente da IX, não possui separação de cargas. (d) Cargas negativas em átomos eletronegativos são mais estáveis que cargas negativas em átomos pouco ou não eletronegativos. Cargas positivas em átomos eletronegativos são menos estáveis que cargas positivas em átomos não eletronegativos. NHCH2 CH CH NHCH2 CH CH X XI A X é a mais estável porque não tem separação de cargas e possui o octeto completo. Em seguida vem a XI que possui carga positiva em átomo não eletronegativo e Carga negativa em átomos eletronegativo. NHCH2 CH CH XII Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 37 3.9.3. O papel dos pares não compartilhados. Ao carbocátion está ligado um átomo de oxigênio. O oxigênio é eletronegativo e, tal como o halogênio, deve exercer um efeito indutor sacador de elétrons – efeito que tende a “desastabilizar” um carbocátion. Porém dados experimentais revelam que há uma poderosa “estabilização”. Isto se dá por cedência de elétrons por efeito de ressonância. CH2 O CH3 CH2 O CH3 Embora eletronegativo, o oxigênio do grupo CH3O- é básico; tem pares de elétrons não compartilhados, os quais ele tende a compartilhar, adquirindo assim uma carga positiva. É a basicidade do oxigênio que está envolvida. Uma vez mais estão satisfeitas as condições para a existênciade ressonância: duas estruturas que diferem apenas no arranjo dos elétrons. Das estruturas a segunda é a mais estável, visto que nela cada átomo tem um octeto completo. A ligação dupla se forma por sobreposição de uma orbital p vazia do carbono com uma orbital p Figura 6: Ressonância. Fonte: http://sites.google.com/site/quimicaalexandrelpn/_/rsrc/1240087452089/Home/respostas-dos- exercicios/ressonancia-e-aromaticidade/ressonncia-e-aromaticidade/ressonancia_piridina.gif; http://sites.google.com/site/quimicaalexandrelpn/_/rsrc/1240159144661/Home/respostas-dos-exercicios/ressonancia-e- Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 38 cheia do oxigênio (ou N, S, X). No caso do íon oxônio, a cedência de elétrons por efeito de ressonância é claramente muito mais poderosa do que o saque de elétrons através do efeito indutivo, e é ela que determina a reatividade. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 39 Capítulo 4 Força das bases e dos ácidos orgânicos. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 40 4. Força das bases e dos ácidos orgânicos. Você conhece algum ácido orgânico? Os ácidos orgânicos estão presentes em nosso cotidiano mais do que você pensa. Um dos ácidos mais utilizados no nosso dia a dia é o ácido acético (vinagre). Outro ácido muito importante é o cítrico (limão). Vamos aprender que o comportamento dos compostos orgânicos não é tão fixo quanto dos inorgânicos. Nos orgânicos temos compostos que tanto podem ter comportamento de ácido quanto de base (anfóteros). 4.1. Ionização. Constante de acidez. Quando em solução aquosa, os ácidos carboxílicos existem em equilíbrio com o respectivo íon carboxilato e com o íon hidrônio H3O +. RCOOH + H2O + H3O +RCOO- Ka = Constante de acidez. Cada ácido carboxílico tem a sua constante Ka característica, que traduz a força do ácido. A extensão da ionização (dissociação do ácido) será tanto maior quanto maior for a constante Ka e, portanto, quanto mais forte for o ácido. Ka grande significa ácido forte, e Ka pequeno ácido fraco. Se ka >10 o ácido está completamente dissociado em água. Porém utiliza-se mais comumente o PKa. pKa = -logKa, daí o pH = - log[H3O +]. Para o ácido acético o pKa é 4,75. pKa grande significa ácido fraco, e pKa pequeno ácido forte. CH3COO2H < CF3COO2H < HCl Pka 4,75 0 -7 Neste exemplo podemos perceber que um ácido orgânico é geralmente muito mais fraco que um inorgânico. 4.2. Ácidos e bases. Existem várias teorias sobre ácido e bases. Vamos relembrar algumas? Ka = [RCOO-] [H3O] RCOOH H2O Figura 1: Azedo. Fonte: http://paulodaltrozo.files.wordpress .com/2010/04/azedo.jpg Figura 2: Azedo. Fonte: http://nacozinha.files.wordpress.co Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 41 LOWERY – BRONSTED: Ácido é toda substância que cede hidrogênio (H+) e base é toda substância que os recebe. Ex: H2SO4 + H2O → HSO4- + H3O+ A força de um ácido depende da tendência que ele possuir para ceder hidrogênio (H+). Na reação acima, o ponto de equilíbrio favorece a formação do ácido conjugado mais fraco e da base conjugada mais fraca. Ácidos: Tendem a ceder hidrogênio (H+). Bases: Tendência a reter hidrogênio (H+). Analogamente a água, muitos compostos orgânicos que contém oxigênio podem aceitar hidrogênio (H+) e funcionar como bases; o álcool etílico e o éter etílico, por exemplo, formam os íons oxônio I e II. +C2H5OH H2SO4 C2H5OHH + HSO4 - I +(C2H5)2O H2SO4 (C2H5)2OH + HSO4 - II O grau de acidez depende essencialmente do átomo que se encontrar ligado ao H e, em particular, da capacidade desse átomo para acomodar o par de elétrons deixado na situação de não compartilhado pela partida do íon hidrogênio. A capacidade do átomo para reter o par de elétrons parece depender de diversos fatores, entre os quais se incluem (a) a eletronegatividade, (b) o tamanho. Assim, em determinada linha do quadro periódico, a acididade aumenta à medida que cresce a eletronegatividade. Figura 3: Força de um ácido. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_PrA7fOy vWbY/TEMxZ3fS_RI/AAAAAA AAALg/BcK356gCUWk/s400/6I Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 42 Figura 4:Eletronegatividade. Fonte: http://www.educacional.com.br/upload/blogSite/2/2627/8664/Eletronegatividade_escala2372009144259.JPG Tabela 1. :Eletronegatividade. Fonte: Química Orgânica. Solomons & Fryhle, 8ª edição, 2005. Entre os compostos orgânicos, os que contêm os grupos O-H, N-H e S-H devem possuir apreciável acididade, na acepção de Bronsted. δ- δ+ δ- δ+ δ- δ+ δ- δ+ H3C—H H2N—H HO—H F—H pKa = 48 pKa = 38 pKa = 15,7 pKa = 3,2 Acidez aumenta em determinado período (linha) ou determinada família (coluna) da tabela periódica Hidreto PKa C H3C–H 48 N H2N–H 38 O HO–H 15,7 S HS–H 7 Se HSe–H 3,9 F F–H 3,2 Cl Cl–H -7 Br Br–H -9 I I–H -10 O metanídeo (H3C —), por apresentar um átomo de carbono que é pouco eletronegativo, tem uma capacidade baixa em acomodar uma carga negativa, sendo então uma base forte. Em determinada coluna, a acidez aumenta conforme o tamanho da molécula aumente. Isto é devido à melhor capacidade do átomo de estabilizar a carga formada conforme se aumente seu raio atômico. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 43 Figura 5 :Tamanho do átomo. Fonte: http://1.bp.blogspot.com/_PydTKD1VAmM/TIttBicxNII/AAAAAAAAAFo/M176VaSFufA/s1600/ tabela_periodica_pelo_tamanho_dos_atomos.jpg LEWIS: Base é toda substância que pode fornece um par de elétrons para a formação de uma ligação covalente, e ácido toda a substância que pode utilizar esse par de elétrons para formar uma ligação covalente. Ácido é todo aceitador de um par de elétrons e base é todo doador de um par de elétrons. B F F F + (C2H5)2O (C2H5)2O B F F F Para ser ácida no sentido de Lewis, deve a molécula estar falta de elétrons (H+) ou deve-se procurar nela um átomo com 6 elétrons apenas na camada exterior. Muitos outros com orbitais vazios também agem como ácidos de Lewis. Ex: Haletos de Zn e Fe (III). Para ser básica, tanto na acepção de Lowry- Bronsted, como na de Lewis, a molécula deve dispor de um par de elétrons que possa vir a compartilhar com outra molécula. A maior ou menor disponibilidade destes elétrons depende da eletronegatividade, tamanho e carga do átomo onde Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 44 eles se encontram. A atuação destes fatores é necessariamente oposta à que se observa no caso da acidez; o par de elétrons será tanto mais dificilmente compartilhável quanto maior for a capacidade do átomo onde eles se encontram para acomodar este par. As reações ácido e base sempre favorecem a formação do ácido conjugado mais fraco e da base conjugada mais fraca. Elas estão sempre sob o controle do equilíbrio e sempre favorecem a formação das espécies mais estáveis, com menor energia potencial. Ácidos e bases fracos são mais estáveis que os fortes porque possuem menor energia potencial. 4.3. Álcoois como ácidos ou bases. +C2H5O - C2H5OH + NaOH Na + + H2O Àlcool como ácido +C2H5OH H2SO4 C2H5OHH + HSO4 - Àlcool como base H2N -Na+ + ROH → RO-Na+ + H2NH Base Ácido Base Ácido Acidezes relativas: H2O>ROH>NH3>RH + forte + forte + fraca + fraco Basicidades relativas: HO-<RO-<NH2 -<R- Visto os álcoois serem mais fracos do que a água, os alcóxidos não se preparam por meio de reação do álcool com hidróxido de sódio;preparam-se sim por meio de reação do álcool com o próprio metal ativo. Figura 7. :Ácidos e bases de Lewis. Fonte: Química Orgânica. Solomons & Fryhle, 8ª edição, 2005. Figura 8. :Reação de álcool com metal ativo. Fonte: Montagem a partir do site http://4.bp.blogspot.com/_q -SGvC- JLcE/R3JYHtnhSTI/AAA AAAAACv4/JV_lMfDHfJ U/s400/scicosmos123.jpg. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 45 4.4. A acidez dos alcinos Os alcinos são levemente ácidos e, assim como os ácidos, seus ânions são preparados pela adição de metais ativos ou bases muito fortes. HC CH Na+ HC C Na 1/2H2+ Acetileto de sódio HC CH Li+NH2 - + HC C Li NH3+ Ácido mais Base mais Base mais Ácido mais forte forte fraca fraco CH3C CH + CH3CH2CH2CH2Li CH3CH2CH2CH3 + CH3C C Li Ácido mais Base mais Base mais Ácido mais forte forte fraca fraco Quanto maior o caráter s mais ácido será o hidrocarboneto. 4.5. Acidez dos ácidos carboxílicos. Tabela 2. : Tabela de acidez. Fonte: http://150.162.31.1/~minatti/aulas/qmc5225/aula_12_organica_alcinos/img014.GIF. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 46 +RO- H+ ROH Energia potencial Marcha da reação Observe como a estabilização do íon do ácido é maior do que a do álcool. Isto é um indicativo que a acidez dos ácidos é bem maior que a dos alcoóis. Não equivalentes equivalentes Ressonância menos importante Ressonância mais importante Acidezes relativas: RCOOH>H2O>ROH>NH3>RH Basicidades relativas: RCOO־<HO-<RO-<NH2-<R- 4.6. Efeito dos substituintes sobre a acidez. X retira elétrons; estabiliza o íon, X cede elétrons; desestabiliza o íon aumenta a força do ácido. diminui a força do ácido ROH RO- H++ RCOOH RCOO- H++ Energia potencial Marcha da reação OH O OH O Figura 9. Efeito dos substituintes sobre a acidez:. Fonte: http://reocities.com/Vienna/choir/9201/efeito_ind utivo_em_acidos_carboxilicos.gif. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 47 Por ser um efeito indutivo, o aumento da distância diminui o efeito do substituinte. 4.7. Acidez dos hidrogênios α. A ionização de um hidrogênio α produz o carbânion I que é um híbrido de ressonância das estruturas II e III. Esta ressonância só é possível através da participação do grupo carbonilo. Não é possível ressonância deste tipo de carbânions que se formem por ionização de hidrogênio β, γ, etc, em compostos carbonílicos saturados. O grupo carbonilo influencia assim a acidez dos átomos de hidrogênio α da mesma forma que influencia a acidez dos ácidos carboxílicos: contribuindo para alojar a carga negativa do ânion. Em comparação com o hidrogênio do grupo –COOH, os átomos de hidrogênio α de um aldeído ou de uma cetona são muito fracamente ácidos; importante é o fato de eles serem consideravelmente mais ácidos que os átomos de hidrogênio existentes noutros pontos da molécula e suficientemente ácidos para permitir a formação de concentrações significativas – embora muito baixas – de carbânions. Figura 10. Exemplos de efeito dos substituintes sobre a acidez:. Fonte: http://www.iped.com.br/sie/up loads/20020.jpg Figura 11. :Compostos alfa carbonílicos (Acidez). Fonte: Química Orgânica. R. Morrison & R. Boyd, 5ª edição, 1991. Figura 12. :Compostos alfa carbonílicos (ressonância). Fonte: Química Orgânica. R. Morrison & R. Boyd, 5ª edição, 1991. Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 48 4.8. Basicidade das aminas. Constante de basicidade. Os mesmos efeitos que foram estudados para os ácidos valem também para as aminas. Lembrando que o efeito é o contrário: o que aumenta a acidez diminui a basicidade e vice-versa. 4.8.1. Estrutura e basicidade. R cede elétrons. R cede elétrons Torna o par não Estabiliza o íon compartilhado mais Aumenta a basicidade diponível. Observe abaixo as estruturas de ressonância da anilina. A estrutura neutra tem 5 formas de ressonância (I, II, V, VI, VII), enquanto que o íon anílico só tem 2 (III, IV). Devido a isso pode-se afirmar que a anilina é mais estável quando neutra, logo não necessita pegar um H+ para se estabilizar. Onde se conclui que a anilina é uma base fraca. Figura 12. :H alfa em uma cetona. Fonte: Química Orgânica. R. Morrison & R. Boyd, 5ª edição, 1991. Figura 13. : Basicidade de aminas. Fonte: Química Orgânica. R. Morrison & R. Boyd, 5ª edição, 1991. Figura 14. : Estrutura e basicidade de aminas. Fonte: Química Orgânica. R. Morrison & R. Boyd, 5ª edição, 1991. Figura 15. : Estruturas de ressonância na anilina.. Fonte: Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 49 Capítulo 5 Estereoquímica Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 50 5. Estereoquímica. 5.1. Introdução. Dentro do vasto mundo da Química Orgânica existem compostos que são muito parecidos em suas fórmulas e até formas moleculares, mas que são bem diferentes quanto às propriedades Químicas e Físicas, são os chamados isômeros. Isômeros são compostos diferentes que têm a mesma fórmula molecular. Isômeros constitucionais apresentam conectividade diferente. Ex Estereoisômeros: Tem os mesmos átomos constitutivos ligados na mesma seqüência e diferem apenas pela disposição dos átomos no espaço. Existem 2 tipos de estereoisômeros, os óticos e os cis-trans. O carbono tetraédrico apresenta quatro ligações equivalentes. Quando se substitui um ou dois hidrogênios do metano obtêm-se apenas uma substância. Todas as substâncias que forem simétricas não apresentam estereoisômeros. Podemos observar isso procurando por um plano ou eixo de simetria na molécula. Enantiômeros: isômeros que são a imagem um do outro num espelho plano, logo não podem ser sobrepostos. Se os dois modelos são sobreponíveis, eles representam simplesmente duas moléculas do mesmo composto; se os modelos não são sobreponíveis, representam moléculas de diferentes compostos, que, por terem a mesma fórmula molecular, são por definição isômeros. Figura 3: Enantiômeros. Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/images/chiral_enantiomeros.gif Figura 1: Moléculas simétricas. Fonte: http://www.ufsm.br/quimica_organica/esteres1.gif Figura 2: Imagem não sobreponível. Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/u pload/conteudo/isomeria%20optica%2 0-%20M_E_.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 51 5.2. Atividade ótica. Luz polarizada em plano. A luz é um fenômeno ondulatório em que as vibrações se produzem perpendicularmente à direção de propagação. Na luz ordinária, as vibrações produzem-se em todos os planos. Na luz polarizada em plano, as vibrações produzem-se apenas num destes possíveis planos. Há polarização da luz quando ela atravessa uma lente de um polaróide (Prisma de Nicol). Substância oticamente ativa é toda aquela que produz rotação do plano da luz polarizada. 5.3. Polarímetro. Aparelho usado para detectar a rotação da luz plano polarizada. O polarímetro consta de uma fonte luminosa, de duas lentes polaróides e de um tubo, onde se coloca a substância cuja atividade se pretende medir, e que se interpõe entre as lentes. A luz passa sucessivamente através da primeira lente (polarizador), através do tubo com a substância, através da segunda lente (analisador) e atinge finalmente a vista do observador. Figura 4: (a) Luz normal e (b) polarizada. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_aCKsC69 GTcY/S_LKf4IntSI/AAAAAAAAAEw/4BAv6o1l7i0/s400/U.gif Figura 5. Polarização da luz normal. Fonte: http://ecientificocultural.com/ECC2/ figuras/polar27.gif Figura 6. Esquema do polarímetro. Fonte: http://www.qca.ibilce.unesp.br/BNR/polarim1.jpg Figura 7. Polarímetro. Fonte: http://img.directindustry.es/images_di/photo-g/polarimetros-automaticos- 114733.jpg Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 52 Se a rotação do plano de polarização for para a direita, ou seja, em direção ao movimento dos ponteiros do relógio, diz-se que ela é dextrógira, se for para a esquerda designa-se levógira. Usa-se também os sinais + (direita) e – (esquerda) para indicar rotações. 5.4. Rotação específica. O valor da rotação depende do número de moléculas interpostas no trajeto da luz, através do tubo. Fatores que alteram o valor da rotação: Concentração da solução, comprimento do tubo. A rotação específica é uma propriedade tão característica do composto como o ponto de fusão, o ponto de ebulição, a densidade ou o índice de refração. 5.5. Enantiomeria e carbono tetraédrico. Cada estrutura é imagem uma da outra num espelho plano. Até dois isótopos do mesmo elemento são suficientemente diferentes para produzirem isômeros. A inatividade ótica ocorre devido ao fato das moléculas se encontrarem numa distribuição casual, onde cada uma delas funciona como a imagem uma da outra num espelho plano. A inatividade ótica exige, portanto, que no composto cada molécula atue como a imagem uma da outra. Numa amostra pura de um único enantiômero nenhuma molécula pode servir de imagem a outra, não se produz, portanto, a anulação de rotações de moléculas individuais e o resultado é o aparecimento de uma certa rotação, ou seja, atividade ótica. 5.6. Previsão de enantiomeria. Quiralidade. As moléculas que possuem rotação ótica são quirais. A quiralidade é a condição necessária e suficiente para a existência de enantiômeros. Um composto cujas moléculas são aquirais não tem enantiômeros. 5.7. O centro quiral. Um átomo de carbono a que se ligam quatro grupos diferentes constitui um centro quiral. Trocar dois destes substituintes entre si converte um enantiômero no outro. Esta reação não ocorre Figura 8. Rotação da luz. Fonte: http://www.expoente.com.br/vestiba/ve stibular/ufpr2003/quimica/q_03a.jpg Figura 9.Quantidade de moléculas. Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_0vc_JxuE8 Oo/Rl3dRF8SfyI/AAAAAAAAAAM /X-tPocopTsc/s320/MULTIDAO.jpg Figura 10. Alanina. Fonte: http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/arti gos/theflash/theflash51_nobel_alani na.gif Figura 11. Imagens diferentes. Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_kp6e6i- hpJU/SzOketdfQdI/AAAAAAAA AV0/ALPr_we2Yr0/s400/botox27 8%2Bvelha%2Bno%2Bespelho.jp Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 53 espontaneamente, uma vez que exigiria a quebra de ligações em torno do carbono, o que exige uma energia considerável. Se existir apenas um centro quiral numa molécula ela é sempre quiral, mas se existir mais de um ela pode ou não ser quiral. Enantiômeros têm propriedades físicas idênticas, excetuando-se o sentido da rotação do plano de polarização da luz. O valor de rotação é o mesmo, porém um gira para a esquerda e o outro para a direita. Os enantiômeros possuem propriedades químicas idênticas, excetuando-se as reações com outros compostos oticamente ativos. Representa-se a molécula em forma de cruz, com o centro quiral no centro da cruz, e tendo as linhas horizontais como dirigidas na direção do observador e as linhas verticais como se afastando do observador (Projeções de Fischer). Deve-se rodar estas fórmulas a 180° no plano do papel para verificar se as podemos fazer coincidir . 5.8. Testes de quiralidade: Planos de simetria. Uma molécula não será quiral se possuir um plano de simetria. Plano de simetria (plano especular) é um plano imaginário que corta a molécula de tal forma que as 2 metades sejam uma a imagem especular da outra. Todas as moléculas com um plano de simetria são aquirais. Se todos os átomos tetraédricos numa molécula têm dois ou mais substituintes iguais (plano de simetria) a molécula será aquiral. Um objeto é quiral quando não é sobreponível com a sua imagem no espelho. Por exemplo, a reflexão da mão esquerda não é sobreponível com a mão esquerda, mas com a mão direita. As mãos são, por isso, quirais. Em sistemas biológicos a especificidade estereoquímica é mais regra que exceção visto os catalizadores biológicos – enzimas – e a maioria dos compostos em que atuam serem oticamente ativos CH3H CH3H O Aquiral Figura 12. Molécula aquiral com 2 carbonos assimétricos.. Fonte: http://images2.wikilingue.com /thumb/6/64/Meso- Weins%C3%A4ure_Spiegel.s vg/150px-Meso- Weins%C3%A4ure_Spiegel.s vg.png.jpg Figura 13. Molécula quiral.. Fonte: http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensmedio/quimica Para saber mais sobre quiralidade e sistemas biológicos acesse o link abaixo: http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/03/quiral.pdf Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 54 5.9. Modificação racêmica. É uma mistura em partes iguais de um e de outro enantiômeros. É opticamente inativa. Uma molécula de um enantiômero anula a rotação causada pala molécula do outro. Utiliza-se o símbolo ± para indicar a natureza racêmica de uma amostra. Não é possível separar uma mistura racêmica por métodos convencionais. Só é possível separar uma mistura racêmica através do uso de reagentes oticamente ativos. Quando uma mistura de dois enantiômeros apresenta quantidades de um enantiômero em excesso diz-se se tratar de um excesso enantiomérico (EE). EX: Mistura dos enantiômeros do 2-butanol. [α] = + 6,76°. (+) 2-butanol [α] = + 13,52°. Excesso Enantiomérico (EE) = + 6,76°/+ 13,52 X 100. EE = 50 %. Significa que 50 % da mistura é da forma (+) e 50 % é da forma racêmica (±), logo a composição da mistura é 50 % (+) e 25 % (+), 25 % (-), o que dá como resultado final: 75 % (+) e 25 % (-). Figura 14. Efeitos biológicos nas moléculas de enantiômeros da noradrenalina.. Fonte: http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/03/quiral.pdf Química Orgânica I (UAB-EAD) Introdução à Química Orgânica Prof. Dr. Fernando Carneiro 55 EXERCÍCIO: Calcular o excesso enantiomérico da mistura dos enantiômeros do 2-metil-1-butanol, [α]D = - 1,152° e dizer quem está em EE. [α] = - 5,756°, [α] = + 5,756°. Sempre que observarmos atividade ótica (molecular) podemos concluir que estamos em presença de moléculas quirais. Será a recíproca verdadeira? Não, observa-se isso quando existe uma mistura racêmica. 5.10. Configuração (R e S). É o arranjo espacial dos respectivos átomos. A escolha da configuração é uma forma de representar as estruturas sem ter que desenhá-las constantemente. O método mais utilizado hoje para se escolher os sufixos R e S, segue os passos propostos por Cahn-Ingold- Prelog. PASSO 1: Seguindo um conjunto de REGRAS DE PROCEDÊNCIA atribuímos uma ordem de prioridade aos quatro átomos ou grupos de átomos ligados ao centro quiral. A procedência depende simplesmente do número atômico, tendo o de maior número a prioridade 1. PASSO 2: Imaginamos a molécula orientada por forma a que o último grupo na ordem das procedências esteja em oposição a nós, e em cujos vértices se situam os três outros grupos. Seguindo-se do maior número atômico em direção ao menor se se observar o movimento em semelhança aos movimentos do ponteiro do relógio a configuração diz-se R (Latim; Rectus = direito) e se contra este movimento diz-se S (Latim; Sinister = esquerdo). Não se deve confundir o sentido da rotação ótica com o sentido da configuração. PASSO 3: Quando os 4 átomos ligados ao Carbono assimétrico são diferentes, a ordem de procedência
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