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1 O Processo de Redemocratização Brasileira no Século XX Redemocratização brasileira foi o período de reintegração das instituições democráticas anuladas pelo Regime Militar, iniciado em 1964, e que aplicava um regime de exceção e censura as instituições nacionais. Esse período começa no governo de Ernesto Geisel e vai até as eleições indiretas de Tancredo Neves, que faleceu dias antes de assumir o poder, determinando a eleição de José Sarney, que inicia um período conhecido como Nova República. Com o término do governo de Ernesto Geisel, era claro o declínio do regime militar que abria espaço para um novo tipo governo. O regime militar estava falindo devido a diversas denúncias de corrupção de todos os lados que apareciam com o levantamento da censura, perda de confiança no governo, e as freqüentes perdas nas eleições legislativas do partido governista, conhecida como ARENA. Esses fatores ajudaram para a abertura política ser considerada uma boa vontade do governo. Era o jeito de um regime perseguido pela crise e que se afligia pelas manifestações populares, cada vez mais freqüentes. É nessa época que os sindicatos dos trabalhadores do ABC começam numerosas manifestações por melhorias nas condições de trabalho. A Igreja Católica também começa a se manifestar com os arcebispos de São Paulo, Dom Evaristo Arns, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara e o representante da Teologia 2 da Libertação, Leonardo Boff, que defendiam a participação social do clero, além das atividades produzidas pelas Comunidades Eclesiais de Base. A imprensa alternativa voltava à todo o vapor às suas atividades, fazendo resistente oposição ao governo ao ponto do governo militarista colocar bombas nas bancas de jornal que normalmente vendiam as publicações. Além disso, os radicais de direta tinham mais planos abomináveis, que por sorte não deram certo, como o atentado a bomba ao Rio Centro durante o show de comemoração do dia do trabalho. A absolvição aos condenados por crimes políticos chegou em 1979, sendo que este gesto também absolveu os torturadores. No mesmo ano foi vinculada a nova Lei orgânica dos Partidos, que terminava com o bipartidarismo, e permitia a criação de novos partidos que começaram a aparecer, como o PMDB, PDS, PFL e o PT. O auge da redemocratização do Brasil foi o movimento pelas Diretas Já, que ocorreu no fim do mandato do presidente João Figueiredo e que procurava pressionar o poder legislativo a aprovar a emenda Dante de Oliveira, que ganhou esse nome por causa do parlamentar Dante de Oliveira que devolveu o voto direto para presidente. A campanha pelas Diretas Já foi um marco no Brasil na década de 80 e uniu diversas pessoas pela vontade do voto que acabaram decepcionadas, pois a emenda não foi aprovada. O candidato eleito pelo povo em voto indireto, Tancredo Neves, ganhou as eleições mas faleceu antes de assumir o cargo. Em seu lugar, para frustração nacional, assumiu seu vice José Sarney, democrático e político proveniente do partido que apoiava o Regime Militar. O Estado Novo (1937-1945) Com a dispersão mundial do consumismo, governos de direita tinham receio da aproximação de seus valores ideológicos ao público. Na presidência, Getúlio Vargas fez o possível para acabar com a propagação dos ideais de esquerda, para evitar as greves e interrupções trabalhistas. Os ideais de direita convenceram Vargas, em 1937, que o Brasil estava ameaçado de sofrer um golpe de esquerda. Seus argumentos ficaram conhecidos como Plano Cohen. Devido a isso, Vargas decidiu preservar o controle da nação com a ditadura de um novo estado, denominado Estado Novo. Seguindo os ideais de líderes como Mussolini e Hitler, Getúlio Vargas proibiu a execução de eleições diretas e começou a comandar os poderes legislativo, executivo e judiciário. 3 O fim da Segunda Guerra Mundial deixou claro que o Estado Novo estava em declínio, especialmente com a derrota fascista. Antecipadamente, Vargas tentou legalizar seu golpe utilizando a população, mas acabou sendo destituído pelas mesmas pessoas que o elegeram. Com a queda do Estado Novo, o Brasil passou pelo seu primeiro processo de transformação democrática. Os Regimes Militares O Regime militar foi o período da política brasileira em que militares conduziram o país. Essa época ficou marcada na história do Brasil através da prática de vários Atos Institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que eram contrários ao regime militar. A Ditadura militar no Brasil teve seu início com o golpe militar de 31 de março de 1964, resultando no afastamento do Presidente da República, João Goulart, e tomando o poder o Marechal Castelo Branco. Este golpe de estado, caracterizado por personagens afinados como uma revolução instituiu no país uma ditadura militar, que durou até a eleição de Tancredo Neves em 1985. Os militares na época justificaram o golpe sob a alegação de que havia uma ameaça comunista no país. Golpe Militar de 1964 O Golpe Militar de 1964 marca uma série de eventos ocorridos em 31 de março deste ano no Brasil e que culminaram em um golpe de estado no dia 1 de abril de 1964. Esse golpe pôs fim ao governo do presidente João Goulart, também conhecido como Jango, que havia sido de forma democrática, eleito vice- presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Imediatamente após a tomada de poder pelos militares, foi estabelecido o AI-1. Com 11 artigos, o mesmo dava ao governo militar o poder de modificar a constituição, anular mandatos legislativos, interromper direitos políticos por 10 anos e demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fosse contra a segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública, além de determinar eleições indiretas para a presidência da República. Durante o regime militar, ocorreu um fortalecimento do poder central, sobretudo do poder Executivo, caracterizando um regime de exceção, pois o Executivo se atribuiu a função de legislar, em detrimento dos outros poderes estabelecidos pela Constituição de 1946. O Alto Comando das Forças Armadas passou a controlar a sucessão presidencial, indicando um candidato militar que era referendado pelo Congresso Nacional. 4 A liberdade de expressão e de organização era quase inexistente. Partidos políticos, sindicatos, agremiações estudantis e outras organizações representativas da sociedade foram suprimidas ou sofreram interferência do governo. Os meios de comunicação e as manifestações artísticas foram reprimidos pela censura. A década de 1960 iniciou também, um período de grandes transformações na economia do Brasil, de modernização da indústria e dos serviços, de concentração de renda, de abertura ao capital estrangeiro e do endividamento externo. Governo Castello Branco (1964-1967) Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da República em 15 de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a democracia, porém ao começar seu governo, assume uma posição autoritária. Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos políticos. Vários parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam intervenção do governo militar. Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só estavam autorizados o funcionamento de dois partidos: Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Enquanto o primeiro era de oposição, de certa forma controlada, o segundo representava osmilitares. O governo militar impôs em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país. Aprovada neste mesmo ano, a Constituição de 1967 confirmou e institucionalizou o regime militar e suas formas de atuação. Governo Costa e Silva (1967-1969) Em 1967, assumiu a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo foi marcado por protestos e manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresceu no país. A UNE (União Nacional dos Estudantes) organizou, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisaram fábricas em protesto ao regime militar. A guerrilha urbana começou a se organizar. Formada por jovens idealistas de esquerda, assaltaram bancos e seqüestraram embaixadores para obterem fundos para o movimento de oposição armada. No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decretou o Ato Institucional Número 5 (AI-5). Este foi o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão militar e policial. 5 Governo da Junta Militar (31/8/1969-30/10/1969) Doente, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica). Dois grupos de esquerda, O MR-8 e a ALN seqüestraram o embaixador dos EUA Charles Elbrick. Os guerrilheiros exigiram libertação de 15 presos políticos, exigência conseguida com sucesso. Porém, em 18 de setembro, o governo decretou a Lei de Segurança Nacional. Esta lei decretava o exílio e a pena de morte em casos de "guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva". No final de 1969, o líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de repressão em São Paulo. Governo Médici (1969-1974) Em 1969, a Junta Militar escolheu o novo presidente: o general Emílio Garrastazu Medici. Seu governo foi considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido como "anos de chumbo". A repressão à luta armada cresceu e uma severa política de censura foi colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes, músicas e outras formas de expressão artística foram censuradas. Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores foram investigados, presos, torturados ou exilados do país. O DOI-Codi (Destacamento de Operações e Informações e ao Centro de Operações de Defesa Interna) atuou como centro de investigação e repressão do governo militar. Ganhou força no campo a guerrilha rural, principalmente no Araguaia. A guerrilha do Araguaia foi fortemente reprimida pelas forças militares. O Milagre Econômico Na área econômica o país crescia rapidamente. Este período que vai de 1969 a 1973 ficou conhecido com a época do Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia a uma taxa de quase 12% ao ano, enquanto a inflação beirava os 18%. Com investimentos internos e empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma base de infra-estrutura. Todos estes investimentos geraram milhões de empregos pelo país. Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niteroi. Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no futuro. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os padrões econômicos do Brasil. 6 Governo Geisel (1974-1979) Em 1974 assumiu a presidência o general Ernesto Geisel que começou um lento processo de transição rumo à Democracia. Seu governo coincidiu com o fim do milagre econômico e com a insatisfação popular em altas taxas. A crise do petróleo e a recessão mundial interferiram na economia brasileira, no momento em que os créditos e empréstimos internacionais diminuíam. Geisel anunciou a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política começou a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquistou 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganhou a prefeitura da maioria das grandes cidades. Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começaram a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado nas dependências do DOI-Codi em São Paulo. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho apareceu morto em situação semelhante. Em 1978, Geisel acabou com o AI-5, restaurou o habeas-corpus e abriu caminho para a volta da Democracia no Brasil. Governo Figueiredo (1979-1985) A vitória do MDB nas eleições em 1978 começou a acelerar o processo de redemocratização. O general João Baptista Figueiredo decretou a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Os militares de linha dura continuaram com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em órgãos da imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981, uma bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O atentado foi provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até hoje nada tenha sido provado. Em 1979, o governo aprovou lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos voltaram a funcionar dentro da normalidade. A ARENA mudou o nome e passou a ser PDS, enquanto o MDB passou a ser PMDB. Outros partidos são criados, como: Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). 7 A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresentou vários problemas. A inflação era alta e a recessão também. Enquanto isso a oposição ganhou terreno com o surgimento de novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos. Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participaram do movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados. No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal. Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves ficou doente antes de assumir e acaba falecendo. Assumiu o vice-presidente José Sarney. Em 1988 foi aprovada uma nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país. As Diretas Já! (1984) A crise do governo ditatorial deflagrada com o fim do “milagre econômico” e as denúncias sobre a repressão exercida pelos militares deu os primeiros passos no processo de redemocratização do Brasil. Os movimentos grevistas do final da década de 1970 e o anúncio das eleições estaduais diretas, em 1982, davam claro sinal da retirada dos militares do poder. No mês de abril de 1983, o então deputado estadual Dante de Oliveira redigiu uma proposta de lei que requeria uma mudança no texto constitucional permitindo a realização de eleições diretas para Presidente da República. Em um Congresso dominado por representantes simpáticos ao regime parecia ser impossível a aprovação desse tipo de proposta legislativa. Mesmo com a existência de um governo militar no poder e uma maioria conservadora no Congresso, o que se limitava a uma proposta de lei transformou- se em um grande movimento político. Contando com o apoio do PMDB, do PT e do PDT iniciaram-se a organização de comícios responsáveis por mobilizara opinião publica em favor da abertura política. Paulatinamente, setores da mídia, personalidades do meio artístico e líderes políticos passaram a engrossar as fileiras desta causa. Em abril de 1984, um comício realizado em São Paulo contou com a participação de mais de um milhão de manifestantes. Percebendo as proporções do movimento, o presidente 8 Figueiredo permitiu a censura aos órgãos de imprensa e ofereceu outro projeto de lei estabelecendo as eleições diretas somente para o ano de 1988. Com esta medida, o cenário político encabeçado por setores de esquerda perderia seu poder de influência em uma possível eleição direta em 1985. Por fim, a emenda Dante de Oliveira não foi aprovada por uma pequena diferença de votos. Com isso, as eleições indiretas de Tancredo Neves serviram para a consagração de um projeto de transição política capaz de desarticular profundas mudanças no cenário político nacional. Governo José Sarney A chegada de José Sarney ao poder foi marcada por fortes desconfianças. Sarney fazia parte de uma ala de políticos nordestinos que cooperaram com o regime militar, e que, sucessivamente, se juntaram a partidos com tendência conservadora. 9 A população descontente com o governante fez bordões do tipo: “O povo não esquece, Sarney é PDS” e “Sarney não dá, diretas já”. Esse tipo de manifestação mostrou a árdua missão do novo presidente para reconstruir a democracia da enferma nação brasileira. Sobre a redemocratização, o governo Sarney atingiu uma considerável vitória com a aprovação da Constituição de 1988. Apesar disso, a nova Carta Magna do país conseguiu acabar com os mecanismos que favoreceram o regime autoritário. Entre as conquistas estavam: o fim da censura, a livre organização partidária, o retorno das eleições diretas e a divisão dos poderes. Com essas conquistas o Brasil finalmente sai das características do período ditatorial. O fim do mandato de Sarney chega em 1990, com a eleição de seu sucessor, por voto popular, Fernando Collor de Mello. Sarney não contestou a campanha eleitoral, porque este direito estava guardado na Constituição decretada em 1988. Exercício 1) Explique o que foi o processo de redemocratização brasileiro. 2) O que se entende por abertura política? 3) O que foi o Estado Novo? 4) Explique o período sob o regime militar. 5) Como você diferencia o Estado Novo do Regime Militar? 6) Qual é a relação entre a redemocratização e as diretas já? 7) O que você entende por redemocratização? 8) Exprima sua opinião sobre as duas últimas formas de Estado instituídas no país: a ditatorial e a democrática. Pontue os pontos positivos e negativos de acordo com a sua visão e experiência.
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