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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS–GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL LILIANE CRISTINA DE CAMARGO COCHMANSKI DIRETRIZES SUSTENTÁVEIS E SAUDÁVEIS PARA MELHORIA EM HOSPEDAGEM ASSISTIDA A IDOSOS DISSERTAÇÃO CURITIBA 2016 LILIANE CRISTINA DE CAMARGO COCHMANSKI DIRETRIZES SUSTENTÁVEIS E SAUDÁVEIS PARA MELHORIA EM HOSPEDAGEM ASSISTIDA A IDOSOS Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Civil, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Área de Concentração: Meio Ambiente. Linha de Pesquisa: Sustentabilidade. Orientador: Prof.Dr. Eloy Fassi Casagrande Jr CURITIBA 2016 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação C662d Cochmanski, Liliane Cristina de Camargo 2016 Diretrizes sustentáveis e saudáveis para melhoria em hospedagem assistida a idosos / Liliane Cristina de Camargo Cochmanski.-- 2016. 178 f.: il. 30 cm. Texto em português, com resumo em inglês. Dissertação (Mestrado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Curitiba, 2016. Bibliografia: p. 147-166. 1. Engenharia civil - Dissertações. 2. Idosos - Habitações. 3. Arquitetura sustentável. 4. Edifícios sustentáveis. 5. Qualidade de vida. I.Casagrande Júnior, Eloy Fassi. II.Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil. III. Título. CDD: Ed. 22 -- 624 Biblioteca Ecoville da UTFPR, Câmpus Curitiba À memória de meu avô materno Alfredo Braun, meus avós paternos Fábio e Leonor Camargo e também com muito carinho dedico à minha avó materna Olinda Braun. Aos meus pais Leonel Pereira de Camargo e Terezinha Nelzi de Camargo com muito amor. Especial dedicação aos meus filhos Julio Cesar Cochmanski Filho e Beatriz Cochmanski e, principalmente, ao meu esposo Julio Cesar Cochmanski, de quem recebi muitos incentivos, amor, compreensão e paciência. AGRADECIMENTOS Aqui agradeço algumas das muitas pessoas que possibilitaram a realização desta etapa da minha vida; talvez não seja possível listar todas em papel, mas, sempre serei grato pela ajuda. Ao Prof. Dr Eloy Fassi Casagrande Jr, pela orientação, instrução e atenção, além do carinho e paciência que nunca lhe faltaram, apesar de ter razões para isso, meu sincero agradecimento pelo seu pronto atendimento sempre que requerida sua atenção. Ao Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou Neto, agradeço pelas sugestões e auxílio em pesquisas relacionadas a assuntos fundamentais do projeto. Aos Professores Dr. José Alberto Cerri e Dra. Libia Patricia Peralta Agudelo agradeço pelas orientações e sugestões para o melhor desenvolvimento do trabalho. Aos proprietários e responsáveis das Instituições de Longa Permanência para Idosos envolvidas na Pesquisa, agradeço de coração a oportunidade que propiciam à comunidade científica, permitindo acesso às suas casas, fornecendo informações simples, mas de fundamental importância aos estudos ali realizados, contribuindo para a busca de melhor qualidade de vida. Grande abraço a todos e obrigado. À minha querida amiga Engenheira Ambiental Bruna Fantoni, colega de mestrado, pelo companheirismo em momentos de dificuldade, incentivos e, digamos, igualdade de situações, grande abraço. Enfim, a todos os meus colegas de mestrado, deixo aqui o meu sincero agradecimento pelo apoio diante de todas as dificuldades encaradas juntos, sem pestanejar em momento algum. Muito importante é o agradecimento a todos os professores do programa de pós-graduação em Engenharia Civil da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pelos anos de estudos que os condicionaram a estar aqui hoje. A todos fica o meu forte abraço e levo de vocês a certeza de que tudo que for bem feito tem resultados. Aos meus tios maternos e paternos, pela compreensão, apoio e carinho que sempre me corresponderam. Aos meus pais, as pessoas mais importantes na minha vida, por me educarem, partilharem da minha formação, condicionando-me a ser quem sou, me entendendo, não me criticando e me apoiando nas decisões difíceis da vida, sempre que precisei. Aos meus irmãos Taciane, Lins e Tatiane e cunhados (as), confesso, conheço vocês para sentir o apoio que darão sempre que eu precisar, mesmo assim me sugerem sem nem mesmo eu pedir, grande abraço e obrigada pelo apoio. Aos meus primos, que sempre acreditaram e me apoiaram em todas as atividades, forte abraço a todos. Também gostaria de agradecer aos meus queridos sobrinhos (as) Camilli Mocelim, Rafaela e Andrei Cochmanski, Lincon Cochmanski, Izabela e Julian D. Cochmanski, pelo carinho e pela inocência com que veem o mundo e pela humildade e respeito que demonstram em seus atos. E por fim, no entanto, para as pessoas mais importantes da minha vida, esposo Julio Cesar Cochmanski e nossos filhos Julio Cesar Cochmanski Filho e Beatriz Cochmanski, meus mais sinceros agradecimentos pela compreensão dos dias ausentes, perdoem-me pela presença discreta e muitas vezes imperceptível, principalmente pela falta mesmo presente em suas vidas, vivo somente para abraça- los novamente. “É preciso muito tempo para tornar-se jovem” Pablo Picasso RESUMO COCHMANSKI, Liliane Cristina de Camargo. Diretrizes sustentáveis e saudáveis para melhoria em hospedagem assistida a idosos, 2016. 178 f. Dissertação (Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016. O envelhecimento populacional é um processo natural que está ocorrendo em todo o mundo. O Brasil terá apenas 25 anos, enquanto os países europeus levaram um século para o envelhecimento da população. Com o aumento da população idosa, a sociedade terá importantes consequências culturais, sociais e econômicas, advindas de muitos problemas, que estão relacionados às famílias com condições econômicas precárias e número cada vez menor de filhos, habitações sem planejamento para a terceira idade, asilos sem infraestrutura para atendimento, cuidadores de idosos sem formação, descaso, abandono e pobreza. Com todos os problemas relacionados à terceira idade, este trabalho busca determinar as diretrizes sustentáveis e saudáveis para a melhoria da arquitetura para os idosos. Mediante entrevistas estruturadas e visitas nas Instituições de Longa Permanência dos Idosos (ILPIs) existentes na cidade de Curitiba, possibilitou-se a identificação das reais condições em relação à qualidade de vida dos idosos. Durante a pesquisa observou- se: carência em infraestrutura da edificação; inexistência de equipamentos para o aproveitamento das águas das chuvas e/ou aquecimento da mesma para usar principalmente no chuveiro; falta de local ao ar livre com direito ao sol fora do recuo frontal e sem exposição à rua; serviços e atividades ofertadas, como médicos geriátricos,odontólogos e falta de atividades voltadas às doenças que mais se apresentam nas instituições, como o Alzheimer, a Hipertensão e Diabetes. Isso indica a necessidade de um espaço projetado para a terceira idade utilizando diretrizes sustentáveis e saudáveis, como por exemplo a escolha de materiais não tóxicos e próximos ao local da construção devem ser escolhidos durante a fase de projeto, que possam melhorar a qualidade de vida dos idosos residentes nas casas de repouso. Palavras chaves: Terceira idade. Moradia sustentável. Qualidade de vida dos idosos. ABSTRACT COCHMANSKI, Liliane Cristina de Camargo. Sustainable and healthy guidelines for improving assisted in hosting the elderly, 2016. 178 f. Dissertação (Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016. Population aging is a natural process that is taking place worldwide. The Brazil will take only 25 years, while European countries had a century to the population aging. With population aging, the society had important cultural, social and economic consequences, resulting from many problems, which are related to families with poor economic conditions and increasingly fewer children, houses without planning for the elderly, nursing homes without infrastructure to service, untrained elderly caregivers, neglect, abandonment and poverty. With all the problems related to old age, this study seeks to determine the sustainable and healthy guidelines for improving the architecture for the elderly. By structured interviews and visits in the institutions of the Long Term Elderly (ILPIs) in the city of Curitiba, enabled the identification of the actual conditions regarding the quality of life for seniors. During the research it was observed: lack of infrastructure building; lack of equipment for the use of rainwater and / or heating the same for use mainly in the shower; lack of outdoor venue with the sun right out the front setback and without exposure to the street; offered services and activities such as geriatric doctors, dentists and lack of activities related to diseases that present themselves in institutions, such as Alzheimer's, hypertension and diabetes. This indicates the need for a space designed for seniors using sustainable and healthy, such as the choice of non-toxic materials and nearby the construction site must be chosen during the design phase, guidelines that can improve the quality of life of elderly people living in nursing homes. Keywords: Third Age. Sustainable housing. Quality of life for seniors. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Síntese dos fatores de exclusão social......................................... 32 Figura 2 – Fatores de risco individual............................................................. 33 Figura 3 – Comparação do cérebro normal com o cérebro com Alzheimer... 34 Figura 4 – Quarto do idoso no asilo............................................................... 44 Figura 5a – Vila Dignidade Itapeva................................................................... 51 Figura 5b – Planta Vila Dignidade Mogi Mirim – SP......................................... 52 Figura 6a – Condomínio do idoso em Maringá................................................ 53 Figura 6b – Planta tipo condomínio do idoso em Maringá............................... 54 Figura 7 – Cidade Madura Paraíba................................................................ 55 Figura 8 – Atriun Solar Ville Garaude, SP...................................................... 56 Figura 9 – Jardim Solar Ville Garaude, SP..................................................... 57 Figura 10 – Flat no Ventura Residence, SC..................................................... 58 Figura 11 – Flat no Residencial Santa Catarina, SP........................................ 59 Figura 12a – Fachadas das casas e prédios – Lar Recanto Feliz, SP............... 60 Figura 12b – Vista do lago – Lar Recanto Feliz, SP.......................................... 60 Figura 12c – Vista interna (jardins e passeios) – Lar Recanto Feliz, SP........... 60 Figura 13 – Largest Senior Living Providers.................................................... 63 Figura 14 – Quarto da casa Sunrise Senior Living, EUA.................................. 65 Figura 15 – Fachada Augustinum Seniorenresidenz, Freiburg........................ 67 Figura 16 – Praça entre os blocos de Hogewey Village.................................. 68 Figura 17a – Disposição dos blocos e espaços públicos, Hogewey.................. 69 Figura 17b – Planta arquitetônica do térreo, Hogewey...................................... 69 Figura 17c – Planta arquitetônica do pavimento superior, Hogewey................. 70 Figura 18a – Hospital Sara Kubitschek formado por blocos que se interligam unindo espaços externos e internos............................................. 74 Figura 18b – Ambiente sustentável e saudável integrado................................. 74 Figura 18c – Ar refrigerado impulsionados pelas unidades de fan-coil, que passam pelas piscinas de água gelada ....................................... 75 Figura 18d – Sheds com esquema de entrada da Iluminação natural............... 75 Figura 19a – Implantação em L, Wesel.............................................................. 76 Figura 19b – Fachada voltada à rua, Wesel...................................................... 76 Figura 19c – Planta do quarto, Wesel................................................................ 77 Figura 19d – Sala de jantar, Wesel.................................................................... 77 Figura 20a – Imagem das casas de Fujisawa.................................................... 78 Figura 20b – Imagem aérea de Fujisawa........................................................... 78 Figura 21a – Implantação Care Center.............................................................. 79 Figura 21b – Jardim Interno............................................................................... 79 Figura 22 – Tríade de Vitrúvio.......................................................................... 81 Figura 23 – Integração dos sistemas residenciais........................................... 96 Figura 24 – Localização geográfica do Município de Curitiba......................... 98 Figura 25 – Distribuição das ILPIs em Curitiba-2014..................................... 99 Figura 26 – “Jardim” entre casas e /ou no recuo............................................. 104 Figura 27 – Horta elevada nos tanques de lavar roupa................................. 105 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Pirâmide Etária 1980 a Pote Etário 2050..................................... 24 Gráfico 2 – Número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil.................... 25 Gráfico 3 – Expectativa de vida no Estado do Paraná em comparação com o Brasil......................................................................................... 26 Gráfico 4 – Taxa de fecundidade no Estado do Paraná em comparação com o Brasil......................................................................................... 27 Gráfico 5 – Proporção de crianças e de idosos na população total – Brasil, 1900 - 2020................................................................................. 28 Gráfico 6 – Composição percentual dos gastos das instituições de longa permanência – Brasil, 2007 - 2009............................................... 46 Gráfico 7 – Distribuição proporcional das instituições de longa permanência brasileiras por regime jurídico – 2007- 2009................................. 47 Gráfico 8 – Proporção de instituições de longa permanênciaque declararam oferecer os serviços mencionados – Brasil, 2007- 2009............................................................................................ 48 Gráfico 9 – Distribuição dos recursos financeiros médios mensais das ILPIs segundo componentes de despesa - Paraná - 2006/2007........... 49 Gráfico 10 – Escolaridade dos profissionais responsáveis das ILPIs em Curitiba– 2015............................................................................. 101 Gráfico 11 – Localização do jardim nas ILPIs em Curitiba – 2015.................... 103 Gráfico 12 – Participação das famílias em visitas aos idosos das ILPIs em Curitiba – 2015.............................................................................. 106 Gráfico 13 – Lotação máxima do espaço das ILPIs em Curitiba – 2015........... 108 Gráfico 14 – Opinião dos responsáveis pelas ILPIs sobre o curso de cuidador de idoso em Curitiba – 2015.......................................................... 109 Gráfico 15 – Fins lucrativos das ILPIs em Curitiba – 2015................................ 110 Gráfico 16 – Doença que mais se apresenta nas ILPIs em Curitiba - 2015...... 112 Gráfico 17 – Passeios externos dos Idosos com a Família e ILPIs em Curitiba – 2015........................................................................................... 113 Gráfico 18 – Problemas das ILPIs.................................................................... 117 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – População residente total e de 60 anos ou mais de idade no Brasil – 2010............................................................................................. 25 Tabela 2 – Distribuição percentual das pessoas com 60 anos ou mais de idade por domicilio e por sexo segundo as regiões brasileiras – 2013................................................................................................ 29 Tabela 3 – Distribuição percentual das pessoas com 60 anos ou mais, por classes de rendimento mensal de todas as fontes, segundo as grandes regiões brasileiras - 2013................................................... 30 Tabela 4 – Estágios da doença de Alzheimer – 2013....................................... 36 Tabela 5 – Brasil: Evolução do quadro institucional voltado para os idosos, com destaque para leis e políticas de governo – 2008.................... 40 Tabela 6 – Comparação entre os custos relativos americanos – 2015.............. 62 Tabela 7 – Pilares básicos para a construção sustentável e saudável – 2010... 91 Tabela 8 – Indicadores para a construção sustentável e saudável – 2010........ 92 Tabela 9 – Regras para construir um ambiente saudável – 1999...................... 94 Tabela 10 – Quantidade de quartos, camas e banheiros/ILPIs de Curitiba – 2015................................................................................................ 102 Tabela 11 – Quantidade da edificação e do lote/ILPIs de Curitiba – 2015......... 102 Tabela 12 – Cardápio, quantidade de alimentações/dia e idosos que necessitam de ajuda para comer nas ILPIs/Curitiba – 2015........... 107 Tabela 13 – Programa de necessidades e dimensões aproximadas para hospedagem assistida à idosos....................................................... 125 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AQUA – Alta Qualidade Ambiental ASTM – American Society for Testing and Materials ATI – Academia da Terceira Idade AURESIDE – Associação Brasileira de Automação Residencial e Predial AVC – Acidente Vascular Cerebral BPC – Benefício de Prestação Continuada BREDEM – Building Research Establisment BREEAM – Building Research Establishment Environmental Assessment Methodology CMDPI – Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social CNDI – Conselho Nacional do Idoso CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social DCNT – Doenças crônicas não transmissíveis ETE – Mini Estação de tratamento de esgoto FAS – Fundação de Ação Social FNAS – Fundo Nacional de Assistência Social GLP – Gás Liquefeito de Petróleo HQE – Haute Qualité Environnementale ILPIs – Instituição de Longa Permanência para os Idosos LEED – Leadership in Energy and Environmental Design LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social MAS – Ministério da Assistência Social MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MPAS – Ministério da Previdência Social PNAS – Política Nacional de Assistência Social PNI – Política Nacional do Idoso SAC – Serviços de Ação Continuada SAM – Sustainability Assessement Model SAS – Secretaria de Assistência Social SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia SEAS – Secretaria de Estado de Assistência Social SED – Síndrome do Edifício Doente SMSC – Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba SUAS – Sistema Único de Assistência Social SUS – Sistema Único de Saúde TO – Terapia ocupacional TV – Televisão UEM – Universidade Estadual de Maringá UTI – Unidade de Terapia Intensiva ou Unidade de Tratamento Intenso ZR2 – Zona Residencial 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16 1.1 JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO TEMA .................................................... 16 1.2 OPERACIONALIZAÇÃO DOS TERMOS ............................................................ 17 1.3 OBJETIVOS..........................................................................................................18 1.3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 18 1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 19 1.4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 19 1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ...................................................................... 21 2 REVISÃO WEB-BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 22 2.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE OS IDOSOS ........................................................ 22 2.1.1 Envelhecimento da População ......................................................................... 23 2.1.1.1 Fatores que levaram ao envelhecimento ....................................................... 25 2.1.2 Perfil dos Idosos ............................................................................................... 28 2.1.3 Problemas Enfrentados pelos Idosos ............................................................... 30 2.1.4 Direitos dos Idosos, Deveres da Sociedade e Atual Realidade ........................ 38 2.2. DEFINIÇÃO DOS ASILOS E ILPIs ..................................................................... 42 2.2.1 Instituições Asilares às ILPIs ............................................................................ 42 2.2.2 Realidade das Instituições de Idosos no Brasil com Enfoque no Paraná ......... 45 2.2.3 Exemplos de Instituições de Idosos ................................................................. 51 2.2.3.1 Rede pública brasileira .................................................................................. 51 2.2.3.2 Rede privada brasileira .................................................................................. 55 2.2.3.3 Modelos internacionais .................................................................................. 61 2.3 CONSIDERAÇÕES PARA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL E SAUDÁVEL ...... 71 2.3.1 Exemplos de Arquitetura Sustentável e Saudável ............................................ 73 2.3.2 Projeto de Arquitetura .......................................................................................80 2.3.3 Eficiência Energética ........................................................................................ 80 2.3.4 Conforto Ambiental do Ser Humano ................................................................. 84 2.3.5 Certificações ..................................................................................................... 86 2.3.6 Arquitetura Bioclimática .................................................................................... 87 2.3.7 Automação Residencial para Idosos ................................................................ 95 3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ..................................................................... 97 3.1 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................. 97 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 100 4.1 DIAGNÓSTICO DAS ILPIs DE CURITIBA ........................................................ 100 4.1.1 Identificação do Local ..................................................................................... 100 4.1.2 Espaço Interno e Externo das ILPIs ............................................................... 101 4.1.3 Administração das ILPIs ................................................................................. 105 4.1.4 Funcionários / Cuidadores das ILPIs .............................................................. 108 4.1.5 Valores Monetários das ILPIs ......................................................................... 110 4.1.6 Cuidados com a Saúde dos Idosos ................................................................ 111 4.1.7 Perfil dos Idosos nas ILPIs ............................................................................. 112 4.1.8 Perfil das Edificações Adequadas para os Idosos .......................................... 114 4.1.9 Diretrizes Sustentáveis e Saudáveis das ILPIs .............................................. 114 4.1.10 Problemática das ILPIs ................................................................................. 116 4.1.11 Panorama das ILPIs sobre a Percepção dos Responsáveis pelos Cuidados dos Idosos ...................................................................................................................... 118 4.2 DIRETRIZES SUSTENTÁVEIS E SAUDÁVEIS PARA MELHORIA EM HOSPEDAGEM ASSISTIDA À IDOSOS ................................................................. 120 4.2.1 Retrofit de Residência Unifamiliar para Casa de Repouso de Idosos ............ 120 4.2.2 Diretrizes de Projeto para Hospedagem Assistida a Idosos ........................... 123 4.2.2.1 Programa de necessidades e dimensões aproximadas .............................. 124 4.2.2.2 Escolha do local e aspectos projetuais privilegiando características sustentáveis e saudáveis ........................................................................................ 127 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 140 5.1 CONSIDERACAO GERAL ................................................................................ 140 5.2 CONCLUSÃO .................................................................................................... 142 5.3 SUGESTÕES DE TRABALHOS FUTUROS ..................................................... 145 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 147 APÊNDICES............................................................................................................ 167 ANEXOS ..................................................................................................................175 16 1 INTRODUÇÃO 1.1 JUSTIFICATIVA E DELIMITAÇÃO DO TEMA O envelhecimento populacional é um processo natural que está ocorrendo no mundo todo. Em alguns países o processo de envelhecimento foi mais prolongado e atualmente estão em ritmo menor. Porém, em outros, como é o caso do Brasil, a população acima dos 60 anos, considerada idosa nos países subdesenvolvidos, está crescendo em um ritmo acelerado. Durante um período de 60 anos, esse índice passou de 1,6 % em 1940 para 14,5% em 2000 (BATISTA et al., 2008). Contudo, a perspectiva de crescimento para a população idosa é que em 2050 atinja 30% (SORDI, 2015). Esse índice crescente da população idosa gera importantes consequências culturais, sociais e econômicas, fazendo com que a população perceba esse fenômeno; e faça com que haja mudanças nessa área. Observa-se nos últimos anos um número maior de pesquisas voltadas para o bem-estar dos idosos. Isto demostra que a sociedade está iniciando um processo de conscientização sobre o idoso e os problemas que o afetam diretamente, como: pobreza, saúde, família com condições econômicas precárias e número cada vez menor de filhos, habitações sem planejamento para a terceira idade, asilos sem infraestrutura para atendimento, cuidadores de idosos sem formação, descaso e abandono da família em relação aos idosos. Enfim, existem problemas relacionados à pessoa idosa e precisam ser solucionados imediatamente. Esse trabalho justifica-se pela análise dos problemas que envolvem o idoso e pela busca em ajudar a sociedade de alguma forma, o que é dever de cada um de nós como cidadão. Além disto, vem propor diretrizes para casas de repouso de idosos, planejando os espaços e verificando as reais necessidades dos moradores, os quais usufruirão destes espaços em períodos delicados de suas vidas. Neste caso, busca- se, além do planejamento adequado para a idade, uma construção que seja sustentável e saudável, melhorando a qualidade de vida de seus habitantes. 17 Para o desenvolvimento deste trabalho, tornou-se necessário conhecer o local em que vivem os idosos. Logo, realizou-se entrevistas estruturadas e visitas nas instituições existentes em Curitiba, percebendo, assim, quais são as reais condições em relação à qualidade de vida dos idosos, dentro das ILPIs. Por meio de alguns acontecimentos que foram reportados na mídia, de conversas informais aos familiares e também com pessoas que trabalham na área, entre outros, pressupõem-se que essas ILPIs apresentem carência em: infraestrutura da edificação, locais ao ar livre com direito ao sol, serviços ofertados, pessoas capacitadas para cuidar de idosos e qualidade de vida dos idosos que permanecem no local. Com base nos objetivos propostos, são estabelecidas diretrizes de projeto preliminar para o local onde o idoso irá residir, listando as melhorias que podem ser aplicadas no interior e exterior da edificação, para que o idoso tenha boa qualidade de vida. Por meio desses levantamentos, obtém-se uma análise real da situação das ILPIs, bem como os pontos que devem ser melhorados em novas habitações a serem desenvolvidas, voltadas aos idosos. 1.2 OPERACIONALIZAÇÃO DOS TERMOS Durante o decorrer do trabalho são apresentados alguns termos. No entanto, para melhor compreensão do mesmo são abordados e explicados alguns desses a seguir, tais como: a) Hospedagem Assistida: É uma atividade de acolhimento de pessoas, ou seja, na forma de pousadas ou outros locais para abrigar pessoas, com ou sem remuneração, os quais devem fornecer diversos serviços na área da saúde, auxilio e manutenção do bem-estar para os seus hóspedes. No caso da hospedagem assistida à terceira idade, o atendimento é focado nos idosos, da mesma forma que os exercícios, atividades e cuidados são voltados a esse público (ANTUNES, 2008); b) ILPIs: São Instituições de Longa Permanência para Idosos. No Brasil, ainda não existe um consenso sobre o que é realmente, mas sua origem está 18 ligada aos asilos criado para atender somente a população carente que necessitava de abrigo. No entanto, atualmente a expressão usada em uma função híbrida,ou seja, deve existir assistência social integrada com a rede de assistência à saúde e oferecer um abrigo aos idosos, o qual tem diferentes denominações, como casas de repouso, clínicas geriátricas, abrigos e asilos (CAMARANO; KANSO, 2010); c) Ambiente Sustentável: É um conceito sistêmico e contínuo, ou seja, ele correlaciona e integra de forma organizada os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade, de forma que se mantenha esse equilíbrio ao longo do tempo. Entretanto, suprindo as necessidades do presente sem afetar as gerações futuras. Um ambiente sustentável consegue-se por meio da harmonia entre a análise do entorno e o projeto da edificação, o qual deve ser economicamente viável, socialmente justo, culturalmente aceito e ecologicamente correto (CABRERA, 2009). É um ambiente onde a arquitetura está integrada com a natureza e o homem, além disso deve-se priorizar a redução de impactos ambientais (BARBOSA; LIMA, 2004); d) Ambiente Saudável: é o ambiente construído para o ser humano em que é planejado em sua totalidade, cuidando do bem-estar da mente, corpo e espirito do ser humano (CORRADO, 1999). 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral Determinar quais seriam as diretrizes sustentáveis e saudáveis para as ILPIs de idosos de Curitiba, visando a melhoria do bem-estar dos seus ocupantes. 19 1.3.2 Objetivos Específicos 1) Levantar os aspectos sustentáveis e saudáveis para a arquitetura e construção das hospedagens assistidas de idosos. 2) Analisar os espaços físicos e a qualidade de vida dos idosos dentro das ILPIs existentes atualmente na cidade de Curitiba; 3) Propor parâmetros para projetos arquitetônicos novos e de reformas para a terceira idade seguindo o conceito de construção sustentável e saudável. 4) Apresentar um programa de necessidade de novas ILPIs. 1.4 MATERIAIS E MÉTODOS Durante a realização do trabalho, utilizou-se a pesquisa da literatura e documental, encontrada em bibliotecas e principalmente por meio da internet. Juntamente, foram realizadas entrevistas estruturadas, com os responsáveis e/ou com pessoas que conheçam a funcionalidade de cada ILPI. As entrevistas estruturadas (Apêndice A) foram realizadas de três maneiras: a) Via local: Foram agendadas antecipadamente pelo telefone. No dia marcado, a entrevista era gravada, quando aceita pelo responsável; ou redigida; b) Via telefone: Também foram agendadas antecipadamente. No dia e horário marcado, poderia ser gravada ou por escrito, dependendo se o entrevistado permitia ou não; c) Via e-mail: Foram enviadas as perguntas da entrevista em arquivo do Word para o endereço transmitido. No dia da entrevista (visita in loco), foi solicitada permissão para tirar fotos do interior das ILPIs. No entanto, muitas não permitiam e quando concediam os responsáveis escolhiam os locais para o registro. 20 Na realização da entrevista estruturada, primeiramente foram colhidos dados de identificação da ILPI, do atendente e do responsável. Em seguida, foram levantados temas que abordaram diferentes aspectos, tais como: a) Espaço interno e externo da ILPI: Se foi adaptado para os idosos ou não; número de ambientes (salas, refeitório, banheiros e principalmente quartos com banheiros) da casa; se possui espaço ecumênico; jardim (fora do recuo frontal e/ou lateral) e horta para os internos; sala de fisioterapia; enfermaria ou farmácia; local externo para exercícios físicos; área da casa e do terreno; tamanho dos quartos, das janelas, além de verificar a posição das mesmas em relação à área externa e a possiblidade do sol penetrar nos ambientes durante algum período do dia; b) Administração da ILPI: Regime de funcionamento (aberto, semiaberto ou fechado); participação da família em relação às visitas; atividades realizadas durante a semana e eventos esporádicos; cuidados com a alimentação, higienização das roupas, louças e a administração dos remédios; capacidade de lotação máxima e número de idosos atuais; e graus de dependência atendidos na casa; c) Funcionários/cuidadores: Relação entre o número de cuidadores por idosos; nível de escolaridade dos cuidadores; carga horária e valor salarial; d) Valores monetários da ILPI: Pública, privada com ou sem fins lucrativos; valor mensal; forma estabelecida para chegar ao valor da mensalidade; e) Cuidados com a saúde do idoso: Se possui atendimento médico (geriatra), fisioterapeuta, plano de saúde; atividades desenvolvidas especificamente para a doença que mais se apresenta; f) Perfil dos idosos da ILPI: Número de homens e mulheres; idade; quantidade de idosos por quarto; passeios externos com a família e/ou com a ILPI; g) Perfil de uma construção adequada: Como deveriam ser as edificações; áreas verdes; tamanho do lote; h) Diretrizes sustentáveis e saudáveis da ILPI: Se existem algumas ações sustentáveis e saudáveis mínimas, como, por exemplo: medidas para economia de água; aproveitamento da água de chuva; utilização de placas fotovoltaicas para produzir energia elétrica; placas térmicas para o 21 aquecimento de água; cuidados com iluminação, ventilação e orientação solar durante a fase de projeto; i) Dificuldades da ILPI com o meio em que está inserida: Quanto à legislação, sociedade, famílias, etc. Após a coleta de dados das entrevistas realizadas nas ILPIs, os dados foram filtrados por grupos de interesse de acordo com a sequência das perguntas descritas. 1.5 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Nesta primeira seção, foi abordada o tema da pesquisa assim como sua justificativa, a delimitação do estudo, a operacionalização de alguns termos, os objetivos e a estrutura do trabalho. Além disto, mostra-se os métodos e procedimentos para realização da pesquisa em campo. Na segunda seção, apresenta-se o embasamento teórico da dissertação realizado por meio de revisão bibliográfica e documental, o qual foi dividido em três partes. A primeira parte refere-se ao aspecto geral sobre os idosos. Em seguida, é relatado sobre a definição dos asilos e ILPIs e a última parte é sobre os parâmetros para a construção sustentável e saudável voltada principalmente aos idosos. A terceira seção, refere-se ao procedimento experimental da pesquisa, localização da área de estudo e materiais e métodos utilizados para a realização do trabalho. Na quarta seção, são apresentados os resultados e discussões, por meio da análise dos resultados da pesquisa em campo realizada nas ILPIs de Curitiba e as diretrizes sustentáveis e saudáveis para melhoria na arquitetura em hospedagem assistida a idosos. A quinta seção, refere-se às considerações finais e sugestões para futuros trabalhos. 22 2 REVISÃO WEB-BIBLIOGRÁFICA 2.1 ASPECTOS GERAIS SOBRE OS IDOSOS Segundo o Estatuto do Idoso (LEI No 10.741) (BRASIL, 2003), a pessoa é considerada idosa com 60 anos ou mais; índice que é estabelecido para países subdesenvolvidos. “No mundo todo, a cada segundo, duas pessoas celebram seu sexagésimo aniversário – em um total anual de quase 58 milhões de aniversários de 60 anos” (UNFPA, 2012, p. 3). No Brasil, o fato de a pessoa ser considerada idosa está associado à saída da vida produtiva com a via de aposentadoria. Além de outros motivos devido à evolução cronológica, estão presentes fenômenos biológicos, psicológicos e sociais, os quais resultam em importantes fatores para a percepção e a vivência da idade e do envelhecimento. Não existe um consenso sobre o que exatamente define o idoso. Contudo, todos esses fatores contribuem e determinam a pessoa ser velha e por esse motivo ser descartada, fazendo com que muitas vezes seja descriminada e deixada de lado como algo que não serve mais para a sociedade (BATISTA et al., 2008). Para Moragas (2004), existem três concepções de velhice:a) Velhice cronológica: Definida pelo fato de se ter atingido os 65 anos, juntamente com o afastamento do trabalho profissional. Porém, isto se torna inconveniente, quando fica comprovado o impacto diferente do tempo para cada pessoa, de acordo com o que tenha sido sua maneira de viver, sua saúde, suas condições de trabalho e tudo mais que o deixaram da maneira como está atualmente; b) Velhice Funcional: Corresponde ao emprego do termo "velho" como sinônimo de "incapaz" ou" limitado". Trata-se de um conceito errôneo, pois a velhice não representa necessariamente incapacidade. Contudo, para mudar esse conceito é necessário lutar contra o conceito de que o idoso é funcionalmente limitado; c) Velhice – etapa vital: É a mais equilibrada e moderna, baseando-se no reconhecimento de que o percurso do tempo produz efeito na pessoa que 23 entra em uma etapa diferente das vividas previamente. Essa etapa possui uma realidade própria e diferenciada das anteriores, limitada unicamente por condições objetivas externas e subjetivas (MORAGAS, 2004). 2.1.1 Envelhecimento da População O envelhecimento populacional é uma das mais significativas tendências do século XXI; resultado de conquistas políticas, sociais e da incorporação de novas tecnologias (CHAIMOWICZ et al., 2013). Acompanhando o processo demográfico do Brasil, o envelhecimento ganha destaque com o aumento da expectativa de vida, bem como com os ganhos e perdas decorrentes desse aumento. A expectativa de vida do brasileiro em 1980 era de 62,7 anos; esse índice aumentou para 73,9 anos, em 2013. Isso representa 11,2 anos a mais do que em 1980; um aumento no número de anos vividos que merecem atenção e respeito em todas as áreas do conhecimento. Isto para que os idosos vivam seus últimos anos com qualidade e dignidade (PNUD, 2014). Atualmente, ocorre um processo de envelhecimento da sociedade em nível mundial. Com exceção de alguns países da África, os demais estão passando por essa mudança (GUIMARÃES, 2013). “Presentemente, apenas o Japão conta com uma população de mais de 30% de idosos; por volta de 2050, estima-se que 64 países se juntarão a ele, com uma população idosa de mais de 30% do total” (UNFPA, 2012, p. 3). De acordo com as projeções das Nações Unidas (2012) [...] Uma em cada nove pessoas no mundo tem 60 anos ou mais, e estima-se um crescimento para um em cada cinco por volta de 2050 […] pela primeira vez haverá mais idosos que crianças menores de 15 anos. Em 2012, 810 milhões de pessoas tinham 60 anos ou mais, constituindo 11,5% da população global. Estima-se que esse número alcance um bilhão em menos de dez anos e mais que duplique em 2050, alcançando dois bilhões de pessoas ou 22% da população global (UNFPA, 2012, p. 3-4). 24 Assim como nos países europeus, o Brasil é um país onde a população humana está envelhecendo (Gráfico 1). No entanto, até pouco tempo havia o conceito de ser um país jovem. Com isso o país, ao contrário de outros, não está preparado para atender esses idosos. É necessário, urgentemente a implantação e implementação das leis e políticas que contemplem a redução da violência e a proteção ao idoso, principalmente no quesito saúde (ENSP, 2009). 1980 2010 2050 Homens Mulheres Gráfico 1 - Pirâmide Etária 1980 a Pote Etário 2050 Fonte: IBGE (2008a). Segundo dados do IBGE (2008a), a população idosa brasileira está crescendo em ritmo acelerado. A característica “pirâmide etária” que pode ser observada em 1980, onde a maior preocupação do governo eram as crianças e adoslecentes, atualmente está dando lugar ao “pote etário”, em que a preocupação deve-se voltar aos idosos (IBGE, 2008a). Em países da Europa, como a França, o índice de envelhecimento da população dobrou de 7% para 14% em um século. Em contraste, essa mesma variação demográfica ocorrerá nas próximas duas décadas (entre 2011 e 2031) no Brasil, ou seja, em um período bem inferior se comparar aos países europeus. E, irá mais do que triplicar nas próximas quatro décadas, de menos de 20 milhões em 2010 para aproximadamente 65 milhões em 2050 (BANCO MUNDIAL, 2011). Dados dos IBGE (2011) mostram que o número de idosos no Brasil aumentou em 51,61% em dez anos (Gráfico 2). 80+ 60 – 64 40 – 44 20 - 24 0 - 4 80 + 60 - 64 A no s 25 Gráfico 2 – Número de pessoas com mais de 60 anos no Brasil Fonte: IBGE (2011). O envelhecimento da população brasileira é reflexo, principalmente, da diminuição do crescimento populacional aliado a menores taxas de natalidade e fecundidade (SDH, 2012). E grande parte da população idosa encontrar-se-á principalmente na região Sul e Sudeste do Brasil, onde a perspectiva de vida tende de ser maior nos próximos anos (CLOSS; SCHWANKE, 2012). A população idosa residente no Paraná está acima da média nacional, esta média é mais acentuada na capital, cuja pesquisa foi realizada (Tabela 1) (IPPUC, 2010). Tabela 1 - População residente total e de 60 anos ou mais de idade no Brasil - 2010 Localidade Total Total por localidade com 60 anos ou mais Percentual por localidade (%) Curitiba 1.751.907 198.089 11,31 Paraná 10.444.526 1.170.955 11,21 Brasil 190.755.799 20.590.599 10,79 Fonte: IBGE (2010). Elaborado pelo IPPUC (2010) e complementado pela autora (2015). 2.1.1.1 Fatores que levaram ao envelhecimento Segundo Mendes et al. (2005), esse processo de envelhecimento teve início 26 nos países desenvolvidos na década de 1940, devido a alguns fatores, tais como: [...] Decorrência da queda de mortalidade, a grandes conquistas do conhecimento médico, urbanização adequada das cidades, melhoria nutricional, elevação dos níveis de higiene pessoal e ambiental tanto em residências como no trabalho assim como em decorrência dos avanços tecnológicos (MENDES et al., 2005, p. 3). O que aconteceu anteriormente nos países desenvolvidos, no Brasil teve início nos últimos 60 anos. Atualmente, continua passando por esse processo, que tende a perseverar pelos próximos anos. Chaimowicz et al. (2013) relatam que esse crescimento expressivo de idosos está ocorrendo devido aos fatores citados anteriormente. E, também pelo fato das taxas de fertilidade serem reduzidas e com maior expectativa de vida. No Paraná, a expectativa de vida chegará aos 80 anos em 2028, muito antes da média nacional que deverá atingir esse patamar em 2050 (Gráfico 3). Isso faz com que o Estado tenha mais idosos. Consequentemente, deverá existir uma preocupação maior com a qualidade de vida que essas pessoas terão (MARCHIORI, 2013). Gráfico 3- Expectativa de vida no Estado do Paraná em comparação com Brasil Fonte: Marchiori (2013). A no s 27 No século passado, as mulheres tinham em média seis filhos, apresentando uma alta taxa de fertilidade. Porém, três de cada 100 pessoas morriam por ano, ocasionando uma alta taxa de mortalidade e a expectativa de vida dos brasileiros não passava de 40 anos (CHAIMOWICZ et al., 2013). A partir da metade da década de 1960, devido a mudanças socioculturais e o crescimento da população urbana, esse índice mudou; a taxa de fecundidade caiu para 2,2 filhos por mulher; a mortalidade diminuiu e a expectativa de vida aumentou consideravelmente, devendo chegar em 2030 a 1,51 filhos por mulher no Brasil, enquanto no Paraná esse índice será mais acentuado atingindo 1,45 filhos (Gráfico 4) (MARCHIORI, 2013). Gráfico 4- Taxa de fecundidade no Estado do Paraná em comparação com o Brasil Fonte:Marchiori (2013). O envelhecimento populacional que se refere à proporção de crianças e idosos é acentuado. Percebe-se um declínio da população de crianças de zero a 14 anos e, por outro, lado o aumento da população de idosos, de 60 anos ou mais de idade (Gráfico 5) (IBGE, 2008b). P or ce nt ag em 28 Gráfico 5 – Proporção de crianças e de idosos na população total – Brasil, 1900 - 2020 Fonte: IBGE (2008b). O índice de envelhecimento aponta para mudanças na estrutura etária da população brasileira. Em 2008, para cada grupo de 100 crianças de zero a 14 anos existiam 24,7 idosos de 65 anos ou mais. Em 2050, o quadro muda e para cada 100 crianças de zero a 14 anos existirão 172, 7 idosos (IBGE, 2008b). 2.1.2 Perfil dos Idosos Segundo o IBGE (2014), a maioria dos idosos brasileiros independente de qual região do país estejam, residem em sua maioria na zona urbana (Tabela 2). Fazendo uma comparação entre os sexos, existe uma grande feminização na velhice. Essa diferença aumenta, principalmente, entre os idosos com mais de 80 anos (IPEA, 2004). Crianças (0 a 4 anos) Idosos (60 anos ou mais) 1900 1950 2000 2010 2015 2020 ANOS P or ce nt ag em 29 Tabela 2 – Distribuição percentual das pessoas com 60 anos ou mais de idade por domicilio e por sexo segundo as regiões brasileiras - 2013 Regiões Situação de domicílio (%) Sexo (%) Urbana Rural Homem Mulher Brasil 83,9 16,1 44,5 55,5 Norte 72,5 27,5 49,5 50,5 Nordeste 71,9 28,1 44,7 55,3 Sudeste 92,6 7,4 46,3 56,7 Sul 80,9 19,1 44,7 55,3 Centro Oeste 88,3 11,7 46,5 53,5 Fonte: IBGE (2014) Elaborado pela autora (2015). Devido à expectativa de vida da mulher ser maior em relação aos homens, na Europa, América do Norte e Japão, elas vivem em torno de sete anos a mais que os homens (CHAIMOWICZ et al., 2013). No Brasil, em 2008, a expectativa média de vida das mulheres era de 76,8 anos contra 69,3 para os homens (MOTOMURA, 2010). Apesar disso, [...] a aparente vantagem das mulheres é parcialmente atenuada pela maior prevalência de demências, depressão e dependência funcional entre elas, reduzindo sua expectativa de vida livre de incapacidades (CHAIMOWICZ et al., 2013, p. 24). No parágrafo anterior, o autor refere-se à longevidade feminina, citando algumas complicações de saúde enfrentadas pelas mulheres na terceira idade, que não afetam a sua sobrevivência. Refere-se ainda à expectativa de vida curta para o universo feminino na terceira idade, livre de demências, ou seja, as mulheres têm menos problemas de saúde que limitam suas vidas, porém, os problemas aparecem no fim de sua existência, causando transtorno. No entanto, isto não é fatal. A população de idosos brasileiros caracteriza-se principalmente pela raça de cor branca 53,4%, seguido pela parda 37,3% e negra 8,3%. Na região Sul, esse índice é ainda mais expressivo onde a população branca é 79,5%, parda 15,6% e negra é 3,7% (IBGE, 2014). Dessa forma, Melo e Kreter (2014) completam que 30 [...] a velhice é uma mulher branca. Nascem mais negras, mas os determinantes sociais do processo de saúde, as doenças e as condições mais precárias de vida impedem que a população negra de chegar à velhice, particularmente suas mulheres, apesar da condição genética dos negros e negras ser mais favorável a longevidade do que a da população branca (MELO; KRETER, 2014, p. 3). Apesar da idade avançada, 64,4% dos idosos brasileiros são as pessoas responsáveis pelos domicílios. No entanto, de acordo com IBGE (2014), o rendimento mensal de 38,3% dos idosos está entre meio e um salário mínimo, ou seja, entre R$ 394,00 e R$ 788,00 (Tabela 3) (AGÊNCIA BRASIL, 2015). Tabela 3 – Distribuição percentual das pessoas com 60 anos ou mais, por classes de rendimento mensal de todas as fontes, segundo as grandes regiões brasileiras - 2013 Regiões Distribuição percentual das pessoas de 60 anos ou mais de idade, por classes de rendimento mensal de todas as fontes (%) Até ½ salário mínimo Mais de ½ a 1 salário mínimo Mais de 1 a 2 salários mínimos Mais de 2 salários mínimos Brasil 1,4 38,3 23,9 24,6 Norte 2,5 48,6 23,2 15,3 Nordeste 2,3 51,9 23,3 14,0 Sudeste 0,9 30,2 23,8 30,2 Sul 1,0 34,1 26,5 28,9 Centro Oeste 1,4 41,0 20,6 25,2 Fonte: IBGE (2014) Elaborado pela autora (2015). 2.1.3 Problemas Enfrentados pelos Idosos Como em todas as situações humanas, a velhice tem uma dimensão existencial, que modifica a relação da pessoa com o tempo, gerando mudanças em suas relações com o mundo e com sua própria história. Isto faz com que a velhice seja difícil de ser aceita por grande parte da população, que vê no idoso o final da vida e não como um exemplo a ser seguido (BEAUVOIR, 1990). De acordo com o PNUD (2014), problemas como a pobreza e exclusão social são os que mais afetam a velhice, devido aos fatores físicos, mentais e econômicos que estão associados. Além disso, problemas como as limitações intelectuais, visuais, 31 auditivas, motoras e doenças crônico-degenerativas ocasionam dependência nas atividades cotidianas e aumentam a frequência nos serviços de saúde (FIELDLER; PERES, 2008). Esses problemas ocorrem mais em mulheres, onde existe um número maior nesta situação em relação aos homens, pelo fato da sua expectativa de vida ser maior. Elas estão sujeitas a viver mais tempo em situação de pobreza, porque grande parte perde seus parceiros antes. Outro motivo é a maior probabilidade de não se casarem (PNUD, 2014). A população idosa constitui uma parcela potencialmente vulnerável a estar em estado de pobreza, uma vez que características como produtividade e empregabilidade declinam com a idade, a partir de um determinado momento no ciclo de vida. Isto faz com que muitos tenham dificuldade de inserção no mercado de trabalho, gerando problemas em obter renda por meio do trabalho. Com isto, os idosos passam a depender significativamente de outras fontes de renda, principalmente da aposentadoria e dos rendimentos dos demais moradores do domicílio, para sobreviver e manter seu padrão de vida (BARROS; MENDONÇA; SANTOS, 1999). No entanto, deve-se lembrar que as famílias com idosos tendem a ser menos numerosas, fazendo com que a renda per capita seja menor. Os gastos dos idosos também tendem a ser maiores, uma vez que há maior probabilidade de surgimento de gastos elevados e inesperados, principalmente com sua saúde (BARROS; MENDONÇA; SANTOS, 1999). Por outro lado, a aposentadoria tirou muitos idosos da linha extrema de pobreza a partir do momento de sua criação. A proporção de idosos vivendo com menos de US$ 2 por dia – linha de pobreza estabelecida pelo Banco Mundial – caiu de 45% para 2% desde o início da década de 80. Isso ocorreu graças ao aumento dos gastos públicos com aposentadoria após a Constituição de 1988, que garantiu o benefício até mesmo para quem nunca havia contribuído (ROCHA, 2012, p.1). Além da pobreza que atinge muitos idosos, existem outros fatores que o afetam diretamente (Figura 1), tornando-o uma pessoa vulnerável dentro da sociedade e fazendo com que seja excluída (BORBA; LIMA, 2011). 32 Figura 1 – Síntese dos fatores de exclusão social Fonte: Borba e Lima (2011) Segundo a OMS (2002), muitos dos seres humanos que convivem com a violência dia após dia assumem que ela é parte intrínseca da condição humana; e não percebem que isto não é verdade. Isto faz com que a violência e outros problemas contra o idoso passem pela sociedade desatenta,sem serem observados. Entre os 65 e 75 anos de idade, existem denúncias por parte dos idosos em relação aos maus tratos sofridos, porque nessa faixa etária grande parte deles são ativos física e intelectualmente, além de dispor de mais autonomia e condições de procurar por ajuda. Porém, a partir dos 80 a 90 anos, por sua fragilidade, requerem uma atenção ainda maior no atendimento de suas necessidades de saúde e na prevenção das várias formas de violência. Isto não significa dizer que, acima desta idade, o fenômeno da violência não ocorra – o que não existe são denúncias por parte dos idosos (FLORÊNCIO; FERREIRA; SÁ, 2007). Outro problema que preocupa muitos idosos é em relação as doenças da terceira idade. Apesar do aumento da expectativa de vida da população brasileira, os idosos estão vivendo com menor qualidade de vida, já que convivem mais tempo com doenças crônicas típicas da faixa de idade (PIVETTI, 2013). 33 Há em torno de 75,5% dos idosos brasileiros com alguma doença crônica, ou seja, de curso arrastado, em que boa parte delas são incuráveis. Entre as mulheres, esse número é maior: 80.2%, contra 69.3% dos homens (TIEGHI, 2013). As principais doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) que mais prejudicam a saúde dos idosos brasileiros, segundo o Ministério da Saúde (2011) são: a) Cardiovasculares (Infarto, Angina e Insuficiência Cardíaca); b) Derrames (Acidente Vascular Cerebral - AVC); c) Câncer; d) Diabetes e; e) Doenças respiratórias crônicas (Pneumonia, Enfisema pulmonar e Bronquite). Essas doenças são resultado de diversos fatores, como determinantes sociais (sexo, genética, idade) e condicionantes individuais, de risco (Figura 2), além de outros, como hipertensão, dislipidemia, sobrepeso, obesidade e intolerância à glicose. Figura 2 – Fatores de risco individual Fonte: Ministério da Saude (2011) Além das doenças citadas, existem outras, de acordo com Fontenelle (2010), que são comuns entre os idosos: f) Infecção urinária (retenção urinária no homem e incontinência urinária na mulher); 34 g) Osteoporose (falta de cálcio nos ossos); h) Osteoartrose (doença degenerativa da cartilagem articular e das articulações ou “juntas”); i) Catarata; j) Perda de audição. k) Demências (vascular, corpos de Lewy, doença de Parkinson e mal de Alzheimer). As demências começaram a ser estudas no início do século XXI, são caracterizadas por uma perda progressiva e irreversível das funções intelectuais, como alteração de memória, raciocínio e linguagem; perda da capacidade de realizar movimentos e de reconhecer ou identificar objetos (EMENDABILI, 2010). Uma das demências que mais preocupa atualmente é Mal de Alzheimer. Foi descrito pela primeira vez em 1906, pelo psiquiatra e neuropatologista alemão Alois Alzheimer ao fazer uma autópsia, quando descobriu no cérebro do morto algumas lesões. Tratava-se de um problema de dentro dos neurônios (as células cerebrais), os quais apareciam atrofiados em vários lugares do cérebro, e cheios de placas estranhas e fibras retorcidas, enroscadas umas nas outras (Figura 3) (LEITE, 2014). Figura 3 – Comparação do cérebro normal com o cérebro com Alzheimer Fonte: Leite (2014) Cérebro cortes transversais 35 Essa doença atinge em torno de 1,2 milhões de pessoas com mais de 65 anos no Brasil; e o número de casos vai mais que dobrar até 2030. No mundo todo, são mais de 36 milhões de pessoas e até 2050 este número deve triplicar (ABRAZ, 2013). As causas definitivas da doença de Alzheimer ainda não foram encontradas. Existem várias teorias, porém, de concreto aceita-se que seja uma doença geneticamente determinada, não necessariamente hereditária (transmissão entre familiares) (LEITE, 2014). Sabe-se que a doença se desenvolve como resultado de uma série de eventos complexos que ocorrem no interior do cérebro (SAYEG, 2011). Os principais fatores de risco, segundo Varella (2015) são: a) Idade: Entre 60 a 65 anos, abaixo de 1%; a partir dos 65 anos esse índice duplica a cada cinco anos. Depois dos 85 anos de idade, atinge 30 a 40% da população; b) História familiar: O risco é mais alto em pessoas que têm história familiar de Alzheimer ou outras demências, em torno de 10%; c) Síndrome de Down: Em portadores, a doença surge com frequência mais alta e as alterações neuropatológicas instalam-se mais precocemente; d) Apolipoproteína E: Indivíduos em que essa proteína possui determinadas características genéticas têm probabilidade mais alta de desenvolver Alzheimer; e) Sexo: As mulheres são mais suscetíveis a ter a doença, entre 12% a 19%, enquanto os homens de 6% a 10%; f) Trauma craniano: Boxeadores e pessoas que sofreram traumas cranianos parecem mais sujeitos à enfermidade. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ, 2013), existem outros riscos que devem ser levados em conta, tais como: - Hipertensão; - Diabetes; - Obesidade; - Tabagismo e; - Sedentarismo. 36 A associação da doença com problemas circulatórios é reveladora. Neste caso, doenças cardiovasculares, a formação das placas e emaranhados podem estar associadas a problemas nos vasos sanguíneos que irrigam os neurônios (PEREIRA; SCHENBERG, 2012). A doença de Alzheimer, de acordo com a intensidade do quadro degenerativo, possui três estágios clínicos: leve, moderado ou grave. A duração de cada estágio é variável. Em média, o primeiro estágio tem duração de 2 a 10 anos; o segundo, de 1 a 3 anos; e o terceiro, de 8 a 12 anos (Tabela 4) (VARELLA, 2015; ABRAZ, 2013). Tabela 4 - Estágios da doença de Alzheimer – 2013 Estágio inicial Estágio intermediário Estágio avançado Problemas de linguagem Perda de memória recente Dificuldades para comer e comunicar-se Perda de memória Não pode viver sozinha Não reconhece pessoas e objetos Dificuldade temporal É incapaz de cozinhar Dificuldade de entender fatos Dificuldade espacial Dependente da família ou cuidador Incapaz de voltar para a casa Dificuldade em tomar decisões. Necessita de ajuda para a higiene pessoal Dificuldade para caminhar Inativa ou desmotivada. Dificuldade com a fala Dificuldade na deglutição Mudança de humor Problemas em perder-se e de ordem comportamental Incontinência urinária e fecal. Agressivamente Perde-se em casa e fora Comportamento inapropriado Perda de interesse Pode ter alucinações Ficar confinada a uma cadeira de rodas ou cama Fonte: ABRAZ (2013) Elaborado pela autora (2015) A cura da doença de Alzheimer pode estar próxima. Uma descoberta da equipe de neurocientistas da Universidade de Leicester (Inglaterra), liderada pela professora Giovanna Mallucci, descobriu uma substância capaz de barrar a morte de neurônios, incialmente testada em ratos de laboratório com a doença. Ao injetar a substância, os cientistas conseguiram bloquear este mecanismo paralisador da produção de proteínas em uma parte do cérebro, normalizando, assim, todo o processo. Com isto, foi possível impedir a morte das células e ainda restaurar os níveis de proteína e a comunicação entre os neurônios, prolongando a vida destes animais (RUIC, 2013). 37 Um outro estudo realizado por pesquisadores do Centro de Pesquisa Geriátrica Clínica e Educacional no Minneapolis VA Health Care System (EUA), realizado com doses diárias de vitamina E, pode ajudar a retardar o aparecimento da demência. No entando, as doses diarias de vitaminas utilizadas no estudo eram grandes, embora tenha reduzido a perda neurológica em 19% (COOPER, 2013). Recentemente, Susumu Tonegawa e outros cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) desenvolveram uma técnica utilizando a luz para ativaras células do cérebro no local de armazenamento das memórias perdidas de pessoas com amnésia retrógrada, Alzheimer e outras doenças relacionadas a memória (SABINO, 2015). Existem algumas atividades e cuidados que as pessoas podem realizar para prevenir a doença de Alzheimer. A prática de exercícios regularmente pode aumentar os níveis de neurotransmissores, melhorando assim a atividade cognitiva em indivíduos com prejuízo mental. Isto também auxilia no tratamento de danos traumáticos cerebrais, principalmente em doenças neurodegenerativas, estimulando a neurogênese e a plasticidade cerebral (MASUMOTO et al., 2010). A vitamina D funciona nas células nervosas, promovendo o crescimento dos neurônios e suas ramificações. A deficiência da vitamina em idosos está associada com um risco da doença de Alzheimer aumentar em cerca de 70%. A vitamina é obtida naturalmente especialmente após a exposição à luz solar (UVB) e quantidades menores através da dieta (presente em ovos, na sardinha e no fígado de boi), bem como suplementos nutricionais (GRUFFAT, 2014). O ômega-3 (encontrado em sardinhas, nozes e azeite) também está vinculado à menor incidência da doença de Alzheimer (PEREIRA; SCHENBERG, 2012). A aquisição de conhecimentos (aprender a tocar um instrumento, desenhar, pintar, jogos de raciocínio) cria novas conexões entre os neurônios (sinapses) e aumenta a reserva intelectual: fatores que retardam o aparecimento das manifestações de demência. O analfabetismo e a baixa escolaridade estão associados à maior prevalência (VARELLA, 2015). 38 2.1.4 Direitos dos Idosos, Deveres da Sociedade e Atual Realidade Para Andrade Filho (2011, p. 5) “a Política Nacional do Idoso objetiva criar condições para promover o prolongamento da vida do idoso, colocando em prática ações voltadas, tanto para os que estão velhos, como também para aqueles que vão envelhecer”. Esse é o primeiro passo para que os idosos tenham uma vida digna e com segurança (ANDRADE FILHO, 2011). Bem antes da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), na época do Brasil colonial, o tema do cuidado com o idoso era geralmente delegado à caridade cristã, onde a Igreja ou instituições assistenciais eram responsáveis. “O idoso era visto da mesma forma que os mendigos e loucos, como acontecia na Europa” (CHRISTOPHE, 2009, p. 52). Para o Ministério da Previdência Social (2008), o marco jurídico deu-se com a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), em seu artigo n° 230: - Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos (BRASIL, 1988). Mais tarde, com o Estatuto do Idoso (LEI No 10.741) (BRASIL, 2003), em seu artigo n° 3, houve a sua complementação, embora o art. 230 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) em si já fosse o suficiente para garantir a proteção ao idoso, pois assegurava que era dever da família, da sociedade e do Estado, proporcionar ao idoso a participação comunitária, a defesa da dignidade, o bem-estar e o direito à vida. “Toda vez que precisamos de leis para efetivar direitos constitucionais é sinal que não os respeitamos e, por conseguinte, estamos um passo atrás do espírito constitucional” (ALMEIDA, 2003, p. 1). Contudo, vivemos em um país onde muitas vezes o idoso não é respeitado e sim deixado de lado, o qual tratado como cidadão de segunda espécie, ficando marginalizado e por muitas vezes desrespeitado em razão do declínio de vigor físico próprio da idade. Não bastando o desrespeito com os idosos, a sociedade, de uma forma geral, tem o péssimo hábito de não seguir normas. Infelizmente, não é diferente 39 com os idosos. Esse tratamento degradante não parte apenas da sociedade, mas do próprio Estado, fazendo com que contribua com a Previdência Social, mesmo aposentado. Além do mais, impõe-lhe uma aposentadoria ínfima, presta-lhe um serviço de saúde precário, não se preocupa em adotar políticas públicas que o beneficie e não exige o cumprimento de fato das leis existentes (MACEDO, 2008). Além do artigo citado, existem outros que merecem destaque, a saber: - Art. 195. Define como será financiado e as fontes de receita que subsidiarão o sistema de seguridade social brasileiro. - Art. 196. Define que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo o acesso universal à população e propõe ações e serviços de promoção, proteção e recuperação. - Art. 201. Define o sistema previdenciário e prevê a cobertura face aos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada. Estabelece a aposentadoria no regime geral da previdência definindo a idade, se homem 65 anos de idade e 60 anos se mulher. Reduz em 5 anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exercem atividades de economia familiar (produtor rural, garimpeiro e pescador artesanal). - Art. 203. Define a política pública de assistência social a quem dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice (BRASIL, 1988) No que diz respeito à vida e à saúde pública, o Estatuto do Idoso (LEI No 10.741) (BRASIL, 2003), em seus artigos n° 9 e n° 15, complementa e reforça sobre garantir a proteção à vida e assegurar de forma integral a saúde do idoso, através do Sistema Único de Saúde (SUS); sobre a incumbência do Poder Público fornecer aos idosos medicamentos gratuitamente; e o fato dos planos de saúde não poderem reajustar as mensalidades de acordo com o critério da idade. Enfim, a saúde do idoso merece atenção especial. No entanto, atualmente é observada pela sociedade a decadência da saúde pública em todos os Estados brasileiros, além do sucateamento do SUS, assistido e a mais completa inércia ao longo dos anos pelos sucessivos governos brasileiros. “A crise na saúde pública do Brasil deve ser considerada sob três aspectos básicos, independentemente de quais sejam a deficiência na estrutura física, a falta de disponibilidade de material-equipamento-medicamentos e a carência de recursos humanos” (MADEIRO, 2013, p. 1). Segundo Souza (2013), “no espírito da lei, vê-se que se trata de uma medida grandiosa. Na prática, contudo, o que se vê é um grande descaso, pois, a sua eficácia, na maioria das vezes, só ocorre através de ações judiciais” (p. 1). 40 Além disso, a saúde bucal tem ficado de lado, quando se discutem as condições de saúde da população idosa. A perda total de dentes (edentulismo) é aceita pela sociedade como algo normal e natural com o avanço da idade. Ainda não existem políticas preventivas de saúde (COLUSSI; FREITAS, 2002). O marco Político-Institucional por sua vez foi o lançamento da Política Nacional do Idoso (PNI) (Lei n° 8.842) (BRASIL, 1994), que deve orientar e regular o conjunto das políticas sociais dirigidas aos idosos, tendo definido a pessoa idosa com 60 anos ou mais. Dessa forma, a política aborda, intersetorial e interdisciplinarmente, com uma visão gerontológica do processo do envelhecimento, visando a atenção integral ao idoso e a promoção de sua autonomia e plena participação na sociedade (MPS, 2008). Na Tabela 5, contém uma síntese da evolução institucional, as principais políticas e ações governamentais para os idosos. Nele é possível observar o aprimoramento do sistema de seguridade social, com destaque para a esfera da assistência social (MPS, 2008). Tabela 5 - Brasil: Evolução do quadro institucional voltado para os idosos, com destaque para leis e políticas de governo - 2008(continua) Ano Principais Medidas e Acontecimentos 1988 - Promulgação da Constituição Federal 1990 - Criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Lei Orgânica da Saúde ` n°8080/90 1993 - Promulgação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) regulamentação da Assistência Social* - Definição dos Serviços de Ação Continuada (SAC) pela LOAS 1994 - Promulgação da Política Nacional do Idoso - Lei n°8842/94 - Criação do Programa de Saúde da Família (Ministério da Saúde) 1995 - Criação do Ministério da Previdência Social (MPAS) com destaque para a Secretaria de Assistência Social (SAS) - Criação do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS)** - Realização da I Conferência Nacional da Assistência Social 1996 - Criação do Fundo e do Conselho Nacional de Assistência Social (FNAS e CNAS) - Instituição do Benefício de Prestação Continuada - BPC 1997 - Realização da II Conferência Nacional de Assistência Social 1998 - Aprovação da primeira Política Nacional de Assistência Social - PNAS 1999 - Transformação da SAS em Secretaria de Estado de Assistência Social (SEAS) 41 Tabela 5 - Brasil: Evolução do quadro institucional voltado para os idosos, com destaque para leis e políticas de governo - 2008 (conclusão) Ano Principais Medidas e Acontecimentos - Portaria 1395/GM Política de Saúde do Idoso 2000 - Programa de Valorização de Saúde do Idosos (2000-2003) 2001 - Realização da III Conferência Nacional de Assistência Social 2002 -Criação Conselho Nacional do Idoso - CNDI 2003 - Criação do Ministério da Assistência Social (MAS) - Aprovação do Estatuto do Idoso (Lei 10.741) -Realização da IV Conferência Nacional de Assistência Social PPA 2004 /2007 2004 - Criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) -Criação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) - Aprovação da Nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS) - Aprovação da NOB - SUS (Nova NOB) 2006 - Aprovação Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa - Instituição da Internação Domiciliar no Âmbito do SUS - Realização da V Conferência Nacional de Assistência Social Obs: *Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993. **O Decreto no 1.605, de 25 de agosto de 1995, regulamenta o Fundo Nacional de Assistência Social, instituído pela LOAS. Fonte: MPS (2008). Elaboração: Disoc/Ipea Passaram-se 28 anos desde a Constituição Federal de 1988 e, segundo Barros (2012), existe um enorme desrespeito com os idosos. As questões que mais incomodam os idosos são: pessoas que não obedecem às filas em bancos, e/ou supermercados; pessoas que estacionam em locais reservados aos idosos e jovens sentados nos assentos reservados aos idosos nos ônibus. Outra questão relevante para a qualidade de vida na terceira idade é a qualidade das calçadas e acessibilidade em locais públicos e privados. Muitas são as leis que beneficiam o idoso, em especial o Estatuto do Idoso (LEI No 10.741) (BRASIL, 2003), é ainda uma utopia, mas precisam ser efetivados para que realmente se tenha os direitos garantidos, pois muitos de seus direitos ainda são desrespeitados” (BARROS, 2012). 42 2.2. DEFINIÇÃO DOS ASILOS E ILPIs Segundo Araújo, Souza e Faro (2009), o asilo dá ideia de guarita, abrigo e proteção (ásylos - do grego e asylu - do latim), definido assim como casa assistencial, na qual são recolhidas pessoas pobres e desamparadas, como: mendigos, crianças abandonadas, órfãos e velhos, para alimentá-las e dar educação. O local é isento à execução das leis externas. Devido ao caráter genérico do termo “asilo”, surgiram outros nomes, onde o uso seria específico ao cuidado do idoso, como: abrigo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica e ancianato. Com isto, procurou-se padronizar a nomenclatura, surgindo então, a denominação de Instituições de Longa Permanência para Idoso (ILPI). Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) é uma expressão adotada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG, 2003), originou-se do termo “Long Term Care Institution”, no qual substitui o termo asilo, abrigo, casa de repouso, lar, clínica geriátrica, ancianato e similares (CREUTZBERG; GONÇALVES; SOBOTTKA, 2008). A ILPI tem a função de fornecer assistência durante períodos prolongados para compensar a perda de função devido à doença crônica ou deficiência física ou mental (EHCP, 2011). O atendimento é integral aos idosos, com função de assisti-los, sejam eles dependentes ou não. Ou quando verificada inexistência de grupo familiar, abandono ou carência de recursos financeiros próprios ou da família (CREUTZBERG; GONÇALVES; SOBOTTKA, 2008). 2.2.1 Instituições Asilares às ILPIs Os primeiros registros sobre os locais para cuidar dos idosos, chamados de gerontokomeion, foram encontrados na Grécia Antiga. Em relação à legislação de funcionamento, foi vista no Império Bizantino e perpetuada no Código Justiniano, que data de 534 da era cristã (IPEA, 2010). Logo, o surgimento de instituições para idosos 43 não é recente. O primeiro registro de asilo foi fundado pelo Papa Pelágio II (520-590), que transformou a sua casa em um hospital para idosos (ALCÂNTARA, 2004). No Brasil, em 1797 no Rio de Janeiro, foi encontrado o primeiro registro sobre asilo. Era uma instituição destinada a soldados: a Casa dos Inválidos. Em relação aos asilos voltados, especificamente, para a população idosa, um dos primeiros de que se tem notícia foi o Asilo São Luiz para a velhice desamparada, criado em 1890, na cidade do Rio de Janeiro (IPEA, 2010). Contudo as instituições eram um mundo à parte: morar no local significava romper laços com família e sociedade. Em locais que “não existiam instituições específicas para idosos, estes eram abrigados em asilos de mendicidade, junto com outros pobres, doentes mentais, crianças abandonadas, desempregados” (ARAÚJO; SOUZA; FARO, 2009, p. 4). No espaço da instituição, os indivíduos perdem sua individualidade e privacidade, não tem controle da própria vida e muitas vezes tem uma relação difícil ou inexistente com funcionários e o mundo exterior, perdendo assim o direito de vida social (GOFFMAN, 2003). O conceito sobre asilos, largamente difundido em nosso país, de que as instituições são “depósitos de lixo” foi construída a partir da concepção de que nesses locais há pessoas solitárias e privadas de laços familiares, que ali vivem desprezadas, sozinhas e abandonadas. Entretanto, atualmente é possível encontrar idosos que se mudam para uma ILPI a partir da escolha voluntária, alegando motivos como viuvez, não ter filhos ou não desejar onerar os mesmos, preferir ser independente, entre outros motivos (FREITAS; NORONHA, 2010). Em geral, o perfil dos idosos que vivem em instituições é marcado pelo aumento do sedentarismo, a perda da autonomia e a ausência de familiares, além das influências de fatores biológicos, doenças e outras causas externas comuns a essa fase de envelhecimento, destacando principalmente a ocorrência de quedas como um dos agravos à saúde mais importantes (GONÇALVES et al., 2008). O cuidado com os idosos institucionalizados vem preocupando a sociedade devido ao crescente aumento da população idosa no Brasil, o que se reflete no aumento da demanda por instituições e das denúncias frequentes que indicam a precariedade de algumas delas (RIBEIRO et al., 2009). 44 Para aqueles idosos que não encontram apoio familiar ou social necessitando de auxílio para a realização de atividades da vida diária, resta a possibilidade de morar em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (TIER; FONTANA; SOARES, 2004). Tal inserção também ocorre quando a família não possui
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