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5 - O Transexual no Contexto Jurídico Brasileiro

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jusbrasil.com.br
27 de Abril de 2017
O Transexual no Contexto Jurídico Brasileiro
O Direito como Instrumento Promotor de Dignidade Social e Sexual.
A história da humanidade é marcada pela intolerância e pela repulsa ao diferente,
assim sendo, as minorias sempre foram alvo de discriminações por parte de uma
maioria de certa forma homogênea. No entanto, enquanto o estágio primitivo de
evolução intelectual, social e humano em que as sociedades se encontravam até
meados da primeira metade do século XIX, ou seja, anterior a um contexto
marcado pelos movimentos burgueses e pelas profundas transformações na
sistemática de toda a sociedade, principalmente no que concerne ao sistema social
e educacional que se tornaram menos estratificados, permitia, até certo ponto,
justificar tal segregação, o que não ocorre em relação ao atual nível de evolução
atingido pela sociedade, que não permite tamanha ausência de empatia.
O transsexual é uma figura que infelizmente está incluída dentre as fatias do
organismo social que estão marginalizadas, não havendo qualquer argumento que
possa justificar a incapacidade de certa parcela da sociedade em enxergar nos
transsexuais a sua semelhança.
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O CONCEITO DE TRANSSEXUALIDADE E
SUAS DIFERENÇAS COM A
TRAVESTILIDADE, A HOMOSSEXUALIDADE
E A BISSEXUALIDADE.
Precipuamente, antes de adentrarmos ao tema proposto, faz­se necessária a devida
conceituação do termo transsexualidade, bem como a diferenciação deste em
relação a figuras distintas, como travestilidade, homossexualidade e
bissexualidade.
Destarte, a fim de chegarmos a um conceito contemporâneo de transsexualismo, é
indispensável mencionar o trabalho do Dr. Harry Benjamin, endocrinologista
alemão que foi um dos pioneiros no que concerne ao estudo da transsexualidade
na área da medicina. Benjamin foi o cirurgião responsável pela operação de
Christine Jorgensen, no ano de 1952, que se tornou uma das primeiras pessoas no
mundo a ser submetida a uma operação de mudança de sexo. Posteriormente, no
ano de 1966, o Dr. Benjamin publicou a sua obra de maior impacto intitulada ''O
Fenômeno Transexual'', que apresenta padrões para o tratamento médico de
pessoas portadoras de dirtúrbios de sexo/gênero, estabelecendo uma ''escala'' que
determina a ''intensidade da transexualidade'' de determinado indivíduo,
discriminando 6 tipos de transexualidade. O primeiro deles é o chamado Pseudo
Travesti (tipo I), que possui o gênero masculino, sendo a cirurgia para a mudança
de sexo nunca considerada e a reposição hormonal com estrôgeno não demanda
interesse, pois desnecessária. Logo em seguinda, temos o Travesti fetichista (tipo
II), que também possui o gênero masculino, sendo a cirurgia para a mudança de
sexo nunca considerada e a reposição hormonal com estrôgeno raramente desperta
interesse, o Travesti Verdadeiro (tipo III), que possui o gênero masculino, porém
com menor convicção, sendo a cirurgia para a mudança de sexo em princípio
rejeitada e a reposição hormonal com estrôgeno atrativa como um experimento, o
Transexual do tipo não cirúrgico (tipo IV), que possui gênero impreciso, sendo a
cirurgia para a mudança de sexo atrativa, mas não requerida, e a reposição
hormonal com estrôgeno necessária para conforto e equilíbrio emocional, o
Transexual verdadeiro (tipo V), em que o gênero é feminino e o sujeito está
aprisionado em um corpo masculino, sendo cirurgia para a mudança de sexo
requerida e usualmente indicada, e a reposição hormonal com estrôgeno
necessária como substituta ou como preparação para a cirurgia de mudança de
sexo, e por fim o Transexual verdadeiro (tipo VI ­ alta intensidade), em que o
gênero é feminino, havendo total inversão ''psicossexual'', em que a cirurgia para a
mudança de sexo é indicada, urgentemente requerida e usualmente obtida, e a
reposição hormonal com estrôgeno requerida para alívio parcial.
Posto isso, encontramos algumas conceituações de transsexualidade que se
correlacionam com a classificação do Dr. Benjamin, como o conceito da medicina
legal e da psicologia forense de Philip Solomon e Vernon D. Patch, no qual a
transsexualidade é tida como a ''cisão entre o sexo morfológico e o psicológico'', o
conceito de Benjamin e Gutheil em que a transsexualidade é o ''sentimento que
uma pessoa de determinado sexo manifesta no sentido de pertencer ao sexo
oposto, ficando obcecada pela idéia de alterar sua conformação sexual para poder
viver com a aparência conforme a imagem que têm de si mesma'' e, ainda, o de
Brethon, Frohwirt e Pottiez, para os quais a transsexualidade é a ''covicção de se
pertencer ao sexo oposto'', todos citados por Maria Helena Diniz1.
TRAVESTILIDADE, HOMOSSEXUALIDADE E
BISSEXUALIDADE.
Preliminarmente é válido ressaltar o fato de que os termos transsexualidade,
travestilidade, homossexualidade e bissexualidade são mais recentes e mais
apropriados para o atual estágio de evulução da ciência médica no trato das
diversas formas de relação sexual e emocional entre os indivíduos em detrimento
dos termos transsexualismo, travestismo, homossexualismo e bissexualismo,
utilizados em um contexto em que estes eram considerados disfunções mentais
classificadas dentre as doenças psiquiátricas e não simplesmente uma outra forma
de desenvolvimento sexual, como atualmente o são.
O transsexual apresenta características próprias que o diferencia de figuras como a
do travesti, do homossexual e do bissexual. Inauguralmente, no que tange a
travestilidade, o indivíduo, que pode ser tanto homossexual quanto heterossexual,
possui um fetiche consistente em trajar­se da mesma forma que o seu sexo oposto,
comportando­se do mesmo modo que este, imitando os seus trejeitos a fim de
satisfazer um desejo pessoal. Todavia, diferentemente do que ocorre em relação ao
transsexual, o travesti não demonstra interesse em submeter­se a uma cirurgia de
mudança de sexo, visto que esta satisfeito com a sua condição morfológica.
Não obstante, a homossexualidade é entendida como a atração física e emocional
de um indivíduo por outro do mesmo gênero. Tal termo foi utilizado pela primeira
vez pelo jornalista austro­húngaro Karl­Maria Kertbeny no ano de 1868 e até o
início da década de 1990 a homossexualidade era tida como uma patologia
causadora de distúrbios de personalidade e desvios de orientação e identificação
sexual. Entretanto, em 1993 a homossexualidade foi desconsiderada uma doença
mental para passar a ser uma outra espécie de desenvolvimento sexual.
Na mesma linha, a bissexualidade é entendida mais especificamente como a
atração física e, portanto, não tanto emocional, de um indivíduo por outros do
mesmo gênero e do gênero oposto. Como afirmado pela psicoterapeuta sexual Ítor
Finotelli Jr, no artigo intitulado ''O que é bissexualidade?'', de autoria de Felipe
Guines, ''Dentro da bissexualidade temos um segmento mais específico que são os
ambissexuais, pessoas que não estabelecem uma preferência entre os sexos''.2
O DIREITO A IDENTIDADE SEXUAL E OS
DIREITOS DA PERSONALIDADE.
A princípio devemos entender o que são os direitos da personalidade e como estes
são tratados por nossa ordem jurídica pátria.
A origem destes direitos de uma forma mais concreta se deu com a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão francesa de 1789 e a das Nações Unidas de 1948,
que positivaram os direitos da personalidade, entretanto, apenas os declararam,
pois são direitos inerentes ao ser humano e pertencentes a toda e qualquer pessoa
pelo simples fato de existir. Esta natureza de direito inato ao ser humano é
facilmente cognoscível por meio das expressões utilizadas por outras legislações,
como ''direitos fundamentais da pessoa'' e direitos sobre a própria pessoa''.3
Assim,os direitos da personalidade têm como elemento justificante e alicerce
jurídico a dignidade da pessoa humana, que deslocou o ser humano para o centro
do sistema jurídico e foi estabelecida pela Constituição Federal de 1988, através de
seu artigo 1, inciso III, como um dos fundamentos de nossa república e base
principiológica de nosso Estado Democrático de Direito, sendo portanto, além de
um princípio constitucional, a pedra angular de toda a ordem constitucional, dada
a sua irradiação por toda a teia de regras e princípios presentes em nossa carta
magna, bem como em todo e qualquer documento legislativo ou princípio que de
alguma seja aplicável na órbita de nosso ordenamento jurídico. Ressalta­se que a
Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso X, estabelece que ''são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação'', não
esgotando, entretanto, os direitos da personalidade.
No plano infraconstitucional os direitos da personalidade são tutelados pelo
Código Civil de forma específica em seu Capítulo II, artigos 11 a 21. Não há, no
entanto, na legislaçao civilista, da mesma forma que no plano constitucional, um
rol taxativo de direitos da personalidade.
Nesta linha, podemos incluir o direito a mudança de gênero e o direito a
identidade sexual da pessoa como direitos da personalidade inseparáveis do direito
a uma vida digna e a liberdade de escolha, uma vez que, desta forma, o indivíduo
será reconhecido no seio social por seu gênero psicológico e não meramente físico
e aparente. Assim, o indivíduo terá a chance de integrar­se a sociedade mais
facilmente e da forma que melhor atenda aos seus interesses.
Nesses termos é o acordão proferido pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Distrito
Federal:
''A ausência de identidade entre o sexo anatômico e o psicológico, denominada
transexualidade, reflete­se como fonte de angústia e transtornos para o
indivíduo que sofre com a questão da inadequação da sua identidade sexual
psicológica e social em relação à identidade sexual morfológica, além da
existência notória de discriminação, rejeição do seu fenótipo, frustração e
desconforto. Dessa forma, atualmente, os elementos identificadores do sexo
não podem ser limitados à conformação da genitália do indivíduo, presente no
momento do nascimento, devendo ser consideradas outros fatores, como o
psicológico, biológico, cultural e social, para que haja a caracterização sexual''.
(TJ­DF ­ Apelacao Civel APC 20130111630845 DF 0042991
20.2013.8.07.0016).
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641860/artigo-1-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731879/inciso-iii-do-artigo-1-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730704/inciso-x-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730030/artigo-11-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729483/artigo-21-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
Assegurar a proteção e o exercício destes direitos coaduna com o artigo 3º, incisos
I e IV da Constituição Federal, que proclama ser a construção de uma sociedade
livre, justa e solidária e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, um dos
objetivos fundamentais de nossa república.
Soma­se a isso o fato de que o direito social a saúde abarca, que está elencado no
artigo 6ª, caput, daConstituição Federal, tanto a saúde física como a psicossocial,
de forma que ambas devem ser resguardadas sem qualquer espécie de distinção.
Desta vista, a idéia de identidade sexual passa a abranger de forma mais
axiomática o direito à uma vida digna, o direito à integridade psicofísica e o direito
à saúde, informando o livre desenvolvimento da personalidade e a salvaguarda da
dignidade humana.
Tal proteção está íntima e diretamente vinculada a um Estado Democrático e
Social de Direito, que tem como papel fundamental proporcionar ao indivíduo um
ambiente próprio para o seu livre desenvolvimento pessoal e social. Em outras
palavras, o Estado não é um fim em sim mesmo, mas única e exclusivamente um
instrumento a serviço do povo a fim de possibilitar o bem estar social destes,
atuando de forma positiva no que concerne a preservação dos direitos
fundamentais e de forma negativa no que diz respeito ao exercício destes direitos,
uma vez que o estado não deve invadir o campo de autodeterminação das pessoas,
que alcança, por exemplo, o direito a identidade sexual, mas tão somente zelar pela
integridade dos direitos fundamentais.
Dessarte, o indivíduo deve ter a autonomia necessária para que possa gerir os
assuntos de sua vida privada, que somente lhe dizem respeito, visto que o interesse
existente no que tange a alteração da identidade sexual do indivíduo é
predominantemente individual e não coletivo e público. Sem prejuízo, o interesse
que norteia a salvaguarda do direito a autodeterminação é público, uma vez que
decorre do objetivo máximo do Estado como instituição, isto é, assegurar o bem
comum.
O DIREITO A ALTERAÇÃO DO NOME
O Nome não é apenas uma forma de reconhecer e diferenciarmos uns dos outros.
Há uma relevância de suma importância nas relações sociais, pois é uma parte
intrínseca de nossas personalidades.
O código civil de 2002 ratifica a importância de existir o direito de se ter um nome,
prenome e sobrenome. O código em questão traz em seu capitulo II os artigos
referentes ao direito de se ter um nome de concretizar a sua personalidade e sua
existência perante o Estado, cujo esta ratificado e tem efeito no registro da certidão
de nascimento. A proteção ao nome também foi abrangido pelo CC, devido o
principio constitucional da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º,
inciso III da Constituição Federal[4].
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641719/artigo-3-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731686/inciso-i-do-artigo-3-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731577/inciso-iv-do-artigo-3-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641860/artigo-1-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731879/inciso-iii-do-artigo-1-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui­se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
III ­ a dignidade da pessoa humana;”
(grifo nosso)
O princípio da dignidade da pessoa humana esta relacionado à precaução que se
deve ter com relação aos abusos que podem acarretar traumas e prejuizões
desnecessários e para evitar que nomes vexatórios ou que não sejam adequados ao
gênero da pessoa, exponham ao ridículo o portador do nome em questão.
Alexandrede Moraes doutrina que:
“A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à
pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e
responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por
parte das demais pessoas, constituindo­se em um mínimo invulnerável que
todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente
possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas
sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas
enquanto seres humanos.” ( 2005, p.128)
O Estado deve ter como premissa a busca pela transposição do ideal de igualdade e
justiça com o individuo transexual, uma vez que este vive uma realidade complexa
em uma sociedade que lhe traz barreiras para obter o direito de “existir” e ser
aceito da forma que ele merece.
O Judiciário vem encontrando uma nova realidade relacionada aos transexuais.
Como vimos anteriormente, os transexuais são pessoas que se identificam com um
gênero do qual é o oposto ao seu, logo, alguns transexuais optam por não fazer o
processo transexualizador em que há a troca dos órgãos sexuais, apenas fazem os
procedimentos com os hormônios, ou os transexuais que optam pelo processo
transexualizador e após a cirurgia da mudança de órgão sexual, este cidadão quer
buscar a justiça para que seu nome seja alterado de seu registro civil e
consequentemente do documento de identidade e outros mais.
Todavia, não há no Brasil uma legislação que regulamente e determine a alteração
imediata do registro civil. Assim, resta ao transexual movimentar a máquina
judiciária para pleitear a alteração.
Determinados juízes aceitam o pedido de alteração do nome do indivíduo, com
base nos princípios da intimidade e privacidade, a fim de evitar o constrangimento
à pessoa. Porém há decisões, por sua vez, não consentem o pedido, negando­o,
com base no critério biológico.
Existem decisões que, além da alteração do nome, foi deferida que a alteração seja
feita com a ressalva da condição transexual do indivíduo, não alterando o sexo
presente no registro. E também houve decisões que só permitiram a mudança do
nome e a do sexo no registro civil.
O Superior Tribunal de Justiça vem autorizando a mudança do nome que consta
do registro civil, bem como a alteração do sexo. Todavia, alega que a averbação
deve constar apenas do livro cartorário.
Segundo o ministro da 4ª turma do STJ Luis Felipe Salomão, se o indivíduo já
realizou a cirurgia e se o registro está em desconformidade com o mundo
fenomênico, não há motivos para constar da certidão.[5]
Para a ministra Nancy Andrighi, quando se iniciou a obrigatoriedade do registro
civil, a distinção entre os dois sexos era feita baseada na conformação do órgão
genital. Atualmente, com o desenvolvimento científico e tecnológico, existem
vários outros elementos identificadores do sexo, razão pela qual a definição de
gênero não pode mais ser limitada somente ao sexo aparente.
"Todo um conjunto de fatores, tanto psicológicos quanto biológicos, culturais e
familiares, devem ser considerados. A título exemplificativo podem ser
apontados, para a caracterização sexual, os critérios cromossomial, gonadal,
cromatínico, da genitália interna, psíquico ou comportamental, médico­legal, e
jurídico."[6]
O Estado consente com a possibilidade de realizar­se cirurgia de
transgenitalização, logo deve também prover os meios necessários para que o
indivíduo tenha uma vida digna e, por conseguinte, seja identificado jurídica e
civilmente tal como se apresenta perante a sociedade.
CIRURGIA DE MUDANÇA DE SEXO –
DIREITO AO PRÓPRIO CORPO X DIREITO A
INTEGRIDADE FÍSICA.
É fato que o direito deve acompanhar a sociedade. As transformações tecnológicas,
científicas, econômicas e sociais que acontecem no mundo repercutem não
somente nas pessoas, mas em todas as suas relações. Por tal motivo, o direito não
deve permanecer estático diante dessas mudanças e evoluções na sociedade,
devendo acompanhá­las para que continue eficaz e resolvendo os conflitos novos
que possam vir a aparecer.
O assunto da mudança de sexo ainda é muito criticado na sociedade, que se mostra
preconceituosa e omissa quando se tratando do tema. No entanto, a sociedade não
pode ficar inerte perante essa realidade, que se mostra cada vez mais frequente no
mundo.
Como vimos, transexual é a pessoa que apresenta conflito de identidade sexual, se
sentindo psicológica e socialmente do sexo oposto ao seu. Há uma diferença entre
a sexualidade psíquica e a sua sexualidade física, fazendo com que para muitos a
cirurgia de mudança de sexo torne­se necessária. Portanto, a transexualidade é o
exercício da intimidade, privacidade e direito ao próprio corpo que o indivíduo
possui.
Tal cirurgia reflete em alguns aspectos no campo do direito civil e penal.
Primeiramente, tem relação com o princípio da dignidade da pessoa humana,
previsto no artigo 1º, inciso III da CF, constituindo fundamento da República
Federativa do Brasil. Ademais, nossa Constituição assegura a todos a
inviolabilidade da vida privada, da intimidade e da honra, em seu artigo 5º, inciso
X, o que está intimamente ligado com a questão do transexualismo.
Nesse sentido, os direitos da personalidade também estão relacionados ao
transexual, visto que esses têm o objetivo de proteger a personalidade do
indivíduo, seus atributos e expressões, tutelando sua integridade física e moral.
Conforme afirma Maria Helena Diniz, os direitos da personalidade são subjetivos
do indivíduo, protegendo o que lhe é próprio, ou seja, sua integridade física,
psíquica e moral (DINIZ, Maria Helena, 2011). Portanto, o direito subjetivo dos
transexuais estão intimamente relacionados aos da personalidade.
De acordo com o artigo 11 do código civil, estes são intransmissíveis e
irrenunciáveis, não podendo sofrer limitações. No entanto, essas não são as suas
únicas características. A doutrina aponta ainda estes como indisponíveis,
imprescritíveis, absolutos e inatos ao ser humano.
Observando o disposto no artigo 13 do Código Civil, depreende­se que, salvo por
exigência médica, ninguém poderá dispor do próprio corpo quando isto importar
em diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes,
in verbis:
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou
contrariar os bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Tal artigo trata do direito de dispor do próprio corpo, e possui extrema relação com
a questão da cirurgia de mudança de sexo. Muitos afirmam que esta cirurgia
contraria o artigo supracitado, visto que a pessoa, por livre e espontânea vontade,
sem exigência médica, passará por uma intervenção que afete sua integridade
física, e está contrariando os bons costumes.
Nesse sentido, a cirurgia de mudança de sexo era vista como mutiladora, não
sendo aceita no direito brasileiro. Na época, discutia­se a possibilidade de o
indivíduo dispor do próprio corpo, sobre o direito à integridade física, visto que a
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641860/artigo-1-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731879/inciso-iii-do-artigo-1-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10641516/artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730704/inciso-x-do-artigo-5-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10730030/artigo-11-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10729912/artigo-13-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
cirurgia era vista como invasiva demais, mutilando órgãos do corpo humano.
O antigo Código de Ética Médica proibia o procedimento cirúrgico de mudança de
sexo, sendo que se o médico realizasse, poderia até sofrer um processo ético­
disciplinar. Portanto, na época, os interessados em se submeter a tal procedimento
deveriam se valer da justiça. Somente em 1997[7], veio uma Resolução do
Conselho Federal de Medicina regulamentando a realização da cirurgia para
restabelecer o equilíbrio entre o físico e o psicológico dos transexuais.
Hoje, o Brasil ainda não possui legislação própria sobre a matéria, mas esta é
regulada pela Resolução CFM nº 1.955/2010, que autoriza a cirurgia de
redesignação sexual.
Segundo o artigo 3º de tal Resolução, o indivíduo que apresentar desconforto com
o sexo anatômico, desejo expresso de extinguir as genitais e as características
primárias e secundárias do seu sexo natural, sendo que esse quadro persista por no
mínimo dois anos, e que não tenha outros transtornos mentais, pode ser definido
como transexual.
Em seu artigo 6º, a Resolução afirma que para que se possa realizar tal cirurgia, é
necessário o consentimento livre e esclarecido do indivíduo. Além disso, de acordo
com seu artigo 4º, só se recomenda a realização desta após um diagnóstico que
configure o indivíduo como transexual, sendo que este deve ser maior de 21 anos e
não apresentar características físicas inapropriadas para o procedimento. Ademais,
é exigido, antes do diagnostico, que haja, pelo período de 02 anos, um
acompanhamento médico por especialistas de diversas áreas.
Então, não é possível alegar que esta cirurgia contraria os bons costumes, pois a
transgenitalização é uma exigência médica que busca o bem­estar físico e
psicológico do paciente.
Ainda, não cabe afirmar que a cirurgia constitui crime de mutilação, previsto no
artigo 129, § 2º, inciso III do Código Penal, pois esta possui finalidade terapêutica.
Portanto, tal cirurgia é permitida no Brasil, sendo disciplinada numa Resolução do
Conselho Federal de Medicina, sendo que o indivíduo transexual tem o direito de
dispor do próprio corpo, a fim de desenvolver a sua personalidade livremente,
buscando acabar com o conflito entre suas características biológicas e psicológicas.
SUS E A CIRURGIA DE MUDANÇA DE SEXO
Desde a edição da primeira Resolução do CFM que autorizou a realização da
cirurgia de transgenitalismo, havia a discussão se a cirurgia deveria ser ou não
possível de se realizar no SUS, visto que esta é um procedimento terapêutico, e não
de doença. Em 2001, o Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul interpôs
uma ação civil pública pleiteando que o SUS realizasse procedimentos para a
mudança de sexo.
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10624670/artigo-129-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10624438/par%C3%A1grafo-2-artigo-129-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10624344/inciso-iii-do-par%C3%A1grafo-2-do-artigo-129-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
Tal caso ficou famoso, pois o pedido foi inicialmente negado pelo juiz, mas
reconhecido posteriormente pelo Tribunal Regional Federal do Estado. No
entanto, a União recorreu ao STF, e a ministra relatora, Ellen Gracie, afirmou que
o Judiciário não possui competência para incluir procedimentos médicos no SUS,
pois isto poderia causar aumento de despesas, com possíveis prejuízos para outros
tratamentos de saúde, suspendendo a tutela antecipada concedida pelo TRF[8],
conforme se segue:
[...] Ressalte­se, entretanto, que, no caso em apreço, foi concedida tutela
antecipada, determinando­se à União que promova, no prazo de 30 dias,
“todas as medidas apropriadas para possibilitar Supremo Tribunal Federal
STA 185 / DF 4 aos transexuais a realização, pelo Sistema Único de Saúde, de
todos os procedimentos médicos necessários para garantir a cirurgia de
transgenitalização do tipo neocolpovulvoplastia, neofaloplastia e/ou
procedimentos complementares sobre gônodas e caracteres sexuais
secundários, conforme os critérios estabelecidos na Resolução nº 1.6522/2002
do Conselho Federal de Medicina” (fls. 147­148), bem como edite ato normativo
que preveja a inclusão desses procedimentos cirúrgicos na tabela de
procedimentos remunerados pelo Sistema Único de Saúde (Tabela SIH/SUS). ]
É dizer, no presente caso, não se está analisando uma situação concreta,
individual, um caso específico, determinou­se, sim, à requerente que tome
providências normativas e administrativas imediatas em relação aos referidos
procedimentos médico­cirúrgicos, motivo pelo qual entendo que se encontra
devidamente demonstrada a ocorrência de grave lesão à ordem pública, em sua
acepção jurídico­constitucional, porquanto a execução do acórdão ora
impugnado repercutirá na programação orçamentária federal, ao gerar impacto
nas finanças públicas.
Encontra­se, outrossim, devidamente configurada a grave lesão à ordem pública,
em sua acepção administrativa, dado que a gestão da política nacional de saúde,
feita de forma regionalizada, busca uma maior racionalização entre o custo e o
benefício dos tratamentos médico­cirúrgicos que devem ser fornecidos
gratuitamente à população brasileira, a fim de atingir o maior número possível
de beneficiários.
Verifico, ainda, que, para a imediata execução da decisão impugnada no presente
pedido de suspensão, será necessário o remanejamento de verbas originalmente
destinadas a outras políticas públicas de saúde, o que certamente causará
problemas de alocação dos recursos públicos indispensáveis ao financiamento do
Sistema Único de Saúde em âmbito nacional. [...] (STA 185/DF)
No entanto, hoje, a cirurgia de transgenitalismo pode ser realizada pelo Sistema
Único de Saúde (SUS), sendo exigido apenas os requisitos previstos na Resolução
CFM 1.955/10, acima mencionada.
O Ministério da Saúde oferece essa possibilidade desde 2008, com a publicação
da Portaria Nº 457, sendo que antes das cirurgias, há a realização de avaliação e
acompanhamento ambulatorial por uma equipe multiprofissional, com
assistência em todo o processo transexualizador[9].
Portanto, não há de se falar, hoje, que tal cirurgia não deve ser realizada,
afirmando esta ser mutiladora ou que é contra os bons costumes, além de não
haver legislação autorizando. A questão resta pacificada no Brasil com a
Resolução do Conselho Federal de Medicina, sendo reconhecida pelo Estado como
medida terapêutica, tendo todo indivíduo considerado transexual, direito à
realização da cirurgia.
PROJETO DE LEI Nº 5.002/2013 – LEI JOÃO W. NERY ­ LEI DE IDENTIDADE
DE GÊNERO
Há muitos obstáculos em nossa legislação, com relação à identificação legal e
alteração do nome, para aqueles indivíduos que pertencem a outro gênero.
A necessidade de estabelecer uma legislação para que os direitos dos transexuais
existam de fato e sejam assegurados, desenvolveu o Projeto de Lei João W. Nery,
também conhecido como Lei de Identidade de Gênero (PL 5002­2013) [10], de
autoria dos deputados federais Jean Wyllys e Érika Kokay.
A lei traz o nome João W. Nery em homenagem precursor na luta pelos direitos
dos transexuais e também o primeiro homem transexual do país a fazer a cirurgia
de redesignação sexual. E após a cirurgia João enfrentou a falha ao não haver uma
legislação que assegurasse seus direitos e legalizasse a alteração de nome em seus
registros e se viu na necessidade de viver com documentos falsos, na tentativa de
burlar uma lei que o impedia de viver e ser quem ele realmente era.
A aprovação do Projeto de Lei permitirá uma gama de direitos referentes à
identidade de gênero, como:
A retificação registral de sexo comoestá previsto no artigo 4ºe o artigo 5º também
traz a possibilidade um menor de 18 anos ter a retificação registral, esta deverá ser
efetuada através de seus representantes legais, levando em consideração o
interesse do adolescente, como versa o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA).
Artigo 5º ­ Com relação às pessoas que ainda não tenham dezoito (18) anos de
idade, a solicitação do trâmite a que se refere o artigo 4º deverá ser efetuada
através de seus representantes legais e com a expressa conformidade de vontade da
criança ou adolescente, levando em consideração os princípios de capacidade
progressiva e interesse superior da criança, de acordo com o Estatuto da Criança e
do Adolescente.
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619333/artigo-5-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619550/artigo-4-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
§ 1º Quando, por qualquer razão, seja negado ou não seja possível obter o
consentimento de algum/a dos/as representante/s do Adolescente, ele poderá
recorrer ele poderá recorrer à assistência da Defensoria Pública para
autorização judicial, mediante procedimento sumaríssimo que deve levar em
consideração os princípios de capacidade progressiva e interesse superior da
criança.
§ 2º Em todos os casos, a pessoa que ainda não tenha 18 anos deverá contar com
a assistência da Defensoria Pública, de acordo com o estabelecido pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente
A alteração do prenome e gênero deverá ser feita em todos os documentos, como
a carteira de identidade, CPF, passaporte, título de eleitor, CNH e Carteira de
Trabalho e Previdência Social, como versa no artigo 7º[11], parágrafo 1º. Outra
inovação está expressa no parágrafo 2º em que a maternidade ou paternidade
da pessoa trans. No registro civil de seus/suas filhos/filhas deverão ser
retificados automaticamente, independente da vontade da outra maternidade ou
paternidade. E no parágrafo 3º que preserva o matrimonio das pessoas trans.,
solicitando a retificação automática independente da configuração do regime.
Artigo 7º ­ A Alteração do prenome, nos termos dos artigos 4º e 5º desta Lei, não
alterará a titularidade dos direitos e obrigações jurídicas que pudessem
corresponder à pessoa com anterioridade à mudança registral, nem daqueles que
provenham das relações próprias do direito de família em todas as suas ordens e
graus, as que se manterão inalteráveis, incluída a adoção.
§ 1º Da alteração do prenome em cartório prosseguirá, necessariamente, a
mudança de prenome e gênero em qualquer outro documento como diplomas,
certificados, carteira de identidade, CPF, passaporte, título de eleitor, Carteira
Nacional de Habilitação e Carteira de Trabalho e Previdência Social.
§ 2º Preservará a maternidade ou paternidade da pessoa trans no registro civil
de seus/suas filhos/as, retificando automaticamente também tais registros civis,
se assim solicitado, independente da vontade da outra maternidade ou
paternidade;
§ 3º Preservará o matrimônio da pessoa trans, retificando automaticamente
também, se assim solicitado, a certidão de casamento independente de configurar
uma união homoafetiva ou heteroafetiva.
(grifo nosso)
A facilidade para que o transexual possa passar pelos procedimentos de uma
forma mais digna. O artigo 8º e parágrafo 1º trazem avanços, pois segundo o PL
qualquer pessoa maior de 18 anos poderá se submeter a intervenções cirúrgicas
ou tratamentos hormonais sem que haja a necessidade de diagnósticos,
tratamentos psicológicos ou autorização judicial ou administrativa.
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1031134/estatuto-da-crian%C3%A7a-e-do-adolescente-lei-8069-90
Artigo 8º ­ Toda pessoa maior de dezoito (18) anos poderá realizar intervenções
cirúrgicas totais ou parciais de transexualização, inclusive as de modificação
genital, e/ou tratamentos hormonais integrais, a fim de adequar seu corpo à sua
identidade de gênero auto­percebida.
§ 1º Em todos os casos, será requerido apenas o consentimento informado da
pessoa adulta e capaz. Não será necessário, em nenhum caso, qualquer tipo de
diagnóstico ou tratamento psicológico ou psiquiátrico, ou autorização judicial ou
administrativa.(grifo nosso)
A possibilidade e o dever do Sistema Único de Saúde, de oferecer tratamentos
hormonais e intervenções cirúrgicas como a redesignação sexual de forma gratuita
por meio de sua rede de unidades conveniadas, sem limitar e restringir os direitos
e negar a devida assistência ao transexual, como está previsto nos artigos 9º e 10º.
Artigo 9º ­ Os tratamentos referidos no artigo 11º serão gratuitos e deverão ser
oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelas operadoras definidas nos
incisos I e IIdo § 1º do art. 1º da Lei 9.656/98, por meio de sua rede de unidades
conveniadas. Parágrafo único: É vedada a exclusão de cobertura ou a determinação
de requisitos distintos daqueles especificados na presente lei para a realização dos
mesmos.
(...)
Artigo 11º ­ Toda norma, regulamentação ou procedimento deverá respeitar o
direito humano à identidade de gênero das pessoas. Nenhuma norma,
regulamentação ou procedimento poderá limitar, restringir, excluir ou suprimir
o exercício do direito à identidade de gênero das pessoas, devendo se interpretar
e aplicar as normas sempre em favor do acesso a esse direito.
(grifo nosso)
A Aprovação da PL será definitivamente um marco para a Legislação brasileira e
uma vitória para os transexuais que almejam tanto serem reconhecidos e
tratados como eles realmente são.
CONCLUSÃO
Ante o exposto, podemos concluir que o transsexual é uma figura singular,
pertencente a um universo próprio, não se confundindo com as demais formas de
desenvolvimento sexual, como o homossexualismo e o bissexualismo, nem ao
menos com qualquer espécie de patologia ou disfunção psíquica. Em linhas gerais
a transsexualidade pode ser entendida como uma forma atípica de
desenvolvimento sexual, tendo em vista que tal condição é caracterizada pela
incompatibilidade entre o sexo psicológico e o biológico do indivíduo, causando­
lhe uma profunda necessidade de aproximação dos dois sexos, de modo a
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11333163/artigo-9-da-lei-n-9656-de-03-de-junho-de-1998
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11332366/artigo-11-da-lei-n-9656-de-03-de-junho-de-1998
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11335467/par%C3%A1grafo-1-artigo-1-da-lei-n-9656-de-03-de-junho-de-1998
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/11335600/artigo-1-da-lei-n-9656-de-03-de-junho-de-1998
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/104153/lei-9656-98
permitir que o indivíduo de fato tenha um sexo determinado, evitando um
sentimento de frustação desencadeado pela insatisfação com a sua própria
condição sexual.
Desta vista, faz­se necessário que o indivíduo se submeta a uma cirurgia de
mudança de sexo, a fim de compatibilizar o seu sexo psicológico com o biológico.
No entanto, tão somente a cirurgia não se mostra bastante para satisfazer os
interesses do transsexual, devendo ser acompanhada da alteração do nome do
indívuo no registro próprio a fim também de igualar o seu nome, isto é, a
identificação pessoal da pessoa perante a sociedade e o seu novo sexo biológico,
evitando desta forma que o indivíduo sofra eventuais constrangimentos.
Tanto a possibilidade de cirurgia de mudança de sexo como a alteração do nome
do transsexual no registro de pessoas possuem como alicerce jurídico a cláusula
geral da Dignidade da Pessoa Humana, bem como o direito individual a vida, a
liberdade de escolha e o direito social a saúde, física e psíquica. Logo, podemos
afirmar que o direito a identidade sexual pertence a gama dos direitosda
personalidade, uma vez que decorre diretamente do princípio norteador de toda
a ordem constitucional, ou seja, o princípio da Dignidade Humana. Assim,
afasta­se o argumento de que a cirurgia supra inobserva o direito a integridade
física.
Não obstante, no plano concreto, o estado têm o dever de disponibilizar os meios
necessários para que os direitos retro tenham efetividade e eficácia, como a
realização da cirurgia de mudança de sexo através do Sistema Único de Sáude
(SUS), bem como a PL 5.002/2013, que propõe um leque vasto de direitos
relacionados a transsexualidade, trazendo um tremendo avanço ao ordenamento
jurídico brasileiro em matéria de direitos dos transsexuais, uma vez que prevê a
possibilidade de alteração do nome do transsexual em seus documentos pessoais,
bem como no documento de seus filhos, dentre outras inovações. Ressalta­se, por
fim, que apesar de haver algumas resoluções do Conselho Federal de Medicina,
assim como posições jurisprudenciais que permitem a cirurgia de alteração de
sexo e a mudança do nome dos transsexuais, a Lei supra trará uma maior
segurança jurídica ao assunto, delineando de forma expressa os contornos dos
direitos dos transsexuais.
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[1] DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico universitário. São Paulo: Saraiva,
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[2] GUINES, Felipe. O que é bissexualidade.
http://www.psicoterapiasexual.com.br/clinica/sexualidade/o­
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[3] GONÇALVES. Carlos Roberto. Direito Civil I: esquematizado: parte geral:
obrigações e contratos; coordenador Pedro Lenza. 5ª edição. São Paulo: Saraiva,
2015. Pag. 157.
[4] http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731879/inciso­iii­do­artigo­1­da­
constituição­federal­de­1988
[5]
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/Print/pt_BR/noticias/noticias/%C3%9Altimas/O
­direito­dos­indiv%C3%AD...
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
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[6]
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/Print/pt_BR/noticias/noticias/%C3%9Altimas/O
­direito­dos­indiv%C3%AD...
[7] Resolução nº 14822/97 do Conselho Federal de Medicina.
[8] http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/STA185.pdf
[9] http://www.brasil.gov.br/cidadaniaejustica/2015/03/cirurgias­de­mudanca­
de­sexo­são­realizadas­pel...
[10] http://www.câmara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=565315
Trabalho realizado pelo aluno da Faculdade de Direito da Universidade
Presbiteriana Mackenzie: João Victor Adorno Haidamus
Disponível em: http://joaohaidamus.jusbrasil.com.br/artigos/449992931/o‐transexual‐no‐contexto‐juridico‐brasileiro
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/Print/pt_BR/noticias/noticias/%C3%9Altimas/O-direito-dos-indiv%C3%ADduos-transexuais-de-alterar-o-seu-registro-civil
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/STA185.pdf
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/03/cirurgias-de-mudanca-de-sexo-sao-realizadas-pelo-sus-desde-2008
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=565315

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