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FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 DEFINIÇÃO DE UM FLUIDO Nós temos um sentimento comum quando trabalhamos com um fluido que é oposto àquele do trabalho com um sólido: fluidos tendem a escoar quando interagimos com eles (por exemplo, quando você agita seu café da manhã); sólidos tendem a se deformar ou dobrar (por exemplo, quando você bate sobre um teclado, as molas sob as teclas se comprimem). Os engenheiros necessitam de uma definição mais formal e precisa de um fluido: Um fluido é uma substância que se deforma continuamente sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento (tangencial), não importando o quão pequeno seja o seu valor. Como o movimento do fluido continua sobre a aplicação dessa tensão, definimos um fluido também como uma substância que não pode sustentar uma tensão de cisalhamento quando em repouso. Assim, líquidos e gases (ou vapores) são as formas, ou fases, que os fluidos podem se apresentar. Gostaríamos de distinguir essas fases da fase sólida da matéria. Podemos ver a diferença entre o comportamento de um sólido e um fluido na Fig. 1.1. Se colocarmos uma espécie de uma ou da outra substância entre dois planos (Fig. 1.1a), e depois aplicarmos uma força de cisalhamento F, cada uma sofrerá uma deformação inicial (Fig. 1.1b); contudo, ao passo que um sólido ficará em repouso (considerando que a força não seja suficientemente grande para leválo além do seu limite elástico), um fluido continuará se deformando (Fig. 1.1c, Fig. 1.1d, etc.) enquanto a força for aplicada. Note que um fluido em contato com uma superfície sólida não desliza sobre ela. O fluido tem a mesma velocidade da superfície por causa da condição de não deslizamento, que é um fato experimental. O tamanho da deformação do sólido depende do módulo de rigidez G do sólido; no Capítulo 2, aprenderemos que a razão de deformação do fluido depende da viscosidade μ do fluido. Referimos aos sólidos como elásticos e aos fluidos como viscosos. Mais informalmente, dizemos que os sólidos exibem “elasticidade”. Por exemplo, quando você dirige sobre um buraco, o carro salta para cima e para baixo devido à compressão e expansão das molas de metal da suspensão do carro. Por outro lado, os fluidos exibem os efeitos do atrito de forma que os amortecedores da suspensão (contendo um fluido que é forçado através de uma pequena abertura conforme o carro salta) dissipam energia devido ao atrito do fluido, que para o balanço do carro após poucas oscilações. Se os seus amortecedores estão “batendo”, o fluido contido em seu interior escapou de modo que quase não existe atrito enquanto o carro salta, e o carro balança muitas vezes em vez de retornar rapidamente ao repouso. A ideia de que substâncias podem ser classificadas como um sólido ou um líquido serve para a FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 maioria das substâncias, mas diversas substâncias exibem tanto rigidez quanto atrito; estas substâncias são conhecidas como viscoelásticas. Muitos tecidos biológicos são viscoelásticos. Por exemplo, o fluido sinovial no joelho humano lubrifica estas juntas, mas também absorve parte do impacto que ocorre durante uma caminhada ou corrida. Note que o sistema de molas e amortecedores que compreende a suspensão do carro é também viscoelástico, embora os componentes individuais não sejam. EQUAÇÕES BÁSICAS A análise de qualquer problema de mecânica dos fluidos inclui, necessariamente, o estabelecimento das leis básicas que governam o movimento do fluido. As leis básicas, que são aplicáveis a qualquer fluido, são: 1. A conservação da massa 2. A segunda lei do movimento de Newton 3. O princípio da quantidade de movimento angular 4. A primeira lei da termodinâmica 5. A segunda lei da termodinâmica Nem todas as leis básicas são necessárias para resolver um problema qualquer. Por outro lado, em muitos problemas é necessário buscar relações adicionais que descrevam o comportamento das propriedades físicas dos fluidos sob determinadas condições. Como exemplo temos a equação dos gases ideais: p=RT (Eq. 01) modelo que relaciona a massa específica () com a pressão (p) e a temperatura (T) para muitos gases sob condições normais. Na Eq. 01, R é a constante do gás, que no caso do oxigênio (O2) vale 259,8 J/kg.K. Exemplo 01: Aplicação da primeira lei ao sistema fechado: Um dispositivo cilindropistão contém 0,95 kg de oxigênio inicialmente a uma temperatura de 27°C e a uma pressão de 150 kPa (absoluta). Calor é adicionado ao gás até ele atingir uma temperatura de 627°C. Determine a quantidade de calor adicionado durante o processo. Solução: Dados: T1 = 27 °C; T2 = 627 °C; mO2= 0,95 kg; p0 = 150 kPa Primeira Lei para o sistemaQ12 - W12 = E2 - E1 Como o sistema é estacionário, E = U FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 kJcTTmQ cvccTTmQccRKkgJc RcTTmQ TTmRTTmcWEEQ TTmRWmRTpV VVppdVW TTmcuumUUEE p pvvpp v v V V v 3,5184,909.27627.95,0 ./4,909 )( )()( 1212 1212 1212 1212121212 1212 1212 12121212 2 1 FLUIDO COMO UM CONTÍNUO Estamos familiarizados com os fluidos, sendo os mais comuns a água e o ar, e os tratamos como “lisos e suaves”, isto é, como um meio contínuo. Não podemos estar seguros da natureza molecular dos fluidos, a menos que utilizemos equipamentos especializados para identificála. Essa estrutura molecular é tal que a massa não está distribuída de forma contínua no espaço, mas está concentrada em moléculas que estão separadas por regiões relativamente grandes de espaço vazio. O esboço na Fig. 2.1a mostra uma representação esquemática disso. Uma região do espaço “preenchida” por um fluido estacionário (por exemplo, o ar, tratado como um único gás) parece um meio contínuo, mas se ampliarmos um pequeno cubo da região, poderemos ver que a maior parte do espaço é vazia, com moléculas de gás espalhadas ao redor, movendose a alta velocidade (indicada pela temperatura do gás). Note que o tamanho das moléculas de gás está muito exagerado (elas seriam quase invisíveis mesmo nesta escala) e que colocamos vetores de velocidade somente sobre uma pequena amostra. Gostaríamos de perguntar: qual é o mínimo volume, V que um ponto C deve ter, de modo a podermos falar sobre propriedades de fluido contínuo tal como a massa específica em um ponto? Em outras palavras, sob que circunstâncias um fluido pode ser tratado como um meio contínuo, para o qual, por definição, as propriedades variam suavemente de ponto a ponto? Essa é uma questão importante porque o conceito de um meio contínuo é a base da mecânica dos fluidos clássica. Considere a forma como determinamos a massa específica em um ponto. A massa específica é definida como a massa por unidade de volume; na Fig. 2.1a a massa δm será dada pelo número instantâneo de moléculas em V (e a massa de cada molécula), de modo que a massa específica média no volume δV é dada por ρ = δm/δV . Dizemos “média” porque o número de moléculas em δV, e consequentemente a massa específica, flutua. Por exemplo, se o ar na Figura 2.1a estivesse nas condiçõespadrão de temperatura e pressão (CPPT) e o volume fosse uma esfera de diâmetro 0,01 μm, poderá haver 15 moléculas em δV(como FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 mostrado), mas um instante mais tarde poderá haver 17 (três podem entrar enquanto uma sai). Consequentemente, a massa específica em um “ponto” C flutua aleatoriamente com o tempo, como mostrado na Figura 2.1b. Nesta figura, cada linha pontilhada vertical representaum volume específico escolhido, δV, e cada ponto dado representa a massa específica medida em um instante. Para volumes muito pequenos, a massa específica varia grandemente, mas acima de certo volume δV, a massa específica tornase estável, o volume agora anexa um enorme número de moléculas. Por exemplo, se δV = 0,001 mm3 (em torno do tamanho de um grão de areia), existirão em média 2,5.1013 moléculas presentes. Consequentemente, podemos concluir que o ar nas CPPTs (e outros gases e líquidos) pode ser tratado como um meio contínuo enquanto considerarmos que um “ponto” não é maior do que aproximadamente este tamanho; isto é suficientemente preciso para a maior parte das aplicações em engenharia. O conceito de um contínuo é a base da mecânica dos fluidos clássica. A hipótese do contínuo é válida no tratamento do comportamento dos fluidos sob condições normais. Ela falha, no entanto, somente quando a trajetória média livre das moléculas tornase da mesma ordem de grandeza da menor dimensão característica significativa do problema. Isso ocorre em casos específicos como no escoamento de um gás rarefeito (como encontrado, por exemplo, em voos nas camadas superiores da atmosfera). Nestes casos específicos (não tratados neste texto), devemos abandonar o conceito de contínuo em favor do ponto de vista microscópico e estatístico. Como consequência da consideração do contínuo, cada propriedade do fluido é considerada como tendo um valor definido em cada ponto no espaço. Dessa forma, as propriedades dos fluidos, tais como massa específica, temperatura, velocidade e assim por diante, são consideradas funções contínuas da posição e do tempo. Por exemplo, temos agora uma definição exequível da massa específica em um ponto, V m VV ' lim (Eq. 02) FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 Uma vez que o ponto C foi arbitrário, a massa específica em qualquer outro ponto no fluido poderia ser determinada pela mesma forma. Se a massa específica fosse medida simultaneamente em um número infinito de pontos no fluido, obteríamos uma expressão para a distribuição da massa específica como uma função das coordenadas espaciais, ρ = ρ(x, y, z), no instante dado. A massa específica em qualquer ponto pode também variar com o tempo (como um resultado de trabalho realizado sobre o fluido, ou por ele, e/ou de transferência de calor para o fluido). Portanto, a representação completa da massa específica (a representação do campo) é dada por tzyx ,,, (Eq. 03) Como a massa específica é uma quantidade escalar, requerendo, para uma descrição completa, apenas a especificação de um módulo, o campo representado pela Eq. 03 é um campo escalar. Uma forma alternativa de expressar a massa específica de uma substância (sólido ou fluido) é comparála com um valor de referência aceito, tipicamente a massa específica máxima da água, ρH20 (1.000 kg/m3 a 4 °C (277 K)). Desse modo, a gravidade específica, ou densidade relativa, , de uma substância é expressa como OH 2 (Eq. 04) Por exemplo, a δ do mercúrio é tipicamente 13,6, ou seja, o mercúrio é 13,6 vezes mais denso que a água. A densidade relativa de líquidos é uma função da temperatura; para a maioria dos líquidos, a densidade relativa decresce com o aumento da temperatura. O peso específico, γ, de uma substância é outra propriedade útil da matéria. Ele é definido como o peso de uma substância por unidade de volume e dado como g V mg (Eq. 05) O peso específico da água é aproximadamente 9,81 kN/m3. EXEMPLO 02: Calcule o peso específico de um determinado fluido, que ao preencher um recipiente de 2.000 litros, acumula uma massa de 7.350 kg. (g = 9,81 m/s2) Solução: 33 2 2 051.36 000.1 000.2 . ..81,9.350.7 m N l ml mkg sN s mkg V mg CAMPO DE VOLOCIDADE FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 Na seção anterior, vimos que a consideração do contínuo levou diretamente à noção do campo de massa específica. Outras propriedades dos fluidos também podem ser descritas por campos. Uma propriedade muito importante definida por um campo é o campo de velocidade, dado por tzyxVV ,,, (Eq. 06) A velocidade é uma quantidade vetorial, exigindo um módulo e uma direção para uma completa descrição. Por conseguinte, o campo de velocidade (Eq. 06) é um campo vetorial. O vetor velocidade, V , também pode ser escrito em termos de suas três componentes escalares. Denotando as componentes nas direções x, y e z por u, ν e w, então kwjviuV ˆˆˆ (Eq. 07) Em geral, cada componente, u, ν e w, será uma função de x, y, z e t. Necessitamos ser claros sobre o que tzyxVV ,,, mede: esse campo indica a velocidade de uma partícula fluida que está passando através do ponto (x, y, z), no instante de tempo t, na percepção euleriana. Podemos continuar a medir a velocidade no mesmo ponto ou escolher qualquer outro ponto (x, y, z), no próximo instante de tempo; o ponto (x, y, z), não é a posição em curso de uma partícula individual, mas um ponto que escolhemos para olhar. (Por isso x, y e z são variáveis independentes. Concluímos que (x, y, z, t) deve ser pensado como o campo de velocidade de todas as partículas, e não somente a velocidade de uma partícula individual. Se as propriedades em cada ponto em um campo de escoamento não variam com o tempo, o escoamento é dito em regime permanente. Matematicamente, a definição de escoamento em regime permanente é 0 dt (Eq. 08) em que η representa qualquer propriedade do fluido. Por isso, para o regime permanente, zyxVV dt V zyx t ,,0 ,,0 (Eq. 09 e 10) Em regime permanente, qualquer propriedade pode variar de ponto para ponto no campo, porém todas as propriedades permanecem constantes com o tempo em cada ponto. Exemplo 03: Em regime permanente a velocidade de deslocamento do fluido varia segundo a função smczbyaxV /,, , onde a, b e c são funções de t, sendo que a = b = c = 0, quando t = 0s. A posição de uma determinada porção do fluido ao longo do tempo é FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 )4,1,2()( 32 tttts , onde t é dado em segundos e s em metros qual o módulo da velocidade ),,(0 cbaV no ponto P(8,3, 32)m? Solução: Se o regime é permanente, 0 dt V t t t t t t tdtttcttctctkV dttbtbtbjV ttdttattatatiV tcttbtat t tVcttbttattV tttstcztbytaxV 0 3222 0 0 2 232 32 0 0 0 412)(12)('0)('12:ˆ 00)(0)('0)(':ˆ 24)(4)('0)('4:ˆ )('12),('),('4)()4),(1),(2()( )4,1,2()(),(),( Com os valores de s , é possível obter o tempo t, stt stt stt mPtttts 28 4 32324 21331 24 2 882 32,3,84,1,2 333 2 32 Assim, com os valores de a, b e c é possível escrever o vetor )4,0,2( 320 tttV , smV smsmV /98,32088.110240643208)2( /32,0,8/2.4,0,2.2)2( 222 32 EXERCÍCIOS Exercício 01: Um dispositivo cilindropistão contém 1,05 kg de oxigênio inicialmente a uma temperatura de 25°C e a uma pressão de 148 kPa (absoluta). Calor é adicionado ao gás até ele atingir uma temperatura de 427°C. Determine a quantidade de calor adicionado durante o processo. FACULDADE MAURICIO DE NASSAU CURSO BIOMEDICINA DISCIPLINA: MECÂNICA DOS FLUIDOS PROF. DR. IDNEY CAVALCANTI DA SILVA DEFINIÇÃO DE FLUIDOS: DINÂMICA DOS FLUIDOS - AULA 05 Exercício 02: Um dispositivo cilindropistão contém 0,05 kg de oxigênio inicialmente a uma temperatura de 25°C e a uma pressão de 1,3 MPa (absoluta). Calor é adicionado ao gás até ele atingir uma temperatura de 1.028°C. Determinea quantidade de calor adicionado durante o processo. Exercício 03: Um dispositivo cilindropistão contém 0,37 kg de oxigênio inicialmente a uma temperatura de 5°C e a uma pressão de 75 kPa (absoluta). Calor é adicionado ao gás até ele atingir uma temperatura de 55°C. Determine a quantidade de calor adicionado durante o processo. Exercício 04: Calcule o peso específico de um determinado fluido, que ao preencher um recipiente de 2.000 litros, acumula uma massa de 7.350 kg. (g = 9,81 m/s2) Exercício 05: O peso específico de um determinado fluido é 14,7 kN/m3. Ao preencher um recipiente com 1.500 litros desse fluido, qual a massa acumulada? (g = 9,81 m/s2) Exercício 06: Calcule o peso específico de um determinado fluido, que ao preencher um recipiente de 12.720 litros, acumula uma massa de 14.770 kg. (g = 9,81 m/s2) Exercício 07: Em regime permanente a velocidade de deslocamento do fluido varia segundo a função smzcbyxaV /3,2, , onde a, b e c são constantes admensionais. A posição de uma determinada porção do fluido ao longo do tempo é )24,1,32()( 2 tttts , onde t é dado em segundos e s em metros. Qual o módulo da velocidade V no ponto P(-1,2, 2)m?
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