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MATERIAL DIDÁTICO ARQUIVOLOGIA CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 2.861 DO DIA 13/09/2004 0800 283 8380 www.portalprominas .com.br 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 – ARQUIVOS E DOCUMENTOS ................. ........................................... 5 1.1 Finalidade e função ........................................................................................... 8 1.2 Características ................................................................................................... 9 1.3 Princípios arquivísticos .................................................................................... 10 1.4 Importância dos arquivos ................................................................................. 13 1.5 Tipos de arquivos ............................................................................................ 13 1.6 Classificação de arquivos públicos .................................................................. 17 1.7 Arquivos x Bibliotecas x Museus ..................................................................... 21 UNIDADE 2 – GESTÃO DE ARQUIVOS .................... .............................................. 24 2.1 Ciclo de vida .................................................................................................... 24 UNIDADE 3 – MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS .................... 27 3.1 Alfabético ......................................................................................................... 29 3.2 Geográfico ....................................................................................................... 30 3.3 Ideográfico ....................................................................................................... 31 3.4 Numérico ......................................................................................................... 33 3.5 Alfanumérico .................................................................................................... 34 UNIDADE 4 – ARQUIVOLOGIA X MEMÓRIA ................ ......................................... 36 UNIDADE 5 – ARQUIVO X CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO........ ................................ 38 UNIDADE 6 – LEGISLAÇÃO E ACESSIBILIDADE ........... ...................................... 41 6.1 Lei de Acesso à Informação – Lei nº 12.527/11............................................... 41 UNIDADE 7 – ARQUIVOS X HISTÓRIA.................... ............................................... 44 7.1 As dimensões da didática do professor – breve consideração para o “bom professor” ............................................................................................................... 44 7.2 Despertando o aluno para importância dos documentos de arquivo ............... 46 7.3 O uso da imagem e da fotografia ..................................................................... 48 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 51 ANEXO ..................................................................................................................... 57 3 INTRODUÇÃO Arquivologia ou arquivística trata-se de uma área de conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas que estuda e aborda os dados contidos nos documentos de arquivos, transformando-os em informação potencialmente capaz de produzir conhecimento e desenvolvimento social. É, portanto, uma área que produz, processa e dissemina as informações correntes. Numa breve comparação com a História, é possível perceber de imediato que ambas caminham juntas, afinal de contas, funcionando a História como um elemento transformador de uma sociedade opressora que seja capaz de desenvolver uma nova pedagogia do oprimido, para que através da educação possamos mudar a História da humanidade, a arquivologia funciona como munição, como combustível para que a História se faça acontecer. Não temos intenção de enveredar por reflexões e discussões acerca da importância do Ensino de História nesse momento do curso, afinal, nosso foco é a Arquivologia, correto?! No entanto, precisamos entender o porquê de manter documentos em arquivos, a sua classificação, como pesquisar, onde podemos chegar, o que é importante preservar, porque é importante a memória e, claro, como trabalhar e fazer nossos alunos entenderem a importância da arquivologia. Esse caminho passa necessariamente por definirmos e conceituarmos arquivo, relacionar com a Ciência da Informação, entender o que é memória, fazer essas inter-relações. Claro que a história vai além dos arquivos, mas neles encontramos um mundo de informações/conhecimentos que poderiam ter se perdido ao longo dos tempos. É nos arquivos que resgatamos “histórias”, às vezes as mais incríveis, outras vezes, informações que nos levam a entender o desenrolar de muitos acontecimentos, de avanços e retrocessos da humanidade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais são enfáticos ao determinarem que o professor seja capaz de ensinar novos métodos de análise para seus alunos, e que ele seja capaz ainda de observar criticamente o uso e produção das coisas que envolvem seu mundo e o mundo de outros, o que engloba conhecer o que se passa 4 tanto na sua vida como na vida de outras pessoas, e eis que nos arquivos encontramos os dados e informações que eles irão transformar em conhecimento. Função, finalidade, características, os princípios que regem a área, gestão, métodos de classificação, a fotografia e a imagem nos arquivos, a microfilmagem, legislação de apoio com foco no acesso; as relações entre arquivologia, memória, ciência da informação e história são alguns dos tópicos sobre os quais discorreremos ao longo deste modulo, finalizando com uma lista de terminologia arquivística. Duas observações se fazem necessárias: Em primeiro lugar, sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia. Pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. 5 UNIDADE 1 – ARQUIVOS E DOCUMENTOS De acordo com o art. 2º da lei n. 8.159/91: Arquivos são: [...] conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos. Paes (2004) define arquivo como sendo a acumulação ordenada dos documentos, em sua maioria textuais, criados por uma instituição ou pessoa, no curso de sua atividade, e preservados para a consecução de seus objetivos, visando à utilidade que poderão oferecer no futuro. Por sua vez, Prado (1992) diz que arquivo é “a reunião de documentos conservados, visando à utilidade que poderão oferecer futuramente”, destacando que, “para ser funcional, um arquivo deve ser planejado, instalado, organizado e mantido de acordo com as necessidades inerentes aos setores” e que, “para realizar o trabalho de arquivamento, o arquivista precisa conhecer a natureza do arquivo que lhe será entregue”. Nessa linha de definições, para o Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, a Arquivologia,também chamada de Arquivística, “é a disciplina que estuda as funções do arquivo e os princípios e técnicas a serem observados na produção, organização, guarda, preservação e utilização dos arquivos”. Os arquivos como instituição tiveram origem na antiga civilização grega. Nos séculos V e IV a.C., os atenienses guardavam seus documentos de valor no templo da mãe dos deuses (Metroon). O imperador Justiniano ordenou que se reservasse um prédio público, no qual o magistrado pudesse guardar os documentos, escolhendo alguém que os mantivesse sob custódia. A finalidade era a de impedir a adulteração e propiciar as condições necessárias para que pudessem ser encontrados rapidamente (SCHELLENBERG, 2006). Segundo Fraiz (1994), em sua gênese dos arquivos, foi somente a partir da segunda metade do século XVI que os arquivos evoluíram em função da especialização de diferentes órgãos governamentais e administrativos para consolidar o poder monárquico absoluto, surgindo, então, os arquivos do Estado. Entretanto, foi somente no século XVII que a noção de arquivos públicos começou a 6 receber algumas implicações, pois, até então, não existia diferenciação entre a ideia de arquivos públicos e arquivos privados no sentido contemporâneo da teoria arquivística. Ou seja, foi a partir da Revolução Francesa que se reconheceu definitivamente a importância dos documentos para a sociedade. Esse reconhecimento resultou em três importantes realizações no campo arquivístico: a) Criação de uma administração nacional e independente dos arquivos. b) Proclamação do princípio de acesso do público aos arquivos. c) Reconhecimento da responsabilidade do Estado pela conservação dos documentos de valor, do passado. Desse modo, o século XIX trouxe também a preocupação com o resgate da memória, influenciada pelo romantismo juntamente ao processo de constituição das nacionalidades. Assim, é neste século que se evidencia a criação de várias instituições de memória, bibliotecas e museus. No entanto, é preciso lembrar que a inclusão dos arquivos privados, inclusive dos arquivos pessoais, na definição geral de arquivos, apareceu somente no século XX e sua valorização pode ter coincidido com a constituição do indivíduo (FRAIZ, 1994). Portanto, é fato que estes arquivos privados constituem um precioso bem cultural na medida em que agregam significativo patrimônio documental e cultural (SVICERO, 2013). Ao longo da história, a conceituação de arquivo mudou em conformidade com as mudanças políticas e culturais que as sociedades ocidentais viveram; tanto por isso, os arquivos são um reflexo da sociedade que o produz e o modo de interpretá-lo também acompanha as mudanças que ocorrem. Fatores, tais como a finalidade dos arquivos ou os suportes utilizados já foram considerados como definidores do arquivo e, hoje, não o são mais. Menne-Haritz (1994, p. 530 apud RODRIGUES, 2006), por exemplo, aponta o surgimento dos documentos eletrônicos como o evento que permitiu ao arquivista entender que o que o motiva a avaliar os documentos não são problemas de espaço ou custo para o armazenamento, mas, segundo a autora, é a redundância de informações. Assim, não há uma conceituação de arquivo que seja definitiva. 7 Alguns autores, como Rousseau e Couture (1994, p. 284), têm definido arquivo como um conjunto de informações, e não como um conjunto de documentos. Mesmo que não haja dúvidas de que arquivo é um conjunto de informações, entende-se que o termo informação não é esclarecedor quando se deseja conceituar arquivo. Entende-se que a informação arquivística não prescinde do seu suporte, mesmo que ele não seja passível de leitura a olho nu. Dentre outras justificativas, para isso, tem-se que a Autenticidade da informação arquivística depende de um conjunto de referências dentre as quais estaria o suporte que contém a informação (RODRIGUES, 2006). Sobre essas relações que se fazem entre arquivo e a ciência da informação dedicamos uma unidade específica. Definimos arquivo, correto?! Mas e os documentos que os constituem? Um documento por sua vez pode ser entendido como a unidade constituída pela informação (elemento referencial ou dado) e seu suporte (material, base), produzida em decorrência do cumprimento de uma atividade (MARTINS, 1998). Entende-se por documentos de arquivo, os documentos “produzidos e/ou acumulados organicamente no decorrer das atividades de uma pessoa, família, instituição pública ou privada” (RONCAGLIO; SZVARÇA; BOJANOSKI, 2004). Os documentos são criados uns após os outros, em decorrência das necessidades sociais e legais da sociedade e do próprio desenvolvimento da vida pessoal ou institucional. Por essa razão, o documento arquivístico contém informações de natureza administrativa ou técnica e tem como característica marcante a originalidade, ou seja, não tem importância em si mesmo, mas no conjunto de documentos do qual faz parte. Enfim: � de origem latina (archivum), em seu sentido antigo identifica o lugar de guarda de documentos e outros títulos; � é a acumulação ordenada dos documentos, em sua maioria textuais, criados por uma instituição ou pessoa, no curso de sua atividade, e preservados para 8 a consecução de seus objetivos, visando a utilidade que poderão oferecer no futuro; � conjunto, rigorosamente organizado, de documentos e informações que comprovem, sem equívocos, a identidade e os fatos relativos à escolaridade de cada aluno e do conjunto de alunos da instituição escolar e evidenciam, ao mesmo tempo, os aspectos de organização e ação da escola, referentes ao processo de educação e ensino vivenciado pelos alunos, ao longo do todo o período de funcionamento da instituição (arquivo escolar). Voltando ao documento, este pode ser Simples (ofício, relatório, ficha de atendimento) ou Composto (Processo) e devido às organizações desenvolverem diversas atividades de acordo com suas atribuições, os documentos acabam por refletir essas atividades, uma vez que fazem parte do conjunto de seus produtos. Portanto, são variados os tipos de documentos produzidos e acumulados, bem como são diferentes os formatos, as espécies, e os gêneros em que se apresentam dentro de um Arquivo, que veremos mais adiante. 1.1 Finalidade e função A principal finalidade dos arquivos é servir à administração constituindo-se, consequentemente, em base do conhecimento da História. Ainda podemos destacar como finalidades do arquivo: • guardar os documentos que circulam na instituição, utilizando para isso técnicas que permitam um arquivamento ordenado e eficiente; • garantir a preservação dos documentos, utilizando formas adequadas de acondicionamento, levando em consideração temperatura, umidade e demais aspectos que possam danificar os mesmos; • atendimento aos pedidos de consulta e desarquivamento de documentos pelos diversos setores da instituição, de forma a atender rapidamente a demanda pelas informações ali depositadas. Quanto às suas funções, o arquivo é o instrumento principal para servir de controle à ação administrativa de qualquer empresa pública ou privada. Sua função 9 básica é a guarda e a conservação dos documentos, visando a sua utilização futura, presente e passada. Para alcançar estes objetivos, é necessário que o arquivo disponha dos seguintes requisitos: • contar com pessoal qualificado e em número suficiente; • estar instalado em local apropriado; • dispor de instalações e materiais adequados; • utilizar sistemas racionais de arquivamento, fundamentados na teoria arquivística moderna; • contar com normas de funcionamento; • contar com dirigente qualificado, preferencial, mas não obrigatoriamente, até pela escassez dos mesmos, formado em Arquivologia. No entendimento de Paes (2004): “a principal finalidade dos arquivos é servir a administração, constituindo-se, com o decorrer dotempo, em base do conhecimento da história”. Ela destaca ainda que a “função básica do arquivo é tornar disponível as informações contidas no acervo documental sob sua guarda”. Observa-se, portanto, que o arquivamento não consiste apenas em guardar documentos, mas em servir de fonte de pesquisa para toda a administração (além de outras pessoas ou institutos a quem possa interessar), sendo base para eventuais tomadas de decisões. 1.2 Características Por se constituírem em instrumentos das atividades institucionais e pessoais, os documentos de arquivos são fontes primordiais de informação e prova para as conclusões relativas a estas atividades, sua criação, manutenção, eliminação e modificação (JUSPODIVM, 2013), disso decorrem algumas características fundamentais, tais como a autenticidade, a naturalidade, o inter- relacionamento, a unicidade e a legalidade sobre os quais falaremos dentro dos princípios. 10 São características dos arquivos: a) O arquivo possui essência funcional/administrativa, constituindo-se na maioria das vezes de um único exemplar ou de um limitado número de cópias. b) Conteúdo exclusivamente formado por documentos produzidos e/ou recebidos por uma entidade, família, setor, repartição, pessoa, organismo ou instituição. c) Tem origem no desempenho das atividades que o gerou (servindo de prova). E, d) Possui caráter orgânico, ou seja, relação entre documentos de arquivo pertencentes a um mesmo conjunto (um documento possui muito mais valor quando está integrado ao conjunto a que pertence do que quando está desagregado dele) (EDITORA JUSPODIVM, 2011). Em outras palavras e já adiantando o que veremos a seguir, os princípios arquivísticos estabelecem três características intrínsecas ao arquivo que podem ser assim designadas: a singularidade do produtor do arquivo, a filiação dos documentos às ações que promovem a missão definida e a dependência dos documentos dos seus pares (RODRIGUES, 2006, p. 107). 1.3 Princípios arquivísticos De acordo com o Conselho Nacional de Arquivos1 (CONARQ), a Arquivologia ou Teoria Arquivística é entendida como um conjunto de princípios, conceitos e técnicas a serem observados na produção, organização, guarda, preservação e uso de documentos em arquivos. 1 O CONARQ é um órgão colegiado, vinculado ao Arquivo Nacional do Ministério da Justiça, que tem por finalidade definir a política nacional de arquivos públicos e privados, como órgão central de um Sistema Nacional de Arquivos, bem como exercer orientação normativa visando à gestão documental e à proteção especial aos documentos de arquivo. A Constituição Federal de 1988 e particularmente a Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados, delegaram ao Poder Público estas responsabilidades, consubstanciadas pelo Decreto nº 4.073, de 3 de janeiro de 2002, que consolidou os decretos anteriores - nºs 1.173, de 29 de junho de 1994; 1.461, de 25 de abril de 1995, 2.182, de 20 de março de 1997 e 2.942, de 18 de janeiro de 1999. De acordo com estes dispositivos legais, as ações visando à consolidação da política nacional de arquivos deverão ser emanadas do Conselho Nacional de Arquivos -CONARQ. (http://www.conarq.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm) 11 Quanto aos princípios arquivísticos que constituem o marco principal da diferença entre a arquivística e as outras ciências documentárias, estes são vários, alguns sobre os quais discorreremos em maiores detalhes: a) Princípio da Proveniência (ou procedência ou de res peito aos fundos) : fixa a identidade do documento, relativamente a seu produtor. Por este princípio, os arquivos devem ser organizados em obediência à competência e às atividades da instituição ou pessoa legitimamente responsável pela produção, acumulação ou guarda dos documentos. Arquivos originários de uma instituição ou de uma pessoa devem manter a respectiva individualidade, dentro de seu contexto orgânico de produção, não devendo ser mesclados a outros de origem distinta. O princípio de proveniência é o “Princípio segundo o qual os arquivos originários de uma instituição ou de uma pessoa devem manter sua individualidade, não sendo misturados aos de origem diversa” (CONARQ, 2005). Este princípio é o primeiro que define um conjunto de documentos como arquivo. Enquanto os demais conjuntos documentais são coleções de itens selecionados, escolhidos previamente, o conjunto de documentos que forma o arquivo se faz num processo natural de acumulação, a partir do fluxo da sua produção/recepção por um único sujeito, seja uma entidade coletiva ou uma pessoa. Os documentos são acumulados à medida que são produzidos em decorrência de atividades que são necessárias para a realização da missão do seu produtor. Sousa (2003, p. 251), ao discutir o papel dos princípios de proveniência e de manutenção da ordem original na classificação de arquivos de uso corrente, infere que podemos [...] entender os princípios de respeito aos fundos e o da ordem original como princípios de divisão ou de classificação naturais, pois são atributos essenciais e permanentes ao conjunto (arquivo) a ser dividido. [...] a origem [do] conjunto de documentos é sua marca indelével, inseparável, é o que lhe dá inteligibilidade e identidade. b) Princípio da Organicidade (ou do respeito pela estr utura) : as relações administrativas orgânicas se refletem nos conjuntos documentais. A organicidade é a qualidade segundo a qual os arquivos espelham a estrutura, funções e atividades da entidade produtora/acumuladora em suas relações internas e externas, ou seja, 12 os arquivos refletem a estrutura, atividades e funções do organismo (entidade coletiva, pessoa ou família) que os criou, em suas relações internas ou externas. c) Princípio da Unicidade : não obstante, forma, gênero, tipo ou suporte, os documentos de arquivo conservam seu caráter único, em função do contexto em que foram produzidos, uma vez que foi criado para atender determinada necessidade específica na estrutura organizacional/institucional. d) Princípio da Indivisibilidade (ou integridade arqui vística) : o princípio de indivisibilidade ou integridade sempre esteve implícito ao princípio de respeito aos fundos, mas é em uma das publicações recentes de Bellotto (2004, p. 21), que encontramos sua definição moldada: “os fundos de arquivo devem ser preservados sem dispersão, mutilação, alienação, destruição não autorizada ou adição indevida (...)”. Considerando-se o respeito à proveniência do conjunto documental e à ordem original (proveniência de cada documento) como imprescindíveis para o tratamento dos arquivos, fica evidente que a dispersão de documentos pode comprometer a inteligibilidade do arquivo (RODRIGUES, 2006). e) Princípio da Cumulatividade : o arquivo é uma formação progressiva, natural e orgânica. f) Princípio da Pertinência : conceito que não leva em consideração a organização original e a proveniência dos documentos, reclassificando-os tematicamente (por assunto). g) Princípio da Territorialidade : segundo esse princípio, os arquivos públicos devem fazer parte do território no qual foram criados, devendo, portanto, a ele pertencer. h) Princípio do Respeito à ordem original ou ordem pri mitiva : a organização constituída pela entidade produtora deve ser preservada, seguindo o curso natural com que os documentos foram criados. Quanto ao princípio de manutenção da ordem original, Duranti (1994, p. 57 apud FONSECA, 2005) o considera como um princípio de proveniência sob o ponto de vista interno do arquivo. A ordem original seria aquela em que os documentos de um mesmo produtor estão agrupados conforme o fluxo das ações que os produziram 13 ou receberam. Se o documento é a corporificação de ações que ocorremem um fluxo temporal, a ordem original, ou melhor, a ordem dos documentos em correspondência com o fluxo das ações torna-se indispensável para a compreensão dessas ações e, consequentemente, para a compreensão do significado do documento (RODRIGUES, 2006). i) Princípio do Inter-relacionamento : segundo o qual os documentos de arquivo são conexos, ou seja, estabelecem relações entre si. j) Princípio da Autenticidade : os documentos devem ser criados, guardados e conservados segundo normas, técnicas e processos regulares que garantam a sua verossimibilidade e confiabilidade. k) Princípio da reversibilidade : princípio segundo o qual todo procedimento ou tratamento empreendido em arquivos pode ser revertido, se necessário. l) Princípio da Legalidade : os registros arquivísticos são provas confiáveis das ações e que se referem e devem esta confiabilidade às circunstâncias de sua criação e as necessidades de se prestar contas (JUSPODIVM, 2013). 1.4 Importância dos arquivos A importância do arquivo para uma instituição está ligada ao aumento expressivo do volume de documentos que a mesma utiliza no exercício de suas atividades e a necessidade de se estabelecerem critérios de guarda e de eliminação de documentos, quando estes já não são mais úteis para a organização. A adoção de técnicas arquivísticas adequadas permite não apenas a localização eficiente da informação desejada, mas também a economia de recursos para a instituição (JUSPODIVM, 2013). 1.5 Tipos de arquivos Existem vários tipos de Arquivos, tudo depende dos objetivos e competências das entidades que os produzem. Se pensarmos no formato, espécie e gênero, teremos: 1. Formato: é a configuração física de um suporte de acordo com a sua natureza e o modo como foi confeccionado: 14 Exemplos: formulários, ficha, livro, caderno, planta, folha, cartaz, microficha, rolo, tira de microfilme, mapa. 2. Espécie: é a configuração que assume um documento de acordo com a disposição e a natureza das informações nesse contidas. Exemplos: ata, relatório, carta, ofício, proposta, diploma, atestado, requerimento, organograma. 3. Gênero: configuração que assume um documento de acordo com o sistema de signos utilizado na comunicação de seu conteúdo. Exemplos: audiovisual (filmes); fonográfico (discos, fitas); iconográfico (obras de arte, fotografias, negativos, slides, microformas; textual (documentos escritos de uma forma geral); tridimensionais (esculturas, objetos, roupas); magnéticos/informáticos (disquetes, cd-rom). 4.Tipo de documento: é a configuração que assume um documento de acordo com a atividade que a gerou. Exemplos: Ata de Posse; Boletim de Notas e Frequência de Alunos, Regimento de Departamento, Processo de Vida Funcional, Boletim de Atendimento de Urgência, Prontuário Médico, Tabela Salarial. Se pensarmos nas entidades criadoras/mantenedoras, os arquivos podem ser classificados em: � públicos (federal, estadual, municipal); � institucionais (escolas, igrejas sociedades, clubes, associações); � comerciais (empresas, corporações, companhias); e, � pessoais (fotos de família, cartas, originais de trabalhos, entre outros). Arquivo especial é outro nome dado para os arquivos que guardam e organizam documentos cujas informações são registradas em suportes diferentes de papel, discos, filmes e fitas. Estes podem fazer parte de um arquivo mais completo. Existem aqueles que guardam documentos gerados por atividades muito especializadas como os Arquivos Médicos, de Imprensa, de Engenharia, Literários e 15 que muitas vezes precisam ser organizados com técnicas e com materiais específicos. São conhecidos como Arquivos Especializados (MARTINS, 1998). A classificação em arquivos públicos e privados, também prevista em lei, funda-se no caráter do exercício de atividades, se públicas ou privadas. Se os conjuntos de documentos forem produzidos ou recebidos por órgãos públicos, no exercício de suas funções, o arquivo será público, enquanto que serão privados aqueles conjuntos de documentos produzidos ou recebidos por pessoas físicas ou jurídicas em decorrência de suas atividades. Os arquivos públicos são Federais, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais. Quanto às funções do Estado, serão do Executivo, do Legislativo e do Judiciário (MEDEIROS, 2003). Embora da conceituação legal de arquivo público não constem arquivos privados que devam, com a extinção da pessoa jurídica de direito privado, serem transferidos para o poder público automaticamente, estas serão, com a transferência, arquivos públicos. Mas há arquivos privados que possuem interesse público ou social. Para que se revistam desse caráter, alguns independem de lei, outros necessitam de assim serem declarados por decreto. Arquivos de entidades religiosas, anteriores ao Código Civil de 1916, no Brasil, naquilo que dizem respeito a atos de interesse público e social, são de caráter público, embora privados, sem necessidade de decreto que assim os declarem. Isso se explica porque os atos de batismo (ingresso na Igreja) valiam como verdadeiros registros de nascimento. Os registros eclesiásticos de terras, adotados pela Lei de Terras do império, valiam como registros imobiliários, por força de lei. O casamento religioso era o casamento existente. Assim, não é de se estranhar não serem necessários decretos para considerar de interesse público e social arquivos eclesiásticos anteriores ao Código Civil de 1916, o qual estabeleceria novas formas registrárias. Aliás, geralmente os livros de registros eclesiásticos de terras foram recolhidos a arquivos públicos. A lei fala em registros civis de arquivos de entidades religiosas, para considerá-los de interesse público e social. Em Portugal, os livros de batismo, anteriores à República, foram recolhidos a arquivos públicos. Os arquivos presidenciais, no Brasil, são 16 documentos privados, porém independem de decreto para serem considerados de interesse público e social, pois a lei nº 8.394/91 assim os considera. Se há arquivos de interesse público e social que independem de decreto para assim declará-los, há outros que só adquirem mencionado caráter se assim forem declarados por decretos, ou legalmente tombados. Nada impede que o poder público resolva tombar um arquivo particular, ou mesmo fazer a desapropriação desse, se preenchidos os requisitos legais, dentre os quais aqueles que digam respeito à privacidade e intimidade das pessoas (MEDEIROS, 2003). Arquivos públicos e privados Segundo a Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, art.7º, Capítulo II, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados e dá outras providências: Os arquivos públicos são os conjuntos de documentos produzidos e recebidos, no exercício de suas atividades, por órgãos públicos de âmbito federal, estadual, do distrito federal e municipal, em decorrência de suas funções administrativas, legislativas e judiciárias. Igualmente importante, os dois parágrafos do mesmo artigo diz: § 1º São também públicos os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por instituições de caráter público, por entidades privadas encarregadas da gestão de serviços públicos no exercício de suas atividades. § 2º A cessação de atividades de instituições públicas e de caráter público implica o recolhimento de sua documentação à instituição arquivística pública ou a sua transferência à instituição sucessora. Juspodivm (2013) faz dois alertas: a) Todos os documentos produzidos e/ou recebidos por órgãos públicos ou entidades privadas (revestidas de caráter público – mediante delegação de serviços públicos) são considerados arquivos públicos, independentemente da esfera de governo. b) Conforme o art. 175 inserido na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: “Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regimede concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de 17 serviços públicos”, ou seja, a titularidade dos serviços públicos é do poder público, mas, estes serviços, poderão ser exercidos indiretamente pelo particular (entidades privadas) mediante concessão ou permissão. Quanto aos arquivos privados, consta no artigo 11 da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991 que: “Consideram-se arquivos privados os conjuntos de documentos produzidos ou recebidos por pessoas físicas ou jurídicas, em decorrência de suas atividades.” Para elucidar possíveis dúvidas na definição do referido artigo, a pessoa jurídica a qual o enunciado se refere diz respeito à pessoa jurídica de direito privado, não se confundindo, portanto, com pessoa jurídica de direito público, pois os órgãos que compõe a administração indireta da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, são também pessoas jurídicas, destituídas de poder político e dotadas de personalidade jurídica própria, porém, de direito público. São exemplos de arquivos: a) Públicos: são aqueles mantidos por entidades de caráter público, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Ex.: arquivo do STJ, arquivo da Prefeitura de São Paulo e arquivo do Senado Federal. b) Privados: são aqueles mantidos por instituições de caráter particular. Ex.: arquivo do Bradesco, arquivo das Lojas Americanas e arquivo da Rede Globo. 1.6 Classificação de arquivos públicos Há três elementos principais a serem considerados na classificação de documentos públicos: a) a ação a que os documentos se referem; b) a estrutura do órgão que os produz; e, c) o assunto dos documentos. Sobre a ação, Schellenberg (2006) diz o seguinte: Os documentos públicos, na sua maioria, são produto de uma ação e subdividem-se naturalmente em grupos que se referem a ações. Uma ação pode ser tratada em termos de funções, atividades e atos (transactions). O termo ‘função’ é usado pelo autor acima com referência a todas as responsabilidades atribuídas a um órgão a fim de atingir os amplos objetivos para os quais foi criado. Comumente, essas funções são definidas nas leis ou regulamentos que criam o órgão. A título de ilustração citam-se as funções do Arquivo Nacional dos 18 Estados Unidos, as quais podem ser enumeradas como: a) destinação; b) preservação e arranjo; c) descrição e publicação; e, d) serviço de referência. Cada função de um órgão pode ser subdividida em diversas “atividades”, termo este aqui usado no sentido de uma série de ações, levadas a efeito no desempenho de uma função específica. Por exemplo, o pessoal do Arquivo Nacional dos EUA, ao se desincumbir da função de dar o destino adequado aos documentos do governo, executa atividades de recolhimento e de eliminação; ao dispor dos documentos para uso, executa atividades de pesquisa e de empréstimo. As atividades, por sua vez, podem ser subdivididas em diversas operações ou atos específicos. A de recolhimento ao Arquivo Nacional, por exemplo, compreende muitos atos isolados, visando à transferência de corpos específicos de documentos procedentes de determinados órgãos. A atividade de empréstimo compreende diversos atos visando ao empréstimo de documentos específicos a determinados órgãos. Uma repartição pública, a fim de cumprir suas funções básicas, realiza dois tipos principais de atividades que se podem caracterizar como fins (substantivas) e meios (facilitativas ou auxiliares). As atividades-fim são as que se referem ao trabalho técnico e profissional do órgão, trabalho que o distingue dos demais. Chamam-se atividades-meio aquelas que se relacionam com a administração interna da organização, ou seja, atividades auxiliares, comuns a todos os órgãos. São meramente incidentais para a execução das funções básicas (SCHELLENBERG, 2006). Na execução de qualquer espécie de atividade, quer substantiva, quer auxiliar, ocorrem dois tipos de operações ou atos: políticos ou normativos e executivos. Os de natureza política determinam a diretriz a ser seguida em todos os casos do mesmo gênero. Uma determinada política pode aplicar-se aos atos de todo um órgão ou restringir-se aos de uma de suas partes. Tanto pode aplicar-se às atividades auxiliares como às atividades-fim. Os atos de ordem executiva decorrem das diretrizes políticas. A diferença entre atos “executivos” e “políticos” não é perfeitamente definida, pois em geral as decisões políticas são tomadas, pela primeira vez, em razão de um caso particular que se apresenta ao funcionário. Ao analisar os atos administrativos dos governos, Schellenberg (2006) observa que a maioria deles refere-se a pessoas, uma vez que os governos 19 modernos ocupam-se, em proporções surpreendentes, com a vida dos cidadãos, no desempenho de suas atividades de bem-estar social, de controle e atividades militares. Muitos outros atos referem-se a entidades, tais como as unidades administrativas do próprio governo, organizações privadas ou instituições. Considerável número também se relaciona com lugares ou áreas geográficas – estados, cidades, municípios e similares. As áreas geográficas podem estar representadas por entidades. Os atos que não se relacionam com pessoas, entidades ou lugares dirão respeito a assuntos ou temas, isto é, acontecimentos, ideias, entre outros, concernentes ao governo. A subdivisão de funções em atividades e destas em atos pode ser ilustrada graficamente da seguinte maneira: Fonte: Schellenberg (2006, p. 86). O segundo elemento a ser observado na classificação de documentos é a organização da entidade criadora, pois os documentos podem ser, e geralmente são, agrupados de modo a refletir a estrutura orgânica da entidade. A estrutura que se imprime a um órgão é determinada, em geral, pelos objetivos ou funções a que se destina. Assim, a organização, frequentemente, corresponde à função. 20 A estrutura orgânica de uma entidade pode ser dividida em unidades de assessoramento (staff) e unidades de linha. As unidades de assessoramento encarregam-se, em geral, das grandes questões de política, como, por exemplo, a maneira pela qual a entidade pode ser mais eficientemente organizada para executar seu trabalho, como este deve ser planejado e quais as principais linhas de ação que devem ser observadas. Nessas unidades se processam as decisões relativas à organização, política e processos pelos quais a entidade se pauta. Nas grandes repartições podem criar-se serviços especiais que se ocupem exclusivamente do trabalho de planejamento ou de formulação de métodos. Ligados aos órgãos de staff de autoridade superior, há também, em geral, alguns que tratam de problemas jurídicos, fiscais, de pessoal e outros assuntos de administração interna da entidade, ou seja, de suas atividades auxiliares. Abaixo dos órgãos de staff vêm os órgãos de linha, isto é, aqueles que de fato executam o trabalho. Numa grande repartição pública estes obedecem a uma escala hierárquica – aos superiores compete a supervisão e administração e aos de nível inferior, na escala administrativa, cabem as operações detalhadas e frequentemente de rotina. O modelo de organização hierárquica é ilustrado no organograma da Administração de Serviços Gerais (General Services Administration), da qual faz parte o Arquivo Nacional – EUA, que Schellenberg (2006, p. 87) reproduziu abaixo. Administração dos Serviços Gerais 21 O terceiro elemento a ser considerado na classificação de documentos públicos é o assunto, que deve acontecer somente em casos excepcionais como matéria de pesquisa, de referência e similares, como, por exemplo, os que não proveem da ação governamental positiva ou não estão a ela vinculados. Segundo Schellenberg (2006), nos governos modernos, tais pastas são muito numerosas. Surgem sempre que as atividades governamentais se tornam altamente especializadas em relaçãoa determinados assuntos ou sempre que, como no caso das práticas americanas de arquivamento, os órgãos executivos insistem em ter à mão ou em compartimentos a parte, arquivos verticais de documentos que não servem a outros fins a não ser de referência. 1.7 Arquivos x Bibliotecas x Museus Podemos dizer que existem três órgãos de documentação: um arquivo propriamente dito, a Biblioteca e o Museu. Enquanto no Arquivo temos uma cumulação ordenada dos documentos, em sua maioria textuais, criados por uma instituição ou pessoa, no curso de sua atividade, e preservados para a consecução de seus objetivos, visando à utilidade que poderão oferecer no futuro; na Biblioteca temos conjuntos de materiais, em sua maioria impressos, dispostos ordenadamente para estudo, pesquisa e consulta; os Museus são instituições de interesse público criada com a finalidade de conservar, estudar e colocar à disposição do público conjuntos de peças e objetos de valor cultural (PAES, 2004). As diferenças básicas entre os materiais de biblioteca e de arquivo referem- se precipuamente ao modo pelo qual se originaram e ao modo pelo qual entraram para as respectivas custódias. Os arquivos têm estreito vínculo com as atividades funcionais de um órgão do governo ou de qualquer outra entidade. Seu valor cultural pode ser considerado secundário ou acidental. O material de uma biblioteca visa primordialmente a fins culturais – estudo, pesquisa e consulta. Os arquivos são órgãos receptores, enquanto as bibliotecas são colecionadores. Os materiais de biblioteca são adquiridos principalmente a partir de compras e doações, ao passo que os arquivos são produzidos ou recebidos por uma administração para o cumprimento de funções específicas. Jamais serão 22 colecionadores como a biblioteca e sua qualidade própria de arquivo só se conserva integralmente enquanto a forma e a inter-relação natural forem mantidas. Uma biblioteca não deve recolher documentos oficiais. Além disso, há significativa distinção quanto aos métodos empregados em um e outro caso. Ao apreciar o valor dos documentos expedidos por um órgão oficial ou privado, o arquivista não o faz tomando por base partes do material. Não examina e conclui quanto ao valor de uma simples peça avulsa como uma carta, um relatório ou qualquer outro documento. Faz o seu julgamento em relação às demais peças, isto é, em relação à inteira documentação, resultante da atividade que a produziu. O bibliotecário, ao contrário, avalia o material a ser adquirido por sua instituição como peças isoladas. Por isso, os arquivistas não podem arranjar seus documentos de acordo com esquemas predeterminados de classificação de assunto. O bibliotecário, no arranjo de seu material, que consiste em peças avulsas, pode empregar qualquer sistema de classificação. O principal objetivo de um sistema é reunir materiais idênticos, mas o valor de determinada peça não estará necessariamente perdido se não for classificado em determinado lugar. O mesmo não ocorre no arquivo: uma vez que as peças tenham sido retiradas do seu contexto inicial, destruiu-se muito do seu valor de prova. Daí surgiu o princípio da proveniência, pelo qual os documentos são agrupados pelas suas origens. O arquivista deve estabelecer uma classificação ditada pelas circunstâncias originais de criação. O princípio da proveniência resultou de experiências desastrosas ocorridas na Europa, quando se tentou o emprego de diversos esquemas de classificação. Outra diferença que pode ser destacada é a de os materiais de biblioteca existirem via de regra em numerosos exemplares, ao passo que os documentos de arquivos existem em um único exemplar ou em limitado número de cópias. Pode-se dizer que a biblioteconomia trata de documentos individuais e a arquivística, de conjuntos de documentos (http://www.rccg.vo6.net). Vejamos no quadro a seguir um panorama dos problemas, métodos e desenvolvimento das áreas específicas de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. 23 Biblioteconomia Arquivologia Museologia Problema Análise da literatura científica Comprovação da origem Sentido histórico e estético Método Ênfase no conteúdo/assunto Ênfase na autenticidade/função Ênfase no objeto/informações intrínsecas e extrínsecas Desenvolvimento Técnico-científico Jurídico-administrativo Artístico-cultural 24 UNIDADE 2 – GESTÃO DE ARQUIVOS A gestão de documentos é um processo arquivístico que, com menor custo e maior eficiência e eficácia, busca intervir no ciclo de vida dos documentos, visando reduzir, seletiva e racionalmente, a massa documental a proporções manipuláveis até que a ela tenha destinação final (expurgo ou recolhimento aos arquivos permanentes). Para isso, adota-se um conjunto de procedimentos e operações técnicas, visando à racionalização do planejamento, capacitação, promoção, controle, fluxo, tramitação, uso, avaliação, seleção, organização, arquivamento, manutenção, disponibilização, acesso e conservação dos documentos nas fases corrente e intermediária, reduzindo-se, assim, as incertezas que rondam o processo de avaliação que prioriza os aspectos qualitativos dos documentos (BERNARDES, 1998; BRASIL, 1985, 1993, 2001, 2004a; INDOLFO, 2007; JARDIM, 1987; NÚÑEZ FERNÁNDEZ, 1999 apud MEDEIROS; AMARAL, 2010). Também encontramos suporte no art. 3º da lei nº 8.159/91 que considera “gestão de documentos o conjunto de procedimentos e operações técnicas à sua produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase corrente e intermediária, a sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente”. 2.1 Ciclo de vida Quanto ao ciclo total de vida dos documentos, este é representado por quatro fases, assim traduzidas, resumidas e adaptadas de Rhoads (1989 apud MEDEIROS; AMARAL, 2010): a) Elaboração/criação/produção do documento (gestação) – contempla desenho e produção de formulários, estipulação de diretrizes e fomento de sistemas de gestão e aplicação de tecnologia moderna aos processos. b) Utilização e manutenção do documento (do nascimento à vida produtiva) – compreende o controle e a utilização dos documentos necessários para realizar ou facilitar as atividades de uma organização. Abarca a criação e o aperfeiçoamento dos sistemas de arquivo e a recuperação de dados, a gestão dos arquivos, a análise de sistemas de produção e a manutenção de programas de documentos vitais, o funcionamento dos centros de documentação e a automação dos processos. 25 c) Disponibilização do documento (destinação final) – contempla a identificação e descrição das séries documentais, o estabelecimento de programas de retenção, disponibilização e destinação dos documentos e as decisões acerca de conservação. Vale salientar que, conforme Núñez Fernández (1999 apud MEDEIROS; AMARAL, 2010), a conservação de documentos comporta a eliminação de uma parte deles. d) Gestão de documentos de valor permanente – abarca o desenho e os equipamentos dos depósitos, os processos de conservação e preservação dos arquivos, o planejamento de políticas de acesso aos arquivos, os procedimentos dos serviços de referência, a criação de novos arquivos e a informação sobre eles. De maneira resumida, podemos dizer que a Teoria das Três Idades divide ou classifica os arquivos em correntes, intermediário e permanente. Os arquivos correntes são constituídos de documentos em curso, (emprestados a outros setores com relativa frequência) ou consultados frequentemente, conservados nos escritórios ou nas repartições que os receberam e os produziram ou em dependências próximas de fácil acesso. Dos arquivos intermediáriosfazem parte documentos que deixaram de ser frequentemente consultados, mas cujos órgãos que os receberam e os produziram podem ainda solicitá-los, para tratar de assuntos idênticos ou retomar um problema novamente focalizado. Não há necessidade de serem conservados próximos aos escritórios. A permanência dos documentos nesses arquivos é transitória. Os arquivos permanentes se constituem de documentos que perderam todo valor de natureza administrativa e que se conservam em razão de seu valor histórico ou documental e que constituem os meios de conhecer o passado e sua evolução. Estes são os arquivos propriamente ditos, pois ali os documentos são arquivados de forma definitiva. Sobre o prazo de guarda dos documentos, este é período em que o documento deve ser mantido nos arquivos correntes e intermediário. O prazo de guarda vincula-se à determinação do valor do documento, de acordo com os seguintes fatores: 26 • frequência de uso das informações contidas nos documentos; • existência de leis ou decretos que regulem a prescrição legal de documentos (prazos prescricionais); • existência de outras fontes com as mesmas informações (documentos recapitulativos); • necessidade de guarda dos documentos por precaução, em virtude das práticas administrativas (prazos precaucionais). O período em que o documento deverá ficar arquivado na fase corrente será chamado, tecnicamente, de prazo de guarda corrente e, naturalmente, o período definido para o mesmo na fase intermediária será o prazo de guarda intermediária. O termo prazo de guarda, quando não houver explicitação de fase, será, portanto, a soma das duas fases em questão. Não há que se falar em prazo de guarda permanente, uma vez que, na 3ª fase, não há prazo de guarda, o documento é guardado de forma definitiva. Ao término do seu ciclo vital, o documento deverá ser encaminhado à sua destinação final, que ocorrerá no momento em que o mesmo tenha perdido seu valor administrativo. A destinação final do documento poderá ser: eliminação ou guarda permanente. No primeiro caso, quando o documento não tiver valor histórico; e no segundo caso, quando o documento tiver valor histórico. 27 UNIDADE 3 – MÉTODOS DE CLASSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS Rapidez e eficiência são duas das condições para quem trabalha com documentos em arquivos, principalmente porque uma segunda ou terceira pessoa pode estar precisando desses documentos, por exemplo, para contar seu tempo de serviços com vistas à aposentadoria, correto?! Por isso, esses documentos precisam estar dispostos de maneira lógica e racional. A essa ação, de buscar e utilizar um documento, chamamos de recuperação. As formas de recuperação de uma determinada informação, contida em documentos arquivados, é extremamente importante; quanto mais ágeis forem os recursos para encontrar o documento procurado tanto mais eficiente será considerado o sistema de recuperação adotado. Por esta razão, os documentos devem ser sistematicamente dispostos nos arquivos e de tal forma ordenados, que permitam o uso de indicadores para facilitar as buscas. Tais indicadores de localização são obtidos tanto com a utilização de letras como de número, constituindo-se nos chamados métodos de arquivamento. Um arquivo jamais deverá ter uma organização pessoal; deverá ser racional e simples, perfeitamente escriturado e organizado de forma que – em qualquer época – outras pessoas que vierem a lidar com ele, imediatamente tenham condições de entendê-lo e manuseá-lo com rapidez. A natureza dos documentos e a estrutura da organização são determinantes para a escolha do método de arquivamento. Método é, por assim dizer, um plano de disposição de documentos objetivando facilitar tanto a guarda como a consulta. 28 Os métodos de arquivamento podem ser básicos e/ou padronizados, conforme a tabela a seguir: BÁSICOS Alfabético Geográfico Numérico Simples Cronológico Ideográfico Alfabético Enciclopédico Dicionário Numérico Duplex Decimal Unitermo ou indexação coordenada PADRONIZADOS Variadex Automático Soudex Mneumônico Rôneo Também podemos dividir os métodos de arquivamento em dois grandes sistemas: direto e indireto. • Sistema direto é aquele em que a busca do documento é feita diretamente no local onde se acha guardado. • Sistema indireto é aquele em que, para se localizar o documento, necessita- se antes consultar um índice ou um código. É o caso da utilização de fichários. Entre os métodos mais comumente utilizados para se organizar arquivos ou fichários temos: a) Método alfabético (organiza a partir de nomes). b) Método numérico, que se divide em: numérico simples (organiza por um número relativo ao documento), cronológico (organiza por data) ou dígito-terminal. c) Método geográfico (pelo local de produção). d) Método ideográfico (pelo assunto do documento). 29 3.1 Alfabético O método que utiliza um nome existente no documento para organizá-lo de forma alfabética, utilizando-se desse mesmo nome para localizar o referido documento, quando necessário. A ordenação alfabética utiliza todas as letras do nome, a fim de diferenciar os documentos que começam com as mesmas letras. O método alfabético é um método direto, pois não exige a adoção de índice para que o documento seja localizado. Sua busca se dá diretamente no documento. Consiste em ordenar a documentação em rigorosa ordem alfabética, ou seja, é utilizado quando o elemento principal a ser considerado é o nome, pode ser chamado de sistema direto, pois a pesquisa é feita diretamente no arquivo por ordem alfabética, devendo ser respeitadas as regras de alfabetação. Este método é bastante rápido, direto e de fácil utilização. É importante destacar que neste método, as letras K, W e Y já deverão ser convenientemente consideradas, pois entram na composição de nomes de origem estrangeira e já fazem parte oficialmente do nosso alfabeto. A posição correta que ocupam é a seguinte: ...f, j, k, l,..., t, u, v, w, x, y, z. A desvantagem do método alfabético é a alta incidência de erros de arquivamento quando o volume de documentos é muito grande, devido ao cansaço visual e à variedade de grafia dos nomes. a.1 Regras de Alfabetação: O arquivamento de nomes obedece a algumas regras, sendo estas as principais: 1- Palavra por palavra, letra por letra, até o final de cada palavra. Exemplo: Lourdes Helena Nogueira Lurdes Anita Cunha Márcia dos Santos Silva 2- Nos nomes de pessoas físicas, considera-se o último sobrenome e depois o prenome. Exemplo: Estela Rodrigues Magalhães 30 Guilherme Souza Assis de Andrade José Carlos Valverde Magalhães Arquiva-se: Andrade, Guilherme Sousa Assis de Magalhães, Estela Rodrigues Magalhães, José Carlos Valverde 3- Sobrenomes Compostos de um Substantivo e um adjetivo ou ligados por hífen não se separam. Exemplo: Eduardo Castelo Branco Gabriela Sanches Vila-Lobos Rômulo João Monte Verde Arquiva-se: Castelo Branco, Eduardo Monte Verde, Rômulo João Vila-Lobos, Gabriela Sanches 4- Os artigos e preposições, tais como a, o, de, d’, e, um, uma, não são considerados. Exemplo: Bruno Honório de Freitas Letícia Cristina d’ Andrade Arquiva-se: Andrade, Letícia Cristina d’ Freitas, Bruno Honório de 3.2 Geográfico Os documentos são classificados e agrupados com base nas divisões geográficas/administrativas do globo: países, regiões, províncias, distritos, cidades, vilas, aldeias, bairros, freguesias, ruas e outros critérios geográficos e de localização. Este sistema é combinado com outros sistemas classificativos, como por exemplo; o alfabético, o numérico ou o decimal, com vista a um melhor acondicionamento e localização dos documentos e a sua informação. 31 O sistema de classificação geográfica resultado fato de haver necessidade de localizar fatos ou pessoas num espaço geográfico determinado, como por exemplo; as coleções ou séries filatélicas que normalmente são agrupadas por localidades, países, regiões e outros critérios relacionados com estes. É muito utilizado em museus etnográficos e de arte popular (RIBEIRO, 2006). É o caso, por exemplo, de uma instituição que possua diversas filiais e que, em seu arquivo intermediário, organize os documentos separando-os por cidade, quando estas pertencerem ao mesmo estado, em que está localizada a filial. Neste caso, estará sendo utilizado o método geográfico. Recomenda-se que, em caso de organização de nomes de cidades, esta seja feita iniciando-se pela capital e, em seguida, por ordem alfabética das demais cidades (PAES, 2004). 3.3 Ideográfico A classificação ideológica, também designada como ideográfica, metódica ou analítica baseia-se, fundamentalmente, na divisão de assuntos, ideias, conceitos e outras divisões, sendo os documentos referentes a um mesmo assunto ou objeto de conhecimento, ordenados segundo um conceito chave ou ideia de agrupamento, colocando-se a seguir, de forma alfabética. Isto é: o método ideográfico é aquele que separa os documentos por assunto e uma vez identificados os assuntos, estes podem ser aplicados levando-se em consideração seus nomes ou números a eles atribuídos. Este sistema parte da análise de um assunto e divide-o em grupos e subgrupos com características cada vez mais particulares e restritas exigindo um certo controle e disciplina devido à grande variedade de palavras com significados análogo. Para aplicar este sistema, é necessário elaborar um instrumento de trabalho que sirva de orientação para a classificação de assuntos nos arquivos e que se designa normalmente por classificador ou listagem por assuntos. O classificador deve ser elaborado respeitando um determinado número de regras, tais como, evitar as abstrações (por abrangerem matérias demasiado vastas) e afastar a utilização de palavras com significados análogos, colocando-se na lista uma remissiva para a palavra-chave que está se utilizando. 32 Para que o nosso trabalho fique completo, deve-se submeter a listagem a uma cuidadosa avaliação pelos usuários do arquivo, de forma a poder introduzir os melhoramentos necessário que permitam a recuperação dos documentos arquivados. Ressalte-se ser um instrumento que deve ser periodicamente revisto e atualizado, e deve refletir a estrutura interna do organismo. As principais vantagens atribuídas a este sistema classificativo resultam do fato de se poder ter uma visão global dos assuntos que são abordados na documentação, permitir o agrupamento dos documentos de acordo com o seu conteúdo, ser extensível até ao infinito e de ser altamente flexível (RIBEIRO, 2006). Vejamos no quadro abaixo algumas possíveis classificações pelo método ideográfico: Alfabético dicionário Alfabético enciclopédico Usan do método DUPLEX OU DECIMAL Abono Compra de material Contas a pagar Contas a receber Controle de estoque Demissão de pessoal Férias Salários FINANCEIRO Contas a pagar Contas a receber MATERIAL Compra de material Controle de estoque PESSOAL Abono Demissão de pessoal Férias Salários 1- FINANCEIRO 1-1 Contas a pagar 1-2 Contas a receber 2- MATERIAL 2-1 Compra de material 2-2 Controle de estoque 3- PESSOAL 3-1 Abono 3-2 Demissão de pessoal 3-3 Férias 3-4 Salários A fim de facilitar o arquivamento, o método ideográfico poderá ser utilizado a partir de códigos atribuídos a cada assunto, caso em que estarão presentes os métodos DUPLEX ou DECIMAL. Em ambos os casos, os assuntos serão organizados em títulos gerais, dentro dos quais estarão presentes, de forma hierarquizada, os assuntos específicos, a exemplo do método enciclopédico visto anteriormente. A diferença básica entre os métodos duplex e o decimal reside no fato de que, enquanto o método duplex permite a criação de infinitas classes, o método decimal limita a criação das classes a 10. A técnica que se costuma aplicar na divisão dos assuntos é: 33 3.4 Numérico O recurso numérico é um excelente indicador de localização de documentos arquivados. A numeração de matrícula nada mais é do que uma metodologia de recuperação de documentos utilizados no método numérico. A numeração da matrícula permite uma utilização sequencial indefinida, ou intermitente, não tem regras fixas, podendo ser utilizada a forma que mais convier à organização do arquivo, bastando que ao idealizar seu uso, seja definida que tipo de sequência numérica será adotada. A numeração de matrícula irá definir a respectiva posição sequencial do arquivamento, facilitando enormemente o encontro rápido da documentação desejada. Lembramos, inicialmente, que uma quantidade significativa de alunos matricula-se anualmente nas instituições de ensino. Este método pode ser: b.1) Numérico Simples – é obedecida a ordem de entrada no arquivo, pela numeração atribuída ao documento ou do próprio, sem preocupação com a ordem alfabética, devendo ter um índice alfabético remissivo. Exemplo: Amanda Florêncio dos Santos - Matrícula nº 00234 (PASTA 008) Bernardo Nunes Moraes - Matrícula nº 02732 (PASTA nº 091) Ruth Dias Teixeira - Matrícula nº 04569 (PASTA nº 153) b.2) Numérico Cronológico - neste método deve ser levado em consideração, especificamente a data e ano do documento. Exemplo: 1 Ofício nº 34 de 20/02/07 e Ofício nº 41 de 13/03/07 - Arquiva-se na Pasta de Ofícios do ano de 2007 por ordem de data. 2 Diário de Classe do ano letivo de 2003 - Arquiva-se no arquivo permanente na Pasta de Diários de Classe - 2003. 34 3 Pasta de Gustavo Queiroz Botelho concluinte do Ensino Fundamental em dezembro de 1997 - Arquiva-se no arquivo permanente na Pasta de alunos concluintes ou que interromperam seus estudos na instituição de ensino - 1997. Segundo Ribeiro (2006), a classificação numérica utiliza a sequência natural dos números inteiros para ordenar os elementos de um conjunto de documentos. Este sistema de classificação é utilizado em conjunto com outros sistemas, normalmente, com o sistema alfabético, para que se possam arquivar ou recuperar os documentos. Esta combinação pode ser traduzida em ficheiros remissivos, ordenados alfabeticamente, ou mediante a utilização de meios informáticos que permitirão a localização os documentos para posterior utilização. Embora apresente vantagens como o fato de permitir a classificação de um modo indefinido e sem interrupções; possibilitar a detecção imediata da falta de um processo ou documento pela ausência do número sequencial correspondente, já que se torna mais fácil ler números do que letras e permitir uma arrumação dos documentos ou processos de forma rápida e expedita, tem a desvantagem de se tornar muito difícil a localização de um documento ou processo quando se lança erradamente um número. 3.5 Alfanumérico A classificação alfanumérica resulta da combinação dos sistemas de classificação alfabética e numérica. Baseia-se, na atribuição de um número ou conjuntos de números a uma determinada classe alfabética para posterior arquivamento e localização (RIBEIRO, 2006). Este sistema misto permite diminuir substancialmente o risco de erro no arquivamento dos documentos e processos, já que estes são localizados pelo número atribuído a classe, procurando-se a seguir, na sequência alfabética. A probabilidade de erro fica assim restringida ao espaço compreendido pela classe. Exemplo: O nº 1 corresponde à classe compreendida entre: Aa – Al. O nº 2 corresponde à classe compreendida entre: Am – Az. O nº 3 corresponde à classe compreendida entre: Ba – Bl. O nº 4 corresponde à classe compreendida entre: Bm – Bz. 35 O nº 5 corresponde à classe compreendida entre: Ca – Cl. O nº 6 corresponde à classe compreendida entre:Cm – Cz. E assim sucessivamente... Se quisermos localizar um processo referente à Costa, José Gonçalves, temos de o procurar no nº 6 (Cm - Cz) e dentro desta classe encontra-se arquivado por ordem alfabética (RIBEIRO, 2006). 36 UNIDADE 4 – ARQUIVOLOGIA X MEMÓRIA Para que nos façamos entender e às relações entre arquivo e memória, precisamos partir da definição de memória, que grosso modo é tida como tradição definidora de uma herança que dá sentido e forma, é viva e dinâmica. Nora (1993 apud PEREIRA, 2006, p. 12) chega a afirmar que a memória é ditatorial e inconsciente de si mesma, organizadora e toda poderosa, espontaneamente atualizadora, uma memória sem passado que reconduz eternamente a herança, conduzindo o antigamente dos ancestrais ao tempo indiferenciado dos heróis, das origens e dos mitos. É como se ela, enquanto narrativa, tendesse a cumprir o papel que o mito tem nas sociedades tradicionais, ou seja, fundamentar e organizar. Mas não se pode esquecer que a própria memória é seletiva, já que não se pode lembrar de tudo que aconteceu. Nem tudo fica gravado e registrado, portanto, a memória é, em parte, herdada, não se refere apenas à vida física da pessoa. Jacques Le Goff (2003, p. 467) também aponta que os conceitos de memória e história tendem a se confundir até os dias de hoje. Esse autor lembra que, como leitura do real, a história é sempre construção da memória coletiva, e nela, como em toda memória, entrecruzam-se o objetivo e o subjetivo; o registro e a criação; a lembrança e o esquecimento. Ou seja, a memória não é somente lembrança e esquecimento, ela é também – e principalmente – uma construção. Jardim (1995) ressalta que a associação entre arquivos e memória é recorrente no pensamento e nas práticas arquivísticas. A verdade é que desde a Antiguidade, o homem vem demonstrando a necessidade de conservar sua própria ‘memória’, seja via oral, seja via desenhos nas cavernas e hoje em dia pelo mais variados métodos de arquivamento. Tudo isso para gravar sua história, sua memória, que é para nós a base de toda nossa atividade. Imagem, documentos, relíquias, monumentos são alguns dos suportes para fazermos valer nossa memória. Le Goff (1984 apud JARDIM, 1995) menciona os documentos e monumentos como materiais da memória coletiva, diferenciando-os em função de 37 suas características. Assim, os monumentos apresentam alguns atributos específicos: • são herança do passado; • evocam o passado, ligando-se ao poder de perpetuação voluntária ou involuntária das sociedades históricas; • apresentam uma intencionalidade. De outro lado, os documentos apresentam uma objetividade que se opõe à intencionalidade do monumento. Constituem uma escolha do historiador, triunfando sobre o monumento a partir do positivismo, no século XIX, quando adquire o sentido moderno de testemunho histórico. Relacionando mais de perto arquivo com memória, Robert (1990, p.137) também citado por Jardim (1995, p. 4) infere que os arquivos constituem a memória de uma organização qualquer que seja a sociedade, uma coletividade, uma empresa ou uma instituição, com vistas a harmonizar seu funcionamento e gerar seu futuro. Eles existem porque há necessidade de uma memória registrada. Como tal, os arquivistas devem contar com o apoio de historiadores “para trabalharem a definição mesma de arquivos como lugar de elaboração e de conservação da memória coletiva”. Rousseau e Couture (1994, p. 37) também não são menos contundentes: “o arquivista tem o mandato de definir o que constituirá a memória de uma instituição ou de uma organização”. Portanto, devemos perceber que muito além de cuidar da manutenção de um arquivo, colocar os documentos em seus devidos lugares e respectivas ordens, para além daquela função de “guardador de papéis velhos”, o arquivista na contemporaneidade tem uma missão audaciosa, desafiante e nobre: fazer-se guardião e preservador da memória que de individual passa a coletiva. 38 UNIDADE 5 – ARQUIVO X CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Partindo de uma definição bem antiga para Ciência da Informação (proposta por Shera e Cleveland, 1977 apud FONSECA, 2005) é que faremos algumas relações com a arquivologia: Ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam o fluxo de informação e os meios de processar a informação para ótima acessibilidade e uso. O processo inclui a origem, a disseminação, a coleta, a organização, o armazenamento, a recuperação, a interpretação e o uso da informação. O campo está relacionado com matemática, lógica, linguística, psicologia, tecnologia da computação, pesquisa operacional, artes gráficas, comunicação, biblioteconomia, administração e algumas outras áreas. Do ponto de vista paradigmático (CAPURRO, 2003), a ciência da informação vai de um paradigma físico, em que focaliza o tratamento e a organização da informação para alimentar sistemas computacionais, para um cognitivo, em que o objetivo continua sendo focalizar o tratamento e a organização da informação, porém os processos se baseiam no paradigma psicológico, para satisfazer os usuários individuais, chegando a um paradigma social, em que os processos são baseados no contexto social/ cultural, objetivando a construção da informação contextualizada. Num outro viés, podemos tratar a ciência da informação pelo seu lado tecnológico e/ou da informática e sua interdisciplinaridade com a Biblioteconomia, Documentação, Arquivologia, Museologia, Jornalismo, Comunicação e Educação. Desde meados do século XX, com acentuado uso agora no século XXI, não há como o arquivista esquecer a presença marcante das novas tecnologias da informação e comunicação, que trazem os mais variados tipos de suporte documental. É uma época que exige conhecimento, competência, métodos e meios de produção, utilização e conservação física especiais. E o arquivista precisa estar sempre atento! Segundo Rousseau e Couture (1994), a informática, entendida como a “técnica que permite a produção e o tratamento acelerado da informação por meio de operações eletrônicas e mecânicas”, tem hoje nos arquivos marcada presença. As tecnologias eletrônicas da informação aumentaram muito a capacidade da 39 sociedade de gerar, reunir, recuperar e examinar e utilizar dados com objetivos os mais variados, apresentando ainda a vantagem do acesso à informação à distância e a vantagem de nos ajudar a eliminar dados/informações redundantes, supérfluas, irrelevantes (DURANTI, 1994 apud BELLOTTO, 2004). Enfim, o documento em meio informático traz a possibilidade da densidade máxima da informação em um mínimo de suporte, do qual a mensagem, naturalmente, terá de passar por reconstrução legível por máquina para ser entendida. Entretanto, dentro da peculiaridade do documento arquivístico, os especialistas chamam a atenção dos arquivistas para o fato de que todo o processamento que se dê à informação arquivística não pode se afastar dos princípios teóricos básicos da arquivística, refletindo sempre o principio da proveniência e a organicidade na ordenação interna dos fundos (TALLAFIGO, 1994 apud BELLOTTO, 2004). Isto, mesmo em se admitindo a já não centralização material e formal dos documentos, tal como se apresentavam anteriormente na forma tradicional da organização arquivística. Nesta, campeava o suporte papel, a informação formalmente padronizada e a obediência estrita e material ao princípio da proveniência. Ora, a informática vem mudar sensivelmente estas verdades, porque separa a informação do suporte reconhecível, já que este é um sistema informático. Trata-se, portanto, de documentos virtuais (CARUCCI, 1994 apud BELLOTTO, 2004) e assim sendo compreendidos e tratados. São vários os meios de guarda de documentos de arquivo, dentre eles o papel, CD, disquete e a microfilmagem. Ocorreque, eventualmente, há a necessidade de se alterar o suporte de determinados documentos, de forma a garantir o acesso e a preservação dos mesmos. As principais técnicas de atualização de arquivo (mudança de suporte) são a microfilmagem e a digitalização. Microfilmagem é uma técnica que permite criar uma cópia do documento em formato micrográfico (microfilme ou microficha), mas que exige equipamentos especiais para a leitura que são as leitoras de microfilme ou leitoras de microfichas. Uma vantagem e justificativa para o uso da microfilmagem se refere à economia de espaço, pois o microfilme nada mais é do que uma imagem de forma 40 reduzida, em formato de rolo com as devidas etiquetas de identificação e que pode ser guardado em gavetas específicas. Sua validade legal está na Lei nº 5433/68 e Decreto nº 1799/96, ou seja, lhe conferem o mesmo valor legal do documento original. Outra vantagem dos microfilmes é a questão da segurança, por se tratar de um material fotográfico, além de permitir reproduções com rapidez e baixo custo, o arquivo microfilmado, devido ao pequeno volume, permite o seu acondicionamento em caixas forte (arquivo de segurança), protegido de sinistros (essa cópia de segurança deverá, obrigatoriamente, estar em local separado da cópia de trabalho). 41 UNIDADE 6 – LEGISLAÇÃO E ACESSIBILIDADE Os documentos podem ser classificados quanto à sua natureza, em documentos ostensivos ou documentos sigilosos. A classificação de ostensivo ou ordinário é dada aos documentos cuja divulgação não prejudica a administração. Consideram-se sigilosos os documentos que, por sua natureza, devem ser de conhecimento restrito e, portanto, requerem medidas especiais de salvaguarda para sua custódia e divulgação. 6.1 Lei de Acesso à Informação – Lei nº 12.527/11 A informação sob a guarda do Estado é sempre pública, devendo o acesso a ela ser restrito apenas em casos específicos. Isto significa que a informação produzida, guardada, organizada e gerenciada pelo Estado em nome da sociedade é um bem público. O acesso a estes dados – que compõem documentos, arquivos, estatísticas – constitui-se em um dos fundamentos para a consolidação da democracia, ao fortalecer a capacidade dos indivíduos de participar de modo efetivo da tomada de decisões que os afeta. No Brasil, o acesso à informação pública está inscrito no capítulo I da Constituição – dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos – particularmente no inciso XXXIII do artigo 5º. Veja o texto constitucional: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. É este dispositivo – em conjunto com outros incisos dos artigos 37 e 216 -- que a Lei nº 12.527, também conhecida como Lei de Acesso à Informação Pública, regulamenta. Ao efetivar o direito de acesso, o Brasil consolida e define o marco regulatório sobre o acesso à informação pública sob a guarda do Estado, estabelece procedimentos para que a Administração responda a pedidos de informação do cidadão, estabelece que o acesso à informação pública é a regra, e o sigilo, a exceção. 42 Quanto aos graus de Sigilo, a Lei nº12527/11 em seus artigos 23 e 24, temos as condições e situações imprescindíveis à segurança da sociedade e ou do Estado em que é considerado o sigilo e os graus passíveis de classificação desse sigilo: ... § 1º Os prazos máximos de restrição de acesso à informação, conforme a classificação prevista no caput vigora a partir da data de sua produção e são os seguintes: I - ultrassecreta: 25 (vinte e cinco) anos; II - secreta: 15 (quinze) anos; III - reservada: 5 (cinco) anos. O artigo 27, por sua vez, traz as competências do sigilo da informação no âmbito da administração pública federal. a) Grau Ultrassecreto: Do Presidente da República, Vice-Presidente da República, Ministros de Estado e autoridades com as mesmas prerrogativas, Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares permanentes no exterior. b) Grau Secreto: Das autoridades mencionadas acima, mais: titulares de autarquias, fundações ou empresas públicas e sociedades de economia mista. c) Grau Reservado: Das autoridades supracitadas, mais: as que exercem funções de direção, comando ou chefia, de hierarquia equivalente ou superior ao nível DAS 101.52; as 2 Para saber mais ver Dec. 7476 de 10 de maio de 2011, que aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores- DAS, das Gratificações de Exercício em Cargo de Confiança e das Gratificações de Representação pelo Exercício de Função da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, altera dispositivos do Decreto nº 7.364, de 23 de novembro de 2010, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7476.htm 43 que compõem o grupo – Direção e Assessoramento Superiores, conforme regulamentação específica de cada órgão ou entidade. Não poderão ser objeto de restrição de acesso, informações ou documentos que versem sobre condutas que impliquem violação dos direitos humanos praticada por agentes públicos ou a mando de autoridades públicas. A Lei nº 12.527/11 também prevê a responsabilização do servidor nos casos de seu descumprimento. Recusar-se a fornecer informação requerida nos termos da Lei, destruir ou alterar documentos ou impor sigilo para obtenção de proveito pessoal, por exemplo, são consideradas condutas ilícitas, podendo caracterizar infração ou improbidade administrativa (MADUREIRA, 2013). Ainda sobre o acesso à informação, temos o Portal da Transparência do Governo Federal, lançado em 2004, onde é possível acompanhar informações atualizadas diariamente sobre a execução do orçamento, obter informações sobre recursos públicos transferidos e sua aplicação direta (origens, valores, favorecidos). A informação é apresentada de forma transparente, objetiva e os dados técnicos são traduzidos em linguagem do dia a dia, bem como o conteúdo é acessível para pessoas com deficiência. 44 UNIDADE 7 – ARQUIVOS X HISTÓRIA Não poderíamos deixar em branco algumas reflexões que envolvem o professor de História, afinal de contas, enquanto mediador no processo de ensino- aprendizagem e entusiasta que deve ser de sua disciplina, nada mais justo do que lembrarmos os diversos usos de documentos de arquivo para contar e “provar” a história não é verdade?! 7.1 As dimensões da didática do professor – breve c onsideração para o “bom professor” No conjunto de “atores” que permeiam o universo de uma instituição de ensino, o professor é imprescindível não só no processo de ensino-aprendizagem propriamente dito, como também para contribuir em outras demandas institucionais como, por exemplo, o professor de História pode dar sua contribuição ao secretário escolar no momento de planejar e executar seu arquivo escolar, assim como ajudar na pesquisa de construção da história daquela unidade escolar. Para Feitoza, Cornelsen e Valente (2007), ele é peça fundamental tanto para favorecer a permanência quanto a mudança da cultura institucional, pela sua possibilidade de dar direção à prática pedagógica que desenvolve. É claro que a importância e o significado do papel do professor não dependem exclusivamente dele, visto ser a escola uma instituição social. Reconhece-se, portanto, que o valor do professor é atribuído pela sociedade na qual atua e na qual se constitui e reconhece. No entanto, somando ao ambiente sociocultural, suas experiências de vida acabam por ser duas componentes que explicam
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