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1 CENTRO UNIVERTÁRIO ESTÁCIO SÃO LUÍS CURSO DE DIREITO ALYSON CARVALHO DAS NEVES IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E MERAS IRREGULARIDADES SÃO LUÍS – MA 2020 2 CENTRO UNIVERTÁRIO ESTÁCIO SÃO LUÍS CURSO DE DIREITO ALYSON CARVALHO DAS NEVES IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E MERAS IRREGULARIDADES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Estácio São Luís como requisito à obtenção do título de Bacharel em Direito Orientador: Profº. Me. Benevenuto Silva dos Santos SÃO LUÍS – MA 2020 3 ALYSON CARVALHO DAS NEVES IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E MERAS IRREGULARIDADES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Estácio São Luís como requisito à obtenção do título de Bacharel em Direito Aprovado em: _____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Profº. Me. Benevenuto Silva dos Santos (Orientador) Centro Universitário Estácio São Luís _______________________________________________ 1º Examinador(a) _______________________________________________ 2º Examinador(a) 4 À minha família, pela força que deram para minha vida acadêmica, em especial, minha esposa e filhos. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pela vida e por ter chegado até aqui. Também a minha família pela força que tive neles para prosseguir minha vida acadêmica, especialmente minha esposa que cuidou da família e da nossa casa para que eu pudesse estudar todas as noites. Ao meu orientador, Benevenuto Silva dos Santos pelas dicas e orientações necessárias. Aos colegas de turma que fiz durante este tempo. A todos os professores que passaram pela minha estadia acadêmica e fizeram parte de minha formação. 6 “A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.” Rui Barbosa 7 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E MERAS IRREGULARIDADES ALYSON CARVALHO DAS NEVES RESUMO Abordamos nesse Trabalho de Conclusão de Curso, com o desígnio de explanar de maneira objetiva sobre a Improbidade Administrativa, seus principais princípios norteadores, formas de sanções, bem como afastar a improbidade de agentes que tentam acertar, mas que, por imperícia cometem algum erro. Entretanto afastado da improbidade e não passando apenas de Meras Irregularidades, o estudo tem a finalidade de distinguir as ações de improbidade das de meras irregularidades utilizando para isto diversos autores e obras, bem como julgados de instancias distintas e a própria jurisprudência como mecanismo norteador e basilar, e, ainda, retratando que é necessário o controle, mas, que não podemos ultrapassar no julgamento de modo a atingir que age com total intenção de acerto e sem tentar tirar proveito algum da coisa pública. O estudo fora feito compartilhando a fase histórica, apontamentos doutrinários e diversos julgados de distintas instancias. Palavras Chaves: Improbidade Administrativa; Princípios; Administração Pública; Irregularidade. 8 Graduando em Direito pelo Centro Universitário Estácio São Luís ADMINISTRATIVE IMPROBITY AND MERE IRREGULARITIES ALYSON CARVALHO DAS NEVES ABSTRACT We approach this Course Conclusion Work, with the aim of explaining objectively about Administrative Improbity, its main guiding principles, forms of sanctions, as well as removing the improbity of agents who try to get it right, but who, due to malpractice, make a mistake. However, removed from improbity and not merely mere irregularities, the study aims to distinguish actions of improbity from those of mere irregularities, using different authors and works, as well as judged from different instances and the jurisprudence itself as a guiding and basic mechanism, and still, portraying that control is necessary, but that we cannot go beyond the judgment in order to achieve that it acts with total intention of correctness and without trying to take advantage of any public thing. The study had been done sharing the historical phase, doctrinal notes and diverse judgments from different instances. Key words: Administrative Improbity; Principles; Public administration; Irregularity. Graduating in Law from the University Center Estácio São Luís 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..............................................................................................................10 1. O ESTADO E A ADMINISTRAÇÃO ......................................................................11 2. DO DIREITO ADMINISTRATIVO .........................................................................12 2.1. Teoria do Mandato ...................................................................................................12 2.2. Teoria da Representação .........................................................................................13 2.3. Teoria do Órgão .......................................................................................................13 3. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................13 3.1. Princípio do Interesse Público sobre o Privado ou da Finalidade Pública .........14 3.2. Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público ............................................14 3.3. Princípio da Legalidade ..........................................................................................15 3.4. Princípio da Impessoalidade .................................................................................. 16 3.5. Princípio da Moralidade .........................................................................................17 3.6. Princípio da Publicidade .........................................................................................18 3.7. Princípio da Eficiência ............................................................................................19 4. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ...................................................................20 4.1. Sujeito Ativo ............................................................................................................21 4.2. Sujeito Passivo .........................................................................................................22 4.3. Tipologias da Improbidade ....................................................................................23 4.3.1. Enriquecimento Ilícito ...........................................................................................23 4.3.2. Prejuízo ao Erário Público .....................................................................................23 4.3.3. Concessão a Aplicação Indevida de Benefício Financeiro e Tributário ................24 4.3.4. Atentam Contra os Princípios da Administração Pública .....................................24 4.4. Penalidades ..............................................................................................................24 5. MERAS IRREGULARIDADES ..............................................................................25 CONSIDERAÇÕES FINAAIS .....................................................................................27 REFERÊNCIAS ............................................................................................................28 10 INTRODUÇÃO Muito se tem discutido, recentemente, sobre desvios decondutas, corrupção, desvio de dinheiro público entre outros desmandos na administração pública. Nesse sentido, para tentar regular e amenizar os estragos na esfera pública tanto por parte de funcionários e particulares a Lei de Improbidade Administrativa, tema do nosso conteúdo abordado no presente estudo, vem regular as ações dolosas com intuito de lesar a Administração Pública e obter proveitos e vantagens para si ou para outrem. Entretanto, não é apropriado se punir a pessoa que age de forma correta e sem o dolo de causar qualquer dano a administração pública, que agiu apenas com imperícia, mas com boa fé e na intenção de acertar, logo, não merece ser punida. Nessa senda, iremos vislumbrar quais as ações que devem ser apresentadas e punidas por Improbidade Administrativa e as de Meras Irregularidades que não perpassam a imperícia e que o agente age com total vontade de acertar. É importante o referido estudo pois todos os Estados e municípios estão propícios a serem acometidos por pessoas que agem com dolo de lesar a Administração Pública, sem falar na União, a qual temos visto nos últimos anos um alto grau de corrupção, desvio de dinheiro público e envolvimento de políticos nessas ações maléficas. Ao fazermos o estudo partimos de uma análise histórica, de como o poder era concentrado na mão de única pessoa e que precisou ser distribuído, resultando, assim, na criação da Administração Púbica, e ao avançar na leitura, verá diversos julgados, tanto por Tribunais quanto pelo Superior Tribunal de Justiça e, ainda, do Supremo Tribunal Federal, acerca da distinção entre a improbidade administrativa das de meras irregularidades, bem como, a interpretação de doutrinadores sobre o assunto e o entendimento predominante do conteúdo em nossa jurisprudência. 11 1. O ESTADO E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O estado é a organização social criada para acabar com o caos que existia antes dele. A função do Estado era manter a paz entre os cidadãos. Inicia-se quando o ser humano tem o desejo de ter algo que assim mensura ser importante para sua vida e sobrevivência, e, caso outra pessoa tenho o mesmo desejo de tê-lo ou possuir, esse mesmo algo que ele tenha, nascerá o conflito. Nessa senda, não existindo alguém para fazer a regulamentação desses interesses e conflitos, sempre saia vencedor desse embate o mais forte e esperto. Logo, sempre poderia ter alguém que me colocasse em risco por não poder proteger de uma determinada situação, e o que era mais fraco, sempre teria o prejuízo. Dessa forma o Estado nasce com a principal função de criar a paz entre todos, e assim, transferimos ao Estado nossa vontade de ter e a capacidade de nos defendermos, à ele, e então, poder intermediar essa relação a fim de vivermos em harmonia e civilidade, acabando, assim, com o conflito de todos contra todos. Para (HOBBES, 1651), o estado tem poderes ilimitados para organizar a sociedade da forma que achar melhor e necessário. Com a criação do Estado e sendo-lhe transferidos os poderes para que possa organizar a vida coletiva em sociedade e que assim os conflitos sejam sanados, o Estado centraliza o poder. Assim sendo, saímos de um estado de caos e conflito para um estado de organização e surgindo a figura do líder que organizará a tudo, justamente, é a ideia de Contrato Social que dizia existir em (ROUSSEAU, 1762). Esse líder tinha o poder sobre tudo de maneira absoluta, fazendo as leis, dividindo terras, organizando a economia e o exército, concentrando todo o poder em suas mãos. Destarte, com todo esse poder, o líder fica deslumbrado com esse poder todo. Todos tinham na figura dele, o desejo de ter os seus problemas resolvidos, e nessas circunstâncias, com tanto poder em mãos e podendo fazer de tudo, este líder, que tinha a missão de resolver problemas começa a exercer seu poder de forma autoritária e juntamente com todo esse autoritarismo vem a arbitrariedade. Tão logo, com toda essa tirania e arbítrio exercido por esse líder, as pessoas sentiram a necessidade de tirar todo esse poder desse líder e dividi-lo entre eles. De tal modo, para retirar todo esse poder do líder, começaram a se indagar quem ficaria no lugar dele para acabar com essa tirania. Foi então, que houve a ideia de se criar a Lei, algo que seria acima de tudo, e todos teriam que submeter-se, inclusive, o líder. A partir da ideia de criar essas leis para que todos pudessem obedecê-las, nasce a lei maior de todas, As Constituições. Estas regeriam os países. 12 Daí, aferiu-se que, o que Lei poderia controlar o poder exacerbado. Em seguida, decidiram dividi-lo para que quem criasse as leis não as executassem ou julgassem, e quem executasse não as criassem e quem as julga não criassem. A partir da criação da lei que seria algo acima de tudo e que todos deveriam obedecer e assim, retirando o poder supremo exercido pelo líder, dividiram este poder em partes entre as pessoas, passando a existir, então, os poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Esses poderes são o que compõem o Estado, fazendo com que tenhamos um Estado democrático. A partir daí, surge a Administração Pública para organizar o estado, onde podemos constatar o que seria o Estado e sua divisão no art. 1º da CF (BRASIL, 1988), onde concebemos sua organização em União, Estados, Municípios e o Distrito Federal. Cada um destes entes tem atribuições específicas e podem exercer sua administração de maneira direta ou indireta, criando ou extinguindo órgãos que são ocupados por agentes públicos de maneira geral. 2. DO DIREITO ADMINISTRATIVO Como vimos no capítulo anterior, o poder era exercido completamente por uma única pessoa que, criava, julgava e executava as leis. Para diminuir o poder supremo deste, decidiram dividir os poderes de forma a esta pessoa não se tonar desproporcional e arbitrária perante as outras, e assim, tendo este, que, se submeter, também, às leis de igual forma. Com esse entendimento, as constituições passaram a ser a lei suprema em diversos países, organizando-os e dividindo-os em poderes distintos. Dessa forma a Administração Pública originou-se e com sua criação, houve, também, a necessidade de criação do direito administrativo para reger os agentes que seriam responsáveis para o funcionamento desta Administração. Estes agentes, são pessoas físicas que por meio de suas ações manifestam à vontade e agem em nome das pessoas jurídicas que elas estão vinculadas. Essas manifestações de vontade das pessoas jurídicas por intermédio dos agentes, geraram algumas teorias: Teoria do Mandato, Teria da Representação e Teoria do Órgão. 2.1. Teoria do Mandato Nesta teoria se caracterizava que o Estado por meio de uma procuração conferia poderes a seus agentes para que pudessem agir em nome dele. A principal crítica a este 13 instituto foi a de que o Estado não poderia confiar procuração pois não tinha vontade própria, logo, não poderia conceder delegação a ninguém. Ensina (MELLO, 2012) que entre agente público e o Estado haveria um contrato de representação, onde o Estado conferia poderes a este agente para agir em seu nome. 2.2. Teoria da Representação Esta teoria não prosperaria porque considerava-se o Estado como uma pessoa incapaz e então conferia sua tutela ao agente público para que o representasse. Porém, o conflito foi gerado porque se o Estado era considerado incapaz, como poderia ser válida a tutela que ele transferiria a alguém. Tanto a Teoria do Mandato quanto a Teoria da Representação também tiveram o fato questionado sobre a responsabilização do Estado quanto aos agentes que teriam desígnio de representa-lo, quando ultrapassassem os limites dos poderes conferidos a eles. Nesse sentindo, (MELLO, 2012) disciplina, [...] o Estado é como um incapaz, não podendo defender pessoalmente seus próprios interesses. Assim,o agente público atuaria exercendo uma espécie de curatela dos interesses governamentais[...] 2.3. Teoria do Órgão O Estado que tem em sua estrutura órgãos que o integram, teriam suas vontades manifestadas por estes órgãos. Logo, os agentes e os órgãos fariam parte da Pessoa Jurídica que é o Estado. Esta teoria é usada hoje tanto pela doutrina quanto pelas jurisprudências. Sendo assim, os atos dos agentes seriam atos do órgão que consequentemente seriam a força de vontade do Estado. Dessa forma a força de vontade do órgão é atribuída ao Estado, assim, passando este aspecto à imputação volitiva, que nada mais é que atribuir a vontade do órgão a pessoa jurídica que ele pertence. Nesse mesmo raciocínio (ALEXANDRE; DEUS, 2015) falam o seguinte: [...] o órgão é apenas parte do corpo do ente político ou da entidade administrativa, todas as manifestações de vontade dos órgãos são consideradas como manifestações de vontade da própria pessoa jurídica da qual fazem parte[...] 3. PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O misto de leis, das mais variadas, leis, jurisprudências, doutrinas e princípios, entre outros formam o nosso ordenamento jurídico, o qual todos tem como base nossa 14 Constituição Federal de 1988, que é o pilar para o nascimento constitucional de qualquer norma ou lei. Alguns princípios são explícitos e estão positivados em lei, seja em nossa Carta Magna ou em leis infraconstitucionais e outros são implícitos pois decorrem de lógica e interpretação do sistema de outros princípios ou de outras leis, logo, não precisam ser necessariamente positivados. Nesse sentido, detalharei alguns princípios que norteiam a Administração Pública para que esta seja tratada sob a égide da coletividade, interesse público e com total transparência e retidão e não em detrimento de um ou outro e para que os agentes não venham se apropriar indevidamente da coisa pública. 3.1. Princípio do Interesse Público sobre o Privado ou Princípio da Finalidade Pública Este princípio é extremante importante, sendo talvez, a base dos princípios do Direito Administrativo. Seu Próprio nome é explicativo demonstrando que o interesse público é superior aos interesses privados. Além disso, podemos embasar esse princípio com o art. 1º, Parágrafo Único da CF/88: (BRASIL, 1988) “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” Em uma leitura atenta do artigo podemos ver que todo poder provém do povo, logo, a atuação do Estado tem que ser de acordo com o texto constitucional, para o povo e com o interesse do povo e sua coletividade. Nessa senda, quem age de encontro ao princípio constitucional do interesse público sobre o privado, está infringindo princípio positivado e indo contramão ao que ensina nossa Constituição. 3.2. Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público É de conhecimento de todos que para podermos dispor de algo precisamos ser proprietários deste, dessa forma não posso vender, doar ou negociar de qualquer forma algo que não seja meu. Seguindo este raciocínio vemos que a Administração Pública não é titular do interesse público, mas sim, o povo, assim sendo, não pode dispor sem que haja benefícios à coletividade. A Administração Pública age e é tão somente a gestora desse interesse público e coletivo. 15 Significa dizer que o povo ou toda a coletividade, não pode, jamais, negociar ou renunciar este interesse. Para que o Estado haja em interesse do povo e para desenvolver diversas atividades e serviços à população, usa de atividades-meios e atividades-fim. Essas atividades que o Estado é incumbido de exercer para o bem e interesse público nada mais é que a função administrativa. Nesse sentido nasce na esfera doutrinária dois subprincípios voltados ao interesse público que é o Interesse Público Primário e o Interesse Público Secundário. O Interesse Público Primário é voltado ao as necessidades e precisões do povo como a segurança, saúde, educação dentre outros, que são justamente as atividades-fim. Já o Interesse Público Secundário é voltado para a própria manutenção do Estado, estando focalizado em gerar suas receitas para poder fazer funcionar a administração pública e do interesse público, que é, a atividade-meio. Podemos esclarecer a diferença entre o interesse público primário e secundário com as palavras do ilustre Celso Antonio Bandeira de Mello: ...independentemente do fato de ser, por definição, encarregado dos interesses públicos, o Estado pode ter tanto quanto as demais pessoas, interesses que lhe são particulares, individuais, e que, tal como os interesses delas, concebidas em suas meras individualidades, se encarnam no Estado enquanto pessoa. Estes últimos não são interesses públicos, mas interesses individuais do Estado, similares, pois (sob o prisma extrajurídico), aos interesses de qualquer outro sujeito... Destarte, aferimos das palavras do altivo autor, que quando ele se refere ao interesse público secundário do Estado não podemos confundir com os interesses públicos propriamente ditos. 3.3. Princípio da Legalidade Este princípio, que deriva do princípio da Supremacia do Interesse Público, pois fundamenta-se na ideia que o Estado, seus órgãos e instituições e, também, seus agentes, bem como os agentes particulares devem obediência no que prever a lei. Deste modo, o que verificamos é que o particular pode fazer exatamente tudo que a lei não proíbe, enquanto o Estado só poderá fazer o que a lei permitir. Dessa forma ensina (MEIRELLES, 2016, p. 93): A lei para o particular significa “pode fazer assim”; para o administrador público significa "deve fazer assim", caso o servidor público desvie a sua finalidade cometerá ato ilícito, e irá se expor à responsabilização administrativa, civil e criminal, conforme cada caso. 16 Portanto, os agentes quando agirem em nome do Estado só podem fazer exatamente o que está previsto e expresso na lei, e, fazemos a dedução que todo o restante, em princípio, é errado e ilícito. É pertinente ressaltar que a legalidade se divide em duas: PÚBLICA e PRIVADA. Princípio da Legalidade Pública – Esta somente pode agir com previsão expressa em lei, conforme o art. 37, caput, da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Portanto, a administração direita, indireta e todos aqueles que se relacionam com Administração Pública, devem obediência aos princípios constitucionais sendo eles positivados ou não. Podemos aferir, então, que a legalidade pública possui natureza restritiva, pois a Administração Pública só pode realizar o que está previsto em lei. Princípio da Legalidade Privada ou Ampla – Nesta situação podemos absorver que o particular é livre para agir e realizar seus anseios e vontades, exceto, as proibições em lei, como dispõe o art. 5º, II, da Constituição Federal, in verbis “art. 5º, II. ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.” (BRASIL, CF/88, atualizada até emenda 105/2019). Dessa forma e analisando o texto constitucional, na legalidade privada todos podem fazer e deixar de fazer o que achar necessário, salvo com expressa disposição em lei. Destaco, ainda, que em nosso ordenamento jurídico há algumas exceções em casos excepcionais para o princípio da legalidade, que são: Medidas Provisórias, estado sítio e estado de defesa. Porém, mesmo tratando-se de casos excepcionais do princípio da legalidade, estes atos, ainda assim, têm dispositivos legais para suas tramitações e usos. 3.4. Princípio da Impessoalidade Este princípio tem o dever de proteger a imparcialidade no interesse público e coletivo, para que, deste modo, venha impedir privilégios, bem como discriminação dispensadas a particulares no exercício da administração pública. Tem a finalidade, também, de imputar as ações dos agentes públicosàs pessoas jurídicas que eles entejam vinculados e não a sua pessoa física. Destarte, Celso Antonio Bandeira de Mello descreve, (MELLO, 2012): A Administração tem de tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo, nem perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa. 17 Portanto, podemos avaliar deste princípio que a todos a os agentes públicos é vedada a promoção pessoal, como leciona (MAZZA, Guia Completo de Direito Administrativo p. 5-6), “as propagandas de Governo não poderão ter nomes, símbolos ou imagens que caracterizam promoção pessoal de autoridade ou agente público.” Destacamos aqui, exemplificamente, que os governantes e detentores de cargos públicos eletivos não podem imputar as ações às suas pessoas, mas sim, das pessoas jurídicas a que eles são vinculados. Deste modo, os agentes públicos tem que ter o cuidado e a moralidade de não se promover às custas do Estado, pois este, como sabemos, é público e de todos e deve todas as ações serem dirigidas a coletividade, logo, não se confunde a promoção do Estado com as das pessoas físicas que agem em seu nome. 3.5. Princípio da Moralidade Este princípio, talvez seja o mais importante para nossa lição e o que a lei de improbidade tende a punir. Por conseguinte, ato ímprobo é aquele dotado de má-fé e desprovido de honestidade. Dessarte, aquele que fere o fundamento sem sombra de dúvidas, deve responder por sua ação. Cabe ressaltar que o termo moral é muito extenso e de distintas interpretações, podendo, ainda, algo ser imoral para mim e não para você. Em tempos distintos, algo legal poderia ser tratado como imoral. No âmbito privado, por exemplo, as pessoas não podem se utilizar de expertises e artimanhas para se dar bem em cima de outrem com menos capacidade cognitiva, por exemplo. Para (ALEXANDRE; DEUS 2015), eles descrevem o que seria a moralidade no direito administrativo: [...] a moral administrativa é aquela que determina a observância a princípios éticos extraídos da disciplina interna da administração. Nesse ponto devemos deixar claro que não existe um conceito legal ou constitucional de moralidade administrativa. Na verdade, trata-se de um conceito jurídico indeterminado, a ser formatado pelo entendimento da doutrina e jurisprudência. Com efeito, o princípio da moralidade diz respeito à noção de obediência aos valores morais, aos bons costumes, às regras da boa administração, aos princípios da justiça e da equidade, à ideia comum de honestidade, à ética, à boa-fé e à lealdade. Com uma leitura atenta no que ensinam os autores, podemos aferir que os princípios éticos que a doutrina e conceitos jurisprudenciais adotaram, não são princípios positivados que definam a moralidade, mas sim, que foram extraídos do próprio direito que pudessem definir moralidade no âmbito da administração pública. Esses princípios devem ser obedecidos por todos, tanto os agentes que agem em nome do Estado, quanto os particulares que forem se relacionar com a Administração Pública. 18 Podemos verificar os atos que ofendam a moralidade nos agentes públicos quando usam de nepotismo, facilitam algo dentro da administração para obter vantagem, quando tentam se promover pessoalmente com meios de publicidade do governo. E os particulares quando tentam fraudar um concurso por meio de colas ou mesmo quando montam esquemas para se beneficiarem em licitações. (ALEXANDRE, DEUS, 2015). É cediço, que se deve ter muito cuidado ao verificar se determinado ato pode ser recriminado como ato de improbidade, pois as vezes, podem os agentes comete-los sem intenção de causar danos ou prejuízo ao erário e nem mesmo com intenção de tirar vantagem. Isso não quer dizer que condutas ruins e imorais não existam, mas apenas que é algo que deve ser tratado com extrema cautela para não punir pessoas que agiram sem dolo e com a intenção de acertar. 3.6. Princípio da Publicidade A administração pública deve ter mais ampla transparência possível em seus atos, ressalvados suas exceções. Nossa Constituição Federal assegura em seu art. 1º, Parágrafo Único (BRASIL, 1988), que todo poder emana do povo, logo, nada mais sensato e democrático que o principal dono do poder, seja assegurado, como está sendo e será aproveitado todo o recurso público. Nesse sentido, cabe a qualquer cidadão, que são fiscalizadores natos do dinheiro e da coisa pública, vigiar e denunciar qualquer ato que desabone a moral e transcorra fora da seara da lei aos órgãos competentes. Portanto, todos os cidadãos, assim como os órgãos competentes têm direito de fiscalizar a administração pública, seja para alcançar informações de seu interesse pessoal ou coletivo, bem como fazer o controle para que haja punição aos que transgredem a lei. Contudo, as exceções que mencionamos, cabe quando coloca em risco o Estado e toda sua sociedade. Para (ALEXANDRE, DEUS, 2015), os vencimentos dos servidores públicos não podem se configurar como violação da intimidade, pois este, advém de sua atuação pública, assim como sumulado pelo STF. [...] contudo, o fato de o STF haver decidido que a divulgação dos vencimentos brutos mensais dos servidores, como medida de transparência, não viola a intimidade ou a vida privada do servidor, uma vez que tal medida se refere à atuação dele enquanto agente estatal. Por conseguinte, a Corte entendeu que a exigência legal da publicação de tais dados é constitucional, deixando registrado que, para amenizar os possíveis riscos à segurança física do servidor, não é possível divulgar o seu endereço residencial e os números do seu CPF e da sua carteira de identidade (STF, Plenário, SS 3.902, j. 09.06.2011). 19 Nessa senda, podemos verificar que o princípio da publicidade não é absoluto assim como os demais princípios, tendo que ser analisado caso a caso. (ALEXANDRE, DEUS, 2015), A fim de disciplinar essa publicidade em todos os entes públicos e todas as esferas, Federal, Estadual, Municipal e no Distrito Federal, foi criada a Lei 12.527/11 (BRASIL, 1988), a chamada Lei da Transparência ou Lei de Acesso à Informação. Ademais, nessa publicidade que o Estado tem obrigação legal de fazer, não poderá ter publicização que caracterize promoção pessoal, pois assim, estará sendo violado o princípio da moralidade e impessoalidade, restando sanções a quem infringir 3.7. Princípio da Eficiência Este princípio só surgiu e teve envergadura de princípio constitucional com a Emenda Constitucional nº 19/1998, e foi inserido no art. 37 da Constituição (BRASIL, 1988). A administração pública além de ser exercida com moralidade e impessoalidade, tem que ser prestada e oferecida com qualidade, prontidão e que satisfaça a coletividade. A administração Pública deve preocupar-se não apenas com sua estrutura, mas também com seus resultados. Como nestes resultados para administração pública não significa lucro, ela tem a preocupação de oferecer seus serviços com a melhor satisfação possível paro o povo, para a coletividade. Com esse novo princípio e tendo que oferecer o melhor para o povo e gastando o mínimo quando se pode, os entes e órgãos públicos começam a criar mecanismos para aferir estes resultados. Temos a prestação de contas, por exemplo. Cito como exemplo pessoal, minha cidade onde mantenho residência, São José de Ribamar-MA, onde os últimos 3 prefeitos fazem reuniões mensais com o secretariado, diretores de órgãos, coordenadores de programas que compõem a administração para avaliação de resultado e assim traçarem metas e consertar atividades que não estão surtindo efeito. Apesar de ter que apresentar resultados firmes e satisfatórios, o princípio da eficiência não pode extrapolar outros princípios, passar por cima da lei e da honestidade para cumprirestas metas. A sociedade não espera apenas que administração pública tenha agentes probos, mas que estes ajam em nome do Estado com qualidade, eficiência, gastando pouco e em tempo razoável, prestando, assim, serviços em menos tempo e gastando pouco como diz (ALEXANDRE, DEUS, 2015). 20 4. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Nos dias atuais, temos visto esse termo mais vezes que gostaríamos de ver em jornais impressos e falados, blogs, revistas, rádios e em diversos outros meios de comunicação. Políticos das mais diferentes safras, idades, partidos envolvidos em corrupção passiva, desvio de verbas públicas, favorecimentos para se dar bem, entre outros. A moralidade e a legalidade estão sendo a todo instante pisoteadas e jogadas no lixo. Nossos governantes tem feito muito mais por eles próprios que o povo, o qual foram eleitos ou nomeados para atenderem com presteza e honestidade. Entretanto, temos que fazer distinção entre o ato de improbidade e atos que fogem a moralidade. Para (CARVALHO, 2017) descreve: [...] a noção de improbidade não se confunde com a de imoralidade, sendo esta uma espécie daquela. O agente ímprobo sempre se qualificará como violador do princípio da moralidade, contudo, nem todo ato de improbidade tipificado em lei corresponde a violação ao princípio da moralidade. Portanto, temos que ter noção que a honestidade, a boa fé e agir de forma digna são características essenciais para se ter agentes probos. Dessa forma, sabendo que nem todas as pessoas agem com decoro, honestidade e boa-fé, características necessárias para uma boa administração, é que, se tem mecanismos para a contenção dessas más ações e sanções previstas em nossa CF, em seu art. 37, §4º (BRASIL, 1988), que cita algumas sanções, vejamos: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.” Destarte, mesmo nossa Carta Magna regulando algumas sanções, a Lei nº 8.429/92 (BRASIL, 1988), que é a Lei de Improbidade Administrativa, é que regulará as ações que serão tidas como improbidade e suas sanções em sintonia com Lei máxima, com um rol bem mais extenso. Vejamos o que José dos Santos Carvalho Filho trata sobre o assunto (CARVALHO FILHO, 2012). [...] ação de Improbidade Administrativa é aquela em que se pretende o reconhecimento judicial de condutas de improbidade na Administração, perpetradas por administradores públicos e terceiros, e a consequente aplicação das sanções legais, com o escopo de preservar o princípio da moralidade administrativa. Deste modo, a Lei de Improbidade Administrativa veio para moralizar a Administração Pública, colocando limites nas ações dos agentes que a compõem e limitando, principalmente, aqueles que agem de modo a atingir a administração negativamente. A Lei 21 tem como base 5 vertentes que são para atingir seu objetivo que são: Sujeito Ativo, Sujeito Passivo, Tipos de Improbidade, Sanções e Procedimentos. Cabe mencionar que a não se deve aplicar a Lei de Improbidade para Meras condutas de irregularidades, pois estas devem ser tratadas e punidas na esfera administrativa, por meio de procedimento disciplinar. Ressalta-se que não será configurado o ato de improbidade apenas se houver algum dano ao erário, pois este, poderá se configurar por violação dos princípios que regulam a Administração Pública, como ensina a Lei de 8.429/92 em seu Art. 11 (BRASIL, 1988). Os atos de Improbidade podem ser os que: Importam o Enriquecimento Ilícito, Causam Prejuízo ao Erário, Concessão ou Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário e Atentam Contra os Princípios da Administração Pública. Antes de tratarmos sobre cada um destes atos que implicam em improbidade, é pertinente que discorramos sobre os sujeitos que que serão os protagonistas desses atos. Assim, vejamos. 4.1. Sujeito Ativo A Lei de Improbidade, logo em seu art.1º e Parágrafo Único (BRASIL, 1988), destaca são os sujeitos ativos e quem responderá por atos de improbidade, in verbis: Art. 1º Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta Lei. Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. Logo podemos perceber que todos os agentes públicos estão na seara de sujeito ativo, que praticarem atos ímprobos contra a administração pública em todos os sentidos e até mesmo entidades que aferem dinheiro público tanto para sua criação ou manutenção. No Art. 2º podemos verificar que os agentes públicos são pessoas físicas que possui cargo público, emprego público, mandato, função pública por meio de nomeação, eleição, designação, contratação ou qualquer outra forma ou vínculo, ainda que, a função seja transitória e não remunerada. 22 Contudo, o STF, tem interpretado que como a Lei de Crimes de Reponsabilidade tem sanções cíveis, que a lei é responsável em punir agentes políticos, não seria pertinente usar a lei de improbidade também, pois seria duas punições, bis in idem. Porém, o STJ tem firmado entendimento que os agentes políticos podem sim, responder tanto pela Lei de Improbidade quanto pela de Responsabilidade, salvo o Presidente da República e Ministros de Estado quando praticarem atos associados com o presidente, responderão por crime de Responsabilidade. Vale ressaltar, que o particular também poderá ser sujeito ativo e responder por improbidade administrativa, desde que, acompanhado por um agente público induzindo-o, concorrendo ou se beneficiando. Logo, o particular sozinho não é sujeito ativo. Nessa senda, os agentes públicos são sujeitos ativos próprios e os particulares são sujeitos ativos impróprios. Essa classificação de impróprios para os particulares é uma classificação doutrinária. Para tanto, vemos no julgado do STJ que para o agente ser punido na forma da Lei de Improbidade, é necessário que seja demonstrado o dolo ou menos o dolo genérico em sua ação. Assim vejamos: ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. SECRETÁRIO MUNICIPAL. FRACIONAMENTO IRREGULAR DO OBJETO LICITATÓRIO. ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO GENÉRICO. COMPROVADO. REVISÃO DAS PENALIDADES. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. A Primeira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, nos autos do REsp 951.389/SC, firmou jurisprudência no sentido de que, para a configuração do ato de improbidade que atenta contra os princípio da Administração Pública, faz-se necessária a análise do elemento volitivo, consubstanciado pelo dolo, ao menos genérico, de agir no intuito de infringir os princípios regentes da Administração Pública[...] 4.2. Sujeito Passivo Aqui, é toda a Administração Pública, Direta e Indireta. Cediço que empresas incorporadas ao patrimônio público também podem figurar como sujeito passivo, bem como entidades privadas que possua dinheiro. Nos casos das entidades privadas, às que possuem capital público em mais de 50% (cinquenta por cento), são consideradas de patrimônio público. Já as que possuem menosde 50% (cinquenta por cento) de dinheiro público, as sanções patrimoniais estarão limitadas repercussão do prejuízo ao erário público, conforme ensina o Parágrafo Único do Art.1º da LIA (BRASIL, 1988). Para (MAZZA, 2012) o sujeito passivo” [...] é a entidade que sofre as consequências do ato de improbidade administrativa”[...] 23 4.3. Tipologia da Improbidade É possível verificarmos os tipos de improbidade nos artigos de 9º a 11 na LIA. Onde o art. 9º trata do enriquecimento ilícito, art. 10 trata do Prejuízo ao Erário e art. 10-A trata da Concessão ao Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário e art. 11 trata dos Atos que Atentam Contra os Princípios da Administração Pública. Cabe ressaltar que o art. 10-A foi acrescentado em 2016 por meio da Lei Complementar 157, de 29/12/2016 (BRASIL, 1988). 4.3.1. Enriquecimento Ilícito O art. 9º detalha que enriquecimento ilícito é quando o agente público em razão de sua função afere vantagem da administração direta e indireta, bem como as entidades privadas com participação de dinheiro público para si ou para outrem. Nessa senda, vejamos o julgado do Superior Tribunal de justiça no Recurso Especial 20100056467-1. ADMINISTRATIVO E SERVIDOR PÚBLICO. LEI Nº 8.429/92. AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONSELHEIRO TUTELAR. UTILIZAÇÃO IRREGULAR DE VEÍCULO E DE MOTORISTA OFICIAIS PARA FINS PARTICULARES. DOLO E ENRIQUECIMENTO ILÍCITO EVIDENCIADOS. REDIMENSIONAMENTO DAS SANÇÕES APLICADAS. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. 1. Segundo o arcabouço fático delineado no acórdão, sobre o qual não há controvérsia, restou demonstrado o dolo do réu, no mínimo genérico, decorrente da reiterada utilização irregular de veículo e de motorista do Conselho Tutelar para o atendimento de interesses particulares, daí resultando inescapável enriquecimento ilícito[...] Percebemos nesse julgado que a ação repetida de um agente público em utilizar um veículo público configurou o enriquecimento ilícito e, restando, assim, demonstrado o ato de improbidade. 4.3.2. Prejuízo ao Erário Público Já o art. 10 preceitua que será caracterizado ato de improbidade o que causar lesão ao erário tanto por ação quanto por omissão e desses causem perda de patrimônio, desvio, apropriação, desperdício ou dilapidação de bens e coisas de todas as formas dos entes públicos. 24 4.3.3. Concessão a Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário Está disciplinado no art. 10-A da LIA, que descreve que a ação ou omissão que venha conceder, aplicar ou manter algum benefício financeiro ou tributário que está disposto na Lei Complementar 116/2003 no art. 8º-A, § 1º (BRASIL, 1988), caracterizará o ato de improbidade deste estudo. 4.3.4. Atentam Contra os Princípios da Administração Pública O art. 11 ensina que para incorrer neste ato de improbidade tem que agir ou deixar de agir em respeito aos princípios da Administração Pública ou mesmo deixar de respeitar a honestidade, imparcialidade, legalidade e ser leal as instituições públicas. Portanto, vemos as formas de agir ou deixar de agir para a configuração da improbidade administrativa e lembrando que para a configuração destas tem que ter como sujeito ativo os agentes públicos ou os particulares em conluio com algum agente. 4.4. Penalidades Dessa forma, nosso estudo passará a abordar as sanções para os atos de improbidade. Cabe mencionar que as penalidades para os atos de improbidade são cabíveis nas 3 instâncias judiciais, e que tais sanções tem natureza civil, sem prejuízo de responsabilidades administrativas e penais, como ensina (CARVALHO, 2017). Portanto, ao praticar os atos de improbidade os agentes estarão sujeitos aos processos administrativos, assim também procedimentos na seara penal. Assim define o art. 12 e seus incisos que quem incorrer nos atos de improbidade estará sujeito a perda de bens se configurado o enriquecimento ilícito, ressarcimento do dano causado ao erário, perda da função e suspensão dos direitos políticos por 5 a 8 anos mais multa. Assim o STJ tem julgado pacificamente seu entendimento, como veremos no Recurso Especial 1.664.834 – MS: ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. REJEIÇÃO DA INICIAL. ART. 17, § 8º, DA LEI 8.429/92. SUFICIÊNCIA PROBATÓRIA PARA O FIM DE AFERIR A INEXISTÊNCIA DE ATO ÍMPROBO OU A IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. PRECEDENTES. 25 1. Recurso especial em que se discute a existência de indícios da prática de atos de improbidade administrativa para o recebimento da inicial da ação civil pública. 2. É pacífico o entendimento no Superior Tribunal de Justiça segundo o qual é possível a rejeição da petição inicial da ação de improbidade quando o magistrado está convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita, consoante estabelece o art. 17, § 8º da Lei n. 8.429/92[...] Portanto, para que seja enquadrado nos atos de improbidade o agente precisa ter indícios que agiu com dolo e causou danos ao erário. 5. MERAS IRREGUARIDADES É bastante comum confundir meras irregularidades com atos de improbidade, no entanto, os tribunais tem sido bastante pacíficos em suas decisões que a justiça deve punir aqueles que agem de forma dolosa, aqueles desprovidos de honestidade, caráter e boa-fé. Nessa senda, temos que verificar o caso concreto para podermos distinguir uma da outra para não se punir aquele que agiu apenas com imperícia, mas que não tem a intenção de tirar proveito para si ou outrem e causar danos ao erário público. Nesse sentido, “o STJ vem sustentando que a LIA não deve ser aplicada para punir meras irregularidades administrativas, erros toleráveis ou transgressões disciplinares.” (MAZZA, 2015, p. 657). Vejamos em outras palavras: É importante mencionarmos que a lei de improbidade administrativa não deve ser aplicada para meras irregularidades ou transgressões disciplinares - pois essas serão punidas devidamente na instância administrativa, mediante a instauração de processo disciplinar, - mas, sim, visa resguardar os princípios da administração pública. (CARVALHO, 2015, p. 952). Destarte, veremos no julgado do STF quanto a este tema: ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A CONDUTA E O ATO ILÍCITO. MERA IRREGULARIDADE. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA NÃO CARACTERIZADO. [...]não restou comprovada prática de ato de improbidade administrativa, porquanto inexistente nexo de causalidade direto entre a conduta perpetrada pelo recorrente (solicitação de patrocínio) e a contratação direta da empresa. 3. A existência de meras irregularidades administrativas não enseja a aplicação das sanções previstas na Lei nº 8.429/1992[...] Portanto, não podemos analisar apenas o fato em si, mas a conduta como um todo e assim analisar se houve ao menos dolo genérico como a ensina o Egrégio STJ em seu acórdão. Para reforçar o entendimento vejamos o que entendeu o STJ em seu acórdão sobre este dolo genérico: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. IRREGULARIDADE EM PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. ATO QUE ATENTA CONTRA OS PRINCÍPIOS DA 26 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO GENÉRICO COMPROVADO. [...]nota-se que efetivamente houve dolo, ao menos genérico, no sentido de frustrar procedimento licitatório, valendo destacar fundamento e constatação do Juízo singular a respeito da controvérsia: "(...) A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, nos autos do REsp 951.389/SC, firmou jurisprudência no sentido de que, para a configuração do ato de improbidade que atenta contra os princípio da Administração Pública (Art. 11 da LIA), faz-se necessária a análisedo elemento volitivo, consubstanciado pelo dolo, ao menos genérico, de agir no intuito de infringir os princípios regentes da Administração Pública[...] Continuando o raciocínio, a punição deve ser feita com a análise de cada caso concreto, pois em algumas situações não merecem punições, haja vista que erros comuns e sem dolo, praticados de boa-fé podem atingir quaisquer pessoas, inclusive as honestas. Restando, assim, aplicar o princípio da insignificância a essas pessoas, pois sua conduta não passou apenas de um mero erro ou irregularidade tolerável para a sociedade média a qual vivemos. É nesse sentido que Egrégio Superior Tribunal de Justiça não tem aplicado as penalidades que a Lei de Improbidade Administrativa nesses casos. Não se pode afastar, também a punição por danos culposos como o art. 10 da LIA ensina. Entretanto, para aplicar a lei de improbidade nessa situação, a culpa deve ultrapassar a mera irregularidade. Deste modo, não podemos falar em punição ao agente que mesmo dotado de honestidade e de boa-fé sofra consequências por um erro culposo, sendo que este praticou todos os atos na intenção de acertar. Portanto, para que sejam tomadas as providências necessárias o controle deve ser feito por todos que tenham condições. O controle pode ser feito na esfera judicial, legislativa, bem como pela própria administração Pública. Para agir de forma a não ter que usar a lei de improbidade, pode ser feito por processo disciplinar, que visa punir administrativamente, porém com menor alcance que a LIA. Destarte, a Administração para zelar sua moralidade deve agir sempre que necessário assim como seus agentes, relatando erros e atos que vão de encontro as normas padrões aos órgãos controladores e a sociedade. 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa em questão teve o intuito de diferenciar, distinguir as ações que são tipificadas como improbidade administrativa e as de meras irregularidades. Seguimos com uma análise histórica, apresentamos os princípios que norteiam a administração pública. Mostramos, também, que os agentes devem zelar a administração pública, bem como ter como base o princípio da legalidade e interesse público em suas ações. Percebemos que não podemos fazer apreciações precipitadas, haja vista que ninguém deve ser unido pela Lei de Improbidade se agiu de moda a acertar sem dolo de causar prejuízo ao erário público nem tentou tirar proveito para si ou outrem. Vimos as espécies de improbidade e que vai de uma maior para a menor, mas cada uma com sua responsabilização necessária à administração pública. Em meio a uma sequência de atos ímprobos que vemos diuturnamente nos jornais, revistas e outros meios de comunicação, percebemos que a LIA precisa ser aplicada de forma correta e examinada em cada caso concreto para não termos atitudes arbitrárias e não sobrecarregarmos o judiciário com atitudes já julgadas por ele e absolvições. Destarte, o material tem informações relevantes e importantes a estudantes de direito, bem como quem faz concurso e extremamente importante para a área do direito administrativo. No mais, percebi com o referido estudo que temos agentes públicos, especialmente, os políticos, que temos que elaborarmos leis que preconizem pessoas com o mínimo de estudo e saber das leis para que quando cheguem ao poder não percamos mais recursos públicos que já fora perdido. Nessa senda, friso novamente que lei de improbidade veio para punir os agentes ímprobos e não os inábeis e que agem de boa-fé. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDRE, Ricardo; DEUS, João de, Direito Administrativo Esquematizado, São Paulo, Método, 2015 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. _______. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 05 de outubro de 1988, atualizada até emenda 105/2019. Brasília, Supremo Tribunal Federal, Subsecretaria de documentação, 2019. Artigo 37, caput. Disponível em: https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf. Acesso: 26 mar. 2020. _______. Lei nº 8.429 de 02 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 03 jun.1992. Seção 1. ________. Lei nº 8.429 de 02 de junho de 1992. Dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 03 jun.1992. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1992/lei-8429-2-junho-1992-357452- normaatualizada-pl.pdf. Acesso em: 29 mar. 2020. _________. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1664834/MG (2017/72987-3). Recorrente: Ministério Público do Estado do Mato Grosso do Sul. Recorrido Nelson Trad Filho. Relator: Ministro Benedito Gonçalves. 17 abr. 2017. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroUnico&termo=1 4052177320168120000&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea. Acesso em 29. mar. 2020. _________. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1561858/RS (2012/0195745- 1). Recorrente: José Dilamar Vieira da Luz. Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul. Relator: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 https://www.stf.jus.br/arquivo/cms/legislacaoConstituicao/anexo/CF.pdf https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1992/lei-8429-2-junho-1992-357452-normaatualizada-pl.pdf https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1992/lei-8429-2-junho-1992-357452-normaatualizada-pl.pdf https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroUnico&termo=14052177320168120000&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?tipoPesquisa=tipoPesquisaNumeroUnico&termo=14052177320168120000&totalRegistrosPorPagina=40&aplicacao=processos.ea 29 Ministro Sérgio Kukina. 17 set. 2012. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=2012%2F0195745- 1&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMo rto=MORTO. Acesso em 29. mar. 2020. _________. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 754498/RS (2015/0187918-0). Recorrente: Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul. Recorrido: Neverton Ribeiro Moraes. Relator: Ministro Sérgio Kukina. 06 ago. 2015. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?termo=+2015%2F0187918- 0&aplicacao=processos.ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&chkordem=DESC&chkMo rto=MORTO. Acesso em 30. mar. 2020. CARVALHO, Mateus. Manual de Direito Administrativo. 4ª ed. JusPODIVM, 2017. p. 3 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 23 ed. Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2012. HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, 1651. KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. [Tradução João Baptista Machado] 6. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1999. Disponível em: https://portalconservador.com/livros/Hans- Kelsen-Teoria-Pura-do-Direito.pdf. Acesso: 26 mar. 2020. MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 4. ed. 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Curso de direito administrativo, 27. ed. São Paulo, 2010, p. 65-66. MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel. Direito administrativo brasileiro. 42. ed. até a Emenda Constitucional 90/2015. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 93. ROUSSEAU, Jean-Jaques, DO CONTRATO SOCIAL – Princípios do Direito Político. São Paulo, Pilares, 2013. Disponível em: https://books.google.com.br/books/about/Do_contrato_social.html?id=Li2kAgAAQBAJ&printsec=fr ontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false. Acesso: 26 mar. 2020. https://books.google.com.br/books/about/Do_contrato_social.html?id=Li2kAgAAQBAJ&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false https://books.google.com.br/books/about/Do_contrato_social.html?id=Li2kAgAAQBAJ&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
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