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Elementos básicos do método etnográfico

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1 
 
"Quando eu vi, eu tinha feito uma etnografia": notas sobre como não fazer uma 
“etnografia acidental” 
 
Autoria: Carolina Dalla Chiesa, Letícia Dias Fantinel 
 
Resumo 
 
 
Objetivamos neste trabalho apresentar alguns elementos básicos do método etnográfico com 
vistas a reduzir os desentendimentos sobre suas definições que levam, por vezes, 
pesquisadores pouco informados a realizar “etnografias acidentais”. Para tanto, discutimos 
algumas noções contemporâneas sobre este método, bem como aspectos centrais do mesmo, 
tais quais: a observação participante, o diário de campo, a reflexividade, o estranhamento e a 
busca de significados. Esperamos, com isso, contribuir para a propagação do conhecimento e 
para uma transposição de métodos e técnicas, de uma disciplina a outra, que seja responsável 
para com a manutenção de seus pressupostos. 
 
 
 
 
 
2 
 
1 Introdução 
A etnografia é um método de pesquisa surgido na Antropologia em um contexto de 
crítica ao que se vinha produzindo no seio dessa ciência no século XIX. Nessa época, 
predominavam os estudos que tinham por objetivo a busca pela reconstituição dos diversos 
estágios da evolução humana através, principalmente, do estudo de povos ditos “primitivos”. 
Nesse contexto, os textos antropológicos eram produzidos, predominantemente, por meio da 
leitura de relatos de viajantes e missionários, bem como de outros participantes de expedições 
científicas, o que resultava em produções marcadas pelo etnocentrismo, como a própria teoria 
evolucionista (URIARTE, 2012). 
A partir do final do século XIX, antropólogos passam a integrar expedições científicas, 
e, no início do século XX, destaca-se o polonês Bronislaw Malinowski, que permaneceu por 
anos nas ilhas Trobriand, onde viveu entre os trobriandeses, aprendeu o idioma nativo e 
vivenciou situações cotidianas do grupo. Seu livro “Argonautas do Pacífico Ocidental”, 
publicado em 1922, marca o que se considera a primeira formulação do que é o método 
etnográfico (URIARTE, 2012). 
O convívio com os nativos e a polifonia possibilitada através da interlocução com os 
integrantes dos grupos estudados possibilitou mudanças basilares na ciência antropológica, 
que deixa de ser centrada na sociedade do pesquisador e passa a ser relativizada mediante a 
própria visão de mundo dos nativos. Apenas a vivência em campo, portanto, permitiria ao 
pesquisador captar esse ponto de vista nativo (MALINOWSKI, 1978). Nesse sentido, embora 
alguns autores prefiram chamar a etnografia não de método, mas sim de prática descritiva 
(INGOLD, 2008), a importância da experiência direta e prolongada do pesquisador, da 
observação detalhada e da precisão e sensibilidade na realização da pesquisa vem sendo 
mantida na prática etnográfica (INGOLD, 2008). 
Em geral, admite-se que, desde os tempos de Malinowski até os atuais, a Antropologia 
em muito se alterou (GIUMBELLI, 2002). Seu locus de estudo transpõe-se também para 
sociedades complexas, e os pesquisadores passam a estudar grupos pertencentes a sua própria 
sociedade (VELHO, 2003). Contudo, muitos dos pressupostos do método são mantidos 
contemporaneamente, conforme será visto neste texto. Da mesma maneira, o método 
etnográfico se disseminou em outros meios científicos, e vem sendo apropriado por diversos 
campos do conhecimento, como a própria Administração. A crescente utilização do método 
etnográfico na área de Administração, por exemplo, vem sendo justificada por representar 
uma forma de pesquisa que conseguiria compreender melhor os hábitos, comportamentos e 
atitudes dos indivíduos objeto de estudo (CALIMAN e COSTA, 2008). Na esteira dessa 
popularização alcançada pelo método etnográfico, muito se vem discutindo sobre seu uso em 
diversas áreas, bem como algumas dificuldades surgidas da falta de esclarecimento de 
diversos pesquisadores em relação à etnografia (FORSEY, 2010). 
Nesse contexto, o presente artigo surge de uma inquietação decorrente de nossa 
própria experiência enquanto pesquisadoras com prática em etnografia, na medida em que 
vivenciamos um período de grande difusão do método, em que são feitas algumas 
apropriações parciais de determinadas características relacionadas à etnografia, como se 
partes do método fossem equivalentes a sua totalidade. Como consequência, acaba-se 
incorrendo em algumas impropriedades, nem sempre intencionais, em relação ao método. Um 
exemplo emblemático disso é o episódio que desencadeou a redação deste texto e que inspira 
seu título. Uma de nós, certa feita, ouviu a fala de um pesquisador que, ao necessitar elaborar 
notas de campo para um estudo que estava realizando, em determinado momento, teve um 
insight e, segundo ele, “deu-se conta” de que, espontânea ou “acidentalmente”, sem ter a 
intenção de, estaria fazendo uma etnografia. Dado que acreditamos que uma pesquisa não 
deve ter um método “acidentalmente” conduzido, buscamos aqui ressaltar alguns pressupostos 
da etnografia como forma de contribuir para o campo de Estudos Organizacionais. Este 
 
3 
 
interesse surgiu não somente a partir do episódio em si que descrevemos, como também do 
fato de que nossas pesquisas utilizaram e utilizam o método etnográfico para serem 
concretizadas. Assim, os conceitos e reflexões que expomos aqui advêm, em grande parte, de 
pesquisas já realizadas por nós. 
O episódio real que citamos mostra que, apesar de discutido e difundido, ainda há 
muitas questões a serem esclarecidas no meio acadêmico em relação ao método etnográfico, 
principalmente no seio de ciências que não são aquelas de origem do método, como a 
Administração. Outrossim, nosso objetivo aqui é discutir algumas dessas possíveis confusões 
geradas em torno da etnografia, que simbolizamos através do que chamamos “etnografia 
acidental”, bem como refletir sobre aspectos centrais do método, evidenciando alguns de seus 
pressupostos. Nossa linha argumentativa centrar-se-á, principalmente, nos pressupostos da 
Antropologia interpretativa de Geertz (2008), mesmo que apresentemos ao longo do texto 
posições divergentes a esta como forma de conhecimento sobre um método que pode assumir 
diferentes propostas. Pretendemos, com isso, fortalecer as discussões sobre esse método a 
partir de suas bases, de modo a evitar equívocos, como o que citamos no parágrafo anterior. 
Assim sendo, este texto está organizado em quatro itens, além dessa introdução. No 
próximo capítulo, discutimos algumas das apropriações parciais do método etnográfico que 
podem ser confundidas com a totalidade do método, como a utilização de determinadas 
técnicas. A seguir, mostramos algumas possibilidades do método etnográfico na 
contemporaneidade, para, posteriormente, refletir sobre pressupostos do método. Ao final, 
elaboramos considerações finais, sem a pretensão de esgotar a discussão, mas sim abrindo 
caminhos para novas reflexões tangentes ao uso da etnografia. 
 
2 O que pode parecer etnografia, mas não é etnografia 
Uma etnografia consiste em um “levantamento de todos os dados possíveis de uma 
determinada comunidade com a finalidade de conhecer o estilo de vida ou a cultura específica 
da mesma" (CAVEDON, 2003, p. 143). O objetivo da etnografia é descrever a vida do outro, 
de maneira acurada e sensível, guiada por um processo de observação detalhada e da 
experienciação da realidade desse outro (INGOLD, 2008). O cerne do trabalho etnográfico é 
chegar a amplas afirmativas sobre o papel da cultura na elaboração da vida cotidiana, através 
das chamadas especificações complexas (ROCHA, BARROS e PEREIRA, 2005). Mesmo em 
sendo o trabalho do pesquisador microscópico, na medida em que olha com atenção para o 
detalhe, ele pretende ter acesso a grandes temas, através da análise do pequeno e do particular. 
Assim, a função do etnógrafo residiria em descrever como um grupo de pessoas, localizado 
no espaço e no tempo, percebe o mundo e como age sobre ele (INGOLD, 2008). 
Tais objetivos são seguidos através de três caminhos básicos: (1) o mapeamento das 
leis e costumesque regem a vida do grupo, processo no qual se observa o maior número 
possível de manifestações concretas que definem a constituição social; (2) a observação e o 
registro dos comportamentos cotidianos do grupo, tanto aqueles habituais quanto os 
considerados novos; (3) o registro das opiniões, comentários, palavras dos nativos 
(MALINOWSKI, 1978). Só assim se tornaria possível a compreensão do ponto de vista e da 
visão de mundo dos pesquisados (MALINOWSKI, 1978). 
Nesse processo, diversas técnicas podem ser utilizadas, dentre elas a observação 
participante, que se sobressai como a mais conhecida. Contudo, por vezes, o que se 
convencionou chamar de método etnográfico é confundido com técnica, por vezes mal 
compreendido, mal interpretado, também em razão de ser um método que possibilita associar 
diferentes técnicas ao abordar um problema antropológico de pesquisa. Conforme aponta 
Magnani (2002, p. 17): 
 
4 
 
O método etnográfico não se confunde nem se reduz a uma técnica; pode usar ou 
servir-se de várias, conforme as circunstâncias de cada pesquisa; ele é antes um 
modo de acercamento e apreensão do que um conjunto de procedimentos. 
Dentre tais técnicas, além da observação participante, são utilizadas a observação 
direta, filmagens, captações fotográficas, entrevistas semi-estruturadas, entrevistas biográficas 
ou narrativas sobre a história de vida dos sujeitos em foco na pesquisa, levantamento de 
registros históricos, entre outras. Cada uma dessas técnicas, por sua vez, pode contemplar um 
amplo espectro de possibilidades de que o pesquisador dispõe para escolher. Sua escolha será 
pautada pelo melhor modo de se acercar da realidade a ser pesquisada. Conforme apontam 
Rocha e Eckert (2008), não há fórmula pronta para elaborar uma pesquisa etnográfica, porém, 
se o pesquisador quiser partir de algum lugar, pode começar com o manual de Mauss (1993)i. 
A confusão do método com a técnica – normalmente traduzida na assunção de que 
conduzir uma observação participante seria sinônimo de realizar uma etnografia – ocorre não 
somente no que tange à abordagem de coleta de dados em campo, mas também na forma de 
registro desses dados. A forma consagrada de registro da observação participante, de 
entrevistas e demais interações ocorridas nos locais pesquisados é o diário de campo. Desse 
modo, nos tópicos seguintes abordaremos as técnicas da observação participante e elaboração 
do diário de campo, respectivamente. 
 
2.1 Conduzir observação participante não é fazer etnografia 
A observação participante, uma das técnicas fundamentais para o desenvolvimento de 
estudos etnográficos, pressupõe a atuação real do pesquisador na vida do grupo estudado. A 
interação, na pesquisa etnográfica, materializa-se principalmente através dessa técnica 
(OLIVEIRA, 2000). O conhecimento sobre o grupo se construiria, pois, a partir da vivência 
em seu interior, de maneira que a técnica sirva como 
uma fórmula entre o contínuo vaivém entre o “interior” e o “exterior” dos 
acontecimentos: de um lado, captando o sentido de ocorrências e gestos específicos, 
através da empatia; de outro, dá um passo atrás, para situar esses significados em 
contextos mais amplos. [...] Entendida de modo literal, a observação-participante é 
uma fórmula paradoxal e enganosa, mas pode ser considerada seriamente se 
reformulada em termos hermenêuticos, como uma dialética entre experiência e 
interpretação. (CLIFFORD e GONÇALVES, 1998, p. 33-34) 
A participação do pesquisador pode, assim, variar de membro total a membro parcial 
do grupo, uma vez que, em diversas situações de pesquisa, “é quase impossível o estranho ser 
sempre um participante genuíno” (GOODE e HATT, 1960, p. 160). Ao integrar experiência e 
interpretação, o pesquisador pode atuar de forma real na vida do grupo estudado (CLIFFORD 
e GONÇALVES, 1998). Tal técnica permite, destarte, o acesso a informações que não seriam 
disponibilizadas facilmente, em uma observação desinteressada (GOODE e HATT, 1960). 
Nesse sentido, não seria possível através da mera observação, ao vagar pela aldeia ou grupo 
nativo, captar os elementos necessários à condução de uma etnografia; o etnógrafo recolheria 
um “material morto”, que não levaria ao entendimento da vida e lógica nativas 
(MALINOWSKI, 1978). 
Considerando que o etnógrafo atua, mais do que como um observador participante, 
como um “ouvidor participante”, tendo em vista a importância da audição, da linguagem, da 
entrevista e da conversa na coleta de dados etnográficos (FORSEY, 2010), destaca-se também 
o papel central da interação no trabalho de campo (EMERSON, 2009). O olhar e o ouvir do 
etnógrafo, atos cognitivos mais preliminares no trabalho de campo, são elementos centrais em 
sua experiência de pesquisa, que possuem significações especificas no processo de 
investigação, e fazem-se presentes no desenvolvimento da observação participante, 
modalidade que ganhou um status elevado na Antropologia (OLIVEIRA, 2000). Contudo, 
 
5 
 
apesar dessa noção, é importante destacar que a observação, ainda que participante, embora 
técnica utilizada pelo etnógrafo, não se traduz, em si, como equivalente à prática etnográfica. 
Em si mesma, a observação participante, assim como a observação direta e as 
entrevistas, são técnicas, e como tais, não são “responsáveis” pela construção da etnografia 
em si. A etapa de uma observação participante é apenas parte do trabalho de campo. 
Juntamente das outras técnicas utilizadas, o pesquisador terá um esforço posterior de 
construção do relato etnográfico sobre sua experiência vivida que não se resume a uma 
técnica, tão somente. Neste relato – o qual abordaremos em itens posteriores – o pesquisador 
dará sentido ao “vivido” na forma de texto, com vistas a remontar significados de 
determinados acontecimentos para o grupo ou indivíduos que estão em foco na pesquisa. 
Traçar relações, compreender eventos, rituais, acontecimentos usuais ou excepcionais, 
para além de suas oficializações são tarefas que transcendem a observação em si. Mesmo que 
no curso da observação em campo, o pesquisador depare-se com a necessidade de já traçar 
relações e buscar compreensões mais amplas envoltas em “teias de significados” (GEERTZ, 
2008), esta etapa transcende a técnica em si mesma. 
 
2.2 Escrever diários de campo não é fazer etnografia 
Assim como o fato de empreender a observação participante não se caracteriza como a 
realização de uma etnografia, tampouco o fato de registrar vivências de observações diretas 
ou participantes em diários, configura-se, por si somente, a condução do método etnográfico. 
Quando o pesquisador está em campo, em geral, ele anota discursos, comportamentos, 
vivências, acontecimentos, expressões variadas sobre a realidade em que está participando. 
Estes registros são realizados em algo que se convencionou chamar de “caderno de campo”, 
utilizado para auxiliar o etnógrafo em sua etapa posterior, de escrita de um diário de campo. 
Normalmente, aponta-se que a utilização do caderno de campo não seja tal que atrapalhe ou 
interponha-se na interação do pesquisador com o campo. Mais importante que a perfeição do 
registro, é a consecução da interação em campo, uma vez que, sem esta, não existe etnografia 
(ROCHA e ECKERT, 2008). 
Por sua vez, no diário de campo, devem ser feitos todos os registros dos dados 
coletados. O pesquisador deve relatar todos os acontecimentos presenciados durante o 
período, não apenas manifestações concretas da cultura, mas também comportamentos 
cotidianos e expressões próprias do grupo, assim como os próprios sentimentos do 
pesquisador, no intuito de melhor compreensão da realidade estudada (CALIMAN e COSTA, 
2008). 
Parte significativa do exercício etnográfico reside na construção do diário de campo, 
instrumento em que o pesquisador produz dia após dia a partir do exercício da observação de 
comportamentos culturais de determinado grupo (WEBER, 2009). No diário de campo, que 
não deve ser confundido meramente com um diário íntimoou um simples diário de pesquisa, 
devem ser relacionados os eventos observados ou compartilhados, e reunidos materiais para 
analisar práticas, discursos e posições dos pesquisados, além de registradas as relações que 
foram nutridas, permitindo descrever e analisar fenômenos estudados (WEBER, 2009). Em 
suma, a reflexão sobre o trabalho de campo passa pela compreensão do processo de confecção 
dos diários de campo e sua apropriação como principal fonte da pesquisa (BONETTI e 
FLEISCHER, 2007). 
O método etnográfico representa muito mais do que um simples modo de fazer 
pesquisa ou de coletar dados, pois, no campo da Antropologia, é a partir da pesquisa de 
campo, especialmente de cunho etnográfico, que se constrói o conhecimento (CALIMAN e 
COSTA, 2008). A etnografia é tanto um método, por excelência, de desvendamento da vida 
cotidiana (YBEMA, YANOW, et al., 2009) quanto uma postura (ROCHA, BARROS e 
PEREIRA, 2005) que implica não somente a interação com o campo, mas questões éticas que 
 
6 
 
estão colocadas nesta interação e uma profunda “vigilância epistemológica” (ROCHA e 
ECKERT, 2008) no curso da pesquisa. 
 
3 Algumas perspectivas sobre etnografia 
Assim como a própria Antropologia enquanto disciplina, o exercício etnográfico pode 
ser visto de diferentes maneiras, uma vez que o método é constituinte da disciplina. A escrita 
do trabalho de campo que resultará em uma etnografia deve acompanhar as mudanças e 
atualizações deste campo disciplinar, tendo em vista a construção deste que chamamos de 
“outro” no texto. Várias são as maneiras de fazer etnografia e, portanto, vamos explorar 
algumas delas, atentando para a postura do pesquisador frente aos pesquisados, começando 
por um dos trabalhos etnográficos mais antigos e importantes, que data aproximadamente de 
1915, apesar de ser publicado posteriormente. 
Referência indubitável na discussão do método antropológico, Malinowski (1978) 
tinha como uma das grandes virtudes de sua etnografia, a capacidade de remontar uma 
quantidade infindável de dados de campo, dando a sensação, para o leitor, de que ele também 
“esteve lá”. Como diz Durham (2004), é grande o mérito deste autor em reconstruir uma 
experiência cultural específica pautada por reflexões teórico-metodológicas capazes de dar 
conta de sua experiência de campo. Sua tentativa de integração entre representação e ação 
fornece bases para compreender o sentido de totalidade de sua obra pautada por uma 
preocupação do funcionalismo cultural, que entende a realidade social como apreensível 
somente enquanto sistema (DURHAM, 2004). Sua abordagem privilegiava tomar como 
unidade de análise determinado segmento concreto do povo estudado, como o kula, que 
apresenta muitas semelhanças com o que Mauss (2003) chama de fato social total, uma 
unidade multidimensional que inclui aspectos materiais, sociais, simbólicos, econômicos, 
jurídicos, religiosos relacionando-se com outras instituições. 
Entretanto, aponta Durham (2004) que, quando Malinowski teoriza sobre a cultura, ele 
indaga a função da instituição do conjunto, concluindo que esta responderia a uma 
necessidade básica ou derivada e, assim, empobreceria a análise, na opinião da referida 
autora. Sob esse ponto de vista, a cultura passaria a ser concebida como a soma de 
instituições, parte autônoma de uma totalidade. Para nossa discussão sobre etnografia, tal 
aspecto importa, pois se entende contemporaneamente que já passou o tempo em que um 
etnógrafo, depois de passar um período em campo, buscava retratar este todo de seu campo. 
Atualmente, tende-se a rejeitar explicações holísticas, dados os limites da capacidade de um 
pesquisador conhecer o “outro” (CALDEIRA, 1988). Desse modo, o esforço etnográfico 
configura-se sempre uma interpretação parcial. 
Algo semelhante a esta crítica é postulado por correntes pós-modernas, diferenciando-
se de etnografias clássicas, como as empreendidas por Malinowski (1978), Evans-Pritchard 
(2013) e Radcliffe-Brown (2013), por exemplo. A partir da década de 1980, diversos 
antropólogos americanos, chamados de meta-etnógrafos (RABINOW, 1986), passaram a 
criticar o modelo de etnografia sustentado na ideia de um “encontro colonial”, e em relações 
de poder assimétricas trazidas pelo imperialismo europeu em direção aos povos africanos e 
australianos, principalmente. Com o desmantelamento dos impérios, reestruturações de poder 
e com as complexas relações entre sociedades, tornou-se inviável compreender este “outro” 
em sua totalidade, visto que essa totalidade não é isolável no tempo e no espaço. 
Clifford e Gonçalves (1998), por exemplo, desmantelam a construção da autoridade 
etnográfica estabelecida com base na crença que “o outro” é passível de ser observado e 
conhecido, desde que com os olhos treinados de um antropólogo. Essa preocupação 
objetivista, que se instaura na dicotomia êmico-éticoii, expõe certo “realismo etnográfico” 
explorada por Marcus e Cushman (1982). Na visão destes autores, a noção de “realismo” 
parte de alguns pressupostos das etnografias clássicas, quais sejam: estruturar o relato 
 
7 
 
etnográfico sequencialmente; retirar-se do texto, suprimindo a experiência etnográfica do 
autor; falar pouco em indivíduos e mais no grupo como um todo; acumular detalhes da vida 
cotidiana; apresentar o “ponto de vista do nativo” objetificado; tender às generalizações, e 
fazer uma exegese de termos nativos, demonstrando assim a competência do pesquisador 
(CALDEIRA, 1988). 
O que era então uma experiência fragmentada, descompassada e confusa torna-se, 
depois, um todo coerente que pouco fala sobre o campo, provocando uma fissura entre 
experiência e texto, ou até entre discurso e texto. Assim, as noções de invenção do “outro” e 
“invenção da cultura” (WAGNER, 2012), pautadas na ideia de que o “outro” não existe até 
que este seja inventado como algo diferente do pesquisador, passam a ganhar relevância no 
contexto de uma crítica da própria produção etnográfica. Sob esse ponto de vista, a noção de 
cultura não existiria fora de uma relação dialética entre a cultura do pesquisador e a cultura do 
pesquisado. 
A resposta metodológica de Geertz (2008) aos dilemas antropológicos aponta para um 
esforço hermenêutico. Para ele, etnografia não é somente um método do qual o pesquisador se 
utiliza para abordar seu universo empírico; etnografia seria, em si mesma, um trabalho 
antropológico e, como tal, deveria compreender as teias de significados culturais. Para este 
autor, a análise construída através de uma descrição densa etnográfica é sempre incompleta, 
pois se trata de uma interpretação e, por isso mesmo, é sempre provisória. 
[...] a etnografia é uma descrição densa. O que o etnógrafo enfrenta, de fato – a não 
ser quando (como deve fazer, naturalmente) está seguindo as rotinas mais 
automatizadas de coletar dados – é uma multiplicidade de estruturas conceptuais 
complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às outras, que são 
simultaneamente estranhas, irregulares, inexplícitas, e que ele tem que, de alguma 
forma, primeiro apreender e depois apresentar. [...] Fazer etnografia é como tentar 
ler (no sentido de ‘construir uma leitura de’) um manuscrito estranho, desbotado, 
cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos escrito 
não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de 
comportamento modelado (GEERTZ, 2008, p. 7). 
A escrita etnográfica tratar-se-ia, então, de um esforço ficcional, uma interpretação da 
interpretação. Tal esforço é verdadeiro, mas não em um sentido de objetificação realista 
daquilo que é observado; verdadeira é apenas a interpretação empreendida pelo pesquisador. 
Os textos antropológicos são eles mesmos interpretações e, na verdade, de segunda e 
terceira mão. Trata-se, portanto, de ficções; ficções no sentido de que são ‘algo 
construído’, ‘algo modelado’ – o sentido original de fictio – não que sejam falsas, 
não-factuais ou apenas experimentos de pensamento. (GEERTZ,2008, p. 25-26). 
Colocando-se ao encontro desse argumento, Peirano (2008) aponta que etnografia não é 
apenas uma metodologia ou uma prática de pesquisa, “mas a própria teoria vivida [...]. No 
fazer etnográfico, a teoria está, assim, de maneira óbvia, em ação, emaranhada nas evidências 
empíricas e nos nossos dados.” (2008, p. 3). Teoria e prática são, pois, inseparáveis, uma vez 
que as “lentes” que o pesquisador usa para interpretar o campo são oriundas das teorias que 
direcionam tanto sua inserção em campo quando seu posterior relato etnográfico. 
A postura interpretativa, entretanto, não é a única existente. Contra ela, críticos pós-
modernos apontam que a noção de interpretação provisória e de descrição densa não rompem 
com a autoridade etnográfica clássica (CALDEIRA, 1988). Ainda haveria um “outro” a ser 
interpretado; ainda há uma “cultura” entendida como externa ao pesquisador que, extraída em 
seus elementos diferenciadores, pautados por um relato que implícita relações de poder, 
possibilita que esta seja interpretada. Nesse sentido, Marcus e Fischer (1986) defendem a 
disciplina da Antropologia como crítica cultural. 
 
8 
 
A sugestão dos críticos pós-modernos é a tentativa de construção de um texto dialógico, 
polifônico, representando muitas vozes e, portanto, diluindo a presença do autor no texto. 
Assim, a etnografia não representaria uma cultura, mas processos comunicacionais dos quais 
ele, o pesquisador, é apenas mais uma das vozes. O texto, assim, sugere, provoca relações, 
mas não se considera politicamente superior para realizar uma explicação concisa da realidade 
vivida de outrem (CALDEIRA, 1988). 
Quando não há mais um todo coerente e isolável para analisar e quando as conexões de 
uma sociedade moderno-contemporânea complexa (VELHO, 2003) transcendem as 
localidades situadas estavelmente no tempo e espaço, a prática etnográfica deve adaptar-se 
aos objetos de estudo mais complexos, como os multi-situados e interdisciplinares 
(MARCUS, 1995). Algumas são as estratégias etnográficas sugeridas pelo autor, as quais 
abordaremos na sequência. 
Uma delas é “seguir as pessoas”. A mais óbvia e convencional de todas, já encontrada 
em Malinowski (1978), hoje vem sendo utilizada para estudos sobre processos migratórios, 
por exemplo. Outra abordagem é “seguir as coisas”, cujo fundamento está em grande parte no 
trabalho de Appadurai (1986) A vida social das coisasiii de forma a traçar as mudanças de 
status das coisas, commodities, gifts, obras de arte ou recursos ao longo do tempo em 
diferentes contextos. Para Marcus (1995), este tipo de etnografia seria o mais utilizado para 
estudar processos do sistema capitalista, porém, para além deste, pode-se citar também a 
abordagem de Latour (2000) em estudos sobre ciência e tecnologia que, ao buscar traçar a 
construção de fatos científicos, segue atores humanos e não-humanos no mesmo plano de 
investigação. 
Pode-se ainda “seguir a metáfora”, quando aquilo que se busca está envolto em 
discursos e modos de pensamentos de modo que o que guia a investigação são os sinais, 
símbolos e metáforas em torno do objeto. Haraway, Kunzru e Tadeu (2009) utilizam essa 
estratégia para a construção de seu objeto de estudo sobre ciborgues, enquanto Martin (1995) 
busca traçar a noção de imunidade na cultura norte-americana. Outra abordagem é “seguir a 
história ou enredo”, uma vez que existem narrativas que podem, elas mesmas, servir como 
uma heurística para o trabalho de campo. Esta estratégia, para Marcus (1995), já foi bastante 
utilizada na análise Lévi-straussiana de mitos e atualmente direciona-se também para 
investigação da memória social e coletiva. Pode-se ainda “seguir a biografia”, ou seja, a 
história de vida, como um caso particular da estratégia de “seguir a história ou enredo”. A 
última estratégia sugerida por Marcus (1995) é de “seguir o conflito”, ou partes do conflito. 
Comum na Antropologia do Direito, no estudo de instituições legais e mídia de massa, alguns 
exemplos dessa estratégia apontam para o estudo da controvérsia sobre o aborto, sobre leis de 
direitos autorais, entre outros conflitos cotidianos. 
Não obstante, contemporaneamente, o contexto de elaboração dos textos etnográficos 
em muito difere daquele em que foram elaboradas as etnografias chamadas clássicas, uma vez 
que, tradicionalmente, o objeto de estudo da Antropologia eram prioritariamente os indivíduos 
das sociedades tradicionais (CAVEDON, 2003). Hoje, com a diminuição em número das 
sociedades ditas tradicionais, e com a complexificação da vida urbana, muitos trabalhos 
antropológicos voltam-se para o estudo das sociedades contemporâneas nas grandes cidades 
(MAGNANI, 2002). Criam-se novas esferas de investigação, como a Antropologia do 
Consumo, a Antropologia Urbana, Antropologia Rural, Antropologia Política, campos em que 
a etnografia representa, mais que um método, a atividade que dá essência ao conhecimento e à 
compreensão do outro (CALIMAN e COSTA, 2008). 
 
4 Então, o que caracteriza uma etnografia? 
Como se viu, é possível dizer que o método etnográfico não pode ser confundido com 
ou reduzido a uma técnica, na medida em que pode fazer uso de várias delas a depender de 
 
9 
 
cada pesquisa; ele se caracteriza mais por ser “um modo de acercamento e apreensão do que 
um conjunto de procedimentos” (MAGNANI, 2002, p. 17). Contudo, independentemente da 
forma que o pesquisador escolhe para acercar-se da realidade a estudar, há alguns 
entendimentos básicos que podem ser elencados na reflexão sobre este método, que não se 
esgotam nos itens abordados no presente trabalho. 
Os diferentes autores que versam sobre etnografia deixam entrever determinados 
núcleos de significado recorrentes, como: primeiro, a necessidade de uma atitude de 
estranhamento por parte do pesquisador em relação ao objeto, a qual provém da presença de 
sua cultura de origem (MAGNANI, 2009). Em verdade, essa copresença acaba provocando a 
possibilidade de uma solução não prevista, um olhar descentrado, uma saída inesperada. O 
pesquisador se depara com o significado do arranjo do nativo, percebe esse significado e deve 
ser capaz de descrevê-lo em seus próprios termos, apreender essa lógica e incorporá-la de 
acordo com os padrões de seu próprio aparato intelectual e até mesmo de seu sistema de 
valores e percepção. De acordo com o autor, logo: 
a etnografia é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato 
com o universo dos pesquisados e compartilha seu horizonte, não para permanecer 
lá ou mesmo para atestar a lógica de sua visão de mundo, mas para, seguindo-os até 
onde seja possível, numa verdadeira relação de troca, comparar suas próprias teorias 
com as deles e assim tentar sair com um modelo novo de entendimento ou, ao 
menos, com uma pista nova, não prevista anteriormente. (MAGNANI, 2009, p. 
135). 
Essa maneira de aproximação é própria da abordagem etnográfica. Trata-se de um 
empreendimento que supõe investimento, paciência e continuidade, ao cabo do qual e em 
algum momento, os fragmentos se ordenam, perfazendo um significado que pode ser 
inesperado (MAGNANI, 2009). A abordagem etnográfica se revela, pois, relacional, tanto 
quanto é relacional seu objeto. O conhecimento etnográfico é construído, assim, através da 
experiência e da relação com o outro (MOHIA, 2008). Destarte, o pesquisador descreve, com 
grande profundidade, as culturas enquanto teias de significado que devem ser apreendidas, 
revelando a singularidade do objeto de estudo frente a outros fenômenos culturais (GEERTZ, 
2008). Sendo assim, organizamos algumas noções básicas que julgamos mais importantes na 
pesquisa etnográfica em seis aspectos, que estão apresentados a seguir. 
 
4.1 A entrada em campo e o fluxo da observação participante 
Não é comum que a etnografia parta de hipóteses (ROCHA e ECKERT, 2008). Desse 
modo, é somente com a entrada em campo e no decorrer da observação participante que as 
relações teórico-empíricas começarão a ser desenvolvidas.Como ressalta Geertz (2008, p. 
20), “chegar a qualquer lugar com um assunto enfocado é intensificar a suspeita, a sua própria 
e a dos outros, de que você não o está encarando de maneira correta.” Entretanto, cabe apontar 
que é necessário um esforço prévio à entrada em campo buscando o que já foi dito sobre 
determinado fenômeno, com o intuito de acercar-se do objeto de pesquisa. 
Na medida do possível, com a entrada em campo, o pesquisador procurará relativizar 
suas percepções com vistas à compreensão da realidade observada a partir de sua própria 
lógica de funcionamento. Isto certamente não significa que o pesquisador irá despir-se 
completamente de suas vivências e percepções – dada a impossibilidade disso – mas sim que 
irá colocar-se em uma “vigilância epistemológica” (ROCHA e ECKERT, 2008), de modo a 
sempre questionar-se sobre o que ocorre e sobre seu próprio entendimento acerca do cotidiano 
do campo. 
A observação participante não consiste apenas em, às vezes, deixar de lado a máquina 
fotográfica, o lápis e o caderno para participar do que está acontecendo, mas também significa 
a possibilidade de captar ações e discursos em ato, o meio privilegiado para elaboração de 
 
10 
 
teorias etnográficas, expressão que serve para solucionar o dilema do antropólogo, 
constantemente preso entre ciência e narrativa, entre discurso sobre os outros e o próprio 
diálogo com eles (GOLDMAN, 2006). Os dados de pesquisa não são meramente observados, 
mas sim possibilitam revelar, não ao pesquisador, mas no pesquisador, aspectos situados na 
interseção das categorias nativas apresentadas pelos informantes e da observação do etnógrafo 
(PEIRANO, 1995). 
Conforme aponta Cavedon (2003), a maneira pela qual o pesquisador é introduzido no 
campo diz muito sobre o tipo de interação que se tem com as pessoas. Em uma estrutura 
organizacional, por exemplo, ser introduzido por alguém hierarquicamente superior pode 
facilitar uma entrada inicial, porém, dificultar a relação com outras “camadas” 
organizacionais. A entrada com um informante-chave em específico, hierarquicamente 
superior ou não, também pode fazer com que a visão de mundo do pesquisador seja 
impregnada com a dele, não possibilitando que ele note percepções para além daquela. 
Tanto na inserção em campo quando em todos os momentos posteriores de interação, 
o pesquisador deve ser capaz de permitir-se uma sensibilidade emocional para compreender 
motivos e intenções que fazem parte das ações humanas (ROCHA e ECKERT, 2008). 
Quando se assume a etnografia como método e como postura, entende-se que a realidade não 
é mensurável ou objetivamente apreensível. Sequer ela é apreensível como totalidade. 
Estar com o outro é estar no fluxo dos acontecimentos, nas tramas do cotidiano, nas 
variações de práticas, nas regularidades e irregularidades do dia-a-dia, atentando para aquilo 
que significa, que simboliza e que representa a ação do homem, mesmo aqueles 
acontecimentos extremamente ínfimos e efêmeros que aparentemente “não têm valor”. 
Entretanto, acessar tais aspectos depende da relação de confiança que se constrói, a qual 
depende tanto da interação em si, da sensibilidade do pesquisador, como também de 
elementos éticos de pesquisa que serão abordados noutro tópico. 
À guisa de finalização deste item, cabe pontuarmos que um exemplo clássico de uma 
etnografia que mostra claramente um processo de entrada em campo e a gradativa confiança 
adquirida pelo pesquisador é o trabalho de Foote-Whyte (2005). Ele serve de reflexão para 
considerarmos que isto que chamamos de “entrada em campo” é algo ambíguo. Formalmente, 
pode ser considerado tanto o aceite do grupo ou indivíduo para a pesquisa, quanto, 
informalmente, o momento posterior, em que o pesquisador passa “granjear” confiança do 
campo. 
 
4.2 O estranhamento e a familiarização 
Cabe ressaltar, neste item, que, para o etnógrafo, as tensões entre o familiar e o 
estranho se fazem presentes durante todo o processo de pesquisa. O estranhamento, 
imprescindível para o desenvolvimento do trabalho etnográfico, implica um ato de livre 
pensar, no sentido de problematizar e estranhar categorias de pensamento, práticas, 
representações, relações (TORNQUIST, 2007). É significativo o esforço do pesquisador no 
processo de estranhamento do familiar, na assunção de uma perspectiva estritamente analítica 
(VELHO, 2003), processo esse que é difícil e doloroso, uma vez que implica um 
descentramento do olhar que traz mudanças irreversíveis à forma de ver do pesquisador. 
Malinowski (1978) defende a necessidade de aprender o idioma nativo e transferir-se 
para a aldeia, afastando-se do convívio com outros homens brancos. O pesquisador deixaria, 
assim, segundo o autor, de representar um elemento perturbador na vida do grupo, e passaria a 
ter uma visão integral e exaustiva do cotidiano nativo. Quando transposto esse pressuposto 
para as sociedades complexas, com suas multiplicidades de relações pouco isoláveis no tempo 
e no espaço, deve-se relativizar essa concepção de “isolamento” do pesquisador, dado que 
muitas vezes o grupo pesquisado faz parte de um ethos semelhante ao dele. 
 
11 
 
Estudar a cidade “de perto e de dentro” (MAGNANI, 2002) implica riscos e demanda 
alguns cuidados. Não deixa de ser um desafio o estudo do urbano, na medida em que a ciência 
antropológica sempre se caracterizou pelo estranhamento, aos olhos dos estudiosos, dos povos 
exóticos estudados. O estranhamento daquilo que é familiar ao pesquisador é uma das etapas 
mais difíceis dos estudos em Antropologia Urbana (VELHO, 2003). O ato de se colocar no 
lugar do “outro”, desenvolver uma atitude de estranhamento de diversos fenômenos 
observados na cultura estudada se torna mais custoso quando tal cultura é familiar ao 
pesquisador (OLIVEN, 2007). Além disso, a compreensão do espaço na cidade demanda um 
treino do olhar, uma vez que, enquanto seus habitantes, estamos continuamente sujeitos aos 
estímulos da metrópole. 
Estranhar o familiar e familiarizar o estranho (VELHO, 1978) torna-se vital para 
adentrar em um nível de significação não compreendido antes da inserção em determinado 
campo. Esse movimento passa pela superação das representações prévias e ingênuas do 
pesquisador em torno do universo de pesquisa em foco, colocando em substituição questões 
relacionais (ROCHA e ECKERT, 2008), atentas às condições de produção etnográfica. Este 
movimento de constante vai-e-vem da experiência em campo – posta numa linha tênue entre 
não ser etnocêntrico, nem tornar-se completamente “nativo” – caracteriza a produção do 
texto. Nosso texto, portanto, estará sempre condicionado à capacidade de refletirmos sobre 
nossa própria experiência identificando o que nos familiariza e o que nos distancia de 
determinado objeto. Na medida em que compreendemos isso, a experiência de campo e o tipo 
de interação que temos tornam-se mais claros, de modo que possamos expor tais 
familiarizações e estranhamentos como parte da pesquisa. Tais aspectos podem ser expressos 
num esforço de reflexividade que exporemos em seguida. 
 
4.3 A reflexividade e a interioridade da experiência temporal 
Independentemente do modo de acercamento empreendido em um trabalho de campo 
ou na forma de reconstrução etnográfica posterior, o instrumento privilegiado de pesquisa é 
sempre a própria presença do pesquisador, tanto no campo quando na escrita (CALDEIRA, 
1988). Mesmo com as críticas pós-modernas que expusemos anteriormente, cabe considerar 
que o pesquisador em uma proposta antropológica nunca está ausente do texto, por isso a 
autoridade etnográfica reside na possibilidade de dizer “eu estive lá” (CLIFFORD e 
GONÇALVES, 1998). A postura antropológica parte do pressuposto de que, em estando lá, 
existem condições nas quais o conhecimento será construído; uma delas é a presença do 
próprio pesquisador, o que revela de maneira mais consistente a noção de reflexividade. 
A personalidade do investigador e sua experiência pessoal não podem ser eliminadasdo trabalho etnográfico. Na verdade, elas estão engastadas, plantadas nos fatos 
etnográficos que são selecionados e interpretados. (PEIRANO, 2008, p. 3-4). 
Assim, a escolha de determinado objeto de pesquisa, as escolhas teóricas, a abordagem 
em campo, entre outros aspectos, encontram-se imbricados à personalidade do investigador. 
Entende-se que, estando consciente deste fato e revelando-o claramente, tem-se dimensão das 
condições de produção do conhecimento. Ao invés de anular-se pretensamente pressupondo 
um distanciamento entre o pesquisador e sua pesquisa – com ambições positivistas –, a 
condição de produção etnográfica é justamente a interação e, portanto, a relação entre sujeito 
e objeto da pesquisa. 
Rocha e Eckert (2005) apontam ainda que reconhecer a reflexividade, a relação 
intersubjetiva e dialógica da etnografia não é suficiente. Embasando-se em Ricoeur (2012), as 
autoras acreditam que o que está em jogo é o ato de configuração e reconfiguração do tempo 
que encerra a interpretação. Ou seja, dentro de uma proposta de Antropologia Interpretativa, o 
método etnográfico também se caracteriza por uma tensão entre tempos – da vivência e da 
 
12 
 
escritura. A distenção temporal do si que ocorre entre o “viver lá” e “escrever aqui” é um 
esforço da ação reflexiva do sujeito cognoscente frente à descontinuidade do tempo vivido. A 
coerência interna da produção etnográfica, em suma, é um compromisso com a manutenção 
do si, da identidade narrativa, descompassada entre vivência e escritura. 
É através da composição narrativa que o pesquisador coincide as redes de relações: 
“agenciando fatos, situações, acontecimentos, personagens e seus dramas num todo ordenado 
(para além da lógica acrônica ou cronológica) [...]” (ROCHA e ECKERT, 2005, p. 133). Essa 
característica do método nos leva ao item seguinte, que diz respeito à forma de apresentação 
final dos dados, a qual deve condizer com a experiência vivida. 
 
4.4 A construção do texto 
A importância deste item reside no fato de que o relatório final de pesquisa, na medida 
do possível, deve almejar transmitir ao leitor a sensação de estar no campo, passando ele 
mesmo pela experiência do contato com os nativos (GIUMBELLI, 2002). O ato de escrever, 
configuração final do produto do trabalho de campo, significa trazer os fatos observados 
(vistos e ouvidos, por assim dizer) para o plano do discurso. Ele representa a textualização do 
trabalho de campo, e se destaca por dois momentos centrais: o da elaboração do diário de 
campo, já abordado neste artigo, e o da elaboração do texto final (OLIVEIRA, 2000). 
A textualização das observações do etnógrafo sobre uma determinada cultura 
configura-se empreendimento complexo, na medida em que essa construção, derivada da 
relação entre sistema conceitual e dados, resulta na produção de um texto delicado do ponto 
de vista moral, político e epistemológico (OLIVEIRA, 2000). Em suma, trata-se de uma 
preocupação com a articulação entre o trabalho de campo e a construção do texto etnográfico. 
Textos etnográficos tendem a se assemelhar a romances, mais próximos de textos ditos 
literários que dos considerados científico (GEERTZ, 2008). Dessa forma, o pesquisador busca 
narrar os acontecimentos, pois é através de uma “descrição densa” – parafraseando o referido 
autor – que se pode alcançar as teias de significado que se apresentam no curso da experiência 
em campo. 
Nesse sentido, a escrita em primeira pessoa do singular, aspecto debatido na produção 
textual de cunho etnográfico, não significa necessariamente a produção de um texto intimista. 
Significa que “o autor não deve se esconder sistematicamente sob a capa de um observador 
impessoal, coletivo, onipresente e onisciente, valendo-se da primeira pessoa do plural: nós” 
(OLIVEIRA, 2000, p. 30). A importância dessa questão reside no fato de que, quando se fala 
na conhecida polifonia do texto etnográfico, observa-se a pluralidade de vozes às quais se 
oferece espaço no texto, mas também se destaca que a voz do próprio pesquisador não pode 
ser obscurecida ou substituída pelas transcrições das falas dos entrevistados. 
Não existe uma receita pronta para a produção do relato etnográfico, segundo Rocha e 
Eckert (2008). Entretanto, é somente com a leitura de outras etnografias recentes ou clássicas, 
com a leitura de diários de campo e suas abordagens teóricas que o pesquisador irá apropriar-
se da forma de escrita etnográfica (ROCHA e ECKERT, 2008). Nesse sentido, a leitura dos 
clássicos é fundamental, não somente como forma de compreender a arte da escrita, como 
também para tomar parte nos fundamentos da disciplina. Afinal, o conhecimento que 
obtivemos atualmente deste método decorre de uma trajetória que, em si mesma, muito revela 
sobre ele. Dispensá-la na tentativa de buscar somente as atualizações do método seria 
desconsiderar seus fundamentos que, apesar das mudanças e críticas realizadas ao longo do 
tempo, mantêm ainda noções básicas que o norteiam. 
Além disso, Rocha e Eckert (2008) apontam que a realização de uma etnografia 
necessita um pensamento especulativo preliminar, no qual a escrita exploratória e ensaística 
assumem um papel fundamental. Em sua visão, a organização do trabalho em fases estanques 
 
13 
 
e precisas – como preparação, coleta de dados, análise e escrita final – trata-se de uma ilusão 
da escrita. 
Por fim, é importante destacar que, mais do que uma particularidade do método, a 
dimensão literária do discurso etnográfico é não um ornamento dispensável, mas sim 
elemento fundamental nesse discurso. A etnografia, assim, não se configuraria apenas em 
método ou criação literária: seria um campo articulado por tensões, ambiguidades e 
indeterminações próprias do sistema de relações no qual está situada (CLIFFORD e 
GONÇALVES, 1998). Mesmo buscando a polifonia, em que o pesquisador tenta apreender 
diversos discursos, a etnografia é um texto de autoria de um indivíduo, com suas percepções e 
idiossincrasias. 
 
4.5 A busca de significados 
Integrando experiência e interpretação, o pesquisador atua de forma real na vida do 
grupo estudado, “captando o sentido de ocorrências e gestos específicos” e situando “esses 
significados em contextos mais amplos” (CLIFFORD e GONÇALVES, 1998, p. 33-34). 
Sem dúvida, para que um trabalho etnográfico seja válido, é imprescindível que 
cubra a totalidade de todos os aspectos – social, cultural e psicológico – da 
comunidade; pois esses aspectos são de tal forma interdependentes que um não pode 
ser estudado e entendido a não ser levando-se em conta todos os demais. 
(MALINOWSKI, 1978, p. 11-12)iv. 
Cabe destacar a realização da pesquisa a partir do ponto de vista “nativo”, de ângulo 
interno, buscando a lógica cultural que orienta a vida dos grupos estudados em seu próprio 
contexto (BOAS, 2004). Em busca dos imponderáveis da vida real e de uma visão de dentro, 
o entendimento do ponto de vista nativo dar-se-ia apenas através da observação participante, 
método de trabalho que permite ao pesquisador aceso ao modo pelo qual os valores sociais 
são vivenciados no cotidiano (MALINOWSKI, 1978). 
Mesmo que a compreensão do vivido em sua totalidade seja contemporaneamente 
contestada, cabe ponderar que na medida do possível, o pesquisador irá contemplar em seus 
diários todas as manifestações culturais das quais tiver acesso. Isso será feito com vistas à 
interpretação do sistema simbólico que orienta a vida, conformando valores éticos expressos 
em suas ações e representações (ROCHA e ECKERT, 2008). 
Independentemente do objeto de pesquisa, o etnógrafo questiona-se: “o que está se 
passando naquele momento em que um determinado acontecimento está ocorrendo?” 
(ROCHA e ECKERT, 2008). As referidas autoras continuam ainda em suas sugestões de 
questionamentos: “quem faz o que nestas situações?”; “quem é quem na ordem de 
ocorrências?”; “por que as coisas estão acontecendo da maneira que estão acontecendo?”, etc. 
Desvelar o significado de algo, portanto, nãose resume a executar a observação participante – 
ou demais técnicas – nem a escrever diários de campo; para além disso, o pesquisador 
questiona-se sobre as situações que se interpõem no interior de determinado grupo. Seu 
relatório final não é, portanto, uma descrição pretensamente objetiva daquilo que viu, mas 
interpretações do vivido. Nesse sentido, é possível dizer que a descrição etnográfica é de 
natureza altamente situacional, ou seja, trata-se de um dado etnógrafo, em determinada época 
e lugar, com certos informantes, vivendo tais experiências (GEERTZ, 2005). 
Assim, um dos principais aspectos que se tem em mente, na análise etnográfica, é o 
respeito pela visão que os pesquisados possuem sobre si, sua vida, suas práticas e sua 
concepção de mundo (ROCHA, 1995). A etnografia, por ser a interpretação do pesquisador 
sobre os valores dos pesquisados, não trata do que se pensa sobre a cultura, mas sim do que se 
pode interpretar a partir das representações e do imaginário nativo sobre si mesmo (ROCHA, 
1995). Mesmo em sendo o trabalho do pesquisador microscópico, porque olha com atenção 
 
14 
 
para o detalhe, pretende ter acesso a grandes temas, através da análise do pequeno e do 
particular (ROCHA, BARROS e PEREIRA, 2005). 
Em suma, a prática etnográfica representa um processo interativo em que o outro é 
compreendido, no encontro intersubjetivo entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados e nas 
tensões entre suas identidades/alteridades (ROCHA e ECKERT, 1998). Assim, a 
singularidade do discurso êmico que o pesquisador profere residiria no caráter reflexivo 
presente nas pesquisas (ROCHA e ECKERT, 1998). 
 
5 Considerações finais 
Nossa intenção com este trabalho certamente não foi esgotar as possibilidades do 
método, mas clarificar alguns embasamentos e discussões atuais, tendo em vista que a 
transposição de um método de uma disciplina a outra deve ser acompanhada da 
responsabilidade pela manutenção de seus pressupostos. Esperamos, com isso, reduzir as 
confusões sobre a prática etnográfica, que – tendo em vista as subjetividades que ele encerra – 
cerca-se de compreensões equivocadas, por vezes, precipitadas sobre o que venha a ser. Não 
pretendemos, a partir destas reflexões, postular uma “verdade indubitável”, mas, antes, 
contribuir para qualificar os estudos em organizações que se constroem a partir da utilização 
desse método. 
A proposição que apresentamos aqui evidencia que a etnografia não é um método 
compatível com questões de pesquisa funcionalistas ou positivistas sobre determinado 
fenômeno – seja ele organizacional ou não. Não obstante, trata-se de um método que auxilia 
no levantamento de questionamentos e proposições teórico-empíricas de fundo compreensivo 
e interpretativo da realidade vivida. A tais aspectos o pesquisador deve estar atento quando do 
planejamento de seu “modo de acercamento” do fenômeno em pauta. 
Bonetti e Fleischer (2007) apontam que uma das dimensões mais ricas do trabalho 
etnográfico reside em seu caráter experimental e artesanal. Por sua vez, Goldman (2006) 
aponta que o principal, se não o único, meio de pesquisa é a socialidade, ou a disposição para 
viver uma experiência pessoal junto a um grupo com o propósito de transformar essa mesma 
experiência em tema de pesquisa e, finalmente, em texto etnográfico. Desse modo, torna-se 
impossível “manualizar” a etnografia, dado que cada experiência será diferente, mesmo que 
sobre o mesmo objeto de pesquisa. Cabe apontarmos que, independentemente do tipo de 
experiência de campo, o pesquisador deve ter em mente que sua interação e posterior relato 
sobre dada realidade estão permeados por uma ética de trabalho, no sentido de respeitar o 
campo e seus participantes. Não aprofundamos aqui a dimensão ética na etnografia e, 
portanto, apontamo-la como algo a ser discutido em futuros trabalhos, haja vista sua 
importância, não somente na condução de uma etnografia, como em qualquer método de 
pesquisa social. 
Ademais, esse estudo das experiências humanas a partir da experiência pessoal torna a 
alteridade uma noção central na disciplina, que orienta e limita a prática etnográfica 
(GOLDMAN, 2006). Sendo assim, reiteramos que as técnicas em si mesmas não configuram 
a etnografia; para além disso, é necessário que o pesquisador assuma uma postura de pesquisa 
etnográfica, atentando para as condições de produção do conhecimento expressos tanto nas 
interações que ele trava em campo quanto na reflexividade. Acreditamos que apropriando-se 
desses elementos, reduz-se o risco de realização de “etnografias acidentais”. 
 
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i Conforme aponta Cavedon (2003), em verdade, este “manual” é uma compilação de aulas de Marcel Mauss 
que, anotadas por seus alunos, foram transformadas em um livro. 
ii O que o antropólogo escreve nunca é a voz do nativo, porque uma coisa é o que o nativo pensa e a outra é o 
que o antropólogo pensa que o nativo pensa. Assim sendo, o ponto de vista do etnógrafo é em verdade uma 
relação com o ponto de vista do nativo (VIVEIROS DE CASTRO, 2002). 
iii No original: The Social Life of Things. 
iv Como dissemos anteriormente, tal noção apresentada por Malinowski está envolta em um pressuposto de 
capacidade de totalizar a experiência; algo atualmente relativizado tendo em vista a incapacidade do pesquisador 
em apreender este “todo coerente” da experiência (CALDEIRA, 1988). Nesse sentido, retomamos a noção 
expressa por Geertz (2008) de que qualquer interpretação é sempre incompleta. 
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