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PEDIDO DE PRISÃO DOMICILIAR_ALESSANDRO

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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DE EXECUÇÕES PENAIS DA REMB. PARÁ.
Ref. Execução Penal
Proc. nº 0013632-68.2015.814.0401
PEDIDO DE PRISÃO DOMICILIAR 
ALESSANDRO FERREIRA LOPES, nos autos acima referenciados, através de sua Advogada devidamente habilitada, vem, respeitosamente, por esta e na melhor forma de Direito, a honrada presença de Vossa Excelência, após as devidas formalidades e cumprimentos, requerer a apreciação do presente PEDIDO DE PRISÃO DOMICILIAR, com fulcro na Recomendação nº 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça, no Art. 1ª, III da Constituição Federal e Art. 318 do Código de Processo Penal, conforme motivação a seguir:
DOS FATOS
O Sentenciado foi processado e condenado a uma pena de 20 (vinte) anos em regime fechado por ter cometido, em tese, o crime de latrocínio. 
Atualmente, o mesmo cumpri pena no regime fechado no Complexo Penitenciário de Americano – CADEIA PUBLICA DE JOVENS E ADULTOS – CPJA, em Santa Izabel – Pará. 
Vale a pena ressaltar que desde o início do cumprimento de sua pena, o requerente não teve nenhum assentamento contrário ao encarceramento, como poderá ser comprovado na certidão carcerária que segue em anexo.
Mesmo após várias visitas ao interno, buscando saber seu estado de saúde, as informações obtidas através da assistente social, Dra. Márcia, o apenado encontra-se isolado, fazendo uso diário de cloridrato de etambutol, medicação para tratamento de doença infecto contagiosa grave, tuberculose, ao qual, foram solicitados exames complementares, porém ainda não realizados em virtude da atual situação em que o país está enfrentando com a covid19.
O requerente já esteve na UPA várias vezes em decorrência da doença, fez uso de medicação, exames que comprovaram o quadro de tuberculose, porém, nada mais pode ser feito devido não haver um tratamento adequado na CPJA, local onde se encontra. 
Visando aclarar estas informações, em 29.11.2019 foi solicitado junto a Diretoria de Assistência Biopsicossocial – DAB, da Sede Administrativa da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado - SUSIPE, todos laudos e exames médicos realizados pelo requerente desde o início de sua internação até a presente data (doc. em anexo). Porém, esta solicitação, até o momento não foi respondida. Solicitação está que, caso seja do entendimento de V.Exa, poderá ser reiterada através de ofício.
Ocorre que devido a pandemia instalada no mundo em decorrência do Covid-19 (coronavírus), o sentenciado está no grupo de risco, pois é portador de doença grave infecto contagiosa, tuberculose, ao qual, poderá ainda colocar em risco os demais internos.
Desse modo, conforme a recomendação nº 62/2020 do CNJ, a Constituição Federal e a Lei de Execução Penal - LEP, fundamentamos o presente pedido. 
DO DIREITO
Diante da pandemia em que a população brasileira vem sofrendo e com expectativas catastróficas no sistema de saúde, o poder público tem adotado medidas duras e necessárias para estagnar a propagação do covid-19, como exemplo, a decretação de estado de calamidade pública e a quarentena. 
Nessa mesma via, o Conselho Nacional de Justiça editou a recomendação nº 62/2020, onde “Recomenda aos Tribunais de Justiça e Magistrados a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus – Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo”. 
Portanto, considerando,
(...) a declaração pública de situação de pandemia em relação ao novo coronavírus pela Organização Mundial da Saúde – OMS em 11 de março de 2020, assim como a Declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional da Organização Mundial da Saúde, em 30 de janeiro de 2020, da mesma OMS, a Declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN veiculada pela Portaria nº 188/GM/MS, em 4 de fevereiro de 2020, e o previsto na Lei 13.979/2020, que dispõe sobre as medidas para o enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do novo coronavírus; (grifamos). 
Conforme orientações da OMS e o Art. 1º da recomendação nº 62/2020 do CNJ, o grupo de risco para infecção pelo novo coronavírus – covid-19 – compreende pessoas idosas, gestantes e pessoas com doenças crônicas, imunossupressoras, respiratórias e outras comorbidades preexistentes que possam conduzir a um agravamento do estado geral de saúde a partir do contágio, com especial atenção para diabetes, tuberculose, doenças renais, HIV e coinfecções.
O Conselho Nacional de Justiça afirmou categoricamente [...] que a manutenção da saúde das pessoas privadas de liberdade é essencial à garantia da saúde coletiva e que um cenário de contaminação em grande escala nos sistemas prisional e socioeducativo produz impactos significativos para a segurança e a saúde pública de toda a população, extrapolando os limites internos dos estabelecimentos. E ainda, que há [...] necessidade de estabelecer procedimentos e regras para fins de prevenção à infecção e à propagação do novo coronavírus particularmente em espaços de confinamento, de modo a reduzir os riscos epidemiológicos de transmissão do vírus e preservar a saúde de agentes públicos, pessoas privadas de liberdade e visitantes, evitando-se contaminações de grande escala que possam sobrecarregar o sistema público de saúde.
O art. 5º, I, da recomendação nº 62/2020 do CNJ prevê:
Art. 5º. Recomendar aos magistrados com competência sobre a execução penal que, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus, considerem as seguintes medidas:
I – concessão de saída antecipada dos regimes fechado e semiaberto, nos termos das diretrizes fixadas pela Súmula Vinculante no 56 do Supremo Tribunal Federal, sobretudo em relação às: 
a) mulheres gestantes, lactantes, mães ou pessoas responsáveis por criança de até 12 anos ou por pessoa com deficiência, assim como idosos, indígenas, pessoas com deficiência e demais pessoas presas que se enquadrem no grupo de risco;
Outrossim, por uma questão de humanidade e com base no princípio da dignidade da pessoa humana, princípio este previsto no art. 1º, inciso III da CF/88, deve ser concedida a oportunidade ao sentenciado de ter condições de tratamento adequado diante do quadro GRAVÍSSIMO da Pandemia do Covid-19, possibilitando a sua prisão domiciliar, pois o alto índice de transmissibilidade do novo coronavírus e o agravamento significativo do risco de contágio em estabelecimentos prisionais, tendo em vista fatores como a aglomeração de pessoas e a insalubridade dessas unidades, haveria dificuldades em garantir procedimentos mínimos de higiene e isolamento rápido dos indivíduos sintomáticos, por insuficiência de equipes de saúde, entre outros, características inerentes ao “estado de coisas inconstitucional” do sistema penitenciário brasileiro reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347.
Corroborando os fundamentos acima exarados, a Lei 7.210/84 - Lei de Execução Penal assevera:
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando se tratar de:
(...)
II - condenado acometido de doença grave.
(...)
Não se pode exigir do Apenado que este seja colocado em uma situação gravosa com RISCO DE CONTAMINAÇÃO e MORTE em face da falta de estrutura do poder político, e forma a permitir que o mesmo cumpra sua pena com o mínimo de dignidade e segurança. Dito isso, em razão da debilitada condição física do requerente, requer a concessão do benefício da prisão domiciliar, diante do momento EXCEPCIONALÍSSIMO em que vivemos.
Vejamos decisões a respeito:
AGRAVO EM EXECUÇÃO. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. APENADO EM REGIME FECHADO. PRISÃO DOMICILIAR. DESCABIMENTO O alcance da prisão domiciliar a apenado do regime fechado, embasado apenas em doença grave pretérita, amplia indevidamente o rol de possibilidades do art. 117 da LEP e desvirtua a execução penal. É possível, em atenção ao princípio da dignidade da pessoa humana, a concessão de prisãodomiciliar a presos dos regimes semiaberto e fechado portadores de doença grave que não possam ser tratados no sistema prisional. Por sua vez, necessária a comprovação de que o estado de saúde ainda justifica a benesse, o que inocorre no caso concreto. AGRAVO EM EXECUÇÃO PROVIDO. (Agravo Nº 70068215946, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Naele Ochoa Piazzeta, Julgado em 20/04/2016). (TJ-RS - AGV: 70068215946 RS, Relator: Naele Ochoa Piazzeta, Data de Julgamento: 20/04/2016, Oitava Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 09/06/2016).
AGRAVO EM EXECUÇÃO. DECRETO Nº 8.380/2014. INDULTO HUMANITÁRIO. DOENÇA GRAVE. DESCABIMENTO. CONCESSÃO DE PRISÃO DOMICILIAR MEDIANTE CONDIÇÕES. 1. O apenado é portador de doença grave e permanente, necessitando tratamento contínuo e por equipe médica especializada, não disponibilizados na casa prisional. 2. Por questão de humanidade, entendo que o apenado deva ser afastado da casa prisional. Entretanto, o benefício mais adequado, é a prisão domiciliar, pois não se pode perder de vista que a pena possui caráter preventivo e retributivo, de modo que a simples extinção da pena pelo indulto, por certo causará no apenado a sensação de impunidade e implica no descrédito da execução penal. Recurso parcialmente provido. (Agravo Nº 70066382375, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jucelana Lurdes Pereira dos Santos, Julgado em 12/11/2015).
AGRAVO EM EXECUÇÃO. PRISÃO DOMICILIAR. DOENÇA GRAVE E NECESSIDADE DE TRATAMENTO DE SAÚDE FORA DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL. CABIMENTO. Apenada acometida de doença respiratória grave. Necessidade de acompanhamento contínuo e fora do ambiente prisional. Impossibilidade de assistência no presídio. Situação que permite, excepcionalmente, a concessão de prisão domiciliar. Recurso provido. (Agravo Nº 70066717133, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jucelana Lurdes Pereira dos Santos, Julgado em 12/11/2015).
Diante de todo exposto, percebe-se que a situação se enquadra na hipótese de prisão domiciliar, tendo em vista o risco iminente de contagio dos demais internos e agravamento do estado de saúde, já debilitado do apenado, considerando a pandemia do Covid-19, por ser uma questão de humanidade a concessão da prisão domiciliar, conforme recomendação nº 62/2020 do CNJ, o art. 1º, III da CF/88 e o art. 117, II da LEP.
Asseverando a defesa, o paciente ficará recolhido a sua residência, sito a RD PA 140, 1010 frente florestal, Santa Lucia I, CEP: 68.790-000. Santa Izabel do Pará – PA e terá acompanhamento de sua genitora, Sra. Solange Ferreira Lopes, além de cumprir todas as determinações sanitárias exigidas e se compromete a comprimir, ainda, as determinações do serviço médico da SUSIPE.
 DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requerer a concessão do benefício da PRISÃO DOMICILIAR, em face da doença gravíssima infectocontagiosa, tuberculose pondo em risco os demais presos, além da PANDEMIA da COVID-19 (novo coronavírus), com o recolhimento do apenado ALESSANDRO FERREIRA LOPES em sua residência, sito a RD PA 140, 1010 frente florestal, Santa Lucia I, CEP: 68.790-000. Santa Izabel do Pará – PA, em razão de sua limitada condição física, conforme verificada na documentação anexa. 
São os termos em que,
Pede e espera deferimento.
 Belém-Pará, 14 de abril de 2020.
THAMIRES PRISCILA DE SENA HAICK
OAB/PA 28.712

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