Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 "Quando eu vi, eu tinha feito uma etnografia": notas sobre como não fazer uma “etnografia acidental” Autoria: Carolina Dalla Chiesa, Letícia Dias Fantinel Resumo Objetivamos neste trabalho apresentar alguns elementos básicos do método etnográfico com vistas a reduzir os desentendimentos sobre suas definições que levam, por vezes, pesquisadores pouco informados a realizar “etnografias acidentais”. Para tanto, discutimos algumas noções contemporâneas sobre este método, bem como aspectos centrais do mesmo, tais quais: a observação participante, o diário de campo, a reflexividade, o estranhamento e a busca de significados. Esperamos, com isso, contribuir para a propagação do conhecimento e para uma transposição de métodos e técnicas, de uma disciplina a outra, que seja responsável para com a manutenção de seus pressupostos. 2 1 Introdução A etnografia é um método de pesquisa surgido na Antropologia em um contexto de crítica ao que se vinha produzindo no seio dessa ciência no século XIX. Nessa época, predominavam os estudos que tinham por objetivo a busca pela reconstituição dos diversos estágios da evolução humana através, principalmente, do estudo de povos ditos “primitivos”. Nesse contexto, os textos antropológicos eram produzidos, predominantemente, por meio da leitura de relatos de viajantes e missionários, bem como de outros participantes de expedições científicas, o que resultava em produções marcadas pelo etnocentrismo, como a própria teoria evolucionista (URIARTE, 2012). A partir do final do século XIX, antropólogos passam a integrar expedições científicas, e, no início do século XX, destaca-se o polonês Bronislaw Malinowski, que permaneceu por anos nas ilhas Trobriand, onde viveu entre os trobriandeses, aprendeu o idioma nativo e vivenciou situações cotidianas do grupo. Seu livro “Argonautas do Pacífico Ocidental”, publicado em 1922, marca o que se considera a primeira formulação do que é o método etnográfico (URIARTE, 2012). O convívio com os nativos e a polifonia possibilitada através da interlocução com os integrantes dos grupos estudados possibilitou mudanças basilares na ciência antropológica, que deixa de ser centrada na sociedade do pesquisador e passa a ser relativizada mediante a própria visão de mundo dos nativos. Apenas a vivência em campo, portanto, permitiria ao pesquisador captar esse ponto de vista nativo (MALINOWSKI, 1978). Nesse sentido, embora alguns autores prefiram chamar a etnografia não de método, mas sim de prática descritiva (INGOLD, 2008), a importância da experiência direta e prolongada do pesquisador, da observação detalhada e da precisão e sensibilidade na realização da pesquisa vem sendo mantida na prática etnográfica (INGOLD, 2008). Em geral, admite-se que, desde os tempos de Malinowski até os atuais, a Antropologia em muito se alterou (GIUMBELLI, 2002). Seu locus de estudo transpõe-se também para sociedades complexas, e os pesquisadores passam a estudar grupos pertencentes a sua própria sociedade (VELHO, 2003). Contudo, muitos dos pressupostos do método são mantidos contemporaneamente, conforme será visto neste texto. Da mesma maneira, o método etnográfico se disseminou em outros meios científicos, e vem sendo apropriado por diversos campos do conhecimento, como a própria Administração. A crescente utilização do método etnográfico na área de Administração, por exemplo, vem sendo justificada por representar uma forma de pesquisa que conseguiria compreender melhor os hábitos, comportamentos e atitudes dos indivíduos objeto de estudo (CALIMAN e COSTA, 2008). Na esteira dessa popularização alcançada pelo método etnográfico, muito se vem discutindo sobre seu uso em diversas áreas, bem como algumas dificuldades surgidas da falta de esclarecimento de diversos pesquisadores em relação à etnografia (FORSEY, 2010). Nesse contexto, o presente artigo surge de uma inquietação decorrente de nossa própria experiência enquanto pesquisadoras com prática em etnografia, na medida em que vivenciamos um período de grande difusão do método, em que são feitas algumas apropriações parciais de determinadas características relacionadas à etnografia, como se partes do método fossem equivalentes a sua totalidade. Como consequência, acaba-se incorrendo em algumas impropriedades, nem sempre intencionais, em relação ao método. Um exemplo emblemático disso é o episódio que desencadeou a redação deste texto e que inspira seu título. Uma de nós, certa feita, ouviu a fala de um pesquisador que, ao necessitar elaborar notas de campo para um estudo que estava realizando, em determinado momento, teve um insight e, segundo ele, “deu-se conta” de que, espontânea ou “acidentalmente”, sem ter a intenção de, estaria fazendo uma etnografia. Dado que acreditamos que uma pesquisa não deve ter um método “acidentalmente” conduzido, buscamos aqui ressaltar alguns pressupostos da etnografia como forma de contribuir para o campo de Estudos Organizacionais. Este 3 interesse surgiu não somente a partir do episódio em si que descrevemos, como também do fato de que nossas pesquisas utilizaram e utilizam o método etnográfico para serem concretizadas. Assim, os conceitos e reflexões que expomos aqui advêm, em grande parte, de pesquisas já realizadas por nós. O episódio real que citamos mostra que, apesar de discutido e difundido, ainda há muitas questões a serem esclarecidas no meio acadêmico em relação ao método etnográfico, principalmente no seio de ciências que não são aquelas de origem do método, como a Administração. Outrossim, nosso objetivo aqui é discutir algumas dessas possíveis confusões geradas em torno da etnografia, que simbolizamos através do que chamamos “etnografia acidental”, bem como refletir sobre aspectos centrais do método, evidenciando alguns de seus pressupostos. Nossa linha argumentativa centrar-se-á, principalmente, nos pressupostos da Antropologia interpretativa de Geertz (2008), mesmo que apresentemos ao longo do texto posições divergentes a esta como forma de conhecimento sobre um método que pode assumir diferentes propostas. Pretendemos, com isso, fortalecer as discussões sobre esse método a partir de suas bases, de modo a evitar equívocos, como o que citamos no parágrafo anterior. Assim sendo, este texto está organizado em quatro itens, além dessa introdução. No próximo capítulo, discutimos algumas das apropriações parciais do método etnográfico que podem ser confundidas com a totalidade do método, como a utilização de determinadas técnicas. A seguir, mostramos algumas possibilidades do método etnográfico na contemporaneidade, para, posteriormente, refletir sobre pressupostos do método. Ao final, elaboramos considerações finais, sem a pretensão de esgotar a discussão, mas sim abrindo caminhos para novas reflexões tangentes ao uso da etnografia. 2 O que pode parecer etnografia, mas não é etnografia Uma etnografia consiste em um “levantamento de todos os dados possíveis de uma determinada comunidade com a finalidade de conhecer o estilo de vida ou a cultura específica da mesma" (CAVEDON, 2003, p. 143). O objetivo da etnografia é descrever a vida do outro, de maneira acurada e sensível, guiada por um processo de observação detalhada e da experienciação da realidade desse outro (INGOLD, 2008). O cerne do trabalho etnográfico é chegar a amplas afirmativas sobre o papel da cultura na elaboração da vida cotidiana, através das chamadas especificações complexas (ROCHA, BARROS e PEREIRA, 2005). Mesmo em sendo o trabalho do pesquisador microscópico, na medida em que olha com atenção para o detalhe, ele pretende ter acesso a grandes temas, através da análise do pequeno e do particular. Assim, a função do etnógrafo residiria em descrever como um grupo de pessoas, localizado no espaço e no tempo, percebe o mundo e como age sobre ele (INGOLD, 2008). Tais objetivos são seguidos através de três caminhos básicos: (1) o mapeamento das leis e costumesque regem a vida do grupo, processo no qual se observa o maior número possível de manifestações concretas que definem a constituição social; (2) a observação e o registro dos comportamentos cotidianos do grupo, tanto aqueles habituais quanto os considerados novos; (3) o registro das opiniões, comentários, palavras dos nativos (MALINOWSKI, 1978). Só assim se tornaria possível a compreensão do ponto de vista e da visão de mundo dos pesquisados (MALINOWSKI, 1978). Nesse processo, diversas técnicas podem ser utilizadas, dentre elas a observação participante, que se sobressai como a mais conhecida. Contudo, por vezes, o que se convencionou chamar de método etnográfico é confundido com técnica, por vezes mal compreendido, mal interpretado, também em razão de ser um método que possibilita associar diferentes técnicas ao abordar um problema antropológico de pesquisa. Conforme aponta Magnani (2002, p. 17): 4 O método etnográfico não se confunde nem se reduz a uma técnica; pode usar ou servir-se de várias, conforme as circunstâncias de cada pesquisa; ele é antes um modo de acercamento e apreensão do que um conjunto de procedimentos. Dentre tais técnicas, além da observação participante, são utilizadas a observação direta, filmagens, captações fotográficas, entrevistas semi-estruturadas, entrevistas biográficas ou narrativas sobre a história de vida dos sujeitos em foco na pesquisa, levantamento de registros históricos, entre outras. Cada uma dessas técnicas, por sua vez, pode contemplar um amplo espectro de possibilidades de que o pesquisador dispõe para escolher. Sua escolha será pautada pelo melhor modo de se acercar da realidade a ser pesquisada. Conforme apontam Rocha e Eckert (2008), não há fórmula pronta para elaborar uma pesquisa etnográfica, porém, se o pesquisador quiser partir de algum lugar, pode começar com o manual de Mauss (1993)i. A confusão do método com a técnica – normalmente traduzida na assunção de que conduzir uma observação participante seria sinônimo de realizar uma etnografia – ocorre não somente no que tange à abordagem de coleta de dados em campo, mas também na forma de registro desses dados. A forma consagrada de registro da observação participante, de entrevistas e demais interações ocorridas nos locais pesquisados é o diário de campo. Desse modo, nos tópicos seguintes abordaremos as técnicas da observação participante e elaboração do diário de campo, respectivamente. 2.1 Conduzir observação participante não é fazer etnografia A observação participante, uma das técnicas fundamentais para o desenvolvimento de estudos etnográficos, pressupõe a atuação real do pesquisador na vida do grupo estudado. A interação, na pesquisa etnográfica, materializa-se principalmente através dessa técnica (OLIVEIRA, 2000). O conhecimento sobre o grupo se construiria, pois, a partir da vivência em seu interior, de maneira que a técnica sirva como uma fórmula entre o contínuo vaivém entre o “interior” e o “exterior” dos acontecimentos: de um lado, captando o sentido de ocorrências e gestos específicos, através da empatia; de outro, dá um passo atrás, para situar esses significados em contextos mais amplos. [...] Entendida de modo literal, a observação-participante é uma fórmula paradoxal e enganosa, mas pode ser considerada seriamente se reformulada em termos hermenêuticos, como uma dialética entre experiência e interpretação. (CLIFFORD e GONÇALVES, 1998, p. 33-34) A participação do pesquisador pode, assim, variar de membro total a membro parcial do grupo, uma vez que, em diversas situações de pesquisa, “é quase impossível o estranho ser sempre um participante genuíno” (GOODE e HATT, 1960, p. 160). Ao integrar experiência e interpretação, o pesquisador pode atuar de forma real na vida do grupo estudado (CLIFFORD e GONÇALVES, 1998). Tal técnica permite, destarte, o acesso a informações que não seriam disponibilizadas facilmente, em uma observação desinteressada (GOODE e HATT, 1960). Nesse sentido, não seria possível através da mera observação, ao vagar pela aldeia ou grupo nativo, captar os elementos necessários à condução de uma etnografia; o etnógrafo recolheria um “material morto”, que não levaria ao entendimento da vida e lógica nativas (MALINOWSKI, 1978). Considerando que o etnógrafo atua, mais do que como um observador participante, como um “ouvidor participante”, tendo em vista a importância da audição, da linguagem, da entrevista e da conversa na coleta de dados etnográficos (FORSEY, 2010), destaca-se também o papel central da interação no trabalho de campo (EMERSON, 2009). O olhar e o ouvir do etnógrafo, atos cognitivos mais preliminares no trabalho de campo, são elementos centrais em sua experiência de pesquisa, que possuem significações especificas no processo de investigação, e fazem-se presentes no desenvolvimento da observação participante, modalidade que ganhou um status elevado na Antropologia (OLIVEIRA, 2000). Contudo, 5 apesar dessa noção, é importante destacar que a observação, ainda que participante, embora técnica utilizada pelo etnógrafo, não se traduz, em si, como equivalente à prática etnográfica. Em si mesma, a observação participante, assim como a observação direta e as entrevistas, são técnicas, e como tais, não são “responsáveis” pela construção da etnografia em si. A etapa de uma observação participante é apenas parte do trabalho de campo. Juntamente das outras técnicas utilizadas, o pesquisador terá um esforço posterior de construção do relato etnográfico sobre sua experiência vivida que não se resume a uma técnica, tão somente. Neste relato – o qual abordaremos em itens posteriores – o pesquisador dará sentido ao “vivido” na forma de texto, com vistas a remontar significados de determinados acontecimentos para o grupo ou indivíduos que estão em foco na pesquisa. Traçar relações, compreender eventos, rituais, acontecimentos usuais ou excepcionais, para além de suas oficializações são tarefas que transcendem a observação em si. Mesmo que no curso da observação em campo, o pesquisador depare-se com a necessidade de já traçar relações e buscar compreensões mais amplas envoltas em “teias de significados” (GEERTZ, 2008), esta etapa transcende a técnica em si mesma. 2.2 Escrever diários de campo não é fazer etnografia Assim como o fato de empreender a observação participante não se caracteriza como a realização de uma etnografia, tampouco o fato de registrar vivências de observações diretas ou participantes em diários, configura-se, por si somente, a condução do método etnográfico. Quando o pesquisador está em campo, em geral, ele anota discursos, comportamentos, vivências, acontecimentos, expressões variadas sobre a realidade em que está participando. Estes registros são realizados em algo que se convencionou chamar de “caderno de campo”, utilizado para auxiliar o etnógrafo em sua etapa posterior, de escrita de um diário de campo. Normalmente, aponta-se que a utilização do caderno de campo não seja tal que atrapalhe ou interponha-se na interação do pesquisador com o campo. Mais importante que a perfeição do registro, é a consecução da interação em campo, uma vez que, sem esta, não existe etnografia (ROCHA e ECKERT, 2008). Por sua vez, no diário de campo, devem ser feitos todos os registros dos dados coletados. O pesquisador deve relatar todos os acontecimentos presenciados durante o período, não apenas manifestações concretas da cultura, mas também comportamentos cotidianos e expressões próprias do grupo, assim como os próprios sentimentos do pesquisador, no intuito de melhor compreensão da realidade estudada (CALIMAN e COSTA, 2008). Parte significativa do exercício etnográfico reside na construção do diário de campo, instrumento em que o pesquisador produz dia após dia a partir do exercício da observação de comportamentos culturais de determinado grupo (WEBER, 2009). No diário de campo, que não deve ser confundido meramente com um diário íntimoou um simples diário de pesquisa, devem ser relacionados os eventos observados ou compartilhados, e reunidos materiais para analisar práticas, discursos e posições dos pesquisados, além de registradas as relações que foram nutridas, permitindo descrever e analisar fenômenos estudados (WEBER, 2009). Em suma, a reflexão sobre o trabalho de campo passa pela compreensão do processo de confecção dos diários de campo e sua apropriação como principal fonte da pesquisa (BONETTI e FLEISCHER, 2007). O método etnográfico representa muito mais do que um simples modo de fazer pesquisa ou de coletar dados, pois, no campo da Antropologia, é a partir da pesquisa de campo, especialmente de cunho etnográfico, que se constrói o conhecimento (CALIMAN e COSTA, 2008). A etnografia é tanto um método, por excelência, de desvendamento da vida cotidiana (YBEMA, YANOW, et al., 2009) quanto uma postura (ROCHA, BARROS e PEREIRA, 2005) que implica não somente a interação com o campo, mas questões éticas que 6 estão colocadas nesta interação e uma profunda “vigilância epistemológica” (ROCHA e ECKERT, 2008) no curso da pesquisa. 3 Algumas perspectivas sobre etnografia Assim como a própria Antropologia enquanto disciplina, o exercício etnográfico pode ser visto de diferentes maneiras, uma vez que o método é constituinte da disciplina. A escrita do trabalho de campo que resultará em uma etnografia deve acompanhar as mudanças e atualizações deste campo disciplinar, tendo em vista a construção deste que chamamos de “outro” no texto. Várias são as maneiras de fazer etnografia e, portanto, vamos explorar algumas delas, atentando para a postura do pesquisador frente aos pesquisados, começando por um dos trabalhos etnográficos mais antigos e importantes, que data aproximadamente de 1915, apesar de ser publicado posteriormente. Referência indubitável na discussão do método antropológico, Malinowski (1978) tinha como uma das grandes virtudes de sua etnografia, a capacidade de remontar uma quantidade infindável de dados de campo, dando a sensação, para o leitor, de que ele também “esteve lá”. Como diz Durham (2004), é grande o mérito deste autor em reconstruir uma experiência cultural específica pautada por reflexões teórico-metodológicas capazes de dar conta de sua experiência de campo. Sua tentativa de integração entre representação e ação fornece bases para compreender o sentido de totalidade de sua obra pautada por uma preocupação do funcionalismo cultural, que entende a realidade social como apreensível somente enquanto sistema (DURHAM, 2004). Sua abordagem privilegiava tomar como unidade de análise determinado segmento concreto do povo estudado, como o kula, que apresenta muitas semelhanças com o que Mauss (2003) chama de fato social total, uma unidade multidimensional que inclui aspectos materiais, sociais, simbólicos, econômicos, jurídicos, religiosos relacionando-se com outras instituições. Entretanto, aponta Durham (2004) que, quando Malinowski teoriza sobre a cultura, ele indaga a função da instituição do conjunto, concluindo que esta responderia a uma necessidade básica ou derivada e, assim, empobreceria a análise, na opinião da referida autora. Sob esse ponto de vista, a cultura passaria a ser concebida como a soma de instituições, parte autônoma de uma totalidade. Para nossa discussão sobre etnografia, tal aspecto importa, pois se entende contemporaneamente que já passou o tempo em que um etnógrafo, depois de passar um período em campo, buscava retratar este todo de seu campo. Atualmente, tende-se a rejeitar explicações holísticas, dados os limites da capacidade de um pesquisador conhecer o “outro” (CALDEIRA, 1988). Desse modo, o esforço etnográfico configura-se sempre uma interpretação parcial. Algo semelhante a esta crítica é postulado por correntes pós-modernas, diferenciando- se de etnografias clássicas, como as empreendidas por Malinowski (1978), Evans-Pritchard (2013) e Radcliffe-Brown (2013), por exemplo. A partir da década de 1980, diversos antropólogos americanos, chamados de meta-etnógrafos (RABINOW, 1986), passaram a criticar o modelo de etnografia sustentado na ideia de um “encontro colonial”, e em relações de poder assimétricas trazidas pelo imperialismo europeu em direção aos povos africanos e australianos, principalmente. Com o desmantelamento dos impérios, reestruturações de poder e com as complexas relações entre sociedades, tornou-se inviável compreender este “outro” em sua totalidade, visto que essa totalidade não é isolável no tempo e no espaço. Clifford e Gonçalves (1998), por exemplo, desmantelam a construção da autoridade etnográfica estabelecida com base na crença que “o outro” é passível de ser observado e conhecido, desde que com os olhos treinados de um antropólogo. Essa preocupação objetivista, que se instaura na dicotomia êmico-éticoii, expõe certo “realismo etnográfico” explorada por Marcus e Cushman (1982). Na visão destes autores, a noção de “realismo” parte de alguns pressupostos das etnografias clássicas, quais sejam: estruturar o relato 7 etnográfico sequencialmente; retirar-se do texto, suprimindo a experiência etnográfica do autor; falar pouco em indivíduos e mais no grupo como um todo; acumular detalhes da vida cotidiana; apresentar o “ponto de vista do nativo” objetificado; tender às generalizações, e fazer uma exegese de termos nativos, demonstrando assim a competência do pesquisador (CALDEIRA, 1988). O que era então uma experiência fragmentada, descompassada e confusa torna-se, depois, um todo coerente que pouco fala sobre o campo, provocando uma fissura entre experiência e texto, ou até entre discurso e texto. Assim, as noções de invenção do “outro” e “invenção da cultura” (WAGNER, 2012), pautadas na ideia de que o “outro” não existe até que este seja inventado como algo diferente do pesquisador, passam a ganhar relevância no contexto de uma crítica da própria produção etnográfica. Sob esse ponto de vista, a noção de cultura não existiria fora de uma relação dialética entre a cultura do pesquisador e a cultura do pesquisado. A resposta metodológica de Geertz (2008) aos dilemas antropológicos aponta para um esforço hermenêutico. Para ele, etnografia não é somente um método do qual o pesquisador se utiliza para abordar seu universo empírico; etnografia seria, em si mesma, um trabalho antropológico e, como tal, deveria compreender as teias de significados culturais. Para este autor, a análise construída através de uma descrição densa etnográfica é sempre incompleta, pois se trata de uma interpretação e, por isso mesmo, é sempre provisória. [...] a etnografia é uma descrição densa. O que o etnógrafo enfrenta, de fato – a não ser quando (como deve fazer, naturalmente) está seguindo as rotinas mais automatizadas de coletar dados – é uma multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas às outras, que são simultaneamente estranhas, irregulares, inexplícitas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar. [...] Fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de ‘construir uma leitura de’) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos escrito não com os sinais convencionais do som, mas com exemplos transitórios de comportamento modelado (GEERTZ, 2008, p. 7). A escrita etnográfica tratar-se-ia, então, de um esforço ficcional, uma interpretação da interpretação. Tal esforço é verdadeiro, mas não em um sentido de objetificação realista daquilo que é observado; verdadeira é apenas a interpretação empreendida pelo pesquisador. Os textos antropológicos são eles mesmos interpretações e, na verdade, de segunda e terceira mão. Trata-se, portanto, de ficções; ficções no sentido de que são ‘algo construído’, ‘algo modelado’ – o sentido original de fictio – não que sejam falsas, não-factuais ou apenas experimentos de pensamento. (GEERTZ,2008, p. 25-26). Colocando-se ao encontro desse argumento, Peirano (2008) aponta que etnografia não é apenas uma metodologia ou uma prática de pesquisa, “mas a própria teoria vivida [...]. No fazer etnográfico, a teoria está, assim, de maneira óbvia, em ação, emaranhada nas evidências empíricas e nos nossos dados.” (2008, p. 3). Teoria e prática são, pois, inseparáveis, uma vez que as “lentes” que o pesquisador usa para interpretar o campo são oriundas das teorias que direcionam tanto sua inserção em campo quando seu posterior relato etnográfico. A postura interpretativa, entretanto, não é a única existente. Contra ela, críticos pós- modernos apontam que a noção de interpretação provisória e de descrição densa não rompem com a autoridade etnográfica clássica (CALDEIRA, 1988). Ainda haveria um “outro” a ser interpretado; ainda há uma “cultura” entendida como externa ao pesquisador que, extraída em seus elementos diferenciadores, pautados por um relato que implícita relações de poder, possibilita que esta seja interpretada. Nesse sentido, Marcus e Fischer (1986) defendem a disciplina da Antropologia como crítica cultural. 8 A sugestão dos críticos pós-modernos é a tentativa de construção de um texto dialógico, polifônico, representando muitas vozes e, portanto, diluindo a presença do autor no texto. Assim, a etnografia não representaria uma cultura, mas processos comunicacionais dos quais ele, o pesquisador, é apenas mais uma das vozes. O texto, assim, sugere, provoca relações, mas não se considera politicamente superior para realizar uma explicação concisa da realidade vivida de outrem (CALDEIRA, 1988). Quando não há mais um todo coerente e isolável para analisar e quando as conexões de uma sociedade moderno-contemporânea complexa (VELHO, 2003) transcendem as localidades situadas estavelmente no tempo e espaço, a prática etnográfica deve adaptar-se aos objetos de estudo mais complexos, como os multi-situados e interdisciplinares (MARCUS, 1995). Algumas são as estratégias etnográficas sugeridas pelo autor, as quais abordaremos na sequência. Uma delas é “seguir as pessoas”. A mais óbvia e convencional de todas, já encontrada em Malinowski (1978), hoje vem sendo utilizada para estudos sobre processos migratórios, por exemplo. Outra abordagem é “seguir as coisas”, cujo fundamento está em grande parte no trabalho de Appadurai (1986) A vida social das coisasiii de forma a traçar as mudanças de status das coisas, commodities, gifts, obras de arte ou recursos ao longo do tempo em diferentes contextos. Para Marcus (1995), este tipo de etnografia seria o mais utilizado para estudar processos do sistema capitalista, porém, para além deste, pode-se citar também a abordagem de Latour (2000) em estudos sobre ciência e tecnologia que, ao buscar traçar a construção de fatos científicos, segue atores humanos e não-humanos no mesmo plano de investigação. Pode-se ainda “seguir a metáfora”, quando aquilo que se busca está envolto em discursos e modos de pensamentos de modo que o que guia a investigação são os sinais, símbolos e metáforas em torno do objeto. Haraway, Kunzru e Tadeu (2009) utilizam essa estratégia para a construção de seu objeto de estudo sobre ciborgues, enquanto Martin (1995) busca traçar a noção de imunidade na cultura norte-americana. Outra abordagem é “seguir a história ou enredo”, uma vez que existem narrativas que podem, elas mesmas, servir como uma heurística para o trabalho de campo. Esta estratégia, para Marcus (1995), já foi bastante utilizada na análise Lévi-straussiana de mitos e atualmente direciona-se também para investigação da memória social e coletiva. Pode-se ainda “seguir a biografia”, ou seja, a história de vida, como um caso particular da estratégia de “seguir a história ou enredo”. A última estratégia sugerida por Marcus (1995) é de “seguir o conflito”, ou partes do conflito. Comum na Antropologia do Direito, no estudo de instituições legais e mídia de massa, alguns exemplos dessa estratégia apontam para o estudo da controvérsia sobre o aborto, sobre leis de direitos autorais, entre outros conflitos cotidianos. Não obstante, contemporaneamente, o contexto de elaboração dos textos etnográficos em muito difere daquele em que foram elaboradas as etnografias chamadas clássicas, uma vez que, tradicionalmente, o objeto de estudo da Antropologia eram prioritariamente os indivíduos das sociedades tradicionais (CAVEDON, 2003). Hoje, com a diminuição em número das sociedades ditas tradicionais, e com a complexificação da vida urbana, muitos trabalhos antropológicos voltam-se para o estudo das sociedades contemporâneas nas grandes cidades (MAGNANI, 2002). Criam-se novas esferas de investigação, como a Antropologia do Consumo, a Antropologia Urbana, Antropologia Rural, Antropologia Política, campos em que a etnografia representa, mais que um método, a atividade que dá essência ao conhecimento e à compreensão do outro (CALIMAN e COSTA, 2008). 4 Então, o que caracteriza uma etnografia? Como se viu, é possível dizer que o método etnográfico não pode ser confundido com ou reduzido a uma técnica, na medida em que pode fazer uso de várias delas a depender de 9 cada pesquisa; ele se caracteriza mais por ser “um modo de acercamento e apreensão do que um conjunto de procedimentos” (MAGNANI, 2002, p. 17). Contudo, independentemente da forma que o pesquisador escolhe para acercar-se da realidade a estudar, há alguns entendimentos básicos que podem ser elencados na reflexão sobre este método, que não se esgotam nos itens abordados no presente trabalho. Os diferentes autores que versam sobre etnografia deixam entrever determinados núcleos de significado recorrentes, como: primeiro, a necessidade de uma atitude de estranhamento por parte do pesquisador em relação ao objeto, a qual provém da presença de sua cultura de origem (MAGNANI, 2009). Em verdade, essa copresença acaba provocando a possibilidade de uma solução não prevista, um olhar descentrado, uma saída inesperada. O pesquisador se depara com o significado do arranjo do nativo, percebe esse significado e deve ser capaz de descrevê-lo em seus próprios termos, apreender essa lógica e incorporá-la de acordo com os padrões de seu próprio aparato intelectual e até mesmo de seu sistema de valores e percepção. De acordo com o autor, logo: a etnografia é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato com o universo dos pesquisados e compartilha seu horizonte, não para permanecer lá ou mesmo para atestar a lógica de sua visão de mundo, mas para, seguindo-os até onde seja possível, numa verdadeira relação de troca, comparar suas próprias teorias com as deles e assim tentar sair com um modelo novo de entendimento ou, ao menos, com uma pista nova, não prevista anteriormente. (MAGNANI, 2009, p. 135). Essa maneira de aproximação é própria da abordagem etnográfica. Trata-se de um empreendimento que supõe investimento, paciência e continuidade, ao cabo do qual e em algum momento, os fragmentos se ordenam, perfazendo um significado que pode ser inesperado (MAGNANI, 2009). A abordagem etnográfica se revela, pois, relacional, tanto quanto é relacional seu objeto. O conhecimento etnográfico é construído, assim, através da experiência e da relação com o outro (MOHIA, 2008). Destarte, o pesquisador descreve, com grande profundidade, as culturas enquanto teias de significado que devem ser apreendidas, revelando a singularidade do objeto de estudo frente a outros fenômenos culturais (GEERTZ, 2008). Sendo assim, organizamos algumas noções básicas que julgamos mais importantes na pesquisa etnográfica em seis aspectos, que estão apresentados a seguir. 4.1 A entrada em campo e o fluxo da observação participante Não é comum que a etnografia parta de hipóteses (ROCHA e ECKERT, 2008). Desse modo, é somente com a entrada em campo e no decorrer da observação participante que as relações teórico-empíricas começarão a ser desenvolvidas.Como ressalta Geertz (2008, p. 20), “chegar a qualquer lugar com um assunto enfocado é intensificar a suspeita, a sua própria e a dos outros, de que você não o está encarando de maneira correta.” Entretanto, cabe apontar que é necessário um esforço prévio à entrada em campo buscando o que já foi dito sobre determinado fenômeno, com o intuito de acercar-se do objeto de pesquisa. Na medida do possível, com a entrada em campo, o pesquisador procurará relativizar suas percepções com vistas à compreensão da realidade observada a partir de sua própria lógica de funcionamento. Isto certamente não significa que o pesquisador irá despir-se completamente de suas vivências e percepções – dada a impossibilidade disso – mas sim que irá colocar-se em uma “vigilância epistemológica” (ROCHA e ECKERT, 2008), de modo a sempre questionar-se sobre o que ocorre e sobre seu próprio entendimento acerca do cotidiano do campo. A observação participante não consiste apenas em, às vezes, deixar de lado a máquina fotográfica, o lápis e o caderno para participar do que está acontecendo, mas também significa a possibilidade de captar ações e discursos em ato, o meio privilegiado para elaboração de 10 teorias etnográficas, expressão que serve para solucionar o dilema do antropólogo, constantemente preso entre ciência e narrativa, entre discurso sobre os outros e o próprio diálogo com eles (GOLDMAN, 2006). Os dados de pesquisa não são meramente observados, mas sim possibilitam revelar, não ao pesquisador, mas no pesquisador, aspectos situados na interseção das categorias nativas apresentadas pelos informantes e da observação do etnógrafo (PEIRANO, 1995). Conforme aponta Cavedon (2003), a maneira pela qual o pesquisador é introduzido no campo diz muito sobre o tipo de interação que se tem com as pessoas. Em uma estrutura organizacional, por exemplo, ser introduzido por alguém hierarquicamente superior pode facilitar uma entrada inicial, porém, dificultar a relação com outras “camadas” organizacionais. A entrada com um informante-chave em específico, hierarquicamente superior ou não, também pode fazer com que a visão de mundo do pesquisador seja impregnada com a dele, não possibilitando que ele note percepções para além daquela. Tanto na inserção em campo quando em todos os momentos posteriores de interação, o pesquisador deve ser capaz de permitir-se uma sensibilidade emocional para compreender motivos e intenções que fazem parte das ações humanas (ROCHA e ECKERT, 2008). Quando se assume a etnografia como método e como postura, entende-se que a realidade não é mensurável ou objetivamente apreensível. Sequer ela é apreensível como totalidade. Estar com o outro é estar no fluxo dos acontecimentos, nas tramas do cotidiano, nas variações de práticas, nas regularidades e irregularidades do dia-a-dia, atentando para aquilo que significa, que simboliza e que representa a ação do homem, mesmo aqueles acontecimentos extremamente ínfimos e efêmeros que aparentemente “não têm valor”. Entretanto, acessar tais aspectos depende da relação de confiança que se constrói, a qual depende tanto da interação em si, da sensibilidade do pesquisador, como também de elementos éticos de pesquisa que serão abordados noutro tópico. À guisa de finalização deste item, cabe pontuarmos que um exemplo clássico de uma etnografia que mostra claramente um processo de entrada em campo e a gradativa confiança adquirida pelo pesquisador é o trabalho de Foote-Whyte (2005). Ele serve de reflexão para considerarmos que isto que chamamos de “entrada em campo” é algo ambíguo. Formalmente, pode ser considerado tanto o aceite do grupo ou indivíduo para a pesquisa, quanto, informalmente, o momento posterior, em que o pesquisador passa “granjear” confiança do campo. 4.2 O estranhamento e a familiarização Cabe ressaltar, neste item, que, para o etnógrafo, as tensões entre o familiar e o estranho se fazem presentes durante todo o processo de pesquisa. O estranhamento, imprescindível para o desenvolvimento do trabalho etnográfico, implica um ato de livre pensar, no sentido de problematizar e estranhar categorias de pensamento, práticas, representações, relações (TORNQUIST, 2007). É significativo o esforço do pesquisador no processo de estranhamento do familiar, na assunção de uma perspectiva estritamente analítica (VELHO, 2003), processo esse que é difícil e doloroso, uma vez que implica um descentramento do olhar que traz mudanças irreversíveis à forma de ver do pesquisador. Malinowski (1978) defende a necessidade de aprender o idioma nativo e transferir-se para a aldeia, afastando-se do convívio com outros homens brancos. O pesquisador deixaria, assim, segundo o autor, de representar um elemento perturbador na vida do grupo, e passaria a ter uma visão integral e exaustiva do cotidiano nativo. Quando transposto esse pressuposto para as sociedades complexas, com suas multiplicidades de relações pouco isoláveis no tempo e no espaço, deve-se relativizar essa concepção de “isolamento” do pesquisador, dado que muitas vezes o grupo pesquisado faz parte de um ethos semelhante ao dele. 11 Estudar a cidade “de perto e de dentro” (MAGNANI, 2002) implica riscos e demanda alguns cuidados. Não deixa de ser um desafio o estudo do urbano, na medida em que a ciência antropológica sempre se caracterizou pelo estranhamento, aos olhos dos estudiosos, dos povos exóticos estudados. O estranhamento daquilo que é familiar ao pesquisador é uma das etapas mais difíceis dos estudos em Antropologia Urbana (VELHO, 2003). O ato de se colocar no lugar do “outro”, desenvolver uma atitude de estranhamento de diversos fenômenos observados na cultura estudada se torna mais custoso quando tal cultura é familiar ao pesquisador (OLIVEN, 2007). Além disso, a compreensão do espaço na cidade demanda um treino do olhar, uma vez que, enquanto seus habitantes, estamos continuamente sujeitos aos estímulos da metrópole. Estranhar o familiar e familiarizar o estranho (VELHO, 1978) torna-se vital para adentrar em um nível de significação não compreendido antes da inserção em determinado campo. Esse movimento passa pela superação das representações prévias e ingênuas do pesquisador em torno do universo de pesquisa em foco, colocando em substituição questões relacionais (ROCHA e ECKERT, 2008), atentas às condições de produção etnográfica. Este movimento de constante vai-e-vem da experiência em campo – posta numa linha tênue entre não ser etnocêntrico, nem tornar-se completamente “nativo” – caracteriza a produção do texto. Nosso texto, portanto, estará sempre condicionado à capacidade de refletirmos sobre nossa própria experiência identificando o que nos familiariza e o que nos distancia de determinado objeto. Na medida em que compreendemos isso, a experiência de campo e o tipo de interação que temos tornam-se mais claros, de modo que possamos expor tais familiarizações e estranhamentos como parte da pesquisa. Tais aspectos podem ser expressos num esforço de reflexividade que exporemos em seguida. 4.3 A reflexividade e a interioridade da experiência temporal Independentemente do modo de acercamento empreendido em um trabalho de campo ou na forma de reconstrução etnográfica posterior, o instrumento privilegiado de pesquisa é sempre a própria presença do pesquisador, tanto no campo quando na escrita (CALDEIRA, 1988). Mesmo com as críticas pós-modernas que expusemos anteriormente, cabe considerar que o pesquisador em uma proposta antropológica nunca está ausente do texto, por isso a autoridade etnográfica reside na possibilidade de dizer “eu estive lá” (CLIFFORD e GONÇALVES, 1998). A postura antropológica parte do pressuposto de que, em estando lá, existem condições nas quais o conhecimento será construído; uma delas é a presença do próprio pesquisador, o que revela de maneira mais consistente a noção de reflexividade. A personalidade do investigador e sua experiência pessoal não podem ser eliminadasdo trabalho etnográfico. Na verdade, elas estão engastadas, plantadas nos fatos etnográficos que são selecionados e interpretados. (PEIRANO, 2008, p. 3-4). Assim, a escolha de determinado objeto de pesquisa, as escolhas teóricas, a abordagem em campo, entre outros aspectos, encontram-se imbricados à personalidade do investigador. Entende-se que, estando consciente deste fato e revelando-o claramente, tem-se dimensão das condições de produção do conhecimento. Ao invés de anular-se pretensamente pressupondo um distanciamento entre o pesquisador e sua pesquisa – com ambições positivistas –, a condição de produção etnográfica é justamente a interação e, portanto, a relação entre sujeito e objeto da pesquisa. Rocha e Eckert (2005) apontam ainda que reconhecer a reflexividade, a relação intersubjetiva e dialógica da etnografia não é suficiente. Embasando-se em Ricoeur (2012), as autoras acreditam que o que está em jogo é o ato de configuração e reconfiguração do tempo que encerra a interpretação. Ou seja, dentro de uma proposta de Antropologia Interpretativa, o método etnográfico também se caracteriza por uma tensão entre tempos – da vivência e da 12 escritura. A distenção temporal do si que ocorre entre o “viver lá” e “escrever aqui” é um esforço da ação reflexiva do sujeito cognoscente frente à descontinuidade do tempo vivido. A coerência interna da produção etnográfica, em suma, é um compromisso com a manutenção do si, da identidade narrativa, descompassada entre vivência e escritura. É através da composição narrativa que o pesquisador coincide as redes de relações: “agenciando fatos, situações, acontecimentos, personagens e seus dramas num todo ordenado (para além da lógica acrônica ou cronológica) [...]” (ROCHA e ECKERT, 2005, p. 133). Essa característica do método nos leva ao item seguinte, que diz respeito à forma de apresentação final dos dados, a qual deve condizer com a experiência vivida. 4.4 A construção do texto A importância deste item reside no fato de que o relatório final de pesquisa, na medida do possível, deve almejar transmitir ao leitor a sensação de estar no campo, passando ele mesmo pela experiência do contato com os nativos (GIUMBELLI, 2002). O ato de escrever, configuração final do produto do trabalho de campo, significa trazer os fatos observados (vistos e ouvidos, por assim dizer) para o plano do discurso. Ele representa a textualização do trabalho de campo, e se destaca por dois momentos centrais: o da elaboração do diário de campo, já abordado neste artigo, e o da elaboração do texto final (OLIVEIRA, 2000). A textualização das observações do etnógrafo sobre uma determinada cultura configura-se empreendimento complexo, na medida em que essa construção, derivada da relação entre sistema conceitual e dados, resulta na produção de um texto delicado do ponto de vista moral, político e epistemológico (OLIVEIRA, 2000). Em suma, trata-se de uma preocupação com a articulação entre o trabalho de campo e a construção do texto etnográfico. Textos etnográficos tendem a se assemelhar a romances, mais próximos de textos ditos literários que dos considerados científico (GEERTZ, 2008). Dessa forma, o pesquisador busca narrar os acontecimentos, pois é através de uma “descrição densa” – parafraseando o referido autor – que se pode alcançar as teias de significado que se apresentam no curso da experiência em campo. Nesse sentido, a escrita em primeira pessoa do singular, aspecto debatido na produção textual de cunho etnográfico, não significa necessariamente a produção de um texto intimista. Significa que “o autor não deve se esconder sistematicamente sob a capa de um observador impessoal, coletivo, onipresente e onisciente, valendo-se da primeira pessoa do plural: nós” (OLIVEIRA, 2000, p. 30). A importância dessa questão reside no fato de que, quando se fala na conhecida polifonia do texto etnográfico, observa-se a pluralidade de vozes às quais se oferece espaço no texto, mas também se destaca que a voz do próprio pesquisador não pode ser obscurecida ou substituída pelas transcrições das falas dos entrevistados. Não existe uma receita pronta para a produção do relato etnográfico, segundo Rocha e Eckert (2008). Entretanto, é somente com a leitura de outras etnografias recentes ou clássicas, com a leitura de diários de campo e suas abordagens teóricas que o pesquisador irá apropriar- se da forma de escrita etnográfica (ROCHA e ECKERT, 2008). Nesse sentido, a leitura dos clássicos é fundamental, não somente como forma de compreender a arte da escrita, como também para tomar parte nos fundamentos da disciplina. Afinal, o conhecimento que obtivemos atualmente deste método decorre de uma trajetória que, em si mesma, muito revela sobre ele. Dispensá-la na tentativa de buscar somente as atualizações do método seria desconsiderar seus fundamentos que, apesar das mudanças e críticas realizadas ao longo do tempo, mantêm ainda noções básicas que o norteiam. Além disso, Rocha e Eckert (2008) apontam que a realização de uma etnografia necessita um pensamento especulativo preliminar, no qual a escrita exploratória e ensaística assumem um papel fundamental. Em sua visão, a organização do trabalho em fases estanques 13 e precisas – como preparação, coleta de dados, análise e escrita final – trata-se de uma ilusão da escrita. Por fim, é importante destacar que, mais do que uma particularidade do método, a dimensão literária do discurso etnográfico é não um ornamento dispensável, mas sim elemento fundamental nesse discurso. A etnografia, assim, não se configuraria apenas em método ou criação literária: seria um campo articulado por tensões, ambiguidades e indeterminações próprias do sistema de relações no qual está situada (CLIFFORD e GONÇALVES, 1998). Mesmo buscando a polifonia, em que o pesquisador tenta apreender diversos discursos, a etnografia é um texto de autoria de um indivíduo, com suas percepções e idiossincrasias. 4.5 A busca de significados Integrando experiência e interpretação, o pesquisador atua de forma real na vida do grupo estudado, “captando o sentido de ocorrências e gestos específicos” e situando “esses significados em contextos mais amplos” (CLIFFORD e GONÇALVES, 1998, p. 33-34). Sem dúvida, para que um trabalho etnográfico seja válido, é imprescindível que cubra a totalidade de todos os aspectos – social, cultural e psicológico – da comunidade; pois esses aspectos são de tal forma interdependentes que um não pode ser estudado e entendido a não ser levando-se em conta todos os demais. (MALINOWSKI, 1978, p. 11-12)iv. Cabe destacar a realização da pesquisa a partir do ponto de vista “nativo”, de ângulo interno, buscando a lógica cultural que orienta a vida dos grupos estudados em seu próprio contexto (BOAS, 2004). Em busca dos imponderáveis da vida real e de uma visão de dentro, o entendimento do ponto de vista nativo dar-se-ia apenas através da observação participante, método de trabalho que permite ao pesquisador aceso ao modo pelo qual os valores sociais são vivenciados no cotidiano (MALINOWSKI, 1978). Mesmo que a compreensão do vivido em sua totalidade seja contemporaneamente contestada, cabe ponderar que na medida do possível, o pesquisador irá contemplar em seus diários todas as manifestações culturais das quais tiver acesso. Isso será feito com vistas à interpretação do sistema simbólico que orienta a vida, conformando valores éticos expressos em suas ações e representações (ROCHA e ECKERT, 2008). Independentemente do objeto de pesquisa, o etnógrafo questiona-se: “o que está se passando naquele momento em que um determinado acontecimento está ocorrendo?” (ROCHA e ECKERT, 2008). As referidas autoras continuam ainda em suas sugestões de questionamentos: “quem faz o que nestas situações?”; “quem é quem na ordem de ocorrências?”; “por que as coisas estão acontecendo da maneira que estão acontecendo?”, etc. Desvelar o significado de algo, portanto, nãose resume a executar a observação participante – ou demais técnicas – nem a escrever diários de campo; para além disso, o pesquisador questiona-se sobre as situações que se interpõem no interior de determinado grupo. Seu relatório final não é, portanto, uma descrição pretensamente objetiva daquilo que viu, mas interpretações do vivido. Nesse sentido, é possível dizer que a descrição etnográfica é de natureza altamente situacional, ou seja, trata-se de um dado etnógrafo, em determinada época e lugar, com certos informantes, vivendo tais experiências (GEERTZ, 2005). Assim, um dos principais aspectos que se tem em mente, na análise etnográfica, é o respeito pela visão que os pesquisados possuem sobre si, sua vida, suas práticas e sua concepção de mundo (ROCHA, 1995). A etnografia, por ser a interpretação do pesquisador sobre os valores dos pesquisados, não trata do que se pensa sobre a cultura, mas sim do que se pode interpretar a partir das representações e do imaginário nativo sobre si mesmo (ROCHA, 1995). Mesmo em sendo o trabalho do pesquisador microscópico, porque olha com atenção 14 para o detalhe, pretende ter acesso a grandes temas, através da análise do pequeno e do particular (ROCHA, BARROS e PEREIRA, 2005). Em suma, a prática etnográfica representa um processo interativo em que o outro é compreendido, no encontro intersubjetivo entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados e nas tensões entre suas identidades/alteridades (ROCHA e ECKERT, 1998). Assim, a singularidade do discurso êmico que o pesquisador profere residiria no caráter reflexivo presente nas pesquisas (ROCHA e ECKERT, 1998). 5 Considerações finais Nossa intenção com este trabalho certamente não foi esgotar as possibilidades do método, mas clarificar alguns embasamentos e discussões atuais, tendo em vista que a transposição de um método de uma disciplina a outra deve ser acompanhada da responsabilidade pela manutenção de seus pressupostos. Esperamos, com isso, reduzir as confusões sobre a prática etnográfica, que – tendo em vista as subjetividades que ele encerra – cerca-se de compreensões equivocadas, por vezes, precipitadas sobre o que venha a ser. Não pretendemos, a partir destas reflexões, postular uma “verdade indubitável”, mas, antes, contribuir para qualificar os estudos em organizações que se constroem a partir da utilização desse método. A proposição que apresentamos aqui evidencia que a etnografia não é um método compatível com questões de pesquisa funcionalistas ou positivistas sobre determinado fenômeno – seja ele organizacional ou não. Não obstante, trata-se de um método que auxilia no levantamento de questionamentos e proposições teórico-empíricas de fundo compreensivo e interpretativo da realidade vivida. A tais aspectos o pesquisador deve estar atento quando do planejamento de seu “modo de acercamento” do fenômeno em pauta. Bonetti e Fleischer (2007) apontam que uma das dimensões mais ricas do trabalho etnográfico reside em seu caráter experimental e artesanal. Por sua vez, Goldman (2006) aponta que o principal, se não o único, meio de pesquisa é a socialidade, ou a disposição para viver uma experiência pessoal junto a um grupo com o propósito de transformar essa mesma experiência em tema de pesquisa e, finalmente, em texto etnográfico. Desse modo, torna-se impossível “manualizar” a etnografia, dado que cada experiência será diferente, mesmo que sobre o mesmo objeto de pesquisa. Cabe apontarmos que, independentemente do tipo de experiência de campo, o pesquisador deve ter em mente que sua interação e posterior relato sobre dada realidade estão permeados por uma ética de trabalho, no sentido de respeitar o campo e seus participantes. Não aprofundamos aqui a dimensão ética na etnografia e, portanto, apontamo-la como algo a ser discutido em futuros trabalhos, haja vista sua importância, não somente na condução de uma etnografia, como em qualquer método de pesquisa social. Ademais, esse estudo das experiências humanas a partir da experiência pessoal torna a alteridade uma noção central na disciplina, que orienta e limita a prática etnográfica (GOLDMAN, 2006). Sendo assim, reiteramos que as técnicas em si mesmas não configuram a etnografia; para além disso, é necessário que o pesquisador assuma uma postura de pesquisa etnográfica, atentando para as condições de produção do conhecimento expressos tanto nas interações que ele trava em campo quanto na reflexividade. Acreditamos que apropriando-se desses elementos, reduz-se o risco de realização de “etnografias acidentais”. 6 Referências APPADURAI, A. The Social Life of Things. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. BOAS, F. Antropologia cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BONETTI, A.; FLEISCHER, S. Introdução. In: BONETTI, A.; FLEISCHER, S. Entre saias justas e jogos de cintura. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2007. p. 9-40. 15 CALDEIRA, T. P. D. R. A Presença do Autor e a Pós-Modernidade em Antropologia. Novos Estudos CEBRAP, julho 1988. 133-157. CALIMAN, N. F.; COSTA, R. R. C. C. Os Desafios da Pesquisa Etnográfica na Administração: uma Análise a partir de Artigos Publicados de 1998 a 2007. ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO. Rio de Janeiro: [s.n.]. 2008. CAVEDON, N. R. Antropologia para administradores. Porto Alegre: UFRGS, 2003. CLIFFORD, J.; GONÇALVES, J. R. S. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. CLIFFORD, J.; GONÇALVES, J. R. S. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998. DURHAM, E. A Dinâmica da Cultura: ensaios de Antropologia. Cosac & Naify: São Paulo, 2004. EMERSON, R. M. Ethnography, interaction and ordinary trouble. Ethnography, 4, 2009. 535-548. EVANS-PRITCHARD, E. E. Os Nuer. São Paulo: Perspectiva, 2013. FOOTE-WHYTE, W. Sociedade de Esquina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. FORSEY, M. G. Ethnography as participant listening. Ethnography, 4, 2010. 558–572. GEERTZ, C. Obras e vidas: o antropólogo como autor. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005. GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GIUMBELLI, E. Para além do "trabalho de campo”: reflexões supostamente malinowskianas. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 17, fevereiro 2002. 91-227. GOLDMAN, M. Alteridade e experiência: antropologia e teoria etnográfica. Etnográfica, X, 2006. 161-173. GOODE, W.; HATT, P. Métodos em pesquisa social. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960. HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; TADEU, T. Antropologia do Ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. INGOLD, T. Anthropology is not Ethnography. Proceedings of the British Academy, 154, 2008. 69-92. LATOUR, B. Ciência em Ação. São Paulo: UNESP, 2000. MAGNANI, J. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, 17, jul. 2002. 11-29. MAGNANI, J. Etnografia como prática e experiência. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, 15, n. 32, jul./dez. 2009. 129-156. MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1978. MARCUS, G. Ethnography in/of the World System: the emergence of multi-sited ethnography. Annual Review of Anthropology, 24, 1995. 95-117. MARCUS, G.; CUSHMAN, D. Ethnography as texts. Annual Review of Anthropology, 11, 1982. 25-69. MARCUS, G.; FISCHER, M. Anthropology as a Cultural Critique: an experimental moment in the human sciences. Chicago: University of Chicago Press, 1986. MARTIN, E. Flexible Bodies: the role of immunity in American culture from the days of Polio to the age of AIDS. Boston: Beacon Press, 1995. MAUSS, M. Manual de Etnografia. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1993. MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. MOHIA, N. L'expérience de terrain: pour une approche relationelle dans les sciences sociales. Paris: La Découverte, 2008. OLIVEIRA, R. C. D. O trabalho do antropólogo.São Paulo: UNESP, 2000. OLIVEN, R. G. A Antropologia de grupos urbanos. 6ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. 16 PEIRANO, M. A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995. PEIRANO, M. Etnografia, ou a teoria vivida. PontoUrbe, 2, fevereiro 2008. RABINOW, P. Representations are social facts: modernity and postmodernity in anthropology. In: CLIFFORD, J.; MARCUS, G. Writing Culture: The Poetics and Politics of Ethnography. Berkeley: University of California Press, 1986. RADCLLIFFE-BROWN, A. R. Estrutura e Função da Sociedade Primitiva. Petrópolis: Vozes, 2013. RICOEUR, P. Tempo e Narrativa: a configuração do tempo da narrativa de ficção. São Paulo: Martins Fontes, v. II, 2012. ROCHA, A. L. C. D.; ECKERT, C. A interioridade da experiência temporal do antropólogo como condição da produção etnográfica. Revista de Antropologia, São Paulo, 41, 1998. ROCHA, A. L. C. D.; ECKERT, C. O Tempo e a Cidade. Porto Alegre: EdUFRGS, 2005. ROCHA, A. L. C. D.; ECKERT, C. Etnografia: saberes e práticas. In: GUAZZELLI, C. A.; PINTO, C. R. Ciências Humanas: pesquisa e método. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2008. ROCHA, E. Clientes e brasileiros: notas para um estudo da cultura do Banco do Brasil. Brasília: BB/DESED, 1995. ROCHA, E.; BARROS, C.; PEREIRA, C. Fronteiras e limites: espaços contemporâneos da pesquisa etnográfica. In: LENGLER, J. F. B.; CAVEDON, N. R. Pós-modernidade e etnografia nas organizações. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2005. TORNQUIST, C. S. Vicissitudes da subjetividade. In: BONETTI, A.; FLEISCHER, S. Entre saias justas e jogos de cintura. Florianópolis; Santa Cruz do Sul: Mulheres; EDUNISC, 2007. URIARTE, U. M. O que é fazer etnografia para os antropólogos. Ponto Urbe, 6, dezembro 2012. VELHO, G. Observando o familiar. In: NUNES, E. D. O. A Aventura Sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1978. VELHO, G. O desafio da proximidade. In: VELHO, G.; KUSCHNIR, K. Pesquisas urbanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. VIVEIROS DE CASTRO, E. O nativo relativo. Mana, Rio de Janeiro, 8, 2002. 113-148. WAGNER, R. A Invenção da Cultura. São Paulo: Cosac & Naify, 2012. WEBER, F. A entrevista, a pesquisa e o íntimo, ou: por que censurar seu diário de campo? Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, 15, jul./dez. 2009. 157-170. YBEMA, S. et al. Studying everyday organizational life. In: YBEMA, S., et al. Organizational Ethnography: Studying the Complexities of Everyday Life. London: Sage, 2009. p. 304. i Conforme aponta Cavedon (2003), em verdade, este “manual” é uma compilação de aulas de Marcel Mauss que, anotadas por seus alunos, foram transformadas em um livro. ii O que o antropólogo escreve nunca é a voz do nativo, porque uma coisa é o que o nativo pensa e a outra é o que o antropólogo pensa que o nativo pensa. Assim sendo, o ponto de vista do etnógrafo é em verdade uma relação com o ponto de vista do nativo (VIVEIROS DE CASTRO, 2002). iii No original: The Social Life of Things. iv Como dissemos anteriormente, tal noção apresentada por Malinowski está envolta em um pressuposto de capacidade de totalizar a experiência; algo atualmente relativizado tendo em vista a incapacidade do pesquisador em apreender este “todo coerente” da experiência (CALDEIRA, 1988). Nesse sentido, retomamos a noção expressa por Geertz (2008) de que qualquer interpretação é sempre incompleta. << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles true /AutoRotatePages /None /Binding /Left /CalGrayProfile (Dot Gain 20%) /CalRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CalCMYKProfile (U.S. Web Coated \050SWOP\051 v2) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Error /CompatibilityLevel 1.4 /CompressObjects /Tags /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJobTicket false /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends true /DetectCurves 0.0000 /ColorConversionStrategy /CMYK /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedOpenType false /ParseICCProfilesInComments true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 /ImageMemory 1048576 /LockDistillerParams false /MaxSubsetPct 100 /Optimize true /OPM 1 /ParseDSCComments true /ParseDSCCommentsForDocInfo true /PreserveCopyPage true /PreserveDICMYKValues true /PreserveEPSInfo true /PreserveFlatness true /PreserveHalftoneInfo false /PreserveOPIComments true /PreserveOverprintSettings true /StartPage 1 /SubsetFonts true /TransferFunctionInfo /Apply /UCRandBGInfo /Preserve /UsePrologue false /ColorSettingsFile () /AlwaysEmbed [ true ] /NeverEmbed [ true ] /AntiAliasColorImages false /CropColorImages true /ColorImageMinResolution 300 /ColorImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleColorImages true /ColorImageDownsampleType /Bicubic /ColorImageResolution 300 /ColorImageDepth -1 /ColorImageMinDownsampleDepth 1 /ColorImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeColorImages true /ColorImageFilter /DCTEncode /AutoFilterColorImages true /ColorImageAutoFilterStrategy /JPEG /ColorACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /ColorImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000ColorACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000ColorImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasGrayImages false /CropGrayImages true /GrayImageMinResolution 300 /GrayImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 300 /GrayImageDepth -1 /GrayImageMinDownsampleDepth 2 /GrayImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages true /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /GrayImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000GrayACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000GrayImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasMonoImages false /CropMonoImages true /MonoImageMinResolution 1200 /MonoImageMinResolutionPolicy /OK /DownsampleMonoImages true /MonoImageDownsampleType /Bicubic /MonoImageResolution 1200 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict << /K -1 >> /AllowPSXObjects false /CheckCompliance [ /None ] /PDFX1aCheck false /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly false /PDFXNoTrimBoxError true /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile () /PDFXOutputConditionIdentifier () /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName () /PDFXTrapped /False /CreateJDFFile false /Description << /ARA <FEFF06270633062A062E062F0645002006470630064700200627064406250639062F0627062F0627062A002006440625064606340627062100200648062B062706260642002000410064006F00620065002000500044004600200645062A064806270641064206290020064406440637062806270639062900200641064A00200627064406450637062706280639002006300627062A0020062F0631062C0627062A002006270644062C0648062F0629002006270644063906270644064A0629061B0020064A06450643064600200641062A062D00200648062B0627062606420020005000440046002006270644064506460634062306290020062806270633062A062E062F062706450020004100630072006F0062006100740020064800410064006F006200650020005200650061006400650072002006250635062F0627063100200035002E0030002006480627064406250635062F062706310627062A0020062706440623062D062F062B002E0635062F0627063100200035002E0030002006480627064406250635062F062706310627062A0020062706440623062D062F062B002E>/BGR <FEFF04180437043f043e043b043704320430043904420435002004420435043704380020043d0430044104420440043e0439043a0438002c00200437043000200434043000200441044a0437043404300432043004420435002000410064006f00620065002000500044004600200434043e043a0443043c0435043d04420438002c0020043c0430043a04410438043c0430043b043d043e0020043f044004380433043e04340435043d04380020043704300020043204380441043e043a043e043a0430044704350441044204320435043d0020043f04350447043004420020043704300020043f044004350434043f0435044704300442043d04300020043f043e04340433043e0442043e0432043a0430002e002000200421044a04370434043004340435043d043804420435002000500044004600200434043e043a0443043c0435043d044204380020043c043e0433043004420020043404300020044104350020043e0442043204300440044f0442002004410020004100630072006f00620061007400200438002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020043800200441043b0435043404320430044904380020043204350440044104380438002e> /CHS <FEFF4f7f75288fd94e9b8bbe5b9a521b5efa7684002000410064006f006200650020005000440046002065876863900275284e8e9ad88d2891cf76845370524d53705237300260a853ef4ee54f7f75280020004100630072006f0062006100740020548c002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000204ee553ca66f49ad87248672c676562535f00521b5efa768400200050004400460020658768633002> /CHT <FEFF4f7f752890194e9b8a2d7f6e5efa7acb7684002000410064006f006200650020005000440046002065874ef69069752865bc9ad854c18cea76845370524d5370523786557406300260a853ef4ee54f7f75280020004100630072006f0062006100740020548c002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000204ee553ca66f49ad87248672c4f86958b555f5df25efa7acb76840020005000440046002065874ef63002> /CZE <FEFF005400610074006f0020006e006100730074006100760065006e00ed00200070006f0075017e0069006a007400650020006b0020007600790074007600e101590065006e00ed00200064006f006b0075006d0065006e0074016f002000410064006f006200650020005000440046002c0020006b00740065007200e90020007300650020006e0065006a006c00e90070006500200068006f006400ed002000700072006f0020006b00760061006c00690074006e00ed0020007400690073006b00200061002000700072006500700072006500730073002e002000200056007900740076006f01590065006e00e900200064006f006b0075006d0065006e007400790020005000440046002000620075006400650020006d006f017e006e00e90020006f007400650076015900ed007400200076002000700072006f006700720061006d0065006300680020004100630072006f00620061007400200061002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002000610020006e006f0076011b006a016100ed00630068002e> /DAN <FEFF004200720075006700200069006e0064007300740069006c006c0069006e006700650072006e0065002000740069006c0020006100740020006f007000720065007400740065002000410064006f006200650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e007400650072002c0020006400650072002000620065006400730074002000650067006e006500720020007300690067002000740069006c002000700072006500700072006500730073002d007500640073006b007200690076006e0069006e00670020006100660020006800f8006a0020006b00760061006c0069007400650074002e0020004400650020006f007000720065007400740065006400650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e0074006500720020006b0061006e002000e50062006e00650073002000690020004100630072006f00620061007400200065006c006c006500720020004100630072006f006200610074002000520065006100640065007200200035002e00300020006f00670020006e0079006500720065002e> /DEU <FEFF00560065007200770065006e00640065006e0020005300690065002000640069006500730065002000450069006e007300740065006c006c0075006e00670065006e0020007a0075006d002000450072007300740065006c006c0065006e00200076006f006e002000410064006f006200650020005000440046002d0044006f006b0075006d0065006e00740065006e002c00200076006f006e002000640065006e0065006e002000530069006500200068006f006300680077006500720074006900670065002000500072006500700072006500730073002d0044007200750063006b0065002000650072007a0065007500670065006e0020006d00f60063006800740065006e002e002000450072007300740065006c006c007400650020005000440046002d0044006f006b0075006d0065006e007400650020006b00f6006e006e0065006e0020006d006900740020004100630072006f00620061007400200075006e0064002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020006f0064006500720020006800f600680065007200200067006500f600660066006e00650074002000770065007200640065006e002e> /ESP <FEFF005500740069006c0069006300650020006500730074006100200063006f006e0066006900670075007200610063006900f3006e0020007000610072006100200063007200650061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f00730020005000440046002000640065002000410064006f0062006500200061006400650063007500610064006f00730020007000610072006100200069006d0070007200650073006900f3006e0020007000720065002d0065006400690074006f007200690061006c00200064006500200061006c00740061002000630061006c0069006400610064002e002000530065002000700075006500640065006e00200061006200720069007200200064006f00630075006d0065006e0074006f00730020005000440046002000630072006500610064006f007300200063006f006e0020004100630072006f006200610074002c002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200079002000760065007200730069006f006e0065007300200070006f00730074006500720069006f007200650073002e> /ETI <FEFF004b00610073007500740061006700650020006e0065006900640020007300e4007400740065006900640020006b00760061006c006900740065006500740073006500200074007200fc006b006900650065006c007300650020007000720069006e00740069006d0069007300650020006a0061006f006b007300200073006f00620069006c0069006b0065002000410064006f006200650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740069006400650020006c006f006f006d006900730065006b0073002e00200020004c006f006f0064007500640020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740065002000730061006100740065002000610076006100640061002000700072006f006700720061006d006d006900640065006700610020004100630072006f0062006100740020006e0069006e0067002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020006a00610020007500750065006d006100740065002000760065007200730069006f006f006e00690064006500670061002e000d000a> /FRA <FEFF005500740069006c006900730065007a00200063006500730020006f007000740069006f006e00730020006100660069006e00200064006500200063007200e900650072002000640065007300200064006f00630075006d0065006e00740073002000410064006f00620065002000500044004600200070006f0075007200200075006e00650020007100750061006c0069007400e90020006400270069006d007000720065007300730069006f006e00200070007200e9007000720065007300730065002e0020004c0065007300200064006f00630075006d0065006e00740073002000500044004600200063007200e900e90073002000700065007500760065006e0074002000ea0074007200650020006f007500760065007200740073002000640061006e00730020004100630072006f006200610074002c002000610069006e00730069002000710075002700410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002000650074002000760065007200730069006f006e007300200075006c007400e90072006900650075007200650073002e> /GRE <FEFF03a703c103b703c303b903bc03bf03c003bf03b903ae03c303c403b5002003b103c503c403ad03c2002003c403b903c2002003c103c503b803bc03af03c303b503b903c2002003b303b903b1002003bd03b1002003b403b703bc03b903bf03c503c103b303ae03c303b503c403b5002003ad03b303b303c103b103c603b1002000410064006f006200650020005000440046002003c003bf03c5002003b503af03bd03b103b9002003ba03b103c42019002003b503be03bf03c703ae03bd002003ba03b103c403ac03bb03bb03b703bb03b1002003b303b903b1002003c003c103bf002d03b503ba03c403c503c003c903c403b903ba03ad03c2002003b503c103b303b103c303af03b503c2002003c503c803b703bb03ae03c2002003c003bf03b903cc03c403b703c403b103c2002e0020002003a403b10020005000440046002003ad03b303b303c103b103c603b1002003c003bf03c5002003ad03c703b503c403b5002003b403b703bc03b903bf03c503c103b303ae03c303b503b9002003bc03c003bf03c103bf03cd03bd002003bd03b1002003b103bd03bf03b903c703c403bf03cd03bd002003bc03b5002003c403bf0020004100630072006f006200610074002c002003c403bf002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002003ba03b103b9002003bc03b503c403b103b303b503bd03ad03c303c403b503c103b503c2002003b503ba03b403cc03c303b503b903c2002e> /HEB <FEFF05D405E905EA05DE05E905D5002005D105D405D205D305E805D505EA002005D005DC05D4002005DB05D305D9002005DC05D905E605D505E8002005DE05E105DE05DB05D9002000410064006F006200650020005000440046002005D405DE05D505EA05D005DE05D905DD002005DC05D405D305E405E105EA002005E705D305DD002D05D305E405D505E1002005D005D905DB05D505EA05D905EA002E002005DE05E105DE05DB05D90020005000440046002005E905E005D505E605E805D5002005E005D905EA05E005D905DD002005DC05E405EA05D905D705D4002005D105D005DE05E605E205D505EA0020004100630072006F006200610074002005D5002D00410064006F00620065002000520065006100640065007200200035002E0030002005D505D205E805E105D005D505EA002005DE05EA05E705D305DE05D505EA002005D905D505EA05E8002E05D005DE05D905DD002005DC002D005000440046002F0058002D0033002C002005E205D905D905E005D5002005D105DE05D305E805D905DA002005DC05DE05E905EA05DE05E9002005E905DC0020004100630072006F006200610074002E002005DE05E105DE05DB05D90020005000440046002005E905E005D505E605E805D5002005E005D905EA05E005D905DD002005DC05E405EA05D905D705D4002005D105D005DE05E605E205D505EA0020004100630072006F006200610074002005D5002D00410064006F00620065002000520065006100640065007200200035002E0030002005D505D205E805E105D005D505EA002005DE05EA05E705D305DE05D505EA002005D905D505EA05E8002E>/HRV (Za stvaranje Adobe PDF dokumenata najpogodnijih za visokokvalitetni ispis prije tiskanja koristite ove postavke. Stvoreni PDF dokumenti mogu se otvoriti Acrobat i Adobe Reader 5.0 i kasnijim verzijama.) /HUN <FEFF004b0069007600e1006c00f30020006d0069006e0151007300e9006701710020006e0079006f006d00640061006900200065006c0151006b00e90073007a00ed007401510020006e0079006f006d00740061007400e100730068006f007a0020006c006500670069006e006b00e1006200620020006d0065006700660065006c0065006c0151002000410064006f00620065002000500044004600200064006f006b0075006d0065006e00740075006d006f006b0061007400200065007a0065006b006b0065006c0020006100200062006500e1006c006c00ed007400e10073006f006b006b0061006c0020006b00e90073007a00ed0074006800650074002e0020002000410020006c00e90074007200650068006f007a006f00740074002000500044004600200064006f006b0075006d0065006e00740075006d006f006b00200061007a0020004100630072006f006200610074002000e9007300200061007a002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002c0020007600610067007900200061007a002000610074007400f3006c0020006b00e9007301510062006200690020007600650072007a006900f3006b006b0061006c0020006e00790069007400680061007400f3006b0020006d00650067002e> /ITA <FEFF005500740069006c0069007a007a006100720065002000710075006500730074006500200069006d0070006f007300740061007a0069006f006e00690020007000650072002000630072006500610072006500200064006f00630075006d0065006e00740069002000410064006f00620065002000500044004600200070006900f900200061006400610074007400690020006100200075006e00610020007000720065007300740061006d0070006100200064006900200061006c007400610020007100750061006c0069007400e0002e0020004900200064006f00630075006d0065006e007400690020005000440046002000630072006500610074006900200070006f00730073006f006e006f0020006500730073006500720065002000610070006500720074006900200063006f006e0020004100630072006f00620061007400200065002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200065002000760065007200730069006f006e006900200073007500630063006500730073006900760065002e> /JPN <FEFF9ad854c18cea306a30d730ea30d730ec30b951fa529b7528002000410064006f0062006500200050004400460020658766f8306e4f5c6210306b4f7f75283057307e305930023053306e8a2d5b9a30674f5c62103055308c305f0020005000440046002030d530a130a430eb306f3001004100630072006f0062006100740020304a30883073002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000204ee5964d3067958b304f30533068304c3067304d307e305930023053306e8a2d5b9a306b306f30d530a930f330c8306e57cb30818fbc307f304c5fc59808306730593002> /KOR <FEFFc7740020c124c815c7440020c0acc6a9d558c5ec0020ace0d488c9c80020c2dcd5d80020c778c1c4c5d00020ac00c7a50020c801d569d55c002000410064006f0062006500200050004400460020bb38c11cb97c0020c791c131d569b2c8b2e4002e0020c774b807ac8c0020c791c131b41c00200050004400460020bb38c11cb2940020004100630072006f0062006100740020bc0f002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020c774c0c1c5d0c11c0020c5f40020c2180020c788c2b5b2c8b2e4002e> /LTH <FEFF004e006100750064006f006b0069007400650020016100690075006f007300200070006100720061006d006500740072007500730020006e006f0072011700640061006d00690020006b0075007200740069002000410064006f00620065002000500044004600200064006f006b0075006d0065006e007400750073002c0020006b00750072006900650020006c0061006200690061007500730069006100690020007000720069007400610069006b007900740069002000610075006b01610074006f00730020006b006f006b007900620117007300200070006100720065006e006700740069006e00690061006d00200073007000610075007300640069006e0069006d00750069002e0020002000530075006b0075007200740069002000500044004600200064006f006b0075006d0065006e007400610069002000670061006c006900200062016b007400690020006100740069006400610072006f006d00690020004100630072006f006200610074002000690072002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002000610072002000760117006c00650073006e0117006d00690073002000760065007200730069006a006f006d00690073002e> /LVI <FEFF0049007a006d0061006e0074006f006a00690065007400200161006f00730020006900650073007400610074012b006a0075006d00750073002c0020006c0061006900200076006500690064006f00740075002000410064006f00620065002000500044004600200064006f006b0075006d0065006e007400750073002c0020006b006100730020006900720020012b00700061016100690020007000690065006d01130072006f00740069002000610075006700730074006100730020006b00760061006c0069007401010074006500730020007000690072006d007300690065007300700069006501610061006e006100730020006400720075006b00610069002e00200049007a0076006500690064006f006a006900650074002000500044004600200064006f006b0075006d0065006e007400750073002c0020006b006f002000760061007200200061007400760113007200740020006100720020004100630072006f00620061007400200075006e002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002c0020006b0101002000610072012b00200074006f0020006a00610075006e0101006b0101006d002000760065007200730069006a0101006d002e> /NLD (Gebruik deze instellingen om Adobe PDF-documenten te maken die zijn geoptimaliseerd voor prepress-afdrukken van hoge kwaliteit. De gemaakte PDF-documenten kunnen worden geopend met Acrobat en Adobe Reader 5.0 en hoger.) /NOR <FEFF004200720075006b00200064006900730073006500200069006e006e007300740069006c006c0069006e00670065006e0065002000740069006c002000e50020006f0070007000720065007400740065002000410064006f006200650020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740065007200200073006f006d00200065007200200062006500730074002000650067006e0065007400200066006f00720020006600f80072007400720079006b006b0073007500740073006b00720069006600740020006100760020006800f800790020006b00760061006c0069007400650074002e0020005000440046002d0064006f006b0075006d0065006e00740065006e00650020006b0061006e002000e50070006e00650073002000690020004100630072006f00620061007400200065006c006c00650072002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e003000200065006c006c00650072002000730065006e006500720065002e> /POL <FEFF0055007300740061007700690065006e0069006100200064006f002000740077006f0072007a0065006e0069006100200064006f006b0075006d0065006e007400f300770020005000440046002000700072007a0065007a006e00610063007a006f006e00790063006800200064006f002000770079006400720075006b00f30077002000770020007700790073006f006b00690065006a0020006a0061006b006f015b00630069002e002000200044006f006b0075006d0065006e0074007900200050004400460020006d006f017c006e00610020006f007400770069006500720061010700200077002000700072006f006700720061006d006900650020004100630072006f00620061007400200069002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002000690020006e006f00770073007a0079006d002e> /PTB <FEFF005500740069006c0069007a006500200065007300730061007300200063006f006e00660069006700750072006100e700f50065007300200064006500200066006f0072006d00610020006100200063007200690061007200200064006f00630075006d0065006e0074006f0073002000410064006f0062006500200050004400460020006d00610069007300200061006400650071007500610064006f00730020007000610072006100200070007200e9002d0069006d0070007200650073007300f50065007300200064006500200061006c007400610020007100750061006c00690064006100640065002e0020004f007300200064006f00630075006d0065006e0074006f00730020005000440046002000630072006900610064006f007300200070006f00640065006d0020007300650072002000610062006500720074006f007300200063006f006d0020006f0020004100630072006f006200610074002000650020006f002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e0030002000650020007600650072007300f50065007300200070006f00730074006500720069006f007200650073002e> /RUM <FEFF005500740069006c0069007a00610163006900200061006300650073007400650020007300650074010300720069002000700065006e007400720075002000610020006300720065006100200064006f00630075006d0065006e00740065002000410064006f006200650020005000440046002000610064006500630076006100740065002000700065006e0074007200750020007400690070010300720069007200650061002000700072006500700072006500730073002000640065002000630061006c006900740061007400650020007300750070006500720069006f006100720103002e002000200044006f00630075006d0065006e00740065006c00650020005000440046002000630072006500610074006500200070006f00740020006600690020006400650073006300680069007300650020006300750020004100630072006f006200610074002c002000410064006f00620065002000520065006100640065007200200035002e00300020015f00690020007600650072007300690075006e0069006c006500200075006c0074006500720069006f006100720065002e>
Compartilhar