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Prof. Fernando Henrique Cavalcante de Oliveira Doutor Educação(Unicamp) Mestre em Ciências Sociais(Mackenzie) Pós-graduado em Administração de Negócios e Gestão Educacional Licenciado em Pedagogia/ História/ Teologia e Bacharel em Odontologia O Biodireito como visão interdisciplinar nas questões ético-religiosa e jurídicas frente aos discursos teológicos no espaço acadêmico e profissional A ciência sem consciência não é senão a ruína da alma Rabelais Pressupostos da bioética Crise da razão → cientificismo Raízes históricas : Descartes, Copérnico, Galileu, Newton (influenciaram decisivamente a constituição da ciência ao longo de 4 séculos). Concepção mecanicista do mundo Diretrizes da ciência newtoniana Fragmentação do conhecimento Compartimentalização do saber Procedimento analítico/modelo matemático do conhecimento O controle e a manipulação da natureza (determinismo causal → regularidade/previsibilidade) A afirmação de verdades (científicas) absolutas Bioética Bios (vida) + ethos (conduta) Ética da vida A crise gerada por esse modelo, estimulou o aparecimento de uma nova dimensão da ética: a bioética Bioética Interação entre a vida e o universo das normas e valores Ela reflete a tensão entre ética e técnica, entre ciência e consciência A bioética constitui-se como uma tentativa de humanizar o progresso científico e a visão técnico- instrumental que o indivíduo tem do mundo “O fazer deve coincidir com o saber servir-se daquilo que se faz” Platão Tecnociência Fonte de complicados dilemas éticos, geradores de angústia, ambivalência e incertezas A modernidade nos fez acreditar que a tecnologia tornaria mais feliz a nossa vida e menos penosa a nossa morte Bioética Campo de questões, nova disciplina ou ciência de interfaces? Qual o seu estatuto, seus métodos e fins? Fatores que contribuíram para o surgimento da bioética: Tecnicização das formas de vida Hegemonia da razão instrumental Avanço material vertiginoso Novo modelo de civilização Isolamento do homem moderno Individualismo burguês Dimensão filosófica da crise Desencantamento do mundo (Weber) Mitologização da Razão (Adorno/Horkheimer) Unidimensionalização do Homem (Marcuse) Mal-estar da civilização (Freud) O homem maquinal (Beaudrillard) Tal cenário suscitou a necessidade de : Mudança dos valores sociais Negação dos avanços desordenados da ciência Repensar a insuficiência da ética médica para resolver os problemas postos pela democratização dos saberes, pelo pluralismo dos valores e pela secularização dos costumes Garantir os espaços de manifestação da liberdade Conter a ação desordenada do homem sobre o meio-ambiente Criticar o predomínio do modelo instrumental nas ciências da vida Respeito à vida e aos direitos humanos Negar o modo de vida mecanicista e a despersonalização do indivíduo no mundo sistêmico A bioética, enquanto disciplina ou campo de reflexão sistemático sobre a relação ciência-consciência, surge em 1970 com a obra Bioethics: bridge to the Future de Van Rensselaer Potter. 1º momento: reflexão aplicada às ciências da vida. 2º momento: disciplina, domínio, campo de discussão. Hoje A bioética é um universo multidisciplinar Dimensão pluralista, aberta, multifacetada Bioética Ponte entre o saber científico e o saber humanista Reflexão sobre o dever-ser em ciência Fruto da evolução do saber e das novas concepções geradas pela biologia, sociologia, medicina, teologia, direito, filosofia... OBJETIVO Humanizar o progresso científico e a visão técnico-instrumental que os indivíduos têm do mundo, uma vez a o uso inapropriado da ciência pode conduzir a uma desumanização do homem Questões fundamentais da bioética Inseminação artificial/fecundação in vitro/ Clonagem/ manipulação genética/experimento com embriões A intervenção sobre o cérebro e a manipulação da personalidade A questão da identidade dos indivíduos/ o eugenismo e o ideal de perfeição humano O aborto, a eutanásia e a questão acerca do direito de viver e morrer A relação entre profissionais de saúde e enfermos/ a mercantilização da medicina A relação entre poder-saber-dever/ o srugimento do homem maquinal O respeito à dignidade humana e as populações excluídas pelo modelo de civilização ocidental A bioética é a expressão teórico-prática da consciência moral de um novo tipo de homem no seio de uma nova civilização Os problemas morais não encontram respostas no seio da cultura científica em que nascem A essência do bem escapa a toda definição científica Os princípios da bioética Autonomia→ consentimento livre e esclarecido. Beneficência (fazer sempre o bem) Não maleficência (não causar dano / primum non nocere) Justiça (tratar cada um com igualdade e eqüidade) A bioética revela: O conflito entre natureza e cultura O fato de que nem tudo que é cientificamente possível é humanamente desejável Que não existem valores universais ou fórmulas acabadas capazes de resolver todos os dilemas referentes à relação conhecimento-liberdade- responsabilidade Porém, deve-se reconhecer que: Não se pode eliminar da consciência da humanidade o desejo de progresso e crescimento materiais A razão instrumental, não obstante os malefícios causados pelo seu mau emprego, é imprescindível às sociedades humanas modernas. A dinâmica do progresso científico é irrefreável. Questões A ciência é responsável pelo cientificismo? O progresso técnico-científico pode garantir a liberdade e o respeito à dignidade dos indivíduos? Qual o preço que devemos pagar pela vertiginosa marcha da ciência e pelo seu emprego desmesurado? Estamos também progredindo moralmente? É mesmo admirável esse mundo novo? As discussões bioéticas geradas pela emergência das novas tecnologias e pela prática dos operadores científicos fizeram surgir uma nova vertente do saber jurídico preocupada em responder a tais dilemas: O BIODIREITO Impasses e incertezas Mudança do genótipo → repercussões psico-somáticas e espirituais Problemas referentes ao modo de estruturação da personalidade (crise de identidade) A reprodução humana tende a tornar-se uma questão de zootecnia A era do artifício, do in vitro. Triagem genética de embriões (fascínio/fascismo do belo) A questão da purificação étnica Nem todo direito de escolha é saudável O controle da natureza e de seus acidentes O conhecimento mortífero do ser humano A ação desmesurada da potência tecnocientífica O mundo virtual e a angústia da solidão (eu narcísico) A monadização (isolamento do homem) e a náusea existencial A mecanização da produção e o desemprego em massa O controle sistemático do indivíduo (panoptismo, televigilância...) O culto ao supérfluo, ao descartável, à novidade Bioética e direitos humanos O que é a verdade em matéria de ciência e tratamento? Certas verdades científicas podem se sobrepor às verdades sociais e culturais? É moralmente correto obrigar uma pessoa a seguir um tratamento que lhe pode salvar a vida? Qual a fronteira entre a obrigação profissional e o direito do indivíduo de escolher o pior para si mesmo? A vida humana deve ser preservada independentemente de sua qualidade? Temos o direito de escolher o modo de morrer? Pode o desejo de morrer ser excluído do projeto humano de viver? É lícito adiar o morrer prolongando o sofrer? Vale a pena prolongar a vida física de quem já perdeu a dignidade de viver? Os direitos humanos são ainda violados nos seguintes casos: Os erros diagnósticos e as imposições terapêuticas O descumprimento dos deveres de humanidade O desrespeito à autonomia, à privacidade e ao sigilo A despersonalização do paciente e a banalização da doença A insensibilidade diante do sofrimento alheio CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O DISCURSO RELIGIOSO Direitos individuais básicos: vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade (art. 5o, caput). O direito à vida deve ser entendido em sua forma mais ampla, nele inseridos o direito de nascer, de permanecer vivo, de morrer de maneira natural ou inevitável (SILVA, 2008). Fundamento legal: Constituição Federal, no artigo 1º, III – dignidade da pessoa humana e no artigo 5º, VI – liberdade religiosa. CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O DISCURSO RELIGIOSO A questão é polêmica, mas a jurisprudência tem decidido no sentido de que o direito à vida se sobrepõe à liberdade de crenças religiosas. Nesse sentido: TESTEMUNHAS DE JEOVÀ – Necessidade de transfusão de sangue, sob pena de risco de morte, segundo conclusão de médico que atende o paciente – Recusa dos familiares com apoio na liberdade de crença – Direito à vida que se sobrepõe aos demais direitos – Sentença autorizando a terapêutica recusada – Recurso desprovido (Ap. n. 132.720- 4/9, 5ª Câmara de Direito Privado, Rel. Boris Kauffmann, 26.06.03). CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O DISCURSO RELIGIOSO Assim, se com base em sólido entendimento médico-científico, ainda que divergências existam a respeito, para a preservação daquele direito seja necessária a realização de terapias que envolvam transfusão de sangue, mesmo que atinjam a crença religiosa do paciente, estas terão de ser ministradas,pois o direito à vida antecede o direito à liberdade de crença religiosa. “Não importa o que se fez do homem, mas o que iremos fazer com o que fizeram dele” Sartre
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